LAVRA DA MINA DE CAULIM DE IPIXUNA DO PARÁ DA IMERYS RCC Paiva, Saboia Reginaldo Professor da Faculdade de Engenharia de Minas e Meio Ambiente - FEMMA/UFPA [email protected] Carneiro, Carvalho Clayver Graduando – Faculdade de Engenharia de Minas e Meio Ambiente – FEMMA/UFPA [email protected] Cunha, Lira Everaldo Graduando – Faculdade de Engenharia de Minas e Meio Ambiente – FEMMA/UFPA [email protected] Carvalho, Carolina Mayra Graduando – Faculdade de Engenharia de Materiais – FEMAT/UFPA [email protected] RESUMO O minério de caulim extraído da mina de Ipixuna do Pará pela Imerys RCC passa por um estágio de beneficiamento contendo desareiamento, pit (primeira das unidades de tratamento primário), dispersão, hidrociclonagem e centrifugação. Neste trabalho são comentadas as técnicas utilizadas para lavrar os quatro tipos de caulins que se diferenciam devidas sua alvura e impurezas. Mostra-se o processo de frente de lavra, que se trata da extração a céu aberto realizado em tiras, método adotado devido a posição estratigráfica da camada de minério. E aponta-se que, devido à faixa de 20 metros de estéril, tornam-se necessárias operações de desmatamento, decapeamento e exposição do minério. Palavras-chave: Caulim, Frente de lavra, Imerys RCC. INTRODUÇÃO A mina de caulim da Imerys RCC está localizada na região do médio Rio Capim no município de Ipixuna do Pará, a 243 km da capital do estado, Belém. O minério extraído encontra-se a 20 m de profundidade, recoberto por sedimentos argilo-arenosos da Formação Barreiras, e de um nível de caulim duro (flint ou semi-flint) considerado como estéril em função do teor de ferro elevado. Caulim é o nome comercial dado a uma argila branca ou quase branca, constituída essencialmente de caulinita. Há mais de três mil anos, os chineses já usavam o caulim para fazer porcelana [1]. Caulim é uma rocha constituída de material argiloso, com baixo teor de ferro e cor branca. A caulinita, mineral predominante dos caulins, é um silicato hidratado de alumínio, cuja célula unitária é expressa pela fórmula Al4(Si4O10)(OH)8 [2]. O caulim é um mineral muito requisitado devido a sua vasta aplicação. O vasto campo de aplicação industrial do caulim deve-se às suas características tecnológicas, tais como: quimicamente inerte branco ou quase branco, tem capacidade de cobertura quando usado como pigmento e reforçador para aplicação como carga, possui baixa condutividade térmica e elétrica, macio, pouco abrasivo e competitivo com os materiais alternativos [3]. O método de lavra consta-se da extração a céu aberto em tiras, utilizando-se de escavadeiras hidráulicas HITACHI e caminhões fora de estrada com capacidades de 181 e 80 toneladas. Após a extração o caulim necessita ser beneficiado para a retirada das impurezas que estão associadas ao minério, visando adequá-lo ao uso industrial. Desta forma, para o beneficiamento do caulim proveniente da mina da Imerys RCC, são realizados o sistema de desareiamento, pit, dispersão, hidrociclonagem e centrifugação. As etapas seguintes de processamento do caulim são realizadas na planta de beneficiamento, localizada na cidade de Barcarena. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Geologia regional A geologia regional é baseada no Grupo Barreiras para caracterizar a semelhança entre sedimentos Terciários costeiros de platôs amazônicos e tabuleiros do litoral norte, nordeste e leste do Brasil. São depósitos de sistema de leques aluviais com possível influência de maré nas regiões distais. Constitui-se de conglomerados com intercalações de sedimentos arenosos e argilosos de ambiente de maré a flúvio-lacustre. Polens permitem datar como Mioceno [4]. Segue-se: Formação Pirabas: Originada por grandes períodos de transgressão e regressão depositou carbonato de cálcio em ambiente marinho sucessivamente retrabalhado, seguindo-se novas deposições. São ricamente fossilíferos, amarelados e acinzentados alternados com argilas e areias. Por vezes é duro, cinza com intercalações de argila colorida disposta em leitos sucessivos. A porção superior é compacta e fossilífera. A idade é Mioceno Inferior. Interdigitações observadas entre Pirabas e Barreiras indicam mesma idade deposicional em ambientes diferentes [4]. Formação Ipixuna: Sedimentos aflorantes desde 60 km ao sul de São Miguel do Guamá (Pa) e à 31 km ao norte de Imperatriz (Ma). Sedimentos arenosos caulínicos intercalados por argilitos vermelhos com estratificação cruzada. Referida ao Cretáceo superior e Terciário inferior, é recoberta pelo Grupo Barreiras e posicionase sobre a formação. Itapecurú cujo membro Alcântara é encontradiço nas barrancas do Rio Capim. A base é