UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO Felipe Pinto Alves A RELAÇÃO ENTRE O GRAU DE SOFISTICAÇÃO NA GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS NA ÁREA DE COMPRAS E O DESEMPENHO FINANCEIRO NAS EMPRESAS BRASILEIRAS Rio de Janeiro 2012 Felipe Pinto Alves A RELAÇÃO ENTRE O GRAU DE SOFISTICAÇÃO NA GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS NA ÁREA DE COMPRAS E O DESEMPENHO FINANCEIRO NAS EMPRESAS BRASILEIRAS Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto COPPEAD de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Rebecca Arkader Rio de Janeiro 2012 ii FICHA CATALOGRÁFICA A474r Alves, Felipe Pinto A relação entre o grau de sofisticação na gestão estratégia de custos na área de compras e o desempenho financeiro nas empresas brasileiras / Felipe Pinto Alves. -- Rio de Janeiro: UFRJ, 2012. 117 f.: il.; 31 cm. Orientador: Rebecca Arkader Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2012. 1. Gerência de Operações. 2. Compras. 3. Administração – Teses. I. Arkader, Rebecca. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração. III. Título. CDD: 658.5 iii Felipe Pinto Alves A RELAÇÃO ENTRE O GRAU DE SOFISTICAÇÃO NA GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS NA ÁREA DE COMPRAS E O DESEMPENHO FINANCEIRO NAS EMPRESAS BRASILEIRAS Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto COPPEAD de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração. Aprovada por: ____________________________________________ Rebecca Arkader, D.Sc. – COPPEAD/UFRJ (Orientador) ____________________________________________ Otávio Figueiredo, D.Sc. – COPPEAD/UFRJ ____________________________________________ Ricardo Miyashita, D.Sc. – UERJ Rio de Janeiro Setembro de 2012 iv AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Fatima e Henrique, e à minha irmã, Thais, pelo incentivo, orientação e apoio em cada momento da minha vida, incluindo este. Agradeço à minha orientadora, Rebecca, por todo carinho, atenção, paciência e dedicação ao longo de todo o curso. Agradeço ao Professor Otávio por toda ajuda ao longo deste trabalho. v RESUMO ALVES, Felipe Pinto. A relação entre o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos na área de compras e o desempenho financeiro nas empresas brasileiras. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto de Pós Graduação e Pesquisa em Administração, COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012. Com o aumento da competição em todo o mundo, cada vez mais as empresas estão buscando alternativas mais sofisticadas garantir sua sobrevivência. Neste cenário, a gestão estratégica de custos em compras vem sendo incorporada pelas organizações como uma importante ferramenta para criar vantagens competitivas sustentáveis, através da integração do fluxo de informações não apenas internamente entre os diferentes departamentos e áreas, mais também com os demais elos que compõem a cadeia de suprimentos. Nos últimos anos, estudos sobre a evolução da gestão de custos nas empresas têm revelado a adoção, cada vez mais, de abordagens estratégicas. Assim, existe uma expectativa de que empresas cujas áreas de compras já desempenham um papel avançado na gestão estratégica de custos venham obtendo, de forma geral, melhoras significativas no desempenho operacional e financeiro. Entretanto, evoluir em um processo de gestão requer altos investimentos e pode reduzir a flexibilidade gerencial, impactando diretamente os resultados da organização. Neste contexto, o presente estudo, baseado em uma pesquisa de survey junto a 101 empresas brasileiras, teve como objetivo, primeiramente, criar um índice único de medição do grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras para, posteriormente, testar se esta sofisticação estaria ligada ao tamanho e se poderia impactar o desempenho financeiro das empresas. Uma análise fatorial exploratória permitiu a obtenção de quatro fatores representativos das dimensões da sofisticação na gestão estratégica de custos em compras. As pontuações de cada fator, bem como a vi variância explicada relativa de cada um, foram utilizadas para estimar um índice para a mensuração do grau de sofisticação estratégica de custos em compras por empresa. Este, por sua vez, foi utilizado em regressões lineares simples para testar as hipóteses propostas quanto ao relacionamento com o tamanho e o desempenho financeiro das empresas. Apesar dos resultados satisfatórios obtidos na formação do índice, não foi encontrada sustentação para uma relação positiva entre o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras e o tamanho e/ou o desempenho financeiro das empresas brasileiras. Palavras-chave: Gestão estratégica de custos em compras; desempenho financeiro; gestão de compras e suprimentos. vii ABSTRACT ALVES, Felipe Pinto. A relação entre o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos na área de compras e o desempenho financeiro nas empresas brasileiras. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto de Pós Graduação e Pesquisa em Administração, COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012. Faced with increasing competition, more and more companies are seeking sophisticated alternatives to ensure their survival. Accordingly, purchasing departments have been implementing strategic cost management practices in order to create sustainable competitive advantages. This involves integrating information flows between different departments and areas of an organization, but also between all players in its supply chain. In recent years, studies on the evolution of organizational cost management have indicated a growing adoption of strategic approaches. Therefore, it is to be expected that companies in which purchasing departments already play an important role in strategic cost management are achieving significant improvements in their operational and financial performance. However, the move towards more advanced cost management practices demands significant investment and may reduce managerial flexibility, with direct impacts on financial results. Against this background, the present survey based study with 10 first aimed to develop a single index to measure the degree of sophistication of strategic cost management in purchasing departments, in order to subsequently test whether this sophistication could be related to company size and financial performance. Exploratory factor analysis led to the extraction of four factors representing dimensions of purchasing strategic cost management sophistication. Both the scores and the relative explained variance for each factor were used to estimate an index to measure the degree of purchasing strategic cost management sophistication for each surveyd viii company. This single measure was used in simple linear regression analyses to test the proposed hypotheses concerning relationships with company size and financial performance. Despite satisfactory results obtained in the formation of the index, it was not possible to find support for a positive relationship between the degree of sophistication between the adoption of sophisticated purchasing strategic cost management practices and either size and/or financial performance in Brazilian companies. Key words: strategic cost management in purchasing; financial performance; purchasing and supply management ix LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Impacto de compras nos indicadores financeiros - Adaptado de Ballou (2006) pg 358 .............................................................................................................................. 3 Figura 2 – Comparativo do papel do gerenciamento estratégico de custos entre o foco interno e integrado na cadeia de suprimentos - Adaptado de Monczka et al. (2002) pg. 415-416 .......................................................................................................................... 11 Figura 3 - Gerenciamento estratégico de custos - Adaptado de Anderson e Dekker (2009a) pg. 203 .............................................................................................................. 13 Figura 4 - Gerenciamento de custos através do ciclo de vida de produtos e serviços Adaptado de Monczka et al. (2002) pg. 416 ................................................................... 15 Figura 5 - Framework para gerenciamento de risco e custo de aquisição - Adaptado de Monczka et al. (2002) pg. 417-418 ................................................................................. 18 Figura 6 - Diferentes níveis de análise do TCO como ferramenta de suporte ao gerenciamento estratégico de custos – Adaptado de Ellram e Siferd (1998) pg. 67 ...... 29 Figura 7 - Itens de compra onde o conceito do TCO é aplicado na visão das organizações brasileiras ................................................................................................. 70 Figura 8 - Gráfico de dispersão: faturamento bruto anual e índice de evolução............ 77 Figura 9 - Gráfico de dispersão: número de funcionários e índice de evolução ............ 77 Figura 10 - Gráfico de dispersão: EBITDA/faturamento e índice de evolução............... 78 Figura 11 - Gráfico de dispersão: EBITDA/total de ativos e índice de evolução............ 78 x LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Construtos e subconstrutos referenciados para teste de hipóteses ............. 42 Tabela 2 - Construtos, subconstrutos e variáveis que serão medidas para teste das hipóteses ........................................................................................................................ 50 Tabela 3 - Exemplo do cálculo do grau de evolução de cada fator por empresa respondente ................................................................................................................... 57 Tabela 4 - Distribuição das empresas por ranking de faturamento na Exame Melhores e Maiores 2011.................................................................................................................. 60 Tabela 5 - Setores das empresas respondentes segundo a Exame Maiores e Melhores 2011 ............................................................................................................................... 61 Tabela 6 - Nível gerencial dos respondentes ................................................................. 62 Tabela 7 - Variáveis analisadas para determinação do grau de evolução estratégica na gestão de custos em compras........................................................................................ 63 Tabela 8 - Grau de adoção do conceito de Target-Costing por setor na indústria brasileira ......................................................................................................................... 66 Tabela 9 - Grau de adoção do conceito de TCO por setor na indústria brasileira ......... 68 Tabela 10 - Resultados da análise fatorial de componentes principais com rotação varimax ........................................................................................................................... 72 Tabela 11 - Consolidação dos multiplicadores PF/DP normalizados ............................. 75 Tabela 12 - Resultados da regressão linear simples: tamanho e grau de sofisticação .. 79 Tabela 13 - Resultados da regressão linear simples: grau de sofisticação e desempenho financeiro .................................................................................................. 79 xi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1 1.1. OBJETIVOS ........................................................................................................................ 1 1.2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO ............................................................................................... 1 1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO ........................................................................................... 4 2. REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................... 6 2.1. GERENCIAMENTO ESTRATÉGICO DE CUSTOS ............................................................ 6 2.1.1. O Impacto do Custo no Valor Percebido ......................................................................................6 2.1.2. Definição do Gerenciamento Estratégico de Custos ....................................................................8 2.1.3. Integração do Conceito no Supply Chain Management............................................................ 10 2.1.4. Estratégias de Gerenciamento de Custos em Compras ............................................................ 14 2.1.5. Ferramentas de Gerenciamento Estratégico de Custos............................................................ 19 2.2. CUSTO TOTAL DE PROPRIEDADE (TCO) ..................................................................... 26 2.2.1. Definição de Custo Total de Propriedade ................................................................................. 26 2.2.2. Integração da Área de Compras com o TCO ............................................................................. 28 2.2.3. Classificação de modelos de TCO .............................................................................................. 30 2.2.4. Principais Barreiras para a Adoção do TCO ............................................................................... 33 2.2.5. Benefícios Esperados com a Adoção do TCO ............................................................................ 35 2.3. IMPACTOS DA GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS EM COMPRAS SOBRE DESEMPENHO........................................................................................................................ 39 2.4. MODELO CONCEITUAL .................................................................................................. 40 3. METODOLOGIA ........................................................................................................ 44 3.1. QUESTÕES DA PESQUISA ............................................................................................. 44 3.2. TIPO DE PESQUISA ........................................................................................................ 45 3.4. UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................................. 47 3.5. COLETA DE DADOS ........................................................................................................ 48 3.6. QUESTIONÁRIO............................................................................................................... 49 3.7. TRATAMENTO DE DADOS .............................................................................................. 52 3.7.1. Análise descritiva....................................................................................................................... 53 3.7.2. Análise fatorial .......................................................................................................................... 53 3.7.3. Formação do índice ................................................................................................................... 56 3.7.4. Regressão linear ........................................................................................................................ 58 xii 4. RESULTADOS ........................................................................................................... 60 4.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ................................................................................ 60 4.2. ANÁLISE DESCRITIVA .................................................................................................... 62 4.2. RESULTADOS DA ANÁLISE FATORIAL ......................................................................... 70 4.3. ANÁLISE DE CONSOLIDAÇÃO DO ÍNDICE ................................................................... 74 4.4. RESULTADOS DA REGRESSÃO LINEAR ...................................................................... 76 5. CONCLUSÃO ............................................................................................................ 81 5.1. SUMÁRIO ......................................................................................................................... 81 5.2. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 83 5.3. SUGESTÕES DE PRÓXIMOS ESTUDOS ....................................................................... 87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 88 xiii 1. INTRODUÇÃO 1.1. OBJETIVOS A literatura vem trazendo nos últimos anos diversas pesquisas sobre a evolução da gestão de custos nas empresas, direcionando-a para uma abordagem cada vez mais estratégica. De fato, é possível observar uma transformação natural da gestão de custos, que vem induzindo as empresas a repensarem a forma como suas decisões de fornecimento são tomadas. Assim, existe uma expectativa de que empresas cujas áreas de compras já desempenham um papel avançado na gestão estratégica de custos venham obtendo melhoras significativas no desempenho operacional e financeiro de forma geral, o que é fortemente suportado por alguns autores (Anderson e Dekker, 2009a, 2009b; Chen et al., 2004; Day e Lichtenstein, 2006; Ellram, 1993a, 1995a, 2000; Ellram e Siferd, 1993, 1998; Ellram e Stanley, 2008; Ellram et al., 2002; Freedman, 1993; Monczka et al., 2002; Morssinkhof et al., 2011; Yeung, 2008). Entretanto, evoluir num processo de gestão requer altos investimentos e pode reduzir a flexibilidade gerencial, impactando diretamente os resultados da organização. Nesse contexto, o objetivo deste estudo é investigar a relação existente entre o grau de evolução estratégica da gestão de custos na área de compras de empresas brasileiras e o desempenho financeiro obtido. Um objetivo secundário é descrever as práticas de gestão de custos em compras nas empresas estudadas e a classificação de seu modelo de gestão de custos em função do seu grau de sofisticação. 1.2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO O processo de compras se tornou chave para o gerenciamento da cadeia de suprimentos de uma organização, tendo fundamental importância para as operações da empresa (Fleury, 2000). Ele envolve a aquisição de matérias-primas, suprimentos, componentes e serviços de uma organização para atender às necessidades 1 operacionais em tempo hábil, otimizando os custos totais relevantes ao processo (Ballou, 2006; Bowersox e Closs, 2001). Diversos autores (Monczka et al., 2002; Giunipero e Brand, 1996; Kraljic, 1983; White e Hammer-Lloyd, 1999; Emiliani et al., 2005) têm observado que esse processo teria deixado de ser um mero processamento de requisições e pedidos e estaria, cada vez mais, relacionado a atividades de cunho estratégico. Nessa linha, Giunipero e Brand (1996) identificaram que a transformação da gestão da área de compras em algo voltado para a otimização da cadeia de suprimentos como um todo trouxe inúmeros benefícios operacionais e financeiros para aquelas organizações que o fizeram. Segundo Ballou (2006), o setor de compras ocupa uma posição importante na maioria das organizações, pois peças, componentes, suprimentos e serviços chegam a representar, em geral, de 40 a 60% do valor final das vendas de qualquer produto. Isso significa que pequenas otimizações de processo que venham a contribuir com reduções de custos nessa área representariam significativos aumentos no lucro e no retorno sobre ativos da organização (Ballou, 2006). O exemplo a seguir ilustra o impacto que uma redução de 5% no preço de compras traz para uma organização que tenha os custos de compras representando 50% do total e um estoque médio de 40% dos ativos Cenário de compras com preços originais totais. Vendas $ 10 milhões (-) Custo total $ 9,5 milhões Lucro $ 500 mil Dividido Por Vendas Margem 5% Multiplicado por ROI 10% Vendas $ 10 milhões Dividido Estoque $ 2 milhões Ativos totais $ 5 milhões Giro 2 vezes 2 Cenário de compras com preços reduzidos em 5% Vendas $ 10 milhões (-) Custo total $ 9,25 milhões Lucro $ 750 mil Dividido Por Vendas Margem 7,5% Multiplicado por ROI 15,3% Vendas $ 10 milhões Dividido Estoque $ 1,9 milhão Ativos totais $ 4,9 milhões Giro 2,04 vezes Figura 1 - Impacto de compras nos indicadores financeiros - Adaptado de Ballou (2006) pg 358 Essa busca por oportunidades de reduções de custos e melhorias nos processos da área de compras tem levado as organizações a adotarem estratégias de suprimentos que visam o mapeamento dos diversos componentes de custos relevantes que possam trazer benefícios significativos para seus resultados financeiros. Conhecido como gerenciamento estratégico de custos, envolvendo diversas técnicas que vão desde a simples análise de preços de mercado até mesmo a adoção de modelos sofisticados como o total cost of ownership (Ellram, 1993a), tal conceito passaria a ter efeito direto sobre a forma como as empresas compram e promoveria oportunidades para melhorias significativas no resultado das empresas (Anderson e Katz, 1998). Essas práticas de gerenciamento estratégico dos custos na área de compras têm avançado de forma significativa nos últimos anos. Sua natural evolução vem induzindo as empresas a repensarem a forma como suas decisões de fornecimento são tomadas. Existe uma expectativa de que organizações cujas áreas de compras já desempenham um papel avançado na gestão estratégica de custos venham obtendo melhoras significativas no desempenho operacional e financeiro de forma geral, o que é suportado por alguns autores (Monczka et al., 2002; Giunipero e Brand, 1996; Ellram e Siferd, 1998; Cooper e Slagmulder, 2003, Freedman, 1993). 3 Entretanto, para evoluir num processo de gestão, especialmente no que se refere à melhoria da eficiência estratégica da área de compras, altos investimentos são requeridos (Cooper e Slagmulder, 2003; Aluko et al., 2010; Giunipero et al., 2006). Esses se dão na capacitação da equipe, desenvolvimento e aplicação de um ferramental adequado capaz de melhorar o processo de compras, desenvolvimento de uma comunicação clara, fluida e eficaz entre as áreas operacionais e estratégicas da empresa, ampliação e estruturação de um processo complexo de seleção e contratação de fornecedores, entre outros (Monczka et al., 2002). Além desse esforço financeiro significativo, um sistema de gestão de custos complexo pode contribuir para o engessamento dos negócios da empresa e diminuir o grau de flexibilidade gerencial, seja para prospectar novos negócios e clientes, seja para atender a picos de demanda imprevisíveis ou qualquer outro desafio, afetando diretamente os resultados financeiros obtidos (Anderson e Dekker, 2009a). 