SIMONE LUIZ GOMES BENITO MARESCA: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONAL UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO UNICID SÃO PAULO 2008 30 SIMONE LUIZ GOMES BENITO MARESCA: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, junto à Universidade Cidade de São Paulo – UNICID - sob orientação do Profº. Dr. Potiguara Acácio Pereira. UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO UNICID SÃO PAULO 2008 31 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................... 04 Capítulo I Períodos e Estilos Musicais ................................................................. 11 Capítulo II Lucia de Lammermoor ......................................................................... 30 Capítulo III O Guarani ............................................................................................. 62 Capítulo IV La Bohème ........................................................................................... 88 CONCLUSÃO ...................................................................................... 105 REFERÊNCIAS .................................................................................... 109 32 INTRODUÇÃO O corpo humano é o instrumento de que dispomos para emitir sons e nos comunicar. Somos capazes de produzir sons, cantar e exteriorizar nossos sentimentos utilizando o aparelho vocal. O canto é uma das formas mais antigas de expressão humana. Todos os fatores fisiológicos e psicológicos, que envolvem o sujeito, concorrem para a definição das características particulares da voz do cantor. A qualidade das propriedades da voz humana, como timbre, extensão e intensidade, dependem de técnica e musicalidade. Quanto à extensão, a voz pode ser classificada em feminina e masculina. Por sua vez, as vozes femininas e masculinas se subdividem em três tipos básicos, de acordo com certas diferenças de timbre e tessitura: as femininas (da mais aguda para a mais grave), soprano, meio-soprano, ou mezzo soprano, e contralto. As masculinas (da mais aguda para a mais grave), em tenor, barítono e baixo. O domínio da voz cantada depende de técnica vocal bem orientada, fundamentada em respiração, emissão, apoio, ressonância e articulação. Cada sujeito possui seu aparelho vocal, que lhe é próprio. Por isso, pode adotar tipos diferentes de condutas fonatórias. Não é por outro motivo, pois, que a técnica e os procedimentos que um professor de canto adota com seus alunos, revelam uma “metodologia” de ensino. Constantemente, comentários são ouvidos sobre as diferentes técnicas utilizadas por professores de canto lírico e a não adaptação aos procedimentos 33 adotados por parte dos alunos. Mesmo na fase de formação acadêmica, alguns alunos procuram outros professores, que não pertencem à instituição, na qual se matriculam, o que mostra uma insatisfação com o procedimento de ensino utilizado, durante as aulas, por determinado professor. A questão da competência de um professor é muito complexa, já que um mesmo profissional pode ser considerado ótimo por uns e ruim por outros. A eficiência da técnica depende também de cada professor. Investir numa relação mais humana entre professor e aluno é preciso, bem como é preciso certa preocupação com relação à compreensão das sensações vocais, das imagens mentais no canto e com a fisiologia da voz. Ao emitir um som, o cantor é invadido por sensações internas sutis, impossíveis de serem observados por quem o assiste. A técnica vocal é então assimilada por meio da apreensão destas sensações e dos movimentos fisiológicos do corpo. É preciso definir uma melhor forma de comunicação no canto, isto é, uma imagem, que possa ser considerada satisfatória. Mas, não se pode esquecer que a compreensão dessa comunicação pode divergir de um para outro. Uma metáfora, utilizada pelo professor, ao tentar fazer com que um aluno entenda a sensação de um comportamento vocal, por meio de imagens, pode ou não ser apreendida e assimilada por seus diferentes alunos, uma vez que o processo é mesmo individual. A mesma linguagem pode ter significados diferentes para cada um. Nas aulas de canto, quando um professor quer que o aluno perceba um agudo, por exemplo, ele diz para esse aluno imaginar que o som vai para cima, 34 enquanto que outro pode se referir ao mesmo agudo, quando diz que o som vai para frente. Nem sempre professores, que ministram aulas de canto lírico, nas Universidades, satisfazem as necessidades particulares dos alunos. Por isto, a própria instituição permite ao aluno fazer aulas práticas de canto com professor de sua escolha, desde que este aluno, contudo, se submeta à banca examinadora formada pelos professores da instituição, ao final dos semestres letivos. O problema de adaptação entre alunos e professores de canto pode ser de ordem pessoal ou por inadequação dos procedimentos de aplicação das técnicas. Os professores brasileiros de canto adaptaram seus procedimentos aos princípios pedagógicos das escolas de canto européias, que estruturaram suas técnicas em teorias muito bem elaboradas, de acordo com as características de seu povo e de alguns fatores, como estrutura corpórea e fonética do idioma. A voz é um instrumento de trabalho corporal e musical, baseado no treino e controle da musculatura do trato vocal. O domínio do canto depende da compreensão das funções dos órgãos produtores da voz e da respiração, assim como das funções dos músculos do abdome e do diafragma. Cada sujeito possui diferentes características no aparelho fonador. Assim, cada cantor é dotado de determinados traços e aspectos próprios, isto é, toda voz tem seu timbre, sua cor, que as fazem diferentes de outras vozes. O interesse pela pesquisa sobre o canto lírico, de suas dificuldades e prazeres, veio justamente da minha própria vivência como aluna e profissional da área. Como eu, há um número significativo de alunos, que se deparou com diversos problemas, até chegar a uma condição satisfatória com relação a seus orientadores vocais. 35 Comecei a refletir sobre o ensino e aprendizagem do canto lírico a partir das inúmeras dificuldades que enfrentei ao ingressar no Curso de Canto Lírico de uma disputada escola de música da cidade de São Paulo. Permaneci por quatro semestres no referido curso. Após diversas tentativas frustradas de entendimento com o professor de canto lírico da instituição, que me proibia de fazer qualquer tipo de repertório e insistia na idéia de eu era uma mezzo soprano, decidi por abandonar a escola e passei, seguindo orientações de amigos cantores, a fazer aulas particulares com Professor Benito Maresca. Até então, o nome Benito Maresca, significava um mito, um ídolo, o tenor brasileiro que fez carreira internacional e foi reconhecido pelos profissionais mais respeitados no cenário lírico e que se hoje é considerado um dos brasileiros que mais se destacou no Brasil e no mundo. Após três anos de aulas e convivência, nos tornamos amigos e durante esse tempo, passei a conhecer e admirar mais a cada dia, a luta de uma pessoa que perseguiu seu sonho sem ter certeza alguma acerca de sua própria voz. Benito foi orientado de maneira errada por diversos professores e inclusive foi classificado como barítono. Minha curiosidade só aumentava e Benito a alimentava. Incessantemente eu formulava perguntas a ele e remexia seus armários revendo fotos e lendo as reportagens dos jornais que tratavam de sua carreira. Assim, percebi ter em mãos um material de pesquisa maravilhoso. A partir daí, conversei muito com Benito. Conversas longas, marcadas muitas vezes de emoção, sinceras e inesquecíveis. Passei a gravar nossas conversas, que serão transcritas aqui em ordem 36 cronológica, na íntegra. Alguns dos recortes de jornais apresentados a mim pelo Benito e que foram anexados ao texto, não possuem referências adequadas. A pesquisa investiga, pois, mais de quarenta anos de vida, trajetória, formação musical e ensinamentos do cantor lírico Benito Maresca, somado ao fato de que Maresca é um profissional do canto que não possui formação e ainda assim, fez brilhante carreira como cantor e posteriormente tornou-se professor da Universidade de São Paulo. Evidentemente, uma experiência tão particular não representa uma verdade no cenário lírico brasileiro. Ao meu ver, a relevância está no fato de que um vendedor tornou-se, através de suas experiências profissionais, um nome influente e importante na Ópera de diversos países. Para tanto, o procedimento metodológico adotado foi o da análise documental. Foram resgatados revistas e jornais italianos, alemães, americanos e nacionais, que criticaram suas atuações, nos palcos dos teatros de ópera, compreendidas entre os anos de 1958 e 2004. Como objetivo primeiro, o trabalho busca determinar as dificuldades encontradas, pelo cantor lírico no que se refere à sua formação musical, sem poder contar na época com um curso superior de canto. Num segundo objetivo, o trabalho procura determinar de que maneira o cantor lírico trilhou seu caminho na direção do êxito profissional, estudando diversos estilos e compositores quando da execução das mais de 64 óperas, oratórios e missas, até se tornar o maior nome da lírica nacional. Hoje, já existem cursos de bacharelado em canto erudito onde após uma etapa chamada de processo seletivo, que tem como pré-requisito o diploma de Ensino Médio, se aprovado, o aluno estará apto a ingressar no Curso de Canto, Bacharelado Erudito de determinada Instituição Superior da Cidade de São Paulo. 37 Num período regular de quatro semestres, o referido curso pode oferecer, por exemplo, disciplinas como: -Análise Musical -Atividades Programadas -Canto -Contraponto -Estágio Supervisionado (ópera) -Estética e História da Arte -Folclore e Cultura Brasileira -Formação Musical Básica -Fundamentos da Acústica -Harmonia -História da Música -História da Música no Brasil -Língua Portuguesa -Metodologia de Pesquisa Científica -Música de Câmara -Orientação à Pesquisa -Piano Complementar -Prática Coral -Prosódia Musical -Recital de Conclusão de Curso -Teoria e Percepção Musical O aluno que cumpriu toda a carga-horária, atingiu a média de notas exigidas pela instituição superior e colou grau, está formado no Curso de Canto Erudito. Considerando que o canto não é uma profissão regulamenta, independe de diploma ou título para ser praticada. Nesta pesquisa, desejo buscar, através da vivência e experiência profissional do tenor Benito Maresca, qual o tipo de formação obtida por ele e como se deu sua trajetória profissional, as óperas estudadas e a qual a contribuição social que sua carreira e empenho promoveram. 38 Períodos e Estilos Musicais A música pode ser divida em período, lugar ou compositor. Pretende-se com isso, caracterizar estilos cronologicamente, o que justifica a continuidade e a mudança servindo como ponto de referência na abordagem da música composta. A escola italiana de canto por exemplo, sofreu alterações consideráveis entre os séculos XVII e XIX, principalmente no que se refere à interpretação musical. A impossibilidade de um contato pessoal com compositores ou intérpretes da época, assim como a falta de registros fonográficos, torna a prática muitas vezes desregrada. Além disso, a partitura não oferece ao intérprete as informações necessárias para que a execução da música seja historicamente autêntica, isso porque a linha de canto de uma ária do período barroco, por exemplo, é apenas um esboço daquilo que o compositor gostaria que fosse cantado. O compositor daquela época contava com o conhecimento artístico-musical do cantor, assim, deixava por conta dele o embelezamento entre ornamentos e improvisos formados pelo senso comum estético, ou seja, o “estilo” da época era o que normalizava a música. Neste sentido, o intérprete moderno enfrenta diversos desafios. Na busca pela autenticidade musical, o cantor precisa analisar documentos da época referentes à execução do repertório em questão não sendo permitida a adaptação da partitura pelas particularidades de cada cantor. Deste modo, se faz necessário um processo de tradução da pesquisa histórica para chegar o mais próximo possível da verdadeira idéia do texto original. “...em particular nos séculos XVIII e XIX, os próprios compositores, a o escreverem as músicas para seus solistas específicos, tentavam ressaltar as qualidades vocais deles, e minimizar seus defeitos. Se algum desses cantores era substituído, o compositor “adaptava” a música, para que a escrita continuasse servindo às qualidades do novo cantor.” (PACHECO, 17, 2006) 39 Para a música, o Período do Renascimento (do primeiro quarto do século XV ao final do XVI), se destaca por um estilo polifônico baseado na imitação, como em Lassus e Palestrina. A polifonia é uma música que conta apenas com variação de vozes combinadas a trechos instrumentais, diferente da homofonia, onde só ouvimos um único som ou melodia. Os gêneros mais comuns eram a cantata, a missa e o madrigal, na maioria das vezes acompanhas por um instrumento chamado alaúde. Os compositores mais importantes foram Dufay, Josquin dês Près, William Byrd, Giovanni Gabrielli, Palestrina e Orlando Lassus. Os estilos de épocas como barroco, romântico ou clássico determina a maneira particular de se compor, tocar ou cantar, associada a um compositor, intérprete ou lugar, por exemplo: estilo alemão, estilo napolitano, estilo mozartiano ou estilo rococó. As mudanças ocorridas ao longo dos séculos na música e na sua interpretação, estão diretamente relacionadas aos fatos históricos e sociais sofridos pela evolução. Desde o século XVII a música foi criada e executada sob forte influência da Igreja. O período em que Bach (1685-1750) e Haendel (1685-1759) escreviam, foi marcado por muitos contrastes entre melodias fluentes, sentimentais, vocais, de fraseado claro e de acompanhamento simples de Pergolesi (1710-1736) ou o virtuosismo complicado de Vivaldi (1678-1741), Rameau (1683-1764) com sua música repleta de dissonâncias inesperada, ricas harmonias e ritmos complexos para a época. Por fim, o estilo clássico vem substituir o barroco, a música simples e melodiosa, se torna mais solene e variada. Compositores e cantores participavam paralelamente da criação da música até as primeiras décadas do século XIX. Os compositores escreviam uma linha musical básica do canto, enquanto que os cantores intuitivamente a ornamentavam. Consta que mais tarde alguns cantores, abusando desta autonomia, acabaram por descaracterizar a música original. Os abusos na ornamentação exibiam as habilidades de cada um prejudicando a música e 40 tornando a ópera mais que um concerto com figurino. Apesar disso, com a chegada da ópera buffa italiana (cômica), a Europa se sentiu atraída pelos novos valores que poderiam enriquecer os palcos líricos, como a Singspiel, Operá Comique e a Zarzuela, recheadas de naturalismo, diálogo falado e o imediatismo da performance na linguagem. Os novos gêneros de música, foram surgindo a partir dos antigos. A nova ópera italiana do século XVIII, que mais tarde dominaria os palcos da Europa era clara, racional e de simples entendimento para agradar a platéia. A ópera séria italiana abordava sempre conflitos de paixão humana com enredo baseado em relatos de autores da antiguidade grega ou latina, suas personagens faziam invariavelmente dois pares de namorados e várias figuras secundárias com atos de heroísmo e cenas variadas divididas em três atos alternados por recitativos e árias. Os coros e duetos ainda eram raros. A tradicional escola italiana tem na sua origem os princípios e preceitos pedagógicos e de reflexão, com o objetivo de buscar a perfeição vocal. Iniciou como um grupo de cinco escolas em diferentes cidades Italianas - Nápoles, Roma, Bolonha, Florença e Veneza. O crescente interesse pela voz solista, aconteceu justamente em função do surgimento da ópera, trazendo assim, importantes tratados de canto que discorriam sobre a estética do bel canto como: Opinione de´ cantori antichi e moderni, o sieno osservazione sopra eu canto figurato, de Píer Tosi, escrito em 1723; Pensieri e riflessioni pratiche sopra il canto figurato, escrito em 1774 por de Giambattista Mancini e Traité complet sur l´art. du chant, escrito em 1847 por Manuel P. R. Garcia. O bel canto foi um estilo que preconizou o uso dos vocalizes, a colocação da voz na "máscara", variedade de timbres, dicção expressiva e maleável, valorização das inflexões e sólido trabalho respiratório. Bel Canto (belo canto) termo que se acredita ter sido criado por Giulio Cassini em 41 1610, refere-se a um estilo de canto de floreado e fraseado elegantes. Sobrepondo-se à dramaticidade, esteve em voga na Itália dos séculos XVII a XIX. Alguns dos grandes compositores que adotaram o gênero foram Puccini e Alessandro Scarlatti, além do mais recente Bellini. Conquistou instrumentistas como Chopin, pois segundo Mário de Andrade, serão os instrumentos que, grandemente influenciados pelo bel canto, cairão no exaspero da virtuosidade, em referência explícita ao compositor polonês, Paganini e Liszt. (DOURADO, 2004, p. 48) O virtuosismo do Bel Canto obrigou os cantores a se adaptarem a uma forma diversa de respiração, de dicção e do uso da voz para a interpretação dramática. Bel Canto denomina toda uma tradição vocal, técnica e interpretativa da Ópera italiana. Gioacchino Rossini, Gaetano Donizetti e Vicenzo Bellini, Giuseppe Verdi, Gaetano Spontini, Giacomo Meyerbeer, representaram o bel canto em suas obras. Por muito tempo acreditava-se que o Bel Canto era uma escola que enfatizava, principalmente, o virtuosismo vocal, em detrimento do drama e do canto expressivo. Centenas de óperas foram escritas nessa tradição para verdadeiras lendas do canto lírico como Giuditta Pasta, Maria Malibran e Giulia Grisi. Em seu tratado de canto, Píer Tosti afirma que os antigos cantavam árias em três estilos diferentes: para se cantar no teatro, vívido e variado; para música de câmara, delicado e fino e para cantar na igreja, afetuoso e grave. No decorrer do sáculo XVIII este tipo de diferenciação foi caindo em desuso. Já no tratado de canto de Garcia, é possível confirmar esta tendência, além disso, ele descreve que é a natureza da composição que deve determinar a escolha de um dos estilos denominados por Garci da seguinte maneira: -Estilo spianato (canto simples ou canto amplo) - lento e simples, não permite aspiração entre as notas ou muito floreios de agilidade para manter um som sustentado e ligado. Estilo característico das músicas de Bellini e Rossini; 42 Canto florido - abundante em ornamentos e cores, permite ao cantor mostrar a fertilidade de sua imaginação a agilidade vocal; Canto de agilidade - movimento rápido de notas em escalas, arpejos e trilos com execução eleve e voz medida; Canto di maniera e canto di porta mento - estilo elegante a delicado sem muita potência ou brio; Canto di bravura - é o canto de agilidade adicionando poder e paixão; Canto declamatório - estilo dramático e quase silábico. Estilo falado - monossilábico, requer que as palavras sigam uma a outra muito rapidamente e com perfeita calreza; Recitativo - dividido em três tipos: De igreja ou sacro - deve-se cantar adequadamente à santidade do local, com seriedade, messa de você, apojaturas e nobreza; Te atral - acompanhado pela ação do cantor, com bela representação; De câmara - expressões apaixonadas e com trilos; Recitativo falado - usado na ópera cômica, é silábico, mas alguns cantores conseguem introduzir uma certa variedade na forma e no movimento das sentinelas dos recitativos, presentes em músicas de Mozart. Recitativos Instrumentado - pode ser livre ou mensurado, expressa sentimentos nobre ou patético e deve ser cantado num estilo amplo e sustentado. Assim como os estilos de cantos variam de acordo com sua época ou compositor, é assim também com relação a pronúncia, o fraseado e a expressão textual. A técnica vocal e os estilos interpretativos se ajustaram às mudanças estilísticas de suas respectivas épocas, assim como às mudanças de valores. Em determinados períodos da história da evolução musical a busca pela improvisação era maior do que a busca pela técnica vocal, em outros tempos, buscava-se com mais vigor a expressão ou a virtuosidade do cantor. Ao cantor moderno, cabe identificar estes valores e estas mudanças 43 traduzindo textos e estilos de escrita que por vezes é estilizada e poética e outras vezes tem objetivo claro e direto. Isto acontece porque já que os fatores sociais refletem diretamente na composição, no movimento iluminista, por exemplo, que primava por uma música mais natural e realista, fez com que a música do começo do século XVIII fosse mais estilizada do que a música do começo do século XIX. A interrelação entre história, texto, música, técnica vocal, a arte do canto e a literatura admitem mudanças diretas nas óperas, nos libretos e nos estilos. Muitas mudanças nos ideais estéticos da sonoridade vocal foram observadas ao comparar os tratados de Tosi, Mancini e Garcia. Tosi, dá mais importância ao conhecimento musical, que permite ao cantor improvisar e embelezar as músicas do que propriamente à beleza da voz. Mancini, acredita que estas qualidades devem ser equilibradas, mas os dois concordam que flexibilidade, suavidade, redondeza, igualdade e claridade vocais, entoação e ornamentação perfeitas, precisão métrica, bom gosto, expressão e criatividade, são os pontos cruciais da arte do canto. Preocupado com o tamanho e a natureza das salas de concerto, Manoel Garcia acredita que o artista deve mudar a maneira habitual de cantar, já que desde o final do século XVIII, as salas e as orquestras aumentaram, exigindo do cantor maior projeção vocal. Para Garcia, os primeiros compositores românticos de ópera consideravam os antigos intensificadores musicais (movimento rítmico e floreado) limitados demais, e assim passaram a enfatizar mais um recurso que quase não foi explorado anteriormente, a intensidade sonora. Ao mesmo tempo, os compositores expandiram o vocabulário expressivo incluindo agilidades ou amplitudes. Dificilmente se encontra as duas qualidades no mesmo cantor: amplitude e flexibilidade. À partir daí, os cantores ficaram obrigados a se especializarem e se prepararem como tipos líricos ou dramáticos. 