PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA •Nº 479 •ANO XLIII NOVEMBRO 2013 • MENSAL • € 1,50 O TRIDENTE NA OPERAÇÃO ACTIVE ENDEAVOUR E m 15 de Fevereiro de 1113, por meio da Bula Pie Postulatio Voluntatiso, o Papa Pascoal II reconhecia formalmente a Ordem do Hospital. Comemoram-se este ano nove séculos de existência desta Ordem, embora a sua atividade tivesse começado antes do reconhecimento oficial por Sua Santidade. Tudo começou em 1048, com a fundação de um hospital em Jerusalém, por comerciantes de Amalfi. O seu objetivo era essencialmente prestar assistência a todos aqueles que se dirigiam em peregrinação à Terra Santa. Essa função assistencial tem-se mantido até aos nossos dias. Em 1099, o hospital era dirigido por um leigo, de nome Gerardo. No hospital existia uma capela dedicada a São João de Alexandria. Ainda antes da instituição formal da Ordem, o referido hospital adotou São João Baptista como patrono. Por esse motivo, os seus membros também são conhecidos como Frei António Manoel de Vilhena. «Hospitalários de São João de Jerusalém». Grão-Mestre da Ordem de Malta entre 1722 e 1736. A Ordem de São João nasceu num contexto em que à peregrinação se associava a cruzada, ca de oitenta municípios e freguesias. Quatro para libertar a Terra Santa da ocupação mu- dos Grão-mestres da Ordem foram portugueçulmana. Por esse motivo, a ordem assumiu ses. Frei D. Afonso de Portugal (1135-1207), também um cariz militar. Ao longo dos séculos filho bastardo de D. Afonso Henriques, foi o assumiu um papel fundamental na luta contra 11.º Grão-Mestre entre 1202 e 1206. Frei D. Luís o domínio muçulmano no Mediterrâneo. Com a queda de São João de Acre, em 1291, os cavaleiros transferem a sua sede para Chipre e passados poucos anos para a ilha de Rodes. A partir daí a Ordem de São João passa a dispor de uma importante componente naval. Expulsos de Rodes por Solimão, o Magnífico, recebem de Carlos V a ilha de Malta, passando a ser também designada por Ordem de Malta. Em 1798 a ilha é ocupada pelas tropas de Napoleão Bonaparte e os cavaleiros são expulsos. A partir de 1834 a sede da Ordem instala-se em Roma, gozando contudo de extraterritorialidade. Passa a designar-se Ordem Soberana Militar de Malta e assume-se essencial- Mendes de Vasconcelos (1541-1623) foi o mente como uma ordem assistencial. 55.º Grão-Mestre de 17 de novembro de A ligação desta ordem militar a Portugal re- 1622 a 7 de março de 1623. Se estes exermonta aos primeiros anos da nacionalidade. ceram curtos mandatos, o mesmo já não se Os cavaleiros Hospitalários participam no passou com os outros dois. Frei D. António processo de reconquista, tendo ficado liga- Manoel de Vilhena (1663-1736), foi o 66.º dos a diversas povoações ao longo do país. A Grão-Mestre entre 19 de junho de 1722 e título de curiosidade refira-se que a Cruz de 10 de dezembro de 1736. Finalmente, Frei Malta aparece nos brasões heráldicos de cer- D. Manuel Pinto da Fonseca (1671-1783), 68.º Grão-Mestre desde 18 de janeiro de 1741 até 23 de janeiro de 1773). Em traços gerais, são estes os assuntos abordados na exposição: «900 anos de História, Cultura e Solidariedade, ao serviço de uma Cultura Humanista: A Ordem de Malta e a Marinha». Tendo como base um friso cronológico, são contados os nove séculos de história da Ordem. Nessa viagem no tempo são apresentados todos os que dirigiram a Ordem, desde o leigo Gerardo até ao atual Grão-Mestre, Fra’ Matthew Festing, recebido pelo Papa Francisco. São ainda evocados diversos momentos importantes para a sua história, nomeadamente a fixação nos diferentes locais que serviram de sede. Não é esquecida a ligação a Portugal e são também apresentados alguns episódios em que existiu uma ligação mais estreita entre a Marinha Portuguesa e a Ordem, como foi o caso do bloqueio da ilha de Malta, dirigido pelo Marquês de Niza. Patente no Pavilhão das Galeotas, do Museu de Marinha, a exposição foi inaugurada no dia 5 de setembro. Na cerimónia de inauguração, presidida pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, estiveram presentes diversos elementos da Ordem de Malta, nomeadamente o Presidente do Conselho e da Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana Militar de Malta, D. Augusto de Albuquerque de Athayde, Conde de Albuquerque. Esteve igualmente presente o Embaixador Miguel de Polignac de Barros, que representa a Ordem de Malta em Portugal. Usou inicialmente da palavra o Contra-almirante António Bossa Dionísio, diretor da Comissão Cultural da Marinha, que sublinhou os pontos de ligação entre a Ordem e a Marinha Portuguesa. Seguiu-se uma intervenção de D. Augusto de Albuquerque de Athayde, que explicou a importância histórica da Ordem ao longo dos tempos e o seu papel na sociedade contemporânea. Finalmente, o comissário da exposição, Professor Doutor João Charters de Almeida e Silva, proporcionou uma visita guiada à mesma, explicando os pontos mais relevantes. Colaboração da COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA SUMÁRIO 6 Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 479 • Ano XLIII Novembro 2013 SNMG2 NRP Tridente ao serviço de Portugal Diretor CALM EMQ Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redação CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Redação 1TEN TSN - COM Ana Alexandra G. de Brito Secretário de Redação SCH L Mário Jorge Almeida de Carvalho 10 Os Mergulhadores da Armada Resumo histórico 14 Colaboradores Permanentes CFR Jorge Manuel Patrício Gorjão CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves A Musealização do Barracuda Administração, Redação e Publicidade Revista da Armada Edifício das Instalações Centrais da Marinha Rua do Arsenal 1149-001 Lisboa - Portugal Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] [email protected] Paginação eletrónica e produção Smash Creative Tiragem média mensal: 4500 exemplares Preço de venda avulso: € 1,50 Revista anotada na ERC Depósito Legal nº 55737/92 ISSN 0870-9343 ANUNCIANTES: ROHDE & SCHWARZ, Lda. 18 Uma fotografia 2 testemunhos ORDEM SOBERANA MILITAR DE MALTA INTERNATIONAL CONGRESS OF MARITIME MUSEUMS / ACADEMIA DE MARINHA ÉPOCA BALNEAR 2013 / SECRETÁRIA DE ESTADO DA DEFESA NACIONAL VISITA AUTORIDADE MARÍTIMA NACIONAL NRP JACINTO CÂNDIDO NO MAR DOS AÇORES INSTITUTO HIDROGRÁFICO ORGANIZA O SEMINÁRIO INTERNACIONAL “O CONTRIBUTO DA HIDROGRAFIA PARA O DESENVOLVIMENTO E A SEGURANÇA DOS ESTADOS COSTEIROS” ESCOLA NAVAL PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL TOMADAS DE POSSE ESCOLA NAVAL / NOTÍCIAS COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA VEÍCULOS AÉREOS NÃO-TRIPULADOS NA MARINHA A RESILIÊNCIA NO SERVIR. CLASSE CACINE UM DIA A BORDO DO CACINE VIGIA DA HISTÓRIA 59 / CLUBE DE PRAÇAS DA ARMADA CURSO “OLIVEIRA E CARMO” SAÚDE PARA TODOS 8 NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (28) QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIO NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 100 ANOS DE SUBMARINOS EM PORTUGAL 2 4 5 8 12 16 17 20 21 22 24 25 26 28 29 30 31 33 34 CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 3 INTERNATIONAL CONGRESS OF MARITIME MUSEUMS decorrem 150 anos sobre a sua criação. No programa do Congresso estiveram envolvidas instituições com forte representatividade no domínio do Mar e da Museologia Marítima, ou seja, não apenas os museus portugueses membros do ICMM. Cascais, com as suas infraestruturas camarárias, foi o núcleo central do ICMM 2013, o qual teve um programa académico e social diversificado. O Congresso trouxe a Portugal diretores de museus marítimos, historiadores e imprensa científica de todos os continentes, num total de 127 participantes oriundos de 25 países. O Congresso foi aberto pelo CALM Bossa Dionísio, Diretor da Comissão Cultural da Marinha, e pelo Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Dr. Carlos Carreiras. Perante uma plateia mundial, o CALM Bossa Dionísio enalteceu a história marítima portuguesa e o seu contributo para a história mundial, bem como o papel do Museu de Marinha que, como guardião dessa história, celebra este ano 150 anos desde a sua fundação. O Dr. Carlos Carreiras fez um apelo à criação de uma nova vaga de descobrimentos através da criação de uma comunidade dos países marítimos que “se dediquem à proteção do recurso mais valioso que temos, sobre o qual ainda pouco sabemos e será no futuro uma resposta às necessidades económicas dos países marítimos e dos seus povos”. O autarca anunciou ainda a criação do Centro do Mar em Cascais que vai albergar conhecimento português e internacional. Frits Loomeijer, presidente do ICMM, declarou que a seleção de Cascais e Lisboa para receber este evento deveu-se à excelente candidatura apresentada no último Congresso ocorrido em 2011 em Washington DC, e que seguramente tudo o que vai ocorrer na semana do Congresso irá provar a adequabilidade da escolha. Durante o Congresso a presidência do ICMM passou para o Dr. Kevin Fewster, Diretor do Royal Museums Greenwich, e foi decidido que o próximo Congresso, a ocorrer em 2015, será em Hong Kong e Macau. Foto 1SAR FZ Pereira A Comissão Organizadora do International Congress of Maritime Museums (ICMM) decidiu atribuir a Portugal a organização do Congresso de 2013, o qual ocorreu no período de 8 a 15 de setembro. O ICMM é um evento bienal de grande relevo no domínio técnico-científico no âmbito da salvaguarda, conservação, proteção e divulgação do património marítimo e dos aspetos museológicos conexos, o qual visa incentivar a cooperação entre os participantes e a divulgação do trabalho que desenvolvem junto de entidades congéneres. Cada ICMM ocorre em local selecionado mediante a avaliação das candidaturas apresentadas por parte dos seus membros. A escolha da candidatura portuguesa confirma uma vez mais a vocação de Portugal, em particular das áreas metropolitanas de Lisboa e de Cascais, para acolher eventos de projeção internacional em que os assuntos do Mar assumem uma importância estratégica. A candidatura foi apoiada, entre outros, pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e pelo Presidente da Câmara Municipal de Cascais. A escolha e a organização do ICMM 2013 são de inegável prestígio para Portugal, potenciando a sua imagem e a dos Museus envolvidos. Para o Museu de Marinha, revestiu-se de especial significado, porquanto em 2013 Colaboração da COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA ACADEMIA DE MARINHA ALMIRANTE SENNA BITTENCOURT NA ACADEMIA DE MARINHA N a sessão de 17 de Setembro, na Academia de Marinha, antes da ordem do dia, teve lugar uma breve cerimónia de recepção ao académico Vice-almirante Armando de Senna Bittencourt. Depois de ler o seu currículo, o Presidente Vieira Matias lembrou que o novo confrade exerce, desde 2004, o cargo de Director do Património Histórico e Documentação da Marinha do Brasil, em que sucedeu ao saudoso Almirante Max Justo Guedes, membro emérito da Academia de Marinha. Dizendo que a eleição apenas pecava por tardia, o Almirante Vieira Matias referiu que era uma “honra e privilégio” para a Academia poder contar com a experiência e o conhecimento que o Almirante Senna Bittencourt tem da cultura marítima dos dois países. Depois da entrega do Diploma e a imposição do Colar Académico, o confrade Senna Bittencourt proferiu palavras de agradecimento, salientou as suas raízes portuguesas e referiu a forte ligação de “maritimidade entre os dois países irmãos”. Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA 4 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA N primeiros 10 países do mundo com as menores taxas de mortalidade por afogamento nas zonas balneares de jurisdição marítima. Durante a conferência de imprensa, na praia do Guincho, considerada recentemente pela estação televisiva norte-americana CNN como uma das 10 melhores praias urbanas da europa, pelas suas características de beleza invulgar e de condições únicas para a prática de surf e kitesurf, decorreu em simultâneo uma demostração prática dum equipamento de salvamento inovador, uma bóia de assistência a banhistas, mecanizada e autónoma de controlo remoto. Na presente época balnear, com um dos verões mais quentes nos últimos 20 anos em Portugal, e atendendo aos fatores geopolíticos a nível mundial, os portugueses visitaram as nossas praias cerca de 63 milhões de vezes, a que se juntaram cerca de 12 milhões de turistas, na sua maioria na qualidade de banhistas. Apesar da elevada afluência às praias apenas 2 dos 12 casos mortais se ficaram a dever a afogamento em praias vigiadas. Foto 1SAR FZ Pereira o passado dia 4 de setembro, ocorreu na praia do Guincho no Município de Cascais, uma conferência de imprensa sob a égide da Autoridade Marítima Nacional (AMN) presidida pelo Ministro da Defesa Nacional, Dr. Pedro José Aguiar-Branco, e com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Cascais, do Almirante Autoridade Marítima Nacional e do Vice-Almirante Diretor-geral da Autoridade Marítima e Comandante Geral da Polícia Marítima. O Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) apresentou o balanço dos primeiros 4 meses da época balnear de 2013, realçando a envolvência dos diversos projetos desenvolvidos pelos parceiros institucionais na vertente da responsabilidade social, que muito contribuíram para que Portugal, no âmbito da segurança balnear, estivesse novamente posicionado nos SECRETÁRIA DE ESTADO DA DEFESA NACIONAL VISITA AUTORIDADE MARÍTIMA NACIONAL a quinta-feira, dia 19 de setembro, a Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, Dra. Berta Cabral, promoveu uma visita à Autoridade Marítima Nacional (AMN), a qual, nos termos institucionalmente definidos no âmbito da Defesa Nacional, se encontra sob a sua tutela direta. A intenção manifestada pela governante era, precisamente, conhecer toda a vasta estrutura de órgãos e serviços que integram a AMN, bem como o quadro de atribuições que a lei lhes comete e a textura das suas atividades, e cuja identidade, génese histórica e competências os distinguem das demais. A Secretária de Estado foi recebida pelo Almirante Autoridade Marítima Nacional e pelo Vice-almirante diretor-geral da Autoridade Marítima (DGAM) e comandante-geral da Polícia róis, tendo almoçado nesta Direção após ter assistido a apresentações práticas da embarcação do Grupo de Ações Tácticas (GAT) da Polícia Marítima e de uma lancha do ISN. A governante teve a oportunidade de, na Capitania do Porto de Lisboa, e após colocar algumas questões, proferir umas palavras sobre o enquadramento da AMN, a sua orientação governamental para solidificação deste setor da Defesa Nacional que se encontra sob sua tutela, e a forma como vê o imprescindível papel da Marinha no apoio ao exercício da Autoridade Marítima. A Secretária de Estado manifestou a sua satisfação pelos resultados da visita. Foto 1SAR A Dias N ÉPOCA BALNEAR 2013 Marítima (CGPM), tendo visitado a Direção de Combate à Poluição do Mar, onde assistiu a uma apresentação sobre o serviço e respetiva atividade, a Capitania do Porto de Lisboa, onde lhe foi realizado um briefing pelo VALM DGAM/CGPM e pela sua equipa, o Instituto de Socorros a Náufragos e a Direção de Fa- Colaboração da DIREÇÃO-GERAL DA AUTORIDADE MARÍTIMA REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 5 SNMG2 P NRP TRIDENTE AO SERVIÇO DE PORTUGAL ouco mais de três anos após o seu aumento ao efetivo na Marinha Portuguesa, o submarino Tridente partiu da Base Naval de Lisboa para o cumprimento de mais uma missão, desta vez a sua primeira integração numa força permanente da NATO. Com a missão bem estudada, guarnição treinada e pronta, o NRP Tridente largou silenciosamente, ao serviço de Portugal, no passado dia 5 de setembro de forma a integrar o Standing NATO Maritime Group 2 (SNMG2), participando na Operação ACTIVE ENDEAVOUR sob o controlo operacional do COMSUBNATO1. A Operação ACTIVE ENDEAVOUR é uma operação da NATO no Mar Mediterrâneo – a única ao abrigo do artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte – centrada na campanha internacional de combate contra o terrorismo e que tem como objetivo a condução de operações navais e aéreas, no Mediterrâneo, incidindo na dissuasão, defesa e proteção contra atividades associadas ao terrorismo. Após análise dos procedimentos e feitos alcançados no ano anterior pelo submarino Arpão, o Tridente procurava elevar a fasquia e colocar a arma submarina portuguesa no centro das atenções da NATO. “Ser relevantes” foi o mote e lema passado à guarnição pelo Comandante do navio, CTEN Amaral Henriques. Após semanas de intensa preparação para a missão, que se misturou com as férias de verão, todos os militares e unidades de apoio tiveram de “correr” para poderem ter a “sua parte” pronta. Alguma ansiedade pairava na guarnição, em particular nos elementos mais modernos, para os quais esta seria a sua primeira missão real ao serviço da Arma Submarina, ansiedade acentuada pelas tensões vividas nos países do Norte de África com as muito faladas “primaveras árabes”. Mas esta ansiedade foi sempre enquadrada pelos camaradas mais antigos e experientes que despistavam os sentimentos de alguma expectativa com histórias das suas façanhas nos submarinos da classe Albacora, sobre a participação na Operação SHARP GUARD (no embargo à antiga Jugoslávia no Mar Adriático) e do disparo do torpedo para afundamento do N/M Bandim, que era um perigo à navegação por estar a flutuar em meias águas. Foram também abordadas as várias passagens em imersão no Estreito de Gibraltar, conhecidas pela sua especificidade, cujo último resistente, o saudoso Barracuda, atravessara pela derradeira vez na sua última navegação em 2009 e que permitiu a consolidação e transferência de toda a experiência acumulada ao longo de décadas às novas gerações, permitindo que o Tridente já o tivesse passado por 4 vezes na sua curta vida, antes de partir para esta missão. O trânsito para a área de operações pautou-se pela tranquilidade e ainda não tocara o despertador, que dava início à patrulha, e o Tridente já detetava e relatava contactos de interesse. Mais uma vez, procurava a excelência e responder ao comandante no sentido de colocar o navio como referência para 6 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA este tipo de missões, o que era imperioso. Os primeiros dias foram de alguma azáfama, mas desengane-se quem pense que era no Tridente! Azáfama na estrutura do COMSUBNATO para receber, compilar e dar seguimento ao volume de informação que, na sua patrulha silenciosa, o Tridente ia enviando em reports constantes. Os poucos céticos estavam convencidos e a guarnição entusiasmada. Cumprindo bordada após bordada com um brilho nos olhos, sempre em busca de mais e mais informação… Informação de tudo o que se movia à nossa volta, onde eram classificados e verificados visualmente todos os contactos, de forma a apurar se haveria algum relacionado com atividades ilícitas. Trinta e quatro homens, aos comandos de uma excelente plataforma com um conjunto de sensores avançados e poderosos, exploravam o navio ao limite das capacidades. Ora procurando avidamente contactos suspeitos e padrões de tráfego na zona, ora efetuando treino próprio na área operacional e na área de limitação e reação a avarias, pois o adestramento da guarnição para os exigentes padrões de segurança que garantam a segurança máxima é sempre essencial quer seja numa missão real quer seja numa qualquer outra navegação. Quando um submarino entra em imersão nunca é exercício. E, após mais de 300 horas de patrulha à cota periscópica, cerca de 1300 milhas percorridas, a lista de relatos efetuados amontoava-se. Mais de 1400 contactos identificados, muitos deles reveladores dos padrões de comportamento da área, um dos objetivos principais da missão. Foram igualmente relatados todos os comportamentos suspeitos detetados assim como os contactos de particular in- teresse para a Operação ACTIVE ENDEAVOUR e Comando da Força Naval Permanente da Aliança Atlântica, tanto no ambiente marítimo como em pontos de interesse em terra. No âmbito desta operação o submarino Tridente conduziu operações no Mediterrâneo Ocidental onde, efetuando patrulha discreta de vigilância para controlo do tráfego marítimo, permitiu às instâncias de controlo operacional da Aliança o permanente conhecimento do cenário e a caracterização dos padrões de comportamento na área de ação de interesse dos países da NATO, onde se focou na deteção de navios com comportamentos suspeitos, seguimento de navios mercantes classificados como de interesse ligados a atividades ilícitas, deteção de pequenas embarcações ligadas ao tráfico de droga e imigração ilegal, deteção de navios de guerra de países não-NATO, bem como recolha de informação operacional relevante na área de operações. O Tridente tornava-se assim num elemento chave para a valorização da ação da patrulha, já que só a partir de um elemento dissimulado no ambiente é possível atuar nele sem o influenciar. Assim, mais uma vez está testemunhada uma das mais-valias da arma submarina… a possibilidade de efetuar vigilância, recolher e gravar dados, relatando-os para os comandos superiores, sem que os visados tenham sequer a ideia que está um meio naval a operar e a recolher informação nas suas áreas de interesse. Terminada que estava a primeira parte da missão, a integração na SNMG2, a guarnição, exausta, estudava com afinco a próxima tarefa a cumprir. A cidade de Cartagena, em festa, esperava o Tridente como que para o saudar pelos resultados obtidos. Coincidentemente, decorriam as festas anuais da cidade, onde se comemoravam os 2.222 anos da Batalha entre cartagineses e romanos. Nada como a comemoração de uma batalha épica para receber os guerreiros lusitanos que regressavam do mar. Ainda antes de atracarmos, a guarnição regozijava-se com os primeiros reconhecimentos dos nossos comandos NATO, onde se podiam ler frases do COMSUBNATO como “…your crews ability to provide superior intelligence for OAE.” Ou “you not only increased MARCOMS operational awareness today but for future missions to come” ou do HQ MARCOM “Tridente’s recent operations … were a model to be emulated by future operators”. O sentimento de dever cumprido, enaltecido pelas cativantes mensagens de apreço recebidas dos mais altos responsáveis operacionais da missão, veio demonstrar o reconhecimento do mote dado pelo Comandante do navio – “Ser relevantes”. O brilho nos olhos