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AVALIAÇÃO DOS GENOGRAMAS DOS IDOSOS DO GRUPO “IDOSO
SAUDÁVEL” DE CUSTODÓPOLIS - CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ
KARINE DOS SANTOS COSTA*
RESUMO
Este artigo é decorrente da aplicação de genogramas, que é um método de coleta,
armazenamento e processamento de informações, nos idosos que freqüentam o grupo “Idoso
Saudável” no Centro de Saúde Escola de Custodópolis, em Campos dos Goytacazes, RJ. O
objetivo deste trabalho foi avaliar a estrutura familiar e as relações na perspectiva de
avaliação de risco familiares para explicação de fatores que possam contribuir para o
desequilíbrio do processo saúde doença na família. A pesquisa foi qualitativa, onde utilizamos
entrevista juntamente com observação participante. A amostra foi de 10% dos idosos que
freqüentam o referido grupo. A composição familiar dos idosos entrevistados percorre várias
gerações, com uma média de 4 pessoas por domicílio. A doença mais citada foi a artrose. A
maioria dos idosos relatou ter um bom relacionamento com os familiares. O genograma
mostrou-se um instrumento eficaz para avaliar a estrutura familiar de idosos, podendo ser
utilizado por profissionais de saúde como apoio ao tratamento.
Palavras chaves: idosos, genograma, família.
ABSTRACT
This article is resulting of the application of genograms, what is a method of to collect, keep
and process of information, in the aged what frequent the group “Healthy Aged” in Centro of
Health Custodópolis School, in Campos of Goytacazes, RJ. The objective this work to gone
valuation the structure the family end the relation in the perspective of scratch family
valuation for interpretation of factor what can contribution for the lack of equilibrium lawsuit
health illness in the family. The search gone qualitative, where utilized interview jointly with
participant observation. The sample gone of 10% in the aged what to frequent the group. The
family composition of aged interview to travel all over various generations, with on media 4
people for domicile. The illness more to cite gone artrose. The majority the aged repotted to
have one good relationship of the family. The genograms showed on instrument efficacious
for appraise the family frame of aged, to have power utilized for professional the health how
support of treatment.
Key words: aged, genograms, family.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional brasileiro tem aumentado significativamente, segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2000). A cada ano, 650 mil
idosos são incorporados à população brasileira. Este envelhecimento traz consigo novas
realidades. De um lado, a população idosa mantém, nos dias atuais, plena capacidade
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*Aluna do curso de pós-graduação em Saúde da Família da Faculdade de Medicina de Campos. Bacharel em
Serviço Social pela Universidade federal Fluminense.
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funcional, onde participa ativamente da vida em sociedade. Mas, por outro lado, temos uma
outra parcela da população idosa vítima de doenças crônicas que podem levar a perda da
independência e/ou autonomia.
No entanto, não existem políticas oficiais direcionadas para o cuidado à população idosa
que desenvolve dependência funcional, ficando esta na responsabilidade de um cuidador.
Geralmente, tal cuidador é um membro da família, uma vez que cuidar vai muito além
das simples atividades de oferecer uma boa higiene pessoal ou de manter bem nutrido e
saudável o familiar idoso. Cuidar é uma forma de expressar um ato de amor, já que as pessoas
idosas são, na maioria, parentes próximos e queridos, como mãe, pai, avô, avó, sogro ou
sogra.
Nos dias atuais, ao lidar com famílias, é preciso que deixemos de lado o velho modelo
nuclear burguês, que aceita como verdade estabelecida a estrutura composta por mãe, pai e
filhos, com uma relação baseada na hierarquia e subordinação, poder e obediência, com
autoridade masculina no topo e conseqüentes relações entre desiguais.
Precisamos ter em mente que cada família constitui um universo, um sistema de
relações e, ao trabalharmos com elas, temos que valorizá-las enquanto espaço de produção da
identidade social dos seus membros, tendo em vista a formação de sua cidadania.