1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho está dividido em cinco capítulos que tratarão dos seguintes assuntos: O primeiro capítulo apresenta os objetivos esperados do estudo e sua relevância prática e teórica. O segundo capítulo traz a revisão da literatura sobre o gerenciamento estratégico de custos, dando uma ênfase no custo total de propriedade (TCO). O capítulo se inicia com uma definição do conceito e apresentação dos principais modelos de gestão estratégica de custos. Em seguida, é apresentada a filosofia do custo total de propriedade, sendo tratado como um modelo mais robusto e complexo de gerenciamento de custos na área de compras. Depois são apresentados trabalhos acadêmicos que tentaram relacionar o grau de tratamento estratégico das práticas de compras com o desempenho financeiro das organizações. Por fim, é apresentado o modelo 4 conceitual que servirá de base para o capítulo 3 na elaboração do questionário e das hipóteses testadas. O terceiro capítulo apresenta a metodologia utilizada para alcançar os objetivos de pesquisa estabelecidos. O quarto capítulo apresenta os resultados obtidos e suas análises. O quinto e último capítulo apresenta as conclusões e as sugestões para estudos futuros. 5 2. REVISÃO DE LITERATURA O objetivo deste capítulo é revisar a literatura sobre gerenciamento estratégico de custos, com ênfase especial no custo total de propriedade, e os impactos de sua aplicação no desempenho das empresas. Assim, inicia-se com a apresentação do conceito de gerenciamento estratégico de custos, através de cinco itens: uma apresentação da proposta de valor que deverá ser maximizada pelos profissionais de compras, a definição do conceito, sua integração com a cadeia de suprimentos, estratégias de gerenciamento de custos e ferramentas de gerenciamento estratégico de custos. Posteriormente, é apresentado o conceito de custo total de propriedade, dividido em cinco itens: definição do conceito propriamente dito, integração com a área de compras, classificação dos modelos, principais barreiras para adoção do TCO e apresentação dos benefícios esperados com sua implantação. Em seguida, são apresentados os principais impactos no desempenho das empresas por conta da adoção de uma gestão mais estratégica dos custos. Por fim, é montado um modelo conceitual que visa integrar os principais conceitos de gerenciamento estratégico de custos e associá-los ao desempenho financeiro das organizações, de forma a orientar a pesquisa de campo e a análise das questões tratadas neste estudo. 2.1. GERENCIAMENTO ESTRATÉGICO DE CUSTOS 2.1.1. O Impacto do Custo no Valor Percebido Para o século atual, um dos desafios mais importantes para definir o sucesso ou fracasso das organizações está baseado na proposta de valor gerada aos clientes através de alguns elementos básicos, além da variável preço: qualidade, tecnologia, serviço e tempo de ciclo (Monczka et al., 2002). Segundo Kotler e Keller (2006), outros fatores são fundamentais para a composição da variável preço, percebida pelo cliente. Também interpretada como o custo total percebido, ela é composta por, além do custo monetário, custos de tempo, energia física e psíquica do comprador, que consideram todo o esforço necessário para efetuar uma transação de um fornecedor até seu local 6 de aplicação e uso. Dessa forma, a equação de valor percebida pode ser simplificada segundo a fórmula a seguir: A área de compras pode exercer um papel importante na maximização do valor percebido para a organização durante o processo de aquisição de um bem ou serviço. Embora possa estar ao seu alcance atuar na melhoria das variáveis do numerador e denominador dessa equação, é mais comum observar nas organizações uma forte atuação de compras apenas no controle dos custos percebidos (Monczka et al., 2002). O gerenciamento estratégico de custos deveria focar na avaliação dos trade-offs envolvidos na aquisição de produtos, tentando ponderar os benefícios e riscos de cada transação, o que inclui a avaliação do preço pago, a qualidade do produto adquirido, sua importância estratégica para os negócios da empresa e o grau de risco envolvido sua compra (Anderson e Dekker, 2009a). Segundo Moczka et al. (2002), existem três formas distintas de atuação da área de compras de forma a minimizar os custos percebidos no processo: por meio de abordagens de análise de preços (price analysis PA), que se refere ao processo de comparar preços de fornecedores de forma direta, buscando benchmarks; análise de custos (cost analysis - CA), que se refere ao processo de avaliar cada componente de custo relevante (como materiais, overhead, administrativos, margem de lucro, entre outros) que juntos formem o preço final a ser pago ao fornecedor por determinada transação; e o conceito de análise do custo total (total cost analysis - TCA), que se aplica à equação de preço/custo através de múltiplos fatores que envolvam duas ou mais empresas numa cadeia de suprimentos. Para análise de CA ou TCA, Atkinson et al. (2007) sugerem como metodologia para alocação dos custos o método de custeio baseado em atividades (ABC), de forma a medir os tempos e consumos de cada atividade e recurso para produção de um objeto de custo e posterior distribuição desses custos aos produtos finais. Entretanto, 7 Agndal e Nilsson (2007) contrapõem os argumentos de que um sistema ABC seja capaz de alocar os custos indiretos com precisão, e que fazê-lo suportaria decisões de negócio de forma eficiente. Quando as empresas trabalham com a cadeia de suprimentos de forma integrada, a aplicação do ABC poderia ser complexa demais e tornar as organizações engessadas nas atividades que deveriam ser realizadas e controladas e cortariam a flexibilidade de resposta da área de compras e suprimentos, causando deficiência na tomada de decisão (Agndal e Nilsson, 2007; Armstrong, 2002). 2.1.2. Definição do Gerenciamento Estratégico de Custos Segundo Freedman (1993), é comum, em momentos de crise, que empresas de todos os setores e portes, ameaçadas por resultados fracos e difíceis de justificar para os acionistas, adotem uma postura agressiva de corte de custos que implica a redução do número de empregados, desligamento de parte da operação e equipamentos, suspensão de contratos com fornecedores, entre outros. O autor ainda menciona que, o que parece ser uma solução simples e bastante vista na prática, não seria a melhor forma de conduzir uma organização para sair de uma crise financeira, dado que o resultado desse processo não seria sustentável no longo prazo. Guilding et al. (2002) e Freedman (1993) apresentam como uma possível solução a transformação do patamar de gestão de custos de algo mais operacional para um nível mais estratégico, permitindo que as empresas adotem uma abordagem de equacionamento de custos de forma pró-ativa, orientada estrategicamente e bastante racional em seu projeto para que possa permitir às organizações superar momentos difíceis e estabelecer vantagens competitivas em relação aos seus concorrentes no longo prazo, não apenas para superar crises momentâneas. Segundo Cooper e Slagmulder (2003), a gestão estratégica de custos consiste na aplicação de técnicas de gestão de custos com dois objetivos simultâneos: reforçar o posicionamento estratégico da empresa e reduzir seus custos totais. Entretanto, em empresas que dizem adotar programas de gerenciamento de custos, é comum observar bons resultados obtidos no curto prazo relacionados à conquista de metas de redução 8 de custos, porém associadas a um enfraquecimento da estratégia de longo prazo da empresa, podendo comprometer a superação de metas de longo prazo e favorecer concorrentes mais alinhados a estratégias de longo prazo a criarem vantagens competitivas difíceis de serem superadas. Portanto, em muitas organizações o gerenciamento de custos ainda não é tratado de forma estratégica, sendo visto como uma ferramenta passageira para contenção de despesas em momentos de crises com o objetivo de assegurar a sobrevivência da empresa neste período (Cooper e Slagmulder, 2003). Numa definição mais precisa, o gerenciamento estratégico de custos pode ser definido como o uso das informações de custos para ajudar a formular e comunicar estratégias, definir suas táticas de implementação e, em seguida, desenvolver e implementar ferramentas de controle que monitorem o sucesso da conquista desses objetivos (Govindarajan e Shank, 1992a; Govindarajan e Shank, 1992b). Ou seja, é o tratamento da gestão de custos de forma estratégica pela organização, buscando a redução do custo total relevante, seja no ambiente interno, seja de forma integrada na cadeia de suprimentos (Ellram, 2000). No passado, muitos gestores focavam no desenvolvimento dessas iniciativas de forma interna à organização. Entretanto, as organizações perceberam que para capturar maiores benefícios de redução de custos no processo, seria importante envolver toda a cadeia de suprimentos, de montante a jusante (Monczka et al., 2002). Dessa forma, a gestão estratégica de custos assumiu o papel de obter uma ampla visão dos custos da organização, sejam internos ou externos, para estabelecer vantagens competitivas sustentáveis (Govindarajan e Shank, 1992b). Portanto, o gerenciamento estratégico de custos ocorre nas interações entre comprador e fornecedor, como uma fonte de vantagem competitiva que pode oferecer baixo custo, bem como alta produtividade, qualidade, receptividade do cliente e inovação (Anderson e Dekker, 2009a). 9 Embora haja uma tendência da integração do gerenciamento de custos para toda a cadeia de suprimentos com uma abordagem mais estratégica, muitas empresas de menor porte, ou que sofrem pressão por resultados de curto prazo por apresentarem indicadores de retorno sobre o patrimônio líquido menor que seus concorrentes, encontram dificuldades de implementar as técnicas de gestão de custos mais avançadas e discutidas pela literatura (Ellram et al., 2002). Esse critério se baseia na necessidade de apresentar resultados imediatos para os acionistas, mesmo que para o longo prazo, a postura de negociação agressiva com fornecedores e foco interno na redução de custos não seja eficiente. Segundo Aluko et al. (2010), numa pesquisada realizada pela Ernst & Young Terco com mais de 23.000 membros seniores do US Institute of Management Accountants, 80% dos gestores relataram que o gerenciamento estratégico de custo é visto como algo fundamental para atingir o sucesso da organização, mas 98% consideraram que suas práticas empresariais eram insatisfatórias. Uma vez que a maioria dos projetos para tentar elevar o patamar da gestão de custos ao nível estratégico falhava em menos de dois anos, as grandes conquistas obtidas em termos de redução de custos no âmbito global da organização estavam longe do ótimo desejado. Segundo os gestores, as principais quebras de continuidade de projetos com tratamento moderno da gestão de custos em nível estratégico se davam por conta do conflito de metas e interesses entre as áreas operacionais, financeiras e estratégicas das empresas (Aluko et al., 2010). 2.1.3. Integração do Conceito no Supply Chain Management A literatura de gerenciamento estratégico de custos tem aproximado essa prática para o lado de finanças ou contabilidade (Cooper e Slagmulder, 2003). Essa menção é justa uma vez que essas áreas têm, geralmente, responsabilidade fiduciária em controle de custos (Roslender e Hart, 2003). Entretanto, em muitas organizações é a área de compras e suprimentos que exerce o papel de controlar e planejar grande parte das 10 despesas, que chegam a representar até 60% dos custos totais de uma organização (Ellram e Siferd, 1998; Ballou, 2006). Através da integração entre os elos da cadeia de suprimentos via área de compras e suprimentos, seria possível identificar novas oportunidades de melhoria dos processos com reduções mais eficazes de custos nas operações (McLaren et al., 2002; Ballard, 2005). Alguns exemplos podem ser listados, como esforços de engenharia de valor, desenvolvimento de fornecedores, melhoria de custos através de programas cross-companies, brainstorming conjunto, programas de sugestão do fornecedor, entre outros (Monczka et al., 2002). A figura a seguir faz o comparativo entre o papel da área de compras e suprimentos na gestão estratégica de custos antes e depois da visão integrada na cadeia de suprimentos. Supply Chain Gerenciamento Estratégico de Custos Foco interno Foco integrado (interno + externo) Engenharia de valor Iniciar o processo de desenvolvimento de produtos e alcançar metas de preço e custo. Desenvolver trabalhos em equipes multifuncionais e cross-companies. Engenharia/ análise de valor Análise de valor Definir especificações, eliminações e mudanças. Gerenciar e garantir o cumprimento da melhoria contínua por parte do fornecedor. Desenvolvimento de fornecedor Estratégia de commodity Negociar, trabalhar com escala de volume, gerenciar fornecedores, globalizar, terceirizar e fazer parcerias. Unir forças, identificar e definir custos, melhorar estratégias, executar e monitorar resultados. Melhoria de custos integrada Melhoria de processos Eliminar atividades que não agregam valor. Listar projetos que agregam valor. Brainstorming conjunto Modelagem de custos Determinar metas de custos para cada atividade geradora de custos. Sugerir reduções de custos, redesenhar a operação, redefinir necessidades de materiais. Programa de sugestões Reduzir número de elos na cadeia, desenvolver consórcios com fornecedores. Redesenho do Supply Chain Figura 2 – Comparativo do papel do gerenciamento estratégico de custos entre o foco interno e integrado na cadeia de suprimentos - Adaptado de Monczka et al. (2002) pg. 415-416 11 O gerenciamento estratégico de custos proposto por Govindarajan e Shank (1992a; 1992b) prevê a interface entre três modelos analíticos: análise da cadeia de valor, análise do posicionamento estratégico e análise estratégica dos drivers de custo. Primeiramente, a empresa deverá analisar as fontes de materiais e serviços disponíveis e entender a estrutura de custos por trás de cada uma delas sob um ponto de vista estratégico. Em seguida, a empresa deverá segmentar suas compras em posições estratégicas distintas baseadas em produto, indústria e mercado, determinando para cada cluster formado onde a organização deverá gastar menos esforço estratégico de custo ou tomar uma atitude de diferenciação estratégica. Finalmente, após ter determinado a estratégia competitiva, a empresa deverá levar adiante as análises de drivers de custo para descobrir quais fatores induzem a mudanças significativas nos patamares de custos relevantes e buscar reduzi-los olhando para a estrutura global da empresa. Além disso, diversos estudos (por exemplo, Kleyner e Sandborn, 2008; Krozer, 2008; Ilic et al., 2010) sugerem que haja uma conexão entre a formação da estratégia competitiva de compras com a fase do desenvolvimento do ciclo de vida dos produtos de forma a garantir uma maior precisão nos investimentos e controle nos custos relevantes mais presentes no cotidiano das operações. Anderson e Dekker (2009a) propõem dois tipos de drivers de custos como base para a gestão estratégica de custos na cadeia de suprimentos: drivers de custos estruturais que refletem a estrutura organizacional, as decisões de investimento e o nível de alavancagem operacional da empresa; e drivers de custo da execução, que refletem a eficácia e eficiência da execução da estratégia. Dito de outra forma, a gestão de custos estruturais pode ser concebida como uma escolha entre as funções de produção alternativas que utilizam insumos diferentes ou combinações dos mesmos para atender a uma demanda particular do mercado. A gestão de custos de execução está preocupada, por outro lado, para uma dada função de produção, em verificar se a empresa está operando de forma eficiente. A figura a seguir ilustra a relação entre o 12 gerenciamento de custos nas diversas fronteiras de uma organização ao longo da cadeia de suprimentos. Análises de mercado e de competitividade Identif icar necessidades dos clientes Avaliar of ertas dos concorrentes Especificar a proposta de valor Cliente e Fornecedor: Desenvolvimento estratégico conjunto e gerenciamento estrutural de custos • Projeto de produto • Desenho do processo • Nível de risco • Valor para os stakeholders Avaliar as competências internas Desenho organizacional • Escala de operação • Suprimentos • Seleção de parceiros • Relacionamento cliente-f ornecedor Análise da sustentabilidade da cadeia de suprimentos Cliente e Fornecedor: Gerenciamento de custos de execução • Cliente e f ornecedor estão recebendo valores justo de mercado em seu relacionamento comparado com outras alternativas de parceria onde poderiam atuar? • Cada parte na cadeia está agregando valor de f orma proporcional a seus custos? • Há alterações potenciais na proposta de valor ou no desenho do relacionamento que poderiam resultar em maior agregação de valor para todos os stakeholders? Stakeholders Operações conjuntas em curso • Empregados • Fornecedores • Comunidades • Governo • ONGs • Clientes •Acionistas Cadeia de valor • P&D • Suprimentos • Operações internas • Logística • Marketing • Vendas • Pós-vendas • Logística reversa Avaliação de desempenho Cliente e Fornecedor: Gerenciamento de custos de execução • Os níveis de volatilidade de custos estão apropriados se comparados com os benchmarks? Monitoramento, feedback e melhorias • As melhorias de desempenho dos custos estão acontecendo de f orma apropriada às curvas de aprendizagem e ao nível de investimentos em f erramentas tecnológicas? Figura 3 - Gerenciamento estratégico de custos - Adaptado de Anderson e Dekker (2009a) pg. 203 13 Por fim, Fu (2007) complementa a integração do gerenciamento estratégico de custos com estratégias de e-supply chain, que envolveriam a tendência no século XXI de estabelecer relações entre compradores e fornecedores de forma virtual. Fu (2007) desenvolve três principais métodos de contabilidade de gestão estratégica de custos da cadeia de suprimentos virtual. Estes métodos, incluindo a partilha de informação para além das fronteiras da empresa, a gestão sinérgica do projeto do produto, a utilização sinérgica e gestão de ativos intelectuais, poderiam ser aplicados para melhorar a capacidade competitiva e para resolver os atuais problemas da gestão de custos além do limite da empresa, de modo a mostrar o efeito positivo do mecanismo de coordenação da cadeia de valor virtualmente integrada. 2.1.4. Estratégias de Gerenciamento de Custos em Compras Segundo Monczka et al. (2002), o gerenciamento estratégico de custos pode ser diferente para cada estágio do ciclo de vida de um produto ou serviço, o que vai requerer abordagens distintas entre as fases. Ilic et al. (2010) afirmam que há uma evidente conexão entre o ciclo de vida do produto e a cadeia de valor e, dessa forma, ele abrange todas as etapas pertinentes à agregação de valor a um produto, indo desde sua concepção e garantia de matéria-prima até a entrega final. Segundo Ilic et al. (2010), essas etapas seriam: pesquisa e desenvolvimento; design de produto, incluindo a realização de protótipos; produção, inspeção técnica, embalagem e armazenamento; promoção, marketing e distribuição; vendas e serviços. Tradicionalmente, a gestão de custos tem se concentrado apenas nos custos incorridos na etapa referente à produção. Segundo Ilic et al. (2010), para uma abordagem estratégica, o ciclo de vida do produto deve ser gerido incluindo as despesas de pré-produção, os custos de produção e os custos de pós-produção. Portanto, o cálculo no ciclo de vida do custo associado a um produto ou serviço deve ter uma perspectiva de longo prazo, permitindo uma visão mais abrangente dos custos totais relevantes de um produto/serviço e sua lucratividade (Govindarajan e Shank, 14 1992b). A figura a seguir ilustra as fases do ciclo de vida de um produto ou serviço, indicando o papel da gestão estratégica de custos para cada momento. Idealização do produto Meta de custo inicial • Implantação da f unção da Qualidade • Gerenciamento de risco • Compartilhamento de tecnologia da inf ormação Projeto de produto Meta de custo final • Engenharia de valor • Projeto de manuf atura • Integração do f ornecedor no desenvolvimento do produto Produção contínua Protótipo/ Piloto Início do contrato Final de vida Melhoria contínua de custo/preço • Bidding competitivo • Análises de valor • Negociações agressivas • Escala de produção • Gestão de contratos de serviços • Remanuf atura • Reciclagem • Renovação Figura 4 - Gerenciamento de custos através do ciclo de vida de produtos e serviços - Adaptado de Monczka et al. (2002) pg. 416 Kleyner e Sandborn (2008) ainda sugerem a inclusão de uma etapa relevante na gestão do ciclo de vida dos produtos e sua integração na cadeia de valor, que seria a parte referente aos custos de pós-venda de produtos e serviços. Segundo os autores, uma parte relevante dos custos de uma montadora de automóveis, por exemplo, está ligada à manutenção de peças dentro do prazo de garantia, o que gera custos indesejáveis, porém reais. Dessa forma, acreditam que, assim como para as montadoras, diversos outros setores tenham gastos significativos e mal geridos nas operações de pós-venda, principalmente naqueles em que há oferta de garantias estendidas. Numa fase inicial, onde há o estágio de idealização e definição do conceito do produto, a área de compras pode ter um papel mais pró-ativo para definir as metas de custos. Adicionalmente, podem ser desdobradas as funções da qualidade, que envolvem a transformação de demandas em projetos de qualidade, para implantar métodos para atingir a qualidade do projeto em subsistemas e componentes, e, finalmente, nos elementos específicos do processo de fabricação (Ficalora e Cohen, 2009). A área de compras também pode estabelecer um processo de compartilhamento de informações tecnológicas, buscando otimizar o processo de desenvolvimento do 15 produtos, trazendo para a produção o que há de mais moderno e eficiente no mercado (Chu e Lee, 2006). Numa segunda fase, conforme o produto ou serviço entre no estágio de projeto e desenvolvimento, o papel de compras seria definir os parâmetros finais das metas de custos, uma vez que os orçamentos de engenharia, desenho da estrutura de produção e formas de integração entre os elos da cadeia