44 Para Pacheco, não podemos entender com isso que a música anterior ao romantismo não se servisse da dinâmica como recurso expressivo. Certamente se servia, mas nunca na mesma escala da música romântica. Pela primeira vez, alguns cantores, que acabaram sendo conhecidos como dramáticos, abandonaram a agilidade e a suavidade da voz cultivadas no Bel Canto em troca de um som mais pesado, vigoroso e escuro, que melhor satisfizesse as necessidades do repertório dramático do século XIX. (PACHECO, 2006, 147) Desde os teóricos medievais, até os de hoje, muito se discute acerca dos registros vocais, mas este assunto ainda está longe de um consenso entre os profissionais de canto. Nos anos 50, Maria Callas, a maior diva de todos os tempos, resgatou óperas há muito não representadas, como Anna Bolena, de Gaetano Donizetti, e Armida, de Gioacchino Rossini. Assim, Callas redescobriu o real valor dramático do Bel Canto, cuja base está no uso expressivo das cores vocais, do legato e da coloratura. O trabalho de redescoberta do Bel Canto nos anos 60 ficou por conta especialmente, de Joan Sutherland, Montserrat Caballé, Leyla Gencer, Beverly Sills, Renata Scotto. Desde então, as óperas do Bel Canto foram voltando ao repertório, e hoje este é um dos estilos operísticos mais aclamados nas grandes casas de Ópera. Maria Callas descobriu desde os 13 anos os segredos do Bel Canto com Elvira de Hidalgo, sua professora, que também foi uma cantora brilhante, destacando-se por sua voz e técnica perfeita. Atuou do começo do século até o final de 1920. Cantou em no Covent Garden, na Ópera Metropolitan de Nova York, em Atenas e na Turquia. No Bel Canto é preciso manter a voz flexível e leve, estudar de maneira incessante as escalas, os trinos e os adornos. 45 Callas compara o trabalho de um cantor belcantísta ao estudo de piano, onde num primeiro momento toca-se as escalas lentamente, aumentando aos poucos a velocidade, incluindo escalas ascendentes e descendentes, tons, semitons e arpejos. O cantor deve vocalizar as escalas diariamente, como um atleta, que desenvolve sua musculatura gradualmente. Além disso, Callas acreditava que para se obter a perfeição de uma ópera, seria necessário que se exercitasse a dicção dos recitativos, que geralmente introduzem as árias, "antigamente o público saía no meio da ópera, comiam, bebiam, riam do lado de fora e só voltavam à sala para as grandes árias". Hoje isso não acontece, os recitativos são muito bonitos e de difícil execução. A típica voz italiana tem por característica ser projetada e extrovertida, a direção não chega a ser vertical e nem horizontal, tende-se a impressão de uma direção oblíqua, Apresenta todo o espectro de harmônicos, do grave ao agudo com timbre claro. As bases do canto italiano são o apoio que se situa na região do diafragma e a respiração. As grandes frases musicais, inicialmente eram sustentadas pelo apoio respiratório, tanto para as declamações, como para o virtuosismo vocal, presentes nas óperas dos séculos XVII e XVIII. Mas este estilo floreado foi substituído pelo canto ligado e projetado em intensidade entre os séculos XIX e XX. Isto ocorreu por dar-se prioridade ao fluxo de ar respiratório e não à agilidade glótica. No fim do século XVIII e início do XIX, foi divulgado o mecanismo de cobertura da voz, que consiste na expansão da parede faríngea pelo abaixamento da laringe, arqueamento do véu palatino e abaixamento do dorso da língua, o que resulta num escurecimento vocal, ou seja, o espaço da ressonância acústica aumenta e os sons produzidos tornam-se mais harmônicos, cheios e pesados. Assim, o cantor pode expandir o registro sem alteração do timbre vocal, o que anteriormente era feito através de falsete. 46 Segundo (DOURADO, 2004, p. 128), "falsete é uma técnica também conhecida omo voz de cabeça, consiste no emprego de um modo de vibração reduzido das cordas vocais e simula, principalmente no canto adulto masculino, vozes tipicamente femininas. O falsete já era comum na Itália da Idade Média, período em que os homens substituíam com essa técnica o contralto, voz feminina mais grave e rara. Recurso bastante usado por contratenores, ainda nos dias de hoje o falsete tem sido empregado com frequência também na música popular (Beatles, Milton Nascimento, Earth, Wind and Fire, Edson Cordeiro, Mutantes, Bobby Mc Ferrin, Bee Gees)". Na escola italiana é preconizada a modificação gradual das vogais, dependendo da região em que se canta. O ajuste flexível do trato vocal deve ser permitido de forma a definir todas as vogais, em qualquer nível de pitch, que é a sensação auditiva que possuímos sobre a altura da voz, que pode ser classificado em grave, médio ou agudo. O compositor e regente italiano Florentino Giovanni Lulli (1632-1687), foi o primeiro orientador dos cantores líricos da França, no século XVII. Lulli se utilizava do Méthode du Conservatoire de Paris, que foi em grande parte, redigido por outro italiano, Bernardo Mengozzi (1758-1800), este método consistia em solfejos, ou seja, entoar as notas musicais nas alturas e tempos corretos, cantados da tradição belcantista. Manuel Garcia Júnior (1805-1906), autor do célebre Traité complet de l'art du chant (1840), foi o maior responsável pela influência do bel canto sobre os franceses, o que não impediu que os mestres e cantores franceses buscassem uma forma de cantar mais apropriada à fonética da língua francesa que é eminentemente nasal. Os franceses demonstravam grande preocupação com a interpretação do texto cantado, com dicção clara e precisa, além do interesse por estudos e discussões científicas sobre a fisiologia do aparelho fonador, o que resultou em vasta literatura acerca da respiração e fonética, em geral. Direção horizontal (boca e lábios), por ser um idioma nasal e sobretudo dicção bem cuidada, são as características da escola francesa, que valoriza 47 muito a compreensão do texto cantado, sacrificando a qualidade na emissào de voz por falta de sustentação e falta de apoio. A bela expressão do canto francês, fica por conta do idioma que é rico em vogais. A dificuldade, contudo, está na emissão das consoantes nasais que não beneficiam o timbre e o alcance vocal. Na primeira metade do século XVII, os alemães importaram a ópera italiana. Aos poucos excelentes métodos de canto foram desenvolvidos pela escola alemã, adequados ao seu vasto repertório. O desenvolvimento da escola vocal alemã progrediu de acordo com as características do idioma gutural e carregado de consoantes, o que resulta numa sonoridade escura de ressonância posteriorizada e voz fortemente encoberta. Na segunda metade do século XIX novos ideais estéticos começaram a florescer. Assim, nasceram outras formas de performance vocal como o Lied Alemão, por exemplo, que é a música de câmara romântica. A voz alemã tem direção vertical, ressonância faríngea, algumas vezes velada. Tem-se a sensação auditiva de entubamento sonoro, ou seja, voz na região posterior da boca, palato arqueado e laringe baixa. A dicção da língua alemã pode ter projeção vocal posteriorizada pela grande quantidade de consoantes posteriores. A respiração é abdominal e inferior, sendo que o ar está apoiado verticalmente sobre os músculos abdominais e a laringe mantêmse baixa com aumento de pavilhão faríngeo e elevação do véu palatino. Assim, a voz soa vertical, redonda e quase sem vibrato. DOURADO ( 2004, p. 353) refere-se ao vibrato, da seguinte maneira: "Vibrato - técnica e efeito ornamental que consiste na alteração da frequência de uma nota, baixando a afinação e retorando rapidamente à altura anterior. Empregado como elemento expressivo, é de grande valor para o interprete, surge quase naturalmente entre cantores e, geralmente, por estudo técnico entre os instrumentistas de cordas e sopros..." 48 As dificuldades da língua alemã, em razão das inflexões consonantais que alteram a vocal, fazem com que os sons produzidos se tornem redondos e com pouco brilho, além de sacrificar o timbre em relação aos harmônicos agudos. Richard Wagner, por exemplo, caracteriza-se por ser um compositor de formas difíceis, pesadas e de difícil compreensão, assim, as óperas de Wagner na Itália, em geral eram montadas no idioma italiano. Contudo, Maria Callas dizia que bem cantada, uma ópera de Wagner, nunca prejudicaria nenhuma voz, desde que se cante com leveza (informação verbal). No Romantismo, período da história da música convencionado do final do século XVIII até a primeira década do século XX. Na Alemanha, teve a influência do Fausto, de Goethe, sobre compositores como Beethoven, Schubert e Schumann, misturando idéias fantasiosas, sensuais e misteriosas. Também se renderam ao Romantismo compositores como Mendelsohn, Brahms, Weber e Wagner. Desde a Antiguidade a música sempre esteve intimamente ligada ao homem, seja nas funções auxiliares do trabalho, nos cultos religiosos, nas artes ou na dança. A historia da musica religiosa na Idade Média quase se confunde com a historia do canto. Na liturgia deste período o canto assumiu um papel muito importante, prova disso é o fato de que as composições dos textos cantados eram moduladas especificamente para a fácil memorização e viabilidade vocal por parte dos fiéis. O crescente desenvolvimento da música instrumental, não fez com que o a voz perdesse importância no cenário musical, pelo contrário, colaborou para que o canto ganhasse novas formas de expressão, tanto na música sacra como na música profana, e assim, paralelamente ganhou novas possibilidades técnicas. O desafio no campo da voz humana sempre gerou em torno de dominar o desenvolvimento técnico. 49 No final do Renascimento, o desenvolvimento da arte de construção de instrumentos foi muito grande em diversas corte da Europa. Em Ferrara, a Casa D’Este mantinha um grande numero de Luthiers com a incumbência explicita de construir os instrumentos que lhe fossem pedidos pelos compositores. Assim, surgiram instrumentos extremamente curiosos, ágeis e conjuntos instrumentais mais homogêneos. Aliada a uma outra tendência da época, de procurar uma expressão mais solística do texto a ser cantado, surgiram ali os celebres CONCERTI DI DONNE, nos quais havia a tendência de desenvolver uma técnica de canto mais ágil, capaz de aproximar a voz da performance instrumental. Em toda a evolução posterior do canto, esta tendência se manteve, seja nos processos de ornamentação dos períodos barroco e clássico, seja nas performances improvisadas das cadencias na Ópera ou mesmo no século XX, onde as tortuosas curvas melódicas do atonalismo exigem do cantor extrema agilidade. O desenvolvimento instrumental sempre esteve ligado às mudanças vocais. Desde o final da Idade Média os conjuntos instrumentais começaram a se tornar mais numerosos, até chegar as grandes orquestras Wagnerianas. Deste modo, se fez necessária uma adaptação dos cantores no sentido de conseguir volume para se equiparar ou se sobressair a esta enorme orquestra. O profissional do canto desde a Idade Média até o século passado era obrigado a aprender a arte dos mestres unicamente pela imitação, prática esta que se reflete ainda nos dias de hoje. É muito comum no campo da educação musical, encontrarmos professores que lançam mão da ciência, estudando e procurando aplicar o conhecimento fisiológico na sua própria pessoa, para depois repassar aos seus alunos, encurtando deste modo o tempo de estudo e tornando o estudo do canto mais intuitivo. Ainda hoje, alunos de canto que já percorreram diversas experiências com diferentes professores, ainda não adquiriram uma verdadeira noção do mecanismo do canto. Na antiga Grécia, muitos deuses eram venerados, entre eles, Dionísio, aquele que além de favorecer a fertilidade, ensinou os homens a cultivar a 50 videira e a fabricar o vinho. Assim, por volta do século VII a.C. , quando diversas homenagens eram feitas ao Deus Dionísio, sempre com muita dança, cortejos, cantoria, sacrifícios de animais e bebidas, surgiu um hino chamado ditirambo. O ditirambo, segundo FEIST (2005,5), é um hino cujo texto era improvisado pelos próprios devotos de Dionísio. O texto falava sobre a história de Dionísio, que os devotos conheciam muito bem. No início, o ditirambo era entoado por um coro, formado por coreutas. Com o passar do tempo, o coro se dividiu em dois, que dialogavam entre si através de perguntas e respostas acerca do deus do vinho. O corifeu era um personagem que se destacava por assumir o comando do diálogo. Téspis foi um corifeu, que no século VI a.C. durante uma celebração, se arriscou a interrompê-la gritando: “Eu sou o Dionísio!”. E como se fosse mesmo o Deus Dionísio, Téspis passou a representá-lo com interpretações dramáticas, alegres e tristes. Com isso, de acordo com FEIST (2005,6), inventou o teatro e passou a viajar pela Grécia numa carroça cheia de máscaras, perucas, trajes e tudo de que precisava para interpretar, sozinho, as personagens das peças que escrevia sobre Dionísio. Mais tarde, outros tragediógrafos foram surgindo contado histórias vividas por heróis e heroínas humanos ou mitológicos. Ésquilo (c.525-456a.C.), por exemplo, foi considerado o “pai da tragédia”, já que além do texto, Ésquilo, introduziu no espetáculo máscaras de tecido, cortiço ou madeira, com expressões de alegria, tristeza, raiva, espanto, etc. Os coreutas trocavam as máscaras na frente do público, durante o espetáculo para demonstrar sua expressão. Os romanos admiravam demais as manifestações artísticas gregas, assim, quando o Império Romano conquistou a Grécia, no ano 146 antes de Cristo, procurou manter e imitar tudo o que era feito pelos autores gregos. No século V da Era Cristã, o teatro quase que desapareceu da Europa com a 51 queda do Império Romano. Mas logo foi ressurgiu no continente europeu com a Igreja Católica, peças baseadas na Bíblia, escritas em latim pelos padres e encenadas por eles mesmos no interior da igreja, com o objetivo de instruir e fortalecer a fé dos católicos. No século XII, as peças já eram escritas na língua falada pela população da época, o vernáculo. Aos poucos os temas começaram a citar elementos profanos, sendo então, representados não mais nas igrejas, e sim nas praças públicas. Willliam Shakespeare (1564 – 1616), considerado um dos maiores dramaturgos da história, surgiu durante o governo de Elizabeth I (1533 – 1603), na fase em que a Inglaterra se firmava uma umas grandes potências mundiais. Shakespeare além de escritor que buscava inspiração nas crônicas históricas e nas obras de outros autores, foi um ator muito ovacionado e acionista de uma grande companhia teatral. Procurava agradar o público seguindo as tendências do momento, misturava sempre elementos cômicos e trágicos, punia os malvados e assim, ganhou prestígio e popularidade, além de muito dinheiro. Muitas das peças de Shakespeare estrearam no Globe Theatre, um edifício de madeira em formato octogonal, construído de acordo com o modelo vigente na época elizabetana, em 1599. As inglesas da época elizabetana, assim como as gregas antigas, só tinham acesso ao teatro como espectadoras, assim, todos os papéis, inclusive os femininos, eram interpretados por homens. Na platéia, havia lugares para o público menos favorecido, que assistiam ao espetáculo de pé, e as cadeiras eram reservadas ao público de maior poder aquisitivos. Em 1613, o Globe Theatre sofreu um incêndio, no ano seguinte foi reconstituído, mas acabou sendo demolido em 1644. Existe hoje, uma réplica desse teatro, feita pelos ingleses em 1990, está localizada perto do local onde se situava originalmente, à margem do Rio Tamisa. 