Também é necessário que desenvolvamos a tolerância pela diversidade humana, isto é,
que sejamos capazes de primeiramente enxergar as diferenças ético-culturais da sociedade em
que vivemos e que aprendamos a respeitar politicamente essas diferenças.
Para os profissionais, o grande desafio hoje é reconhecer e utilizar a relação que as
pessoas identificam como família ou externam como tal. Diante de tal fato, buscaremos
elaborar um genograma que, segundo Nascimento (2005, p.01), consiste na representação
gráfica de informações sobre a família e, à medida que vai sendo construído, evidencia a
dinâmica familiar e as relações entre seus membros. É um instrumento padronizado, no qual
símbolos e códigos podem ser interpretados como uma linguagem comum aos interessados
em visualizar e acompanhar a história familiar e os relacionamentos entre seus membros.
Sua construção deve sempre partir do indivíduo doente, alvo da preocupação da
equipe de saúde. Geralmente, no genograma incluem-se pelo menos três gerações.
Apesar de similar à árvore genealógica, o genograma vai além da representação visual
da origem dos indivíduos. Esta ferramenta de levantamento de dados possibilita coletar
informações qualitativas sobre dimensões da dinâmica familiar, como processos de
comunicação, relações estabelecidas e equilíbrio/desequilíbrio familiar.
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Nesse sentido, torna-se importante estudar, através da elaboração e avaliação do
genograma, os idosos que freqüentam o Grupo “Idoso Saudável” no Centro de Saúde Escola
de Custodópolis.
Nosso objetivo será avaliar a estrutura familiar e das relações na perspectiva de
avaliação dos riscos familiares, para explicação de fatores que possam contribuir para o
desequilíbrio do processo saúde-doença na família, com vistas a propiciar elementos que
possam subsidiar planos terapêuticos integrais, ou seja, com ações de prevenção, recuperação
e manutenção da saúde, especialmente, quando se faz necessária a adoção de um elemento
externo (familiar ou não) como cuidador.
Nossas hipóteses são as seguintes:
- São idosos oriundos de famílias nascidas no próprio bairro, cujos laços afetivos são
(des) integradores e conseqüentemente acumularam ao longo do tempo (des) cuidado.
- São pessoas que vivem sozinhas e dependentes de políticas públicas oferecidas
através de projetos e programas sociais.
O presente trabalho justifica-se por estarmos vivendo um importante período de
mudanças, onde se faz necessário o entendimento das transformações sociais e culturais que
vem ocorrendo nas últimas décadas acerca das famílias. No entanto, qualquer que seja a
estrutura familiar que o idoso se encontra, há necessidade de se cultivar os vínculos afetivos
entre ele e seus membros, uma vez que neste período a pessoa idosa necessita sentir-se
valorizada, vivendo com dignidade, tranqüilidade e recebendo atenção e carinho da família.
Mais ainda, por propiciar um melhor esclarecimento aos familiares que, nesse período de
transformações, possam conhecer suas fragilidades, modificando sua visão e atitude sobre
velhice e contribuindo para que o idoso mantenha sua posição junto à sociedade e ao grupo
familiar que se encontra.
Assim sendo, objetivamos montar um genograma, buscando resgatar o máximo
possível dos antepassados dos idosos. Buscaremos saber quem são esses idosos e seus
familiares, que vínculos familiares são mantidos.
Através do genograma, a equipe de saúde pode observar, analisar e tratar barreias e
comunicação entre os membros da família; explorar aspectos emocionais e comportamentais
em um contexto de várias gerações; auxiliar os membros da família a identificar aspectos
comuns e únicos de cada um deles; discutir e evidenciar opções de mudanças na família e
prevenir o isolamento de um membro da família, independentemente da estrutura familiar.
MATERIAL E MÉTODO
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Para realização da pesquisa sobre Avaliação dos Genogramas dos idosos do grupo
“Idoso Saudável” de Custodópolis - Campos dos Goytacazes, RJ optamos por pesquisa
qualitativa porque permite uma maior interação dos sujeitos da pesquisa.