de suprimentos seriam mais facilmente visualizados, permitindo a esses profissionais da área de compras identificarem oportunidades para redução de custos (Monczka et al., 2002). Em seguida, haverá a fase de lançamento e teste do produto ou serviço no mercado. Nela, os profissionais de compras deveriam adotar abordagens de redução de custos mais tradicionais, incluindo biddings, negociações com os fornecedores, análise da proposta de valor, negociações por economia de escala, entre outras (Monczka et al., 2002) Também seriam desenvolvidas as parcerias de suprimento de longo prazo, dando início à formação de contratos que prevêem o fortalecimento da relação comprador-fornecedor e uma geração de benefícios mútuos (Anderson e Katz, 1998). Após a fase de lançamento e crescimento de produção e penetração no mercado, os produtos e serviços alcançam uma fase de estabilidade que tende ao declínio, podendo ou não ser extintos (Kotler e Keller, 2006). Nesse momento, o papel de compras seria trabalhar numa gestão de custos que busque uma melhoria contínua, aproveitando o conhecimento prévio do mercado, suas oscilações de vendas, o perfil dos fornecedores, os imprevistos logísticos e técnicos, entre outros (Kleyner e Sandborn, 2008). A redução da variabilidade de algumas variáveis-chave pode contribuir de forma significativa para a redução dos custos totais relevantes, e serão mais facilmente percebidas conforme o produto ou serviço tende a ficar mais estável em termos de aceitação e penetração no mercado (Kotler e Keller, 2006). Monczka et al. (2002) ainda afirmam que, conforme um produto alcança o final do ciclo de vida, um 16 aumento potencial de valor percebido para a organização pode ser obtido através de iniciativas de re-manufatura, reciclagem ou renovação das formas de produção. Assim sendo, pode-se dizer que os maiores benefícios de iniciativas de redução de custos ocorrem quando a área de compras e suprimentos está envolvida nos estágios iniciais do ciclo de vida do produto (Monczka et al., 2002). Quando decisões de suprimento são feitas de forma antecipada, no processo de desenvolvimento dos produtos, serão maiores as chances de desenvolver uma cadeia de suprimentos eficiente com um relacionamento benéfico e de longo prazo entre fornecedores e compradores (Ballou, 2006). Quando a área de compras entra de forma tardia no processo de desenvolvimento do produto, menores são os efeitos percebidos dos esforços para redução dos custos totais, uma vez que as escolhas de suprimentos mais relevantes já foram feitas, e estarão, de certa forma, amarradas (Monczka et al., 2002). Para priorizar esforços na redução de custos, muitas organizações também adotam um framework estruturado que pode ser trabalhado pela área de compras integrando-o com a cadeia de valor do produto. Essa metodologia estabelece uma relação entre o risco de suprimento e o valor (custos) do produto, criando quatro categorias que devem ser tratadas com estratégias distintas: produtos específicos, genéricos, commodities e produtos críticos (Monczka et al., 2002). Para a gestão de produtos genéricos, não é necessário gastar muito tempo e esforço em análises detalhadas de custos, uma vez que esses produtos tenderão a gerar pouco retorno no futuro e estão amplamente distribuídos no mercado através de inúmeros fornecedores (Monczka et al., 2002). Nesse caso, como as restrições de qualidade estarão distribuídas de forma quase uniforme entre os fornecedores, a estratégia de compras seria voltada unicamente para a aquisição dos produtos de menor preço (Anderson e Katz, 1998). Já para commodities, que também estão bastante difusas no mercado, porém representam uma possibilidade maior de agregação de valor à empresa, deveriam ser adquiridos por processos tradicionais de bidding. Os produtos específicos são aqueles de maior risco de suprimento, que podem 17 gerar algum entrave de maior gravidade para a operação de uma organização, mas que representam, de forma geral, baixos custos de aquisição, como itens de manutenção, reparos e operações (MRO). Para esses itens, a área de suprimentos deveria atuar de forma a garantir o menor custo possível, desde que a segurança da operação esteja garantida (Anderson e Katz, 1998). A figura a seguir apresenta o nível de risco, fatores críticos e estratégias recomendadas por Monczka et al. (2002) para a gestão de compras por tipo de produto. Produtos Críticos • Alto risco, baixo valor • Estratégia: adotar fornecedores preferenciais • Fatores críticos: altos custos quando ocorrem problemas de qualidade e custo • Métricas: redução de custo unitário, metas de custo, redução de custos de entrega • Alto risco, alto valor • Estratégia: criar relacionamentos estratégicos com fornecedores • Fatores críticos: altos custos quando ocorrem problemas de qualidade e custo • Métricas: conquista de preços-alvo, redução de custo unitário, economias de custos de forma conjunta com os fornecedores Risco + Produtos Específicos - Produtos Genéricos • Baixo risco, baixo valor • Estratégia: padronizar, consolidar • Fatores críticos: reduzir os custos de aquisição • Métricas: Custo total de entrega do produto, percentual de custo em relação às vendas, redução dos custos de transporte - Commodities • Baixo risco, alto valor • Estratégia: compras em escala com fornecedores preferenciais • Fatores críticos: reduzir custos de materiais • Métricas: alterar preços de acordo com os índices de mercado Valor + Figura 5 - Framework para gerenciamento de risco e custo de aquisição - Adaptado de Monczka et al. (2002) pg. 417-418 O grande desafio estaria na gestão dos produtos críticos. Esses são compostos por itens com alto potencial de agregação de valor para a empresa e, ao mesmo tempo, presentes através de um número reduzido de fornecedores (Monczka et al., 2002; Anderson e Katz, 1998). É nessa categoria que os gestores deveriam passar a maior parte do tempo buscando oportunidades para criar uma “engenharia de valor”, buscando o máximo possível da redução de custos, realizando a integração com os 18 fornecedores nas fases iniciais de desenvolvimento do produto e identificando e gerenciando, de forma conjunta com os fornecedores, os drivers de custos. Com a maximização dos esforços voltados para a gestão eficiente dos itens críticos, a empresa estará aumentando a proposta de valor oferecida a seus clientes, contribuindo para a geração de vantagens competitivas sustentáveis de longo prazo (Govindarajan e Shank, 1992b). 2.1.5. Ferramentas de Gerenciamento Estratégico de Custos Uma das primeiras etapas na implantação do gerenciamento estratégico de custos numa organização é o conhecimento das estratégias de preço adotadas pelos fornecedores. Segundo Lamm e Vose (1988), existem diferentes abordagens estratégicas que impactam nos preços de seus produtos, sendo que algumas empresas se baseiam em análises detalhadas da estrutura de custos interna para definir seus preços, enquanto outras simplesmente determinam seus preços baseados no mercado, sem nenhuma relação com sua estrutura de custos. Monczka et al. (2002) dizem que em determinadas situações, os fornecedores podem reduzir seus preços de forma significativa, para assegurar uma venda e garantir o desenvolvimento de uma parceria, apostando em retornos no longo prazo, ou podem determinar margens exorbitantes quando percebem a dependência do comprador dos seus produtos. Para Emiliani et al. (2005), é recomendável que a área de compras identifique o tipo de estratégia que cada fornecedor está tentando utilizar, de forma a se posicionar adequadamente perante às negociações contratuais, e até repensar a escolha de seus parceiros de longo prazo. As estratégias de preços podem ser agrupadas em quatro categorias precificação de demanda, precificação custo mais margem, precificação por mark-up e precificação buy-in. (Lamm e Vose, 1988): Precificação de demanda: É uma estratégia utilizada por fornecedores que pretendem ganhar o máximo possível com seus produtos, normalmente utilizada em inovações que terão forte aceitação no mercado. Essa estratégia é importante para 19 gerar o maior retorno possível aos fornecedores antes que os concorrentes entrem no mercado e os custos de pesquisa e desenvolvimento não sejam totalmente recuperados. Também é muito comum em mercados dominados por monopólios, onde o fornecedor determina altos preços sem que isso afete de forma significativa sua demanda. Nesses casos, a área de compras tem poder de ação mais limitado, principalmente por conta do número reduzido de fornecedores capazes de ofertar produtos com a mesma tecnologia. Uma das saídas é tentar reduções de preço por escala, ou aguardar a entrada de novos fornecedores no mercado que forçarão a redução de preços. Precificação custo mais margem: Quando se detecta um aumento da competição no mercado, atrelado ao aumento de volume de produção e vendas, uma estratégia comum é a precificação através de custo mais margem. Esse método visa cobrir os custos variáveis operacionais, além de contribuir com uma parte para cobertura dos custos fixos e da margem. Dessa forma, é comum ver sua prática em estratégias de penetração de mercado uma vez que o preço é quase que uma resultante direta dos custos, podendo ser dimensionado de forma a minimizar as margens para conquistar novos clientes. A atenção que se requer da área de compras nesses casos é observar se o fornecedor aceitou reduzir sua margem para enfrentar uma competição de longo prazo ou se apenas está adotando uma estratégia passageira para fidelizar os clientes e posteriormente trabalhar com margens exorbitantes. Precificação por mark-up: É um procedimento utilizado quando o fornecedor tem pouco conhecimento sobre sua estrutura de custos e estabelece um valor percentual (mark-up) a ser acrescido sobre os custos diretos de um produto (normalmente mão-de-obra e custos de materiais). A lógica da precificação é parecida com a de custo mais margem, no sentido de buscar contribuir de alguma forma para a compensação dos custos indiretos e gerar uma margem de lucro adicional. Para a área de compras, é importante observar se ao contratar um fornecedor com essa estratégia 20 de precificação é possível mapear sua verdadeira estrutura de custos a fim de se obter vantagens durante a etapa de negociação. Precificação buy-in: Tem uma lógica parecida com a estratégia de custo mais margem, que exige conhecimento real da verdadeira estrutura de custos da organização, porém tem o objetivo de contribuir de forma muito reduzida para a compensação dos custos fixos e para a geração de margem de lucro. É comumente utilizada em períodos de baixa demanda, apenas para garantir a sobrevivência da organização até o novo pico de demanda, ou quando uma determinada empresa deseja traçar uma estratégia de conquista de market-share e, de forma controlada, estabelece preços menores que seus concorrentes sem prejudicar de forma significativa sua rentabilidade no médio prazo. Portanto, a área de compras deve estar atenta à finalidade do uso de tal técnica de precificação para evitar ser conquistada e amarrada no longo prazo a fornecedores oportunistas que, depois de conquistar os clientes, trabalharão com margens de lucro exorbitantes. Tão importante quanto compreender as estratégias de precificação utilizadas pelos fornecedores é a compreensão e o mapeamento adequado da estrutura de custos do fornecedor (Monczka et al, 2002). As organizações estão cada vez mais voltadas para o gerenciamento dos custos em busca de oportunidades para reduzi-los (Ellram, 2000). Entretanto, ter um bom desempenho nas análises de custos dos fornecedores é uma tarefa que depende claramente da qualidade e do acesso à informação, que por sua vez está diretamente ligado ao grau de relacionamento estabelecido entre as partes (Zsidisin et al., 2003). Segundo Gopalakrishnan et al. (2007), uma alternativa bastante comum para se obter dados suficientes para análise de custos é requisitar um detalhamento da estrutura de custos da produção de determinado produto, que inclua custos diretos, indiretos e margem explícita. O autor ressalta que a validade das informações pode ser questionável nesse caso. Outra abordagem seria a troca de informações de custos entre cliente-fornecedor, que contaria com equipes multifuncionais compostas de 21 engenheiros e gerentes de produção de ambas as empresas, que trabalhariam de forma conjunta buscando oportunidades de melhoria de processos e, consequentemente, redução de custos (Zsidisin et al., 2003). Os autores ainda afirmam que, neste caso, um dos benefícios de desenvolver um relacionamento mais estreito seria a facilidade de obtenção de informações e a visibilidade da estrutura de custos dos fornecedores. Dos métodos tradicionais de análise de custos, serão citados três: análise reversa de preço, planilha de custos de produção e análise de break-even (Monczka e Trecha, 1988). Análise reversa de preço: É recomendada quando o fornecedor tem dificuldade ou simplesmente não quer revelar sua estrutura real de custos. Parte-se do princípio de que ele trabalha com um preço para cobrir seus custos variáveis e ter certa contribuição nos custos fixos e na margem de lucro. Nesse caso, a empresa deveria recorrer a equipes de engenharia interna e fazer uma pesquisa de mercado com dados históricos a respeito dos custos de produção de determinados produtos ou serviços de forma a estimar a estrutura final de custos do fornecedor. Essa análise pode apresentar resultados bastante distorcidos, uma vez que premissas de produtividade do fornecedor devem ser adotadas. Outro ponto crucial seria conseguir desmembrar a cadeia de valor do fornecedor e todos os drivers de custos que possam fazer parte dela. Planilha de custos de produção: Consiste em identificar o custo para o fornecedor produzir determinados itens e determinar o comportamento desse custo em cenários de produção com diferentes volumes. Essa técnica pode ser útil por diversas razões: primeiramente, permite à área de compras identificar o nível de produção mais eficiente para seu fornecedor, o que pode ser útil para tomadas de decisão do tipo comprar ou fazer; além disso, permite que a organização tenha uma boa percepção sobre quando um fornecedor pode produzir o item de forma eficiente, respeitando os requerimentos da área de compras, ou seja, identifique qual fornecedor utilizar para cada nível de demanda da organização, de forma a melhorar o processo de compras. 22 Análise de break-even: Essa técnica de análise requer tanto dados de custos quanto de receita para identificar o ponto no qual o lucro esperado seja igual a zero. Deveria ser utilizada pelos especialistas da área de compras de modo a identificar se o preço-alvo de compra implica gerar alguma margem de lucro para o fornecedor, evitando um cenário de risco de falência para seu parceiro, que poderia trazer conseqüências negativas para as operações da organização no médio prazo. Para tal, é necessário obter uma base detalhada dos custos relevantes de produção de um produto, realizar cenários distintos de volume de compras e avaliar os impactos deles na compensação dos custos fixos do fornecedor e preparar ambos os lados para uma negociação que seja caracterizada por ganha-ganha. Entretanto, Ellram e Stanley (2008) afirmam que, embora as análises de custo tradicionais avaliem os impactos financeiros de decisões gerenciais individuais, o gerenciamento estratégico de custos utiliza de forma deliberada a informação para dar suporte e melhorar a estratégia da organização. Com ele seria possível aprimorar a estrutura de custos da organização e o desempenho de produtos e serviços através de análises dos drivers de custo, posicionamento estratégico e cadeia de valor, dando maiores subsídios para uma avaliação mais precisa em tomadas de decisão estratégicas para a organização, tais como insourncing e outsourcing, de forma a determinar os potenciais benefícios da integração interna dos processos, tanto com os fornecedores quanto com os clientes. Como já mencionado anteriormente, a evolução natural do gerenciamento estratégico de custos tratada por diferentes autores (Ellram e Stanley, 2008; Anderson e Dekker, 2009a; Govindarajan e Shank, 1992a; Govindarajan e Shank, 1992b) visa o envolvimento da organização com seus clientes e fornecedores, de modo a compartilhar informação ao longo da cadeia de suprimentos e trabalhar para reduzir os custos totais relevantes em compras agregando o máximo de valor para o cliente. Ellram e Stanley (2008) sugerem ainda que o gerenciamento estratégico de custos não só deve ter um escopo amplo de relacionamento na cadeia, como deve considerar de forma simultânea e complementar as análises da cadeia de valor, a análise de 23 posicionamento estratégico da organização e as análises dos drivers de custos, considerando os aspectos de custo total de propriedade (que será abordado mais à frente). Um processo que existe há bastante tempo e vem sendo utilizado por grandes empresas é o target-costing, que teve seu primeiro modelo desenhado na Toyota em 1959 (Gopalakrishnan et al., 2007). Segundo Ellram (2000), ele consiste na definição de metas ou objetivos específicos com relação aos custos para produzir um produto. O valor é conhecido através da definição de um preço de venda menos a margem de contribuição desejada, e pode ser utilizado para o processo de lançamento de um novo produto (onde é mais fácil determinar a priori o preço de entrada no mercado que os custos esperados) ou para estimular o aumento da eficiência dos processos produtivos de produtos que já estão no mercado e precisam reduzir seus custos para se manterem competitivos ou lucrativos (Rifat e Gökhan, 2010). Zsidisin et al. (2003) falam que o target-costing integra as decisões de custos de uma determinada empresa com as decisões de custos de outras empresas envolvidas na mesma cadeia de suprimentos. Isto requer que sejam analisados os trade-offs relacionados a custo, velocidade, flexibilidade, qualidade, entre outros, de forma interorganizacional, a fim de garantir que as metas de custos definidas sejam alcançadas. Os autores ainda dizem que cada empresa é capaz de influenciar a lucratividade da outra e, portanto, sugerem que o relacionamento entre compradores e fornecedores seja cooperativo, com troca de informações relevantes, suportado por uma consideração estratégica da área de compras dentro de suas próprias organizações. Para desenhar um processo de target-costing numa empresa, Ellram (2000) sugere que sejam seguidos seis passos: especificação do produto, definição do preço, definição da margem, detalhamento dos custos, plano de ação e melhoria contínua. 1) Especificação do produto: A primeira etapa consiste em identificar as necessidades do mercado e definir quais as especificações necessárias para que o 24 produto atenda a essas necessidades específicas. Nesse momento a integração das áreas de marketing, produção, P&D e compras é importante para assegurar a viabilidade do projeto. 2) Definição do preço: Após a definição das especificações do produto e seu conseqüente posicionamento no mercado, a empresa deve avaliar o quanto os seus consumidores potenciais estariam dispostos a pagar, ou quanto a concorrência tem cobrado por produtos que competem diretamente com os seus. 3) Definição da margem: A margem desejada é normalmente definida por um comitê no planejamento estratégico da empresa. Após aprovação por parte da alta gerência, é definido aritmeticamente o custo alvo. 4) Detalhamento dos custos: Os custos devem ser quebrados de forma hierárquica. Primeiramente, o custo-alvo deverá ser alocado nos centro de custos operacionais, tais como marketing, produção, logística, distribuição, compras e administrativos. Em seguida, os custos de compras deverão ser segmentados por produtos e serviços, sendo posteriormente segregados por categorias de produtos e serviços, para que sua gestão seja facilitada (volume, criticidade, representatividade no custo total, etc). 5) Plano de ação: Exige tempo e disponibilidade de recursos para que seja bem feito. Consiste em desenhar um modelo de trabalho cooperativo com os fornecedores visando atingir as metas de custos estabelecidas. Nesse momento são discutidos aspectos como o desenvolvimento de fornecedores, alteração de especificações, desenvolvimento de materiais específicos, trade-off de custos, etc. 6) Melhoria contínua: É realizado uma vez que a empresa tenha atingido suas metas de custos e deseje aumentar a eficiência dos processos, reduzir o preço de venda dos seus produtos ou até aumentar a margem de contribuição desejada. Ferramentas de monitoramento de custos são bastante úteis para essa etapa. 25 2.2. CUSTO TOTAL DE PROPRIEDADE (TCO) O conceito de Custo Total de Propriedade (TCO) foi desenvolvido inicialmente no ano de 1987 para dar suporte aos investimentos em tecnologia da informação nas grandes empresas. Através dele, a área de compras poderia assumir um papel decisivo no posicionamento competitivo de uma determinada organização em termos de custos, uma vez que seria capaz de enxergar, mensurar e melhorar o desempenho de drivers de custos indiretos relacionados à compra de bens e serviços, que dificilmente eram levados em consideração – por exemplo, o risco (Webber, 2010). 2.2.1. Definição de Custo Total de Propriedade O TCO é definido como uma filosofia que requer que a organização identifique e quantifique todos os custos relevantes durante o processo de aquisição de bens e serviços relacionados a um fornecedor específico (Ellram, 1993a). Ou seja, o TCO compreende o verdadeiro custo de um produto como sendo formado por seu preço de aquisição e outros fatores que reflitam custos adicionais gerados pelo fornecedor na cadeia de valor da empresa, associados ao ciclo de compras, como manutenção, uso, processamento, qualidade, tecnologia, garantia, entre outros (Garfamy, 2006). Ellram e Siferd (1993) afirmam que, para uma tomada de decisão correta durante o processo de compras, seria necessário incluir custos relativos a problemas de qualidade como retrabalho, inspeção e atrasos; custos relacionados à entrega considerando pontualidade, leadtime e pedido completo; custos relativos à comunicação com o fornecedor, tais como utilização de EDI ou fluxo de papel; custos associados à prestação de serviço, tais como expedição e devolução de itens devido a problemas de qualidade, problemas na entrega, erros na fatura, entre outros; e, por fim, custos administrativos, tais como treinamento e transferência de tecnologia. Quando todos esses fatores fossem levados em consideração, fornecedores com os preços mais atrativos não necessariamente seriam a melhor opção para a empresa. 