constituída por arenitos com estratificação cruzada tangencial ritimitos de argilitos e arenitos brancos finos, caulínicos com estratificação cruzada e lentes de caulim. No topo camada de caulim duro de 7,5 m. em média recobre o pacote anterior. Kotschoubey define como arenitos fortemente desestruturados e argilitos caulínicos intercalados. Os arenitos exibem estratificação cruzada plano-paralela. São compostos de quartzo, pseudomorfos de caulinita bem cristalizada e de menores quantidades de anatásio, rutilo e mica [4]. Formação Alcântara: Arenitos e argilitos marrons avermelhados [4]. Arenito Guamá: do Neoproterozoico e o paleozóico é reconhecida no arenito branco, friável, parcialmente silicificado, fraturado e de granulometria variada, depositado em bacias estreitas e alongadas com direção NW - SE. È explorado em pequena escala como material de construção; cortado em forma de paralelepípedo para revestimento de pisos e passeios nas sedes de municípios vizinhos [4]. Geologia da mina O minério extraído está inserido na Formação Barreiras, a uma profundidade de 22 metros, no qual foi recoberto por sedimentos argilo-arenosos. Logo abaixo da Formação Barreiras encontra-se a Formação Ipixuna, na qual é constituída de um volume de Caulim Duro, Caulim Soft e Caulim Arenoso [5]. É válido lembrar que o volume de Caulim Duro ou Semi-Flint é considerado como estéril devido ao alto teor de ferro e que inviabiliza sua aplicação para cobertura. A geologia da área focaliza-se a afloramentos de litotipos que persistem ao longo da rodovia Belém – Brasília desde São Miguel do Guamá até as proximidades da cidade de Ipixuna. Percebe-se também nesta região a presença de Arenitos Guamá, Formação Itapecuru, Formação Ipixuna, Formação Pirabas e o Grupo Barreiras. O minério de Caulim encontra-se espalhado no contexto da Formação Ipixuna, para ser mais exato, dentro da região do Rio Capim. Podem-se distinguir duas unidades principais separadas uma da outra por uma superfície discordante erosiva, segundo a figura 2.2. Para a primeira unidade chama-se de unidade superior ela é constituída de sedimentos arenosos na sua porção inferior. A segunda unidade é formada quase que na sua totalidade de Caulim, o produto da jazida. Na base aparente dessa unidade, o caulim é do tipo soft, este tipo de caulim é macio com uma alta alvura, concentrado e com poucos contaminantes, no topo o Caulim é do tipo Flint ou semi-Flint que tem como principal característica baixa alvura esta unidade é formado por sedimentos arenosos na sua porção inferior. Figura 2.2: Esquema das formações Barreiras, Ipixuna e Itapecurú [5]. SISTEMA DE LAVRA O método de lavra a céu aberto em tiras é adotado devido a posição estratigráfica da camada de minério, uma vez que este trabalho é dirigido pelo planejamento de lavra e a curto prazo, utilizando software SURPAC da GENCON. A dimensão de 50 x 50 metros consiste na melhor forma imaginada para a lavra, podendo variar de acordo com o horizonte do platô em largura e comprimento. Assim, a altura do bloco depende da espessura da camada e a identificação é realizada por números e letras, em que o número refere-se à posição na tira e a letra demonstra a proximidade entre à superfície e a camada de minério. Por exemplo, 21A. Devido a faixa de 20 metros de estéril, tornam-se necessárias operações de desmatamento, decapeamento e exposição do minério. O decapeamento pode ser efetivado através de escavadeiras hidráulicas HITACHI com capacidades de 11 m³, uma vez que estas oferecem maior precisão no corte, diminuindo a diluição e contaminação do minério (figura 3.0). Para o transporte utilizam-se de caminhões de 181 e 80 toneladas (figura 3.1), operando com uma DMT de aproximadamente 1 km, transitando a uma velocidade de 45 km/h.Segue-se abaixo, figuras da escavadeira hidráulica HITACHI de 11 m³ e de um fora de estrada KOMATSU de 181 toneladas: Figura 3.0: escavadeira hidráulica HITACHI de 11 m³. A escavadeira hidráulica KOMATSU PC 20 e caminhões rodoviários Volkswagem trucados de 19 toneladas, são destinados à lavra do minério. Figura 3.1: Fora de estrada KOMATSU de 181 toneladas. Figura 3.2: Volkswagen rodoviário de capacidade 19 toneladas e escavadeira hidráulica KOMATSU PC 20. SISTEMA DE BENEFICIAMENTO Os processos de beneficiamento empregados dependem do uso a que se destina o minério. Existem basicamente dois processos de beneficiamento do caulim, o via seca e o via úmida. Desta forma, o caulim da mina da Imerys RCC é processado através do desareiamento, onde envolvem as etapas de dispersão, hidrociclonagem e centrifugação. O processo de desareiamento consiste na separação dos grãos de quartzo