DISCIPLINA – PRÁTICA DE ENSINO Trabalho referente à monitoria da matéria QFL3102-Química Inorgânica ministrada para turma do noturno, 2º semestre 2008. Explorando estruturas no estado sólido e propriedades físicas: um exercício de modelo molecular e cristalino Natália de Jesus da Silva Costa Dezembro de 2008 1) INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA. A disciplina de química inorgânica experimental no noturno tem como objetivo consolidar a teoria apresentada nas aulas teóricas que trata essencialmente dos principais elementos da tabela periódica. A turma é formada por alunos do segundo semestre do primeiro ano, o que concede a esta matéria um maior dedicação dos docentes e monitores, visto que são alunos iniciantes e que precisam de uma supervisão mais rigorosa. Durante o trabalho de monitoria nesta disciplina foi observado que a matéria apresenta um apanhado geral envolvendo toda química e não apenas química inorgânica. As experiências no laboratório têm sintonia com a matéria dada em aula, o que facilita o aprendizado do aluno. As experiências são bem completas e envolvem um amplo conhecimento de química. Tanto as propriedades dos elementos como utilização de técnicas de análises são bem exploradas através de procedimentos interligados. Um excelente exemplo é a primeira experiência que trata do ciclo de cobre. Essa experiência teve como objetivo relembrar o aprendido no semestre anterior, envolvendo os principais tipos de reações químicas: oxi-redução, complexação, neutralização, precipitação. Outro ponto importante relacionado a essa matéria é a preocupação com a postura de laboratório dos alunos. Eles desenvolvem a habilidade com o manuseio de vidraria, e passam a ter uma melhor compreensão do funcionamento das técnicas utilizadas. Embora a disciplina já esteja bem estruturada eu venho propor por meio deste trabalho um novo experimento que seria uma ligação de química inorgânica com a matéria de Estrutura ministrada no semestre anterior. A matéria de Estrutura abordou entre outros assuntos, a geometria de moléculas e estrutura de sólidos. A matéria de Química inorgânica tentou conciliar estrutura com as propriedades físicas. Um dos fatos mais complicados na química é a visualização de estruturas cristalinas em 3 dimensões, além da correlação dessas estruturas com as propriedades físicas do composto. Os alunos relataram que a visão espacial deles era precária, embora tivessem visto apenas um exemplo de um modelo de estrutura cristalina. A visualização espacial é um fator importante e deve ser explorado logo no início da graduação, auxiliando não apenas em química inorgânica, mas em outras matérias, como por exemplo, Química Orgânica. Isso foi rapidamente abordado na experiência das propriedades do O2 e S onde em uma das etapas era discutida a diferença da combustão entre duas formas alotrópicas do fósforo: o fósforo branco e o fósforo vermelho. As moléculas de fósforo branco são tetraatômicas (P4) com geometria tetraédrica. Os ângulos de ligações P-P-P são de 60°, o que confere muita tensão a essas ligações facilitando o seu rompimento, portanto a combustão do fósforo branco é violenta. O fósforo vermelho é muito menos reativo (foi facilmente observado na experiência) por se tratar de um sólido polimérico.1 É importante na química inorgânica a abordagem de forças intermoleculares e essas forças se tornam mais evidentes nas estruturas sólidas. A compreensão da estrutura dos sólidos, em termos das propriedades dos átomos, ajuda a entender por que, por exemplo, os metais são maleáveis, mas os cristais de sal se quebram sob pressão, e porque o diamante é duro e a grafita é mole. O experimento proposto a seguir é baseado em no artigo: “Exploring Solid-State Structure and Physical Properties: A molecular and Crystal Model Exercise”2 (anexo 1) 2) OBJETIVO: O experimento proposto tem como objetivo facilitar o aprendizado de alunos iniciantes na graduação em química promovendo uma revisão sobre estruturas de Lewis e a Teoria de Repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de Valência (VSEPR) e uma melhor visualização de estruturas em 3 dimensões. É necessário que os alunos já tenham tido conhecimento de estrutura química. 3) DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: 3.1) Atividade pré-laboratório: É proposto para os alunos desenhe a estrutura de Lewis de algumas substâncias de modo que as estruturas abranjam compostos iônicos envolvendo ou não íons moleculares. Bindel em seu artigo sugere que as substâncias escolhidas para a atividade pré laboratório sejam a calcopirita (CuFeS2), pirita de ferro (FeS2), nitrito de sódio (NaNO2) e sulfeto de zinco (ZnS). 3.2) No laboratório: A atividade deve ser realizada em dupla. As estruturas ficam montadas nas bancadas e os alunos devem observar a geometria molecular e as formas gerais dos minerais. Nesse momento de observação os alunos também devem ser instruídos a fazerem a correlação entre a estrutura no estado sólido e as propriedades características das substâncias. Por exemplo, o grafite e o diamante. O relatório a ser pedido para os alunos deve conter correlações da estrutura dos compostos vistos em aula e suas propriedades características. Como complemento do proposto por Bindel, os alunos também poderiam fazer uma pesquisa sobre cada composto, como por exemplo, formas de obtenção e utilização. Como relação à montagem da aula pode ser proposta a construção de modelos com o uso de materiais próprios para modelos moleculares em química. Uma quantidade variada de modelos pode ser obtida. Para ser mais didático é proposto também que ao lado dos modelos moleculares haja espécimes da respectiva substância (figura 1). Figura 1: Espécimes de minerais cristalinos e seus modelos estruturais correspondentes. Da esquerda no sentido horário: calcopirita, wulfenita, pirita de ferro, sulfeto de zinco, fluorita e alumén Embora esses modelos custem caro, a Universidade poderia comprar esse material para exclusivo uso didático. Como alternativa, poderiam ser usados outros tipos de recursos para essa aula. Um recurso seria o uso de modelos de LEGO, um brinquedo caro de montagem, mas de fácil acesso. Com o LEGO podem ser montados vários modelos3, como, por exemplo, o sulfeto de zinco: Unidade Célula Unitária Z=0 Z=1/4 Z=1/2 Z=3/4 Z=1 Figura 2.: Esquema de montagem da estrutura do ZnS que apresenta um sistema de cristal cúbico com um habitat de cristal tetraédrico Em um experimento proposto na matéria de Química Inorgânica foi discutida as formas do enxofre monoclínico e rômbico assim como a diferença entre os alótropos de fósforo. Com LEGO também é possível ter uma visualização dessas estruturas (fig.3-5). Figura 3: Alótropo de enxofre de estrutura ortorrômbica. Figura 4: Alótropo de enxofre de estrutura monoclínica. Figura 5: Da esquerda para direita: estrutura de LEGO do fósforo vermelho, fósforo branco e fósforo preto. A diferença entre grafite e diamante também pode ser observada com as peças de LEGO (fig.6). a) b) Figura 6: Estruturas dos alótropos de carbono. a) diamante b) grafite Com LEGO existem várias outras possibilidades de montagem de modelos, podendo fazer comparações, por exemplo, com as estruturas cúbica, cúbica de face centrada, cúbica de corpo centrado, etc. Também é possível a montagem de algumas moléculas orgânicas e de nanoestruturas quem vem obtendo uma grande relevância na pesquisa em química. Devido à forma da peça a visualização das estruturas pode ficar um pouco comprometida. Outra opção para o desenvolvimento deste trabalho proposto, a visualização das estruturas pode ser feita através de técnicas computacionais. A informática tem sido vista como grande auxiliar do ensino em todas as matérias, inclusive a química. Com a informática, também é possível obter animações com rotações de 360º das estruturas, possibilitando uma visão da mesma forma que tendo o modelo em mão. Fotos de algumas estruturas podem ser obtidas em sites da internet4, ou de livros5 como “Princípios de química” de Peter Atkins e Loretta Jones. Estruturas como novamente o exemplo de ZnS (fig.7) pode ser vista de forma similar ao modelos específicos para moléculas químicas. Animações das estruturas de grafite, diamante, gelo, cloreto de sódio e liga de aço podem ser encontradas no site do livro “Princípios de química”5 citado anteriormente. Figura 7: Estrutura do ZnS obtida de um site educativo elaborado por Mc Clure. Bindel também escreveu um artigo em abril de 2002 6 onde propunha o uso de caixas de plástico transparentes com esferas de plásticos coloridas (fig.8) para melhor entendimento de células unitárias e estruturas empacotadas, mas esse material acaba sendo restrito, não podendo ser expandido para estruturas orgânicas por exemplo. Figura 8: Estrutura do cloreto de sódio e uma estrutura cúbica de face centrada construídas pelo modelo de caixas de plásticos proposto por Thomas Bindel. 