dos 34 militares submarinistas embarcados era o bastante para perceber a alegria de quem, ao longo de 12 dias, trocara o Sol e atmosfera de verão que ficara em Lisboa, por 12 horas diárias de trabalho, onde o dia e a noite eram marcados pelo obstinado acender e apagar de luzes que nos forçavam a iludir o corpo e a mente de que aquelas luzes artificiais substituíam o Sol que teimava em continu- ar a percorrer o seu eterno ciclo entre nascimento e ocaso. Por nós, apenas visível pelas binoculares do periscópio e pelo ecrã apelidado de “janela para o mundo”, pelo espaço reduzido e falta de privacidade, característica de quem dedica a sua vida profissional à Arma Submarina, aquela que garante a terceira dimensão do território nacional. Mas como há séculos atrás se ouvia “terra à vista”, na manhã de 23 de setembro voltávamos a avistar costa amiga e a expetativa de uns dias de descanso exortavam a guarnição para mais uma faina de atracação rigorosa e sem surpresas. Cartagena em festa recebeu-nos de braços abertos. O oficial de ligação, oficial submarinista espanhol que já anteriormente navegara na classe Tridente, que prontamente se voluntariou para receber os camaradas submarinistas portugueses, complementou toda a componente logística preparada e passava as primeiras impressões do que seria a estadia em Cartagena. As excelentes relações que caracterizam as duas Armas Submarinas, Espanhola e Portuguesa, cimentadas pelos vastos anos de cooperação desde o início de operação dos submarinos da classe Albacora nos meados dos anos 60 do século passado, foram mais uma vez estendidas e reavivadas nos cumprimentos prestados pelo Comandante Amaral Henriques ao VALM Zumalacárregui, Comandante da Base Naval de Cartagena e pelo Capitan-de-navio Sierra Mendez, COMSUBMAR2 e Comandante da Esquadrilha de submarinos da Armada Espanhola. Ambos reforçaram a importância das relações bilaterais que sempre existiram entre a comunidade submarinista ibérica. De forma a dar continuidade às convicções expressadas pelas entidades oficiais foi dada a bordo do Tridente uma receção à comunidade submarinista espanhola onde foi demonstrado aos nuestros hermanos a característica Nacional de bem receber, em qualquer parte do Mundo, na qual maravilhados pelas qualidades técnicas e capacidades operacionais do nosso navio, estavam também comprazidos ao degustarem as iguarias preparadas pela equipa da taifa de bordo. Um momento sem dúvida memorável de convívio entre irmãos do submundo marinho. E se outrora os Romanos perderam a batalha contra Cartagineses, mais de 2000 anos depois, os Portugueses equilibraram a “batalha” com uma conquista pacífica das gentes locais… na largada do Tridente, algumas lágrimas ficaram no porto, mas após o merecido descanso estava em boa hora de nova travessia do Estreito de Gibraltar a caminho de Lisboa. Na viagem de regresso a Portugal embarcou um oficial submarinista espanhol, em virtude da Marinha Espanhola estar no processo de aquisição dos novos submarinos da classe S80. O embarque teve como objetivo a passagem de informação, não sensível, relativa às capacidades que um submarino moderno apresenta, reforçando a cooperação e amizade que une há várias décadas as duas Marinhas e as duas Esquadrilhas de Submarinos ibéricas. A passagem do Estreito de Gibraltar em imersão é um momento de particular solenidade no seio da comunidade submarinista. Não só pelo simbolismo que lhe está associado, mas principal e maioritariamente pela sua grande complexidade técnica de execução. A passagem do Estreito carece de uma preparação em termos de cálculo das condições ideais, incluindo tempos, cotas e velocidades de passagem, tendo em conta as profundidades das diversas camadas de água, com densidades diferentes, que causam correntes de intensidade superior, que se não forem corretamente calculadas podem duplicar o tempo de passagem, e com isso todas as complicações inerentes à redução da autonomia da bateria do submarino e controlo da qualidade do ar ambiente. O encontro das águas atlânticas com as mediterrânicas, apesar de uma superficial calma, encerram complexas e revoltas camadas subaquáticas, que com diferentes camadas e sentidos, resultam numa camada de turbulência que pode “atirar” o navio para o meio da intensa navegação à superfície ou para os perigosos montes submarinos que estrangulam as profundezas do Estreito. O rigoroso conhecimento da posição do navio, utilizando os complexos métodos da navegação inercial e da navegação por sondas, assim como o total e completo controlo da plataforma, faz com que a passagem do Estreito em imersão seja um esforço conjunto e coordenado da vertente operacional e técnica do navio. As águas mediterrânicas ficavam no passado depois de se ter atravessado o Estreito em imersão profunda, e sem demora novamente se preparavam os exercícios de interação com a Marinha Espanhola, onde participaram as fragatas ESPS Santa Maria, ESPS Canarias e uma aeronave de patrulha marítima – P3M. Marcados pela excelente oportunidade de treino conjunto entre marinhas amigas, as séries ficaram marcadas pela azáfama de terem sido realizadas com intenso tráfego de navegação mercante, onde, apesar das dificuldades, foi mais uma excelente oportunidade de treino para a guarnição, conjugando a componente operacional com a de segurança e classificação de alvos. Trocadas as impressões pós-exercício, o saldo foi assegurado como positivo por todos os intervenientes. Já a caminho de Portimão, ultimavam-se os pre- parativos para a honrosa receção ao Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, General PILAV Luís Araújo. A guarnição estava entusiasmada. A presença do General CEMGFA comprovava não só o reconhecimento da competência demonstrada pelo navio, mas também o interesse do mais alto nível do Comando Militar Nacional em conhecer o navio e guarnição que estiveram integrados numa força NATO, em patrulha. Aperaltado o navio e orgulhosa a guarnição, embarcava pontualmente ao largo de Portimão a bordo do submarino Tridente, o General CEMGFA acompanhado pelo Comandante Naval, VALM Monteiro Montenegro. O momento era curto e o programa exigente, pelo que não existiram momentos calmos. Num par de horas procurou dar-se uma imagem rigorosa das capacidades do submarino exploradas à exaustão pela sua guarnição que, procurando cumprir o lema dado pelo Comandante, se esforçava por tornar uma vez mais relevante a sua participação na missão que findava, demonstrando a capacidade, conhecimentos e vontade para desempenhar missões futuras. E foi efetivamente relevante a presença do General CEMGFA no Tridente porque horas após o final da visita, ainda se trocavam palavras e ideias dos momentos vividos a bordo e particularmente das palavras proferidas à guarnição, as quais demonstraram grande apreço pelos resultados obtidos no decorrer da participação na Operação ACTIVE ENDEAVOUR e pela especificidade da condição de submarinista. Foi sem dúvida uma honra inesquecível que ficará nas memórias desta missão e da guarnição, especialmente quando o General CEMGFA concebeu a honra de colocar o distintivo do submarino no peito, tornando-se assim em mais um valioso elemento da comunidade submarinista portuguesa. Mesmo depois de 29 dias de uma missão cheia de atividade, faltava ainda a participação no Exercício SEA BORDER no âmbito da iniciativa (cooperação de segurança) 5+5, e que se realizou ao largo do Algarve. Aqui foram testadas e melhoradas as formas de colaboração e coordenação entre unidades militares aeronavais dos países participantes, Portugal, Espanha e Tunísia. Após a última tarefa desta grande missão, apenas algumas horas separavam os militares do Tridente de suas casas. Sem cessar na atenção, pairava no ar o sentimento de regresso. As famílias ainda desconheciam o sucesso da missão, mas essa é mais uma condição do submarinista onde o silêncio e a distância são mais umas das contingências inerentes e bem conhecidas por quem abraçou a missão de servir a Marinha e o País numa arma cuja discrição a torna tão temível e respeitada. A expressão “Silenciosamente ao serviço de Portugal” carrega com ela muito do que é ser submarinista e de como este sente a sua missão… com “zelo, aptidão e honradez”. Colaboração do COMANDO DO NRP TRIDENTE Notas: 1COMSUBNATO – Comando Operacional de submarinos NATO, no Atlântico, Mar Mediterrâneo e Índico. 2 COMSUBMAR – Comando Operacional de submarinos espanhol. REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 7 NRP JACINTO CÂNDIDO NO MAR DOS AÇORES LARGADA DA BASE NAVAL DE LISBOA RUMO AO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES RELEMBRANDO O DIA QUE CONQUISTÁMOS OUTROS MARES No dia 30 de abril de 2013, pelas 15 horas, o NRP Jacinto Cândido largou da Base Naval de Lisboa, com 80 militares na sua guarnição, rumo ao Arquipélago dos Açores para cumprir mais uma comissão na Zona Marítima. O início do trânsito ficou marcado pelas condições de mar adversas e, consequentemente, pelas dificuldades de estabilidade de rumo e pela sensibilidade de certos militares ao mar, visto que nos dois primeiros dias, rumámos sempre com mar pelo través de estibordo. Somente no dia antes da chegada, com a melhoria das condições climatéricas, foi possível a realização de treino interno, incidindo na área de Limitação de Avarias (LA), operação do navio em avaria (exercícios de máquinas e avaria no leme) e Homem ao Mar. Pela manhã do dia 3 de maio atracámos no porto de Ponta Delgada, tendo sido efetuados os devidos cumprimentos protocolares, do comandante do navio às entidades militares e civis da região. No dia seguinte, dia 4 de maio, o navio largou e fundeou na bacia de manobra do porto de Ponta Delgada, para participar nas festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, tendo efetuado 19 salvas de artilharia; após a sua participação voltou a atracar no cais atribuído neste Porto, aí permanecendo até largar para o seu primeiro cruzeiro, no dia 6 de maio. Durante a navegação o navio praticou os portos de Praia da Vitória (Ilha Terceira) e Vila do Porto (Ilha de Santa Maria) de forma a desembarcar diverso material embarcado no âmbito da tarefa de transporte logístico. Em Vila do Porto, foram prestados cumprimentos protocolares ao Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto e organizada uma visita à ilha para a guarnição com o apoio da Câmara Municipal. No dia 9 de maio, de forma a participar na Final Coordination Conference do exercício ACOR13, realizada sob a égide do Comando Operacional dos Açores, o navio atracou no Porto de Ponta Delgada. Durante esta estadia, foi realizada a bordo, por elementos da PSP, uma palestra subordinada ao tema do consumo de álcool, habilitação legal e condução. No âmbito desta palestra foram esclarecidos os riscos que advêm do consumo excessivo de álcool, alguns mitos associados ao mesmo e os limites de álcool no sangue legais na prática da condução. Ainda relacionado com a condução de veículos e dados os diversos perigos existentes, foi realçada a importância de cumprir os limites de velocidade e a legislação em vigor. Apesar de se tratar de um tema bastante presente para a maioria da guarnição, foi relevante na medida em que permitiu esclarecer algumas dúvidas e relembrar certos aspetos indispensáveis, quer a nível de segurança, quer a nível de saúde. No âmbito das comemorações do dia da Marinha, o NRP Jacinto Cândido permaneceu atracado no cais das Portas do Mar, no porto de Ponta Delgada, entre os dias 17 e 20 de maio. Durante a estadia, o navio abriu a visitas, tendo recebido a bordo alunos do ensino básico e preparatório, turistas e visitantes locais da ilha de São Miguel, num total de 1405 visitas. Em coordenação com o Comando da Zona Marítima 8 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA HÁ MAR E MAR, HÁ IR E VOLTAR… O navio saiu para o mar, depois do pôr-do-sol, no dia 20 de maio, para iniciar o segundo cruzeiro. O primeiro porto praticado foi Vila do Porto na Ilha de Santa Maria da qual o navio recebeu a visita das escolas locais. O navio atracou na Praia da Vitória (Terceira) no dia 24 pela manhã, no Porto da Horta (Faial) em 27 e por fim em Vila da Praia Ilha da Graciosa em 29, tendo finalizado o cruzeiro em 31 de maio atracando no Porto de Ponta Delgada. O segundo cruzeiro permitiu conjugar na perfeição as tarefas cometidas ao navio na área de fiscalização marítima, com as ações de treino próprio na área de navegação, marinharia, LA e artilharia. A qualidade da informação transmitida ao navio pela Inspeção Regional das Pescas e Comando da Zona Marítima dos Açores, no âmbito do panorama das embarcações pesqueiras, permitiu realizar ações de fiscalização marítima de uma forma mais eficiente, revelando-se determinante na vectorização do navio para alvos de interesse. Neste capítulo é de realçar a relevância da partilha do panorama MONICAP, permitindo otimizar as ações de patrulha e fiscalização, aumentando a capacidade de planeamento e, em última análise, potenciando o treino interno do navio. Neste cruzeiro, as passagens pelas várias ilhas foram também acompanhadas dos respetivos cumprimentos protocolares e, na maioria, de visitas proporcionadas à guarnição, sendo de realçar a excelente colaboração das câmaras municipais locais. O REPOUSO DO MILITAR dos Açores, criou-se a oportunidade de realizar batismos de mergulho, onde os mergulhadores de bordo colaboraram na atividade. No último dia, por ocasião do dia da Marinha e do 12º aniversário dos escuteiros marítimos de São José, foi celebrada uma missa de sufrágio e deposição de coroa de flores no monumento aos marinheiros mortos na I Grande Guerra, com participação de militares da guarnição. Ao final do dia, ocorreu a bordo uma cerimónia de entrega de prémios das regatas realizadas, presidida por sua excelência Almirante Pires da Cunha, Comandante da Zona Marítima dos Açores. A estadia no Porto de Ponta Delgada, entre cruzeiros, permitiu à guarnição conhecer as belezas naturais da Ilha de São Miguel. O navio aproveitou o encontro com a natureza do Parque da Paz para fazer o típico “Almoço do Cozido”, sendo esse prato confecionado, pela equipa taifa de bordo, nas altas temperaturas das fumarolas das Furnas. Essa mesma estadia tornou-se mais produtiva por ter sido possível realizar um treino de armamento portátil na carreira de tiro para os elementos da guarnição que desempenham funções de plantão, Sargento de Dia e Oficial de Dia. Largámos no dia 9 de maio para o nosso terceiro e último cruzeiro na Zona Marítima dos Açores. TERCEIRO E ÚLTIMO CRUZEIRO Após saída de Ponta Delgada, o rumo foi direto para o Porto de Pipas na Ilha Terceira, onde se atracou pela manhã do dia 10 de junho, de forma a participar nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (promovidas pelo Gabinete do Representante da República na Região Autónoma dos Açores), realizadas no Solar da Madre de Deus em Angra do Heroísmo, com participação do Comandante e um pelotão de 16 militares da guarnição na cerimónia militar. Durante esta estadia o navio abriu a visitas. Largámos de Porto de Pipas na manhã de 11 de junho para atracar no Cais Comercial do Porto de Praia da Vitória, de forma a embarcar pessoal e material do Exército com destino à Horta. Nesse mesmo dia foi dado início ao exercício ACOR13 – CPX. Este tipo de exercício revela a extrema importância da coordenação dos vários meios e centros de comando e controlo das várias entidades participantes. O âmbito deste exercício é a simulação de vários sinistros, quer a nível de catástrofes naturais, quer a nível de grandes acidentes, criando então dessa forma a necessidade de coordenação entre entidades para resolução dos mesmos. Participaram no exercício o SRPCBA (Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores) e os três ramos das Forças Armadas, cabendo ao navio simular o apoio na zona costeira do sinistro a nível de Busca e Salvamento e a atracação no porto sinistrado para apoio às entidades locais no combate ao sinistro. O exercício foi, na sua maioria, simulado a nível de comando e controlo através de mensagens, permitindo ao navio continuar atracado no Cais Comercial da Praia da Vitória. No decorrer do mesmo, foi proporcionado aos oficiais uma visita ao SRPCBA. Esteve incluída a visita às instalações (onde se encontrava a decorrer o ACOR13) e aos vários centros de comando e controlo, finalizando a visita com a ida ao parque de treino, onde possibilitou o conhecimento dos vários meios e cenários de treino de combate a sinistros, com a possibilidade aberta de voltar com a guarnição de forma a desenvolver ações de treino LA. No dia 12 atracámos no Porto da Horta na Ilha do Faial para aproveitar mais uma vez o espírito náutico que o Café Peters tem para nos oferecer. No dia seguinte, no período matinal, rumámos em direção ao Grupo Ocidental do arquipélago e no dia 14 de manhã atracámos na Ilha das Flores. Após cumprimentos protocolares, foi organizada uma visita à ilha para a guarnição, com a colaboração da Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores, onde foi possível visitar o ponto mais ocidental da Europa. No dia a seguir deixámos a Ilha das Flores por forma a exercer ações de fiscalização marítima junto ao Grupo Ocidental. Em 16 de junho, fundeámos no Corvo, onde o Comandante efetuou cumprimentos protocolares ao presidente da Câmara, e a guarnição desfrutou (por bordadas) de uma visita à ilha, recorrendo às embarcações semi-rígidas de bordo. De referir a extrema importância deste dia 16 de junho, por representar o dia da unidade, onde o navio apagou as suas 43 velas de idade ao serviço de Portugal. Suspendemos ferro no final da tarde e rumámos de volta para o Grupo Central e Orien- tal onde, por motivos de desembarque de material logístico, atracámos no Cais Militar de Praia da Vitória em 18 de junho, em Vila do Porto, Ilha de Santa Maria, no dia 19 de manhã e o fundeadouro de Ponta Delgada de tarde. Depois do material desembarcado, máquinas avante toda a força, rumo oeste-noroeste, direção Porto de Pipas, objetivo: presença naval nas Festas Sanjoaninas. O NRP Jacinto Cândido permaneceu atracado de 20 a 25 de junho no Porto de Pipas, cado a grande mais-valia que este centro pode representar para as guarnições dos navios em comissão na ZMA. O navio largou na manhã do dia 25, voltando a fundear em Angra do Heroísmo na manhã do dia 26 de junho, de forma a participar no exercício FOCA 132 (sob a égide do Exército). Após um briefing de segurança efetuado em terra (cais-porto de Pipas), embarcou-se 45 militares do exército (e respetivo material e armamento) por embarcações semi-rígida de bordo e uma lancha do ISN da Capitania do Porto de Angra do Heroísmo, de seguida efetuou-se o seu transporte até à Praia da Vitória a Sul da Ilha Terceira, onde após o navio ter fundeado no interior do porto, desembarcou os militares por embarcações de bordo e Capitania Local. ENSINANDO OS MAIS JOVENS Um grupo de cadetes do Curso Vice-Almirante Mendes Cabeçadas Júnior (22 cadetes) e respetivo Diretor de instrução da Viagem, juntaram-se à guarnição do NRP Jacinto Cândido no dia 21 de junho em Angra do Heroísmo, para realizarem a Viagem de Instrução de 3º ano da Escola Naval, cujo objetivo foi proporcionar a oportunidade de pôr em prática a teoria lecionada na Escola Naval e de assimilar alguns conhecimentos importantes sobre a vida a bordo, aproveitando ainda para conhecer as ilhas que constituem o arquipélago. Em 3 de julho, efetuou-se o RENDEZ-VOUS com o NRP João Roby, onde se encontravam embarcados os restantes cadetes do curso, tendo-se cumprido um programa seriado, que incluiu exercícios de manobras e evoluções, aproximações RAS e exercícios de comunicações. Os navios navegaram em companhia até dia 5 de junho, tendo atracado de braço-dado no porto de Ponta Delgada, podendo, finalmente os cadetes, visitar os vários pontos de interesse da ilha. MISSÃO CUMPRIDA… período no qual se abriu o navio a visitas. Durante a estadia foi possível a concretização da ação de treino LA no Centro de Treino dos Serviços Regionais de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores. As instalações mostraram ser bastante completas para a realização de um treino eficaz nas áreas de combate a incêndios (Classe A, B e C), Busca e Salvamento Urbano (U-SAR), emergência médica e desencarceramento de vítimas, tendo sido identifi- O navio atracou pelas 10 horas do dia 15 de julho de 2013 na Base Naval de Lisboa, com um sentimento de missão cumprida, sendo visível a grande satisfação e o orgulho de ter efetuado mais uma missão com sucesso e encontrando as suas famílias em paz, totalizando na comissão à Zona Marítima dos Açores 1793 horas e 52 minutos de missão, 573 horas e 22 minutos de navegação, num total de 6675 milhas percorridas, tendo a oportunidade de visitar todas as ilhas do arquipélago, transportou um total de cerca de 14 toneladas de material diverso entre ilhas, efetuou 26 ações de fiscalização no mar, sendo 8 presumivelmente infratoras. De mencionar que totalizou um total de cerca de 2600 visitantes durante a comissão. Colaboração do COMANDO DO NRP JACINTO CÂNDIDO REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 9 OS MERGULHADORES DA ARMADA O RESUMO HISTÓRICO s Mergulhadores da Armada tomada pelos Destacamentos, ficando e a sua Escola foram criados cometidas à Escola de Mergulhadores por Diploma Real assinado exclusivamente tarefas de instrução. por D. Carlos I em 1899, onde se menNo prosseguimento da edificação cionava, pela primeira vez e de forma da capacidade de Guerra de Minas, muito sumária, a natureza de atuação prevista no Sistema de Forças Naciodos Mergulhadores da Marinha. Apenal 04 - Componente Operacional, e sar de se considerar este documento considerando ainda a necessidade de como a primeira referência, existem garantir condições para que os demais duas menções a mergulhadores, que organismos pudessem contribuir eferemontam uma a 1171, em que Um tivamente para o cumprimento deste valoroso soldado português a quem desiderato, foi criado em 2008 o Desa história nem ao menos o nome cotacamento de Mergulhadores Sapadomentou, aproveitando a treva da noite res nº 3 (DMS3-MW). aproximou-se do dromon, abriu-lhe um enorme rombo nas obras-vivas suORGANIZAÇÃO ficiente para o navio soçobrar; e outra Os Destacamentos de Mergulhadoa 1580, que refere nadadores portures Sapadores são unidades operaciogueses, nadando debaixo de água, nais organizadas de forma a executar atacam navios espanhóis fundeados ações no quadro das missões da Marino Rio Tejo, procurando danificar-lhes nha. Cada Destacamento é composto o casco. por secções ou equipas, que podem Em 1899, a principal missão dos meratuar de forma independente e disgulhadores era no âmbito do Socorro persa geograficamente, e constituído a Náufragos e da Salvação Marítima. por militares habilitados com o curso Mais tarde, em 1961, foi instituído o de formação ou de especialização em atual Quadro de Mergulhadores e, em mergulhador-sapador. 