52 Durante muitos anos os tragediógrafos franceses do século XVII buscavam imitar os textos das manifestações artísticas da Grécia antiga. Acontece que algumas décadas antes, em Florença, na Itália, um grupo de escritores, músicos e intelectuais tentavam reconstituir a tragédia grega em forma de espetáculo. O que se sabia na época, através de livros, é que os espetáculos gregos eram feitos com muita música instrumental e vocal (solos e coros). Infelizmente, não havia a menor idéia de como tudo isso acontecia na prática, dois mil anos antes. Assim este grupo de Florença acabou inventando, segundo FEIST (2005, 41), um gênero teatral inteiramente novo e absolutamente genial: a ópera. A ópera, de acordo com DOURADO (2004, 233), “é uma obra que combina musica, teatro, poesia, e artes visuais e que se originou provavelmente no intermède (surgido no Renascimento, o termo chegou ao período Barroco com referência à música que não é necessariamente relacionada com o tema da obra principal e costuma ser dançada entre as partes maiores de um espetáculo completo) e no balé dos anos 1500. Orfeu (1607), de Monteverdi, foi provavelmente o marco inicial, e a partir dele quase todos os grandes compositores da história criaram óperas: De Handel a Beethoven, Lully a Phillip Glass, de Gluck a Prokofiev, e Puccini a Stravinsky". A ópera é então, uma peça cantada com acompanhamento de orquestra. Em determinados momentos, as vozes abrem espaço para que a orquestra de mostre exclusiva. Os nobres encomendavam óperas para comemorar vitórias, coroações, festejar boda, nascimento ou por simples distração. Os compositores eram pagos por isso, e assim que recebiam a encomenda, começa a pesquisa em busca de temas adequados à ocasião. Estes temas, em geral, vinham inspirados da mitologia grega ou romana, da história antiga ou da Bíblia. Ao compositor era permitido utilizar um texto, que chamamos de libreto, 53 que havia sido explorado antes, contratar um dramaturgo, ou escrever de próprio punho. Com a evolução, os compositores dispunham de libretistas, que eram os especialistas em escrever textos para as óperas e assim, se dedicavam apenas à parte musical. Na época em que a ópera era um entretenimento tão popular e corriqueiro, quanto o cinema é hoje, a platéia tinha o hábito de manter em mãos o libreto da ópera impresso, para que pudessem acompanhar a história. Na atualidade, todos os teatros exibem legendas durante o espetáculo. Com o movimento conhecido como Romantismo do século XIX, os libretos giravam em torno das idéias de igualdade, liberdade, patriotismo, nacionalismo e predomínio dos sentimentos sobre a razão. A Idade Média também foi fonte de inspiração de muitas óperas, já que foi no período medieval que grande parte dos países europeus se consolidou como nações independentes. Os amores impossíveis, regados a muita tragédia e sangue são alvos certos de qualquer período histórico. As óperas, em geral, contam com um número grande de cantores, sendo os solistas personagens principais e o coro representando cortesãos, soldados, camponeses, habitantes locais entre outros. O papel interpretado pelo cantor, depende de sua classificação vocal. Por exemplo, a soprano, que tem a voz mais aguda, costuma ser a mocinha; a mezzo-soprano, com sua voz mais grave, é a inimiga ou mãe da mocinha, ou ainda a rainha, a mulher fatal e algumas vezes um adolescente; o tenor, que é uma voz masculina e aguda, geralmente é o mocinho; o barítono, voz grave, interpreta o pai, o vilão ou o rival e o baixo, que é a mais grave das vozes, é o rei, o profeta, etc. Em meados do século XVII, com a evolução da ópera, foi acrescentada a abertura orquestral. Nesta mesma época, os italianos inventaram um edifício teatral próprio para as montagens das óperas. O palco fica num plano elevado em relação aos espectadores e os músicos da orquestra, se posicionam no poço. O poço é um espaço inferior ao nível do palco e separado do público por 54 um anteparo. No centro do anteparo, fica o estrado ou o pódio, lugar de onde o maestro rege a orquestra e os cantores. No início do século XVIII, as árias, que são parte da obra escritas para os cantores solistas, foram crescendo, assim como a complexidade de enredos e cenas. Segundo DOURADO (2004,233), compositores como Scarlatti, consolidaram a forma da ópera italiana: a abertura, três atos e coro final com o elenco completo. Na ópera Alemã, encontramos reverências à ópera italiana em suas cortes, mas também havia uma imposição da introdução da língua germânica nos textos, assim, caiu no gosto popular e rompeu a hegemonia italiana. Surgiram então, em contraposição à chamada ópera séria, a ópera buffa, como o Barbeiro de Sevilla, de Rossini; a ópera cômica, como Carmen, de Bizet; e o singspel alemão, como por exemplo, O Rapto do Serralho e A Flauta Mágica, de Mozart. Um grande marco da ópera alemã foi a obra Tristão e Isolda, de Richard Wagner. Esta ópera rompeu a linha evolutiva da ópera romântica alemã. Richard Wagner escrevia dramas monumentais que faziam interagir diversas formas de arte, como acontece em O Anel do Nibelungo. Rompeu não só com a tradicional ópera italiana, mas também com toda a linha filosófica e estética da música ocidental do século XIX. No Brasil, graças à prosperidade do ciclo da borracha, foi construído em Manaus o luxuoso Teatro Amazonas e em seguida, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro na virada do século como escala natural no trajeto das companhias européias que se dirigiam ao Cólon portenho. Em 1911, com o emprenho dos barões de café paulistano que pressionavam a municipalidade, foi inaugurado o Teatro Municipal de São Paulo. Obra de Ramos de Azevedo e Domiciano Rossi. Carlos Gomes, nascido em Campinas, foi o maior compositor brasileiro 55 de óperas. Alcançou notoriedade na Europa com obras como Il Guarany (1870), Fosca (1873) e Lo Schiavo (1889). Camargo Guarnieri, paulista da Tietê interiorana, compôs Pedro Malazarte (1932) e Eleazar de Carvalho escreveu uma precoce A descoberta do Brasil (1938), e Tiradentes (1940). Villa-Lobos escreveu Yerma (1958) e Jorge Antunes compôs Olga (entre 1987 e 1997). Alguns exemplos de estilos, compositores e cantores: Barroco Compositores - Claudio Montoverdi (1567-1643), Henry Purcel (1659-95) e George Frideric Handel (1685-1759), Cantores - Francesca Caccini, Francesco Rasi, Anna Renzi, Marthe Le Rochos, Giovanni Siface (castrado), Barbara Strozzi, Faustina Bordoni, Giovanni Carestini, Farncesca Cuzzoni, Farinelli (castrado) e Anna Maria Strada Del Pó. Clássico Compositores - Wolfgang Amadeus Mozart (1756-91), Joseph Haydin (17321809) e Antonio Salieri (1750-1825). Romântico Compositores - Ludwig van Beethoven (1770-1827), Carl Maria Von Weber (1786-1826), Gioachino Rossini (1792-1868), Vincenzo Bellini (1801-35), Gaetano Donizete (1797-1848). Alto Romantismo Compositores - Giuseppe Verdi (1813-1901), Richard Wagner (1813-1883), Georges Bizet (1838-75), Pyor Ilyich Tchaikovsky (1840-93), Jacques Offenbach (1819-80), Giacomo Puccini (1858-1924), Richard Strauss (181383), Jules Massenet (1842-1912), Claude Debussy (1862-1918), Pietro Mascagni (1863-1945), Alban Berg (1885-1935), Benjamim Briten (1913-76), Leos Janácek (1854-1928), Igor Stravinsky (1882-1971), Béla Bartók (18811945), Paul Hindemith (1895-1963), Gian Carlo Menotti (B.1911), Maurice Ravel (1875-1937). 56 LUCIA DE LAMMERMOOR Benito Maresca, aos seis anos de idade, já cantava a ária La donna è móbile, da Ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Seu pai o ensinou a cantá-la, com palavras pornográficas, e quando os amigos o visitavam, na Rua Xavier de Almeida, no Bairro do Ipiranga, para jogar pôquer nos finais de semana, Benito ficava embaixo da mesa e cantava como o pai o havia ensinado. Benito sempre se interessou por música. Por isso, um vizinho, que construía instrumentos musicais, como cavaquinho, bandolim, violão, permitiu que Benito o auxiliasse no lixar dos instrumentos. Certo dia, o vizinho se mudou. Mas, deixou um bandolim de presente para Benito e ensinou as posições dos acordes no instrumento, para que Benito aprendesse a tocar sozinho. E eu aprendi. Só que minha mãe me quebrou o instrumento na cabeça, de tanto que eu tocava o dia todo estudando (depoimento pessoal). Por volta dos 12 ou 13 anos, começou a dar sinais a seu pai de que queria estudar música. Primeiro, se interessou pelo piano; depois, pelo violino. Mas, quando falava com seu pai a respeito, a única resposta que recebia era: Isso é coisa de vagabundo! Música é coisa de vagabundo! Vá estudar engenharia! (depoimento pessoal) Sonhava seu pai com um engenheiro mecânico. Eu consertava tudo dentro de casa, inclusive nas casas dos vizinhos, mas claro, sem cobrar nada, como agradecimento eles me enchiam de doces e todos os tipos de bolinhos (depoimento pessoal). Mas, a música, realmente, o atraía. 57 Um dia meus pais foram assistir a um filme chamado La estrada del bosco, A estrada do bosque. Participava do filme um barítono, muito bom, chamado Gino Bechi. Ele cantava canções e trechos de óperas. Interessei-me pelos trechos de ópera, além do das canções. Então, fui sozinho assistir esse filme. Aos seis anos, eu já ia à cidade sozinho e, com 12 anos, eu já trabalhava como office boy (depoimento pessoal) Depois de ter visto ao filme “La estrada del bosco”, Benito passou a imitar Gino Bechi. Sua voz também procurava ser a de um barítono. Aliás, naquela época, queria muito ser barítono, mas ainda não tinha idade suficiente para iniciar seus estudos de canto. Somente aos 16 anos, Benito conheceu o tio de um amigo, um cantor que fazia na época pequenos papéis no Teatro Municipal de São Paulo. Chamava-se Alfredo Viola e tinha o apelido de Tidoca. Pedi para o Tidoca dar aulas pra mim e para um amigo, que era dois anos mais velhos do que eu. O Tidoca disse que nos daria aulas, mas que utilizaria o piano da casa da noiva. Ele deu umas três ou quatro aulas; brigou com a noiva e não pôde mais usar o piano. Então, sugeriu que eu procurasse Emilia Vitale que, segundo ele, era uma grande cantora e professora (depoimento pessoal). No ano de 1949, começou a trabalhar como office boy, na General Motors. E quando completou um mês de aulas com a professora Emilia Vitale, levou seu pai para assistir a uma delas. Meu pai com muita má vontade foi comigo e a mulher dizia que eu tinha voz de barítono, me elogiou, elogiou (...) eu não engoli a pílula e, quando eu saí, meu pai disse: “ma tu sei um cretino!”. Eu respondi: você tem razão papà, ela não é uma grande professora e não entendeu nada da minha voz e nem vai me ensinar a cantar, eu vou sair daqui (depoimento pessoal). Maresca desistiu de comparecer às aulas da professora Emilia. Um amigo, que também trabalhava na General Motors, o levou à casa de uma 58 professora chamada Elena Fantini Bruno. Para Benito, um nome pomposo (depoimento pessoal). Eu fui e perguntei se ela poderia me ouvir, para dizer se eu tinha condições de estudar ou não. Ela disse está bem; aí eu cantei meio trecho de tenor, porque eu não alcançava os agudos de jeito nenhum. Quando eu terminei de cantar e perguntei o que ela achava, ela desanimada disse: “sabe, você tem voz de padre”. Eu perguntei como padre? Ela respondeu que eu só poderia cantar papéis muito pequenos e que eu nunca poderia fazer carreira de cantor. Respondi, mas a senhora me aceita como aluno? E ela aceitou (depoimento pessoal). Certo dia, num almoço na casa de sua madrinha, que morava com uma senhora amiga, foi questionado por esta senhora sobre a professora de canto. A amiga de sua madrinha queria saber quem era a professora. Benito respondeu que era uma grande cantora, chamada Elena Fantini Bruno. A senhora se surpreendeu e pediu para que ele repetisse o nome da grande cantora e justificou indignada que Elena Fantini Bruno não foi uma cantora erudita, mas sim uma bailarina-corista da terceira fila do teatro de revista. Cantava e dançava lá atrás, na terceira fileira. O marido dela, sim, teve uma boa voz de barítono e chegou a fazer pequenos papéis no Teatro Municipal de São Paulo e cantou muito em casamentos. Provavelmente, isto tenha afetado Maresca. A professora Elena me disse que quem tinha mesmo de cantar era aquele meu amigo que foi comigo, dois anos mais velho que eu, ela disse que ele sim faria uma grande carreira já que tinha todos os agudos. Eu respondi, mas tem uma coisa que a senhora não percebeu, ele tem mesmo os agudos, mas ele desafina e se a senhora não percebeu é sinal de que a senhora também é desafinada. Ela respondeu, apenas: Ponha-se daqui pra fora e expulsou-me de lá (depoimento pessoal). Depois dessa experiência com a professora Elena, Benito começou a “via crucis”. Eu fui a cada charlatão, um pior que o outro (depoimento pessoal). 59 No momento de nossa conversa, ao se referir a essa situação, Benito pára, pensa e, com muita sinceridade e preocupação, se manifesta: Tem muita gente curiosa dando aula, tem gente que fez alguns cursos pelo Brasil, põem no currículo, e as pessoas acreditam que sejam bons professores. Eu cobro pouco, sempre cobrei pouco, não quero ficar rico dando aulas, quero a satisfação de ver meus alunos cantando (...) e com isso vou vivendo, não quero ficar rico, rico eu já fui, gastei tudo, paciência (depoimento pessoal). E a busca por um professor continuou. Eu comecei a procurar mais professores e já não era mais office boy, era vendedor; larguei a escola na segunda série ginasial. Mas eu falo seis línguas: inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e português. Eu falo seis línguas e me divirto em seis línguas; o que eu tenho de conhecimento é por leitura e em todos os países e cidades que cantei eu pesquisei a cultura de cada lugar (...) sou um felizardo! (depoimento pessoal) Nessa busca, Benito acabou por conhecer o Maestro Marcel Klass. A base do canto quem meu deu foi o maestro Marcel Klass. Isso eu preciso dizer sempre; ele foi o primeiro quem falou coisa com coisa pra mim (....) os outros chutavam (...) houve gente que falou todo o tipo de coisa pra mim. Diziam: põe a boca torta para um lado para dar os agudos... e o agudo não saia (depoimento pessoal). Marcel Klass, para ele, era russo, pianista, cantor de câmara, na Alemanha, e estudou com um grande tenor italiano do passado, Alessandro Bonci. Ele me deu a base do canto, da respiração e do apoio (...) Depois que o Marcelo Klass me explicou direitinho sobre a respiração e o apoio corretos, em uma semana eu pequei o Dó. E eu não chegava nem mesmo no Fá. Ele mandava que eu apoiasse e assim eu conseguiria. E em uma semana de estudo eu cheguei no Dó. Aí ninguém mais me segurou (...) eu falei: vou encher o saco do mundo com esse Dó! Vou mostrar para todo mundo! (depoimento pessoal). Nessa época, apesar do sonho de ser um barítono, Benito Maresca já se considerava tenor: de tanto que falavam que eu era tenor! E o Marcel Klass me ajudou com os agudos, desenvolvi os agudos graças a ele (depoimento pessoal). 60 musical, já que se formou no Conservatório Musical Santana, situado à Rua Voluntários da Pátria. Segundo ele, o Conservatório Musical Santana o aceitou como aluno do curso de canto erudito, mas anteriormente vários outros conservatórios o dispensaram, com a alegação de que o aluno não tinha voz para ser cantor. No que conhecimento Benito se refere musical dominava a ao teórico, leitura de partituras e tinha ótima percepção Finalmente, sua primeira apresentação em público, em 1955, na Festa do Conservatório Musical de Santana. 61 Em 1956, Benito participou como “comparsa” ou “claque” nas óperas do Teatro Municipal de São Paulo. Benito passou a participar de pequenos concertos em igrejas e escolas. No dia 07 de abril de 1958, cantou Voce e Notte, de Curtis, no recital dos alunos do Curso de Aperfeiçoamento Vocal, do Prof. Francesco B. Ferry, no Auditório da Escola “Júlio de Mesquita”. Em 25 de março de 1959, executou, como solista, trechos do Réquiem de Giuseppe Verdi, na Igreja do Imaculado Coração de Maria, sob direção artística do maestro Francesco B. Ferry. Em 25 de abril, do mesmo ano, participou do Concerto do Coral Labor, da Associação dos Funcionários da Laborterápica Bristol S.A., no Teatro Paulo Eiró, em Santo Amaro, sob regência do maestro Mário Rinaldi. A Congregação Mariana de Senhoras do Colégio São Luís, promoveu em 23 de maio de 1959, a Noite de Artes, com participação de Benito Maresca e regência do maestro Mário Rinaldi. 62 Com árias da Ópera Fedora, de Giordano, Benito inaugurou, em conjunto com os demais cantores, uma série das atividades artísticas, promovida pela Sociedade Italiana de Beneficência, sob direção artística do maestro Francesco B. Ferry. Em 30 de abril de 1960, cantou em homenagem aos sócios honorários da Sociedade Italiana de Beneficência, em Santos, sob direção artística do maestro Francesco B. Ferry. No dia 27 de novembro de 1961, cantou ao lado do barítono Walter Bergamini, no Colégio Arquidiocesano de São Paulo. Em 1962, cantou no Cine Ita, de Atibaia, em Celebração do Dia das Mães, na Semana Champagnat, do Colégio Arquidiocesano, na Audição de Encerramento do 1º Semestre do Colégio Arquidiocesano na Associação Desportiva Salete e Conservatório Musical Jardim São Paulo, sob regência do Irmão Atiço Rubini e Gino Galluzzi. Ainda em 1962, no Teatro Nossa Senhora do Bom Conselho, Benito integrou o Espetáculo Lírico Teatral, com direção musical dos maestros Raphael Casalanguida, Bruno Roccella e Herminia Russo. Cantou também no Sarau patrocinado pelo Moóca Atlético Clube, no Teatro Arthur Azevedo, e no Festival Artístico, em benefício das Obras Assistenciais da Associação Beneficente “Grupo da Caridade”, no Clube Alepo. O Teatro Lírico de Equipe, sob organização geral e direção artística de Emmerson Eckamann, apresentou montagem da Ópera Madame Butterfly, de Giácomo Puccini, em 27 de outubro de 1962. Benito Maresca interpretou um tenente da Marinha Americana, B. F. Pinkerton. 63 A Sociedade Amigos da Música de Santo André, no dia 28 de dezembro de 1962, no Salão do Sindicato dos Metalúrgicos, em Santo André, ofereceu concerto lírico, com participação do maestro Raphael Casalanguida, do tenor Benito Maresca, dentre outros solistas. Opereta apresentada no programa “Rivo Show” na TV Tupy, em 1962. Em 1963, cantou no Club Transatlântico e no Concerto Vocal do Teatro Sagrada Família, sob organização geral e direção artística de Emmerson Eckmann e colaboração de Rodolfo Casagrande. Executou as canções Tristezza, de P. Tosti; El trust de los tenorios, de J. Serrano, e a ária L´anima 64 ho stanca, da Ópera Adriana Lecouveur, de F. Ciléa, e o dueto Invano Alvaro, da Ópera La Forza Del Destino, de G. Verdi. Aos 29 anos de idade, em 1963, Benito soube que haveria uma montagem da Ópera Lucia Di Lammermoor, de Gaetano Donizetti, no Teatro Municipal de São Paulo, e que ainda não estava definido quem seria o personagem Lord Arturo, sposino, da Lucia. Na verdade, eu pedi a audição para o maestro Belardi e ele falou que não tinha tempo para me ouvir. Então, eu telefonei para a filha do Prestes Maia, o prefeito de São Paulo, que era minha namorada, a Geny. Prestes Maia não queria nada com ópera; ele queria demolir o Teatro, para fazer estacionamento, mas a esposa dele era portuguesa, e comunista, mas gostava muito de ópera. Eu liguei para a Adriana, a filha mais velha, e que era também minha amiga, e disse para ela que eu nunca pedi nada para ninguém, mas que estava obrigado a pedir, porque o pai dela era o prefeito e a mãe tinha mais força no teatro do que o próprio pai. Contei a ela que pedi uma audição para o maestro Belardi e ele disse que não tinha tempo; eu não pedi nenhum favor para ele, eu pedi uma audição. Ela disse que me ligaria em cinco minutos. Após cinco minutos, ela retornou dizendo: “amanhã o maestro Belardi vai lhe ouvir” (depoimento pessoal). Maresca compareceu, no dia seguinte, ao Theatro Municipal de São Paulo, conforme havia combinado com a filha do Prefeito da Cidade de São Paulo. Perguntou ao maestro o que ele gostaria de ouvir. Belardi apenas perguntou quantos meses o candidato necessitava para preparar uma ária do sposino. Maresca respondeu que poderia voltar no dia seguinte, já que conhecia a ópera. Mas, ficou acertado que a audição seria em uma semana. No dia combinado, Benito compareceu à audição e cantou o concertato do sposino. Belardi ficou de um lado a outro do teatro e, por fim, reclamou de sua voz – seria muito grande para cantar as árias do sposino da Lucia, e que não poderia selecioná-lo, mas gostaria de ouvi-lo cantando as árias do tenor da Ópera Butterfly, de Giacomo Puccini (1858-1924). O maestro me perguntou se eu conhecia a Butterfly. Respondi que conhecia todinha. Então ele disse que queria me ouvir na sala. Cantei todinha a Butterfly, de cabo a rabo, toda a parte do tenor, 65 sem errar nada. Belardi disse que queria me ouvir no teatro. Eu disse que tudo bem... (depoimento pessoal). Ao ouvir Benito Maresca, no Teatro, com o intuito de saber se sua voz ressoava bem, Belardi finalizou a experiência convencido de que sua voz era mesmo muito grande. E alegou que a temporada já estava fechada e que, como diretor artístico, estava decidido a não aceitá-lo para o elenco. No mesmo dia, estava também, no teatro, o empresário da ópera. Era, também, temente a Dona Maria, esposa do Prefeito Prestes Maia. Eu então interpelei o empresário que me preveniu de que falaria com Dona Maria. O empresário pediu, então, que eu me calasse, porque ele mesmo diria ao maestro que eu faria o papel de “sposino”. Eu conheci a Dona Maria e suas filhas na festa de um amigo meu, o qual mais tarde se tornou o rei da soja. Nesta festa ele começou a contar para todo mundo que eu cantava, e as pessoas ficavam pedindo para que cantasse. Assim, eu cantei, elas adoram e nos tornamos amigos. Nunca deixei de agradecer à Dona Maria (depoimento pessoal). Maresca seria, então, o sposino Lord Arturo daquela temporada de Lucia de Lammermoor, mas era preciso que Benito pedisse licença a seu mestre, o maestro Klass, para aceitar o papel. O maestro Marcel Klass, nessa época, estava regendo o espetáculo My Fair Lady, de Alan Jay Lerner, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A esposa do maestro fazia parte do coro e os protagonistas do musical eram Bibi Ferreira, Paulo Autran e Jaime Costa, dentre outros. Benito foi até a capital do Rio Grande do Sul consultar seu maestro sobre o papel de sposino e por ter sido obrigado a repassar as árias e os recitativos com Hermínia Russo, repassadora, em exercício, do Teatro Municipal de São Paulo. Marcel Klass concordou prontamente. Em 1964, Maresca estreou no Teatro Municipal de São Paulo, na Ópera Lucia de Lammermoor, quando interpretou o sposino Lord Arturo. Sua estréia provocou comentários positivos por parte da crítica e do público. 