4) DISCUSSÃO: Devido à dificuldade de introduzir uma nova aula na matéria, foi proposto um questionário onde alguns alunos puderam responder questões referentes ao assunto no início da aula referente aos metais. O questionário fornecido (anexo 2) teve como objetivo não só obter a opinião dos alunos referente à melhor forma de visualização de estruturas cristalinas, como também testou o conhecimento deles do assunto. Um total de 35 alunos presentes nesta aula não só responderam o questionário como tiveram oportunidade de montar suas estruturas cristalinas com peças de Lego e compará-las com um modelo de química inorgânica fornecido pela professora Viktoria Klara Lakatos Osório. A atividade durou cerca de 30 minutos. Na sala foi observado um desapontamento dos alunos quando tentavam visualizar as estruturas com Lego. Houve muita reclamação devido ao átomo não representar a forma de uma esfera, pois os átomos sugeridos para Lego tem cantos quadrados. E não foi apenas a dificuldade de visualizar as estruturas como também montá-las. Essa observação do comportamento dos alunos na aula também refletiu no questionário, pois 66% dos alunos preferiram visualização com modelos químicos (uma boa parcela teve como segunda opção o uso de aula computacional), 34% dos alunos preferiu apenas computação e nenhum aluno preferiu usar Lego. Apenas 25% dos alunos consideram sua capacidade de enxergar as estruturas cristalina com nota ≤ 5, no entanto observou –se um resultado importantíssimo com esse questionário pois 83% dos alunos erraram ao desenhar a estrutura de Lewis para os sais ZnS e NaNO2, sendo que os alunos que acertaram foram os que foram tirar dúvida durante a atividade. Muitos fizeram ligações covalentes entre o zinco e o sulfeto e entre o sódio e o nitrito. Esse resultado é preocupante, pois os alunos demonstraram que eles estão respondendo as questões automaticamente (isso também foi observado nas provas da disciplina de Química Inorgânica) sem entender de fato a matéria. 5) CONCLUSÃO: As estruturas de Lego não tiveram boa aceitação pelos alunos, excluindo assim a possibilidade de uma aula proveitosa utilizando Lego como material de ensino para construção de estruturas cristalinas. Embora, apenas 25% dos alunos consideram sua visualização espacial precária, 83% dos alunos não sabem escrever estrutura de Lewis para íons, o que torna válida a atividade proposta neste trabalho. Sugere-se o uso de modelos químicos ou material próximo disso (bolas de isopor e palitos de churrasco como comumente é feito) para esta atividade. 6) AGRADECIMENTOS Agradeço aos professores Hermi Felinto de Brito, Liane Márcia Rossi, Paola Corio e Viktoria Klara Lakatos Osório que ministraram a Disciplina QFL 3102 – Química inorgânica 2º semestre de 2008, pelo apoio e orientação durante o período de monitoria, onde pude aprender não apenas a auxiliar no aprendizado dos alunos, como também sempre pensar na melhor forma de auxiliar esse aprendizado. 7) REFERÊNCIAS 1 Lee, J. D., Química Inorgânica não tão concisa. Ed. E. Blücher, São Paulo, 1999, 239 2 Thomas H. Bindel. Journal of Chemical Education. 2008, 85 (6). 3 LEGO. http://www.mrsec.wisc.edu/Edetc/LEGO/crystal.html Acesso em 22 de outubro de 2008. 4 Mark R. McClure, Crystal Structure. www.uncp.edu/home/mcclurem/lattice/zincblende.htm. Acesso em 22 de outubro de 2008. 5 Peter Atkins and Loretta Jones, Chemical Principles. http://bcs.whfreeman.com/chemicalprinciples3e/default.asp?s=&n=&i=&v=&o=&ns=0 &uid=0&rau=0 Acesso em 22 de outubro de 2008. 6 Thomas H. Bindel. Journal of Chemical Education. 2002, 79 (4).