das partículas de caulim, uma vez que o mineral interesse possui especificações de granulometria abaixo de 2 µm, deste modo a separação por tamanhos pode ser realizada através da hidrociclonagem e da centrifugação. O material que vem da mina, antes de qualquer etapa de desareiamento, deve ser desagregado e homogeneizado. Para isso, temse a dispersão na qual se utilizam blungers, um misturador de grande porte (105,0 dmt/h). O pit corresponde a primeira das unidades de tratamento primário realizada na mina de caulim da IRCC, onde ocorre dispersão e depois o desareiamento em duas baterias de hidrociclones instaladas em paralelo, as quais trabalham com material de uma das três pilhas de minério, a qual deva ter especificações de alvura ≥ 76,00% e 15% ≤ resíduo ≤ 60%. Assim o pit trabalha com dois ciclones em cada bateria, os quais alimentam os dois tanques de material. Inicialmente são divididas duas pilhas pits, B e C, que alimentam os tanques de dispersão. O material enviado aos pits B e C contém boa alvura e grande quantidade de resíduos. As polpas recebidas das dispersões são armazenadas em dois tanques chamados de Tanques Blendados. Eles são compostos de dois agitadores que trabalham de acordo com a necessidade do processo. Posteriormente, esses tanques enviam a polpa para os demais processos de beneficiamento mineral (hidrociclonagem e centrifugação).A primeira bateria de hidrociclone, é alimentada pela polpa que sai dos tanques de blendagem. O objetivo desse primeiro processo é retirar a maior quantidade possível de areia e enviar para centrifuga, o rejeito do hidrociclone é transportado para uma segunda sequencia de hidrociclone,que é utilizada para retirar o passante de minério da primeira bateria de hidrociclones e centrifugas, o produto desta segunda bateria é enviado ao tanque de alimentação das centrifugas onde é somado ao produto da primeira. Para o sucesso do beneficiamento foi calculado e demonstrado que duas baterias de hidrociclones acompanhados de centrifugas são suficientes para reduzir a porcentagem de resíduos da polpa atendendo assim as especificações de beneficiamento secundário, realizado na planta de Barcarena - Pá. O produto fino da primeira e segunda bateria de hidrociclones passa pela ultima etapa de separação, a centrifugação, onde é gerado um campo gravitacional (1900 - 2000 G), no qual as partículas com tamanho maior que 2µm são encaminhadas para a região dos grossos, e concentrando na parte central o material de menor peso e tamanho. O produto das centrifugas é o objetivo das etapas de desareiamento. Ele é enviado para um tanque onde receberá o tratamento prévio com sulfato de alumínio (floculante que aumenta a viscosidade da polpa) e posteriormente bombeado para o minérioduto. A figura 4.4 ilustra o fluxograma completo de beneficiamento primário da mina de caulim da IRCC. Figura 4.4: Fluxograma completo do beneficiamento primário da mina de caulim da IRCC. Fonte [5]. CONCLUSÃO Em decorrência das características do minério de caulim da IRCC são adotados os devidos processos de extração e beneficiamento. Em virtude disso o processo de frente de lavra trata-se da extração a céu aberto realizado em tiras, devido a posição estratigráfica da camada de minério. É notório ressaltar que em conseqüência da existência de 20 metros de estéril, tornam-se necessárias operações de desmatamento, decapeamento e exposição do minério. O decapeamento é realizado por escavadeiras hidráulicas HITACHI com capacidades de 11 m³, pois estas diminuem a diluição e contaminação do minério por operarem com excelente precisão no corte. Para o transporte se utilizam de caminhões fora de estrada de 181 e 80 toneladas, operando com uma DMT de aproximadamente 1 km, transitando a uma velocidade de 45 km/h. No processo de beneficiamento é realizado o desareiamento, Pit, dispersão, hidrociclonagem e centrifugação com a finalidade de estabelecer especificações predeterminadas pelo mercado e pela planta de beneficiamento do pólo industrial de Barcarena – Pa. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 - ROSKIL (1996). The Economic of Kaolin 1996, Roskil Information Service Ltd, 2 Clapham Road, London SW9 OJA, UK, 9th Edition, p.7 2 - GRIM, R. E. (1958). Clay Mineralogy. New York: McGraw-Hill, p.29 (Geological Science Series). 3 - MURRAY, H, H, (1986). Clays. In: Ulmann’s Encyclopedia of Industrial Chemistry. 5. ed. Weinheim: VHC, Verlagsgesellchaft, v.A7, p.109-136. 4 - PEREIRA. C. A. S. (2009) Geologia da mina – Imerys RCC. Ipixuna do Pará. 5 - DIAS, E. J. P. (2010) Aspectos Gerais da Mina de Caulim da Imerys RCC. 31 f. Relatório de Estágio – Imerys RCC. Ipixuna do Pará.