66 67 (Lord Arturo da Ópera Lucia de Lammermoor, 1964) Constitui grata surpresa a estréia do tenor Benito Maresca no ingratíssimo papel de Lord Arturo: voz suficientemente volumosa, bem conduzida, ao que aliou boa presença e desembaraço cênico. (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO de 23 de agosto de 1964) Benito Maresca com voz de bom timbre e arte representativa indicada deu valorização a Lord Artur, papel geralmente sacrificado. (Jornal FOLHA DE SÃO PAULO de 25 de agosto de 1964 p.4, 2º caderno) A estréia foi marcada pela Ópera Andréa Chenier e contou com a participação dos interpretes Sergio Albertini, Lucia Quinto Morsello, Costanzo Mascitti, Odette Violani, Felipe Carone, José Perrotta, Mariângela Réa e outros. Contou com a Orquestra Sinfônica Municipal, Coral Lírico e Corpo de Baile da Escola Municipal de Bailado. Em seguida, foi apresentada a ópera Lucia de Lammermoor, com Niza de Castro Tank, Bruno Lazzarini, Costanzo Mascitti, Benito Maresca, José Perrotta e regência de Armando Belardi. (BELARDI, Vocação e Arte: memórias de uma vida para a música, p. 136, 1986. 68 Com a Ópera Lucia de Lammermoor, Benito Maresca dá início à história de sua carreira profissional. À partir de sua estréia, no dia 30 de agosto de 1964, seu nome, sua carreira e suas performances estariam estampadas nas páginas de jornais e revistas dos mais diversos países, como será relatado à seguir. Benito Maresca atuou em diferentes óperas durante os seus mais de 40 anos de carreira. No que se refere às obras de Gaetano Donizetti podemos destacar Lucia de Lammermoor e Elisir d‘ Amore. A Ópera Lucia di Lammermoor é uma obra do compositor Gaetano Donizetti, nascido em Bérgamo, Itália, em 29 de novembro de 1797. Foi produzida pela primeira vez em Nápoles, no Teatro San Carlo, no dia 26 de setembro de 1835, tem idioma original em italiano. O libreto, de Salvatore Cammarano, é baseado no livro de Sir Walter Scott "The Bride of Lammermoor" (A noiva de Lammermoor), de Walter Scott. Domenico Gaetano Maria Donizetti morreu aos 8 de Abril de 1848, foi um compositor do Romantismo. Suas primeiras peças compõe apenas composições religiosas num estilo restrito, em 1814 se torna responsável pela música na Igreja de Santa Maria Maggiore, em Bergamo. Famoso por suas óperas, Donizetti também compôs outros tipos de música, como quartetos de cordas e obras orquestrais. Em 13 de julho de 1965, o Jornal A NAÇÃO (Jornal A NAÇÃO de 13 de julho de 1965) de Blumenau, deu ênfase à Estréia da Opereta, em três atos, Viva o Ministro, de Henz Geyer e Franz Runze. A matéria se referia à obra e ao tenor Benito Maresca, que contracenou, na estréia, com Rita Schwabe. O artista veio acompanhado de sua gentil esposa e foi recepcionado no aeroporto de Itajaí por vários dos membros da Diretoria do Teatro Carlos Gomes. O tenor fez seu debut na Ópera Cavalleria Rusticana, em outubro de 1965. Esta Ópera de Pietro Mascagni (1863-1945) com Libreto de G. Menasci 69 e G. Targioni-Tozzetti baseado num texto do escritor italiano Giovanni Verga, foi estreada aos 17 de maio de 1890 no Teatro Constanzi em Roma. divida em duas partes separadas por um intermezzo em cenas contínuas, tem um enredo dramático e idioma original italiano. Pietro Mascagni, compositor italiano percursor de Ruggero Leoncavallo, foi um expoente do verismo, por ser declaradamente um fascista, foi o músico oficial do Partido Fascista. Em matéria do Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, o jornalista João Cancio Povoa (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO de 24 de outubro de 1965, 70 p. 17, 1º caderno), teceu duras críticas a alguns interpretes da temporada lírica. No que se refere a Maresca Povoa disse: Ao jovem Benito Maresca foram dirigidos os entusiasticos aplausos da noite. A mais lisongeira expectativa não poderia garantir que o elegante Lord Arturo de 1964, mediante completo avatar, se transformasse no camponio Turiddu, com a voz do tipo “demicaractère” tão condizente ao personagem, embora ainda novato, não conseguia frasear, ´nuançar` com a necessária expressão. O sue grande momento foi o “Addio”, ruidosamente ovacionado, e que o cantor teve o bom senso d repetir. Representando esteve discreto, um tanto frio, o que será fácil corrigir com o tempo. Vitoriosa e auspiciosa, pois, a participação de Benito Maresca. No Jornal A GAZETA, (A GAZETA de 26 de outubro de 1965), Oliveira Ribeiro Neto comenta que como Turiddu, o tenor Benito Maresca agradou em cheio, dono de bela voz, talvez um pouco dependente da orquestra, mas capaz de tons altos e afinadíssimos, como na romanza Addio alla Madr”, tirou todo o rendimento do seu registro vocal e do seu papel e representou com muita vida e naturalidade. Oliveira acredita que Benito Maresca se sobressaiu nessa ópera como um dos melhores elementos de toda a temporada. Alberto Ricardi (Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO de 27 de outubro de 1965, p. 4, 2º Caderno), é da opinião de que como conjunto, a encenação da Cavalleria representou o melhor espetáculo da temporada. Em sua estréia como Turiddu, o tenor Benito Maresca apresentou ótima voz, colorida e capaz de variada inflexão. Os acentos passionais saíram-lhe eficazes, tanto no dueto com Santuzza como no “Addio” final de comoção sincera. Por ser um iniciante na cena lírica, é compreensível sua atitude estática e inibida. Queremos destacar a atuação do tenor Benito Maresca, um dos novos valores do nosso teatro lírico, que teve destaque nos papéis de Turiddu e Rodolfo (Luís Ellmerich, DIÁRIO DE SÃO PAULO de 29 de outubro de 1965, p. 7, 2º Caderno). Ainda em 1965, Benito interpretou o personagem Rodolfo, de La Bohème, Ópera em quatro atos de Giacomo Puccini (1858-1924), com Libreto de Luigi Llica e Giuseppe Giacosa, na Temporada Lírica do Prefeitura do 71 Município de São Paulo, com colaboração de Emílio Billoro, no Theatro Municipal de São Paulo. A GAZETA ESPORTIVA, de 29 de outubro de 1965, destacou Benito, como a grande atração da tempora: Na inauguração do Teatro da Nações, na Avenida São João, em junho de 1966, a estréia foi marcada pela apresentação da obra A Casta Suzana, de Jean Gilbert, e texto de Georg Okonkowski e Alfredo Shonfeld, dirigido por 72 Helio Quaresma. Benito Maresca atuou no papel de Renato Boislurete, ao lado de Jayme Costa, que interpretou o Barão Des Aubrais . O Jornal A GAZETA, traz comentários de Yara Ferraz (Jornal A GAZETA, de 15 de junho de1966, p.18) sobre a estréia e o desempenho de Maresca: Benito Maresca, que já fez importantes papéis em óperas no Municipal, uma das nossas vozes mais bonitas, fez o Renato, com muita naturalidade, cena fácil e principalmente sobressaindo-se, como era previsível, na parte musical, na qual mostrou suas qualidades vocais e sua boa escola de canto. Aldo Di Léo (JORNAL DA TARDE,1966, p. 11), relatou que o espetáculo de estréia do Teatro das Nações não chegou a ser nem mesmo aceitável. Falta aos interpretes o espírito do gênero (...) perderam-se dentro do espetáculo Tania Amaral e Benito Maresca que, vocalmente, justificaram suas presenças em cena. O excelente Teatro das Nações, não foi feliz em sua estréia. Oliveira Ribeiro Neto (A GAZETA, 17 de junho de 1966, p. 18), sobre a atuação de Benito em A Casta Suzana, na inauguração do Teatro das Nações: Maresca com a sua bela voz operística, para dar ao espetáculo a vida que a 73 graça do seu enredo, de comédia boulevardiana de absurdo, teria normalmente se fosse apresentado com mais leveza e estilização. No dia 14 de setembro, teve início a Temporada Lírica Oficial de 1966, sob direção artística de Armando Belardi, com a promoção da Prefeitura Municipal de São Paulo, em colaboração com a empresa Alfredo Gagliotti. Benito Maresca foi protagonista das Óperas Madama Butterfly e Lucia de Lammermoor. A temporada terminou, em 26 de outubro, com bastante sucesso. (BELARDI, 1986, p. 141) O JORNAL DA TARDE (JORNAL DA TARDE, 05 de outubro de 1966, p. 10) divulgou a montagem da Ópera Madama Butterfly: Para fazer o tenente americano o empresário contratou o tenor Benito Maresca, que tem voz muito bonita e que quer ir para a Itália porque no Brasil tem de ser também vendedor de metal duro; aqui só tem dois meses de temporada por ano. Para o papel de protagonista em Madama Butterfly, foi contratada, na Itália, o soprano Atzuko Azuma. O comentário de Luis Ellmerich (DIÁRIO DE SÃO PAULO, de 07 de outubro de 1966) sobre Benito foi o seguinte: Benito Maresca apresentou-se como elegante oficial da marinha “yankee”. Não muito seguro no 1ºato, melhorou vocalmente e no jogo cenico no decorrer do espetáculo demosntrando que, com sua voz e mais experiência no palco – o que infelizmente falta à maioria dos nossos bons cantores – poderá chegar a ser um dos melhores tenores nacionais. No mesmo dia, publicou, o jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, (João Câncio Pôvoa, Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO de 07 de outubro de 1966, p. 8): Num personagem que se coaduna muito bem com o seu físico e registro vocal, o tenor Benito Maresca foi alvo, também, de entusiatsicos aplausos. O seu canto, todavia, ressentiu-se um pouco da fadiga decorrente dos inúmeros ensaios, sendo certo que nas récitas subsequentes poderá produzir tanto quanto no ensaio geral. 74 Alberto Ricardi (Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO de 07 de outubro de 1966, p. 5, 2º Caderno), declarou que Benito Maresca, no papel de Pinkerton, demonstrou boa voz e condições naturais de vencer, entretanto, o inaproveitamento constante dos seus bons predicativos, desnudou a sua pouca freqüência da cena. Esclareceu que isso ficou evidente nos seus momentos capitais, nos duetos do 1º ato e na famosa ária Addio fiorito asil. Aldo Di Léo (JORNAL DA TARDE de 06 de outubro de 1966, p. 9) enalteceu Maresca: Estreando no papel do tenente Pinketon, o tenor Benito Maresca também esteve muito bem, demonstrando que pode fazer brilhante carreira. Tem boa figura, voz bonita e bastante temperamento para o gênero lírico. Ainda na Temporada Lírica Oficial de 1966, Benito volta a atuar em Lucia de Lammermoor, mas desta vez interpretando o protagonista Edgardo di Ravenswood, na Temporada Lírica Oficial de 1966. 75 Aldo Di Léo (JORNAL DA TARDE de 15 de outubro de 1966, p. 2), do JORNAL DA TARDE, entendeu que Benito Maresca não estaria talhado para o papel. Apesar da voz bonita e temperamento adequado, ainda faltava malícia e experiência para que Benito pudesse fazer um Edgardo satisfatório. Para Orlando Nasi (Jornal A GAZETA de 17 de outubro de 1966, p. 16), do Jornal A GAZETA: Ravenswod, ou o tenor Benito Maresca pareceu justificar a sua agitação menos pelo seu fato dramático no romance do que por um aborrecimento na maquiagem, talvez o bigode, no transcorrer inteiro da sua parte, o que é dizer que foi muito longe numa preocupação fácil de sanar. Mas isso é apenas um detalhe. A sua voz brilhante, como já havimos conhecido em Pinkerton, venceu sem problemas as exigências da parte. Pôvoa (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, de 18 de outubro de 1966), registrou a estréia de Benito: Sem se alcançarem as alturas de Tank-Rinaudo, quer por incipiente tirocinio de palco, quer por recursos de voz ainda não totalmente desenvolvidos, mas num nível digno, que não comprometeu o 76 conjunto, estiveram os jovens Benito Maresca (Edgardo) e André Ramus (Ashton). Menos feliz no 1º ato – onde cometeram a imprudência de sobrreecarregar um novato na cena írica com bigodes, cavanhaque e outras tantas complicações dispensáveis – Maresca fez-se aplaudir nas duas árias finais. A Temporada Lírica Oficial de 1966 previa, ainda, a montagem da Ópera La Traviata, de Giuseppe Verdi, no dia 21 de outubro, com Bruno Lazzarini na interpretação de Alfredo Germont, o amante de Violeta, a protagonista. Mas, Lazzarini adoeceu, repentinamente, e Maresca o substituiu. Assim, Benito executaria três óperas diferentes em uma única temporada de apenas um mês de duração. Aldo Di Léo (JORNAL DA TARDE de 22 de outubro de 1966, p. 2) declara que: Benito Maresca que a última hora substitui Bruno Lazzarini, impedido de representar por motivo de saúde, merece o aplauso da crítica, pois, com apenas um ensaio, desincumbui-se do difícil papel de Alfredo. Alberto Ricardi (FOLHA DE SÃO PAULO, de 25 de outubro de 1966), descreveu Maresca como um herói por ter, em poucas horas, preparado-se para substituir o tenor Lazzarini, acometido de gripe. Em reportagem sobre o fim da Temporada Lírica de 1966, João Cândido Pôvoa (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, de 23 de outubro de 1966, p. 20) elogiou a luxuosa montagem de La Traviata, o talento do jovem maestro Diogo Pacheco e a desenvoltura de Benito, quando aceitou o ingrato encargo de substituir o colega Lazzarini, quase sem tempo para ensaios. No mesmo texto, o autor ressalta que Maresca é um cantor que, se perseverar no estudo, atingirá posição de destaque na cena lírica internacional. 77 Verdi produziu suas vinte e seis obras entre 1839 e 1893 e possuía a convicção de que cada nação devia cultivar o tipo de música que lhe era próprio e como italiano, possuía uma longa e ininterrupta tradição lírica. Manteve, no seu estilo musical a mais absoluta independência e deplorou sobre a influência das idéias estrangeiras, principalmente alemãs, sobre as obras dos compatriotas mais jovens. Era adepto da adesão incondicional ao ideal da ópera como drama humano que devia ter profunda expressividade através de uma melodia vocal solística, simples e direta. As obras de Verdi eram influenciadas por Beethoven ( a quem venerava), uniste, Bellini e Rossini, contudo, aprendeu muito com a harmonia e orquestração de Meyerbeer. Três fazes dividem as obras de Verdi: Il trovatore e La traviata (1853); Aida (1871) e Otelo (1887) ; e Falstaff (1893). Com exceção de Falstaff, todas as óperas de Verdi são sérias e os temas foram adaptados pelos libretistas à partir de textos de vários autores românticos. Verdi exigia que seus libretistas enchessem as tramas de fortes emoções, contrastes acentuados e ações bem dinâmicas, consequentemente, a maior parte de suas obras possuem enredos melodramáticos tempestuosos e sangrentos, embora hajam melodias animadas ou até mesmo sangrentas. Em suas primeiras obras, Verdi tem uma excelente escrita para os 78 coros, mas anuncia uma mudança de estilo dando ares de finura psicológica aos protagonistas e as expressões musicais e emoções vão gradativamente se tornando menos cruas. Em sua obra-prima Rigoletto, fica clara a sutil caracterização , a unidade dramática e a invenção melódica, diferente de La traviata quem possui um clima mais intimista além de trazer um novo tipo de melodia, um a rioso flexível, expressivo semideclamatáorio amadurecido em Otelo. Na segunda fase, os solos os conjuntos e os coros se combinam com mais liberdade na estrutura dramática, contido as harmonias se tornam mais audaciosas dando a orquestra mais originalidade. Verdi recorreu, nesta fase, a um recurso já bastante utilizado no século XIX, que foi a introdução de ocorrências de alguns temas ou motivos de fácil identificação, capazes de criar uma unidade de tempo dramática e crucial. Este desenvolvimento de suas obras se solidificou em Aida (1871), onde a solidez da estrutura dramática, ligada ao tom heróico desta grande ópera se conjuga com a solidez da estrutura dramática, a vivacidade da caracterização e a riqueza do colorido melódico, harmônico e orquestral. Seguindo a tendência das novas correntes, em sua terceira fase Verdi abusa das continuidades cada vez maiores e perfeitas da música dentro de cada ato, tradicionalmente mantendo a estrutura de solos, duetos, conjuntos e coros, além de grande fluxo melódico e pode de ligação da orquestra. Além de ser um compositor do período do romantismo, é também considerado o maior compositor nacionalista da Itália. LA TRAVIATA é uma Ópera em três atos de Verdi, com Libreto de Francesco Maria Piave, baseado na peça La dame aux camélias (1852), de Alexendre Dumas Filho. Primeira apresentação em Veneza no dia 6 de março de 1853. 79 Benito Maresca com a Orquestra do Estado de São Paulo, regido pelo seu fundador Bruno Roccella Matéria do JORNAL DA TARDE de São Paulo, trouxe, como tema, a montagem do espetáculo organizado pelo maestro Diogo Pacheco, no Auditório Itália. Tratou-se de um recital, onde Stella Maris e Benito Maresca cantaram árias de óperas de Thomas, Catalani, Bizet, Puccini, Giordano e Saint-Saens. Na matéria, assinada por Aldo Di Léo (JORNAL DA TARDE, de São Paulo, em 06 de junho de 1967), atenção especial foi dada para uma certa polêmica causada por conta de uma marca do cantor Benito Maresca, quando o diretor cênico Luís Sérgio Person determinou que Maresca deveria cantar sentado na escada que dava acesso ao palco. O público estranhou e começou a gritat: Senta! Levanta! O cantor permaneceu sentado na escada, como fora orientado pela direção. Além disso, deu-se amplo destaque à mini-saia usada por Stella durante a récita. A mini-saia usada por Stella Maris, considerada arrojada pela crítica, também foi matéria do jornal DIÁRIO DA NOITE (Diário da Noite, 06 de junho de 1967), de São Paulo. O furor foi causado por conta do novo estilo de cantar ópera, que estava sendo apresentado naquela noite. O público se dividiu nos manifestos contra ou favor à inovação dos elementos que foram organizados pelo movimento pró-ópera. 80 A mesma matéria (Diário da Noite, 06 de junho de 1967), dava conta de que Maresca trajava uma calça de veludo bordeaux e uma camisa branca, estilo usado pelos cantores do ‘iê,iê, iê”. As manisfestações do público chegaram a ponto de prejudicar o espetáculo. No ano de 1967, Benito Maresca teve sua estréia, no Rio de Janeiro, com Madama Butterfly, de Giacomo Puccini. A imprensa carioca noticiou sua aparição no campo erudito do Rio de Janeiro, (D’Or, Jornal DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 01 de outubro de 1967): O tenor Benito Maresca, de São Paulo, pela primeira vez, se apresenta ao público carioca. Um tanto atado como ator, frio mesmo, não se destacou por uma realização vocal isenta de criticas. A voz é um pouco maleável e conduzida sem maiores recursos expressivos. Nos registros grave e médio, saiu-se a contento, o agudo, porém, é deficiente. A cor vocal perde a impostação, pela emissão forçada das notas emitidas. Ademais, as vezes apressava as entradas (terceito do último ato) quase prejudicando o conjunto. No século XIX a ópera italiana descendia de uma tradição sólida, deste modo, a Itália foi menos sensível do que os países do Norte ás seduções do movimento romântico lançando mão das experiências novas propostas pelo romantismo, que foi lentamente entrando na Itália, mas nunca se comparou à Alemanha ou á França, isto porque a ópera foi a única manifestação musical de real importância nesta época. A ópera séria e a ópera buffa, ainda se mantinham seus estilos muito claramente diferenciados, sendo que a ópera séria foi a primeira a demonstrar algumas alterações. No final do século XIX, o movimento do verismo tomou conta do cenário operístico. O realismo, ou naturalismo, trouxeram em seus libretos personagens comuns em situações rotineiras, deixando um pouco de lado as histórias fantasiosas e cheias de magias. A longo prazo, o estilo musical se adequou aos libretos trazendo dissonância e grandes proporções de processos musicais que despertavam a incivilidade do público. 