1964, as primeiras unidades operacioCom a entrada em vigor da Lei Orgânais que, a partir de 1966, prestaram nica da Marinha e a sua regulamentaserviço no Comando da Defesa Marítição subsequente, estas unidades ficama da Guiné, então com potencialidaram na Dependência Administrativa des e valências militares, inclusive na da Esquadrilha de Submarinos, sendo área da Inativação de Engenhos Exploo Comando Operacional atribuído ao Mergulho Militar. As missões de interesse sivos (IEE). Estas unidades, denominadas Secção de Mergulhadores Sapadores nº 1 público, designadamente as relativas ao So- Comando Naval. A Esquadrilha de Submarinos possui na sua e nº 2, passaram, em 1973, a Destacamento corro a Náufragos e à Salvação Marítima, continuaram a ser asseguradas pela Escola estrutura o “Agrupamento de Mergulhadode Mergulhadores Sapadores nº 1 e nº 2. res”, que assegura o aprontamento e o apoio Com o fim da Guerra do Ultramar os Des- de Mergulhadores. Quando, em 1992, foi reativado o Desta- logístico, a formação, o treino, a manutentacamentos foram extintos, ficando a totalidade das missões atribuída à Escola de camento de Mergulhadores Sapadores nº 2 ção das qualificações e a avaliação do nível Mergulhadores que, com o então Centro de (DMS2), toda a atividade operacional foi re- de prontidão e do desempenho dos militares que lhe estão atribuídos. ProInstrução de Minas e ContraORGANOGRAMA DA ESQUADRILHA DE SUBMARINOS move, igualmente, o aprovimedidas, responsabilizou-se (CAPACIDADE DE MERGULHO) sionamento, armazenagem e pela formação dos militares distribuição de todo o mateda Marinha na área do Merrial de mergulho para utilizagulho Militar e da IEE. ção na Marinha. Até finais da década de 90, elementos da Força Aérea, PSP e GNR frequentaram AS MISSÕES cursos relativos à IEE. A nível E AS TAREFAS internacional, efetuaram-se alguns cursos para militares A sua extensa orla marída Marinha Espanhola, no tima e a configuração das âmbito dos engenhos conrespetivas ZEE e Plataforma vencionais terrestres e subContinental implicam uma marinos. dependência de Portugal O Destacamento de Merdas atividades económicas gulhadores Sapadores nº 1 ligadas ao mar. A Marinha, (DMS1) foi reativado em no âmbito das suas missões, 1988, dada a necessidadesempenha um papel fulde de existir uma unidade cral, cabendo aos merguoperacional especialmente lhadores um natural lugar de vocacionada para a área do 10 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA destaque, que se reflete num elevado empenhamento das respetivas equipas As missões e tarefas que as unidades de mergulhadores podem ser chamadas a desempenhar primam pela diversidade, complexidade e extensão. Poderemos elencar de forma sucinta as missões mais representativas, tanto em tempo de crise, como em tempo de paz para cada unidade de mergulhadores. Assim, ao DMS1 incumbe genericamente a Proteção da Força em Ambiente Subaquático (Underwater Force Protection), a Inativação de Engenhos Explosivos e as Operações Ofensivas e Defensivas. Ao DMS2 é atribuída a Salvação Marítima e o SAR de elevada complexidade. Compete-lhe, igualmente, o destacamento temporário de Mergulhadores para as Unidades Navais. Finalmente, o DMS3 – MW tem a sua ação centrada essencialmente na Guerra de Minas com e sem emprego de Veículos Autónomos Submarinos (Unmaned Underwater Vehicles). De realçar que o DMS3-MW é a unidade de mergulhadores que tem possibilidades de mergulhar até aos 81 metros de profundidade. Desde 2002, com a aquisição dos equipamentos de mergulho CARLETON Viper Plus, que a Marinha adquiriu esta capacidade e que a tem mantido sustentada desde então. Para tal, os militares que executam este tipo de mergulho, aplicado essencialmente às operações de contramedidas de minas, efetuam o Plano de Qualificação de Mergulho Profundo (duração de 3 semanas) a cada 120 dias, executando todo o tipo de tarefas associadas ao manuseamento do equipamento, procedimentos de manutenção e de segurança, supervisão de mergulho e finalmente mergulhar até aos 81 metros. Naturalmente esta modalidade, que apesar de ter como principal aplicação a guerra de minas, é entendida como uma capacidade de mergulho transversal a outras tarefas e atribuições, tais como o socorro, salvamento e resgate submarino, salvamento de submarinos sinistrados e outros trabalhos subaquáticos que tenham como requisito o mergulho a profundidades elevadas. O DMS3-MW tem presentemente qualificada uma equipa de 7 mergulhadores para atuar até à profundidade máxima de 81 metros. Uma parte significativa da atividade operacional desenvolvida pelas unidades de Mergulhadores é dirigida a tarefas de interesse público, que enraízam profundamente a tradição da Instituição “Mergulhadores da Armada” em particular e da Marinha no geral. Como elementos da Componente Operacional do Sistema de Forças Nacional, os Destacamentos de Mergulhadores adquiriram e desenvolveram ao longo da sua história, uma necessidade de aperfeiçoamento e desenvolvimento dos conhecimentos e competências técnicas, como por exemplo, no âmbito dos trabalhos subaquáticos e na salvaguarda da vida humana no mar. Estas atividades criaram experiência e formação numa área do mergulho que representa nos dias de hoje uma mais-valia muito significativa na vertente do serviço público. Procura-se, desta forma, uma atualização do seu saber e fazer específico, do seu carácter de “serviço”, dedicando alguma parte do seu esforço operacional às tarefas que corporizam o exercício da soberania do Estado no mar, prevenindo situações potencialmente lesivas do interesse nacional. Tenta-se compatibilizar o cumprimento das tarefas militares com as de interesse público, potenciando as sinergias assentes numa racionalização e complementaridade dos meios e da sua logística, fazendo convergir os instrumentos da componente operacional do sistema de forças com outros, tais como os órgãos operativos do Sistema de Autoridade Marítima. Ilustram-se seguidamente com exemplos, algumas missões desempenhadas pelas unidades de mergulhadores: ∙ No exercício da Segurança Marítima e Assinalamento Marítimo, auxiliar entidades como a Direção de Faróis na manutenção, reparação e substituição de bóias e vistoria à parte imersa de balizas (trabalhos continuamente realizados em diversas boias, nos rios Tejo, Sado, ria de Aveiro e Faro/Olhão); ∙ Assegurar a Proteção de Pessoas e Bens, no que concerne à inativação de engenhos explosivos convencionais (terrestres e submarinos), com especial incidência no mar, faixa litoral, praias e portos; ∙ Cooperar no combate ao terrorismo executando vistorias, buscas e inativação, destruição ou neutralização de engenhos explosivos convencionais ou improvisados (terrestres ou submarinos), especialmente em navios e nas áreas de jurisdição marítima. Uma “nova” tarefa que se prende com o fenómeno complexo que é o Terrorismo, que na nova realidade mundial reflete-se no crescente emprego das unidades de mergulhadores em ações de vistoria a portos, pontes, viadutos e locais de atracação de embarcações. Prendendo-se no âmbito da Inativação de Engenhos Explosivos Convencionais ou Improvisados (terrestres e submarinos), aquando da presença de VIP’s, acontecimentos importantes ou atracação de navios de elevado valor, quer sejam civis ou militares. É também uma missão descrita como militar em tempo de paz, podendo perfeitamente ser classificada de serviço público. Importa por fim referir que para as missões e tarefas das Unidades de Mergulhadores, quer sejam de cariz militar, quer sejam de serviço público, são disponibilizados material e equipas numa base diária, durante 365 dias por ano, servindo de forma profissional e competente a Marinha e o País. F. Duarte da Conceição CFR REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 11 INSTITUTO HIDROGRÁFICO ORGANIZA O SEMINÁRIO INTERNACIONAL D “O CONTRIBUTO DA HIDROGRAFIA PARA O DESENVOLVIMENTO E A SEGURANÇA DOS ESTADOS COSTEIROS” ecorreu, no passado dia 19 de Seguidamente, o Diretor-geral do IH setembro, no Instituto Hidroagradeceu a presença de todos os pargráfico (IH) o seminário suborticipantes e realçou a importância que dinado ao tema “O Contributo da Hieste evento representa para o IH, por drografia para o Desenvolvimento e a constituir uma oportunidade para proSegurança dos Estados Costeiros”, em mover a cooperação técnica, por encocoincidência com o dia do IH, no seu rajar os participantes a desenvolver laços 53º aniversário. Este evento contou com a presença de ilustres intervenientes e convidados nacionais e estrangeiros (África do Sul, Alemanha, Angola, França, Reino Unido, Malawi, Moçambique e Noruega) representantes de departamentos governamentais, organismos científicos, estabelecimentos de ensino superior e outros parceiros privados, oficiais generais, militares e funcionários civis do IH. O Vice-chefe do Estado-Maior da Armada, VALM Sessão de abertura. Carvalho Abreu, presique permitam reforçar as suas capacidadiu à sessão de abertura. Da mesa de des e por facilitar a troca de informações honra fizeram parte o Presidente do sobre a hidrografia e cartografia náutica, Comité Português para a Comissão bem como desenvolvimentos técnicos Oceanográfica Intergovernamental da e científicos em curso nestes domínios. UNESCO, Prof. Doutor Mário Ruivo, Desejou um bom dia de trabalho, para o Presidente da Fundação para a Cibenefício do desenvolvimento e da seência e Tecnologia, Prof. Doutor Migurança marítima dos estados costeiros. guel Seabra, a Subdiretora-geral da Direção-geral da Política do Mar, Arq.ª Margarida Almodôvar, e o Diretor-geral do IH, CALM Silva Ribeiro. Antes de ser dado início aos painéis, o Vice-chefe do Estado-Maior da Armada realçou a importância e a oportunidade da realização do seminário, o qual relembra e reforça o papel da Marinha Portuguesa nas múltiplas atividades ligadas ao mar, destacando neste âmbito a existência de um lugar de relevo para o IH, por Sessão de encerramento. mérito próprio e por um A primeira sessão foi subordinada ao conjunto de elementos dignos de retema: “Hidrografia – Contributos para a gisto, como a sua relevância militar e segurança dos estados costeiros”, tendo científica, a qualidade dos seus producomo Moderador o Comandante Ventura tos, o dinamismo da sua gestão, a sua Soares do Instituto Hidrográfico. Nesta sespermanente proatividade e o sentido são participaram como oradores o Comanda responsabilidade e de transparêndante Freitas Artilheiro, Diretor Técnico cia ali existentes, não terminando sem do Instituto Hidrográfico, o Comandante felicitar o Instituto pela passagem de Velho Gouveia, Capitão do Porto de Sines, mais um aniversário. 12 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA e o Dr. Gonçalo Magalhães Collaço, Administrador delegado da ESRI Portugal. Nesta sessão foram debatidos os contributos do IH, de Portugal e do setor privado para a segurança e defesa no Mar, com exemplos de trabalhos já realizados e produtos e serviços disponíveis. A segunda sessão foi subordinada ao tema: “Hidrografia – Contributos para o desenvolvimento", tendo como moderador o Professor Doutor Miguel Miranda, Presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Nesta sessão participaram como oradores o Comandante Pereira Manteigas, Chefe da Divisão de Hidrografia do Instituto Hidrográfico, o Professor Doutor Ricardo Serrão Santos, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, e o Doutor Charles de Jongh, da CARIS. Nesta sessão foi debatida a forma como os países podem beneficiar com o investimento, devidamente programado, na atividade hidrográfica, cujo retorno se faz sentir, de forma altamente vantajosa, ao nível do desenvolvimento numa perspetiva económica e científica, com impacto positivo para a qualidade de vida das populações. O 3.º painel “Hidrografia – Perspetivas de futuro” foi composto pelo Comandante Ramalho Marreiros, Diretor da Escola de Hidrografia e Oceanografia do Instituto Hidrográfico, pelo Doutor Michael Bergmann, Diretor do Marine Services da Jeppesen e Presidente do Comité Internacional Radio Marítimo, pelo Mr. Jan Haugh Kristensen, da Kongsberg e pelo Engenheiro Augusto Bata, Diretor Geral do Instituto Nacional de Hidrografia e Navegação de Moçambique, tendo sido moderado pelo Chefe de Gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, CALM Seabra de Melo. Nesta sessão foi debatida a formação em hidrografia, a utilização de dados hidrográficos em modernos sistemas electrónicos de informação de navegação, novos pro- dutos ao nível de sondadores multifeixe e a organização e as prioridades de desenvolvimento da hidrografia em Moçambique. A Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional presidiu à Sessão de Encerramento, na presença do Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, Almirante José Saldanha Lopes, do Presidente da Organização Hidrográfica Internacional, Mr. Robert Ward, do Subdirector da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Prof. Doutor José Rebordão, e do Diretor-geral do IH. Esta sessão teve início com uma lição de sapiência do orador convidado, o Professor Emeritus David E. Wells, da University of Southern Mississipi, E.U.A., sobre a evolução dos sistemas de posicionamento por satélite. O Professor David Wells desenvolveu uma intensa atividade de investigação científica em física e geodesia espacial, no Bedford Institute of Oceanography, no Canadá, entre 1965 e 1980. É Professor Emeritus do Departamento de Geodesia e Engenharia Geomática da Universidade de New Brunswick, no Canadá, onde começou a ensinar em 1980, tendo-se reformado em 1998, embora tenha continuado a manter uma intensa atividade universitária. Desde 1999 ensina no Departamento de Marine Science da University of Southern Mississippi, nos Estados Unidos da América. O Professor Dave Wells é autor de livros e publicações de referência no domínio da hidrografia e geodesia por satélite. Foi membro do International Board on the Standards of Competence in Hydrographic Surveying, foi conselheiro do Ministro das Pescas e Oceanos do Canadá, esteve na origem do primeiro Curso de Sondadores Multifeixe e criou o Ocean Mapping Group da Universidade de New Brunswick. Entre os que tiveram o privilégio de o ter como professor na Universidade de New Brunswick, encontram-se diversos alunos portugueses, dos quais alguns oficiais de Marinha, no âmbito do Curso de Engenheiro Hidrógrafo. É conhecido o seu gosto por Portugal e é, igualmente, um grande apreciador de Fado. Seguiu-se a alocução do Diretor-geral do IH, por ocasião do 53º Aniversário do IH, na qual começou por destacar a linhagem do IH, que remonta a 1834, quando foi retomada a organização permanente dos serviços hidrográficos nacionais. Prosseguiu, referindo que atualmente o IH, na sua missão de desenvolver produtos de informação tendo em vista a sua aplicação militar, científica e militar, adquire uma grande quantidade de dados, num esforço em que participam uma brigada hidrográfica, uma equipa de engenharia oceanográfica e os navios hidrográficos da Marinha. Salientou que a análise e a difusão de dados sobre o Mar, e as previsões oceanográficas são feitas por pessoal experiente, com recurso a modernos laboratórios, modelos matemáticos e à maior base de dados nacionais de observação do oceano, com um sistema de informação dedicado e um serviço de atendimento ao utilizador. Também destacou a participação do IH em diversos projectos de investigação científica e de desenvolvimento tecnológico, essenciais para o apoio às políticas públicas associadas às ciências do Mar e às ações preconizadas na Estratégia Nacional para o Mar. Salientou particularmente o apoio proporcionado à Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental, a implementação de um sistema de observação multidisciplinar do mar na ZEE nacional e a manutenção da única escola nacional de formação em hidrografia, aberta à frequência da sociedade civil. Também referiu a participação do IH em diversos projetos multidisciplinares dinamizados pela União Europeia e a relevante atenção dada a produtos e serviços inovadores, tomando como exemplo o apoio ao Comando Naval e à Direção-geral da Autoridade Marítima, no âmbito da previsão meteo-oceanográfica, tendo alguns desses produtos sido adaptados para apoiar várias atividades desenvolvidas pela comunidade civil, como acontece com o serviço público de previsão das condições para a prática do surf, um recente contributo do IH para a economia marítima nacional. Ao terminar, referiu que o IH tem o Mar por vocação e o conhecimento na ação, numa profunda tradição histórica, com uma longa experiência e um valioso acervo científico, fruto do trabalho reconhecido e persistente de todos os que dirigiram esta instituição ou nela prestaram serviço, ao longo dos últimos 53 anos. Referiu ainda que o IH tem vindo a consolidar a sua posição a nível do reconhecimento internacional, pelas capacidades multidisciplinares de que dispõe, pela utilização das mais recentes tecnologias e práticas, e pela formação de alto nível que proporciona, no âmbito das ciências e técnicas do mar. Seguiu-se a imposição de condecorações ao Prof. Doutor David Wells e ao CMG Carlos Ventura Soares, ambos agraciados com a Medalha Militar de Cruz Naval. O programa do seminário finalizou com a intervenção da Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, na qual começou por manifestar a satisfação em estar pela primeira vez no IH, no encerramento de uma jornada de informação e debate sobre matérias relacionadas com o Mar, que considerou de grande significado e prestígio para o IH, para a Marinha e para Portugal. Na continuação, salientou que o nosso País quer voltar a um rumo de crescimento e o Mar e os recursos marítimos são parte indispensável no planeamento e ação estratégica e na concretização do nosso desenvolvimento. Prosseguiu ao referir que o momento que o País atravessa exige uma intensa cooperação interinstitucional, no quadro de diversos desafios políticos, económicos, culturais, de segurança e defesa que ocorrem no Mar. Concluiu, referindo que os portugueses confiam na Marinha e no seu IH para afirmar Portugal no Mar, no domínio da oceanografia, da hidrografia, da navegação e da cartografia, como vetor de desenvolvimento estratégico, produzindo conhecimento essencial para toda a atividade marítima, desde a Marinha de recreio até ao apoio ao exercício da autoridade do Estado no Mar. As apresentações das sessões técnicas e do Professor David Wells estão disponíveis na Internet em http:// www.hidrografico.pt/sumula-seminario-hidrografia-decorrido-no-ih. php. Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 13 A MUSEALIZAÇÃO DO BARRACUDA 14 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA tente museológica. A título de exemplo refira-se o Gil Eannes, navio com uma ligação fortíssima à pesca do bacalhau, e que atualmente pode ser visitado em Viana do Castelo; o Santo André, um arrastão que pertence ao Museu Marítimo de Ílhavo, ou ainda a Fragata D. Fernando II e Glória, em exibição numa das docas secas do antigo estaleiro da Parry & Son, cuja atividade cessou há vários anos. Podem ainda ser considerados verdadeiros museus muitas das embarcações típicas, nomeadamente nos nossos rios, que procuram manter os desenhos vio em Cacilhas, na doca seca contígua àquela onde se encontra a Fragata D. Fernando II e Glória. Esta situação «permitiria diversificar e aprofundar a dinamização cultural e turística da zona de Cacilhas, em ligação ao mar e à Marinha». Nascia assim o «Núcleo Museológico Naval de Cacilhas» do Museu de Marinha. O passo seguinte foi a constituição de um Grupo de Trabalho (GT-MUSUBCUDA) destinado a desenvolver as ações necessárias «tendo em vista a docagem permanente e a preparação técnica do Submarino Barracuda para exposição e abertura ao público». O despacho de criação do GT-MUSUBCUDA definia que o mesmo deveria funcionar na dependência do Diretor da Comissão Cultural da Marinha, sendo presidido pelo Diretor do Museu de Marinha e integrando representantes do Estado-Maior da Armada, da Superintendência dos Serviços do Material, do Comando Naval, da Comissão Cultural de Marinha, assim como o Comandante da fragata D. Fernando II e Glória. O referido despacho previa ainda que o Grupo de Trabalho poderia incluir outros elementos que pudessem contribuir para os seus objetivos, tendo integrado diversos especialistas de áreas técnicas. Trabalhando em conjunto com uma equipa de técnicos da Câmara Municipal de Almada, o GT-MUSUBCUDA foi desenvolvendo todas as tarefas necessárias à colocação do Barracuda em Cacilhas. Inicialmente apontou-se como desejável que o navio estivesse na doca seca nº 1 da Parry & Son por ocasião do Dia da Marinha 2012, cujas comemorações principais ocorreram em Almada. No entanto, com o decorrer dos trabalhos verificou-se que os mesmos apresentavam um grau elevado de complexidade, tornando impossível o cumprimento desse objetivo. A principal dificuldade residiu na preparação da doca seca para receber o submarino. Estando a mesma abandonada há mais de 20 anos, o estado de degradação era elevado. A porta-batel estava bastante corroída, tornando-se necessário Fotos 1SAR A Dias E m 2 de agosto de 2010 terminou a vida operacional dos submarinos da classe Albacora e, por consequência, da 4ª Esquadrilha de Submarinos. A fim de não perder a memória viva da Esquadrilha que constituiu, verdadeiramente, o primeiro grupo de submarinos de que a Marinha Portuguesa dispôs, foi colocada a hipótese de musealizar um dos seus navios. Um pouco por todo o mundo existem submarinos musealizados, em exibição. Pode mesmo afirmar-se que a vontade de preservar para a posteridade alguns submarinos é grande. No dia 1 de fevereiro de 1851, o Brandtaucher afundou-se no porto de Kiel, tendo a bordo o seu inventor, o engenheiro alemão Wilhelm Bauer, junto com outros dois companheiros. Conseguiram escapar nadando para a superfície. No final do século XIX este submersível foi retirado do fundo e colocado em exibição, podendo hoje ser visitado em Dresden. Durante a Guerra da Secessão dos EUA, os confederados usaram o submarino Hunley para atacar um navio inimigo, o Housatonic. O nome do submarino derivava do seu inventor: Horace Lawson Hunley. O ataque foi bem sucedido, mas a carga explosiva utilizada levou também ao afundamento do Hunley, em Charleston, no dia 17 de fevereiro de 1864. Recuperado em 2000, o navio encontra-se em exibição em Charleston. Em Cartagena pode observar-se o Peral, assim batizado em virtude do nome do seu inventor Isaac Peral. Lançado à água em 8 de setembro de 1888, realizou diversas provas com algum sucesso, mas nunca chegou a ter empenhamento operacional. Aos exemplos acima apontados, todos referentes a submarinos do século XIX, poder-se-iam juntar algumas dezenas de navios do século XX, muitos deles navios que tiveram utilização operacional após a II Guerra Mundial. Este interesse particular por submarinos em exibição constitui um forte incentivo para se realizar algo semelhante em Portugal. No nosso país, conhecem-se alguns casos de navios que podem ser visitados, apesar de não existir uma forte tradição de preservar navios, na ver- originais e que navegam regularmente, de modo a transmitir uma pequena ideia daquilo que era a azáfama nos estuários. Com a imobilização dos submarinos da 4ª Esquadrilha surgiram diversas propostas, por parte de povoações do litoral, para a sua exibição pública. Nascia, deste modo, a possibilidade de perservar a recordação viva de um desses navios, concretizando, igualmente, um desejo da Marinha. A ideia de colocar o submarino Barracuda em Almada teve a sua génese em outubro 2010. Na apresentação de cumprimentos do Diretor da Comissão Cultural de Marinha na Câmara Municipal de Almada foi sugerida a possibilidade de colocação deste na- estreitas e escadas verticais, apresenta algumas dificuldades para crianças e outras pessoas com alguma limitação em termos de mobilidade. Está planeada a abertura de duas «portas» no costado do navio, ao nível dos espaços habitáveis, que permitirão a circulação pelos seus principais compartimentos. O objetivo é manter o interior do navio com uma disposição muito semelhante à que o mesmo tinha quando estava operacional. Está igualmente prevista, numa fase posterior, a construção de um edifício de apoio ao polo museológico no qual será contada a história dos dois navios que o integram: o submarino Barracuda e a fragata D. Fernando II e Glória. substituir a mesma por uma comporta, que garantisse a estanqueidade da doca. Também o seu interior estava cheio de detritos e de lodo que se tinha acumulado com o passar dos anos. Tratando-se de trabalhos bastante demorados, não foi possível ter o Barracuda na doca na data desejada. Apesar disso, o navio esteve atracado em Cacilhas, bem próximo do seu local futuro, durante as comemorações do Dia da Marinha. Finalmente chegou o grande dia! Em 25 de julho o Barracuda entrou na doca seca a ele destinada, ficando assente em picadeiros construídos propositadamente para esse fim. No entanto, os trabalhos não terminaram. A próxima fase passa pela preparação do navio para exibição ao público. O acesso normal aos submarinos, por escotilhas Colaboração da COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA RUY DE CARVALHO EM VISITA AO NRP SAGRES P or convite do Comandante do Navio, o NRP Sagres teve o privilégio de receber no passado dia 16 de Setembro de 2013 o reconhecido ator Ruy de Carvalho. Esteve presente nesta visita o Comandante da Escola Naval, CALM Bastos Ribeiro, promotor da iniciativa da visita do referido ator e da homenagem feita pela Escola Naval em 6 de junho, por ocasião dos 65 anos do início das filmagens da película "Eram 200 irmãos", de Armando Vieira Pinto. Acompanhado pela sua filha, Dra. Paula Carvalho, o ator almoçou a bordo, após uma visita aos locais que lhe recordaram a antiga Sagres, e que o devolveram aos finais dos anos quarenta, enquanto interpretava a personagem de António Jacinto, um dos Cadetes da "Camarata 21". Durante a visita, teve oportunidade de conhecer os espaços do navio, desde a cozinha ao alojamento dos Cadetes, recordando o ano de 1948, quando pela velhinha Sagres passou, para as gravações do filme que retratou a vida dos Cadetes da Escola Naval. Seguiu-se o almoço na camarinha do Comandante, que de forma bem-disposta, humilde e com saudade, foram trocadas histórias, revividos momentos, dando mesmo espaço para troca de conselhos de roteiros gastronómicos. A visita terminou com a mensagem no Livro de Honra do Navio: "Queridos marinheiros! O meu coração continua a viajar na Sagres. Obrigado pela vossa gentileza. Do vosso "Cadete adoptivo". (Ruy de Carvalho). Ao digníssimo ator, queremos agradecer a sua companhia, a sua boa disposição e que volte sempre. Colaboração do COMANDO DO NRP SAGRES REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 15 ESCOLA NAVAL CERIMÓNIADEJURAMENTODEBANDEIRAEENTREGADEESPADAS N o dia 27 de setembro, decorreu na Escola Naval a cerimónia de Juramento de Bandeira e Entrega de Espadas, presidida pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Saldanha Lopes. A cerimónia constou de entrega de espadas aos oficiais dos Curso de Formação Complementar de Oficiais e do Curso de Formação Militar Complementar de Oficiais 2011/2012 e 2012/2013, do Curso de Formação de Oficiais do Serviço Técnico 2009/2012, e juramento de bandeira e entrega de espadas aos aspirantes do Mestrado Integrado, do curso “Padre Fernando de Oliveira”, para além da imposição de condecorações a militares e civis. Esta é uma cerimónia de profundo significado, que marca um momento muito especial para os novos oficiais da Marinha, na qual assumiram um compromisso para com a sua Pátria, sob o testemunho da instituição e o olhar atento de familiares e amigos. A cerimónia iniciou-se com a imposição de condecorações a militares e civis que se distinguiram ao serviço da Marinha e do País. Seguiu-se a entrega do Prémio de “Aprumo Militar”, destinado a galardoar o aluno que, até ao fim do último periodo escolar com aulas regulares na Escola Naval, revelou possuir um conjunto de qualidades que o distinguiram como exemplo de aprumo militar. Este prémio foi atribuído à Aspirante da classe de Marinha, Diana Oliveira Martins Azevedo. Após o Juramento de Bandeira, que vinculou estes homens e mulheres à condição militar, a cerimónia terminou com o desfile dos oficiais que receberam espadas e do Corpo de Alunos da Escola Naval, que prestaram continência ao Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada. Colaboração da ESCOLA NAVAL ONRPSAGRESEMAVEIRO-VIAGEMDECANDIDATOSÀEN R ealizou-se no período de 19 a 26 de setembro, a viagem de adaptação dos candidatos à Escola Naval, a bordo do NRP Sagres, que contemplou uma visita ao Porto de Aveiro de 21 a 23 de setembro. O objetivo desta missão foi validar a aptidão para a vida no mar na fase final do processo de seleção dos futuros cadetes da Escola Naval. Após apresentação e receção a bordo pelo Comando do navio, tendo presente o curto tempo de viagem, os 56 candidatos foram integrados nas respetivas secções. Com o importante auxílio e coordenação do pessoal de bordo, ajudaram as primeiras manobras de pano, na saída do navio do Porto de Lisboa pela barra norte, rumo a Aveiro. Nesta primeira tirada, o vento do quadrante norte não favoreceu a navegação à vela em pleno, tendo o mar picado deixado marca nos candidatos que iniciaram os seus quartos e as idas “à borda”. Mesmo com este percalço, os candidatos incorporaram os serviços de bordo, colaboraram nas fainas de velas, e entre as horas ao leme, vigia, adjunto à navegação e ao Oficial de Quarto, tomaram os primeiros contactos com a vida de um navio no mar. No dia 21 pela manhã, aquando da chegada ao Porto de Aveiro, e por detrás do nevoeiro que se fazia sentir, o navio foi surpreendido com dezenas de embarcações na barra e algumas pessoas espalhadas pelas margens, fruto da forte divulgação efetuada, tendo o navio sido acompanhado na entrada da ria de Aveiro até ao cais no Terminal 16 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA Norte, na Gafanha da Nazaré. Durante a estadia do navio no Porto de Aveiro, visitaram o navio mais 5.000 visitantes, tendo os candidatos integrado o grupo de serviço, mostrando desde logo um enorme orgulho nas explicações sobre a “barca”, considerando já um pouco como o “seu” navio. Uma delegação do navio, incluindo o Comandante, participou na inauguração da exposição fotográfica de Roberto Santadreu, evocando o “Mar de Camões”, no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré. No dia 23, com ventos atípicos de Oeste, o navio saiu a barra de Aveiro com pano latino e rumou a sul, tendo os ventos dos quadrantes SW inviabilizado a intenção de navegação apenas à vela, habitual na navegação norte-sul na nossa costa. Com a previsão de mau tempo no horizonte, ainda foi possível o navio permanecer na zona de Sines / Espichel para garantir treino próprio e integração dos candidatos, entrando o navio a barra sul do porto de Lisboa na madrugada do dia 26. Na chegada à BNL era visível o sentimento de missão cumprida para a maioria dos candidatos que iriam iniciar em breve o 1º ano da Escola Naval, existindo ainda muitas interrogações para um pequeno grupo que superava as vagas do concurso, expectantes quanto ao seu futuro. Colaboração da COMANDO DO NRP SAGRES PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL N COMANDANTE QUIRINO DA FONSECA ascido em 4 de junho de 1868 na cidade do Funchal, Henrique Quirino da Fonseca frequenta o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, tendo terminado o respetivo curso em 1888, ano em que ingressa na Escola Naval. Viviam-se então tempos conturbados em África já que, de acordo com a Conferência de Berlim, a presença e ocupação por parte dos países colonizadores sobrepunham-se aos seus direitos históricos, facto que leva a Marinha a reforçar a sua acção naquele continente. Assim, a partir de 1893, o Guarda-marinha Quirino da Fonseca inicia a sua carreira militar na Divisão Naval do Atlântico Sul, onde é sucessivamente oficial imediato do navio transporte Salvador Correia, secretário do governador do distrito do Congo e em Novembro de 1897 tem o seu primeiro comando, o da lancha-canhoneira Cacongo, que desenvolve intensa atividade em águas de Angola. Após uma curta estadia na Metrópole, onde exerce o cargo de capitão do porto de Olhão, assume a função de ajudante de campo do Governador Geral de Angola, sendo nomeado residente em Cabinda. Em 1901 comanda a corveta mista Bartolomeu Dias, a que se segue a canhoneira Liberal. Termina a sua comissão em Angola em 1907 completando 14 anos de serviço naquele território. Ajudante do Corpo de Marinheiros, em fins de 1915 é oficial imediato do cruzador Adamastor que larga para Moçambique. Entretanto, em março de 1916, a Alemanha declara guerra a Portugal. Nesse mesmo mês o cruzador apresa navios alemães surtos em portos de Moçambique e em Maio participa em operações de guerra na foz do Rio Rovuma. O Capitão-tenente Quirino da Fonseca, comandante da esquadrilha das embarcações do navio, entra no rio e ataca os postos alemães. É-lhe concedida a Medalha da Cruz-de-Guerra de 1ª Classe, pela decisão, coragem, espírito de sacrifício que mostrou durante as operações dos dias 21, 23 e 27 de maio de 1916. Presta depois serviço na Direção Geral da Marinha e em Maio de 1918 parte para Moçambique como 2º comandante do Batalhão Expedicionário de Marinha, unida- de para que se tinha voluntariado. Terminada mais uma comissão em África, passa a chefiar departamentos da Intendência do Arsenal da Marinha a que se seguem os da Superintendência dos Serviços da Armada. Comanda o cruzador República que, integrado na Divisão Naval Colonial, efetua o périplo de África de outubro de 1924 a junho do ano seguinte. Embora possuidor de uma notável carreira militar é principalmente na área cultural que o Comandante Quirino da Fonseca se distingue e perdura na memória da Marinha. Em 1923 é nomeado para identificar objetos existentes nos estabelecimentos do Estado e noutras situações que merecessem fazer parte do Museu Naval. A partir desse ano, que marca o começo dos trabalhos com vista ao desenvolvimento e modernização do Museu, participa ou preside a todas as comissões relacionadas com este projeto. Com a saída da Escola Naval para o Alfeite em novembro de 1936, o Museu e a Biblioteca tornam-se autónomos sendo o Comandante nomeado, em março de 1937, diretor destes dois organismos. Foi igualmente um ilustre arqueólogo, filólogo, ensaísta, novelista e historiador das navegações portuguesas dos séculos XV e XVI. É autor de uma extensa biblio- grafia que inclui não só livros como diversas monografias, conferências públicas e comunicações académicas. Cite-se o “Memorial dos Adjectivos da Língua Portuguesa”, em que mostra o seu profundo conhecimento de textos literários, a “Representação Artística das Armadas da Índia” onde ressaltam as suas qualidades de crítico de arte, como dramaturgo e novelista escreve “Trinca-Fortes”, um relato da vida de Camões e as “Viagens Maravilhosas de Aventureiros Portugueses dos Tempos Idos”. De entre os seus valiosos trabalhos sobressai, sem dúvida, “A Caravela Portuguesa e a Prioridade Técnica das Navegações Henriquinas”, obra magistral só possível devido às excecionais qualidades de historiador e arqueólogo do seu autor. Constitui o estudo mais completo sobre o navio que teve um papel decisivo na Época das Descobertas e originou uma viva polémica, no ponto de vista técnico, entre o Comandante Quirino da Fonseca e o Almirante Gago Coutinho. De salientar igualmente os artigos do Comandante nos Anais do Clube Militar Naval, de que se destacam “Memórias da Arqueologia Naval Portuguesa” publicadas de 1915 a 1920, trabalho que levou a Associação de Arqueólogos Portugueses a elege-lo, em junho de 1920, seu sócio efetivo. A sua frutuosa atividade cultural teve público reconhecimento com a atribuição, em 1930, do grau de grande oficial das Ordens Militares de S. Tiago e Espada e de Avis e em dezembro de 1931, por deliberação da Academia de Ciências de Lisboa, de que era sócio correspondente, foram-lhe concedidas as Palmas Académicas de 1ª Classe de Altos Estudos em homenagem aos seus distintos méritos. Era igualmente membro da Academia Nacional de História e sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa. Mesmo na situação de reforma continuou a dedicar-se a assuntos culturais sendo a sua última nomeação, em 1939, para acompanhar a construção e o aparelhamento da nau S. Gabriel. Em 6 de junho de 1939 falecia em Lisboa o Capitão-de-mar-guerra Henrique Quirino da Fonseca, uma referência marcante entre os Marinheiros que se distinguiram na área da Cultura. REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 17 UMA FOTOGRAFIA - TESTEMUNHO DO COMANDANTE E screver sobre o desfile de grandes veleiros, realizado no Tejo, em 22 de julho de 2012, é escrever sobre um dos momentos mais emocionantes do meu período de comando da Sagres. É, por isso, um relato pessoal, mas que constitui também um testemunho, para memória futura, de um momento único e inolvidável para todos os que o vivenciaram. Feita esta nota prévia, importa referir que este desfile marcou o encerramento da passagem dos grandes veleiros por Lisboa, no âmbito das “Tall Ships Races”. A estadia dos grandes veleiros na zona de Santa Apolónia, entre 19 e 22 de julho, tinha sido um verdadeiro sucesso. Contudo, o ponto alto seria, como é habitual, a sail parade no Tejo, na tarde de domingo, dia 22 de julho. Como tem sido comum sempre que os tall ships vêm a Lisboa, a Sagres foi escolhida para liderar esse desfile náutico, que se iniciaria com a sua passagem sob a ponte 25 de abril. A bordo, tudo tinha sido preparado para que o navio pudesse içar e caçar todo o pano "de tacada": as vergas estavam todas içadas e corretamente mareadas, sendo que o pessoal (guarnição e cadetes) tinha as adriças e as escotas todas na mão. Neste tipo de desfiles, procura-se sempre içar e caçar todo o pano possível, de forma a brindar os espetadores com imagens dos navios a navegarem à vela em toda a sua plenitude. Porém, naquele dia, o vento soprava de N/NW com cerca de 20 nós na zona da ponte, refrescando para quase 30 nós mais para jusante, o que comprometia a saída da barra do porto de Lisboa com o pano redondo, dada a dificuldade da Sagres em bolinar com o vento aparente em marcações inferiores a 60˚. De facto, para um navio que arma em barca, como a Sagres, o vento estava nos limites, tanto em direção (por estar na fronteira da orça exequível), como em velocidade (pois com ventos acima dos 20 nós é desaconselhável, por motivos de segurança, a utilização das velas que compõem a “crista” do navio: giba, 18 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA entremastros altos, gafetope e sobres). Na análise à meteorologia, durante a manhã, concluíra que a única forma de sair a barra do Tejo com todo o pano içado e caçado seria com a máquina a trabalhar a ré para, por um lado, fazer com que o vento aparente abrisse, evitando ficar com o "pano às costas", e por outro lado, diminuir a velocidade do navio (que, de outra forma, seria bem superior aos 5 nós estabelecidos, pela organização, como velocidade do desfile). De qualquer maneira, exatamente à passagem por debaixo da ponte, foi dada a ordem para içar e caçar todo o pano “de tacada” e todo o velame se abriu em poucos segundos – com a Sagres a exibir toda a beleza das suas alvas velas. Rapidamente, o navio começou a ganhar velocidade, adornando bastante para bombordo. Tendo bem presentes as implicações correspondentes, mandei colocar a máquina a ré. Contudo o vento foi aumentando de intensidade, para quase 30 nós, obrigando a meter a máquina a ré meia força e, depois, a ré toda a força, de forma a evitar que o pano ficasse “às costas”. Nessa altura, a Sagres navegava com um adornamento de quase 15˚, perfeitamente visível nalgumas fotografias que então foram tiradas. Como era esperado, as velas da mezena dificultavam bastante a ação do leme, na medida em que forçavam o navio a orçar, facto que obrigou a meter o "leme de encontro" para que este seguisse no rumo desejado. Nessas condições, o desfile foi todo feito com 20˚ de leme a bombordo, o que significava que, se fosse necessário guinar para bombordo, a manobra revelar-se-ia extremamente difícil, pois já só era possível meter mais 5˚ de leme a esse bordo. Acresce ainda que o efeito do leme era inferior ao habitual, pois o hélice estava a rodar a ré, não havendo descarga de água sobre a porta do leme. De qualquer maneira, com a máquina a ré toda a força, o leme 20˚ a bombordo e o vento aparente acima dos limites de utilização normal, foi possível mostrar toda a imponência da Sagres – no ano do seu cinquentenário ao serviço de Portugal e no porto que lhe serve de base – liderando um desfile de 45 grandes veleiros, a que se associaram centenas de pequenas embarcações que emprestaram um colorido inigualável ao rio Tejo. Testemunha privilegiada desse momento foi o Presidente da República, que viajava num avião de regresso de uma visita de Estado ao estrangeiro, em aproximação ao aeroporto da Portela, tendo sobrevoado a Sagres no exato momento do desfile. Contudo, só no dia seguinte toda a guarnição se daria conta do espetáculo proporcionado pela sua barca. Nesse dia, já em plena regata para Cádiz, recebi, da APORVELA (organizadora do evento), a fotografia aérea que serve de mote a este testemunho. Divulguei-a internamente e, ainda nesse dia, quase todos os PCs existentes no navio já tinham essa fotografia como wallpaper. Parecia um vírus a propagar-se! De facto, o cenário proporcionado pela frente ribeirinha de Lisboa, com o estuário do Tejo pejado de embarcações, constituiu um complemento paisagístico de excelência para a Sagres. Foi, assim, um daqueles momentos felizes em que tudo se conjugou para permitir uma fotografia magnífica, que desde logo se tornou num dos ícones da Sagres! N. Sardinha Monteiro CFR DOIS TESTEMUNHOS TESTEMUNHO DO FOTÓGRAFO P oder escrever sobre um momento tão único, é no mínimo um desafio; um agradável desafio! Tratando-se de um momento tão especial, poderia julgar-se tal desafio como um simples exercício de transcrever recordações desse dia, num discurso fluído e tranquilo em análoga comparação com o Rio Tejo que serenamente se dirige para o mar. Mas efectivamente não o é! E não o sendo, não significa contudo que exista algo de negativo nisso. Muito pelo contrário! Sinto-me como no centro de um enorme tropeço de emoções e recordações que se atropelam na necessidade de querer ver a luz do dia quando enclausuradas por um longo ano! Enquanto fotógrafo, independentemente do que vou fotografar, ou do que me é pedido para fotografar, existe sempre um ego para alimentar. Existe a necessidade de querer fazer sempre melhor e a necessidade de captar algo que nos surpreenda a nós próprios. Fotografar o NRP Sagres foi sem dúvida um dos momentos em que todas as medidas foram amplamente preenchidas. Mais do que a simples fotografia desses momentos é preciso realçar não só o quão surpreendente poderão ter sido as fotos, mas sobretudo, o quão surpreendente foi o momento e toda a sua envolvente. Estava inicialmente previsto, após levantar voo da base aérea de Tires, ter aproximadamente 30 a 40 minutos para poder fotografar o desfile. No entanto, por todos os constrangimentos associados ao espaço aéreo, o tempo efectivo para fotografar terá sido reduzido a uns meros 10 a 15 minutos. Se o momento já era de nervoso miudinho, toda essa espera fez aumentar exponencialmente esse sentimento. No entanto, essa situação também teve os seus pontos positivos! Aguçar os sentidos, e ter a consciência que não haveria espaço a deslizes! Nada de ensaios, nada de rede! Toda a adrenalina à flor da pele! Um verdadeiro chegar, apostar e vencer! Desde logo era impressionante a quantidade de barcos a navegar no Tejo. Um rio que nos habituámos a tão majestosamente ver abraçar Lisboa, parecia nesse dia tão pequeno com tão grande quantidade de barcos a navegar nele! E por entre todos eles, por entre esse alegre frenesim