26 Segundo Garfamy (2006), essa filosofia ajudaria a empresa a ter um maior conhecimento sobre o desempenho dos seus fornecedores e suas estruturas de custos, gerando uma base de dados significativa para auxiliar em negociações de preços e traçar programas de desenvolvimento de fornecedores. Segundo Zsidisin et al. (2003), o TCO poderia justificar diferenças significativas nos preços de compra baseando-se no trade-off de custo/qualidade de longo prazo, fornecendo informação suficiente para o comprador a respeito das estratégias traçadas por seus fornecedores e auxiliando no desenvolvimento de parcerias estratégicas de suprimentos. Ellram (1993a) aborda o TCO de forma integrada na cadeia de suprimentos, afirmando que este poderia considerar os custos incorridos em toda a operação da empresa, desde a formação de idéias iniciais em pesquisa e desenvolvimento de produtos, até as exigências de garantia do item uma vez que o produto acabado já estivesse em uso pelo consumidor final. Além disso, a autora diz que o TCO poderia estar diretamente associado às atividades de redução das barreiras existentes entre a organização compradora e seus fornecedores, como por exemplo, ações de cooperação, compartilhamento de informações e identificação de trade-offs ao longo da cadeia de suprimentos. Segundo Anderson et al. (2005), o TCO seria base para modificações na forma como essas empresas fariam negócios, sugerindo a reavaliação de responsabilidade sobre determinadas atividades ou a definição de quais seriam os efeitos de mudanças no processo de compras. Essa característica, ainda que considerada pouco presente nas práticas do TCO, estaria em fase de expansão em termos de sua utilização. Entretanto, TCO ainda é uma técnica complexa demais para ser adotada pela maioria das organizações, exigindo por parte da empresa compradora a definição prévia de quais seriam os custos relevantes e mais importantes durante para o processo de aquisição e utilização de um determinado produto (Degraeve and Roodhooft, 1999). Além disso, os requisitos para coleta, manutenção e análise de dados necessários para se tomar uma decisão pontual e específica podem não justificar 27 os benefícios financeiros potenciais de sua aplicação. Como se não bastasse, a adoção do TCO pode exigir uma mudança cultural significativa na organização, passando de uma orientação por preços para uma orientação por custo total (Bhutta e Huq, 2002). 2.2.2. Integração da Área de Compras com o TCO Ellram e Siferd (1998) definiram o TCO como uma ferramenta capaz de ajudar um gestor a tomar decisões importantes em cinco categorias: seleção de fornecedores, comunicação, gerenciamento de fornecedores, melhoria de desempenho e conhecimento operacional. As três primeiras categorias estariam diretamente ligadas às funções exercidas pela área de compras das organizações, onde o TCO estaria fornecendo subsídios importantes para que fossem avaliadas decisões de make-or-buy, envolvimento precoce no desenvolvimento de novos produtos, negociação de preços, desenvolvimento de um fluxo de informação fluente entre compradores e fornecedores, avaliação de desempenho, desenvolvimento de parcerias, entre outras. Já as duas últimas categorias estariam ligadas ao aumento do conhecimento das operações da organização e o seu alinhamento aos objetivos estratégicos de longo prazo, permitindo o desenvolvimento de melhorias contínuas nos processos com ênfase na redução de custos totais, o que necessariamente poderia estar delegado a mais de uma área na organização. As autoras (Ellram e Siferd, 1998) ainda mencionam que a área de compras é uma das partes da organização que melhor pode utilizar o TCO como ferramenta para otimização dos seus processos e funções, podendo contribuir de forma significativa para a redução de custos unitários dos produtos e conseqüente aumento do potencial da margem de lucro da empresa. Portanto, Ellram e Siferd (1998) desenvolveram um modelo em que apresentam os diferentes objetivos da adoção do TCO e as atividades do processo de compras que seriam apoiadas pelas análises de custo total de propriedade. Para cada um dos objetivos – estratégico, tático e operacional – as autoras listaram as principais aplicações dos modelos de TCO. 28 Estratégico Tático Operacional Melhoria contínua Questionar processos fundamentais Reengenharia de processos Decisões de outsourcing Gerenciamento da cadeia de suprimentos Desenvolvimento de fornecedores Gerenciamento e avaliação de fornecedores Identificar os drivers de custos que são responsáveis pelos altos custos da organização, tanto de forma interna quanto de forma externa. Feedback para os fornecedores Acompanhamento de desempenho Seleção de fornecedores Alocação de volume de compras Alocação de custos a produtos Figura 6 - Diferentes níveis de análise do TCO como ferramenta de suporte ao gerenciamento estratégico de custos – Adaptado de Ellram e Siferd (1998) pg. 67 Esse modelo ilustra como as análises de TCO podem dar apoio a uma grande gama de decisões, desde rotineiras, como qual o volume de compra que deve ser alocado a cada fornecedor, até decisões estratégicas, como fazer uma reengenharia de processos e definir se uma organização deve ou não estar ativa em determinados setores de negócios. Portanto, como o TCO é uma filosofia, pode ser aplicado de forma diferenciada entre as empresas, para cada diferente situação, não existindo de maneira única como modelo ótimo a ser adotado pelas organizações (Ellram e Siferd, 1998). Entretanto, Morssinkhof et al. (2011) chamam a atenção para o uso do TCO como filosofia essencial na tomada de decisões da área de compras das organizações. Em estudo realizado pelos autores, melhorar a qualidade da informação através da captura do impacto financeiro de diversas variáveis agregando atributos quantificáveis financeiramente pode ser útil para um tomador de decisão, porém deve ser feita com cautela. Os autores concluíram que em muitas organizações, alguns atributos geradores de custos indiretos e de mais difícil quantificação monetária são deixados de lado durante a aplicação do TCO, o que pode favorecer a tomada de decisões subótimas, gerando surpresas negativas no longo prazo. Para evitar esse tipo de problema, 29 os autores recomendam que os gestores estejam cientes das variáveis contempladas no TCO, bem como daquelas deixadas de lado, para que possam realizar uma análise mais completa antes de tomar qualquer decisão importante. 2.2.3. Classificação de modelos de TCO Ellram (1993b; 1994; 1995b) identificou que os modelos de TCO poderiam ser classificados de várias formas distintas, que serão detalhadas logo a seguir: classificação quanto à formalização; classificação quanto ao nível de customização; classificação quanto ao tipo de informação utilizada. Classificação quanto à formalização: Num estudo conduzido com gerentes de compras participantes do NAPM’s 1991 Annual International Conference, Ellram (1993b) constatou que as empresas tratavam o TCO com duas abordagens distintas: formal e informal. A primeira se dava quando uma determinada organização adotava de forma explícita a filosofia do TCO, reconhecendo no processo de compra os fatores de custos adicionais ao preço de venda do fornecedor. Essa formalização foi descrita por Ellram (1995b) como um método escrito e documentado para a determinação de custos associados à aquisição, uso e venda de um bem ou serviço de um determinado fornecedor e que faria parte da tomada de decisão, seja de rotina, tática ou estratégica, dos gestores da área de compras. De forma geral, os fatores de custos adicionais contemplariam elementos de transporte, recebimento, qualidade, durabilidade, flexibilidade e administrativos, podendo variar de importância e precisão na qualidade da informação obtida de empresa para empresa (Ellram, 1993b). Já o modelo informal se refere a não-adoção explícita da filosofia do TCO durante a tomada de decisão da área de compras. Entretanto, isso não quer dizer que o comprador se prenderia apenas ao preço de venda do fornecedor. Em geral, o que 30 Ellram (1993b) observou é que muitos dos gestores fariam análises de trade-off mentais considerando de forma mais qualitativa o tempo e o esforço dedicado para realizar uma compra de um determinado fornecedor, porém estando sujeitos a não considerarem os verdadeiros custos totais de cada transação. Além disso, a autora destaca o efeito temporal como um viés negativo para a adoção de uma filosofia informal do TCO, uma vez que o tomador de decisão estaria mais sujeito a assimilar problemas e esforços gerados por uma determinada transação recente e relevar os esforços que foram necessários em transações e relacionamentos com fornecedores mais antigos. Classificação quanto ao nível de customização: Ellram (1994) identificou diferentes níveis de customização de TCO utilizados por grandes empresas. Basicamente, a autora os agrupou em modelos totalmente customizados, que teriam sido desenhados para uma proposta específica dentro de uma complexidade única de cada tipo de negócio, e modelos padronizados, que se diferenciariam dos customizados por poderem ser utilizados de forma repetida para uma variedade de tipos de compras em indústrias distintas. O TCO customizado seria aquele desenvolvido para um modelo de compra único de um determinado item ou produto. Apesar da possibilidade de tais modelos serem baseados em um conjunto pré-estabelecido de fatores de custo, estes se apresentariam de forma diferenciada nos modelos customizados, onde o usuário identificaria e ponderaria cada fator baseado na experiência adquirida ao longo do tempo com transações deste item ou produto específico (Ellram, 1994). Desta forma, o desenvolvimento de modelos customizados poderia representar uma complexidade ainda maior na adoção do TCO por uma determinada organização. Entretanto, Ellram (1994) percebeu em seu estudo que a maioria das empresas que adotou um modelo customizado de TCO teve retornos positivos de redução de custos em relação ao tempo e investimento necessário para aplicá-lo. 31 Já o modelo padronizado, como o próprio nome já indica, não requisitaria intervenções por parte do usuário durante sua concepção, restando ao responsável por seu gerenciamento apenas a tarefa de inserir os dados de custos e analisar os resultados de output. Assim, estes modelos limitariam a flexibilidade operacional da área de compras quanto à consideração de outros elementos de custos que não estejam previamente incorporados no modelo. Em contrapartida, os custos do desenvolvimento e treinamento para operação do sistema seriam significativamente menores que os do modelo customizado, tornando sua aplicação mais fácil (Ellram, 1994). Ellram (1994) ainda identificou o perfil das organizações que optavam por um ou outro modelo de TCO. Segundo a autora, a adoção de um modelo mais customizado se daria quando uma determinada empresa tivesse poucos itens de compra que valessem a pena ser mensurados em termos de custo total e que tivessem fatores de custos distintos entre uma transação de um determinado item e outra. Já para aderir a um modelo mais padronizado, o perfil de compras de uma organização era de muitos itens com similaridade no uso e aplicação, na relevância dos distintos fatores de custos de transação para diferentes itens e ainda com grande volume de transações realizadas de forma semelhante e repetitiva. Classificação quanto ao tipo de informação utilizada: Outra abordagem utilizada por Ellram (1995b) foi a de classificação dos modelos de TCO com base no tipo de informação utilizada para alimentá-lo. Assim, a autora identificou três grandes grupos: modelos com base apenas nos custos diretos; modelos que contemplavam custos diretos e indiretos; modelos que contemplavam custos diretos, indiretos e qualitativos. O modelo baseado em custos diretos era definido como aquele que recebia apenas dados objetivos de fatores de custos que estavam diretamente relacionados à aquisição de um determinado item, produzindo um resultado claro e mais fácil de ser 32 justificado. Já o segundo modelo considerava também os custos indiretos relacionados à compra de determinado item. Entretanto, se fazia necessária a adoção de uma ferramenta complementar para auxiliar no mapeamento e alocação dos fatores de custos indiretos, como o custeio baseado em atividades (ABC). Por fim, o modelo que considerava, além dos custos diretos e indiretos, custos qualitativos, se mostrava mais complexo e de difícil aplicação, porém mais realista com relação à consideração de todos os fatores de custo relevantes para determinada compra. Para facilitar sua aplicação, algumas organizações adotaram um fator multiplicativo de custo total que era baseado em dados históricos e acrescentado ao custo total direto mais indireto (Ellram, 1995b). 2.2.4. Principais Barreiras para a Adoção do TCO Alguns autores (Buttha e Hug, 2002; Degraeve e Roodhooft, 1999; Ellram, 1994, 1995a; Ellram e Siferd, 1993, 1998; Webber et al., 2010) identificaram barreiras para a adoção no TCO que podem contribuir para que o investimento nesta filosofia de trabalho da área de compras não se torne atrativo. Pode-se segmentá-los em quatro grupos distintos encontrados na literatura: alto custo de implantação; complexidade de implantação e uso; cultura organizacional; e disponibilidade da informação. Alto custo de implantação: Segundo Degraeve e Roodhooft (1999), os altos custos necessários para a implantação de um modelo robusto de TCO pode representar um entrave significativo. Para os autores, não há dúvidas de que a adoção do TCO, que requer um suporte de TI fundamental para a captação e análise de dados, além de outros sistemas complementares, como o ABC, é significativamente mais cara que as dos outros métodos utilizados para gerenciamento de custos na área de compras. Além disso, Ellram (1995a) menciona que os altos custos envolvidos no treinamento e adequação de uma organização para trabalhar com o TCO pode restringir sua aplicabilidade. 33 Complexidade de implantação e uso: Ellram e Siferd (1998) apresentam como principais fatores de complexidade para implantação do TCO nas organizações a grande necessidade de tempo e dinheiro para desenvolver e implantar um modelo adequado à operação da empresa, a dificuldade na identificação de todos os elementos relevantes de custos para introdução no sistema, o entendimento da filosofia de TCO por parte dos funcionários da empresa, a diversidade de modelos de TCO que poderão existir numa mesma organização, a complexidade operacional dos modelos de TCO robustos e a necessidade de atualizações freqüentes do modelo para adaptá-lo à realidade da organização ao longo do tempo. Além disso, Zsidisin et al. (2003) afirmam que para lidar com um modelo de TCO e usufruir o máximo de seu potencial dentro de uma organização, seriam necessárias capacitações específicas por parte dos profissionais da área de compras, as quais ainda seriam vistas como raras no mercado de trabalho. Como dentro de uma organização podem existir mais de um modelo operacional de TCO, existe o risco de o usuário não conseguir classificar de forma apropriada qual tipo de compra deverá ser realizado por qual modelo de TCO. Seria necessário o entendimento avançado da filosofia do TCO para que o usuário pudesse avaliar com propriedade cada categoria de compras da empresa e associá-la ao modelo adequado (Ellram e Siferd, 1998). Além disso, as autoras mencionam que fatores como a falta de confiança no modelo, perda de flexibilidade operacional, dificuldade de quantificar fatores de custo qualitativos, entre outros, podem impedir uma organização de ter sucesso com a aplicação do TCO. Cultura organizacional: Bhutta e Huq (2002) comentam que a adoção TCO pode exigir uma mudança cultural significativa na organização, passando de uma orientação por preços para uma orientação por custo total. Portanto, se a área de compras não conseguir o apoio necessário da alta gerência para implantar o TCO e desmistificar a filosofia de compra 34 pelo menor preço, o processo poderá ser travado e frustrar as expectativas sobre os benefícios esperados. Ellram (1994) observa que é importante que todas as áreas da organização estejam alinhadas sob o apoio da alta gerência na transformação da cultura de compras da empresa. Além disso, como já mencionado anteriormente, pode haver uma barreira por parte dos próprios funcionários da área de compras da organização durante a transição do modelo de compras mais simples para o de análise do custo total. Seria importante que o quadro fosse reciclado, seja com base em treinamentos ou novas contratações de perfis adequados, para garantir o sucesso da implantação do TCO (Ellram e Siferd, 1998). Disponibilidade da informação: Outra barreira poderia estar ligada à fonte de informação para alimentar o modelo do TCO. Segundo Ellram e Siferd (1993), a contabilidade tradicional de custos adotada pela maior parte das organizações pode vir a dificultar a obtenção e acesso às informações de custos relevantes para adoção do TCO. Por conta disso, seria difícil a identificação precisa das informações que seriam necessárias para desenvolver um modelo robusto de gerenciamento de custos. Webber et al. (2010) ainda mencionam que a falta de sistemas de informação preparados para dar o apoio necessário ao uso frequente do TCO nas organizações faz com que muitos dados de custos sejam obtidos de forma indireta, o que pode gerar ruídos na informação e prejudicar a precisão das análises. 2.2.5. Benefícios Esperados com a Adoção do TCO Apesar das barreiras para adoção do TCO nas organizações, diversos autores (Anderson et al., 2005; Degraeve e Roodhooft, 1999; Ellram, 1993b, 1994, 1995a, 1996; Ellram e Siferd, 1993; Morssinkhof et al., 2011; Webber et al., 2010; Zsidisin et al., 2003) em seus estudos concluíram que os benefícios obtidos com a implementação do 35 TCO suplantaram seus riscos e custos e estão listados em inúmeros casos de estudos retratados na literatura. Assim, podem-se agrupar os principais benefícios esperados do TCO em quatro categorias: apoio em decisões de make-or-buy; contratação e gestão de fornecedores; redução de custos na cadeia de suprimentos; melhoria da área de compras. Apoio em decisões de make-or-buy: As decisões do tipo make-or-buy podem ser realizadas de forma mais robusta através do uso de uma ferramenta como o TCO, uma vez que esta possibilita o rastreamento e análise detalhada de todos os elementos de custo relevantes na cadeia de valor de um determinado produto (Morssinkhof et al., 2011). Sendo assim, a comparação entre os custos de se produzir um determinado item in-house com os custos de comprá-lo de algum fornecedor específico poderiam ser comparados de forma precisa, deixando o gerenciamento do outsourcing mais flexível para os gestores da área de compras (Degraeve e Roodhooft, 1999). Contratação e gestão de fornecedores: A adoção do TCO pode ser útil para o processo de contratação de fornecedores, que pode ser dividido nas etapas de seleção e negociação de preços. Na primeira etapa, o uso de um modelo de TCO permitiria que as comparações entre os fornecedores disponíveis para suprir um determinado produto fossem feitas de forma mais estruturada, completa e sistemática, reduzindo o grau de subjetividade na escolha, uma vez que as análises contemplariam elementos de custo bem definidos e medidos de forma objetiva (Ellram, 1993b). Ellram e Siferd (1993) ainda comentam que o TCO pode prover uma seleção correta de fornecedores, dado que as informações de custos serão tratadas de forma total, considerando não só o preço de compra, como também todo o esforço e tempo necessário para aquisição e processamento do item. Além disso, as alocações de volume por fornecedor poderiam ser facilitadas e feitas de forma mais consciente, aproveitando ao máximo a eficiência de custos da rede de 36 suprimentos (Ellram, 1994). Na segunda etapa, a negociação com os fornecedores poderia ser mais eficaz, uma vez que as informações de custo e margem estariam disponíveis para o comprador (Ellram, 1995a). Com o monitoramento dos custos de suprimento ao longo do tempo, seria mais fácil para o comprador requisitar descontos ou compensações para seus fornecedores, uma vez que este conheceria profundamente sua base de custos e poderia requisitar aumento de eficiência em determinadas etapas do processo de criação de valor do seu fornecedor (Ellram e Siferd, 1993). Passada a fase de contratação, o TCO também seria útil para a gestão dos contratos dos fornecedores, o que inclui uma etapa de avaliação de desempenho e desenvolvimento de parcerias de longo prazo. Para avaliar o desempenho, o TCO poderia funcionar como uma ferramenta de benchmarking na comparação dos custos por fator de custo de cada fornecedor específico, principalmente dos concorrentes entre si (Ellram, 1993b). Também seria possível identificar os esforços que estavam sendo realizados por cada fornecedor para aumentar a sua eficiência operacional e reduzir o custo total do produto vendido, uma vez que os dados de custos estariam sempre disponíveis para o comprador (Degraeve e Roodhooft, 1999). É também dessa forma que seria factível para o comprador estabelecer e desenvolver parcerias de longo prazo com seus fornecedores, estabelecendo metas para aumento de eficiência do contrato e garantindo uma melhoria contínua na gestão dos custos totais ao longo do tempo (Degraeve e Roodhooft, 1999). Redução de custos na cadeia de suprimentos: A identificação e gestão dos custos totais de compra poderiam ajudar a organização a focar seus esforços em poucas e importantes compras e compreender melhor o impacto de suas especificações e requisições de nível de serviço no custo total da empresa (Ellram, 1993b). O TCO também poderia aumentar a colaboração entre comprador e fornecedor, incentivando a formação de times multifuncionais entre ambos, de forma a possibilitar a busca pela eficiência conjunta na redução dos custos 37 totais em toda a cadeia de suprimentos (Ellram, 1996). Segundo Anderson et al. (2005), através da adoção do TCO seria possível que as margens de compradores e fornecedores fossem mantidas, reduzindo os custos totais e favorecendo o aumento de competitividade da cadeia de suprimentos no mercado no qual esta cadeia está inserida através de um posicionamento de preço mais agressivo. Melhoria da área de compras: Primeiramente, a área de compras poderia passar por um processo de racionalização de suas atividades. Com o TCO, seria possível identificar e analisar de forma mais precisa onde compras está gastando tempo e esforço de forma desnecessária e gerando impactos significativos na composição do custo total (Degraeve e Roodhooft, 1999). Além disso, seria possível analisar com mais propriedade os trade-offs existentes entre nível de serviço exigido de cada fornecedor e o preço pago por isso, contra o impacto desse nível de serviço (alto ou baixo) nos outros fatores de custo da organização (Ellram e Siferd, 1993). Também seria possível desenvolver um canal de comunicação interno entre as áreas da organização e compras, com esta passando a exercer um papel fundamental no envolvimento das outras áreas nas decisões de compra e como elo de informação entre os fornecedores e as demais áreas funcionais (Ellram, 1993b). Com esse fluxo de informações a respeito do desempenho dos fornecedores para toda a organização, seria possível identificar, gerenciar e reduzir os custos envolvidos nas transações através de programas de melhoria contínua (Zsidisin et al., 2003). Finalmente, a área de compras poderia assumir uma posição ainda mais estratégica dentro da organização, tendo sua orientação voltada para maximização do valor agregado ao próximo elo da cadeia e permitindo uma visão mais clara, objetiva e de longo prazo sobre os principais fatores de custos que afetam o resultado da empresa (Anderson et al., 2005). Tudo isso seria suportado por um desenvolvimento das capacitações da equipe de compras, que estaria cada vez mais voltada para 38 compreensão da estratégia corporativa e busca por soluções de problemas de forma mais estruturada. (Zsidisin et al., 2003). 