81 Alguns exemplos de óperas veristas são: Cavalleria Rusticana, de Mascagni e Il Pagliacci, de Leoncavallo. O vedismo teve uma existência curta, embora tenha tido repercussão na França e na Alemanha. Giacomo Puccini (1858 - 1924), certamente participou deste movimento quando da composição de obras como Tosca (1900) ou Il Tabarro (1918), mas a maioria de suas óperas são mais difíceis de classificar, já que Puccini foi muito eclético em suas composições. Em obras como Manon Lescaut reconhecemos o sentimentalismo do romantismo tardio, em La Bohème o realismo do vedismo, Madame Butterfly e Turandot são obras caracteristicamente exóticas, com grande intensidade lírica, discretos toques de harmonia moderna e magníficos efeitos teatrais. 82 MADAME BUTTERFLY - Ópera em dois atos de Puccini com Libreto de Giuseppe Giacosa e Luigi Illica, baseado em madame Butterfly (1900), dramatização de Davis Belasco de uma história de mesmo título (1898) de John Luther Long. A primeira apresentação foi Milão no dia 17 de fevereiro de 1904 e a primeira apresentação da versão revista foi em Brescia, 28 de maio de 1904. Eurico Nogueira França (Jornal CORREIO DA MANHÃ, 01 de outubro de 1967, p. 10 1º Caderno), sobre a estréia de Benito no Teatro Municipal do Rio de Janeiro publicou: O tenor Benito Maresca, vindo de São Paulo, estreante no Rio, tem invulgar material de voz e fugiu a apropriada ao Pinkerton, que faz com adequada displicência – mas não na parte vocal, que trata de valorizar, logo que se encontra com o barítono, no primeiro ato, em “Amore o grillo”. É visível desde o início, a preocupação do tenor de mostrar a voz, que a possui bonita, e só precisa ser mais técnica e musicalmente lapidada. A Prefeitura do Município de São Paulo e a Secretaria de Educação e Cultura, em colaboração com a Pró Ópera, apresentou La Bohème, de Puccini, em 25 de novembro de 1967. Benito interpretou Rodolfo. 83 Luis Ellmerich (Jornal O DIÁRIO DE SÃO PAULO, 1967, p.2, 2º Caderno), sobre a récita de La Bohème: Benito Maresca, novato nesta ópera, apresentou-se menos firme, causando algumas precipitações e desencontros com a orquestra. Vocalmente e fisicamente possiu tudo para tornar-se um bom tenor lírico, aperfeiçoar melhorar devendo sua a técnica emissão dos ainda para sons graves. Os jornais de Araraquara (O IMPARCIAL DE ARARAQUARA de 1 de dezembro de 1967), publicaram matéria sobre Benito Maresca, após récita de Cavelleria Rusticana: 84 Em seguida, a Prefeitura Municipal de São Paulo, em colaboração com a Empresa Alfredo Gagliotti, deu início à Temporada Lírica Oficial de 1968, sob direção artística de Armando Belardi e atuação do tenor Benito Maresca. Em meio a toda esta saga de temporadas líricas, onde foi observado que Benito Maresca cantava diversas óperas de diferentes compositores, o tenor ainda trabalhava como vendedor de fogões. Nesta fase, ele já acumulava alguns anos se revesando entre as vendas de fogões para garantir o sustento da família e o estudo das óperas por ele executadas em várias cidades do Brasil. Finalmente, decidiu abandonar a carreira de vendedor e embarcar para a Itália afim de estudar e tentar sucesso por lá. 85 A FOLHA DE SÃO PAULO (Folha de São Paulo, de 04 de maio de 1969), trouxe notícia de que, Benito Maresca, acompanhado de sua esposa, a pianista Isabel Maresca, viajaria no fim do mês de maio, para a Itália, a fim de aperfeiçoar seus estudos. A reportagem noticiou, ainda, que o tenor paulista estreou, em 1964, no Teatro Municipal de São Paulo, no papel de Lorde Arthur, na ópera Lucia de Lammermoor e se apresentou, também, em teatros do Rio de Janeiro, Blumenau, em Santa Catarina, Curitiba e Porto Alegre. 86 Em 1969, cantores líricos encaminharam documento ao prefeito Faria Lima, quando expuseram suas dificuldades,, referentes à falta de campo de trabalho e de oportunidade para os cantores líricos nacionais: 62 Em resposta ao movimento liderado por Benito Maresca, a Prefeitura previa mudanças no campo lírico, conforme publicou o Jornal o Estado de São Paulo, (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO de 30 de agosto de 1969): Através do Departamento Municipal de Cultura, a Secretaria de Educação realizará a temporada visando a criação futura do Teatro de Ópera Permanente. Um plano já aprovado pelo Prefeito da Capital, justifica a iniciativa baseando-se no fato de que os excelentes artistas líricos que há no Brasil trabalham em outras profissões, pois não há no País, condições para viverem de sua arte. (...) O plano, aprovado pelo prefeito Paulo Salim Maluf sugere o aproveitamento de todos os melhores cantores brasileiros, incluindo nomes de artistas do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro de São Paulo. Em todos os elencos das óperas haverá substitutos, a fim de dar oportunidade a jovens talentos que substituirão artistas mais experimentados nas repetições dos espetáculos. Isto facilitará também as substituições em caso de indisposição ou doença de algum artista, não sendo necessário o cancelamento da récita. Outras modificações foram previstas, para a temporada do ano seguinte, como por exemplo, a idéia de que as óperas seriam escolhidas conforme o elenco disponível no país. O texto (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO de 30 de agosto de 1969), esclarece que, antigamente, os empresários escolhiam, primeiro, as óperas e, depois, os cantores: Eles não podiam, com as óperas e depois os cantores. Eles não podiam com as subvenções que recebiam do poder público, arriscar a bilheteria com óperas muito conhecidas e, muitas vezes, sacrificavam os cantores, nem sempre talhados para os papéis que deveriam cantar (...) O plano aprovado pelo Prefeito Paulo Salim Maluf prevê a inclusão do maior número possível de artistas nacionais na segunda temporada. Jornal do Estado de São Paulo (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, de 22 de agosto de 1969), divulgou as alterações sofridas pelos Teatros Líricos da cidade: 63 64 Em função das alterações citadas, a Secretaria de Educação, por meio do Departamento Municipal de Cultura, prometeu realizar A Temporada Lírica de 1970 promovida, apenas, pela Prefeitura da Capital, sem interferência de empresários. Matéria divulgada no Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO (O ESTADO DE SÃO PAULO, em 30 de agosto de 1969), dava conta de que o Prefeito da Cidade de São Paulo teria aprovado tal iniciativa, por confiar nos excelentes artistas líricos existentes no Brasil, uma vez que trabalhavam em outras profissões, já que não havia, no País, condições para viverem de sua arte. A mesma matéria ressaltou, ainda, que um tenor como Benito Maresca, que alcançou grande êxito na Temporada Lírica do ano passado, ao cantar a Cavalleria Rusticana, de Macagni, estava com idéia de ir definitivamente para a Itália, já que os maestros italianos e os cantores estrangeiros que o ouviram no ano passado, garantiram que o tenor teria oportunidade de fazer grande carreira se fosse para a Itália, onde, segundo a matéria, havia na época, grande crise de boas vozes. 65 O Guarani Il Guarany, no Teatro Arthur Azevedo 1970 O Teatro Lírico de Equipe, com a colaboração da Prefeitura do Município de São Paulo, da Secretaria de Educação e Cultura e do Departamento de Cultura, apresentou 12 cenas líricas da Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes, em comemoração ao centenário da estréia mundial no Teatro Scala de Milão. Benito Maresca cantou, na oportunidade, as árias do chefe da tribo dos Guaranis, Pery, em 11 de julho de 1970. Em 29 de agosto de 1970, Benito interpretou árias do personagem Marico da Ópera Il Trovatore, de Giuseppe Verdi, no programa Cenas Líricas do Teatro Lírico de Equipe. Na Temporada Lírica Oficial de 1970, Maresca atuou como Don Álvaro na Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes, sob regência do maestro Armando Belardi. 66 A Temporada Lírica, de 1970, foi inaugurada no dia 9 de setembro. Promovida pela Prefeitura do Município de São Paulo, contou com a colaboração da empresa Alfredo Gagliotti. Sob regência de Armando Belardi, a Iª. Récita de Gala foi com a Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes, e teve Benito Maresca dentre os principais interpretes. (BELARDI, 1986, p. 147). Cabe ressaltar que, raríssimas vezes, um cantor interpretou papéis diferentes na mesma ópera. No entanto, a voz de Maresca possui tamanha flexibilidade na extensão e no timbre, que o permite atuar em diversos papéis. Na Temporada Lírica Oficial de 1970, o Governo do Estado da Guanabara e a Secretaria de Educação e Cultura iniciaram sua Temporada Lírica, nos dias 9 e 11 de outubro de 1970, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a Ópera Otello, de Giuseppe Verdi. Os jornais americanos publicaram matéria sobre a atuação de Maresca. (Jornal Times of Brazil, de 18 de outubro de 1970). 67 Os jornais de Sorocaba, interior de São Paulo, dentre eles o Cruzeiro do Sul, Folha de Sorocaba, Diário de Sorocaba, Diário Popular e Folha de Sorocaba, anunciaram a chegada do “Maior Tenor do Brasil Benito Maresca” à cidade. Maresca cantou no evento chamado “A noite de Arte Lírico-Popular” de Sorocaba, em setembro de 1970. 68 Maria Teresa Del Moro (Jornal A NOTÍCIA, do Rio de Janeiro, de 13 de outubro de 1970), descreveu a presença de Benito Maresca nas récitas de Otello de Verdi como mais uma prova de que São Paulo e Rio de Janeiro precisariam unir-se, para “salvar” a ópera no Brasil. Um intercâmbio com os valores artísticos de cada Estado equilibraria artisticamente os espetáculos. Na mesma reportagem, a articulista citou o nome de outros renomados cantores paulistas, como Sérgio Albertini, Niza de Castro Tank, Benedito da Silva, Wilson Carrara e Constanzo Masciti, belas vozes que o Rio, até aquele momento desconhecia. Afirmou ainda acreditar num certo ressentimento, que segundo ela, era absurdo e antiprofissional e que somente o Teatro Municipal do Rio poderia “quebrar esse gelo”. “Benito Maresca, no pequeno papel de Cássio, tornou mais evidente essa necessidade de intercâmbio. Além da voz belíssima timbre cristalino e senhoril, excelente escola de canto, emissão fluente e qualidades operísticas indiscutíveis, possui ainda um físico de galã cinematográfico. Por que não o convidar para papéis mais importantes, se o Rio não possui um só tenor lírico de sua categoria?” A Itália também decidiu por comemorar o centenário da primeira apresentação da Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes. No alla Scala de Milão, Itália, um conjunto lírico sul-americano, pela primeira vez, se fez ouvir, no dia 2 de abril de 1971 e por iniciativa do empresário Alfredo Gagliotti, artistas líricos do Rio de Janeiro e de São Paulo, sob a regência do maestro Armando Belardi, apresentaram a ópera no Teatro Di San Carlo, de Nápoles. “Também o segundo tenor, Cesare Antonio D´Ottaviano, não era ontem à noite o mesmo da pré-estréia. Benito Maresca que se mostrou o melhor da companhia”. (Roma anno 110, num 91, 3 de abril de 1971, Gli Spettacoli, por Francesco Canessa) “Anche il secondo tenore, Cesare Antonio D´Ottaviano, non era ieri será lo stesso della anteprima. Benito Maresca , che pure ci era parso il migliore 69 della compagnia”. (Roma anno 110, número 91, 3 de abril de 1971, Gli Spettacoli, por Francesco Canessa) Matéria publicada no jornal O ESTADO DE SÃO PAULO (João Cancio Povoa, Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 18 de abril de 1971) dá conta de que o público napolitano demonstrou grande interesse e entusiasmo pelos espetáculos brasileiros e lotaram, literalmente, o famoso teatro, inclusive com solicitações de récitas extraordinárias: “O espetáculo foi apreciado e aplaudido pelo público e elogiado pela crítica no seu conjunto homogêneo, seriedade da montagem, cenários indumentária novos e adequados, além de um grupo selecionado de cantores. (...) Surgiram algumas dificuldades que foram vencidas e não conseguiram empanar o brilho da estréia: a doença à última hora do barítono Costanzo Mascitti, que foi substituído por Andréa Ramus, sendo a parte deste (de baixo!) cantada pelo tenor Benito Maresca”. Os Jornais da Itália trouxeram em destaque a montagem da Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes. Nos meses de agosto, setembro e outubro de 1971, Benito Maresca ainda participou das montagens de La Boheme e Cavalleria Rusticana, no Teatro Eliseo, em Roma. Em 26 de fevereiro de 1972, executou trechos do Stabat Mater, de Rossini, Vaghissima speranza, de Donaudy e Ingemisco, de Verdi, nos programas dos Concertos Comemorativos “Mário Dedini”. Em 23 de abril do mesmo ano, cantou no 7º. Concerto Matinal Cortina Lírica, a Ópera Tosca, de Puccini. Oliveira (Jornal O DIÁRIO DE SÃO PAULO, 25 de abril de 1972) fez menção, em texto publicado no Diário de São Paulo, ao 7º. Concerto Matinal Domingueiro do Departamento Municipal de Cultura que, inovou o gênero ao apresentar a denominada “Cortina Lírica” – título tomado por empréstimo da Rádio Gazeta, em seu famoso programa dos domingos à noite. A Ópera Tosca, 70 de Puccini, lotou o Teatro Municipal de São Paulo, quando da apresentação dos principais trechos da ópera, em forma de concerto. Para o jornalista, no papel de Mário Cavaradossi, Benito Maresca teve por si um momento muito esperado. A ária “É lucevan le stelle” valorizou uma voz ótima, idiomática, inclusive no que se refere à interpretação. Em outubro de 1972, Benito Maresca, sob comando do maestro Mário Comamdulli, fez o personagem Alfredo, da Ópera La Traviatta, de Giuseppe Verdi, em Jundiaí. O texto (JORNAL DA CIDADE, Jundiaí, 13 de outubro de 1972) descreveu Benito como um grande tenor, que já esteve na Itália, França e por todo o Brasil. E que possui repertório de 23 óperas ensaiadas e sete já encenadas. Ellmerich (Jornal FOLHA DA TARDE, 30 de outubro de 1972, p. 40) publicou matéria em que discorreu sobre a apresentação de Maresca, no Auditório Itália. A Comissão Estadual de Música, do Conselho de Cultura, organizou a récita do tenor paulistano, que foi acompanhado pela pianista Isabel Maresca. Para o jornalista, “a despeito das qualidades vocais de Maresca já nos referimos mais de uma vez nesta coluna, visto que, desde 1964, é um dos nossos melhores elementos o gênero lírico, com atuações não apenas no Brasil, mas também com sucesso na Itália.” O GLOBO (Jornal O GLOBO de 15 de julho de 1973, p.20, 2º clichê) noticiou a centésima representação de Madama Butterfly, de Puccini, no Teatro Municipal. Comentava sobre a decepção que a récita causou. O público esperava ver o acúmulo de experiências, mas ao contrário disso, o número de repetições da ópera de Puccini só fez envenenar o espetáculo com os tóxicos da rotina. Em relação à Maresca, a crítica acreditava que apesar da voz encorpada, grande e de belo timbre, o tenor pareceu sempre nervoso, como nunca poderia ser o canalha responsável pela infelicidade da japonesinha, que ele representava. A coluna de Horta (JORNAL DO BRASIL, 17 de julho de 1973) sobre a apresentação de Butterfly, comentou que foi um bom espetáculo graças, 71 sobretudo, aos papéis secundários de Benito Maresca, Nelson Portela e Carmen Pimentel, que estavam excelentes, como Pinkerton, Scharpless e Suzuki; a cena em que cantam juntos, no 2º ato, foi realmente um ponto alto. Y Juca Pirama, Ópera de Spartaco Rossi sobre os versos de Gonçalves Dias (1973) Nos meses de agosto e setembro, de 1973, Benito interpretou, mais uma vez, Rodolfo, da Ópera La Bohéme, de Puccini, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ao lado de Diva Pieranti, como Mimi, Paulo Fortes, como Marcello, Ruth Staerke, como Musetta, Fernando Teixeira, como Schaunard, dentre outros. França (Jornal, ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro, 01 de setembro de 1973) considerou a récita como um dos melhores quadros já encenados. Os intérpretes se demonstraram muito bem entrosados e o público ouviu comovidamente a primeira ária, cantada pelo Maresca, que, pela beleza do timbre e efusão romântica, foi um dos aspectos mais louváveis da récita. Por outro lado, Miranda (JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 03 de setembro de 1973) trouxe comentários não tão positivos. Acreditava que o que se viu não foi bom nem ruim. Os melhores momentos ficaram por conta dos cantores, já que a soprano Diva Pieranti e Benito Maresca foram corretos em seus desempenhos, cantando com boa técnica e evidenciando os belos timbres de suas vozes. Os piores momentos ficaram por conta do coro, por seus desencontros com a orquestra. 72 No Ginásio de Esportes do Clube Araraquarense, em 18 de dezembro de 1973, o Governo do Estado de São Paulo, a Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo, com a colaboração da Prefeitura Municipal de Araraquara, Departamento de Educação e Cultura e Comissão de Artes e Cultura de Araraquara apresentaram a Trilogia Sacra em três atos e sete quadros de A Infância de Cristo, de Hector Berlioz, sob a regência de Tullio Colacioppo e participação do Coral Paulistano. A mesma montagem foi reapresentada, em 20 de dezembro de 1973, no Nosso Clube de Limeira, com colaboração da Prefeitura Municipal de Limeira e Coordenadoria de Esporte e Turismo. (A Infância de Cristo, de Hector Berlioz) A Ópera O Guarani, foi apresentada por brasileiros em Palermo no ano de 1974, graças a um Convênio de Intercâmbio Cultural firmado entre as prefeituras de Palermo e São Paulo, que previa também uma temporada em São Paulo, no mês de setembro, do Teatro Massimo de Palermo. A imprensa divulgou com grande destaque, em 24 de março de 1974, o embarque de cantores e bailarinos do Teatro Municipal, para Roma. As sopranos Niza de Castro Tank e Diva Pieranti, os tenores Benito Maresca, Zacarias Marques e Assadur Kiultizian, os barítonos Constanzo Mascitti, Andréa Ramus e Paulo Fortes e os baixos Wilson Carrara e Benedicto Silva, 73 cumpririam temporada em Palermo, com a representação de sete récitas da ópera Il Guarany, de Carlos Gomes. Em 29 de março de 1974, O ESTADO DE SÃO PAULO (O ESTADO DE SÃO PAULO, 29 de março de 1974) destacou: A crítica italiana elogia ´O Guarani´. O texto do jornalista, um enviado especial e da Agência AP, discorreu sobre a récita encenada no teatro Politeama Garibaldi, diante de dois mil espectadores: “O espetáculo foi, formalmente, o mesmo a que Palermo assistiu em 1872, seis anos depois da estréia da ópera no Scala de Milão. Tudo foi feito segundo os princípios estéticos da época, sem qualquer tentativa de modernização. Provavelmente, foi a autenticidade da representação umas das razões do êxito alcançado, flagrante na maneira calorosa com que o público aplaudiu. (...)Renato Chiesta impressionou-se (...) Sobre Maresca, disse ser um elemento válido e de grande relevo.” Após as apresentações de Il Guarany, a imprensa divulgou o destaque de Maresca entre os demais cantores. 