Utilizamos entrevista e observação participante. A população investigada foram os
idosos que freqüentam o grupo “Idoso Saudável” no Centro de Saúde Escola de Custodópolis,
na cidade de Campos dos Goytacazes, RJ, conforme Termo de Consentimento Esclarecido e
Termo de Autorização. A amostra foi de 10% dos idosos que estão cadastrados no grupo,
escolhidos aleatoriamente. A análise e interpretação dos dados colhidos foram elaborados a
partir categoria constituição familiar.
Para elaboração do genograma utilizou-se dos ícones gráficos convencionalmente
utilizados em genética e na construção de árvores genealógicas, especificados abaixo:
Homem
Mulher
Casamento (Marido á esquerda e esposa á direita)
Filhos: ordem de nascimento começando com o mais velho a
esquerda
Adoção
Aborto ou abortamento (informar o ano)
No círculo os atuais membros da família
Pessoa índice
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Óbito (informar data)
Separações conjugais (informar data)
Divórcio (informar data)
Os membros da família são colocados em série horizontais que significam linhagem de
geração. Crianças são colocadas em linhas verticais em ordem crescente de classificação
(começando pela mais velha). Todos os indivíduos da família devem ser representados. Nome
e idade da pessoa devem ser anotados dentro do símbolo (quadrado ou círculo) e dados
significativos, anotados fora (deprimido, viaja muito etc.). É importante que estejam anotadas
todas as informações relevante a história da saúde doença de todos familiares, em especial as
doenças crônico-degenerativas e os hábitos, sejam eles saudáveis ou não. Deve ser anotado,
também, aspectos sobre a morte de cada um dos membros familiares.
RESULTADOS
Os dados obtidos revelaram a predominância de mulheres entre os participantes do grupo,
uma vez que grande parte delas não trabalha fora e dispõe de mais tempo livre. Dos
entrevistados, todos eram do sexo feminino (100%), com idade entre 62 e 81 anos.
Com relação ao estado civil, cerca de 50% eram casadas, seguidas pelas viúvas
(33,33%). Apenas 16,67% da amostra, isto é, 01 idosa, era divorciada.
No que diz respeito à renda familiar 33,33% tem a renda proveniente de aposentadoria,
16,67% vivem da renda do marido, outros 33,33% da ajuda de filhos e parentes e os 16,67%
restantes, de benefícios sociais do governo. Quanto à profissão, todas as idosas eram do lar
(100%). Observou-se ainda, que das doenças mais comuns entre os entrevistados, destaca-se a
artrose (50%), a diabetes (25%) e a hipertensão arterial (25%).
Em nossa pesquisa, foram entrevistados 06 (seis) idosos, onde foram confeccionados
06 genogramas. Apresentaremos a seguir um genograma de uma família com os resultados
desta análise.
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(Anexar Imagem nesta página na hora de imprimir)
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Senhora M é viúva, 77 anos, 1° grau incompleto, profissão do lar. É diabética e tem
artrose. Tem 6 filhos com idades 52, 51, 48, 38, 34 e 30 anos. A filha mais velha é viúva,
hipertensa, profissão doméstica. Tem 5 filhos, sendo a mais velha com 32 anos, viúva, com 1
filha de 14 anos estudante. Logo em seguida vem a filha de 30 anos, casada, do lar e um filho
adotivo de 03 anos. Logo após vem a filha de 29 anos, do lar, mãe solteira de 2 filhos, de 08 e
05 anos, ambos estudantes. Tem ainda 1 filho de 28 anos, casado, pedreiro e com filhas
gêmeas de 02 meses. A filha mais nova com 26 anos, desempregada, mãe solteira de 1 menina
de 11anos.
A segunda filha de Senhora M tem 51 anos, é separada, possui 1 prótese na perna
esquerda e tem hanseníase. Tem 1 filha de 25 anos, casada, do lar e com um casal de filhos,
com idade de 06 e 04anos.