2.3. IMPACTOS DA GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS EM COMPRAS SOBRE DESEMPENHO Como mencionado anteriormente, a adoção de modelos mais sofisticados para gerenciamento de custos, com abordagem mais estratégica dentro das organizações, pode exigir altos investimentos financeiros para estruturação do fluxo de informações com o uso de TI (Degraeve e Roodhooft, 1999; Webber et al., 2010); a organização da área da compras (Ellram e Siferd, 1998); o desenvolvimento de pessoal capacitado (Zsidisin et al., 2003); o desenvolvimento de modelos e a transformação da cultura organizacional (Bhutta e Huq, 2002; Ellram, 1994). Além disso, quanto maior a sofisticação do modelo adotado, menor seria o impacto na flexibilidade gerencial da área de compras, podendo comprometer o desempenho operacional e financeiro da organização (Agndal e Nilsson, 2007; Armstrong, 2002). Yeung (2008) desenvolveu o modelo conceitual para tentar explicar como o gerenciamento estratégico da área de compras poderia impactar os resultados financeiros das organizações. Entretanto, sua pesquisa focou apenas nas indústrias de eletrônicos de Hong Kong e considerou variáveis relacionadas a custo e qualidade. Em seu trabalho, o autor verificou que as empresas pesquisadas que tinham uma área de suprimentos gerenciada de forma mais estratégica apresentavam os melhores desempenhos financeiros do setor. Porém, essa relação poderia estar relacionada não unicamente ao grau estratégico com o qual a área de compras era tratada dentro da organização, mas também ao grau de desenvolvimento das práticas de qualidade dentro da área de suprimentos. Outro trabalho que associou a evolução estratégica na gestão da área de compras com o desempenho financeiro foi conduzido por Chen et al. (2004). Os autores argumentaram que a gestão estratégica dos custos em compras poderia gerar 39 vantagem competitiva sustentável para as empresas, permitindo um relacionamento entre compradores e fornecedores mais forte e sustentável, promovendo a comunicação aberta entre os parceiros da cadeia de suprimentos e desenvolvendo um relacionamento de longo prazo com orientação para atingir ganhos mútuos. Os autores consideraram diversas empresas americanas, de diferentes setores da economia e puderam observar que em organizações onde a área de compras exercia um papel mais estratégico, principalmente na gestão de custos, seus resultados financeiros eram superiores (retorno sobre o capital investido pelos acionistas) aos de empresas que tratavam suas áreas de compras como meramente operacionais. Além disso, os autores ainda comentaram que o alinhamento da estratégia das empresas com a gestão de compras poderia trazer grandes benefícios, que iriam além dos resultados financeiros mensurados no curto prazo, como o desenvolvimento de uma cadeia de suprimentos mais forte e robusta para atuar em mercados de alta competitividade, principalmente graças ao desenvolvimento de parcerias de longo prazo entre fornecedores e compradores. Para tentar entender o impacto da gestão estratégica de custos nos resultados financeiros das organizações, Day e Lichtenstein (2006) definiram uma lógica conceitual que partia de análises macro das práticas de gerenciamento de compras e as quebrava em tarefas. Além disso, sugeriram um elo destas tarefas com os objetivos estratégicos da organização para avaliar o quanto o posicionamento de compras dentro da empresa estava sendo tratado de maneira estratégica. Com esse modelo definido, os autores recomendaram que fossem feitas pesquisas com empresas de diversos setores da economia para avaliar o grau de sofisticação das estratégias envolvidas nas práticas de compras das organizações e seu impacto sobre o desempenho financeiro. 2.4. MODELO CONCEITUAL Ao longo do tempo, o processo de compras ganhou importância estratégica dentro das organizações e deixou de ser mera atividade operacional (Fleury, 2000; Monczka et al., 2002; Giunipero e Brand, 1996; Kraljic, 1983; White e Hammer-Lloyd, 40 1999; Emiliani et al., 2005). Essa mudança de orientação poderia ser explicada, principalmente, pela percepção por parte dos altos gestores da importância dos custos de compras na composição do custo total da empresa, que poderia variar entre 40% e 60% (Ellram e Siferd, 1998; Ballou, 2006). Desta forma, pequenas otimizações de processos ligadas à gestão dos custos de aquisição poderiam impactar de forma significativa os resultados financeiros das organizações (Ellram, 1993a; Anderson e Dekker, 2009a, 2009b; Ellram e Siferd, 1998; Zsidisin et al., 2003). O gerenciamento de custos da área de compras passou por inúmeras evoluções metodológicas discutidas na literatura desde a década de 1980, tendo como base para essas transformações a mudança da orientação de compra por preço para uma orientação de compra por valor (Monczka et al., 2002; Anderson e Dekker, 2009a). Na composição do valor estaria o custo total, que consideraria o preço de compra e englobaria os custos necessários de reparo, manutenção, uso, durabilidade e flexibilidade, entre outros (Atkinson et al., 2007; Kotler e Keller, 2006; Monczka et al., 2002). Com uma visão de custo total, o gerenciamento de custos na área de compras passaria a ser elevado ao nível estratégico nas organizações, como forma de prover vantagens competitivas sustentáveis, principalmente por alinhar decisões de curto prazo aos objetivos estratégicos de longo prazo (Freedman, 1993). Esse posicionamento poderia ser feito com a aplicação de técnicas e modelos de gestão que variariam de simples análises das estratégias de precificação dos fornecedores até sistemas mais complexos, como a implantação do TCO, interligando toda a cadeia de suprimentos (Monczka et al., 2002; Anderson e Dekker, 2009a, 2009b; Ellram, 1993a; Ellram e Siferd, 1998). A aplicação de cada modelo nas organizações poderia ser distinta por uma série de fatores: tamanho da empresa, nível de desenvolvimento da cadeia de suprimentos, capacidade de investimento da empresa e importância dos custos de compras na composição dos custos totais (Ellram, 1993a, 1993b; Ellram e Siferd, 1998, Anderson e 41 Dekker, 2009a, 2009b). Entretanto, a literatura apresentava os modelos mais sofisticados como aqueles que poderiam melhor contribuir para o aumento da eficiência da área de compras, impactando positivamente nos resultados financeiros das organizações. De fato, alguns estudos (Day e Lichtenstein, 2006; Yeung, 2008; Chen et al., 2004) que tentaram relacionar a complexidade e o grau de sofisticação estratégica empregada em modelos de gestão de custos com o desempenho financeiro observaram que quanto mais estratégico e complexo era o modelo de gestão de custos adotado, melhor era o desempenho financeiro observado. Entretanto, a observação da correlação entre grau de sofisticação estratégica e complexidade dos modelos e o desempenho financeiro das organizações só foi testada em empresas de países desenvolvidos, ou em experimentos com ênfases em diversas variáveis, e não apenas na gestão de custos na área de compras. Como subsídio ao desenvolvimento deste trabalho, que focará apenas nas variáveis diretamente ligadas ao gerenciamento estratégico de custos na área de compras, foi criado um modelo conceitual relacionando o grau de sofisticação estratégica e complexidade com o desempenho financeiro observado. O construto principal, seus sub-construtos e suas referências na literatura estão listadas na tabela 1: Tabela 1 - Construtos e subconstrutos referenciados para teste de hipóteses Construtos Sub-Construtos Cooperação entre a organização e seus Grau de sofisticação na fornecedores gestão estratégica de custos em compras Referência na Literatura Anderson e Dekker (2009a); Govindarajan e Shank (1992a, 1992b); Monczka et al. (2002); McLaren et al. (2002); Ellram et al. (2002); Roslender e Hart (2003); Cooper e Slagmulder (2003); Ellram e Siferd (1993, 1998); Degraeve e Roodhooft (1999); Ellram (1993b, 1994, 1995a); Anderson e Katz (1998); Ilic et al. (2010); Ficalora e Cohen (2009) Modelos de segmentação dos itens Govindarajan e Shank (1992b); Monczka et al. e seus processos de (2002); Anderson e Katz (1998) compras 42 Construtos Sub-Construtos Referência na Literatura Lamm e Vose (1988); Monczka et al. (2002); Emiliani et al. (2005); Ellram (2000); Gopalakrishnan et al. (2007); Monczka e Trecha (1988); Ellram Técnicas e ferramentas (1993a, 1993b, 1994, 1995b, 1996), Ellram e Stanley Grau de sofisticação na de análise de preço e (1998), Ellram e Siferd (1993, 1998); Zsidisin et al. gestão estratégica de custos (2003); Garfamy (2006); Anderson et al. (2005); custos em compras Degraeve e Roodhooft (1999); Bhutta e Huq (2002); (continuação) Morssinkhof et al. (2011) Target-Costing Zsidisin et al. (2003); Gopalakrishnan et al. (2007); Ellram (2000); Rifat e Gökhan (2003) Faturamento bruto anual de 2010 Tamanho da empresa Resultado financeiro Número de funcionários em 2010 Lucro operacional de 2010 sobre receita líquida de 2010 Lucro operacional de 2010 sobre total de ativos de 2010 Ellram (1993a, 1993b); Ellram e Siferd (1998), Anderson e Dekker (2009a, 2009b) Agndal e Nilsson (2007); Armstrong (2002); Yeung (2008); Chen et al. (2004); Day e Lichtenstein (2006) 43 3. METODOLOGIA Este capítulo apresenta a metodologia do estudo, compreendendo as proposições básicas, as considerações metodológicas relativas à caracterização da pesquisa, à estratégia de pesquisa adotada, à população e amostragem, à justificativa do método de pesquisa utilizado, à discriminação dos procedimentos de coleta de dados e à elaboração e conteúdo do questionário utilizado. 3.1. QUESTÕES DA PESQUISA Tendo em vista a literatura revista, o presente estudo tem como objetivo compreender a relação entre o grau de sofisticação adotado na gestão de custos da área de compras de empresas brasileiras e seu desempenho financeiro. Para tal, as seguintes perguntas deverão ser respondidas: 1. Quais as principais práticas de gestão de custos na área de compras que estão sendo adotadas por empresas brasileiras? 2. Como podem ser classificadas as práticas de gestão de custos praticadas pelas empresas brasileiras? 3. Como as empresas brasileiras poderão ser classificadas com relação ao grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras? 4. Como o tamanho das empresas está relacionado com o grau de sofisticação adotado na gestão estratégica de custos na área de compras? 5. Como a adoção de práticas mais sofisticadas na gestão estratégica de custos na área de compras das empresas impacta os seus resultados financeiros? 44 3.2. TIPO DE PESQUISA Segundo Yin (1994), a escolha do método de pesquisa a ser adotado depende de três fatores, a saber: o tipo de pesquisa que se faz, o controle sobre o comportamento do fenômeno pesquisado pelo observador e o foco da pesquisa no passado ou na atualidade. O método de pesquisa em si é dividido pelo autor em estudo de caso, survey, experimentos, histórico e análise de arquivos. Quanto ao propósito, divide-os em exploratórios, descritivos e explicativos. A pesquisa descritiva, conforme aponta Gil (1991) tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. Segundo Roesch (1999), a pesquisa descritiva é utilizada quando o propósito do estudo é obter informações sobre determinada população, como, por exemplo, contar quantos, ou em que proporção, seus membros têm certa opinião ou característica, ou com que frequência certos eventos estão associados entre si. A autora afirma ainda que as pesquisas descritivas não respondem bem ao porquê, mas podem associar certos resultados a grupos de respondentes. Portanto, este estudo tem caráter descritivo, isto é, tem como um dos seus objetivos a descrição das práticas de gestão de custos na área de compras das empresas brasileiras, dos seus direcionadores e das principais barreiras que impedem algumas organizações de adotarem modelos mais sofisticados. Além disso, visa testar a relação existente entre determinadas características das empresas, seu grau de sofisticação na gestão estratégica de custos na área de compras e seu desempenho financeiro. Para atingir os fins propostos, optou-se pelo método de survey. Essa escolha foi motivada, primeiramente, pela facilidade de se alcançar um grande número de empresas espalhadas geograficamente, em curto período de tempo, quando comparado com outros métodos baseados em entrevista. Outro fator considerado foi a 45 redução do custo da pesquisa, em função da possibilidade de aplicação do questionário por meio eletrônico. 3. 3. HIPÓTESES Devido à natureza das perguntas na seção 3.2., foram formuladas hipóteses no intuito de testar possíveis relações entre a adoção de práticas mais sofisticadas na gestão de custos na área de compras das empresas brasileiras com seu tamanho e desempenho financeiro. Para adotar modelos sofisticados de gestão estratégica de custos na área de compras, alguns autores (Bhutta e Huq, 2002, Degraeve e Roodhooft, 1999; Ellram,1993a, 1994, 1995a; Anderson e Dekker, 2009a, 2009b; Webber et al., 2010; Ellram e Siferd, 1993, 1998; Zsidisin et al., 2003) sugerem que seja necessário investir muito tempo e recursos financeiros. Estes investimentos se dariam no desenvolvimento de um suporte de TI robusto; treinamento e capacitação da equipe de compras; adequação da cultura organizacional; desenvolvimento de parcerias; redesenho de processo; entre outros. Desta forma, Monczka et al. (2002) encontraram evidências de que empresas de maior porte seriam aquelas que teriam maior propensão a adotar sistemas de gestão de custos mais complexos. Assim, formula-se a primeira hipótese, que está dividida em outras duas sub-hipóteses que diferem pela forma com a qual o tamanho das empresas é medido: H1: O tamanho da empresa está positivamente relacionado com o grau de sofisticação nas práticas de gestão de custos na área de compras. H1a: O tamanho da empresa, em termos de faturamento bruto anual, está positivamente relacionado com o grau de sofisticação nas práticas de gestão de custos na área de compras. 46 H1b: O tamanho da empresa, em termos de número de funcionários, está positivamente relacionado com o grau de sofisticação nas práticas de gestão de custos na área de compras. Por fim, a literatura (Day e Lichtenstein, 2006; Yeung, 2008; Chen et al., 2004) sugere que empresas que adotam práticas mais sofisticadas na gestão estratégica de custos na área de compras apresentariam melhores resultados financeiros se comparadas com empresas que adotam práticas menos sofisticadas. Assim, formula-se a última hipótese que está subdividida em outras duas sub-hipóteses que diferem pela forma com a qual o resultado financeiro das empresas é medido: H2: A adoção de prática mais sofisticada na gestão de custos das empresas está positivamente relacionada com melhor resultado financeiro. H2a: A adoção de prática mais sofisticada na gestão de custos das empresas está positivamente relacionada com melhor resultado financeiro medido através do EBITDA sobre faturamento bruto anual. H2b: A adoção de prática mais sofisticada na gestão de custos das empresas está positivamente relacionada com melhor resultado financeiro medido através da rentabilidade sobre ativos (EBITDA sobre total de ativos). 3.4. UNIVERSO E AMOSTRA O universo da pesquisa compreende as 1.246 maiores empresas listadas pela revista Exame Melhores e Maiores referente ao ano de 2011. Para seleção da amostra, foi feita uma avaliação da importância da atividade de fornecimento no processo produtivo de cada uma das empresas. Em seguida, foram eliminadas as empresas de serviços em que a atividade de fornecimento têm caráter meramente de apoio, como consultorias ou bancos de investimentos, restando 1.028 empresas das mais diversas áreas de atuação. 47 Portanto, procurou-se obter os telefones e e-mails destas empresas restantes para a realização de um primeiro contato pedindo a indicação de profissionais aptos a responder a pesquisa. O número de empresas remanescentes após o primeiro contato reduziu-se para 560 (amostra utilizada para coleta de dados). 3.5. COLETA DE DADOS Para coletar os dados necessários à realização deste trabalho, foi elaborado um questionário hospedado no sítio eletrônico Qualtrics (qualtrics.com), que será melhor descrito na sub-seção seguinte. O link para o questionário foi enviado via e-mail personalizado para cada destinatário. No corpo da mensagem constavam o nome do destinatário e um texto convidando-o a participar da pesquisa em nome do Instituto Coppead de Administração. Para alcançar de forma direta os executivos da área de compras das 560 empresas selecionadas, foi realizado um contato telefônico direto aos interessados comunicando-os do e-mail que seria enviado com o link para responder à pesquisa. Duas semanas depois do envio do e-mail foi realizada uma nova rodada de ligações diretas para empresas, com o reenvio dos e-mails, de forma a relembrá-los do preenchimento do questionário. A coleta dos dados ocorreu durante o primeiro semestre de 2012. Ao total, após a segunda rodada de ligações e envio de e-mails foram obtidas 132 respostas (representando 23% da base de contatos). Destas, 28 estavam incompletas e foram imediatamente descartadas. Outras três apresentavam respostas inválidas, como respostas iguais para todas as perguntas, nome da empresa fora da base da Exame Melhores e Maiores 2011, ou duplicidade de resposta por empresa. Portanto, restaram 101 respostas válidas para análises estatísticas e testes de hipóteses, sendo a taxa de resposta obtida para a análise foi de 18% do total de questionários enviados. 48 Destas 101 empresas restantes, foram analisadas a distribuição demográfica em termos de faturamento anual em US$ no ranking da Exame Melhores e Maiores 2011, a representatividade de cada setor, segundo critério de agrupamento definido pela própria revista e o cargo gerencial de cada respondente. 3.6. QUESTIONÁRIO O questionário foi composto por duas seções que tinham como objetivo identificar a empresa e posicioná-la na escala evolutiva do grau de sofisticação na gestão estratégica de custos. Com as respostas da primeira seção foi possível caracterizar cada empresa com relação ao seu tamanho e resultados financeiros, que foram levantados na lista das Melhores e Maiores da Revista Exame de 2011. Os resultados da segunda seção serviram para medir o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras, de modo a permitir o teste das hipóteses desta pesquisa. O Anexo 2 contém o questionário completo. Detalham-se, a seguir: 1. Identificação da empresa: Esta primeira seção do questionário teve como objetivo principal caracterizar a empresa respondente com relação ao porte, estrutura organizacional da área de compras, cargo e departamento de origem do respondente. 2. Posicionamento da empresa na escala evolutiva do grau de sofisticação: Nesta seção foram feitas diversas perguntas que tinham como objetivo mensurar as variáveis que caracterizariam e identificariam a posteriori as práticas e os modelos de gestão estratégica de custos adotados pelas áreas de compras das empresas entrevistadas. Para medir cada variável, as perguntas no questionário ofereciam ao respondente cinco opções de respostas, segundo o padrão da escala Likert de cinco pontos, na qual as opções variavam de “Discordo totalmente” a “Concordo totalmente”. 49 A tabela 2 apresenta a lista de variáveis com suas respectivas perguntas no questionário. Tabela 2 - Construtos, subconstrutos e variáveis que serão medidas para teste das hipóteses Construtos Sub-Construtos Variáveis Com relação aos principais fornecedores da minha empresa, a área de compras... (1) ... conhece o limite de preço que cada fornecedor pode praticar de modo a assegurar o cumprimento dos contratos de compra. Cooperação entre a organização e seus fornecedores Grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras (2) ... mantém contratos de longo prazo (mais de 3 anos). (3) ... procura se envolver na fase de concepção de novos produtos dos fornecedores, contribuindo com especificações de produção. (4) ... se envolve no processo de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos dos fornecedores. Na minha opinião, a área de compras da minha empresa... (1) ... classifica produtos comprados em grupos Modelos de distintos, considerando elementos de custo, risco e segmentação dos itens volume comprado. e seus processos de (2) ... adota diferentes procedimentos de compras compras para diferentes grupos de produtos comprados baseado em características de custo, risco e volume comprado. 