74 Giuseppe Gebbia (Coluna La Lírica, 20 de giugno de 1974) destaca o nome de Maresca: “Em 1974 o tenor que faria o papel de Peri, Sérgio Albertini, adoeceu. Me chamaram para participar dos ensaios da temporada do Guarani e eu aceitei, sem receber nada. Fui ensaiar e todo dia punha mais voz, nem sei se onde saia tanta voz. Me alimentava direito, fazia ginástica e mandava tudo nos ensaios. No final o tenor Sergio Albertini disse que não tinha condições de cantar. O maestro decidiu que eu iria substitui o Albertini, já que eu havia ensaiado o tempo todo. O maestro Belardi sempre criticou que eu não poderia cantar O Guarani, alegando que eu não tinha voz para cantar Carlos Gomes.” Benito relatou que a primeira récita da Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes, foi impressionante e que o público o carregou teatro afora nas costas. Minha mulher corria atrás gritando: ele tem que cantar amanhã! (depoimento pessoal). Como de costume, os integrantes do elenco da ópera jantaram juntos. Também o maestro Belardi. Contou Benito, sobre sua surpresa, quando o maestro virou-se para ele e disse: Benito, Carlos Gomes escreveu esta ópera pra você! Antonio Carlos Gomes (1836-1896), o compositor da Ópera O Guarani, nasceu em Campinas e iniciou seus estudos musicais com seu pai, Manuel José, diretor da banda da cidade. Ao transferir-se para o Rio de Janeiro, Carlos Gomes passou a estudar música no Conservatório, como aluno de Joaquim Gianini. Em 1860, fundou a Ópera Nacional, dirigiu orquestras e representou suas primeiras óperas A Noite do Castelo (1861) e Joana de Flandres (1863). Com o sucesso, Carlos Gomes conseguiu uma bolsa de estudos em Milão, na Itália. Em 1870, estreou Il Guarany, no Teatro alla Scala de Milão. Foi considerado o nome de maior expressão da história do teatro musical 75 brasileiro. Foi o primeiro compositor brasileiro a ter suas obras apresentadas no alla Scala de Milão. Il Guarany (O Guarani) , de Antônio Carlos Gomes, é uma Ópera em quatro atos, em italiano. Com Libreto de Antônio Scalvini, estreou no Teatro Scala de Milão, na Itália, em 19 de março de 1870 e fez grande sucesso. A ópera Il Guarany tem como maior destaque a sua abertura é até hoje muito interpretada, e muito conhecida por ser o tema do programa a Voz do Brasil. Jornais italianos noticiaram, em primeira página, a atuação dos brasileiros. A FOLHA DE SÃO PAULO (Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO de 21 de maio de 1974) registrou as sete récitas de O Guarani apresentadas pelo conjunto de artistas líricos brasileiros, juntamente com o corpo de baile do 76 Teatro Municipal de São Paulo, no Teatro Massimo de Palermo, na Sicília. Informou também que o tenor Benito Maresca foi contratado para cantar, no mesmo mês, quatro récitas da Ópera La Forza del Destino, de Giuseppe Verdi. LA FORZA DEL DESTINO é uma Ópera em quatro atos de Verdi. Libreto de Francesco Maria Piave, teve sua primeira apresentação em São Petsburgo, 10 de novembro de 1862. Em julho de 1974, Benito voltava ao Brasil e se apresentou no Teatro João Caetano, ao lado da soprano Renata Lucci. Regidos pelo maestro Diogo Pacheco, executaram árias e duetos de Óperas de Giuseppe Verdi. A coluna MUSIK IN MÜNCHEN (Walberg, München, por K.R. Danler em 29 de outubro de 1974) trouxe a notícia da repentina doença de Gianfranco Cecchele, que possibilitou o debut do jovem tenor brasileiro Benito Maresca, perante o público de München, no Concerto do Deutches Museum. No artigo a afirmação de que substituir Cecchele foi, de certa maneira, uma grande responsabilidade, mesmo que o tenor tivesse demonstrado certo nervosismo e deslocamento ante a primadonna Seta del Grande, ao cantar a ária “Nessum Dorma”, de Turandot. Assim mesmo, conseguiu mostrar que já era de categoria internacional. TURANDOT, de Puccini, é uma Ópera em três atos com Libreto de Giuseppe Adami e Renato Simone, baseado na peça Turandot (1762), de Carlos Gozzi. Deixada incompleta por Puccini, o último ato foi completado por Franco Alfano, estreou em Milão no dia 25 de abril de 1926. Em sua coluna, Ellmerich destacou o desempenho do tenor brasileiro na Europa. Para o articulista, um dos melhores tenores da nova geração brasileira, que atuava, com grande sucesso, na Europa. Divulga apresentações cidades da Alemanha, nos papéis principais de La Bohème, Tosca, Mme. Butterfly e Forza del Destino. E mais: para 1975, assinou contratos para participar das temporadas líricas em Viena e Zurique. E que, em dezembro de 1974, estaria 77 de volta à cidade de São Paulo, para cantar na Ópera Lo Schiavo, de Carlos Gomes, numa programação da Prefeitura Municipal de São Paulo. Em 5 de dezembro de 1974, Benito Maresca interpretou Rodolfo da ópera La Bohème, de Puccini, ao lado de José Van Dam na Ópera de Berlin, Alemanha. 78 Nos dias 15 e 16 de dezembro, do mesmo ano, Benito cantou, no Teatro Municipal de São Paulo, a Ópera Lo Schiavo, de Carlos Gomes, sob regência do maestro Armando Belardi. Já no ano seguinte, em 15 de janeiro, o diretor artístico da Frankfurt Opera, Christoph von Dohnanyi, decidiu celebrar o aniversário de Puccini, com a montagem da Ópera Tosca. LO SCHIAVO (O ESCRAVO), Ópera em quatro atos de Carlos Gomes (1836-1896), com libreto de Rodolfo Paravicini, inpirado em concepção e esboços de Alfredo d’Escragnolle Taunay, o visconde de Taunay, sendo que o “Hino da Liberdade”, o 2º ato, tem Libreto de Francisco Giganti. Estreou no Teatro D. Pedro II, depois Teatro Lírico, no Rio de Janeiro, em 27 de setembro de 1889. TOSCA é uma Ópera de Puccini em três atos, com Libreto de Giuseppe Giacosa e Luigi Illica, baseado na peça La Tosca (1887), de Victorien Sardou. Prmeira apresentação: Roma, 14 de janeiro de 1900 em italiano. Benito viveu o personagem Mário Cavaradossi, pintor e amante de 79 Floria Tosca. Em 15 de janeiro de 1975, Maresca cantou pela primeira vez com uma estreante na Ópera Tosca – Eva Marton, que mais tarde seria uma grande estrela no gênero. A Revista OPERA NEWS deu destaque ao evento e o colunista Carl H. Hiller (Revista OPERA NEWS, 1975) comentou que a protagonista Eva Marton é muito forte tanto como cantora quanto como atriz. E que a revelação foi Benito Maresca, no papel de Cavaradossi. Tenor dramático, poderoso, que demonstrou muito conforto nos altos registros. Württembergische Staatstheater Stuttgart apresentou a Ópera Tosca, de Puccini. Mario Cavaradossi foi interpretado pelo tenor Benito Maresca, em 24 de fevereiro de 1975. Representou Linkerton, da Ópera Madame Butterfly, de Puccini, em 3 e 12 de fevereiro de 1975, em Staatsoper, Munique, sob direção de cenas de Giancarlo Del Mornaco. Em abril de 1975, Maresca atuou na Ópera Áttila, de Verdi, na Stagione Lírica do Teatro Massimo. Sobre sua atuação, o jornal L’ora publicou: “De bom nível o ensaio de Benito Maresca-Foresto mesmo com pequenos sinais de voz não puríssima, mas mais aceitável que a dos outros”. (L´ora de 30 de abril de 1975, por Giovanni Di Stefano) “Di buon livello la prova di Benito Maresca Foresto anche se com uma resa di você non purissima, più che accettabili gli altri.” (L´ora de 30 de abril de 1975, por Giovanni Di Stefano) Em 31 de maio de 1975, voltou a cantar ao lado de Eva Marton, na Ópera Tosca, de Puccini, na Frankfurter Oper. E em junho, fez Cavalleria Rusticana, de Mascagni, no papel de Turiddu, em Staatsoper. 80 O Jornal CORREIO DO POVO (Correio do Povo, 23 de julho de 1975) discorreu sobre a carreira de Benito. Referiu-se a um imenso sucesso, não só de crítica, como de público conquistado, em Palermo, com Il Guarany. Tal sucesso valeu-lhe um convite da direção do Teatro Massimo, para interpretar o papel de D. Álvaro, em La Forza del Destino, sob a regência da maestra, preparadora e grande cantora Gina Cigna. Com repetidos sucessos, afirma o jornal, vem, desde então, se apresentando nos principais centros de ópera como Staatsopes, de Viena, München, Berlin, Sttutgart, Frankfurt e outros. O jornal fez, ainda, uma síntese das principais críticas sobre Maresca: 81 A partir daí, as óperas começaram a se repetir, Benito retornou a cidade de São Paulo e cantou, como solista, no Concerto Coral Sinfônico, em 31 de agosto de 1975, sob regência de Eleazar de Carvalho. No dia 3 de outubro de 1975, atuou em Madame Butterfly, de Puccini, como o tenente Pinkerton, na ópera de Munique, Alemanha. Em outubro do mesmo ano, foi Turiddu, da Ópera Cavalleria Rusticana, de Mascagni. Três dias depois, interpretou Rodolfo, da ópera de Puccini, La Bohème, no Deutsche Oper Berlin. Ainda no Deutsche Oper Berlin, cantou em Cavalleria Rusticana, no dia 16 de outubro, La Traviata no dia 18 de outubro, na ópera de Munique e, novamente, em Cavalleria Rusticana, no dia 22 de outubro de 1975, no Deutsche Oper Berlin. No mês de novembro de 1975, apresentou La Bohème, nos dias 04, 07 e 13, na ópera de Munique. Em entrevista à Revista ZH, Maresca (REVISTA ZH, de 10 de agosto de agosto de 1975, p.7, Porto Alegre) explicou que, mesmo depois de ter se tornado um nome obrigatório nas temporadas líricas de São Paulo e do Rio de Janeiro, não conseguia sobreviver de seu trabalho como cantor. Por isso, a decisão de se radicar na Alemanha, por pelo menos dois anos: “No Brasil, não dá para sobreviver sem outra atividade paralela ao canto. Durante muito tempo trabalhei também como vendedor, mas agora vou aproveitar o convite que me foi feito pelo teatro de Munique para atuar em 20 récitas e sigo para a Europa.” A Revista (REVISTA ZH, de 10 de agosto de agosto de 1975, p.7, Porto Alegre) divulgou ainda que Maresca foi sido contratado para fazer 25 récitas, em Viena, no mês de setembro. E que o tenor já tinha outras experiências na Áustria, França e em várias cidades da Alemanha. Afirmou, também a Revista que Carlos Gomes era muito mais conhecido na Itália do que no Brasil e que 82 Maresca pretendia, com sua ida à Europa, fazer um trabalho de divulgação deste compositor brasileiro, na Alemanha: “Apesar da origem italiana (pai e mãe nascidos na Itália), sou brasileiríssimo e lamento muito a falta de incentivo do governo para as promoções culturais. O brasileiro não tem tradição de música erudita nem de ópera e para que isto acontecesse era preciso que houvesse promoções neste sentido e que a cultura fosse levada ao público através de espetáculos e dos meios de comunicação. Benito disse na entrevista (REVISTA ZH, de 10 de agosto de agosto de 1975, p.7, Porto Alegre) que no mês de julho, a classe erudita tinha se reunido com a Ordem dos Músicos de São Paulo, para algumas decisões importantes: No Brasil é muito comum os contratos serem feitos de boca e depois o artista não recebe. Mas agora fixamos uma tabela de preços para os cantores de ópera. Ficou decidido que todos os contratos devem passar pela Ordem dos Músicos que estabelecerá multas para quem o mesmo para o artista que aceitar o contrato por um preço. (...) O Centro Cultural já está sendo construído na cidade universitária. Dentro do planejamento, haverá um teatro italiano, outro de prosa e um sinfônico. Assim teremos óperas diariamente. Nós tivemos um prefeito de São Paulo que quis demolir o Teatro Municipal para construir um estacionamento. Dentro desta mentalidade o que se pode esperar? A carreira de Benito Maresca não foi marcada apenas por sua atuação nos palcos. Sempre engajado em questões sociais, preocupado com a condição do musico brasileiro e com a educação e a cultura dos jovens estudantes, deste país, valeu-se dos meios de que dispunha para chamar a atenção dos governantes. Susana Sondermann (Jornal Correio do Povo, de 10de agosto de 1975, Porto Alegre) destacou em entrevista com o cantor que “Maresca considera educação como base para divulgação da ópera.” Na mesma entrevista, Benito opinou sobre a aceitação da ópera no mundo, naquele momento histórico, e explicou que: 83 “somente no Brasil e na Itália a ópera não está sendo divulgada como deveria. Na África do Sul existe um movimento operístico bastante intenso, e que na Alemanha fazem-se óperas diferentes diariamente. Uma das medidas ele sugere para que haja uma maior aceitação do gênero em nosso país seria uma educação mais voltada para o tema. Estimular o público jovem a comparecer à ópera, no seu entender, exige um trabalho de divulgação junto a escolas ginasiais, superiores e universidades. É preciso dar cultura ao estudante, explicar antes de cada espetáculo o que eles verão, qual o significado do todo, estimulando-os sempre. Hoje em dia não se pode mais pensar em ópera como um fato realista, mas como um espetáculo, que conseqüentemente deve aceito como espetáculo.” Em seu empenho pela divulgação da ópera, Maresca sugeriu ainda na entrevista ao jornal (Jornal CORREIO DO POVO, 10 de agosto de 1975), que se voltasse a fazer o que já acontecera tempos atrás na televisão brasileira: transmitir óperas, sob forma de capítulos. E chegou a afirmar que a maioria das pessoas daquela época nem sabiam o que era uma ópera. Nesse sentido, a televisão poderia significar um poderoso veículo a serviço da cultura. Outra maneira seria, segundo Benito, auxiliar o público na compreensão e aceitação da ópera, por meio da entrega ao público, juntamente com o programa, de um libreto com a tradução da obra cantada, ao invés de um simples resumo. Com isso, acreditava que o jovem brasileiro, sem uma tradição musical mais intensa, se sentiria mais atraído a acompanhar o espetáculo. Em 17 de janeiro de 1976, Benito Maresca debutou como Foresto na montagem da Ópera “Attila”, de Verdi, juntamente com José Van Dam, no papel de Attila. No dia 19 de janeiro, cantou em “Madame Butterfly”, de Puccini, no Deutsche Oper Berlin. ÁTTILA é uma Ópera formada por um prólogo e três atos. Libreto de Temistoce Solera, baseado na peça Áttila, König der Hunnen, de Zacharias Werner (1808), teve sua estréia em Veneza no dia 17 de março de 1846, período romântico. No dia 21 de janeiro, viveu Alfredo, da Ópera La Traviata, de Verdi, na ópera de Munique e no, dia 22, fez Madame Butterfly, no Deutsche Oper Berlin. 84 Dividiu o palco com Brigitte Fassbaender, em 1 de fevereiro, na ópera de Munique, sob a direção musical de Carlos Kleiber, na Ópera O Cavalheiro da Rosa, de Richard Strauss, no papel do tenor italiano. No dia 9, foi Alfredo, amante de Violeta, vivida por Ileana Cotrubas, na Ópera La Traviata, de Verdi. No dia seguinte, era Rodolfo, em La Bohème, de Puccini, onde contracenava com Érika Köth, considerada o rouxinol alemão, no papel de Mimi. Der Rosenkavalier (O Cavaleiro da Rosa), ópera em três atos de Richard Strauss, com libreto de Hugo von Hofmannsthal. Estreou no Hofoper de Dresden, a 26 de janeiro de 1911. Benito repetiu seis vezes as apresentações da Ópera Tosca, de Puccini, na Alemanha, durante os meses de abril a novembro de 1976. Além disso, esteve presente nas montagens de Cavalleria Rusticana, Madame Butterfly, Attila e Rigoletto, no mesmo ano. RIGOLETTO é uma Ópera de Verdi em três atos. Libreto de Francesco Maria Piave, baseado na peça Le roi s´amuse (1832), de Victor Hugo, teve sua primeira apresentação em Veneza no dia 11 de março de 1851. Nos meses de janeiro e fevereiro de 1977, apresentou Cavalleria Rusticana, no Frankfurter Oper. O ESTADO DE SÃO PAULO (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, de 08 de janeiro de 1977) divulgou matéria com destaque para “O Exterior Aplaude Brasileiro Benito”. Contava a história de um paulistano de 38 anos, casado com a pianista Isabel Ventura, com quem teve um filho, à época com dez anos, o Enrico. Em 1966 fiz a temporada no Municipal e só aí descobri que não sabia cantar, dizia Benito. Considerava que a carreira começou mesmo em 1967, desde quando começou a ter aulas com o maestro Marcel Klass, a quem creditou muito do êxito obtido no exterior. A mesma matéria dá conta de que Benito tinha sido fabricante de massa para macarrão, vendedor de confecções femininas, de peças para automóveis e produtos farmacêuticos e que, há alguns anos, vinha se apresentando nos palcos da Deutsch Oper, de Berlim, do 85 Staatsoper, de Viena, do Frankfurter Oper, de Frankfurt e do National Theater, de Munique. E previa, ainda, o retorno de Maresca à cidade de São Paulo para o mês de agosto de 1977, para participar da Temporada Lírica Oficial, por 12 mil dólares – era o cachê das grandes “estrelas”. O sonho do tenor seria o de poder realizar apresentações anuais no Brasil: Por maior que seja o meu êxito lá fora, sempre me ressinto de não poder cantar em minha própria terra. Minha mulher e meu filho, só iam me ver nas férias escolares. Aluguei uma casa de três andares para morar com minha família lá. Arrumei escola pra o meu filho. E minha sogra disse que meu filho não queria morar na Alemanha. Minha esposa foi nessa idéia e eles nem foram para lá, então eu voltei pro hotel (depoimento pessoal). Benito disse ao jornal O Estado de São Paulo . (A. O. Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 8 de janeiro de 1977) saber que jamais alcançaria a perfeição como cantor e que só a prática e o trabalho persistentes desenvolveriam a técnica, o que tornava a voz mais doce, mais forte, mais aceitável. Diariamente praticava vocalizes, com exercícios que já sabia de cor, preparados pelo professor Marcel Klass. Com a diferença, porém, de que não se dispunha mais a desistir da carreira, como no tempo em que vivia no Brasil, quando entre um Rigoletto e uma Madame Butterfly exercitava os músculos do braço ao preparar massa para poder cantar. De acordo com o Dicionário de termos e expressões da música, (Dourado, p. 384, 2004): “Vocalise, 1. Genericamente, musica vocal desprovida de texto e cantada, como sugere o termo sobre vogais. Compositores como Rachmaninoff e Ravel escreveram obras no espírito do vocalise. 2. A partir o Classicismo e principalmente nos dias de hoje, exercícios diários ou preparatórios realizados por cantores que consistem em pequenas seqüências de intervalos ou arpejos, ora empregando apenas vogais, ora articulando repetidamente alguma consoante (formando sílabas como mo ou ri, por exemplo) antes de cada grupo de notas, e mudando de tonalidade em geral cromática e constantemente.” 86 No dia 12 de junho de 1977, mais uma vez, contracenou com a soprano Érika Köth, como Mimi, em La Bohème, e com Adriana Maliponte, em 14 e 16 de junho de 1977, em La Traviata, na Ópera de Munique. Em julho e agosto de 1977, viveu Turiddu e Canio, respectivamente nas Óperas Cavalleria Rusticana, de Masgacni, e Il Pagliacci, de Leoncavallo, ao lado de Wilma Vernocchi e David Ohanesian, em Budapeste, Hungria. A Ópera Pagliacci de Rugero Leoncavallo, tem apenas dois atos e Libreto do próprio compositor. Fez sua primeira apresentação em Milão no dia 21 de maio de 1892 com idioma em italiano. Canio, papel interpretado por Benito, é um irritadiço líder de meia idade dos atores. Na peça da trupe ele faz o papel de Pagliaccio, o palhaço e marido traído. Benito Maresca, volta a atuar nos palcos da cidade de São Paulo. Segundo ao Jornal de São Paulo, ( Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, agosto de 1977) a Temporada Lírica Oficial do Teatro Municipal de São Paulo, em 1977, foi aberta com Tosca, de Puccini. Benito Maresca está de volta a São Paulo, “onde cantou pela última vez em 1968. Na Alemanha desde 1974, é considerado hoje uma estrela da ópera e, além de contratado em Munique, apresenta-se com regularidade nos outros grandes teatros líricos europeu.” O crítico Sérgio de Vasconcellos Correa (Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO, 19 de setembro de 1977) comentou, sobre a atuação de Benito como Cavaradossi, na Ópera Tosca, de Puccini, que o tenor pressagiava no início uma atuação discreta, mas foi aos poucos se firmando e chegou a se constituir num dos pontos de destaque do espetáculo. A Temporada Lírica de 1977 contou, ainda, com a apresentação de Salvator Rosa, de Carlos Gomes. A crítica do jornal (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 9 de setembro de 1977) dizia: “O papel título é de Benito Maresca, um brasileiro jovem e sorridente, que agora está em Munique, com uma agenda internacional bem definida e que veio rapidamente ao Brasil, entre as suas temporadas na Alemanha e na Áustria.” 87 Para Sérgio Viotti (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 14 de setembro de 1977): “Salvator Rosa, artista-revolucionário, revela-se um papel exigente no qual Benito Maresca se sentia cada vez mais à vontade (sem grandes apoios da orquestra), atingindo momentos da melhor qualidade em seus duetos com Nina Carini (...).” A Ópera Salvator Rosa, de Carlos Gomes foi composta em 1874. Drama lírico em quatro atos, estreou em 21 de março do mesmo ano no Teatro Carlo Felice de Gênova. O libreto de Antonio Ghislanzoni foi extraído do romance “Masaniello” de Mirecourt. Em 31 de outubro de 1977, representou Cássio, junto com Carlo Cossutta, como Otello, e Piero Cappuccilli no papel de Jago, da Ópera Otello, de Verdi, em Munique. Em novembro do mesmo ano apresentou “Tosca”, de Puccini, no National Theater. E em dezembro, com Eva Marton, protagonizou novamente Tosca. Benito iniciou o ano de 1978 protagonizando na Ópera Wether, de Jules Massenet, em Staatsoper. Jules Émile Frédéric Massenet (1842 -1912) foi um compositor francês clássico do Romantismo, foi conhecido especialmente por suas óperas, muito populares no final do século XIX e início do século XX. Werther é uma Ópera em quatro atos de Massenet. Libreto de Édouard Balu, Paul Milliet e Georges Hartmann, baseado no romance Die Leiden dês jungen Webers (1774), de Goethe. Primeira apresentação em francês: Genebra , 27 de dezembro de 1892. O THE SUNDAY TIMES OF MALTA, de 7 de maio de 1978, sobre o programa onde Benito cantou La Traviatta, “The Aurora Opera House, Victoria – Gozo” ressaltou que La Traviata tem cor, alegria e, claro, um ininterrupto fluxo de melodia. O jornal cometou que os cantores italianos – em particular 88 Milena dal Piva, Benito Maresca e Enzo Sordello superaram-se a si mesmos. Tiveram boa avaliação; Tabili e Maresca atraíram merecidos aplausos pelo dueto do 3º Ato, um dos maiores momentos líricos da ópera. Com Plácido Domingo e Piero Capuccilli, Maresca fez Otello, de Verdi, em 9 de fevereiro de 1978. No programa da ópera em que contracenaram juntos, Plácido Domingo deixou um recado à Benito com os dizeres: “com toda a minha admiração e amizade espero que cantemos muito juntos (mas não Otello), você como tenor e eu como maestro.” Otello é a penúltima Ópera de Verdi. Com quatro atos e Libreto de Arrigo Boiti, foi baseado no famoso drama de Shakespeare (1604-5). Primeira apresentação: Milão, 5 de fevereiro de 1887, em italiano. O personagem Otello, vivido por Maresca é o governador mouro de Chipre e general do exército veneziano. No ano de 1978, Benito representou várias vezes, na Europa, as Óperas Tosca, La Traviata, Werther, La Bohème, Cavalleria Rusticana, Madame Butterfly, L´Elisir D’ Amore e Otello. 