Alvorada Edición portuguesa o diario de la mañana Aula de periodismo en el mar de - José Zacarías Martins Comandante do Navio Treino de Mar Creoula «A viagem transforma pássaros solitários numa migração» O comandante do Creoula, num dos seus locais favoritos a bordo :: GONZALO NICOLÁS :: SARA ROCHA / EVA RODRÍGUEZ O Alvorada foi conhecer o novo comandante do Creoula. José Zacarías Martins tem 47 anos, nasceu próximo de Peniche e é o primeiro da sua família a entrar para a Marinha. –O que o levou a entrar para a Ma- Jueves / Quinta-Feira 25 de Julio de 2013 Universidad Itinerante de la Mar rinha? –Entrei para a Marinha em 1984, com 17 anos, por causa do gosto que tenho e sempre tive pelo mar. Então, quando terminei o curso no liceu fui para a Escola Naval, para o curso de oficial de marinha. – Qual é a su primeira recordação do mar? –Em pequeno ia muitas vezes à praia; penso que a primeira recordação que tenho do mar é de estar na praia a brincar à bola com amigos. – Quais são os seus hobbies? –Gosto muito de fazer desporto. Há 20 quilos atrás, praticava natação, triatlo, ciclismo e atletismo. Che- “Penso na quantidade de comandantes que por aqui passaram e tudo o que enfrentaram.” “Com esta viagem, os jovens ficam mais despertos para o que é o mar” guei a fazer várias competições. Agora, nunca tenho muito tempo para o desporto, mas gosto de fazer tudo o que seja atividades ao ar livre. Gosto muito de andar de mota, ando desde miúdo. –Já Já tinha sido comandante de algum navio? Qual é o melhor e pior de ser comandante? –É a primeira vez. O comandante é, antes de mais, responsável por tudo o que se passa a bordo do navio. O comandante orienta, a guarnição é que faz as tarefas, mas sou eu o responsável em qualquer situação. Todas as pessoas a bordo têm uma função e a minha tarefa é coordená-las. Ter esta responsabilidade não é mau, só tens que estar sempre atento e alerta a tudo, o que dá trabalho. Mas eu gosto de ser comandante, não por poder mandar, mas pela possibilidade que isso dá, de orientar e utilizar o navio da melhor maneira. –E E como é ser comandante de um navio com instruendos que não sabem nada de navegação? –Não é difícil, está tudo organizado e, por isso, funciona bem. O Creoula tem a função de embarcar civis, os instruendos, e eu gosto muito disso: é a possibilidade de mostrar como é a vida no mar, o que é navegar. Penso que permite que os jovens fiquem mais despertos sobre o que é o mar. E, na perspectiva de que o futuro é dos jovens, quanto melhor conhecerem o mar hoje, mais condições têm para o respeitar amanhã. –Qual Qual é a sua opinião sobre os benefícios desta viagem para os instruendos? –Eu acho que a viagem é muito importante para estes jovens. Não estás a aprender sobre a tua atividade em concreto, mas aprendes um conjunto de valores que complementam a tua formação: a disciplina, o saber respeitar os outros, trabalhar em equipa. Aqui, tentamos passar-vos valores que são estruturantes para qualquer atividade que realizes. –Em menos de uma semana termina. Que mudanças pensa ter testemunhado nos instruendos? –Quando vejo os instruendos no início da viagem, vejo-os como pássaros a voar cada um para seu lado. E, no fim, a imagem que deixam é de uma migração, em que os pássaros voam todos juntos e numa formação organizada. O que quero dizer é que entram no navio com uma perspetiva individualista, sem perceberem que todos temos que trabalhar em conjunto e de forma disciplinada, mas, no fim, conseguem fazê-lo. –Que opinião tem acerca desta guarnição? –Eu acho que esta guarnição é a melhor do mundo. O nosso navio é sempre o melhor, e, se tivesse que escolher, escolhia esta guarnição. Eles têm a sensibilidade e bom senso para serem, eles próprios, tutores e professores dos intruendos. –Então a nossa presença é benéfica? –Sim, porque, como disse, a guarnição transmite o seu conhecimento aos civis, o que é gratificante. É diferente de estar noutros navios e ficam satisfeitos por dar a conhecer o que fazem do seu ponto de vista pessoal. –Tem algum concelho a dar à sua tripulação (guarnição e instruendos)? –Aos militares: que continuem empenhados em transmitir os valores da marinha e tudo o que sabem. Aos civis: que esta experiência lhes sirva para a sua vida futura e que disfrutem ao máximo de tudo o que podem aprender. –O que gosta mais e gosta menos do Creoula? –Eu gosto de tudo, gosto muito deste navio. Já passei aqui dias muito bons. É um navio com 76 anos, tem uma história fantástica. Ao comandar este navio, penso na quantidade de comandantes que por aqui passaram e tudo o que enfrentaram. Além disso, gosto por ser um navio à vela e pela sua missão de acolher jovens, aos quais podemos transmitir valores vinculados com o mar. –Vê Vê o seu futuro continuando a navegar? –Não posso continuar a navegar, porque já não tenho nenhum navio para comandar depois deste. Vou ter que ir para trás de uma secretária, fazer trabalho burocrático, todos temos esse destino na Marinha. –Como se definiria como pessoa? E como comandante? –Como tranquilo, uma pessoa calma. À medida que os anos vão passando deixamos de ser tão nervosos e de querer fazer tantas coisas ao mesmo tempo. Sinto-me em paz comigo mesmo. E, como comandante, defino o que quero mas dou liberdade de ação à guarnição: defino e explico os objetivos e dou a liberdade de os cumprirem da maneira que querem, desde que os alcancem.