O outro filho de Senhora M tem 48 anos, mora com ela, é solteiro, não trabalha e
apresenta problemas neurológicos. M possui ainda uma filha de 38 anos, casada, doméstica,
com 02 filhos, com idade de 15 e 02 anos.
A Senhora M tem outra filha com 34 anos, casada, auxiliar de serviços gerais, mora no
Rio de Janeiro e por isso não tem muito contato. Essa filha lhe deu um casal de netos, com
idades de 20 e 08 anos, ambos estudantes.
O filho mais novo de M tem 30 anos, é separado, autônomo, mora com ela. Ele tem 4
filhos, sendo 02 meninos que moram com ele e duas meninas, que são gêmeas, tem 08 anos e
moram com a mãe.
CONCLUSÃO E DISCUSSÕES
Ao avaliar os genogramas dos idosos do grupo “Idoso Saudável”, o resultado nos
mostra que a composição familiar percorre várias gerações, pois a maioria das idosas
entrevistadas são casadas e moram próximas dos filhos e netos. A família constitui, portanto,
o principal sistema de suporte do idoso, apesar das dificuldades vivenciadas nos dias atuais.
Mas, embora o apoio familiar seja um aspecto importante, ele não se aplica a todos os idosos.
Existem idosos que não tem família presente no seu dia a dia, contando com o apoio de
vizinhos e de programas assistenciais.
A média foi de 4 pessoas por domicílio e a doença mais citada foi artrose. Não foi
encontrada nenhuma dificuldade na aplicação do genograma. O emprego deste mostrou-se
bastante prazeroso para os idosos, uma vez que estes puderam recordar de toda a família, e,
até mesmo, de alguns fatos marcantes. No entanto, alguns tiveram momentos de tristeza ao
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relembrar de situações que lhes traziam mágoas. Situações essas, que diz respeito aos idosos
se sentirem prejudicados por pessoas da própria família ou não receberem ajuda quando
precisaram.
Assim sendo, o genograma mostrou-se um instrumento bastante eficaz, pois permite
compreender melhor processo de adoecimento nas famílias, conhecer a situação de seus
membros e suas relações não só dentro da família, mas também com as demais pessoas que
convivem e estabelecem suas redes de apoio. Através da avaliação do genograma verificamos
que o idoso expressa a preservação dos relacionamentos interpessoais por meio do poder de
manter fortalecidos, em número e qualidade, os vínculos com a família, contribuindo, se
possível, com a educação dos filhos e netos, bem com vizinhos e amigos, solidificando assim
sua rede de suporte social.
No entanto, as famílias, na contemporaneidade, estão com um número cada vez menor
de membros, e a entrada da mulher no mercado de trabalho implicam alterações na função
tradicional da família como suporte e rede de apoio de seus membros. Além de tais fatores, o
baixo nível de escolaridade e de renda familiar, juntamente com a carência de serviços
públicos e de saneamento básico são indicadores de precariedade das condições e da
qualidade de vida para a população idosa no país, uma vez que, para algumas famílias, ter um
idoso em casa gera um impacto na dinâmica, na economia familiar e na saúde dos membros
da família.
É importante ressaltar que através do genograma pode-se ainda, retratar patologias
existentes nas famílias, o que torna possível caracterizar predisposições genéticas para
determinadas doenças. Isso permite a equipe de saúde acompanhar a família e seus membros
ao longo de suas vidas, propiciando a definição de ações preventivas e capazes de promover a
saúde.
Com o genograma, profissionais de saúde podem conhecer as histórias de vida e a
situação familiar, o que possibilita prestar uma assistência mais adequada às necessidades e
recursos da família, facilitando o tratamento e aumentando as estratégias voltadas à promoção
e prevenção da saúde. Ao conhecer a dinâmica interacional da família, o profissional de saúde
com o uso do genograma tem a oportunidade de interação com a família e o idoso, o que pode
facilitar o caminhar rumo à melhora da doença, com perspectiva de atender as necessidades
do idoso e da família, propiciando melhor qualidade de vida de ambos.
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