89 O mesmo feito se repetiu, em 1979, com as Óperas La Bohème, Otello, Tosca, La Traviatta e Madame Butterfly. L'Elisir d'Amore é uma Ópera em dois atos de Gaetano Donizetti com libreto de Felice Romani. Estreou no Teatro della Canobbiana de Milão em maio de 1832, cantada em italiano, o papel do tenor é o personagem Nemorino. Ao caro Benito, recordando a nossa bela Boheme em Munique com muito afeto e até breve, Ciao, Adriana Maliponte Em setembro, Benito Maresca participou da Temporada Lírica Oficial, no Teatro Municipal de São Paulo, quando interpretou Werther, da ópera de Jules Massenet. José Veiga Filho, divulgou matéria no Jornal Diário Popular (José da Veiga Oliveira, Jornal DIÁRIO POPULAR, 30 de setembro de 1979, p. 31) com os seguintes dizeres: 90 O tenor Benito Maresca encarnou de modo convincente o agônico, sofredor, atormentado Werther, presa dum amor impossível e dilacerante. Sua emissão nos agudos é firme, consistente. Revelou-se também um ator de apreciável presença, em que lhe pese um francês manipulando sob vogais mui abertas, ditongos “e“ mudos nem sempre idiomáticos. “Je meurs” como “mers”, no sentido de “Estou morrendo”! Aliás, é o defeito encontradiço em quase todos os cantores italianos quando avançam na dificílima, rebarbativa área lírica da ópera ou da melodia francesa. A língua francesa é quase sempre fechada e nasal, enquanto a italiana se abre sem rebuços. Também o físico de Maresca não ajuda, Werther, no romance de Goethe, é um personagem típico da era romântica: alto esguio, presa das angústias duma paixão devoradora, fatal, sem remédio. Não obstante, Maresca tem a seu favor a voz, duma esplêndida pasta, que lhe valeu soberbamente nas árias (...)”. Em entrevista à FOLHA DA TARDE, (Jornal A FOLHA DA TARDE, 8 de setembro de 1979) no artigo que deu destaque para “Maresca: o Triunfo Brasileiro na Ópera”, Benito disse estar muito satisfeito em participar da Temporada Lírica de São Paulo, já que, apesar das regalias e de toda infraestrutura no desenvolvimento de sua carreira na Europa, o ideal para ele, como brasileiro, seria poder exercer sua profissão em seu próprio país. A matéria dava conta de que Maresca tinha tipo físico jovem e atlético, além de ser informal e extrovertido. Não se parecia com os tradicionais cantores de ópera, caracterizados principalmente pelo peso. Benito explicava então a ópera era um espetáculo teatral completo e, como tal, muito dinâmico. A presença cênica e a interpretação, somadas aos recursos vocais, faziam o espetáculo. Por isso, essas figuras tenderiam a desaparecer. Esclarecia, ainda o texto, que devido à falta de continuidade de espetáculos existentes em nosso país, limitado em termos operísticos, o tenor teve que trabalhar como vendedor de uma firma de aços e como representante de laboratório para poder se sustentar entre as apresentações e só não desistiu da carreira por ter casado com a pianista Isabel Dias, que suportou as dificuldades financeiras e também o incentivou, ao auxiliá-lo musicalmente. Benito Maresca se apresentou pela Europa com cantores respeitados, como os barítonos Capuccilli e Bruson, os baixos Ruggero Raimondi e José 88 Van Dan, as sopranos Kátia Ricciarelli, Adriana Maliponte , Ileana Cotrubas e Mirella Freni, sob regência de maestros como Carlos Kleiber, Jesus Lopes Cobos e Gomes Martinez. Sobre a ópera no Brasil, o cantor declarou ao jornal (Jornal A FOLHA DA TARDE, 8 de setembro de 1979): “no pouco tempo em que aqui estou, pude notar um ressurgimento da ópera em nosso país, principalmente no Rio de Janeiro, quer pela execução de autores estrangeiros, mas fundamentalmente, pela valorização dos autores nacionais, aos quais deveria ser dada maior divulgação aqui e lá fora. Tenho tentado isso por diversas vezes com dificuldades pela falta de material.” Ressaltou na entrevista o interesse demonstrado em vários lugares da Alemanha pelas obras de Carlos Gomes e frisou o ocorrido no bicentenário do Scala de Milão, onde havia uma sala especial para homenagear o músico brasileiro, apontando-o como um dos iniciadores do movimento “Scapigliatura” – movimento revolucionário da música lírica, acontecido na Itália, no século XIX. Benito declarou, ainda, que era da opinião de que deveriam fazer festivais de autores nacionais, como Carlos Gomes, Spartaco Rossi, Francisco Mignone e outros, tal como se faz em Bayreuth, na Alemanha, com Richard Wagner. Completou que a ópera no Brasil poderia se desenvolver com o apoio do governo, mantendo os teatros e os corpos estáveis, e da iniciativa privada, como nos Estados Unidos. Além disso, propunha um incentivo à difusão da música, em geral, que renderia frutos no futuro, tudo para uma popularização da ópera, que existia na maior parte do mundo e que existia aqui desde a década de 50: “A arte lírica é popular, ao contrário do que muitos pensam aqui. Ela somente é elitista quando não existe continuidade dos espetáculos, que os tornam acontecimentos sociais. Mas, mesmo sem divulgação, as récitas desta Temporada Lírica estão quase esgotadas e se você fizer uma pesquisa verá que pelo menos 70% da população nem sabe quando ela irá acontecer.” 89 La Bohème Em 1980, Benito Maresca cantou a Ópera Werther no Canadian Opera Company, em Stuttgart. “Benito Maresca o tenor nascido no Brasil, novo na América do Norte, foi convidado para o papel título. se ele não tivesse sido solicitado a lidar com música dramática e caracterização ele teria sido excelente. Sua voz tem suavidade lírica nas passagens mais leves - como no dueto do primeiro ato com Charlotte e na lenta cena da morte. Infelizmente, a maior parte de sua emoção vem dos agudos de sua voz, que alguma vezes foi brilhante, mas só casualmente sob firme controle” 90 Em julho do mesmo ano, fez O Guarani, de Carlos Gomes, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, representando o índio Peri. Maria Tereza dal Moro (Jornal O DIA, Rio de Janeiro, 13 de julho de 1980) classificou a apresentação de O Guarani, com elenco de solistas inteiramente brasileiros, como um espetáculo, visto nos últimos anos, perfeito musicalmente: “Maresca é um dos raros tenores de voz varonil, e agora mais encorpada, caiu como uma luva na partitura (...) em ‘Vanto io pur’, a grande ária que poucos tenores ousam cantar pelas dificuldades técnicas, mostrou toda beleza do seu timbre, doce e aveludado, a flexibilidade do seu registro, o vigor de suas notas agudas.” Sobre a montagem de Tosca, apresentada no Opera Trust, em outubro de 1980 e atuada por Maresca, o FINANCIAL TIMES (Elizabeth Forbes, Financial Times, 21 de outubro de 1980) publicou que “Benito Maresca, no papel de Cavaradossi apresenta uma voz bem colocada com livre emissão de notas agudas e com convincente habilidade em demonstrar seus sentimentos à Tosca.” Já o SUNDAY NEWS (Charles Fitzgerald 19 de outubro de de 1980) afirmava que “Cavaradossi revelou um tenor muito atrativo, cuja atuação se melhorada e com mais vivacidade poderá levá-lo ao topo da lista futuramente.” Em julho de 1981, Maresca cantou a Ópera Nabucco, de Verdi, quando interpretou Ismaele, no Teatro Municipal Santiago de Chile. Fez algumas apresentações de Tosca, pela Compagnia D’ Opera Italiana aus Mailand, e La Fanciulla Del West, Ópera de Puccini, no papel de Dick Johson, durante os meses de outubro e novembro de 1981. Nas cidades de Amsterdã e Scheveningen, na Holanda, terminou o ano com Madame Butterfly, no Teatro Auditorium Di Cagliari. Sobre a atuação de Benito em Madame Butterfly, o colunista Nino Fara, (Jornal GLI SPETTACOLI, de 19 de dezembro de 1981) escreveu que Benito Maresca, como Pinkerton, se mostrou lucidamente vigoroso e cortante na explosão do registro agudo. Santo Muscas publicou: (LA NUOVA DOMENICA, de 20 de dezembro de 1981) “o tenor Benito Maresca era ótimo, pois delineou um Pinkerton com credibilidade e riqueza estilista verdadeiramente admirável.” Nabuco, Ópera em quatro atos de Verdi. Libreto de Temistlcle Solera, baseado na peça Nabucodonosor (1836), de Auguste Anicet-Bourgeois e Francis Cornu, a primeira apresentação foi em Milão, 9 de março de 1842. Foi escrita durante a época da ocupação austríaca no norte da Itália e, por meio da várias analogias, suscitou o sentimento nacionalista italiano. O Coro dos Escravos Hebreus, no terceiro ato da ópera (Va, pensiero, sull'ali dorate, "Vai, pensamento, sobre asas douradas") tornou-se uma música-símbolo do nacionalismo italiano da época. No ano de 1982, no Theatre Royal Nottingham, Benito Maresca atuou na Ópera Manon Lescaut, Ópera em quatro atos de Giacomo Puccini, com Libreto baseado na novela do Abade Prévost, L'Histoire du Chevalier des Grieux et de Manon Lescaut. Estreou a 1 de fevereiro de 1893 no Teatro Regio de Turim. A coluna de Robert Cockroft, (O YORKSHINE EVENING POST, de 12 de março de 1982) criticou: a posição destes foi de vontade para chegar a este ponto de tensão, onde foram ambas reconhecidas pela força e brilhantismo no casamento das vozes de Saunders e Maresca. No mês de maio, Benito retornou ao Brasil, para a Temporada Lírica Oficial, no Rio de Janeiro, e cantou as Óperas La Bohème, de Puccini, e A Viúva Alegre, de Franz Lehár. Franz Lehár (1870-1948) foi um compositor austríaco de ascendência húngara, conhecido principalmente por suas operetas. Ele foi um dos maiores 92 compositores da Áustria. O seu maior sucesso foi Die lustige witwe (A viúva alegre), colocada em cena pela primeira vez no Theater an der Wien (Viena) em 30 de dezembro de 1905. Para Maria Teresa Dal Moro (4 ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro, 2 de junho de 1982), sobre Benito Maresca, no papel de Rodolfo, em La Bohème publicou: “com a voz encorpada pelos papéis dramáticos que vem interpretando ultimamente na Europa, na noite da estréia (28 de maio) não conseguiu no primeiro ato recolocá-la no repertório lírico. Só a partir do terceiro foi conduzido seu canto com menos ímpeto e mais ternura para finalizar o quatro com forte emoção e dentro de uma linha genuinamente romântica. Sem intuição da dinâmica teatral, Maresca é muito propenso à cena estática, que compromete sua ação no palco. (...) Aliado à bela voz o físico cinematográfico e o domínio de palco dificilmente alguém poderia lhe tirar o lugar de maior tenor brasileiro da atualidade.” Sobre a montagem da opereta A Viúva Alegre, de Franz Lehár, a Revista ISTOÉ publicou que a orquestra, sob regência de David Machado, pareceu, ás vezes, mais pesada do que deveria, e que o maior erro cometido foi o volume emitido. Vivian Wyler (Revista ISTOÉ, de 8 de dezembro de 1982), acreditava que numa opereta, em que existem papéis, como o de Rosillon, interpretado pelo tenor Benito Maresca, onde é explorada a região aguda da voz o tempo todo e que um ator como Felipe Carone faz um papel cantado, não se justifica a orquestra tocar tão alto. Finalizou dizendo que nem todo mundo é Caruso. Maria Teresa Dal Moro (Jornal ÚLTIMA HORA, de 2 de dezembro de 1982), sobre a atuação de Benito, em A Viúva Alegre, comentou: O belo Benito Maresca, Camilo, muito bem vocalmente; como a maioria dos atores não conseguiu projetar a voz falada, falha imperdoável num cantor que pode usar a impostação. Palhano Júnior (ESTADO DE MINAS, de 7 de dezembro de 1982), escreveu que Maresca cantou dentro de sua tessitura normal, demonstrou técnica, limpeza vocal e agudos claros. 93 A Fundação Clóvis Salgado de Minas Gerais apresentou em Curitiba, no Teatro Guaíra, uma montagem da Ópera Madame Butterfly, de Puccini. Fernando Simas Filho (Jornal GAZETA DO POVO, de 25 de julho de 1982), em sua coluna, noticiou que o destaque da estréia deve ser dado ao tenor Benito Maresca, que desempenhou muito bem o papel de Pinkerton. Em janeiro de 1983, Maresca participou da Temporada Lírica de Parma, nos Teatros Reggio e Municipal “R. Valli”, com a Ópera Otello, de Verdi. Mais tarde, participaria da Temporada Lírica Municipal do Rio de Janeiro de 1983. Marcello Conati (CARLINO REGGIO, de 9 de fevereiro de 1983) comentou sobre Otello: voz muito apreciável o Cássio de Benito Maresca bem como muito longe, por causa de uma direção de cena ineficiente para uma ação cênica de credibilidade. Em julho de 1983, o Governo do Estado do Rio de Janeiro patrocinou, no Teatro Municipal, a Ópera Madame Butterfly, de Puccini. Em sua coluna sobre críticas musicais do Jornal O GLOBO de Juiz de Fora, Antonio Hernandez (O GLOBO, 26 de julho de 1983), comentou que a estréia de Madame Butterfly, musicalmente, foi o máximo que se poderia sonhar, nas condições atuais, e que Maresca possui saúde vocal invejável. Para a colunista Dal Moro (Rio de Janeiro, 29 de julho de 1983) além da voz de Benito Maresca, que permanece bela e maleável, fisicamente, não temos outro Pinkerton mais fiel à personagem que é um belo sedutor de olhos azuis. Luiz Paulo Horta (JORNAL DO BRASIL, de 26 de julho de 1983): O tenor Benito Maresca fez um Pinkerton perfeito em afinação, musicalidade e beleza de timbre. 94 O jornal (Correio Braziliense, de 27 de setembro de 1983) do Distrito Federal, noticiou a participação de Benito Maresca, na ópera de Puccini, La Bohème, que seria apresentada pela primeira vez em Brasília. A FOLHA DA TARDE DE PORTO ALEGRE (Jornal A FOLHA DA TARDE de Porto Alegre de 17 de outubro de 1983) comentou o sucesso da montagem da Ópera La Gioconda, de Ponchielli. Benito integrou o elenco. ’La Giocanda’ trouxe a ópera de volta ao público local, que há mais de dois anos não via montagens do gênero. Wilson Simão (Jornal O ESTADO DE MINAS GERAIS de 24 de novembro de 1983), concluiu: “Benito Maresca, este grande tenor da cena lírica mundial, no papel de Camilo de Rossilon, vive momentos de rara felicidade. Esbanja talento e técnica quando canta. Voz robusta, de timbre raro, admirável linha de canto, Benito e impõe como um de nossos melhores tenores. Dá-se ao luxo de emitir com perfeição o famoso “dó de peito”, marca registrada dos maiores tenores do mundo (...).” Amilcare Ponchielli (1834-1886) foi um compositor italiano, basicamente de óperas. La Gioconda, baseado em Angelo, tyran de Padoue de Victor Hugo, é uma ópera de Amilcare Ponchielli em italiano e libreto de Arrigo Boïto. Foi um grande sucesso, especialmente em sua terceira e última versão (Teatro alla Scala, Milão, 28 de Março, 1880), assim como o maior sucesso na história da ópera italiana entre a Aida (1871) e Otello (1887) de Verdi. É também o exemplo mais famoso do gênero italiano de Grande opera, o equivalente do francês GrandÓpera. O ano de 1984 começou com a Temporada Lírica do Teatro-Monumento D’Annuzio, com Tosca, e Madame Butterfly e, novamente, Tosca, em Bagnara Calabra, no Teatro All’ Aperto, e outras cidades, como Taurinova, Avellino e Canosa Di Puglia, além das apresentações de 3 récitas de O Guarani, no Teatro Nacional de Brasília. 95 Em abril de 1985, Benito fez a abertura e cantou algumas árias de Verdi, no “Verdi-Gala”, na cidade de Neunkirchen, Alemanha. Protagonizou “Tosca”, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em agosto, e La Traviata, em Roma, no Teatro Orione em setembro. Na abertura oficial das comemorações dos 150 anos de Carlos Gomes, em fevereiro de 1986, Benito protagonizou o índio Peri, de O Guarani, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em entrevista ao JORNAL DO COMÉRCIO do Rio de Janeiro, Benito Maresca contou ao jornalista Marcus Góes (Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 3 de março de 1986) que adorava cantar as obras de Carlos Gomes, como Lo Schiavo, Salvator Rosa, Fosca e Colombo e que sonhava com o dia em que o Brasil consagraria um teatro a Carlos Gomes, onde só se representariam suas obras. Ao ser interpelado sobre suas últimas atividades, Benito disse que, só em 1985, cantou Macbeth e Manon Lescaut, em Tenerife, Don Carlo, em Bari, e Tosca, no Rio de Janeiro, e que, em 1986, cantaria Tosca, em Caracas, Força do Destino, em Dijon, e Ernani, em Tenerife. A Ópera Fosca é do compositor brasileiro Antônio Carlos Gomes, em quatro atos e com Libreto do italiano Antonio Ghislanzoni, com primeira apresentação no Teatro Alla Scalla de Milão em 16 de fevereiro de 1873, a segunda ópera de Carlos Gomes apresentada na Itália. É considerada como a melhor obra do compositor, a qual o próprio tinha grande apreço. Foi apresentada no Scalla por quinze vezes consecutivas. Drama cantado em italino, o personagem do tenor chama-se Paolo. Ópera em quatro atos do compositor italiano Giuseppe Verdi, com libreto de Francesco Maria Piave, Macbeth estreou em Florença em março de 1847. Baseada na peça homônima de Willam Shakespeare. 