O pêndulo composto Um pêndulo composto consiste de um corpo rígido, de massa M, que pode girar livremente em torno de um eixo sob a ação da gravidade. Escolhamos o eixo z como sendo o eixo de rotação. Seja G o centro de massa do corpo rígido. Escolhamos o plano xy como sendo aquele que é perpendicular ao eixo de rotação, que escolhemos como o eixo z, e que contém o centro de massa G. Seja o ponto O sobre o eixo z e que também está contido no plano xy. Seja h a distância que vai desde o ponto O até o centro de massa G. Seja Iz o momento de inércia do corpo rígido com relação ao eixo de rotação z. De acordo com a postagem Rotação em torno de um eixo, o torque sobre o corpo rígido, com relação ao ponto O, que vou escolher como a origem do sistema de coordenadas, é dado por N = Iz θ̈ẑ, onde o ângulo θ é aquele feito entre a vertical e a linha que passa pelos pontos O e G. O eixo de giração com relação ao ponto O é denido como k02 = Iz . M Logo, N = M k02 θ̈ẑ. Se o corpo rígido for pensado, sem perda de generalidade, como constituído de N partículas de massas mk , com k = 1, 2, . . . , N, então, o torque total também pode ser escrito como N = N X rk × (mk r̈k ) , k=1 onde rk é o vetor posição da k-ésima partícula. Pela segunda lei de Newton, a força total sobre a k-ésima partícula é dada por mk r̈k int = Fext k + Fk , onde Fext é a força externa e Fint é a força interna. A força externa, no caso k k do pêndulo, é apenas o peso e, portanto, Fext k = mk g, onde g é o vetor aceleração da gravidade no local onde o pêndulo está. A força interna, no entanto, depende das outras partículas do corpo rígido e, como na postagem Conservação da quantidade de movimento angular, vou supor que não exerce torque. Com essas observações e hipóteses, o torque total pode ser reescrito como N = N X rk × Fext k = k=1 N X k=1 1 ! mk rk × g. Lembrando que o vetor posição do centro de massa é dado por R = N 1 X mk rk , M k=1 concluímos que N R × (M g) . = Veja que o torque total sobre o pêndulo composto é calculado como se toda a massa do corpo rígido estivesse no centro de massa. Note também que, pela escolha da origem no ponto O, |R| = h. Como g aponta para baixo, segue que N = −M ghsenθẑ. Não se esqueça de que o eixo z que escolhemos aqui é horizontal, já que é o eixo de rotação. O sinal negativo é necessário porque o torque que o peso exerce é contrário ao aumento do ângulo θ. Então, agora que temos outra expressão para o torque, podemos escrever a equação de movimento para a variável angular θ : M k02 θ̈ −M ghsenθ, = isto é, θ̈ −g = h senθ, k02 que é a mesma equação para um pêndulo simples. Um pêndulo simples equivalente a este pêndulo composto, no tocante à equação de movimento, é obtido tomando-se o comprimento de sua haste de suspensão como l = k02 . h Assim, considerando novamente o caso de nosso pêndulo composto, podemos denir um ponto O0 a uma distância l do ponto O, ao longo da linha denida por O e o centro de massa G. O ponto O0 é chamado de centro de oscilação. Seja h0 = l − h, isto é, h0 k02 − h, h = 2 ou seja, h0 h = k02 − h2 . (1) O teorema de Huygens & Steiner estabelece que = IG + M h 2 , Iz onde IG é o momento de inércia do pêndulo composto, calculado com relação a um eixo de rotação paralelo ao eixo z. Com a denição do raio de giração com relação ao eixo que passa por G, temos 2 kG = IG M e, portanto, Iz = IG + M h2 implica em M k02 = 2 M kG + M h2 , isto é, k02 2 = kG + h2 . Com esse resultado, a Eq. (1) ca h0 h = 2 2 kG + h2 − h2 = kG . A simetria entre h e h0 indica que se tivéssemos pendurado o pêndulo