50 Construtos Sub-Construtos Variáveis Na minha opinião, a área de compras da minha empresa toma decisões de compras buscando exclusivamente o menor preço para todos os produtos. Com relação aos principais fornecedores da minha empresa, a área de compras... (1) ... conhece a estrutura de custos por trás do preço de venda apresentado. (2) ... negocia de forma detalhada os preços de compra. (3) ... considera, além do preço, custos referentes à qualidade do produto e serviços complementares Técnicas e ferramentas necessários ao seu uso. de análise de preço e (4) ... considera, além do preço, custos referentes custos ao transporte e armazenagem. (5) ... considera, além do preço, custos referentes à falta de flexibilidade dos fornecedores para adaptação do produto ao seu uso. Grau de sofisticação na (6) ... considera, além do preço, custos referentes gestão estratégica de ao grau de inovação tecnológica. custos em compras (7) ... considera, além do preço, custos referentes à (continuação) rapidez e confiabilidade de entrega. (8) ... considera, além do preço, custos referentes à atividades pós-compra. Em termos de gestão de custos, a área de compras da minha empresa aplica o conceito de TCO. Em termos de gestão de custos, a área de compras da minha empresa... (1) ... tem integração com a área de marketing/comercial de forma a identificar os preços e margens esperadas nas transações futuras. Target-Costing (2) ... tem conhecimento e controle sobre os seus processos de forma a gerir com precisão seus custos e garantir o orçamento desejado. Em termos de gestão de custos, a área de compras da minha empresa aplica o conceito de TargetCosting. 51 Construtos Sub-Construtos Faturamento bruto anual de 2010 Variáveis Nome da empresa (dado será obtido pela Revista Exame Melhores e Maiores) Tamanho da empresa Número de funcionários em 2010 Nome da empresa (dado será obtido pela Revista Exame Melhores e Maiores) Resultado financeiro Lucro operacional de 2010 sobre receita líquida de 2010 Lucro operacional de 2010 sobre total de ativos de 2010 Nome da empresa (dado será obtido pela Revista Exame Melhores e Maiores) Nome da empresa (dado será obtido pela Revista Exame Melhores e Maiores) 3.7. TRATAMENTO DE DADOS As respostas coletadas no site hospedeiro (Qualtrics) foram consolidadas em uma planilha em Excel. Após a etapa de exclusão das respostas inválidas, utilizou-se esta base de dados para o tratamento estatístico, de modo a descrever os resultados e testar as hipóteses. Para analisar os resultados, foram seguidos quatro passos de análises: descritiva – que tinha por objetivo descrever as características do fenômeno na amostra; análise fatorial – que tinha por objetivo reduzir o número de variáveis e identificar as dimensões para a formação de um índice de evolução na gestão estratégica de custos em compras; a formação do índice propriamente dito – que utilizou os resultados da análise fatorial e a análise de regressão linear – com objetivo de testar as hipóteses. As estatísticas descritivas de análise do perfil demográfico foram feitas no próprio Excel. Após as análises iniciais, os dados foram transferidos para o software SPSS versão 20.0, com o objetivo de fazer as demais análises, mais complexas e conclusivas. 52 3.7.1. Análise descritiva Com o intuito de resumir os dados e, com isso, compreender o perfil das respostas, calculou-se a frequência, média e desvio padrão das respostas dadas às variáveis utilizadas para formação do índice de evolução na gestão estratégica de custos em compras, bem como de outras perguntas no questionário que tinham por objetivo apenas enriquecer de forma qualitativa o estudo. 3.7.2. Análise fatorial Dada a quantidade de perguntas realizadas para a formação de um índice que indicasse o grau de evolução estratégica na gestão de custos em compras, a análise conjunta de todas as variáveis seria de difícil manipulação. Assim, a análise fatorial funciona como um instrumento para reduzir as variáveis e identificar os fatores fundamentais para agregação e formação deste índice. A base de dados foi formada pelo posicionamento das empresas frente a 19 afirmações sobre a percepção da empresa sobre as diferentes dimensões de gestão de custos em compras. Utilizou-se uma escala de Likert de cinco níveis para graduar a concordância (ou discordância) frente às afirmações, sendo 5 – concordo – e 1 – discordo. Para a realização da análise fatorial, seguiremos, neste estudo, a metodologia proposta por Figueiredo Filho e Silva Júnior (2010), que identificam três principais estágios para o planejamento da análise fatorial: (1) verificação da adequabilidade da base de dados; (2) determinação da técnica de extração e do número de fatores a serem extraídos e (3) decisão do tipo de rotação de fatores. Inicialmente, para verificar a adequabilidade da base de dados, devemos examinar o número de casos extraídos da pesquisa. Hair et al. (2005) sugerem que a amostra deve ser superior a 50 observações, sendo aconselhável no mínimo 100 casos 53 para assegurar resultados mais robustos. E, ainda, que a razão entre o número de casos e a quantidade de variáveis deve exceder cinco para um ou mais (Hair et al., 2005). Nesta pesquisa, como estamos analisando 101 respostas para 19 variáveis, a base de dados utilizada mostra-se adequada. Outra forma de verificar a adequabilidade da amostra para a realização da análise fatorial é por meio do teste de esfericidade de Bartlett e do teste de KaiserMeyer-Olkin (KMO). Com a utilização do Software SPSS (Statistical Package Social Science) versão 20.0, aplicou-se, inicialmente, o teste de esfericidade de Bartlett, que indica se existe relação suficiente entre as dimensões para a aplicação da análise fatorial. Neste caso, a estatística de Bartlett mostrou-se estatisticamente significante, com valor de 0,000. Com relação ao teste de KMO, a escala para verificar o grau de ajuste à análise fatorial segue a seguinte ordem: KMO entre 0,9 a 1,0, muito boa; entre 0,8 e 0,9, boa; entre 0,7 e 0,8, média; entre 0,6 e 0,7, razoável; entre 0,5 e 0,6, má; e menor que 0,5, inaceitável. No presente estudo, obtivemos o valor de 0,793 para o teste KMO, o que representa um valor médio para a realização da análise fatorial, muito próximo do limite de 0,8 (bom). Atestada a viabilidade do uso da análise fatorial, o passo seguinte foi obter os fatores que expressarão o comportamento de todas as variáveis. Assim, foi determinada a técnica de extração dos fatores a ser utilizada. Um dos métodos utilizados é a análise de “fatores comuns”, que é usada principalmente para identificar fatores ou dimensões latentes que refletem o que as variáveis têm em comum. O método é o de “componentes principais”, que tem como preocupação central a determinação do número mínimo de fatores que expliquem a variância total. O conceito de comunalidades, ligado à análise de “fatores comuns”, indica estimativas da variância compartilhada entre as variáveis, ou seja, a quantidade total da variância que uma variável compartilha com todas as demais variáveis incluídas na análise. De acordo com Figueiredo Filho e Silva Júnior (2010), as comunalidades representam a proporção da variância para cada variável incluída na análise que é 54 explicada pelos componentes extraídos. Usualmente o valor mínimo aceitável é de 0,50. Logo, caso o pesquisador encontre alguma comunalidade abaixo desse patamar, a variável deve ser excluída e a análise fatorial deve ser realizada novamente. Além disso, baixa comunalidade entre um grupo de variáveis é um indício de que elas não estão linearmente correlacionadas e, por isso, não devem ser incluídas na análise fatorial. Em uma perspectiva mais conservadora, seria aconselhável excluí-la da análise e realizar novamente a análise fatorial. Depois de eliminar as variáveis problemáticas (associadas ao baixo grau de comunalidade), o pesquisador deve analisar as cargas fatoriais de cada variável em relação aos componentes extraídos. Depois de decidir o método de extração, torna-se necessário, então, determinar o número de fatores que serão extraídos. Apesar de não existir um critério consensual para definir quantos fatores devem ser extraídos, a literatura aponta alguns métodos que podem auxiliar a tomada de decisão. A regra do eigenvalue, por exemplo, sugere que devem ser extraídos apenas os fatores com valor de eigenvalue acima de um. Isso porque se o fator apresenta baixo eigenvalue, este está contribuindo pouco para explicar a variância nas variáveis originais (Figueiredo Filho e Silva Júnior, 2010). Adicionalmente, o pesquisador pode utilizar o critério da variância acumulada para determinar a quantidade de fatores que devem ser extraídos. Hair et al. (2005) sugerem o patamar de 60% como sendo aceitável. Após a definição do número de fatores, é preciso aplicar um processo de rotação dos fatores, para obter uma estrutura mais simples que facilite a interpretação dos fatores. O resultado é uma matriz de coeficientes cujos valores absolutos se aproximem o máximo possível de zero ou um. Após essa rotação, cada fator deverá apresentar correlação relativamente forte com uma ou mais variáveis e correlação relativamente fraca com as demais (Hair et al., 2005). 55 Depois de verificar a adequabilidade da base de dados e determinar a técnica de extração e o número dos fatores, o pesquisador deve seguir para o terceiro estágio: decidir o tipo de rotação dos fatores. De acordo com Figueiredo Filho e Silva Júnior (2010), o tipo de rotação ortogonal Varimax é o mais comumente utilizado (esse método procura minimizar o número de variáveis que apresentam altas cargas em cada fator). Por esse motivo, esse estudo utilizará esse tipo de rotação de fatores. 3.7.3. Formação do índice Após a realização da análise fatorial, faz-se necessária a formação de um índice que represente, para cada empresa, qual seria o grau de evolução estratégica na gestão de custos em compras para que seja possível testar as hipóteses descritas anteriormente. Desta forma, utilizou-se a mesma metodologia considerada por Rezende (2009) para considerar os resultados obtidos pela análise fatorial como elementos de ponderação para obtenção de um único grau. Primeiramente, devem ser obtidas, a partir da análise fatorial, as pontuações absolutas de cada um dos fatores, que serão expressas diretamente através do software SPSS. Após esta etapa, segundo Rezende (2009), deve-se calcular o desvio padrão dos dados de cada uma das variáveis remanescentes para formação do índice desejado. Com estes números, calcula-se o coeficiente da pontuação fatorial sobre o desvio padrão de cada variável (PF/DP). Com o resultado de PF/DP, deve-se fazer a normalização para cada um dos fatores resultantes. Ou seja, após de rodar a análise fatorial, será obtido um conjunto de variáveis capazes de explicar cada um dos fatores criados. Dentro de cada fator, devese fazer a normalização dos valores de PF/DP para que a soma destes valores, por fator, seja igual a 1,0. Nesta etapa, será obtido o PF/DP normalizado (Rezende, 2009). O próximo passo será utilizar os valores de PF/DP normalizados como multiplicadores dos valores absolutos observados para cada variável. Ou seja, a 56 resposta na escala Likert de 1 a 5 respondida por cada empresa para cada variável será multiplicada pelo PF/DP, para em seguida ser somada com o resultado da multiplicação de cada PF/DP e resposta absoluta de cada variável dentro de um mesmo fator. O resultante desta etapa será um grau de evolução por fator e por empresa (Rezende, 2009). A tabela 3 ilustra um exemplo do cálculo do grau de evolução de 2 fatores para 3 empresas diferentes, utilizando valores fictícios como respostas absolutas da pesquisa em escala Likert e como PF. Tabela 3 - Exemplo do cálculo do grau de evolução de cada fator por empresa respondente Respostas absolutas da pesquisa em escala Likert (1-5) Fator 1 2 DP dos resultados Variável da Empresa A Empresa B Empresa C pesquisa Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 5 2 2 5 1 3 4 3 1 3 4 1 2 2 3 Fator 1 Fator 2 3,04 2,70 3,16 2,15 2,53 2,58 1,00 1,53 0,58 2,08 1,15 PF PF/DP PF/DP normal. 0,30 0,21 0,24 0,20 0,15 0,30 0,14 0,42 0,10 0,13 0,35 0,16 0,49 0,42 0,58 A última etapa do processo de formação do índice desejado é a ponderação do grau de evolução de cada um dos fatores. Para tal, há duas maneiras distintas que poderiam ser consideradas: supor que todos os fatores têm o mesmo peso na composição do grau de evolução estratégica de custos em compras ou considerar a variância explicada de cada um dos fatores como ponderação. É importante ressaltar que, para decisão de ponderação considerando pesos iguais ou através da variância explicada, não há um consenso na literatura e, portanto, esta deverá ser tomada a partir da avaliação qualitativa da literatura sobre gestão estratégica de custos em compras. 57 3.7.4. Regressão linear A regressão linear simples é uma técnica estatística que pode ser utilizada para analisar a relação entre uma variável dependente e outra variável independente (Hair et al., 2005). Esta técnica pode ser útil para investigar o quanto uma variável independente é capaz de explicar a variação da variável dependente, que neste estudo se refletirá nos testes das hipóteses descritas no item 3.3. Para testar as hipóteses, foram feitos, ao todo, quatro testes de regressão, sendo dois para testar a hipótese H1 e dois para testar a hipótese H2. A primeira hipótese, que estava subdividida em outras duas sub-hipóteses, tentava identificar se o grau de evolução estratégica na gestão de custos em compras (variável dependente) estaria relacionado ao tamanho da empresa (variável independente), que seria expresso através do faturamento bruto anual ou número de funcionários. Já a segunda hipótese tentava identificar se o grau de evolução estratégica na gestão de custos em compras (variável independente) estaria relacionado ao desempenho financeiro da empresa, expresso através do EBITDA sobre o faturamento bruto anual ou da rentabilidade dos ativos (EBITDA sobre total de ativos). Para a execução das regressões, Hair et al. (2010) advertem que o tamanho da amostra possui papel fundamental na determinação do poder estatístico. No caso da regressão linear, os autores colocam como regra geral que o número de observações para cada variável independente não deve ser abaixo de 20. Se a proporção ficar abaixo deste número, o pesquisador correrá o risco de superajustar a variável estatística com a amostra, tornando o resultado demasiadamente específico à amostra e assim perdendo a generalização. Considerando os dados válidos coletados neste trabalho, para as cinco regressões realizadas foram consideradas entre 69 e 101 observações, validando o tamanho das amostras para cada uma das regressões. Segundo Hair et al. (2005), o poder da regressão linear simples está relacionado à probabilidade de detectar o quão estatisticamente significante é um nível específico 58 de R2. Este (coeficiente de determinação), por sua vez, é uma medida da proporção da variância da variável dependente em torno de sua média que é explicada pela variável independente, variando entre 0 e 1. Quando o R2 é maior que zero, isto significa que a parcela da variação explicada pelo modelo de regressão é maior que a variação explicada pela média. Quanto maior o valor de R2, maior o poder de explicação da equação de regressão. Além do coeficiente de determinação R2, os programas de regressão costumam fornecer também um coeficiente ajustado de determinação (R2 ajustado), que se torna menor, uma vez que se tem menos observações por variável independente (Hair et al. 2005). O valor R2 ajustado é particularmente útil na comparação entre modelos de regressão que envolvem diferentes quantidades de variáveis independentes ou diferentes tamanhos de amostra, pois ele considera o número específico de variáveis independentes e o tamanho da amostra em que cada modelo é baseado. 59 4. RESULTADOS 4.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA Para esta análise, utilizou-se a primeira parte do questionário (perguntas de 1 a 4), como forma de apresentar o perfil das empresas participantes. A primeira pergunta era obrigatória, uma vez que suas respostas seriam essenciais para que fosse feito o link com os dados financeiros obtidos através da revista Exame Melhores e Maiores 2011. As três seguintes eram opcionais, o que fez com que a base de respondentes por questão fosse variável A tabela 4 a seguir mostra a distribuição de respostas obtidas por faixa de ranking de faturamento definido pela revista Exame Melhores e Maiores em 2011. Pode-se observar uma maior concentração das respostas na faixa de 1 a 200 no posicionamento do ranking de faturamento. Este maior número de respostas obtidas com sucesso nestas empresas de maior porte se justifica pela facilidade de acesso e obtenção de contatos neste grupo. Tabela 4 - Distribuição das empresas por ranking de faturamento na Exame Melhores e Maiores 2011 Ranking de faturamento Quantidade de Empresas 1 a 200 40 39% 201 a 400 31 31% 401 a 600 14 14% 601 a 800 9 9% Maior que 800 7 7% 101 100% Total Outra análise da base de respondentes é com relação aos setores nos quais cada uma das empresas respondentes estava posicionada. A tabela 5 a seguir apresenta a relação de setores das empresas na amostra e a representatividade de cada um em termos de quantidade de respostas. Embora haja certa concentração de 60 respostas nos setores de energia, autoindústria, indústria da construção e varejo, é importante destacar a representatividade da amostra, já que houve empresas respondentes em todos os setores listados pela revista Exame Melhores e Maiores 2011. Tabela 5 - Setores das empresas respondentes segundo Exame Melhores e Maiores 2011 Setor Quantidade de Empresas Energia 15 15% Autoindústria 13 13% Indústria da Construção 10 10% Varejo 9 9% Química e Petroquímica 6 6% Serviços 6 6% Eletroeletrônico 6 6% Bens de Consumo 6 6% Transporte 5 5% Siderurgia e Metalurgia 5 5% Papel e Celulose 3 3% Produção Agropecuária 3 3% Farmacêutico 3 3% Mineração 3 3% Atacado 2 2% Têxteis 1 1% Telecomunicações 1 1% Bens de Capital 1 1% Comunicações 1 1% Diversos 1 1% Indústria Digital 1 1% 101 100% Total Por fim, foi analisado o perfil dos respondentes desta pesquisa, de modo a avaliar se as repostas coletadas, dadas a complexidade do tema e a dificuldade de se conhecerem todas as práticas de compras exigidas no questionário, poderiam ser 61 validadas. Portanto, a tabela 6 a seguir mostra que a maioria dos respondentes ocupava posições gerenciais de médio e alto nível. Tabela 6 - Nível gerencial dos respondentes Cargo Quantidade de Empresas Gerente 44 43% Coordenador 15 15% Comprador 11 11% Supervisor 10 10% Analista 6 6% Diretor 6 6% Gerente Geral 5 5% Outro 4 4% Total 101 100% Neste capítulo, quatro análises foram feitas a partir dos dados disponíveis: a primeira, descritiva, diz respeito à caracterização das respostas obtidas com base na amostra; em seguida foi realizada uma análise fatorial, com intenção de identificar a relevância de cada variável para formação do índice de grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras; a terceira consistiu na formação do índice baseado nos resultados obtidos pela análise fatorial e, por último, foi feita a análise de regressão para identificar se o índice criado nesta pesquisa estaria correlacionado com o tamanho das empresas ou com seus desempenhos financeiros. 