96 Em seguida, Benito Maresca participou da Temporada Lírica de 1986, no Teatro Orione, em Roma. Cantou O Guarani e Manon Lescaut, na Sala Cidade de São Paulo. Foi solista no Festival de Campos do Jordão, com diversas árias. Fez ainda Tosca e Lucia de Lammermoor, no Teatro Teresa Carreño, em Caracas, na Venezuela, além de dividir o palco do Auditório Itália com Stella Maris, com árias de óperas, sob a direção de Diogo Pacheco. Recebeu destaque no Jornal O ESTADO DE MINAS (O ESTADO DE MINAS GERAIS, 12 de julho de 1986) a apresentação da Ópera Lo Schiavo, de Carlos Gomes, no Grande Teatro do Palácio das Artes de Belo Horizonte, em julho de 1986, quando Maresca interpretou “Américo”. Em abril de 1987, Benito protagonizou a Ópera Andréa Chénier, de Umberto Giordano, na Sala Cidade de São Paulo, sob regência do maestro Tullio Colacioppo e o pianista Gustavo Petri. Participaram do elenco o barítono Andréa Ramus, as mezzo-sopranos Vânia Soares e Eloísa Baldin, a soprano Celine Imbert e o baixo Carlos Augusto Vial, entre outros. E na Biblioteca Pública “Mário de Andrade”, em São Paulo, cantou trechos da Ópera Tosca, em junho de 1987. Em março de 1988, com o término das obras de restauração do Teatro Municipal de São Paulo, Benito cantou no Concerto Inaugural do Teatro e no Recital de Canto Lírico do Círculo Militar de São Paulo. Na Temporada Lírica de 1988, Maresca foi o protagonista de Madame Butterfly, no Palácio das Artes de Belo Horizonte e no Teatro Nacional de Brasília, bem como fez apresentações sobre de vários trechos de óperas pelo Estado de São Paulo. A montagem da Ópera Madame Butterfly, apresentada no Palácio das Artes de Belo Horizonte, teve direção assinada pela cineasta Tizuka Yamazaki. Foi sua primeira experiência na direção de obras deste gênero. O meu trabalho é transferir 97 para o audio-visual, qualquer que seja, palco, tela, vídeo, uma emoção que está escrita no papel, afirma Tizuka (Márcio Lima, Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 28 de junho de 1988). De acordo com a matéria de Márcio Lima (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 28 de junho de 1988), Tizuka reconheceu que o cantor lírico nem sempre é um ator, o que torna a encenação de uma ópera mais difícil do ponto de vista da interpretação. A iniciativa da Fundação Clóvis Salgado de reunir, em Minas Gerias, grande elenco de cantores líricos, sob a direção da cineasta Tizuka Yamazaki, na montagem da Ópera Madame Butterfly, com ingressos mais baratos, para caravanas, e hospedagem com desconto, para públicos de cidades mais distantes, foi matéria da grande maioria dos jornais nacionais e, para o colunista Nicolau Neto (Jornal ESTADO DE MINAS, 1 de julho de 1988) a empreitada alcançou êxito com presença confirmada de várias cidades. Em 1989, além de Encontros Musicais patrocinados pela Prefeitura Municipal de Campinas e do Concerto Lírico, no Auditório do Circulo Italiano, Benito Maresca cantou no Palácio das Artes de Minas Gerais, nas Vesperais Líricas do Teatro Municipal de São Paulo e no 3º Encontro Sinfônico de Inverno, que contou com a participação do diretor artístico e regente Eleazar de Carvalho. Em setembro de 1989, Benito Maresca viveu o papel de Carlo VII, Rei da França, na Ópera Giovanna d’Arco, de Giuseppe Verdi, no Herberger Theater Center, em Phoenix, Arizona. Esta Ópera de Verdi teve sua estréia no ano de 1845 em Milão. No mês de outubro, Benito cantou na montagem de Tosca, com Déborah de Oliveira e Carmo Barbosa, no Teatro Guaíra, em Curitiba. A imprensa de Minas Gerais (Jornal ESTADO DE MINAS, 22 de novembro de 1989) deu conta de que o Palácio das Artes de Minas Gerais apresentou as 98 montagens das Óperas Cavalleria Rusticana e Pagliacci. A repórter Clara Arreguy afirmou que Benito Maresca foi o mais aplaudido da noite. Foi aplaudido em cena aberta na ária Ride Pagliacci. A crítica de ópera Maria Teresa Dal Moro, em sua coluna intitulada de “A estrela dos tenores” publicou (Uh Revista, 1 de dezembro de 1989): “Os tenores Benito Maresca e Amauri René acabaram sendo as figuras estelares de Pagliacci”, em revezamento. (...) Benito Maresca, o Belo, cantado como a técnica que deve manter sempre, interpretou empolgante Cânio, confirmando sua liderança entre os grandes tenores do Brasil. A voz, como luminosidade de meio-dia, reverberou na récita final.” Em 1990, Benito Maresca participou do 5º Concerto Lírico, na Igreja Sagrada Família, de São Caetano do Sul, com árias de Leoncavallo, Denza, Puccini e Verdi. Na Temporada Lírica de Minas Gerias integrou o elenco da Ópera Il Pagliacci, como Canio, e cantou, no Concerto Lírico de Gala e na Cortina Lírica, árias de Aida, no Teatro Rui Barbosa, em São Paulo. Aida, Ópera de Verdi em quatro atos com Libreto Antonio Ghislanzoni, escrito à partir de um texto francês de Camille du Locle, que por sua vez se baseava em uma sinopse de Auguste Mariette. com estréia mundial na Casa da Ópera, Cairo, aos 24 Dezembro de 1871. Esta obra foi composta por encomenda do governo egípcio em comemoração à abertura do canal de Suez. 99 No Teatro Municipal de São Paulo executou trechos da Ópera Tosca, em 3 de setembro de 1990, e, em 6 de novembro, atuou em La Traviata, pela ABAL – Associação Brasileira de Artistas Líricos no Centro de Convivência Cultural. Em novembro, participou da montagem da opereta em 3 atos O Morcego, de Johann Strauss, no Teatro Municipal de São Paulo. Giron (Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO, 15 de novembro de 1990) fez duras críticas à direção de Iacov Hillel, quando da montagem da opereta O Morcego. Comparou a obra de Strauss a uma “polquinha” e revelou que todo o elenco, em determinado momento, virava-se de costas para o público e rebolava ao estilo Gugu. No que se refere ao tenor Benito Maresca, seu único comentário foi o de que o tenor fez rir, porque assumiu ser um canastrão. Die Fledermaus (O Morcego) é uma opereta cômica em três atos do compositor alemão Johann Strauss Jr. Ela estreiou em 5 de abril de 1874 no Theater an der Wien em Viena, Áustria, seu idioma original é o alemão. Benito atuou no papel do tenor Gabriel von Eisenstein, marido de Rosalinde, a protagonista, é um galanteador romântico que adora pregar peças. No início da ópera ele é sentenciado a oito dias na prisão por desacato civil. Já, Chuck Woodward (Revista ISTOÉ, 21 de novembro de 1990) fez crítica positiva, pelos méritos artísticos e pela relevância cultural e que a presença experiente de Benito Maresca foi mais do que oportuna. Maresca cantou árias de Pietri e Carlos Gomes, em Concerto Lírico, no Teatro Rui Barbosa, em São Paulo e participou da Temporada de Concertos, em 1991, pela Pró-Música de Florianópolis, com árias de diferentes compositores. Em outubro apresentou-se no Shopping Iguatemi, com a Ópera Tosca, sob direção e regência de Tullio Colacioppo e apresentação e narração de Raul Cortez. 100 O ano de 1992 foi marcado por sua participação na montagem da Ópera Don Giovanni, de Mozart, dirigida por Bia Lessa, em Fortaleza. O projeto foi solicitação de Violeta Arraes, ex-secretária da Cultura do Governo do Ceará, que investiu US$ 150mil para a montagem, com apoio de empresas da região. Reportagem da Revista Visão (Revista VISÃO, 29 de janeiro de 1992), esclareceu que maioria dos profissionais era do Ceará e se sobressaíram nos papéis centrais, brasileiros conhecidos internacionalmente, como o tenor Benito Maresca, intérprete de Don Ottávio, o baixo Sérgio Righini e as sopranos Mônica Martins e Denise Tavares. O maestro regente foi o italiano Alessandro Sangiorgi. A Ópera Don Giovanni, tem dois atos e é da autoria de Wolfgang Amadeus Mozart, com libreto de Lorenzo da Ponte. Estreou em Praga, a 29 de outubro de 1787. Nesta Ópera em italiano, o protagonista é um barítono, assim Maresca fez um papel secundário, o do tenor Don Ottavio. Com Neyde Thomas, Rio Novello, Pepes do Vale e grande elenco, Benito fez o Rei, na Ópera Colombo, de Carlos Gomes, em 1992, no Teatro Guairá, Paraná. Lá ainda, no mesmo ano, fez Don José da Ópera Carmen, de Bizet. Carmen, Ópera em quatro atos de Bizet, tem Libreto de Meilhac e Halévy, a partir do romance de Prosper Mérimée (1845). Primeira apresentação em Paris, 3 de março de 1875. Alguns meses depois da apresentação em Viena, o diálogo falado foi substituído por recitativos compostos por Ernest Guiraud. Recentemente a versão original começou a expulsar Guiraud de cena. O papel interpretado por Benito foi o do tenor lírico Don José, um cabo do exército muito honesto e descente, mas que ao se envolver com Carmen, vira um fora-da-lei. Nesta época, Benito decidiu dedicar-se à área acadêmica e pleiteou vaga de professor na Universidade de São Paulo. Enviou programas de sua extensa carreira à Comissão Julgadora da Universidade que, prontamente, ofereceu a ele 101 o título de doutor por notório saber. Desde então, passou a integrar o corpo docente como professor de canto erudito. Mas Benito não abandonou os palcos, assim quando a Associação “Lucchesi Nel Mondo”, Circolo Toscano e o Círculo Militar de São Paulo, apresentaram, em junho de 1992, a V “Notte Della Musica”, Benito executou solos e duetos dos mais variados compositores. No mesmo ano, fez parte do Programa da Festividade de Inauguração da Nova Sede do Teatro Lírico de Equipe e, no Rotary Club de São Paulo, cantou na “III Noite Lírica”. Em novembro de 1992, Benito participou do “XIV Encontro Sinfônico de Primavera”, acompanhado pela Orquestra Sinfônica de São Paulo, sob regência de Eleazar de Carvalho. No mesmo mês, interpretou Luigi, na Ópera Il Tabarro, sob Direção Musical e Regência de Alessandro Sangiorgi e Direção Cênica de Jorge Takla e ainda cantou árias de óperas no Teatro do Sesi, em São Paulo. Il Tabarro, Ópera em um ato de Puccini. Libreto de Giuseppe Adami, baseado na peça La houppelande (1910), de Didier Gold. Primeira apresentação em Nova York, 14 de dezembro de 1918, com Suor Angélica e Gianni Schicchi, como parte de Il trítio. Em dezembro, cantou com Berenice Pace, João Di Brazzi e José Dainese, acompanhados ao piano por Isabel Maresca, sua esposa, “Canções Eternas e Trechos Famosos de Óperas” no Clube de Campo do Castelo me São Paulo. Em 3 de outubro de 1993, estreou a Ópera O Chapéu de Palha de Florença, escrita por Nino Rota, em 1946. A estréia marcou também a inauguração de um teatro de ópera de câmara, em São Paulo, o Paulo Eiró. Segundo a imprensa de São Paulo (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 2 de 102 outubro de 1993), a Orquestra Experimental de Repertório, regida por Jamil Maluf, a ópera contou com Luiza Moura, Benito Maresca, Regina Elena Mesquita, Kátia Guedes, Sandro Christopher e Jeller Felipe, no elenco de cantores. A ópera foi financiada pela Secretaria Municipal de Cultura, que investiu US$92 mil na montagem. Nino Rota (1911-1979) foi um compositor italiano, famoso por suas composições executadas no cimnema. escolheu a peça de Labiche, para basear o libreto de sua ópera "O Chapéu de Palha de Florença. No ano de 1995, Benito cantou na Ópera Tosca, no Teatro Municipal “Elza Munerato”, em Jaú, São Paulo. Em setembro de 1966, o Palácio das Artes de Minas Gerais apresentou montagem de uma Ópera genuinamente brasileira: Pedro Malazarte. O texto foi de Mário de Andrade e a parceria musical do libreto coube ao maestro Camargo Guarnieri, importante compositor brasileiro, morto em 1993. A obra foi escrita em 1928, com sua concepção musical concluída por Guarnieri, em 1932, Pedro Malazarte estreou, em 27 de maio de 1952, no Teatro Musical do Rio de Janeiro. 103 Pedro Malazarte é uma ópera cômica brasileira de Camargo Guarnieri com libreto de Mário de Andrade, cantada em português com um ato. Estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em maio de 1952. Benito Maresca foi o intérprete do personagem “Alemão”. Fizeram, ainda, parte do elenco da peça o maestro Achille Picchi, o barítono Caeté, Sebastião Teixeira, no papel de Malazarte, Edinéia de Oliveira, que fez a baiana, e ator Márcio Branco, com o papel do gato. De acordo com o Jornal de Belo Horizonte (Jornal HOJE EM DIA, Belo Horizonte, 28 de setembro de 1996), para o superintendente dos Corpos Estáveis da Fundação Clóvis Salgado, o custo final de Pedro Malazarte ficou em torno de R$ 60 mil, com o patrocínio da Varig e do Hotel Real Palace. Em 1997, Benito cantou Madame Butterfly, em Salvador, e, depois de duas récitas, foi substituído, acometido de pneumonia, pelo tenor Eduardo Álvares. Benito Maresca, finalmente acreditava ter encerrado sua carreira como cantor lírico, no palco do Teatro São Pedro, na cidade São Paulo. Em 27 de abril de 2000, interpretou o personagem “Alemão”, da Ópera Pedro Malazarte, sob direção de Walter Neiva. O jornalista Lauro Machado Coelho (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 29 de abril de 2000) comentou: (...) Benito Maresca, um dos nomes mais respeitáveis do canto paulista. O papel é pequeno, escrito numa tessitura que não favorece as áreas mais brilhantes do registro, mas é um prazer ver a segurança com que esse veterano domina o palco, com a mesma classe dos velhos tempos. 104 No Teatro São Pedro, alunos e cantores, convidados especialmente, homenagearam o Mestre, no seu aniversário de 70 anos. 105 No ano de 2004, após satisfatória recuperação, devido a um transplante renal, Benito decidiu por desligar-se da Universidade de São Paulo, depois de lecionar por 12 anos. Passou a ministrar aulas particulares em seu estúdio no Bairro do Cambuci. Os amantes da música erudita foram acometidos de uma surpresa maravilhosa no ano de 2008. A convite do Diretor Musical Mauro Wrona e do Diretor Geral Iacov Hillel, Benito Maresca volta aos palcos. Desta vez na pele de um barítono, o personagem Benoit, da Ópera La Bohème, de Puccini. Foram três récitas apresentadas no Centro de Cultura Judaica no mês de março, com grande sucesso de público. 106 O professor Benito Maresca, atualmente, ministra quase dez horas por dia de aulas de canto e ainda assim, não consegue atender a todos os que desejam seguir seus ensinamentos. Muitos aspirantes a cantores, ou até mesmo cantores profissionais com carreira solidificada aguardam um horário vago na agenda de Maresca. Vários de seus alunos se destacam no cenário lírico nacional e internacional. 107 108 CONCLUSÃO Esta pesquisa teve como principal objetivo investigar a formação musical e o desenvolvimento da carreira do cantor lírico Benito Maresca. Por meio de seus relatos, acompanhei um pouco da busca por um professor de canto lírico numa época histórica em que não era possível contar, no Brasil, com cursos superiores na área. Assim, a única maneira encontrada pelo tenor, foi a de seguir indicações de amigos. Percebi que Benito Maresca na fase adolescente e sem o apoio de seus pais, teve muita dificuldade em encontrar um orientador vocal, inclusive sendo diversas vezes dispensado por professores o consideravam incapaz de cantar alegando que Benito “não tinha voz”. Além disso, foram cometidos vários enganos por parte de diferentes professores que chegaram a dizer que Benito teria uma voz de barítono. Alguns anos se passaram até que ele finalmente tivesse conhecido Marcel Klass, que para Benito, é o verdadeiro responsável pelos seus agudos. No que se refere à formação, verifiquei que Maresca concluiu seus estudos de música no Conservatório Musical de Santana. Cabe dizer aqui que a carreira de cantor lírico, por não ser regulamentada, não exige do profissional, títulos ou formação acadêmica. Apesar disso, na prática, é primordial o conhecimento de teoria musical, assim, o interesse de um cantor lírico pelo estudo da teoria musical, leitura de partituras e aprimoramento da percepção musical, justifica-se porque, na prática, este conhecimento teórico facilita a execução da música correta das músicas. Sua primeira aparição em público, foi no ano de 1955 na Festa do Conservatório Musical de Santana. Certo do que almejava para a sua vida, o tenor, apesar de manter seu emprego como ofice boy e mais tarde como 109 vendedor, não queria perder o contato com a música e com o teatro, deste modo, assistia todas as óperas do Teatro Municipal de São Paulo sentando na platéia, fazendo “claque”. Naquela época, eram contratadas pessoas, chamadas de “claque”, para bater palmas nos momentos específicos dos concertos. Paralelamente, fazia pequenos concertos nas escolas e igrejas da cidade de São Paulo. Benito Maresca é o exemplo de alguém que por amor a arte do canto e da música perseguiu seu ideal, fez escolhas, abdicou da convivência familiar, venceu e se tornou um homem respeitado e querido por todos os que admiram seu trabalho e colhem seus frutos. A carreira de Benito Maresca foi promissora. Constatei, durante a pesquisa, sua passagem por diversos países nos mais renomados teatros de ópera da Europa, assim como os registros dos mais variados críticos da área nos jornais nacionais e internacionais por quatro décadas. Esta investigação foi muito detalhada, foram resgatados além dos recortes de jornais, inúmeros programas de ópera as quais Benito protagonizou pelo mundo. Seguramente foram relatadas praticamente todas as aparições de Benito ao longo dos anos. Um brasileiro, que pensava ser barítono, mas que se destacou como o maior tenor da sua geração e que desde sua estréia no Teatro Municipal de São Paulo, se tornou nome obrigatório nas temporadas líricas do Rio de Janeiro e São Paulo. Nesta pesquisa, tive a oportunidade gravar durante mais de um ano, longas horas de conversa com Benito, onde ele contou detalhadamente as várias passagens de sua vida, deste modo, percebi os obstáculos encontrados até que ele conseguisse sua primeira audição e também o quanto foi rápido seu reconhecimento a partir da atuação como sposino na Ópera Lucia de 110 Lammermoor em 1964. Foi possível confirmar este fato na fala dos críticos das colunas dos jornais anexados. Logo, com renome internacional, na Europa teve o grande momento de sua carreira no Teatro Massimo de Palermo, como Peri, personagem da Ópera O Guarani do também brasileiro, Carlos Gomes. Benito Maresca se apresentou em todas as grandes casas de Ópera da Europa num total de 26 países. Além disso, seu repertório soma 64 obras, entre óperas, oratórios e missas. É o maior nome da lírica nacional da atualidade. Cabe ressaltar que a voz de Benito Maresca era tão surpreendente que deu a ele a oportunidade de atuar em dois papéis diferentes numa mesma ópera, por vezes inclusive, na mesma temporada. Foi infinitamente crescente o número de papéis, personagens e compositores diferentes incluídos por Benito em seu repertório, no decorrer de sua carreira. Gradativamente ele inseriu em seu repertório, as obras que mais se adequavam ao seu tipo vocal. Com exceção das Óperas Werther e Elisir d’amore, já que estas exigem timbres de tenores que não condizem com o timbre de Maresca. Esta investigação descreveu que ao longo de sua carreira, Benito executou obras dos mais diversos compositores: Gaetano Donizetti, Pietro Mascagni, Giuseppe Verdi, Giacomo Puccini, Carlos Gomes, Ruggero Leoncavallo, Johann Strauss, Wolfgang Amadeus Mozart, Georges Bizet, Camargo Guarnieri, Umberto Giordano, Nino Rota, Franz Lehár e Amilcare Ponchielli. Maresca desenvolveu sua carreira conforme a voz foi amadurecendo e incorporou papéis que se adaptavam melhor a cada momento vocal, sempre houve por parte dele a preocupação em estar confortável dentro do repertório ou 111 com o personagem. Para executar bem uma obra, é necessário compreender a trama, interpretar o compositor e procurar reproduzir o mais fielmente possível. Foi constatado que Benito Maresca se identificou com as características de um tenor lírico e lírico spinto. Sua voz se adequava cada vez melhor ao repertório Pucciniano e Verdiano e ainda, às operas de Carlos Gomes, compositor considerado como o verdadeiro elo entre o Romantismo e o Verismo. Constatei, analisando as obras executadas por Benito, que apesar de ter sua estréia com um personagem secundário de uma Ópera de Donizetti e debutado como protagonista na Ópera de Mascagni, está muito claro que a grande maioria de seus trabalhos girou em torno das Óperas de Verdi e principalmente de Puccini. Foram incontáveis aparições como Cavaradossi, personagem da Ópera Tosca. É importante destacar o fato de que toda esta trajetória, o estudo do canto, sua dedicação à determinados compositores, a escolha de repertório, todo o conhecimento que fez de Benito um cantor de renome e posteriormente um professor conceituado no meio, foi adquirido por meios próprios, na sua vivência, na sua vasta experiência, nos palcos, entre um trabalho e outro, fez a leitura de diversas obras e se especializou em determinados compositores, como já foi dito, tomou conhecimento de mais de 64 obras quase que intuitivamente, já que não podia contar com um curso superior na área do canto. Os jornais pesquisados mostram, claramente, a preocupação do tenor com o espaço cultural brasileiro e com a profissão de cantor lírico no país. Não foram poucas suas ações na tentativa de chamar a atenção das autoridades para o problema do não reconhecimento do profissional do canto lírico e para a inclusão da música na educação. Durante a pesquisa, convivi e acompanhei bem mais de perto, a evolução dos demais alunos do Benito. Sua dedicação ao ensino do canto lírico, ultrapassa a técnica. Benito é um orientador que incentiva, mostra os caminhos, indica, leva 112 os alunos mais preparados para audições com diretores e produtores de óperas, acompanha e usa seu nome a favor de seus seguidores. Vários de seus alunos se destacam no cenário lírico nacional e internacional. Por fim, confirmei o mais importante: a técnica de canto lírico tão sólida e tão adequada e compreendida por Maresca, fez dele um cantor que além de atravessar quatro décadas de ininterruptas apresentações, permite que ele até hoje, nos brinde com sua voz impecável nas aulas e nos palcos sem apresentar absolutamente nenhum problema vocal. 113 Referências A GAZETA ESPORTIVA, 29 de outubro de 1965. Alberto Ricardi, Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO, 07 de outubro de 1966, p. 5, 2º Caderno. Alberto Ricardi, FOLHA DE SÃO PAULO, 25 de outubro de 1966. 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