de que o Tejo era palco vinha a “nossa” Sagres, imponente e encantadora deslizando serena e jovialmente aos pés de Lisboa. Tivemos de permanecer junto à Cova do Vapor, sem que nos fosse dada autorização pela torre de controlo para avançar. Assim, foi daí que vi a Sagres passar por baixo da Ponte 25 de Abril, e a todo o pano rasgar as águas do Tejo e abrir caminho a todos os barcos que se lhe seguiam. Se de longe o cenário era fantástico, o melhor estava realmente para vir. Quando finalmente avançámos, já a Sagres se encontrava quase a chegar ao actual museu da electricidade. Sabia que seria o tudo ou nada, pois fui alertado pelo piloto que teríamos pouco tempo para permanecer no local. Era efectivamente impressionante a quantidade de barcos que escoltavam a Sagres. E mais do que tudo isso a quantidade de pessoas que à beira-rio viam o desfile! Foram momentos breves mas ao mesmo tempo eternos. Todo o conjunto de acontecimentos era tão único que todas as fracções de segundo parecem ficar claramente gravadas na retina. Em termos fotográficos as condições eram perfeitas. Não obstante o enorme calor que se havia sentido no dia anterior, nessa manhã soprava uma brisa bastante agradável e o céu estava limpo. Mas mais importante que tudo, a atmosfera estava bastante límpida. Além disso um cenário magnifico tanto em terra, com a zona dos Jerónimos como fundo e uma multidão à beira rio, como no Tejo com a ponte 25 de Abril e as centenas de barcos que acompa- nhavam o desfile, permitiu que conseguisse captar imagens magníficas da Sagres. Após a primeira aproximação, fomos obrigados a abandonar o local e a regressar novamente para a Cova do Vapor. Quando novamente nos foi autorizado avançar, sabia que não haveria nova oportunidade, pois o tempo de voo esgotava-se. Foi novamente um tudo ou nada! Fizemos uma primeira aproximação, mais ao largo e a menor altitude, subindo gradualmente enquanto passávamos pela popa da Sagres e seguíamos para estibordo. A segunda aproximação foi em tudo idêntica mas não tão afastada quando estávamos a bombordo. E finalmente, a última aproximação. Recordo-me perfeitamente que voávamos à mesma altitude da segunda aproximação, pelo que disse ao piloto para descer gradualmente e tentar passar pela proa o mais devagar e estável possível. Foi nesse momento que foi efectuada toda a sequência de fotos da qual se retirou a imagem que serviu de capa à última edição do Livro da Sagres do Comandante António Manuel Gonçalves. Orgulhosamente, mas igualmente de forma bastante modesta, é uma alegria enorme sentir que no jogo do “tudo ou nada” foi um “tudo” que vingou, tendo conseguido captar a emoção de um momento tão único e especial para tantas pessoas. Enquanto fotógrafo, sentir que uma fotografia minha conseguiu ser o tão falado espelho de mil palavras, é indescritível. Condensar todo um conjunto de sensações e sentimentos numa imagem que tem a magia de os despertar novamente em todos aqueles que o viveram directamente ou que de outro qualquer modo o presenciaram é sem dúvida a prova de dever cumprido! Assumindo uma vez mais que uma imagem vale mais do que mil palavras... o que dizer quando sinto que a emoção desse momento tão único vale mais do que mil fotografias?... Obrigado por tão grande privilégio e um agradecimento especial à APORVELA que planeou e contratou esta sessão fotográfica. João Pereira Gomes REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 19 TOMADAS DE POSSE SUPERINTENDENTE DOS SERVIÇOS DO MATERIAL Foto Rafael Calvelas ● No passado dia 28 de junho, na Casa da Balança, ocorreu a cerimónia de tomada de posse do Superintendente dos Serviços do Material, VALM Macieira Fragoso que rende o VALM Oliveira Viegas, que foi presidida pelo CEMA, ALM Saldanha Lopes. Estiveram presentes para além do VICE-CEMA, diversos Oficiais Generais, pessoal em serviço na Superintendência e diversos oficiais, sargentos, praças e civis. Após a condecoração do anterior Superintendente com a Medalha dos Serviços Distintos - Ouro, foi lida a Ordem, usou da palavra o novo Superintendente do que é de realçar: “… Mas,… importa aqui sublinhar que a escassez de recursos implica que a coordenação e a cooperação entre os diversos sectores da Marinha que em quaisquer circunstâncias se impõem na atual situação, considero, que é decisiva…. Vivemos tempos de exceção, mas temos que nos preparar para assim que possível recuperarmos as melhores práticas na manutenção da esquadra, das infraestruturas e do aprovisionamento de material. Ao mesmo tempo que temos que encontrar todas as soluções que permitam estender a vida dos navios mais velhos, temos que manter os navios que irão continuar ao serviço ainda por bons anos e temos que preparar a substituição das corvetas e dos patrulhas, pelos novos meios….”. Por fim discursou o ALM CEMA, sendo de referir: “…. Adicionalmente, importa dar seguimento ao programa de modernização das fragatas, garantindo a sua operacionalidade e interoperabilidade para os próximos anos, mitigando assim o risco de obsolescência logística de alguns sistemas, e assegurando que estes navios mantêm o seu valor combatente. No domínio dos transportes, há que prosseguir a renovação do parque de viaturas e adequar as embarcações de apoio às necessidades atuais. Em termos de infraestruturas é importante continuar o esforço até agora realizado….”. O VALM Luís Manuel Fourneaux Macieira Fragoso nasceu em Lisboa, tendo concluído a licenciatura em Ciências Militares Navais – Marinha na EN em 1975. Especializado em eletrotecnia, frequentou o CGNG, o “Senior Course” do Colégio de Defesa da NATO, o Curso de Promoção a Oficial General e ainda diversos cursos de atualização e aperfeiçoamento de que se destacam os relacionados com a preparação para as Fragatas Vasco da Gama. Fora da Marinha frequentou a Pós-graduação da Universidade Católica em Segurança e Defesa. Serviu em diversas unidades navais, desde D/M´s a FF´s como chefe de serviço de navegação, de eletrotecnia e imediato, de que se destaca o de imediato na primeira guarnição da fragata Vasco da Gama. Comandou a lancha de fiscalização Açor e o patrulha Rovuma. Desempenhou as funções de Chefe das Secções de Segurança Militar e de Informações Estratégicas da Divisão de Informações do EMA e na DSIT (atual DSF), esteve envolvido na gestão do programa de formação das guarnições das FF´s Vasco da Gama. Desempenhou funções na Divisão de Operações do EM Internacional da OTAN (IMS), em Bruxelas, onde foi responsável pelo estudo e aconselhamento em matérias relativas à política, planeamento e treino de gestão de crises, bem como oficial de ligação do Comité Militar da NATO ao Colégio de Defesa da NATO. Foi depois Diretor de Instrução da EN, esteve como assessor do MDN e dos Assuntos do Mar onde teve oportunidade de exercer assessoria em relação aos assuntos militares de Marinha e dos assuntos do mar. De seguida, ainda no MDN ocupou o cargo de Subdiretor Geral de Armamento e Equipamentos de Defesa, onde esteve encarregado da condução dos programas de aquisição para a Marinha. Como CALM assumiu o cargo de DSF, seguido do Comando da EN e como VALM foi Diretor do (IESM), após o que foi nomeado para o cargo de Inspetor-Geral da Marinha ficando em acumulação. Da sua folha de serviço constam diversos louvores e condecorações. SUPERINTENDENTE DOS SERVIÇOS DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO ● No passado dia 4 de outubro, tomou posse o Superintendente dos Serviços de Tecnologias da Informação, CALM ECN Rapaz Lérias, em cerimónia que decorreu no salão de reuniões da Direção de Análise e Gestão da Informação, presidida pelo VCEMA, Valm Carvalho Abreu. Assistiram à cerimónia ilustres convidados, diversos oficiais generais e numerosos oficiais superiores, bem como a maioria dos oficiais, sargentos, praças e civis que prestam serviço nas várias unidades orgânicas da SSTI. Em momento anterior à tomada de posse, o superintendente cessante, CALM EME Gameiro Marques, recentemente empossado como secretário-geral adjunto do MDN, foi publicamente louvado pelos serviços relevantes e distintíssimos prestados à Marinha e ao País. Das palavras proferidas na ocasião pelo novo Superintendente, sublinha-se a clara referência ao superior propósito de criar vantagens competitivas à Marinha pela potenciação da informação e do conhecimento, vetor integrador da missão da SSTI, bem como a alusão aos temas sectoriais de apoio à visão que estão na base dessa missão, nomeadamente a consolidação organizacional, a eficiência para desenvolver e melhorar continuamente os processos, a informação e o conhecimento para conferir supremacia na decisão e a inovação, atributo que sintetiza bem a forma de estar e de sentir da SSTI. Referiu ainda que o facto do setor de tecnologias da informação, como a Marinha no seu conjunto, enfrentarem grandes dificuldades, constitui um motivo acrescido para, com lealdade, rigor e determinação, redobrar esforços em estreita articulação com os outros setores da Marinha, de modo a assegurar à Marinha os recursos informacionais indispensáveis ao cumprimento da missão. Por seu lado o VCEMA, realçando a exigência das funções do cargo, evidenciou a necessidade de as realizar com grande dedicação e empenhamento, tendo em consideração os novos desafios suscitados pelas restrições orçamentais e pelas reformas em curso no âmbito da DN. Referiu, em particular, o imperativo de se prosseguir com a consolidação da gestão estratégica, onde se inclui a Bu20 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA siness Intelligence e a governação da capacidade de gestão de projeto, e de continuar com os estudos relativos à desmaterialização de processos. O VCEMA mencionou também a importância de se concluir com brevidade os projetos do BRASS e do GMDSS, de se prosseguir com a edificação da capacidade de Conhecimento Situacional Marítimo e de se consolidar o sistema de informação da Autoridade Marítima. Por fim, sublinhou que em tempo de mudança e reestruturação como aquele que se vive presentemente, a manutenção da qualidade dos serviços das Tecnologias da Informação e da Comunicação é vital para o funcionamento da Marinha, constituindo instrumento insubstituível de suporte das transformações que permitem libertar recursos da área do apoio para a linha da frente. O CALM ECN Rui Manuel Rapaz Lérias nasceu em Setúbal, ingressou na EN em 1975, tendo iniciado a sua carreira em 1979. Serviu a bordo durante sete anos, no NRP João Roby e no NRP Alm Magalhães Corrêa, onde exerceu o cargo de chefe de departamento de Propulsão e Energia. Durante este período, participou em diversos exercícios e operações nacionais e NATO, integrando por duas vezes a STANAFORLANT. Depois de obter o grau de mestre em arquitetura naval militar no Reino Unido, foi chefe da Divisão de Construção Naval do extinto GE e desempenhou diversificadas funções nos grupos de projeto ligados à aquisição dos Submarinos “Tridente” e dos NPO “Viana do Castelo”, tendo chefiado ambos os grupos entre 2001 e 2004. Foi chefe do Departamento de Construções da DN e mais tarde subdiretor dessa direção, depois de uma breve passagem como assessor da Administração do AA. Ocupou desde o início de 2008 até fins de 2011os cargos de Coordenador das Áreas de Ensino de Administração e de Ensino Específico da Marinha no IESM. Serviu no EMA, onde foi assessor do VCEMA, tendo sido investido no cargo de Diretor Interino do Serviço de Formação no fim desse ano. É desde 4 de Outubro SSTI, cargo que acumula com o de DSF. Frequentou os três cursos de carreira (CGNG, CCNG e o CPOG), bem como outros cursos de natureza específica vocacionados para área do material. Na sua folha de serviço constam vários louvores e condecorações entre as quais se destacam duas medalhas militares de serviços distintos, grau prata. ESCOLA NAVAL RENASCIMENTO DO REMO NA ESCOLA NAVAL O Clube dos Aspirantes de Marinha composto por alunos da EN, criado em 1888, teve como uma das justificações iniciais a prática do remo. É assim inequívoca a tradição centenária do remo na Escola Naval (EN). Apesar de um longo período de inatividade, fruto de um apoio próximo da Associação Naval de Lisboa (ANL) – Remo e algum empenhamento de um grupo de oficiais, foi possível em 2011, reativar a modalidade através dos cadetes da EN. A primeira participação desportiva ocorreu em outubro desse ano, com duas equipas em Yole 4+, na regata organizada pelo Clube Náutico dos Oficiais e Cadetes da Armada (CNOCA) e pela Associação Naval de Lisboa (ANL), no âmbito do 62º Festival Náutico e das comemorações dos 75 anos da EN no Alfeite. Ainda naquele ano, em dezembro, a equipa da EN esteve presente na “Regata dos Clubes Centenários”, organizada pela ANL, estreando uma participação em Yole 8+ e posteriormente na regata Aniversário do Clube Ferroviário de Portugal (CFP), novamente em Yole 4+. Através do incremento do nível de treino, quer recorrendo ao tanque de remo da EN quer a des- locações às instalações da ANL em Alcântara, incluindo treino de água, conseguiu-se durante o ano de 2012 participar em diversas provas na pista da Junqueira, aparecendo já resultados muito interessantes, incluindo 1ºs lugares. Com o arranque do ano letivo 2012-13 iniciámos uma equipa feminina nesta modalidade, marcando uma estreia muito positiva e reconhecida pelos clubes da zona de Lisboa, tendo o ano de 2012 terminado com as equipas masculina e feminina a obterem lugares muito honrosos. Com o apoio das Jornadas do Mar foi possível encontrar financiamento para a aquisição de uma nova embarcação para a EN, tendo esta sido entregue formalmente em cerimónia que decorreu no passado dia 30 de abril. Começou, assim, uma nova fase do remo na EN, que para além de dar maior autonomia aos remadores para o treino e eliminar a dependência de outros clubes para a participação em provas, permite que os cadetes se apresentem no plano de água orgulhosos com o seu novo Yole 4. Colaboração da ESCOLA NAVAL NOTÍCIAS CERIMÓNIA DE ENCERRAMENTO DOS SERVIÇOS DE COMUNICAÇÕES EM MONSANTO N o dia 5 de julho de 2013, às 16 horas, realizou-se no local de transmissão de Monsanto a cerimónia de encerramento dos serviços de comunicações destas instalações. Presidiu à cerimónia o comandante Naval VALM José Alfredo Monteiro Montenegro. Assistiram ao evento o Superintendente dos Serviços de Tecnologias da Informação, CALM EME António José Gameiro Marques, o Diretor de Infraestruturas, CALM EMQ João Leonardo Valente dos Santos, o último Diretor da Estação Radionaval Comandante Nunes Ribeiro, CMG REF Floriano José Gamito Candeias, representante da Empresa de Investigação e Desenvolvimento (EID), S.A., militares convidados e a respetiva guarnição. Esta cerimónia marcou simbolicamente uma viragem nas comunicações navais, permitindo a transferência da totalidade dos serviços instalados em Monsanto, reafectando recursos humanos e materiais, em resultado da concretização da primeira fase do projeto NAVTEX e do BRASS. Na alocução proferida pelo Diretor do Centro de Comunicações, de Dados e de Cifra da Marinha (CCDCM), foi salientada a importância histórica da Ex-ERN Comandante Nunes Ribeiro e, em particular, a Central Transmissora de Monsanto, tendo desempenhado um papel de relevo nas comunicações da Marinha e de Portugal durante 60 anos. CAPITANIA ON-LINE N o âmbito do cumprimento dos objetivos de modernização e racionalização da Administração Central, melhoria da qualidade dos serviços prestados e aproximação da Administração Central ao cidadão, preconizados pelo Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), criado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 124/2005, e no sentido de flexibilizar, desburocratizar e aumentar a comunicação horizontal através do recurso a tecnologias de informação e comunicação, a Direção-Geral da Autoridade Marítima disponibilizou ao público, a partir de 3 de julho de 2013, a aplicação CAPITANIA ON-LINE que estará acessível através do portal da Autoridade Marítima e página da Internet da Marinha, devidamente referenciada e em local visível. Esta ferramenta constitui uma mais-valia na aproximação dos serviços das Repartições Marítimas reduzindo a necessidade de deslocação dos utentes aos locais de atendimento. Inicialmente, esta nova funcionalidade permite efetuar a inscrição e alteração do rol de tripulação estando previsto, posteriormente, outras funcionalidades, designadamente pedidos de marcação de vistorias, pagamento de taxas através de transferência bancária, etc. REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 21 COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA MUSEU DE MARINHA – 150 ANOS Museu de Marinha celebra 150 anos de vida e história - um percurso que atravessou gerações e regimes, modas e modos de pensar e fazer Museus, condicionalismos diversos que hoje se traduzem nos alicerces do que somos e nos desafiam a questionar as futuras rotas. Quando em Julho de 1863 o Rei D. Luís fez nascer em Portugal o Museu de Marinha, o conceito de museu, de matriz europeia, seria seguramente diverso daquele que conhecemos na actualidade. Diferentes seriam também os objectivos e motivações que legitimavam a criação de instituições desta natureza. Volvidos 150 anos, conceitos, objectos e objectivos tornaram-se mais abrangentes, a par das dinâmicas sociais e culturais que contextualizam a fenomenologia em que os museus se inscrevem, desenvolvida em dois planos (independentemente da época em que se encontram): Receber e dar – Os museus recebem o legado da história e/ou testemunhos vivenciais de uma dada realidade, para em sequência dar: os museus dão garantias do estudo e preservação dos acervos, mas também os dão a conhecer, dão a oportunidade de partilha daquilo que é bem comum. Nestes últimos 150 anos o mundo mudou e os museus não se excluem dessa mudança social: dos museus elitistas, ao serviço do mero diletantismo cultural, à modernidade que reivindica a democracia cultural, há toda uma miríade de vocações e utilizações destes espaços que conduzem necessariamente à reformulação da sua missão e ao seu reposicionamento social. Novos tempos trazem novos desafios, novas exigências, na expectativa de corresponder a outras necessidades. Não basta reunir e dispor objectos numa sala que se abre ao público, porque os públicos que hoje frequentam estes espaços reclamam mais do que apenas contemplação. Encontrar os objectos no museu já não é suficiente, é necessário encontrarmo-nos a nós próprios na relação (ou na falta dela!) que estabelecemos com esses objectos. O Museu tem pois também esse papel de 22 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA propiciador/provocador de relações. Para que este desígnio se cumpra já não basta existir dedicado a uma elite cultural, é preciso alargar e estar disponível para receber todas as pessoas na sua diversidade. Daí a necessidade e insistência em usarmos o nome colectivo “público” no plural (“públicos”), como forma de reforçar a sua importância, de assegurar e salvaguardar a abertura à multiplicidade. porém esta foi a experiência embrionária que permitiu posteriormente um passo maior, em 2003. – O Museu de Marinha foi também uma das primeiras instituições museológicas nacionais a ter página na Internet; algo que hoje nos parece banal mas que em 1997 se apresentava inovador, permitindo a abertura de novas formas de divulgação, comunicação e relação com os públicos. – Em 2003 e no quadro do Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, o Museu de Marinha disponibiliza um “percurso táctil” destinado a cegos e amblíopes, inserido na sua exposição permanente, oferecendo a possibilidade de exploração táctil de 44 peças do seu acervo, representativas de 6 áreas temáticas distintas. Este percurso, suportado por legendas em braille e por dois catálogos: versão braille e versão a negro para amblíopes, ainda hoje existe (tendo sofrido ligeiras adaptações) e constitui actualmente o ponto de partida para acções específicas que desenvolvemos com pessoas cegas e de baixa visão. Estamos cientes de que tudo o que foi feito até aqui não basta para fazer do Museu de Marinha um museu acessível, mas congratulamo-nos pela travessia feita, pois dela retiramos a experiência fundamental que nos projecta nas acções presentes e futuras. Cabe ao Serviço Educativo do Museu, por inerência de funções, mediar a relação do Museu com os seus públicos e responder às suas solicitações e necessidades. Os públicos com necessidades especiais têm por isso, da parte deste Serviço, uma atenção na mesma medida: especial! Quando devidamente programadas, o Serviço Educativo proporciona a estes visitantes, apoio e recursos complementares para suprir necessidades e colmatar lacunas do discurso expositivo, seja em virtude de restrições na percepção sensorial (visual, auditiva), no processo cognitivo (nas designadas deficiências mentais, que abrangem um espectro alargado de variações), restrições em comunicar-se socialmente através da Foto Fátima Alves O ACESSIBILIDADES NO MUSEU DE MARINHA… UM MUNDO DE DESAFIOS! É neste cenário que emerge e se verifica pertinente o conceito de acessibilidade, aqui utilizado na acepção do Conceito Europeu.1 Na senda desta abertura à multiplicidade, o Museu de Marinha tem feito uma travessia de considerável relevância, a registar: – Entre 1992 e 1994 foram desenvolvidos projectos financiados pelo Secretariado para a Modernização Administrativa que dotaram o museu com condições de acessibilidade para portadores de deficiência motora: adaptação de instalações sanitárias, instalação de rampas de acesso e uma plataforma elevatória para cadeiras de rodas e visitantes com mobilidade reduzida; – Em 1995, na sequência de um protocolo estabelecido com o Centro Regional de Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo, através do Instituto António Feliciano de Castilho, foi criada em Portugal a primeira adaptação com carácter permanente de um percurso expositivo destinado a exploração táctil. A exposição teve por título Salvaguarda da Vida Humana no Mar – Elementos Históricos, esteve instalada no Pavilhão das Galeotas e constituiu um trabalho pioneiro no panorama dos museus portugueses. Lamentavelmente o carácter permanente não foi garantido, dade de públicos é um desafio que ultrapassa os limites da acessibilidade espacial, quando a inclusão está na agenda das nossas preocupações. Do ponto de vista teórico é relativamente simples e (quase!) consensual esta abertura à diversidade nos museus, porém, no que diz respeito às práticas efectivas, verificamos que são longos os caminhos ainda a percorrer. Nestes percursos, as componentes físicas apresentam-se como aquelas de solução mais simples: rampas, elevadores, legendagem em braille, áudio guias e todos os recursos que a tecnologia, os orçamentos e a imaginação nos permitam operacionalizar, para tornar o museu num lugar fruível por um leque cada vez mais alargado de pessoas, com as mais diversas características. Com efeito, as barreiras mais difíceis de transpor não são as físicas, mas aquelas que se prendem com as mentalidades factores que por via de uma qualquer forma de discriminação, mais ou menos explícita, vedam ou dificultam a participação das pessoas na vida dos museus. A acessibilidade no Museu é ainda uma provocação, um desafio sem limites e um processo em permanente construção. Defendê-la é uma das missões essenciais do Serviço Educativo, num compromisso com o futuro e de mãos dadas com a secular divisa da Marinha Portuguesa: «Talant de bien faire» – é esta mesma «vontade de bem-fazer» que norteia hoje o rumo das acessibilidades no Museu de Marinha. Olímpia Gordon Pinto Técnica de Serviço Educativo Notas: 1 "Acessibilidade é uma característica do ambiente ou de um objecto que permite a qualquer pessoa estabelecer um relacionamento com esse ambiente ou objecto, e utilizá-los de uma forma amigável, cuidada e segura. (…) Portanto a acessibilidade promove a igualdade de oportunidades e não a uniformização da população em termos de cultura, costumes ou hábitos (…)" in: Conceito Europeu de Acessibilidade - Relatório do Grupo de Peritos criado pela Comissão Europeia - 2003 2 Tal como é apresentado por Chris Barker Vd (BARKER, 2005, P. 448) Foto Rui Salta fala (deficiências na produção linguística), restrições na realização de actividades físico-motoras (coordenação motora, precisão ou mobilidade), mas também outras restrições, como as que são do foro sociocultural, como aquelas que enfrentam determinados grupos das nossas comunidades, como sejam as minorias étnicas, os imigrantes, ou ainda outros, alvo de segregação social/moral, como pessoas reclusas, ou pessoas sem-abrigo por exemplo. Para o efeito, estas visitas requerem preparação prévia, preferencialmente envolvendo docentes de ensino especial e técnicos de serviço social. Para cada caso e em função das características especificas dos visitantes em causa, são planeadas formas de abordagem, delineados circuitos e formatos de visita, disponibilizados materiais. Com vista ao alargamento desta oferta, o Museu tem também investido na produção de novos recursos. Um bom exemplo disso é o modelo de caravela (vd foto) recentemente produzido pelas Oficinas de modelismo do Museu e que brevemente integrará o circuito da exposição permanente. Sabemos no entanto que nem todas as pessoas com necessidades especiais visitam o Museu com o apoio da equipa do Serviço Educativo, da mesma forma, estamos também certos que as acessibilidades no Museu não dizem apenas respeito, muito menos se esgotam, nos públicos portadores de deficiência, muitas vezes referidos como “minorias”. Padrões reducionistas da designada normalidade não nos devem fazer esquecer que os ditos “normais” (e suposta “maioria”) terão ao longo da sua vida momentos em que saem do padrão: ou por acidente, ou porque têm filhos pequenos (ao colo ou em carrinho de bebé), por vicissitudes diversas, ou tão-somente e inevitavelmente, porque envelhecem – os mais recentes dados demográficos evidenciam um crescente envelhecimento da população europeia. A ligação óbvia entre o processo de envelhecimento e algumas das ditas deficiências não pode ser esquecida nos Museus, muito menos quando sabemos que o turismo (e o turismo sénior está em desenvolvimento) é um sector que nenhum museu deve negligenciar. Centrados no presente e com o futuro no horizonte, defendemos que este é o tempo de ampliar este conceito de acessibilidade no Museu, não deixando que este se limite à eliminação das barreiras físicas. Atender a uma crescente diversi- Bibliografia: – são o preconceito e a discriminação os principais responsáveis por uma boa parte das inacessibilidades intelectuais, sociais, lúdicas, tanto nos museus, como noutros espaços. Face a esta constatação importa traçar o diagnóstico e definir que nível de acessibilidade efectivamente almejamos para o Museu de Marinha. Abrir o Museu, torná-lo mais acessível num exercício constante e permanente, rompe provocatoriamente com as constantes de um universo há tanto tempo submetido a unidades redutoras e a uma suposta “ordem natural das coisas”. Esta mudança de paradigma implica necessariamente uma nova visão do Museu e daquilo para que este serve, naquilo que gostamos de designar por uma museologia de agência, tomando a liberdade de importar para a museologia o conceito de agência, das ciências sociais.2 No caso vertente, reportando para a necessidade de envolver todos os intervenientes no processo (decisores/directores, profissionais e visitantes) como agentes de transformação e intervenção para, colectivamente, derrubarmos as barreiras (as físicas, mas também todas as outras) que constituem factores de exclusão social, AA. VV.; (2004); Mu seus e Acessibilidade; [Temas de Museologia]; Lisboa: Instituto Português de Museus; ISBN 972776-229-8. AA. VV.; (1991); Museums Without Barriers – A new deal for the disabled: Fondation de France / ICOM / Routledge; ISBN 0-415-06994 . BARKER, Chris; Cultural Studies: Theory and Pratice; (2005); London; SAGE; ISBN: 0 761 95774 X. HOOPER-GREENHILL, Eilean; The Educational Role of the Museum; (2006); [2nd ed. 1999]; s. l.: Routledge, ISBN – z13: 978-0415-19827-1. INSTITUTO NACIONAL PARA A REABILITAÇÃO, I. P.; (2007); Plano Nacional de Promoção da Acessibilidade; Lisboa: Instituto Nacional Para a Reabilitação, I. P.; ISBN: 978-989-8051-06-6. VALE, José Augusto da Costa Picas do; Museu de Marinha. Contributos para a definição de um projecto cultural (2009); Lisboa: tese de mestrado em Museologia, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. Nota: Este artigo é repetido porque o título saiu truncado na RA nº 476 / julho de 2013. N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico. REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 23 A VEÍCULOS AÉREOS NÃO-TRIPULADOS NA MARINHA Marinha e a empresa Tekever 1 assinaram em 24 de Junho de 2013, na Escola Naval, dois protocolos que estabelecem os princípios de uma mútua colaboração industrial e científica para o desenvolvimento de atividades no domínio dos sistemas aéreos não-tripulados (também designados autónomos), com uma validade de três anos. A aquisição de sistemas aéreos não tripulados é um objetivo há muito ambicionado pela Marinha, cuja prioridade vêm ganhando peso desde a reivindicação da extensão da plataforma continental, o que tem suscitado uma maior determinação em satisfazer essa necessidade. Recorde-se que esta capacidade estava prevista no documento que define o Sistema de Forças Nacional – Componente Operacional de 2004 (SNF04-COP). A justificação deste objetivo reside na importância do contributo que este tipo de meios propicia no cumprimento de missões que requeiram capacidade em assegurar: a vigilância e o controlo dos espaços marítimos sob responsabilidade nacional; o cumprimento das missões de interesse público, designadamente, as que decorrem dos acordos internacionais e das atribuições cometidas à Marinha no âmbito do Sistema de Autoridade Marítima (AMN); e, enquanto capacidade integrada numa força tarefa, contribuir para a proteção de unidade valiosas. Contudo, as persistentes limitações orçamentais, no tocante ao reequipamento das Forças Amadas, têm inviabilizado sucessivamente a sua concretização. Com a assinatura destes protocolos, é esperado que o resultado desta parceria possa mitigar esta situação a médio/longo prazo. Tenciona-se assim, dar luz a um projeto de desenvolvimento dos sistemas autónomos aé- Como contrapartida, no final do projeto está previsto a cedência à Marinha, de três sistemas aéreos compostos por veículos do modelo AR4 Light Ray. Deseja-se desta forma, incrementar a capacidade de vigilância e controlo do espaço marítimo, contribuindo de forma direta e significativa para o programa de edificação da capacidade de Conhecimento Situacional Marítimo (CSM), consagrado na Diretiva de Política Naval de 2011. Na cerimónia, o CALM Bastos Ribeiro realçou a importância para a Marinha, e em particular para a Escola Naval, desta parceria contribuir para o esforço de inovação a nível nacional. Por seu turno, o Engº Pedro Sinogas, Diretor Executivo da Tekever, sublinhou o orgulho da sua empresa em ter a Marinha como um parceiro privilegiado no desenvolvimento de sinergias que irão consolidar as posições de liderança das duas entidades no âmbito da Economia do Mar. Aldeia Carapeto CFR M reos desta empresa para operar em ambiente marítimo, baseado na troca de conhecimento tecnológico e operacional, bem como na disponibilidade de condições de teste. Concretizando, a Tekever pretende a produção de um sistema validado operacionalmente, em que a capacidade de lançamento/recolha a partir de um navio, transmissão de dados em tempo real para bordo ou estações em terra, ou a transferência do controlo do veículo em voo entre terra e o navio e vice-versa, são alguns dos objetivos a atingir. Nota: 1 A TEKEVER SA é um Grupo Empresarial cuja atividade se centra no desenvolvimento de Produtos e Serviços nas áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação, Aeronáutica, Espaço, Defesa e Segurança. Distingue-se por produzir, em Portugal, Sistemas de Gestão e Otimização de Operações Móveis nas indústrias da Energia, Telecomunicações e Utilidades, Sistemas Táticos Autónomos de duplo uso para ar, terra e mar bem como Equipamentos de Comunicação para as Forças Armadas e Forças de Segurança. Descrição técnica Através do recurso a uma avançada tecnologia de comunicações e algoritmos de navegação, a atual versão do AR4 Light Ray destina-se às entidades militares e policiais que procurem obter um panorama de situação mais esclarecido e de uma forma mais eficiente e eficaz responder a potenciais ameaças, num cenário terrestre. As principais características deste sistema aéreo autónomo são as seguintes: Usabilidade ► Com uma preocupação focada na portabilidade do sistema, o AR4 foi concebido para ser transportado por um indivíduo apeado. Com uma estrutura dobrável e desmontável, a plataforma pode ser facilmente montada apenas por uma pessoa sem a utilização de qualquer ferramenta, e ficar pronta a voar num minuto. O sistema AR4 compreende uma estação móvel de controlo, um sensor de aquisição de dados em tempo-real, e uma unidade de controlo de voo usando uma base cartográfica geo-referenciada. Múltiplos modos de operação ► O sistema AR4 pode ser pilotado remotamente ou autonomamente desde a descolagem até à recolha, e pode ser lançado à mão ou por catapulta. O operador pode planear o local de aterragem ou decidir em tempo-real. O perfil da missão pode ser modificado em tempo-real e o sistema de controlo de voo suporta trajetórias pré-determinadas consoante se trate de alvos fixos ou do seguimento de alvos móveis, e a comutação para voo controlado manualmente. Flexibilidade das missões O payload (carga transportável) de base consiste num sensor eletro-ótico estabilizado de alta definição para vigilância diurna. Os clientes podem, ainda, escolher entre um leque variado de opções de payload, onde se incluem sensores de infravermelhos para a realização de missões noturnas ou de reduzida visibilidade. A plataforma AR4 tem capacidade para 2 kg de payload, permitindo um largo espetro de funcionalidades operacionais, incluindo equipar o veículo com sensores adicionais, ou realizar lançamentos aéreos precisos. ► 24 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA A RESILIÊNCIA NO SERVIR CLASSE CACINE Ao sexto dia do mês de Maio do corrente ano, o navio mais antigo da esquadra “cinzenta” ainda no ativo, celebrou o 44º aniversário ao serviço da Marinha. N a esteira do NRP Sagres e do NTM/UAM Creoula, com experiência acumulada e provas dadas ao longo de mais de 4 décadas, as unidades navais da classe Cacine têm o reconhecimento geral das populações piscatórias, costeiras e, pelos marinheiros e Homens do mar, que um dia foram salvos, apoiados, ou que na presença de um navio “PATRULHA” sempre se sentiram seguros no mar. Construído no Arsenal do Alfeite, o NRP Cacine efetuou as suas primeiras provas de mar em abril de 1969, sendo entregue à Marinha em maio do mesmo ano, sob o comando do primeiro-tenente Ernesto Correia dos Santos. Tendo sido estes navios inicialmente construídos para operar em África, conforme denuncia a sua silhueta esguia, com calados e proas relativamente baixos, muitas vezes são erradamente tidos como unidades navais para operar apenas em rio. Regressado do continente africano em janeiro de 1975, tem sido no oceano, ao longo de mais de 3 décadas, que estes navios têm desempenhado com grande eficácia e relativo baixo custo, as missões tipificadas que lhes são atribuídas. Das ex-colónias em África, Angola, São Tomé, Cabo Verde, aos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, às Zonas Marítimas do Sul, Centro e Norte, de Portugal Continental, os navios da classe Cacine cingiram-se, por opções estratégicas nos últimos anos, às Zonas Marítimas do Norte e da Madeira. Dos dez navios patrulhas inicialmente construídos apenas 3 se encontram operacionais. Segue nas águas do navio mais antigo da sua classe, que quase ininterruptamente vai prestando serviço na nossa Zona Económica Exclusiva, o NRP Cuanza, cujo fim da fase de reparação irá permitir integrar novamente o dispositivo naval, fazendo jus ao seu lema de bordo AD MAREM SUNT – “São pelo Mar”. Expectante para se juntar no mar aos restantes, o NRP Zaire, que aguarda o início de uma grande reparação, prevista até ao final do ano. De um vasto leque de missões, destacam-se as de salvaguarda da vida humana no mar, protecção dos recursos marinhos, protecção dos espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional, proteção da riqueza do património subaquático e o estreitamento dos laços entre a população e o mar, entre muitas outras, sendo desta forma um exemplo da política naval assente no “duplo uso”. Aguardando a chegada de novos meios, esta continua a ser a classe de navios que se faz representar no mar há mais tempo e com maiores índices de empenhamento, tendo até à data demonstrado uma resiliência no servir sem par, num esforço admirável de conciliação de vontades e das estruturas da Marinha, no âmbito da logística, manutenção e órgãos de decisão superior, assegurando que nunca falte o auxílio real e em tempo útil, a todos aqueles que dele necessitam no mar. Não sendo navios deste século, nem se podendo equiparar às novas plataformas, extra- É essa família, composta por quem acredita que os navios fazem-se e vivem dessa alma, que alimentada pelas guarnições, continua a fazer com que seja possível a estes navios navegar orgulhosa e persistentemente. Apesar da longevidade, continuam atuais e a descrever o sentimento de todos os que um dia respiraram dessa alma, estas sábias palavras… “Cada um de nós não pode em parte alguma cumprir melhor o seu dever e servir com mais honra o seu país. Aqueles que em momentos trágicos e difíceis, têm sabido mostrar o que valem como homens do mar, não podem deixar de estar extremamente agradecidos a um navio que lhes deu tamanhas oportunidades.”… Por isso, a todos saudamos fraternalmente. Àqueles que como nós, usam o botão de âncora, aos que como nós andam nos seus queridos navios. A todos que como nós, sentem um bater no coração, um tremor no estômago e um fulgor nos olhos quando pisam o convés tabuado ou couraçado de um navio – um navio da Nossa Marinha. E particularmente nos lembramos, com saudade e admiração, dos que outrora tripularam este navio, enchendo-se de lustre, cobrindo-o de renome. Antigos e ilustres comandantes que tão bem o conduziram em difíceis, delicadas e importantes missões; briosos oficiais, dedicados sargentos, galhardos marinheiros - novos e velhos, antigos e modernos. Comandantes e marinheiros, por todos nós corre o mesmo afeto a um corpo de aço e alma de fogo, a um ser vivo e vibrante que se chama o “NOSSO NAVIO”.” Cap. Ten. Sarmento Rodrigues, no texto extraído do livro “Rio Lima” de 1944 ordinariamente mais avançadas, quer tecnologicamente quer em termos de ergonomia, esta classe de navios persiste indubitavelmente também pelo empenhamento e vontade das muitas guarnições e dos muitos Comandos que por ela passaram, almejando o Servir Bem, o Servir Sempre! São navios com a alma forjada no mar revolto, com a particularidade histórica de saberem o que é navegar em rio. Tornaram-se, ao longo de diversas gerações, uma escola de vida, uma segunda casa e família, para muitos dos marinheiros que se iniciaram no mar. Em reconhecimento dos 44 anos em missão no mar, e a todos os Comandos e guarnições dos dez navios patrulhas da classe Cacine construídos para servir a Marinha, Portugal e os Homens do mar desde 1969, assinalou a data comemorando o aniversário a bordo do navio “cinzento” mais antigo da esquadra, o VALM José Alfredo Monteiro Montenegro, Comandante Naval, acompanhado do comandante da Esquadrilha de Navios Patrulhas, o CMG Rui Manuel Figueiredo Pereira da Silva. Colaboração do COMANDO DO NRP CACINE REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 25 T UM DIA A BORDO DO CACINE endo, há já algum tempo, recordado com os três primeiros comandantes do Patrulha Cacine a viagem para Angola, as suas Comissões e o seu épico regresso à Metrópole, passava já das 0800 quando chegámos ao «Cais da Marinha de Guerra», junto à Doca de Pesca do Porto do Funchal (PF). O navio, ainda hoje elegante, arfava ligeiramente e à prancha, fomos acolhidos e encaminhados pelo seu Comandante. A sua entrega, no Alfeite; o primeiro de dez depois do 10.º «Argus», e a sua recepção em Luanda em fotos, na Câmara dos Oficiais, mais nos determinaram a tomar o pulso às suas Missões actuais. Aí, estava-se já analisando o evento do dia o Centenário do Porto do Funchal! O navio, será aberto a visitas e, como tal, o P1140, apesar de recém chegado, precisará de retoques. Ao 3.º Oficial, o mais moderno, competirá fazer uma Visita Guiada a uma Escola e controlar as visitas. A Guarnição irá de licença. Mas interrupções à rotina ocorrem; um intrigante telefonema trata de um jovem Marinheiro acidentado que teve de ser internado no Hospital do Funchal (HF) Dada a demora do Hospital das Forças Armadas (HFA) em enviar um enfermeiro militar, o HF disponibiliza uma enfermeira …civil, mas, entretanto, passou dos Cuidados Intensivos para um quarto de quatro doentes requerendo restrições, até de… luz. A mãe dele (22 anos) já o veio ver e permanece em contacto. Porém, como deve ser acompanhado por um Enfermeiro Militar e o de bordo não se pode ausentar sem afectar a Prontidão SAR (2 horas!) do navio, estuda-se, no Comando de Zona, uma alternativa. Outras preocupações ocorrem; uma delas, fruto do actual nível de instrução do Pessoal, (há Praças a licenciar-se) é a das Informações do Pessoal; agora 21 items e cinco níveis. No caso surgiu durante a entrevista e a requerer uma abordagem cuidada. Outro sinal, a bordo, dessa evolução da Sociedade são as Comissões de Bem Estar e o AIGP (Adjunto do Imediato para a Gestão do Pessoal). Dada autorização para que se tocasse à Faina, subimos à Ponte, onde, segundo uma Lista (Checklist), se procedia, com um inequívoco profissionalismo, às últimas verificações dos equipamentos. Entretanto já alguém preenchera o Quadro da «Previsão Meteo». O Mestre, um Sargento de Manobra, anunciou pelo ETO (Equipamento de Transmissão de Ordens) o toque de Faina, cumpriu os Apitos da Ordenança do Serviço Naval (OSN) e concluiu: Guarnição! Está estabelecida a Condição Geral Oito, Condição de Estanqueidade Yankee (a letra Y) Faina Geral! Faina Geral!, seguindo para o Castelo (à proa) conforme definido no seu Cartão de Detalhe. Em poucos minutos completaram-se na Ponte todos os postos; o Marinheiro do Leme (Mar. MS), o dos Telégrafos (1Sarg MQ), o Comunicativo (C) e um Cabo Telegrafista (CRO), o 3.º Of. (o Navegador) e o Oficial Imediato (ambos 2TENs) 26 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA e o Comandante (1TEN) a quem o Imediato confirmou Guarnição nos seus Postos. A manobra de Largar começou e havia que, num exíguo espaço, fazer, em Marcha a Ré (três apitos curtos!) um movimento de rotação de modo a aproar o navio à saída para se ir atracar, também por EB, ao Cais da Pontinha onde já se encontravam, embandeirados, Rebocadores locais. O Jaque arriado e içado ao último e ao primeiro contacto com terra, a Bandeira Nacional envergada no seu pau foi, entrementes, passada à carangueja. Dada a Volta à Faina, assinalados o circuito exterior e as áreas interditas, embandeirado em arco, no cais uma boia anunciava a sua galharda presença junto à recente Gare Marítima, com uma longa varanda e dispondo de modernos meios para quatro Paquetes de Cruzeiro. O Pessoal de Serviço, fardado de branco, de camisa ou de corpete, guiou 258 visitantes, nacionais e estrangeiros. A Escola, mista, atrasou-se mas, instruídos os dois Professores e os miúdos, o 3.º Of. revelou-se um excelente Guia na Ponte e no canhão a vante, como chamava à «Boffors de 40mm» um entusiasmadíssimo reguila quando o Professor ordenou; «Pronto! Agora que já viram a pistola (sic!) do navio, vamos continuar a visita!» que, depois da Casa dos Geradores, ali em imperativo funcionamento, acabou, em torno da «Oërlinkon de 20mm», nos porquês? da grua e da semi-rígida (S/R). A Quica, muito pequenina, chamada por uma divertida claque oportunamente conduzida pelo Sarg. HE, acabou, depois de obstinada recusa, por vencer a prancha com a Professora. Içada, cinco minutos antes, a bandeira «Preparativa» foi com ela arriada, ao exacto minuto do Pôr-do-Sol, a Bandeira Nacional e, para Fiscalização Nocturna, de novo se apitou à Faina de Largada. Já a navegar, na asa da Ponte o 3.