4.2. ANÁLISE DESCRITIVA Antes de detalhar os testes que trazem conclusões sobre as hipóteses levantadas, é preciso apresentar estatísticas descritivas das variáveis usadas nas análises fatoriais, formação do índice do grau de evolução estratégica de custos em compras e regressões. Dessa forma, tem-se um resumo dos dados, que serão apresentados na tabela a seguir, porém tratados separadamente. As médias das 62 respostas obtidas nas questões da pesquisa que vão de 1 (discordo) a 5 (concordo) estão dispostas na tabela 7. De maneira geral, pode-se dizer que as empresas brasileiras adotam, em certo ponto, algumas estratégias de gestão de custos em compras considerando outros elementos além do preço propriamente dito. Ao se analisar a pergunta na qual se verifica o teste extremo de alguma empresa que basearia suas compras exclusivamente pelo menor preço, observa-se uma média de respostas em 2,88, com desvio padrão de 1,34. Ou seja, para a maioria das empresas, a decisão de compra pode estar relacionada a outras variáveis, além do preço, o que nos leva a considerar que os fundamentos do TCO podem estar sendo aplicados, de alguma forma, pelas empresas brasileiras. Tabela 7 - Variáveis analisadas para determinação do grau de evolução estratégica na gestão de custos em compras Média Desvio Padrão Possui recursos tecnológicos robustos que dão suporte na tomada de decisão de compras 3,70 0,99 Promove treinamentos na equipe 3,51 1,11 Mantém contratos de longo prazo (mais de 3 anos) 3,34 1,40 Conhece o limite de preço que cada fornecedor pode praticar 3,29 1,22 Procura se envolver na fase de concepção de novos produtos dos fornecedores 3,11 1,41 Se envolve no processo de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos dos fornecedores 2,94 1,40 Classifica produtos comprados em grupos distintos 4,25 0,92 Adota diferentes procedimentos de compras para diferentes produtos 4,05 1,14 Garante o orçamento desejado 3,78 0,97 Aplica o conceito de Target-Costing 3,36 1,46 Tem integração com a área de marketing/comercial, de forma a identificar os preços e margens esperadas 3,11 1,20 Considera, além do preço, custos referentes ao transporte e armazenagem 4,50 0,86 Considera, além do preço, custos referentes à qualidade do produto e serviços 4,44 0,70 Variáveis (N = 101) 63 Média Desvio Padrão Negocia de forma detalhada os preços de compra 4,26 0,88 Considera, além do preço, custos referentes à rapidez e confiabilidade de entrega 4,09 1,01 Considera, além do preço, custos referentes à falta de flexibilidade dos fornecedores 3,83 1,20 Conhece estrutura de custos por trás do preço de venda 3,74 1,05 Considera, além do preço, custos referentes à atividades de póscompra 3,62 1,25 Considera, além do preço, custos referentes ao grau de inovação tecnológica 3,54 1,26 Aplica o conceito de Custo Total de Propriedade (TCO) 2,96 1,39 Compra em função do menor preço exclusivamente 2,88 1,34 Variáveis (N = 101) - continuação Primeiramente, consideremos como parte da evolução estratégica de custos em compras os modelos de segmentação dos itens e seus processos de compras, apresentados na literatura, dentre outros, por Govindarajan e Shank (1992b), Monczka et al. (2002) e Anderson e Katz (1998). Basicamente, há uma definição de quatro quadrantes: produtos específicos (onde o risco de fornecimento é elevado, porém o valor agregado da transação é baixo); produtos genéricos (onde o risco envolvido e o valor agregado são baixos); commodities (com baixo risco no fornecimento, porém de alto valor agregado da transação) e produtos críticos (com alto risco no fornecimento e alto valor agregado da transação). Para cada um destes quadrantes, a literatura recomenda estratégias diferentes de compras, uma vez que suas implicações na organização são distintas. Embora não tenha sido questionado qual o método utilizado por cada organização para tratar cada uma destas compras, observa-se nesta pesquisa que a maioria das empresas classifica os produtos em grupos distintos (média de 4,25) e, consequentemente, adotam diferentes procedimentos de compras para eles (média de 4,05). Estes indicadores ajudam a refletir uma maturidade na indústria brasileira com relação à necessidade de 64 segregação dos diferentes tipos de produtos para adoção de diferentes procedimentos de compras. Uma segunda análise que pode ser feita a partir dos resultados é quanto ao grau de cooperação entre as empresas e seus fornecedores. Neste estudo, a cooperação foi segmentada em dois grupos: envolvimento com concepção e desenvolvimento de novos produtos e contratação. A literatura (Anderson e Dekker, 2009a; Govindarajan e Shank, 1992a, 1992b; Monczka et al., 2002; McLaren et al., 2002; Ellram et al., 2002; Roslender e Hart, 2003; Cooper e Slagmulder, 2003; Ellram e Siferd, 1993, 1998; Degraeve e Roodhooft, 1999; Ellram, 1993b, 1994, 1995a; Anderson e Katz, 1998; Ilic et al., 2010; Ficalora e Cohen, 2009) aborda o envolvimento nas fases de pesquisa e desenvolvimento como parte importante no processo de gestão estratégica de custos, de modo a favorecer a adequabilidade, qualidade, especificação e uso dos produtos adquiridos nos processos e etapas de produção da empresa compradora, ou até mesmo do cliente final. Para tal, também é reforçada a necessidade de se estabelecerem parcerias duradouras e saudáveis com os fornecedores, de modo a se obterem os benefícios com a evolução da curva de aprendizagem dos processos de pesquisa e desenvolvimento integrados. Para o primeiro grupo, não há grandes indícios de que as empresas brasileiras estejam fortemente envolvidas com seus fornecedores. No que diz respeito ao envolvimento na fase de concepção de novos produtos, a média dos resultados (média de 3,11) e no processo de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos (média de 2,94), observa-se um potencial de evolução que poderia ser traduzido em benefícios futuros para a gestão estratégica de custos em compras das organizações. O segundo grupo também apresenta um potencial de evolução, uma vez que as médias obtidas para as variáveis que perguntavam sobre o relacionamento de longo prazo (maior que 3 anos) e sobre o conhecimento do limite de preço a ser praticado com o fornecedor apresentaram, respectivamente, média de 3,34 e 3,29. Na prática, manter contratos mais longos e com práticas de preços saudáveis poderia se reverter 65 em otimização dos custos de compras, uma vez que as incertezas por parte dos fornecedores seriam reduzidas, o planejamento de suprimentos poderia ser realizado de forma mais integrada, as sazonalidades poderiam ser reduzidas ao longo dos processos produtivos e a alocação de recursos poderia ser realizada de forma mais eficiente (Monczka et al., 2002; Anderson e Katz, 1998). Outra dimensão que pode ser analisada a partir dos dados coletados é o grau de aplicação do conceito de Target-Costing por parte das empresas brasileiras. Embora, quando questionadas diretamente se adotavam esta prática as empresas, a média de respostas tenha sido de 3,36, quando confrontada com outra variável que diz respeito à garantia do orçamento desejado, a média obtida foi de 3,78. Parte da diferença entre as respostas obtidas pode ser explicada pela falta de conhecimento do conceito de TargetCosting propriamente dito, ou realmente pela ausência de um processo estruturado que vise à aplicação do mesmo. A tabela 8 a seguir apresenta o grau de adoção do conceito de Target-Costing pelos diferentes setores das empresas respondentes, segundo visão dos entrevistados. Tabela 8 - Grau de adoção do conceito de Target-Costing por setor na indústria brasileira Média Desvio Padrão Bens de Consumo 4,17 0,69 Química e Petroquímica 4,00 1,15 Comunicações 4,00 0,00 Autoindústria 4,00 1,41 Siderurgia e Metalurgia 4,00 1,55 Bens de Capital 4,00 0,00 Indústria Digital 4,00 0,00 Indústria da Construção 3,60 1,36 Serviços 3,50 1,50 Atacado 3,50 1,50 Varejo 3,44 1,42 Energia 3,40 1,08 Farmacêutico 3,33 1,70 Setor (N=101) 66 Média Desvio Padrão Telecomunicações 3,00 0,00 Têxteis 3,00 0,00 Mineração 2,67 1,70 Produção Agropecuária 2,67 1,25 Papel e Celulose 2,33 1,25 Eletroeletrônico 1,83 1,21 Transporte 1,80 0,75 Diversos 1,00 0,00 Setor (N=101) - continuação Da tabela 8 anterior, o que chama grande atenção é a baixa adoção do conceito de Target-Costing no setor de Transporte, onde a competição é muito elevada, as margens são apertadas e, teoricamente, os custos deveriam ser muito contidos. A média de 1,80 revela um alto potencial de melhoria na gestão de custos destas organizações, através do estabelecimento de metas e métricas de gestão de custos e manutenção das margens desejadas. Por fim, analisaremos as variáveis que dizem respeito às técnicas e ferramentas de análise de preço e custos. Entendemos que uma combinação das diversas variáveis se aproxima dos conceitos de TCO trazidos pela literatura (Monczka et al., 2002; Emiliani et al., 2005; Ellram, 2000; Ellram, 1993a, 1993b, 1994, 1995b, 1996; Ellram e Stanley, 1998; Ellram e Siferd, 1993, 1998). Ou seja, a aplicação prática integral do TCO poderia ser resumida com a consideração de custos de transporte e armazenagem, qualidade do produto, rapidez e confiabilidade de entrega, flexibilidade dos fornecedores, atividades de pós-compra e grau de inovação tecnológica. Para estes elementos, conforme se apresenta na tabela 8, pode-se dizer que as empresas brasileiras, em média, têm considerado de forma bastante satisfatória (com média superior a 4,00) a adoção, além do preço, de custos de transporte e armazenagem (4,50), custos referentes à qualidade do produto (4,44) e custos referentes à rapidez e confiabilidade de entrega (4,09). Os demais elementos citados se 67 posicionaram numa média de respostas que variou entre 3,54 e 3,83, o que ainda está dentro da faixa satisfatória (entre 3,00 e 4,00). O contraponto interessante desta pesquisa é observado quando as empresas foram questionadas explicitamente se utilizavam o conceito do TCO nas suas funções de compras. A média de respostas obtida (2,96) foi bastante inferior à de qualquer um dos elementos constituintes da estratégia de adoção do TCO. Uma das razões para justificar esta diferença de percepção pode estar relacionada à falta de clareza sobre este conceito e os elementos que o compõem, ou até total desconhecimento do termo por parte dos respondentes. Tomando como base o autorreconhecimento sobre a adoção do TCO nas práticas de compras, a tabela 9 a seguir apresenta um comparativo entre os diferentes setores da economia brasileira. Tabela 9 - Grau de adoção do conceito de TCO por setor na indústria brasileira Setor (N=101) Média Desvio Padrão Bens de Capital 4,00 0,00 Siderurgia e Metalurgia 4,00 1,55 Atacado 4,00 1,00 Bens de Consumo 3,83 0,90 Produção Agropecuária 3,67 0,47 Química e Petroquímica 3,50 1,12 Mineração 3,33 1,70 Autoindústria 3,23 1,31 Telecomunicações 3,00 0,00 Comunicações 3,00 0,00 Têxteis 3,00 0,00 Papel e Celulose 3,00 1,63 Indústria Digital 3,00 0,00 Energia 2,87 1,31 68 Média Desvio Padrão Indústria da Construção 2,70 1,19 Farmacêutico 2,67 1,70 Varejo 2,56 1,57 Serviços 2,17 1,34 Eletroeletrônico 2,17 1,21 Transporte 2,00 0,89 Diversos 2,00 0,00 Setor (N=101) - continuação Assim como para a aplicação do conceito do Target-Costing, chama atenção a baixa média do setor de Transporte com relação à adoção do TCO: 2,00. Como mencionado anteriormente, quanto mais competitiva for a indústria em termos de preço, melhor deveria ser a gestão dos custos para garantir margens saudáveis ao longo do tempo. Seguindo este mesmo raciocínio, o setor Varejo também se destaca negativamente (média de 2,56). Como estes valores foram extraídos de um questionamento direto, deve-se verificar se as razões apontadas anteriormente para explicar a diferença entre as notas de cada variável que compõe o TCO e esta são, de fato, pertinentes. Considerando apenas as empresas que responderam utilizar o TCO com notas iguais ou superiores a 3,00, a figura 7 a seguir indica onde este conceito se faz mais presente no dia-a-dia das organizações. 69 Matéria-prima 35 Serviços 32 Peças fabricadas 25 Componentes 25 Bens de capital 15 Embalagens 15 MRO 14 Outros 12 0 10 Quantidade de citações 20 30 40 Figura 7 - Itens de compra onde o conceito do TCO é aplicado na visão das organizações brasileiras Pela análise da figura 7, podem ser destacados quatro itens com maior representatividade em termos de aplicação do conceito do TCO: matéria-prima, serviços, peças fabricadas e componentes. De fato, estes itens podem ser considerados de maior valor agregado, justificando maior esforço despendido para a sofisticação do processo de compras. Para itens como embalagens e MRO, o número menor de citações pode ser justificado pela sua baixa representatividade média nos custos totais de compras das organizações, pela disponibilidade de fornecedores ou pelo menor grau de diferenciação ou agregação de valor entre os produtos oferecidos por diferentes fornecedores. 4.2. RESULTADOS DA ANÁLISE FATORIAL Como mencionado no capítulo anterior, a análise fatorial exploratória foi realizada de modo a reduzir o número de variáveis testadas a um número de fatores capazes de explicar o grau de evolução estratégica de custos em compras conforme a literatura. Para tanto, foram consideradas, no total, 19 variáveis que poderiam estar relacionadas a esta evolução. 70 Em uma primeira rodada, chegou-se a um total de 5 fatores capazes de explicar 61,99% da variância total. No entanto, ao se analisarem as comunalidades de cada variável independente e a matriz de correlação rotacionada, detectou-se que algumas delas apresentavam valor inferior ao mínimo satisfatório. Segundo Hair et al. (2005), é recomendável a exclusão das variáveis que apresentaram comunalidades inferiores a 0,50 para que os resultados da análise fatorial sejam mais robustos. Portanto, foram realizadas novas rodadas e, no total, foram excluídas quatro variáveis, a saber: Decisões de compras buscando exclusivamente o menor preço Empresa conhece limite de preço de cada fornecedor Mantém contratos longos (superior a 3 anos) Empresa tem integração com Marketing/Comercial para identificar margens esperadas Assim, das 19 variáveis inicialmente consideradas, restaram apenas 15. Estas apresentaram um poder de explicação da variância total de 64,00%, formando quatro fatores. Além das comunalidades estarem superiores a 0,50 para cada uma das variáveis consideradas, também foi realizado o teste de esfericidade de Barlett e a medida de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO). Segundo Hair et al. (2005), o valor da significância do teste de esfericidade de Barlett deve ser um valor p < 0,01 e o KMO deve ser maior que 0,80, mas resultados acima de 0,60 já são toleráveis, tornando válidos os resultados encontrados. Para as 15 variáveis, o valor da significância de Barlett foi de 0,00, enquanto que o KMO foi de 0,79. Com o objetivo de verificar a confiabilidade da escala, considerando as dimensões obtidas na análise fatorial, foi obtido o Alfa de Cronbach para cada fator. Segundo Hair et al. (2005), valores considerados aceitáveis para garantir a robustez da análise fatorial deveriam ser superiores a 0,60. Para os fatores Práticas e Desenvolvimento, o alfa de Cronbach encontrado foi superior a 0,80, indicando grande confiabilidade da consistência interna da escala (Hair et al. (2005). enquanto que para os fatores Ferramentas e Segmentação foram superiores a 0,60. 71 A tabela 10, a seguir, apresenta os resultados da análise fatorial. Tabela 10 - Resultados da análise fatorial de componentes principais com rotação varimax Varimax Componentes Principais Descrição Custos de pós-compra Rapidez e confiabilidade de entrega Qualidade de produtos e serviços Grau de inovação tecnológica Flexibilidade dos fornecedores Transporte e armazenagem Negocia preços detalhadamente Conhece estrutura de custos dos fornecedores Aplica Target-Costing Garante orçamento desejado Práticas 0,80 0,74 0,73 0,68 0,64 0,61 0,55 Ferramen- Desenvoltas vimento -0,07 0,16 0,26 -0,04 0,12 0,16 0,13 0,27 0,33 0,06 0,18 -0,28 0,33 0,11 Segmentação Comun. 0,25 0,74 0,24 0,67 -0,06 0,58 0,25 0,61 0,28 0,60 -0,14 0,50 -0,33 0,54 0,50 0,38 0,23 -0,28 0,52 0,05 0,30 0,87 0,69 0,00 -0,04 0,14 -0,07 0,78 0,57 Aplica Custo Total de Propriedade (TCO) 0,21 0,61 0,29 0,16 0,53 Se envolve no processo de P&D Se envolve na concepção de novos produtos 0,10 0,03 0,91 0,08 0,85 0,11 0,13 0,87 0,20 0,83 Adota diferentes procedimentos de compras para diferentes produtos 0,07 -0,03 0,14 0,80 0,66 Classifica produtos em grupos distintos 0,16 0,25 0,18 0,72 0,64 Variância explicada Variância total explicada Alfa de Cronbach n Teste de Bartlett (sig) KMO 24,67% 0,84 14,54% 13,33% 64,00% 0,67 0,88 101 0,00 0,79 11,45% 0,63 Embora seja recomendável que os fatores formados tenham, ao menos, três variáveis constituintes, segundo Hair et al. (2005), pode-se levar adiante os resultados da análise fatorial com fatores de duas variáveis, desde que estes apresentem Alfa de Cronbach superior a 0,60 e sejam representativos na explicação das variâncias totais. Portanto, os quatro fatores gerados foram chamados de Práticas, Ferramentas, 72 Desenvolvimento e Segmentação. Estes estavam relacionados com a formação dos subconstrutos originária da literatura, conforme apresentado no item 2.4 e, posteriormente, na construção do questionário apresentada no item 3.5. O primeiro fator, denominado de Práticas, consolida as variáveis de custos que podem compor uma gestão de compras mais completa, contribuindo para a formação do conceito de custo total de propriedade segundo a combinação das contribuições de diversos autores (Lamm e Vose, 1988; Monczka et al., 2002; Emiliani et al., 2005; Ellram, 2000; Gopalakrishnan et al., 2007; Monczka e Trecha, 1988; Ellram, 1993a, 1993b, 1994, 1995b, 1996; Ellram e Stanley, 1998; Ellram e Siferd, 1993, 1998; Zsidisin et al., 2003; Garfamy, 2006; Anderson et al., 2005; Degraeve e Roodhooft, 1999; Bhutta e Huq, 2002; Morssinkhof et al., 2011). A consideração destes diversos elementos de custo poderia ajudar as empresas a avaliarem de forma mais precisa o impacto da decisão de fornecimento, tornando-a mais robusta. Já o segundo fator, denominado de Ferramentas, considera a aplicação de forma mais genérica das duas principais ferramentas de gestão de custos em compras: Target-Costing e TCO. Além destas variáveis, há a consideração da garantia do orçamento desejado, que nada mais é do que um dos principais componentes da aplicação do conceito de Target-Costing (Zsidisin et al., 2003; Gopalakrishnan et al., 2007; Ellram, 2000; Rifat e Gökhan, 2003). O terceiro fator, com menor poder de explicação das variâncias totais se comparado aos previamente apresentados, denomina-se Desenvolvimento. Este, segundo a literatura (Anderson e Dekker, 2009a; Govindarajan e Shank, 1992a, 1992b; Monczka et al., 2002; McLaren et al., 2002; Ellram et al., 2002; Roslender e Hart, 2003; Cooper e Slagmulder, 2003; Ellram e Siferd, 1993, 1998; Degraeve e Roodhooft, 1999; Ellram, 1993b, 1994, 1995a; Anderson e Katz, 1998; Ilic et al., 2010; Ficalora e Cohen, 2009), tem importância na gestão estratégica de custos em compras por reduzir barreiras existentes entre a organização compradora e seus fornecedores, de modo a favorecer a adequabilidade, qualidade, especificação e uso dos produtos adquiridos nos 73 processos e etapas de produção da empresa compradora, ou até mesmo do cliente final. Por fim, o quarto fator é denominado de Segmentação e abrange variáveis que testam o grau de segmentação que as empresas compradoras adotam para compra de diferentes produtos e serviços, em função tanto da classificação dos mesmos quanto da adoção de procedimentos diferenciados. A literatura (Govindarajan e Shank, 1992b), Monczka et al., 2002) e Anderson e Katz, 1998) o trata como atividade fundamental para a organização das estratégias de compras, de modo a direcionar de forma diferenciada os esforços para os diferentes grupos de itens. 4.3. ANÁLISE DE CONSOLIDAÇÃO DO ÍNDICE Após a realização da análise fatorial, que excluiu quatro das 19 variáveis que foram tratadas ao longo da pesquisa e definiu quatro fatores relevantes para compor um grau de evolução estratégica de custos em compras, foi seguida a metodologia de formação deste índice único por empresa, de modo a servir de base para a posterior análise de regressão linear e teste de hipóteses. Primeiramente, foram obtidas, a partir da análise fatorial, as pontuações absolutas de cada um dos fatores, que foram expressas diretamente através do software SPSS. Após esta etapa, foi calculado o desvio padrão dos dados de cada uma das 15 variáveis remanescentes para formação do índice desejado. Com estes números em mãos, foi calculado o coeficiente da pontuação fatorial sobre o desvio padrão de cada variável (PF/DP) e, em seguida, este foi normalizado (somatório igual a 1,00 para as variáveis dentro de um fator). A tabela 11 a seguir apresenta os valores de cada uma destas etapas até se chegar ao PF/DP normalizado. 74 Tabela 11 - Consolidação dos multiplicadores PF/DP normalizados Pontuação dos fatores Descrição Custos de pós-compra Práticas 0,30 FerraDesenSegmenmentas volvimento tação DP 1,25 PF/DP PF/DP norm. 0,24 0,15 Rapidez e confiabilidade de entrega 0,21 1,01 0,21 0,13 Qualidade de produtos e serviços Grau de inovação tecnológica 0,24 0,20 0,70 1,26 0,35 0,16 0,22 0,10 Flexibilidade dos fornecedores Transporte e armazenagem 0,15 0,21 1,20 0,86 0,12 0,25 0,08 0,16 Negocia preços detalhadamente 0,14 0,88 0,16 0,10 0,53 0,37 1,05 1,45 0,96 0,09 0,36 0,38 0,06 0,37 0,39 0,31 1,38 0,23 0,23 Conhece estrutura de custos dos fornecedores Aplica Target-Costing Garante orçamento desejado Aplica Custo Total de Propriedade (TCO) 0,10 Se envolve no processo de P&D 0,51 1,39 0,37 0,53 Se envolve na concepção de novos produtos 0,46 1,41 0,33 0,47 Adota diferentes procedimentos de compras para diferentes produtos 0,50 1,14 0,43 0,48 Classifica produtos em grupos distintos 0,43 0,92 0,47 0,52 Em seguida, foram considerados os valores de PF/DP normalizados como multiplicadores dos valores absolutos observados para cada variável na escala Likert. Neste passo, cada empresa respondente teria um grau de evolução correspondente a cada um dos fatores. O último passo foi ponderar os graus de evolução por empresa em cada um dos fatores de acordo com a variância explicada por eles, obtida através da análise fatorial. 75 Para validar esta etapa, foi necessário comparar as diferenças de explicação da variância de cada um dos quatro fatores com a representatividade qualitativa dos mesmos para caracterização do grau de evolução estratégica de custos em compras. Neste trabalho, entendeu-se que o principal conceito que estaria por trás de uma empresa com alto grau de evolução estratégica seria o TCO. Seus elementos de custos, trabalhados como uma fusão do conceito estabelecido por diversos autores, como mencionado anteriormente, compõem o fator Práticas. De alguma forma, este deveria receber uma carga mais elevada para a composição do índice desejado. De fato, sua variância explicada é significativamente maior que as dos demais fatores (conforme observado na tabela 10). Os demais fatores não apresentaram grandes diferenças entre as variâncias explicadas, assim como qualitativamente não está muito clara a ordem de importância de cada um deles. Desta forma, foi considerada válida a ponderação dos fatores considerando a variância explicada de cada um dos fatores. 4.4. RESULTADOS DA REGRESSÃO LINEAR Com o objetivo de testar as hipóteses descritas anteriormente, foram efetuadas as análises de regressão linear simples. Essas análises foram realizadas para verificar se grau de evolução na gestão estratégica de custos em compras estava positivamente relacionado com o tamanho e/ou desempenho financeiro das empresas. As figuras a seguir, apresentando os gráficos de dispersão, demonstram que não há, aparentemente, relação do grau de evolução estratégica de custos em compras com nenhuma das quatro variáveis analisadas (duas independentes para o tamanho da empresa – faturamento bruto anual e número de funcionários; duas dependentes para o desempenho financeiro – EBITDA sobre faturamento bruto anual e EBITDA sobre total de ativos). Ainda assim, foram realizadas as análises de regressão de modo a testar estatisticamente se as hipóteses definidas neste trabalho estavam válidas ou não. 76 Faturamento bruto anual US$ Grau de sofisticação estratégica de custos em compras 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 Figura 8 - Gráfico de dispersão: faturamento bruto anual e índice de sofisticação Número de funcionários Grau de sofisticação estratégica de custos em compras 18.000 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 Figura 9 - Gráfico de dispersão: número de funcionários e índice de sofisticação 77 EBITDA/faturamento bruto anual US$ Grau de sofisticação estratégica de custos em compras 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 Figura 10 - Gráfico de dispersão: índice de sofisticação e EBITDA/faturamento EBITDA/total de ativos Grau de sofisticação estratégica de custos em compras 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 Figura 11 - Gráfico de dispersão: índice de sofisticação e EBITDA/total de ativos A Tabela 12 apresenta o resumo do resultado das duas regressões testadas, onde a variável independente foi o tamanho das empresas (faturamento bruto anual US$ e número de funcionários) e a variável dependente foi o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras. Observando-se a tabela, nota-se que os modelos apresentaram níveis ruins de significância para todas as regressões testadas. 