composto pelo ponto O0 , então o centro de oscilação estaria em O. O livro do Symon [1] menciona uma maneira de medir a aceleração da gravidade usando um pêndulo composto. Acho que a ideia é mais ou menos assim: você pega o pêndulo e o deixa em repouso, pendurado por O. Então, você traça, no corpo do pêndulo, a reta vertical que passa por O. Aí você dá um pequeno peteleco que faz com que o pêndulo oscile com pequenas oscilações em torno do eixo z e mede o período. Pronto, você sabe que esse período é dado por s T = 2π l , g mas você ainda não sabe nem g nem l. Depois dessa determinação, você pode pendurar o pêndulo de vários pontos ao longo da reta que você traçou e ver onde é que ele vai ter o mesmo período de pequenas oscilações que em torno do ponto O. É claro que você deve sempre usar eixos paralelos ao inicial, eixo z. Com isso, agora você vai ter o valor de l e, portanto, pode determinar o valor de g. Maneiro, não é? 3 O problema do taco de baseball O livro do Symon [1] trata o problema em que um taco de baseball, sendo segurado no ponto O, rebate uma bola no ponto O0 . Para que a bolada não acabe transmitindo um tranco muito grande nas mãos do jogador, O0 deve estar a uma distância l de O tal que hl = k02 , onde h é a distância, ao longo do eixo de simetria do taco de baseball, entre o ponto O e o centro de massa do taco, G. Para ver isso, vamos considerar uma bolada perpendicular ao eixo de simetria do taco e que o jogador, ao invés de imprimir uma tacada na bola, apenas segura o taco procurando mantê-lo xo no ponto onde suas mãos estão, permitindo, no entanto, que gire em torno desse ponto O. Assim, a bola exerce uma força F0 no ponto O0 , durante um certo tempo ∆t. Analogamente, vai haver uma força F aplicada no ponto O, pelo jogador, para poder manter esse ponto xo. A variação do momentum do taco é dada por dP dt = F + F0 , onde usei a segunda lei de Newton. Mas, dP dt = M dṘ , dt onde Ṙ é a velocidade do centro de massa. Colocando a origem no ponto O, como especicado acima, e sabendo, por hipótese, que o ponto O é mantido xo pelo jogador, podemos escrever R = hx̂ cos θ + hŷsenθ, já que a distância entre O e o centro de massa, G, é h. Portanto, Ṙ = −hθ̇x̂senθ + hθ̇ŷ cos θ. Assim, dP dt = M d −hθ̇x̂senθ + hθ̇ŷ cos θ , dt isto é, dP dt = M hθ̈ (−x̂senθ + ŷ cos θ) − M hθ̇2 (x̂ cos θ + ŷsenθ) , ou seja, M hθ̈ (−x̂senθ + ŷ cos θ) − M hθ̇2 (x̂ cos θ + ŷsenθ) 4 = F + F0 . (2) O torque com relação ao ponto O é dado por dL dt = d Iz θ̇ẑ = lR̂ × F0 , dt isto é, Iz θ̈ẑ = l (x̂ cos θ + ŷsenθ) × F0 , (3) já que l é a distância entre O e O0 . Por hipótese, a força F0 é perpendicular ao eixo de simetria do taco e, portanto, é perpendicular ao vetor R. Logo, F0 = F 0 (−x̂senθ + ŷ cos θ) , já que o versor (−x̂senθ + ŷ cos θ) é perpendicular a R̂. Podemos então multiplicar escalarmente a Eq. (2) por (−x̂senθ + ŷ cos θ) e obter M hθ̈ = (−x̂senθ + ŷ cos θ) · F + F 0 . (4) Da Eq. (3) segue que lF 0 (x̂ cos θ + ŷsenθ) × (−x̂senθ + ŷ cos θ) = lF 0 ẑ Iz θ̈ẑ = e, portanto, Iz θ̈ = lF 0 , que pode ser substituída na Eq. (4) dando M hlF 0 Iz = (−x̂senθ + ŷ cos θ) · F + F 0 . A condição para que o impacto nas mãos do jogador seja nulo perpendicularmente ao eixo de simetria do taco é que (−x̂senθ + ŷ cos θ) · F = 0. Essa condição é equivalente a termos M hlF 0 Iz = F0 e, supondo F 0 6= 0, caso contrário a presente análise não teria sentido, temos M hl = Iz , isto é, M hl = M k02 , hl = k02 , ou seja, quod erat demonstrandum ! Bibliograa [1] Keith R. Symon, Mechanics, terceira edição (Addison Wesley, 1971). 5