º Of. fez um Briefing da situação ao Comandante e Imediato e aquele fez, de seguida, uma análise, recordando que os (navios) Cercadores não sairiam para o Mar. e que no Período 4 (Das 1800 às 2400), depois de se fiscalizar o Sul se seguiria para o Parque da Reserva Natural da Rocha do Navio (RNRN), a Norte. Com Rumo Sul, em breve se avistou, a mais de 5 Milhas Náuticas (<10 Km) da costa, uma minúscula luz que se foi investigar em Ocultação de Luzes. Uma embarcação de boca aberta, entre canoa e mera chata, com um homem a bordo, sem identificação legível e sujeita a um violento balanço! Convocada a Equipa de Vistoria (EV), constituída pelo 3.º Of. e pelo Mestre e ainda por duas Praças da Bordada em baixo, ( v. 3 horas em cima), navegando os Sargentos e os Oficiais (incluindo o Comandante) a Quartos e, claro, o Comandante sempre em estado de alerta e na Ponte, durante as Inspecções. Arriada a S/R e embarcada a EV, todos envergando fatos impermeáveis (um modo de dizer), seguiram à velocidade possível, mas, naquelas condições, não se desembarcou por se temer que se virasse sobre a nossa. Da «Tiago José» nada constava no SADAP (Sistema de Apoio à Decisão da Actividade de Pesca) e do pescador J. da S., que só tinha o BI e não era o proprietário nem estava habilitado a navegar de noite conseguiu-se que, no meio de tanta inconsciência, regressasse, como asseverou, ao …Funchal. Fê-lo tão atabalhoadamente que cortou a proa do «Cacine», a ponto de só uma rápida manobra de máquinas ter evitado o pior. Perante os incumprimentos decidiu o Comandante vigiar o regresso do J. da S. que, diligentemente, se dirigiu para Câmara de Lobos, sendo disso alertados o Capitão de Porto e a PM . Cumprida a Missão, o Comandante já rendido pelo Imediato, passava das 00:30 quando recolheu a EV e, feito o relato do ocorrido, de novo se fez o «Cacine» ao largo, após três horas (habitualmente duas) consagradas a evitar que a Vistoria não redundasse num falhanço total, a pretexto do tempo. Surpreendentemente, estas espertezas ocorrem, muitas vezes, com mestres que têm tudo em ordem! Mas também com abastados donos de respeitáveis iates de família! Pelas 0625, de Quarto o 3.º Of., já se estava de regresso à Ponta do Pargo, a Oeste da Madeira, depois de se ter, a Norte, ido inspeccionar toda a área envolvente da RNRN. Os imprevistos acontecem! ”Avaria no Leme!, ouviu-se pelo ETO seguido de «Condição Especial 2D - Avaria no Leme!) e, de imediato, o Comandante interrompeu o pequeno-almoço e subiu à Ponte! Nunca será confortável ficar sem governo, muito menos num navio com 44 anos! Uma das Bombas falhou mas com a outra prosseguiu-se. Havia, ainda, outras alternativas. Pelas 0925, detectou-se na costa sul, uma embarcação à pesca. Feita uma foto com a poderosa máquina fotográfica de bordo, não se conseguiu ler o nome nem houve meio de encontrar tal silhueta no PC. Decidida a sua Vistoria, de novo a EV saltou e foi de encontro à embarcação, manifestamente de Recreio. Tratava-se da «Modesto» que cumpria com todos os requisitos (cinco páginas!). Boa Viagem! Boa Pescaria!. Devem ter sido as últimas palavras trocadas. Dada Volta à Condição Especial 2F (Two Foxtrot) - Vistoria às 10:04, quando se ouviu: Embarcação no Azimute 160 (160º)! Entretanto as rendições; Oficial de Quarto! Dá licença que entre na Ponte! e a cada Sim!, Dá licença que renda ? (vg; a Vigia) e outra voz Dá licença que entregue o Serviço? (ou vg; o Leme) e, entre si, a sucinta transcrição da situação, de modo que tudo fluísse. A bordo, todos envergam o fato de embarque, um macaco visivelmente quente, mesmo no mar, e que, convenhamos, terá, em circunstância, de ser totalmente despido. A propósito, a bordo deste vetusto navio não há Mifs. Curiosamente as coberturas, todas as do Plano de Uniformes excepto o nosso tradicional, funcional e estético panamá! O baseball cap (tradicional nos EUA!), e a boina (basca!), esta nas versões de azul a roxo e violeta, não a imaginamos na Somália. E o nosso boné, cujo francalete sob o queixo, deslumbrou os Franceses; É assim que se vê quem são os marinheiros! dissemos mas não gostaram. O caso do marinheiro acidentado, preocupação que extravasava o navio, encontrou uma solução; irá a enfermeira da Zona, que víramos a usar um bivaque que só na Escola Naval era adoptado! Pelas 1050, com dois pescadores ao corrico, punha-se a questão de ser uma MT (Marítimo Turística) mas, fotografada, confirmou-se ser uma Tight Line que será vistoriada por não constar no SADAP. O ritual repetiu-se mas, neste caso, e a pedido das entidades Regionais do Turismo, não se deveria perturbar o serviço prestado aos turistas embarcados, o que foi conseguido. Os itens fiscalizados, preenchidos presencialmente, constam de longos questionários para Pesca, Recreio ou Turismo. O da Pesca Comercial atinge as seis páginas e toca 6 matérias, além dos dados do Armador e do Mestre, que o assina. Um «Fiscrep», diariamente enviado para o Comando Naval, constará no Relatório da Missão. Depois de, na véspera, um agradável jantar, duma noite bem dormida, dum pequeno almoço reforçado e, ao almoço, dum apaladado frango, tudo confeccionado, para um Rancho Único de 33 homens, pelos Cozinheiros, Chefe e Adjunto, assistidos por um Rancheiro, pôde, então, iniciar-se o regresso ao Funchal. No exíguo Cais do Patrulha, onde por perto atraca o ferry que serve o Porto Santo, se atracou pelas 1800 e, completas as limpezas, foram con- cedidas as merecidas Licenças, saindo a Guarnição à paisana. A Missão com pessoal do Parque da Reserva Natural das Desertas (PRND) e uma equipa da RTP, ficara programada para 16, mas pelas 0730 desse dia, já a caminho, o nosso telemóvel tocou e o Comandante do «Cacine», informou: Vamos sair já para uma Missão SAR! A ida às Desertas foi adiada. De táxi, num ápice chegámos e ainda vimos os nossos passageiros, em torno da carrinha da «RTP Madeira». Como não havia tempo a perder tocou-se à Faina às 0742! Tratava-se de localizar a «Seriola» que, segundo o 2.º Cte da Zona, estava dada por desaparecida desde a meia-noite, tendo a PM já saído com uma S/R grande. Entretanto, pelo PC do SADAP, já se sabia que era uma S/R, recentemente vistoriada. Em sete minutos, havendo que rodar o navio naquele apertado espaço do porto, se deu Vol- ta à Faina de Largada!, entrando-se de Serviço a Navegar!, como, depois de apitar e instruído pelo Imediato, anunciou o Mestre. Nas Vistorias, o Comandante, o 3.º Oficial e o Mestre, são dos mais sacrificados, a par do pessoal que na Máquina, tem de estar presente, sem esquecer que atracado e sem energia de terra, têm de aí permanecer algum Fogueiro. À ordem de Avante 5!, atingimos os 13.7 nós (Máx. = 19 Nós) e ao Rumo 272, seguimos para a Ponta do Pargo, no extremo Oeste da Madeira, onde num raio de 6 mn, em torno dum dado ponto, iniciaríamos uma exaustiva busca dos sobreviventes e salvados. A duas horas de navegação, começámos a conseguir ouvir as comunicações da «Barracuda», a S/R da PM, já na busca. Entretanto alguém assinalou pela amura de BB a presença de uma baleia cuja expiração, perfeitamente visível, permitiu adivinhar o volumoso dorso e, no momento de mergulhar, a magnífica cauda elevando-se no ar antes de, com ela, desaparecer. Ficou-nos nos ouvidos uma espontânea e compensadora exclamação de regozijo: É isto que é único!. Na antevéspera, fora um lobo-marinho nadando de costas, vivíssimos os olhos antes de mergulhar… Anunciada a utilização da antena de BB para transmissão, obedecemos sem hesitação ao convite que nos foi feito: Passe para EB!». Pelas 0945, nós a vinte minutos do local, foi, a três milhas da costa, encontrada a embarcação, voltada e sujeita a uma ondulação N de 1,5m, com os dois mergulhadores desportivos nela encavalitados há dezasseis horas. Incapazes de endireitar a S/R, mas, graças aos seus fatos de borracha, sem cuidados especiais, seguiram na «Barracuda que, ainda a escassos metros de nós, desaparecia a cada cava da onda, rumo à Calheta. Uma msg SARrep (relatório SAR) foi enviada. Ao «Cacine» coube endireitar a embarcação, tarefa de que se encarregou o Mestre e três Praças da Bordada que, arriada a nossa S/R, conseguiram, naquelas condições de mar, colocá-la de braço dado, na nossa alheta de EB, a sotavento, e, com o auxílio da grua de bordo, endireitá-la. Cerca de duas horas depois, içada a nossa S/R e rebocada a baixa velocidade durante mais de uma hora, foi, pelas 1315, ao largo da Calheta, entregue, à PM. Às 1430 em ponto, o equipamento «NAVTEX» começou a imprimir a Meteorologia mas, com bom tempo, recebida com a mais olímpica indiferença. Retardada a nossa entrada pela chegada do Ferry «Lobo do Mar», foi-nos atribuído um lugar no molhe, mas agora dispondo de energia e de água! Com tudo isto houve quem tivesse perdido uma consulta de dentes e não se pense que foi o capitão do navio, bem pelo contrário! Como um navio atracado não está parado, cumpridas as rotinas pôde-se dar Licenças, mas, na Câmara, fomos encontrar o Comandante e os seus oficiais revendo o seu Relatório de Entrega, no momento em que alguém lembrou, no âmbito das Actividades Culturais, um passeio à Igreja do Monte. Acabado de chegar, um telefonema, confirma que o nosso jovem convalescente segue na segunda-feira para Lisboa! Mais um objectivo cumprido! A Missão às Desertas, soube-se, terá de ser prolongada com uma ida às Selvagens recolhendo-se, no regresso, o pessoal rendido nas Desertas Enfim, o apoio Logístico às Reservas Naturais! Um tal fervilhar de Missões que, apesar de trabalhosas, aliviam, na sua diversidade, a dor da ausência, encurtada em tempo mas hoje psicologicamente enfatizada, e, sobretudo, revigora a auto estima de quem sente a utilidade da sua sacrificada acção, o valor da entreajuda, o reconhecimento dos seus superiores e o da comunidade que servem. Bem hajam, porque essas atitudes são contagiantes! Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves 1TEN N.R.: O autor não adota o novo acordo ortográfico. REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 27 VIGIA DA HISTÓRIA 59 INVENTOS J oão Daniel, nascido em Travassos em 1722, entrou para a Companhia de Jesus em 1739, tendo seguido para a missão do Maranhão em 1741. Com a expulsão dos jesuítas saiu, sob prisão do Pará, em 1757, ficando inicialmente preso no forte de Almeida sendo , mais tarde, transferido para o forte de S. Julião da Barra onde veio a morrer no dia 19 de Janeiro de 1776. Durante o período em que esteve preso completou um conjunto de livros a que deu o título de “ Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas “ nos quais recolheu grande parte dos conhecimentos que havia adquirido e que abrangiam diversas áreas. Relativamente à navegação apresenta dois inventos que, pela originalidade, se resumem. Ao primeiro invento deu o título de: Navegar fazendo igualmente prósperos e bonançosos todos os ven- tos, enquanto que ao 2º denominou como: Invento para navegar nas calmarias. Relativamente ao 1º invento defende a utilização de velas que girem em torno dos mastros, a que intitula de velas dobadouras, dada a semelhança com os teares, velas essas que poderiam ficar sujeitas a todos os tipos de ventos . Tais velas estariam envergadas em espigões fixos em anéis cujo movimento seria transmitido, através de engrenagens, a um conjunto de remos ( 30 a 40 por bordo ) que, ligados pelos punhos, garantiriam assim o movimento ao navio. A existência destas velas não dispensaria a utilização das velas convencionais, usadas não só para o início do movimento, como quando em presença de ventos favoráveis. Não tendo necessidade de navegar aos bordos as viagens tornar–se–iam mais curtas com toda a gama de vantagens daí decorrentes. O 2º invento o sistema preconizado baseava-se na utilização de um sistema de pesos, cujo movimento seria garantido por uma roda movimentada, pelos pés, por um ou dois marinheiros. O movimento da roda seria transmitido ao sistema de remos do invento anterior garantindo assim o movimento do navio. Segundo o autor, este 2º invento poderia, com pequenos ajustes, ser utilizado igualmente nas manobras de içar o ferro e na operação da bomba de esgotos. Com. E. Gomes Nota: Os documentos consultados não apresentam os desenhos que o autor refere acompanharem o texto. Fonte: Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro tom. 95 CLUBE DE PRAÇAS DA ARMADA O OBRAS DE REMODELAÇÃO A Presidente da Câmara Municipal de Almada, Maria Emília Neto, não sendo a primeira vez que nos visita, foi recebida com as seguintes palavras: ``…o nosso profundo agradecimento, pois sem a disponibilidade e o empenho dos serviços da Câmara Municipal de Almada, esta obra não seria uma realidade.” Estiveram também presentes na cerimónia, por parte da edilidade, o Presidente da Assembleia Municipal de Almada, Manuel Maia, o vereador António Matos, a vereadora Amélia Pardal e o Presidente da Junta de Freguesia da Cova da Piedade, Ricardo Louçã; pela Marinha, o Chefe do GABCEMA, Alm. Seabra de Melo e Comandantes e ex-comandantes de diversas Unidades que sempre estiveram presentes no apoio ao CPA; pela Polícia de Segurança Pública (PSP), o Senhor Comissário Branco, acompanhado de dois agentes. Para além do poder autárquico e das entidades da Marinha e da PSP, estiveram ainda presentes representantes das Federações e Associações Desportivas em que o CPA se encontra filiado, clubes congéneres e associações sócio-profissionais. Concluída a cerimónia de lançamento da 1ª pedra, que foi precedida pelas intervenções do Almirante CEMA e da Presidente da CMA, seguiu-se um Porto de Honra e tempo de amena conversa e fraterno convívio. Bem hajam! Colaboração da DIREÇÃO do CLUBE DE PRAÇAS DA ARMADA Foto 1SAR FZ Pereira Clube de Praças da Armada (CPA), porto de abrigo para as praças da Armada, seus associados, recebeu, no pretérito dia 17 de Setembro, as honrosas visitas do Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), Almirante Saldanha Lopes, e da Presidente da Câmara Municipal de Almada (CMA), Maria Emília Neto. Os ilustres convidados acederam generosamente presidir à cerimónia de inauguração das obras de remodelação do edifício da sede social e lançamento da primeira pedra. Nas boas vindas ao Almirante CEMA (primeiro CEMA a visitar o CPA), o Presidente da Assembleia Geral, António Cangueiro, disse: ``….é com enorme gratidão que assinalamos a presença de S.Exª. na nossa “casa” que pode também considerar sua.” 28 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA CURSO “OLIVEIRA E CARMO” 50 ANOS DE (PER)CURSO No encerramento das comemorações do cinquentenário da sua entrada para a Escola Naval, o Curso “Oliveira e Carmo” fez a apresentação pública do seu Livro de Curso, a que apropriadamente chamou o Livro do (Per)Curso. A cerimónia realizou-se no passado dia 26 de Setembro no Pavilhão das Galeotas do Museu de Marinha com a presença de muitos elementos do Curso e respectivos familiares, bem como alguns familiares dos elementos do Curso falecidos, de um significativo número dos seus Professores na Escola Naval e de muitos amigos, entre os quais os representantes dos Cursos que na Escola Naval foram seus contemporâneos. Compareceram também alguns elementos do Curso “D. Duarte de Almeida”, o Curso do Comandante Oliveira e Carmo. O Curso foi distinguido, ainda, com a presença da Senhora D. Maria do Carmo Oliveira e Carmo e do Eng. Jorge Oliveira e Carmo, viúva e filho mais novo do patrono do Curso. Um diaporama concebido pelos CALM Silva Nunes e Alves Correia apresentou diversas sequências fotográficas ilustrativas do (Per)Curso naval dos elementos do Curso, com particular destaque para o tempo da Escola Naval e para as viagens de instrução, com relevância para aquela que foi efectuada em 1964 na “Sagres”, criando um ambiente de acentuado cunho evocativo e simbólico. A anteceder a cerimónia ocorreu um momento musical com a apresentação de um recital interpretado por um octeto de sopro da Banda da Armada, que reforçou a marca cultural do evento, a que se seguiram intervenções do CALM Bossa Dionísio, Presidente da Comissão Cultural da Marinha, do CALM MN Rui de Abreu, especialmente convidado para esta cerimónia pela Comissão Organizadora das comemorações do cinquentenário do “OC” e do seu Chefe de Curso, o CALM Nunes da Cruz. O Presidente da Comissão Cultural da Marinha deu as boas-vindas ao Curso “Oliveira e Carmo” e a cerca de centena e meia de pessoas que assistiam ao evento, tendo relembrado a figura e o feito do Comandante Oliveira e Carmo. Seguiu-se a intervenção do CALM Rui de Abreu que mostrou ter lido o Livro do (Per)Curso com muita atenção e “agrado”. Apoiado nos seus excelentes dotes oratórios, no seu reconhecido mérito cultural e no conhecimento directo de muitos elementos do Curso com os quais partilhou guinés, viagens, câmaras e cursos, comentou e elogiou o seu conteúdo, com a leveza de estilo e bom humor que lhe são características, com que cativou a assistência. Na sua intervenção, muito apreciada e aplaudida, referiu que por amizade pessoal lhe tinham sido oferecidos alguns Livros editados por anteriores Cursos, mas que na sua opinião “este Livro do (Per)Curso será o mais bem conseguido e coloca a fasquia bem alta para os próximos que se seguirão”, salientando que “virá a ser uma preciosidade bibliográfica”. O CALM Nunes da Cruz justificou o aparecimento do livro – que em traços muito gerais é a memória colectiva do Curso ao longo destes 50 anos – e o que ele pretende comemorar: o conhecimento mútuo, a camaradagem, a amizade e o convívio, um “velho hábito da Marinha quer a bordo quer em terra”. Acrescentou que “comemoramos a Amizade, no respeito da diversidade pelo modo de ser e de pensar de cada um”, porque a Amizade é um sentimento “que não pode pairar no plano teórico, mas tem de ser praticada e exercitada e nós, desde sempre, temos naturalmente feito esse exercício”. Agradeceu em seguida a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para dar vida ao livro ou que com a sua presença nesta cerimónia se lhe quiseram associar: aos anfitriões, o CALM Bossa Dionísio e CFR Costa Canas, aos músicos, aos patrocinadores e à empresa gráfica, aos seus professores da Escola Naval, aos representantes dos outros Cursos, ao Dr. Rui de Abreu pela sua magnífica apresentação do livro e a todos os que com a sua presença muito dignificaram e enriqueceram a cerimónia. Ainda antes de terminar a sua intervenção, o CALM Nunes da Cruz evocou a figura do Comandante Oliveira e Carmo, assim como a dos seus camaradas de Curso que já partiram, encerrando em seguida a sessão. O Livro do (Per)Curso tem uma distribuição restrita, mas poderá ser consultado nas bibliotecas dos organismos culturais da Marinha, aos quais vai ser oferecido. Curso "Oliveira e Carmo" REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 29 SAÚDE PARA TODOS 8 CANCRO COLORRETAL O que é o cancro colorretal? O cancro do cólon e reto é um tumor maligno que afecta o intestino grosso. Como surge o cancro colorretal? 95% dos casos desenvolvem-se lentamente, ao longo de anos, a partir de lesões benignas, conhecidas como pólipos adenomatosos. Esta evolução é geralmente silenciosa, sem sintomas. Qual a sua importância? É a SEGUNDA causa de morte por cancro em Portugal! Devido ao estilo de vida e alimentação que praticamos o número de novos casos tem vindo a aumentar de ano para ano. Por dia perdem-se já mais de 10 vidas por causa desta doença! pólipos de pequenas dimensões. Para efeitos de rastreio normalmente é suficiente a observação do cólon esquerdo (reto, sigmóide e descendente) - colonoscopia esquerda - já que a maioria dos pólipos se localizam neste local. O exame decorre com o paciente deitado, acordado ou sob sedação, em posição confortável e descontraída. O médico gastrenterologista introduz o aparelho através do ânus e vai progredindo lentamente ao longo do intestino grosso. Para boa visualização do intestino é fundamental este estar limpo de fezes e resíduos alimentares, o que exige uma preparação prévia: normalmente consiste numa dieta líquida nas 24 horas que antecedem o exame, bem como no uso de laxativos ou outra medicação, conforme orientação Quais são os sintomas? O cancro colorretal, especialmente numa fase inicial, pode existir sem sintomas. Os sintomas mais frequentes, quando presentes, são a perda de sangue com as fezes, alterações do funcionamento intestinal (diarreia, obstipação, falsas vontades, dor ao defecar) e a perda de peso. Pode ser prevenido? Sim. Diversos métodos de rastreio permitem a deteção dos pólipos adenomatosos e do cancro colorretal em fase inicial, ainda sem sintomas. Destes, a colonoscopia é o exame de eleição. O que é a colonoscopia? A colonoscopia é um exame realizado através de um aparelho com a forma de um tubo flexível que permite observar o intestino grosso. Este aparelho – o endoscópio – tem, ainda, componentes que permitem colher pequenos fragmentos de tecidos (biopsias) e proceder à remoção de 30 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA Qual o tratamento do cancro colorretal? O diagnóstico precoce da doença é fundamental para garantir a cura! A forma de tratamento mais comum é a cirurgia (remoção da região do intestino que contém o cancro). Podem também estar indicados tratamentos de radioterapia (usada antes da cirurgia, para diminuir o tamanho do tumor e facilitar a sua remoção, ou após a cirurgia, para eliminar as células tumorais remanescentes), quimioterapia (geralmente utilizada como complemento da cirurgia quando a doença está num estado mais avançado) ou anticorpos monoclonais (substâncias produzidas em laboratório capazes de eliminar as células cancerígenas e/ou de recrutar o sistema imunitário do organismo para atingir o alvo). O que poderá contribuir para um intestino saudável? Adopte um estilo de vida saudável! 