78 Além disso, o poder explicativo das relações testadas foi baixo, o que pode indicar que, no contexto brasileiro, não há relação entre o tamanho das empresas e o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras. Tabela 12 - Resultados da regressão linear simples: tamanho e grau de sofisticação Variável independente SubHipótese Grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras (variável dependente) N Teste F Sig. F R² Faturamento bruto anual US$ MM H1a 101 0,268 0,606 1,2% Número de funcionários H1b 82 0,012 0,913 0,0% alfa = 5% A tabela 13, a seguir, apresenta o resultado das regressões que testaram a relação entre o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras (variável independente) com o desempenho financeiro das organizações (variável dependente). Assim como para os testes anteriores, não foi possível identificar qualquer relação entre as variáveis. Isto quer dizer que outros elementos não investigados podem estar relacionados ao grau de evolução na gestão estratégica de custos em compras, ou que os indicadores coletados não foram apropriados para estabelecer tais conclusões de relacionamento. Tabela 13 - Resultados da regressão linear simples: grau de sofisticação e desempenho financeiro Variável dependente SubHipótese Grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras (variável independente) N Teste F Sig. F R² EBITDA/faturamento H2a 76 0,408 0,525 0,5% EBITDA/Total de ativos H2b 69 0,165 0,686 0,2% alfa = 5% Segundo Hair et al. (2005), valores de R2 considerados bons para validar uma relação entre uma variável independente e outra dependente deveriam ser superiores a 79 85%. Entretanto, os autores ainda mencionam que valores superiores a 70% poderiam ser considerados aceitáveis. Além disso, outro teste importante que pode ser considerado para avaliar os resultados da regressão linear é o teste F. Segundo Hair et al. (2005), o nível de significância do teste deverá ser menor ao alfa de confiança determinado (neste caso, em 5%). Monczka et al. (2002) sugerem que há uma relação direta entre empresas de maior porte e o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras. Da mesma forma, a literatura (Day e Lichtenstein, 2006; Yeung, 2008; Chen et al., 2004) sugere que quanto mais evoluída for uma empresa na gestão estratégica de custos em compras, melhores deveriam ser seus desempenhos financeiros. Entretanto, analisando-se os resultados obtidos nas tabelas 12 e 13, observa-se que para as subhipóteses testadas os valores obtidos de R2 foram inferiores a 2,0%, bem como os níveis de significância do teste F foram superiores a 0,20. Portanto, as hipóteses propostas neste estudo e descritas no item 3.3, que buscavam identificar a relação entre o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras e o tamanho das empresas e entre o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras e o desempenho financeiro das mesmas foram todas rejeitadas. Desta forma, não há conclusão significativa que possa relacionar o índice criado neste estudo com as variáveis de faturamento, número de empregados, EBITDA sobre faturamento e EBITDA sobre total de ativos. 80 5. CONCLUSÃO 5.1. SUMÁRIO O objetivo deste estudo era, primeiramente, criar um índice para medição do grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras para, posteriormente, testar se este índice poderia estar relacionado ao tamanho e ao desempenho financeiro das empresas brasileiras. Para tal, foram seguidos os seguintes passos: 1. Coleta de dados das empresas brasileiras presentes na lista das Melhores e Maiores da revista Exame de 2011; 2. Elaboração de uma análise fatorial de forma a reduzir o número de variáveis, agrupá-las em fatores e validar os subconstrutos descritos na metodologia; 3. Elaboração de um índice único por empresa, que ponderou os quatro fatores obtidos através da análise fatorial, representando o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras; 4. Realização de testes de hipóteses através de regressão linear simples de modo a verificar se o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras estaria relacionado ao tamanho e/ou desempenho financeiro das empresas brasileiras. A etapa de coleta de dados foi considerada bem sucedida, uma vez que foram obtidas 101 respostas completas de empresas dos diferentes setores listados pela revista Exame Melhores e Maiores 2011. Desta forma, foi estatisticamente possível realizar a análise fatorial exploratória que eliminou quatro variáveis e agrupou as remanescentes em quatro fatores: Práticas, Ferramentas, Desenvolvimento e Segmentação. Como descrito no item 4.2, estes quatro fatores e suas variáveis ficaram alinhados com a pré-concepção dos subconstrutos elaborados a partir de conceitos 81 levantados na literatura e descritos no item 2.4. A formalização destes fatores, bem como a definição das variáveis que o compõem, poderia ser considerada uma contribuição significativa deste estudo para a literatura de gestão de custos em compras. Então, para dar um passo além, ainda foi definida uma metodologia que combinou estes quatro fatores e gerou um índice inédito que representa, para cada empresa, o grau de evolução na gestão estratégica de custos em compras. Por fim, para cumprir o último objetivo do estudo, o de verificar se o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras estaria relacionado ao tamanho e/ou ao desempenho financeiro das empresas brasileiras, foram elaboradas duas hipóteses (com quatro sub-hipóteses), conforme descritas a seguir. H1: O tamanho da empresa está positivamente relacionado com o grau de sofisticação nas práticas de gestão de custos na área de compras. H1a: O tamanho da empresa, em termos de faturamento bruto anual, está positivamente relacionado com o grau de sofisticação nas práticas de gestão de custos na área de compras. H1b: O tamanho da empresa, em termos de número de funcionários, está positivamente relacionado com o grau de sofisticação nas práticas de gestão de custos na área de compras. H2: A adoção de prática mais sofisticada na gestão de custos das empresas está positivamente relacionada com melhor resultado financeiro. H2a: A adoção de prática mais sofisticada na gestão de custos das empresas está positivamente relacionada com melhor resultado financeiro medido através do EBITDA sobre faturamento bruto anual. 82 H2b: A adoção de prática mais sofisticada na gestão de custos das empresas está positivamente relacionada com melhor resultado financeiro medido através da rentabilidade sobre ativos (EBITDA sobre total de ativos). O método estatístico utilizado para tentar testá-las foi o de regressão linear simples. Entretanto, como apresentado no capítulo anterior, não foi possível estabelecer relações significativas entre o índice criado neste estudo e o tamanho e/ou desempenho financeiro das empresas brasileiras. 5.2. CONCLUSÕES Este estudo tentou responder às seguintes perguntas, de modo a compreender a relação entre o grau de sofisticação adotado na gestão de custos da área de compras de empresas brasileiras e seu tamanho e/ou desempenho financeiro. 1. Quais as principais práticas de gestão de custos na área de compras que estão sendo adotadas por empresas brasileiras? 2. Como podem ser classificadas as práticas de gestão de custos praticadas pelas empresas brasileiras? 3. Como as empresas brasileiras poderão ser classificadas com relação ao grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras? 4. Como o tamanho das empresas está relacionado com o grau de sofisticação adotado na gestão de custos na área de compras? 5. Como a adoção de práticas mais sofisticadas na gestão de custos na área de compras das empresas impacta os seus resultados financeiros? 83 Com base na literatura revista ao longo do Capítulo 2, foram extraídas variáveis que pudessem representar as diferentes práticas e subpráticas de gestão de custos, para que fossem levantadas suas adoções na indústria brasileira. Como resposta para a primeira pergunta deste estudo, uma das principais práticas utilizadas pelas empresas brasileiras no que se refere à gestão estratégica de custos em compras é a adoção parcial do conceito de TCO, através da consideração de outros elementos de custos, além do preço do item comprado, tais como transporte e armazenagem (média de 4,50), custos referentes à qualidade dos produtos e serviços (média de 4,44) e custos de rapidez e confiabilidade da entrega (média de 4,09). Outros elementos que poderiam compor o TCO, mas que não foram tão fortemente mencionados, são aqueles referentes à falta de flexibilidade dos fornecedores, a atividades de pós-compra e ao grau de inovação tecnológica. Outra prática que se mostrou bastante aplicada no cenário brasileiro é a segmentação dos itens e seus processos de compras. Esta prática foi representada por duas variáveis, que tiveram médias superiores a 4,00, perguntando se a empresa classifica produtos comprados em grupos distintos e se adota diferentes procedimentos de compras para diferentes produtos. Já os resultados para as práticas de Target-Costing e de cooperação entre empresas e fornecedores no que se refere às fases de concepção e desenvolvimento de novos produtos e serviços indicaram haver potencial para maior evolução na indústria brasileira. Para incorporar o conceito do Target-Costing, o que poderia ser feito para colocar as empresas brasileiras em patamar superior de gestão estratégica de custos em compras e elevar a garantia do orçamento desejado seria a melhoria na comunicação entre as áreas de marketing/comercial e a área de compras, além do mapeamento e identificação das estruturas de custos presentes nas transações realizadas. Já com relação à cooperação entre os fornecedores e as empresas, a área de compras poderia participar de maneira mais ativa das fases de desenvolvimento de produtos, contribuindo com especificações técnicas, detalhamento do uso do produto/serviço a ser comprado, bem como indicação das características consideradas 84 mais ou menos essenciais para a composição do produto/serviço final a ser adquirido, de modo a otimizar o custo total. Para responder à segunda pergunta proposta foi realizada uma análise fatorial exploratória, de modo a verificar se as suposições estabelecidas no item 3.6 seriam consistentes. O resultado obtido foi bastante satisfatório, obtendo-se uma decomposição da sofisticação na gestão estratégica de custos em compras em quatro diferentes grupos (fatores): práticas, ferramentas, desenvolvimento e segmentação. A terceira pergunta foi respondida com a criação de um índice único por empresa capaz de quantificar o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras. Seguindo a metodologia descrita no item 3.7.3, foi possível utilizar os resultados obtidos na análise fatorial exploratória como base para a ponderação de cada uma das variáveis consideradas para a composição deste índice. Embora este trabalho tenha se limitado a testar a relação do índice criado com o tamanho e/ou desempenho financeiro das organizações, acredita-se que sua consideração em estudos futuros possa ser de grande utilidade. Já as perguntas 4 e 5 motivaram a busca por uma relação entre o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos, conforme medido pelo índice criado, com o tamanho (este como uma variável independente) e o desempenho financeiro (este como uma variável dependente). Conforme apresentado no item 4.4, através dos testes de regressão linear simples não foi possível encontrar sustentação para as hipóteses propostas e responder a estas perguntas de forma positiva. Ou seja, neste estudo, não foi possível estabelecer qualquer relação entre o tamanho das empresas brasileiras e o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras, bem como entre este e o desempenho financeiro das organizações. Algumas razões podem ajudar a entender o porquê de não terem sido obtidos resultados satisfatórios nos testes conduzidos, que se abordam a seguir. 85 Apesar de Monczka et al. (2002) sugerirem que haja uma tendência a que quanto maior for a organização, mais avançada esta estará na gestão estratégica de custos em compras, podemos entender que, a depender do setor ao qual a empresa pertença, a função de compras poderá ter maior ou menor importância para a obtenção de lucratividade. Desta forma, a área de compras poderia receber menor atenção por parte dos gestores e apresentar baixo grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras, mesmo tendo a empresa grande número de funcionários ou elevado faturamento. O mesmo raciocínio é válido para se entender o porquê de o grau de sofisticação não estar relacionado ao desempenho financeiro das organizações. Para este último, vale ainda o argumento de que as compras, isoladamente, podem representar uma parcela pouco significativa dos custos totais da organização e, com isso, influenciar pouco o desempenho financeiro. Além disso, para este estudo foi considerado o desempenho financeiro no ano de 2010. Talvez, com uma análise da evolução temporal do desempenho financeiro atrelado à evolução temporal do grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras, fosse possível obter resultados mais conclusivos. A falta de relação entre o desempenho financeiro das organizações e o índice de sofisticação estratégica na gestão de custos em compras obtido para cada empresa também pode ser explicada pela redução da flexibilidade gerencial ou necessidade de altos investimentos para adoção de práticas sofisticadas. A literatura (Bhutta e Huq, 2002, Degraeve e Roodhooft, 1999; Ellram,1993a, 1994, 1995a; Anderson e Dekker, 2009a, 2009b; Webber et al., 2010; Ellram e Siferd, 1993, 1998; Zsidisin et al., 2003) aponta que evoluir num processo de gestão requer altos investimentos e pode reduzir a flexibilidade gerencial, impactando diretamente os resultados da organização. Neste estudo, embora não tenha sido observada relação positiva entre o índice criado e o desempenho das empresas, também não se pode concluir que sofisticar a gestão de custos em compras possa impactar negativamente no desempenho das organizações. 86 Em resumo, este estudo foi capaz de identificar as principais práticas adotadas por empresas brasileiras na gestão de custos em compras, criar uma classificação para elas e contribuir para a construção do conceito de um índice único por empresa capaz de refletir o seu grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras. 5.3. SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS Aproveitando o índice criado, que representa o grau de sofisticação na gestão estratégica de custos em compras, outros testes de hipóteses poderiam ser realizados. Entretanto, envolveriam a busca de informações adicionais na etapa de coleta de dados. Basicamente, estas hipóteses poderiam relacionar o índice criado com as barreiras encontradas por empresas para a adoção de técnicas mais avançadas na gestão de custos, ou com a capacidade das empresas de enxergar benefícios ao utilizarem modelos mais sofisticados na gestão de custos em compras. Algumas barreiras foram identificadas na literatura (Anderson e Dekker, 2009a, 2009b; Buttha e Hug, 2002; Degraeve e Roodhooft, 1999; Ellram, 1994, 1995a; Ellram e Siferd, 1993, 1998; Webber et al., 2010) para justificar a adoção de modelos menos sofisticados na gestão de custos. Portanto, novos estudos poderiam verificar se empresas que adotam práticas menos sofisticadas na gestão estratégica de custos na área de compras são as que encontram maiores entraves para implantação de modelos mais sofisticados. A literatura aponta os principais motivadores para a adoção de práticas mais sofisticadas na gestão estratégica de custos na área de compras (Anderson et al., 2005; Degraeve e Roodhooft, 1999; Ellram, 1993b, 1994, 1995a, 1996; Ellram e Siferd, 1993; Morssinkhof et al., 2011; Webber et al., 2010; Zsidisin et al., 2003). Uma sugestão de estudo futuro seria portanto investigar se empresas que adotam práticas mais sofisticadas na gestão estratégica de custos na área de compras são aquelas que enxergam maiores benefícios com a implantação destas práticas. 87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGNDAL, Henrik; NILSSON, Ulf. “Activity-based costing: effects of long-term buyersupplier relationships”. Qualitative Research in Accounting & Management, vol. 4, nº 3, p. 222-245, 2007. ALUKO, Sophia; MAYHALL, Jonathan; WAUQUIEZ, Melanie; VERCIO, Alan. “Strategic Cost Management”. Financial Management, nº 2, september, p. 34-35, 2010. ANDERSON, J. 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XXXXX, Gostaríamos de contar com sua participação em duas pesquisas na área de Compras e Suprimentos conduzidas pelo Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A pesquisa tem por objetivo investigar aspectos relevantes da gestão de custos na área de Compras. Está sob supervisão da Profa. Dra. Rebecca Arkader, especialista da área de Compras e Suprimentos do Instituto COPPEAD de Administração. Sabemos que seu tempo é escasso, porém sua participação é muito importante para o sucesso da pesquisa e para o avanço no conhecimento em gestão de Compras e Suprimentos no país. Garantimos que nenhuma empresa será identificada, sendo as respostas trabalhadas sempre de maneira agregada, tornando impossível sua relação a um questionário ou respondente em particular. Convidamos o(a) Sr.(a) a preencher o questionário presente no link abaixo, que está hospedado no site do Qualtrics (www.qualtrics.com), especializado em pesquisas acadêmicas . Para acessá-lo, basta clicar nos links abaixo, ou copiar e colar o endereço na barra de navegação do seu browser. Link para questionário Gestão Estratégica de Custos de Compras/Suprimentos: https://survey.qualtrics.com/SE/?SID=SV_3HO1Utt5IFJnhSk Em caso de qualquer dúvida, estamos à disposição. Desde já, agradecemos a sua colaboração. Rebecca Arkader Felipe Alves ([email protected]) Departamento de Operações, Tecnologia e Logística Instituto COPPEAD de Administração 96 ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO ENVIADO PARA AS EMPRESAS LISTADAS NA REVISTA EXAME MELHORES E MAIORES DE 2011 PESQUISA SOBRE ASPECTOS ESTRATÉGICOS NA GESTÃO DE CUSTOS EM COMPRAS/SUPRIMENTOS NAS ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS Esta pesquisa está sob a coordenação da Professora Rebecca Arkader, e seus fins são exclusivamente acadêmicos. Todas as informações fornecidas serão consideradas estritamente confidenciais e tratadas sempre de forma agregada. Não existem respostas certas ou erradas, portanto pedimos que responda da forma que mais corresponda à realidade de sua empresa. Uma vez iniciado o preenchimento, é possível sair da página e retomar o questionário mais tarde, do ponto de onde parou. Caso deseje, sinta-se à vontade para nos contatar no email [email protected] ou telefone (21) 9925-7962. Agradecemos desde já pelo seu tempo e cooperação. Felipe Alves Departamento de Operações, Tecnologia e Logística Instituto COPPEAD de Administração >> Survey Powered By Qualtrics 97 Nome da empresa. Item opcional - Caso deseje receber um sumário executivo com os resultados desta pesquisa, escreva seu e-mail no campo a seguir. Item opcional - Qual o seu cargo? Presidente Gerente Analista Diretor Coordenador Comprador Gerente Geral Supervisor Outro Item opcional - Qual o nome do departamento para o qual você trabalha diretamente? >> Survey Powered By Qualtrics 98 I1 As questões a seguir têm por objetivo avaliar a sua percepção com relação às práticas adotadas por sua empresa na gestão da área de compras. As respostas poderão ser 1 (discordo), 2 (discordo parcialmente), 3 (nem discordo nem concordo), 4 (concordo parcialmente) e 5 (concordo). Q5 Na minha opinião, a área de compras da minha empresa... 1. Discordo (1) 2. Discordo parcialmente (2) 3. Nem discordo nem concordo (3) 4. Concordo parcialmente (4) 5. Concordo (5) ... toma decisões de compras buscando exclusivamente o menor preço para todos os produtos. (1) ... classifica produtos comprados em grupos distintos, considerando elementos de custo, risco e volume comprado. (2) ... adota diferentes procedimentos de compras para diferentes grupos de produtos comprados, com base em características de custo, risco e volume comprado. (3) ... promove treinamentos frequentes de sua equipe, de 99 forma a garantir que seus colaboradores conheçam as mais avançadas técnicas de gestão de compras. (4) Q6 Com relação aos principais fornecedores da minha empresa, a área de compras... 1. Discordo (1) 2. Discordo parcialmente (2) 3. Nem discordo nem concordo (3) 4. Concordo parcialmente (4) 5. Concordo (5) ... conhece a estrutura de custos por trás do preço de venda apresentado. (1) ... negocia de forma detalhada os preços de compra. (2) ... considera, além do preço, custos referentes à qualidade do produto e serviços complementares necessários ao seu uso. (3) ... considera, além do preço, custos referentes ao transporte e armazenagem. (4) ... considera, 100 além do preço, custos referentes à falta de flexibilidade dos fornecedores para adaptação do produto ao uso. (5) ... considera, além do preço, custos referentes ao grau de inovação tecnológica. (6) ... considera, além do preço, custos referentes à rapidez e confiabilidade de entrega. (7) ... considera, além do preço, custos referentes à atividades de pós-compra. (8) ... conhece o limite de preço que cada fornecedor pode praticar, de modo a assegurar o cumprimento dos contratos de compra. (9) ... mantém contratos de longo prazo (mais de 3 anos). (10) ... procura se envolver na fase 101 de concepção de novos produtos dos fornecedores, contribuindo com especificações de produção. (11) ... se envolve no processo de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos dos fornecedores. (12) 102 Q7 Em termos de gestão de custos, a área de compras da minha empresa... 1. Discordo (1) 2. Discordo parcialmente (2) 3. Nem discordo nem concordo (3) 4. Concordo parcialmente (4) 5. Concordo (5) ... possui recursos tecnológicos robustos que dão suporte na tomada de decisão de compras. (1) ... tem integração com a área de marketing/comercial, de forma a identificar os preços e margens esperadas nas transações futuras. (2) ... tem conhecimento e controle sobre os seus processos, de forma a gerir com precisão seus custos e garantir o orçamento desejado. (3) ... aplica o conceito de Custo Total de Propriedade (TCO). (4) ... aplica o conceito de Target-Costing. (5) 103 Q8 Se a área de compras da sua empresa adota práticas do TCO, selecione abaixo para quais tipos de itens comprados esta técnica é utilizada: Bens de capital (1) Matéria-prima (2) Componentes (3) Peças fabricadas (4) Embalagens (5) Serviços (6) MRO (7) Outros (8) 104