1) Pratique regularmente exercício físico; 2)Tenha uma alimentação equilibrada - horários regulares para as refeições, dieta pobre em gorduras e rica em fibras (vegetais, leguminosas, frutas e cereais integrais); 3) Beba muita água; 4) Controle o seu peso. Diga não à obesidade! Quem está em risco? A probabilidade de uma pessoa desenvolver um cancro colorretal ao longo da vida é de 6% e cerca de 1 em cada 20 pessoas contrairá a doença. Afecta tanto homens como mulheres e pode surgir em qualquer idade, sendo mais frequente a partir dos 50 anos. Além da idade existem outros fatores de risco: ► Antecedentes pessoais de pólipos do intestino grosso ou doença inflamatória do intestino (doença de Crohn / colite ulcerosa); ► Antecedentes familiares de cancro ou pólipos do intestino grosso, ou cancro noutros órgãos; ► Obesidade; ► Consumo de tabaco. pélvicos. Por ser uma TC tem a desvantagem de o doente ser submetido a raios X e não se poder proceder de imediato à remoção de pólipos que se possam detetar, ou mesmo realizar biopsias. médica. Em raros casos essa preparação envolve uma lavagem intestinal. Alguns pacientes sentem renitência em realizar este exame, com receio da dor ou por preconceito, contudo este é um exame geralmente bem tolerado, sem desconforto ou complicações posteriores. Nos últimos anos surgiu um novo método de colonoscopia não invasivo, a colonoscopia virtual, que consiste em obter imagens de tomografia computorizada (TC) do cólon limpo e distendido com gás. As imagens originais são submetidas a um programa de computador para se obter uma imagem a 3D do cólon, o que torna possível a "navegação" no interior do intestino e permite a avaliação da mucosa intestinal sem que seja preciso introduzir um endoscópio. Este método, em relação à colonoscopia direta tradicional, tem a vantagem de ultrapassar obstáculos que possam existir na progressão do endoscópio pelo intestino, bem como permite estudar através das imagens obtidas os restantes órgãos abdominais e Quais são as recomendações para o rastreio e vigilância do cancro do intestino? A Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva recomenda que o rastreio do cancro do intestino se inicie a partir dos 50 anos de idade, em TODOS os indivíduos sem fatores de risco acrescidos, com uma colonoscopia esquerda de 5 em 5 anos ou uma colonoscopia total de 10 em 10 anos. Em pessoas com fatores de risco acrescido, pessoais ou familiares, é recomendado um programa de rastreio e vigilância mais precoce, variando em função das características concretas de cada caso. Em conclusão: Não pense que o cancro só acontece aos outros. O cancro do intestino mata 10 pessoas por dia! Não seja uma delas. Faça o rastreio. Ana Cristina Pratas 1TEN MN NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (28) O 401 da Marinha... (…) No dia seguinte a um ataque alemão ao posto de Namaca, o soldado 400, Migueis, bate à porta do comando em Palma e pede para falar com o comandante do batalhão, Guedes Vaz. A custo, o soldado conta como se sente envergonhado por estar a construir jangadas na praia enquanto os camaradas trocam tiros com alemães. (…) Guedes Vaz chama-o e entrega-lhe a guia de marcha. O 400 lê a guia. Os olhos tomam a expressão de alegria de um pobre que visse premiado o número da sua cautela. (…) Dá um salto para a retaguarda e exclama ipsis verbis: “Muito obrigado, meu comandante! E pode V. Exa ter a certeza de que o primeiro alemão que eu mandar pró maneta, há-de ser à saúde do meu comandante” (…). nos. Contudo, ao contrário do que agora se tornou comum, não falamos de como o nosso país parece degradar-se, ou de como os militares – apesar de todos os sacrifícios feitos pela pátria, ao longo dos séculos – são muitas vezes tidos como “despesa pública” a abater por mor de um défice que não para de crescer… Não, o nosso militar, que aqui vou chamar 401 em honra daqueloutro comba- In Os Fantasmas do Rovuma, a epopeia dos soldados portugueses em África na I Guerra Mundial, Ricardo Marques, 2012 No recinto do HFAR (Hospital das Forças Armadas) existem uns altares de Pedra, junto à estrada principal que dá acesso ao bar, quase ao lado da “cafeteria geral”. Nesses altares, transformados em bancos (ou bancos, que alguns transformam em altares) encontrei um velho amigo. Trata-se de um velho combatente, de Marinha, das guerras de África. Incapacitado por uma explosão de uma mina, caminha com muita dificuldade e com a ajuda de “canadianas” – um nome moderno para as próteses externas, sem as quais o nosso herói não se move. A incapacidade trouxe muitas dificuldades, de modo que quem o vê na obesidade grisalha, que agora o aflige, não imaginará o orgulhoso e forte fuzileiro especial, que defendeu as cores de Portugal nos pântanos e tarrafos da então África Portuguesa… No primeiro dia em que o revi cumprimentei de forma simples e ele, fiel a si próprio, retorquiu também de forma singela, com um: – Ora viva. Marinheiros em terra… Nos dias seguintes lá estava ele, soberbo, na guarita que parece defender, no mesmíssimo altar pessoal. Tem sempre uma palavra de simpatia, como se a vida fosse maior que si próprio ou todos os anjos benéficos se concentrassem no seu sorriso. Cumprimentei-o sempre. Algumas vezes falamos mais, de outras falamos me- tente, exposto no texto acima, o 400, que se sentia envergonhado por não poder estar na linha da frente, naqueloutra guerra de África, que Portugal combateu, com pesadas baixas, no princípio do século XX, só tem conversas de uma luminosidade estranha nos tempos que correm… Num outro dia, particularmente difícil, andava eu embrenhado nos meus próprios fantasmas e apressava-me em silêncio, atira-me o 401 da Marinha com a seguinte sucessão de frases… – Já vi! Já vi bem. Hoje o dia está chuvoso ali para o Centro de Medicina Aeronáutica (edifício onde está sediada a Cardiologia do HFAR). Tem razão, ó Doutor, esta chuva de verão é pior do que a neve no inverno. – Até aqui eu não tinha proferido uma só palavra e estava um dia soalheiro com cerca de 32˚ C. – Então, como vai você? – perguntei eu ainda sério. Retorquiu prontamente o nosso herói: – Eu cá vou como a maré nos rios da Guiné (não percebi se a rima era propositada), flutuo abaixo e acima, mas não deixo de sorrir aos amigos que passam, como o Doc… Falámos então um pouco. Perguntou-me pelo meu filho. Ofereceu-me os parabéns pelos meus “feitos” académicos. Foi então (…e só então…) que reconheci o homem profundo que era o 401 e a honra que fazia à farda que – no seu eu escondido – ainda enverga… Não, o nosso homem não parecia irritado com a política, desesperado pelas medidas de austeridade, ou irritado com uma qualquer troica, que apoquenta a maioria de nós… O 401 da Marinha, ex-fuzileiro especial, vende paz, a quem a souber aproveitar… Na verdade, neste meu mister de médico, poucos homens conheci que, como o 401, conseguem elevar-se acima da fragilidade do mundo, do seu padecimento pessoal e ainda sorrir… Ora, bem a propósito, num destes dias, em viagem de regresso a casa e no rescaldo de mais uma crise política entre nós, ouvi na rádio que a Standard and Poor´s, uma das agências de rating americanas, que classifica a valia de Portugal, tinha, novamente, agravado o nosso risco económico, agravando-nos, consequentemente, a dívida… Lembrei-me então do 401 da Marinha… Tresloucadamente, ocorreu-me então que é sem sombra de dúvida uma pena que estas agências – que indiretamente nos governam – não criem uma cotação de mercado para o sofrimento humano e para entidades ainda mais comezinhas, como a história de um povo e a honra que, apesar do sofrimento, alguns são capazes de exibir. Se valorizassem o 401 da Marinha e um belo par de outros velhos militares que conheço, talvez a nossa classificação fosse melhor do que o valor displicente para que invariavelmente nos atiram… Mas é claro, nenhum destes pensamentos vale a alegria de um fuzileiro antigo, nem o calor da sua amizade. Que o diga o 401 da Marinha, os seus antepassados de oito séculos que padeceram por esse mundo grande e alguns dos ousados leitores, que suportam estes escritos…. Um grande abraço ao 401, que já conquistou o altar que na alma tão bem defende… Doc REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 31 32 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS Problema Nº167 Problema Nº448 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Norte (N) Oeste (W) A 5 D 9 3 9 R 6 D 2 10 9 2 8 V A A 6 10 10 8 2 8 5 3 4 Sul (S) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Este (E) V 7 D 7 10 4 V 6 5 2 7 5 4 R A R V 7 R 8 4 D 3 9 6 3 Todos vuln. S joga 4 ♥ com a saída a ♣ R. Analise as 4 mãos para descobrir se S tem alguma hipótese de cumprir o seu contrato face à má colocação do A de ♠. Solução neste número ∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙ SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 167 Mesmo à mesa a maneira de cartear será a mesma, e antes de jogar numa boa colocação de ♠ A, a preocupação do carteador será a de defendê-lo, até constatar que não tem outra hipótese. Nesta perspetiva, deverá deixar fazer ♣ R, assim como a D se W continuar, como será natural. No A que recuou irá baldar um ♦ na mão, e como estão 3-3 vai apurar o 4º para baldar uma ♠, após destrunfo a acabar no morto. Se W não jogar ♣ D mas o ataque for outro, o V♣ permite-lhe que a mão continue no lado bom, sem perigo de qualquer ataque que destrua o apuramento do ♦ para a necessária balda a ♠. Este problema mostra mais uma vez como não nos devemos precipitar e confiar só na sorte, ou lamentar o azar, mas analisar sempre outras hipóteses, sendo normalmente importante fazê-lo logo na 1ª jogada, pois é aí que se perdem, ou se podem ganhar, uma grande parte dos contratos. Horizontais: 1 - Região da Helvícia, abmetida aos Romanos no reinado de Augusto; espécie de pavilhão que se eleva na principal mesquita de Meca. 2 - Pele que se põe nos remos, para se não gastarem muito, roçando na borda do barco; árvore da Ásia meridional, de cujo fruto se extrai uma bebida agradável (inv). 3 - Consoante dobrada; mulher de baixa estatura (Prov); partes laterais, que guarnecem as ventas. 4 - Apelido de heroína francesa; é quase Leiria (inv) 5 - Peão; pintor da escola holandesa de admiráveis cenas interiores (1610 - 1685) (ap). 6 - Fraternidade. 7 - Intrigas (inv); tira para fora. 8 -Cobrir de óleo; raer. 9 - Cento cinquenta e cinco romanos; cidade e município do estado do Rio Grande do Norte, Brasil; símb. quím. do neon. 10 - Relativo ao eixo de uma planta (Bot); converte em massa. 11 - Varia na confusão; estai (Náut). Verticais: 1 - Mordicar; arrancai. 2 - Destruia; sessenta e cinco romanos. 3 - Consoante dobrada; cidade da Rússia, antiga capital da Ucrânia. 4 - Satélite de Júpiter (pl); lodo (inv); duas de rol. 5 - Gostai muito; medida de uma superfície. 6 - Aparelhara. 7 - Dias na confusão; peça comprida de madeira, com uma das extremidades chatas, para fazer mover uma embarcação. 8 Rio costeiro francês; nome de letra grega (pl); saudáveis. 9 - Tornar saboroso; no meio de Este. 10 - Outra vez (int.); o mesmo que defesa. 11 - Adem; praia. ∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙∙ SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 448 Horizontais: 1 – RECIA; CAABA. 2 – ASCOMA; APIN. 3 – TT; SAPA; ASA. 4 – ARC; IRIEL. 5 – RUAO; OSTADE. 6 – IRMANDADE. 7 – SACIRT; SAFA. 8 – OLEAR; RER. 9 – CLV; ARES; NE. 10 – AXIL; AMASSA. 11 – IVARA; OSTAL. Verticais: 1 – RATAR; SACAI; 2 – ESTRUIA; LXV. 3 – CC; CARCOVIA. 4 – IOS; OMIL; LR. 5 – AMAI; AREA. 6 – APRONTARA. 7 – AISD; REMO. 8 – AA; ETAS; SAS. 9 – APALADAR; ST. 10 – BIS; DEFENSA. 11 – ANATE; AREAL. Carmo Pinto 1TEN REF Nunes Marques CALM AN CONVÍVIO 1º ALMOÇO-CONVÍVIO DA 3ª GUARNIÇÃO DO NRP ÁLVARES CABRAL (F331) ● Realizou-se no dia 28 de setembro, na Quinta dos Girassóis, em RETIFICAÇÃO No artigo “Cutty Sark” Barca “Ferreira” – A Fénix Renascida, (RA 478/Set-Out2013) na página 28, 1ª coluna, a meio da Fig. 6, onde se lê: “(...) que armava em Barca (após desarmamento em 1916, ao largo de Moçambique) (...)”, deve ler-se: “(...) que armava em Barca (após desarvoramento em 1916, ao largo de Moçambique) (...)” Fernão Ferro, o 1º almoço- convívio da 3ª guarnição do NRP Álvares Cabral (1996/1999) com a presença de 58 membros da guarnição, o qual decorreu com boa disposição e amena cavaqueira o que proporcionou o reviver de histórias e bons momentos. Fez-se um minuto de silêncio pelos camaradas já desaparecidos. Contamos com a presença do Comandante e Imediato à altura, o actual VALM Carvalho Abreu e o CALM Silvestre Correia. Os presentes apelaram aos organizadores a continuidade do evento anualmente. REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 33 NOTÍCIAS PESSOAIS ● COMANDOS E CARGOS NOMEAÇÕES ● CALM Fernando Manuel de Macedo Pires da Cunha nomeado Comandante da ZMA e Chefe do Departamento Marítimo dos Açores ● CMG Fernando Manuel Félix Marques nomeado Comandante da ZMM, Chefe do Departamento Marítimo da Madeira, Capitão do Porto do Funchal e de Porto Santo ● CFR Eduardo Jorge Malaquias Domingues nomeado Comandante da ZMS, Chefe do Departamento Marítimo do Sul e Capitão do Porto de Faro CFR José António Velho Gouveia nomeado Capitão do Porto de Sines. ● RESERVA ● ● SCH R Alberto Vaz de Amoreira SCH R Francisco Manuel de Oliveira Dias SAJ M António José Alves de Lima. ● REFORMA ● CMG FZ Luís Augusto Loureiro Nunes ● CMG Rui Valente Almeida Graça Marim ● CFR SEM António da Costa Pires ● CTEN SEA Augusto Mourinho de Oliveira ● SMOR TRC Hélder Manuel Fonseca Marreiros ● SAJ M José Manuel Lucas Ramos ● SAJ FZ Fernando Carneiro Ferreira ● 1SAR V Alberto Manuel de Caldas Vieites CAB CM José Carlos Pereira Ramos CAB CTT Manuel Estevão Garcia Grilo CAB CM Victor Manuel Ribeiro Rodrigues Bandeira CAB TFH Joaquim Domingos Esteves Bernardino CAB E Rui Manuel Monteiro CAB A António Manuel Monteiro Cartas CAB CM Paulo Manuel Pereira da Silva CAB TFH José Pedro Ramos Costa CAB T Filipe Manuel Correia da Cruz. ● ● ● ● ● ● ● ● FALECIDOS ● ● CMG REF José Marques Elpídio CMG RES Rui Manuel Martins de Carvalho CFR REF João Cristóvão Moreira 1TEN OT REF Agostinho Maria Alves Sobral SAJ CE REF Joaquim de Carvalho Costa SAJ F REF Joaquim Lopes SAJ A REF José Firmino Candeias SAJ A REF João de Sousa Lobo SAJ L REF Manuel Isidro Guerreiro Martins 1SAR REF Joaquim Augusto Alves Sobral 2SAR GR FZ DFA REF Mário Pedro Jerónimo CAB CM REF José Pinto Zaranza CAB M REF Américo dos Santos Chaves CAB CM REF Manuel Cardoso Magalhães CAB L RES Carlos Manuel de Oliveira Nunes Guarda 1CL QPMM REF Ricardo Mendes de Almeida Farol 1CL QPMM APOS Valentim do Carmo CAB Ponte TM José Gonçalves Dias. ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● CONVÍVIOS DESTACAMENTO DE FUZILEIROS ESPECIAIS Nº5 ANGOLA 1963-65 COMEMORAÇÕES DOS 50 ANOS 5ª GUARNIÇÃO DO NRP CORTE-REAL (2002-2005) ● No passado dia 28 de junho, a 5ª guarnição do NRP Corte-Real ● Realizaram-se na Escola de Fuzileiros, no passado dia 15 de junho, as comemorações do 50º aniversário da criação do DFE5 e partida para Angola. As comemorações iniciaram-se com a homenagem aos fuzileiros mortos em combate e com o descerramento de uma placa alusiva à efeméride. Seguiu-se a missa, rezada na Capela da Escola, durante a qual foram recordados os companheiros falecidos, e a visita ao Museu do Fuzileiro. Durante o almoço convívio que se seguiu foram recordadas algumas das situações mais marcantes em que todos estiveram envolvidos. O convívio terminou com um breve discurso do Comandante, em que exortou os presentes a manterem vivos os princípios que sempre pautaram a conduta do DFE5, cuja acção foi reconhecida pelo então comandante naval de Angola em diversos louvores colectivos e individuais pela forma exemplar como cumpriu as missões, honrando o Corpo de Fuzileiros e a Armada. 34 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA cumpriu o hábito e voltou a juntar-se, este ano para comemorar o 9º aniversário da realização do Operational Sea Training (OST), Staff Sea Check em Plymouth (Inglaterra). Os cerca de oitenta convivas, recordaram os bons momentos passados, da camaradagem e amizade sentida na execução das diferentes missões realizadas pelo “nosso navio”. Durante o convívio foram recebidas mensagens com imagens de celebrações de elementos da nossa guarnição em unidades navais com missão no mar, por impossibilidade de estarem na nossa companhia, facto que evidencia que a “5ª Guarnição do NRP Corte-Real” continua unida e que o “Padrão Corte-Real” permanece presente em cada um dos seus elementos. No tradicional discurso, o nosso comandante, o CALM Mendes Calado, fez uma retrospetiva na qual enfatizou alguns dos momentos mais marcantes, que foram recordados com nostalgia, tendo lançado o desafio a todos para que se comece a planear uma celebração especial no próximo ano, em que se comemoram 10 anos da realização do “nosso OST”. 4ª Os submarinos da classe Albacora, nome da classe de navios que corresponde à 4ª Esquadrilha de Submarinos ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa, foram construídos em Nantes, nos estaleiros franceses de Dubiegeon-Normandie, de acordo com o contrato assinado em 1964, sendo idênticos aos submarinos franceses da classe Daphné e destinavam-se a substituir os submersíveis da classe Narval. A nova classe constituiu, verdadeiramente, o primeiro grupo de submarinos de que a Marinha Portuguesa dispôs, uma vez que introduziu a tecnologia do mastro snorkel na realidade nacional. O contrato de aquisição foi de quatro submarinos, sendo-lhes dado o nome de um animal marinho, com a inicial do nome indicativa da ordem de precedência relativamente ao seu aumento ao efetivo de Marinha: NRP Albacora (S163) em outubro de 1967, o NRP Barracuda (S164) em maio de 1968 e NRP Cachalote (S165) e o NRP Delfim (S166) ambos em janeiro 1969. Este contrato surgiu um par de anos antes da Marinha Espanhola ter decidido pela construção de quatro submarinos do tipo Daphné em estaleiros do país. Desta forma, a ligação entre as duas Esquadrilhas fortaleceu-se uma vez que muitos foram os submarinistas espanhóis que fizeram o seu contato inicial e parte da sua aprendizagem a bordo dos da classe Albacora. Note-se que muitos traços dessa forte ligação mantêm-se atuais. As características principais dos submarinos da 4ª. Esquadrilha eram as seguintes: Deslocamento à superfície . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .869 toneladas em imersão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.043 “ Comprimento máximo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57,80 metros Boca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6,8 “ Calado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,2 “ Cota máxima operacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300 “ Velocidade máxima à superfície. . . . . . . . . . . . . . . .13,5 nós em imersão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16 “ Autonomia máxima (bateria) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9.430 milhas O Cachalote, por razões de sustentabilidade logística, foi abatido em outubro de 1975 e vendido à Marinha Francesa que por sua vez o cedeu ao Paquistão onde tomou o nome de Ghazi. Os restantes três submarinos, que passaram a constituir a classe Albacora, participaram durante a sua vida operacional num variado leque de missões no espaço marítimo nacional e internacional, nomeadamente participando em missões e operações tais como: CONTEX, SWORDFISH, TAPON, JMC, FOST, SHARPGUARD, ENDURANCE, AÇOR, ZARCO, OCEAN SAFARI, JOLLY RIGER, assim como em múltiplas missões de adestramento de alunos e de vigilância da área marítima de interesse nacional. Além de constituírem um marco na história da capacidade submarina, sendo o salto tecnológico de submersíveis para submarinos propriamente ditos muito significativo, foram igualmente um importante fator de afirmação de Portugal na comunidade internacional, através das múltiplas e muito bem-sucedidas participações em operações e missões 1967-2010 internacionais, sobretudo no âmbito da NATO. Os submarinos da classe Albacora, inicialmente adquiridos com a intenção de serem projetados no conflito das possessões portuguesas em África, foram posteriormente otimizados para missões de vigilância das áreas marítimas nacionais. Mudaram o paradigma da utilização da arma submarina, revelando a sua importância na capacidade de projeção de forças especiais (Destacamentos de Ações Especiais) e nas ações de combate ao ilícito marítimo, quer seja no combate ao narcotráfico, como à imigração ilegal e poluição marítima, assim como uma renovada capacidade de intercooperação entre os diversos Ramos das Forças Armadas e outras Agências do Estado. Devido à grande capacidade e conhecimento das guarnições que os operavam, ao trabalho minucioso e experiente do pessoal do Arsenal do Alfeite e do sistema de Garantia de Qualidade adotado, a IRS, foi possível manter os três navios operacionais até o ano 2000, altura em que foi abatido o Albacora. Em 2005 foi a vez do Delfim ser abatido tendo, em 2010, terminado a classe Albacora com o abate do Barracuda. Com 42 anos, o “velhinho” Barracuda foi o submarino militar com mais anos de serviço do Mundo. Na sua última viagem, o derradeiro Daphné mundial visitou a cidade francesa de Toulon, em jeito de despedida, tendo sido recebido no Dia do Submarinista Francês de 2010 por um muito relevante e espantado grupo de submarinistas, de alguma forma incrédulos com a capacidade submarina de uma pequena nação que foi capaz de manter estas plataformas operacionais e, em total segurança, até ao final da sua longuíssima vida operacional. Em 25 de julho de 2013 o Barracuda entrou em doca seca da exParry & Son, ficando conjuntamente com a fragata D. Fernando II e Glória, a fazer parte do “Núcleo Museológico Naval de Cacilhas” do Museu de Marinha. Apesar de terem sido um marco tecnológico, no seu início de vida, os submarinos da classe Albacora conseguiram superar o teste do tempo e vingar numa era tecnologicamente mais avançada, devido a uma cultura submarinista centenária enraizada que era religiosamente passada de geração em geração, em que os segredos da plataforma eram desvendados pelos mais antigos e passados aos mais modernos. Através do conhecimento, da cultura e do espírito de entrega que caracteriza o submarinista, foi possível completar com sucesso missões complexas e deixar nos Anais da História feitos como o afundar do navio mercante Bandim ou o mítico ataque do “pequeno submarino português” ao poderoso porta-aviões americano Eisenhower. O primeiro eliminando um perigo à navegação e o segundo no decorrer de um exercício da NATO. Plataformas robustas e fiáveis, guarnecidas por rijos marinheiros, conhecedores da sua arte, apesar de tecnologicamente limitados no seu final de vida operacional, os submarinos e os submarinistas da 4ª Esquadrilha representaram o País por mais de quatro décadas com brio e orgulho, elevando o nome da Marinha e de Portugal, deixando um enorme e valioso legado que servirá de alicerce para a perpetuação da cultura submarinista e marinheira. Colaboração da ESQUADRILHA DE SUBMARINOS 4ª Albacora Barracuda Cachalote Delfim II 1967-2010