Núcleo de Pedagogia Universitária Introdução O ensino na Universidade, vinculado, de forma continuada, à pesquisa e à extensão, é uma das principais atividades desempenhadas pelos docentes. É um meio efetivo de contribuir para o desenvolvimento locorregional e nacional, pela formação de profissionais qualificados. Assim, há necessidade de se prestar atenção ao aprimoramento da pedagogia na Universidade para o bom desempenho da prática. É importante que se estabeleça o diálogo permanente entre avaliação e formação, para a criação de programas, projetos e atividades que levem a romper o isolamento dos docentes, à inovação pedagógica e sua divulgação na comunidade universitária. Romper o isolamento significa abrir a práxis pedagógica para conhecimento e avaliação de outros colegas e alunos para que ela possa ser estudada e refletida. Dessa forma, criam-se dois olhares: o que é ensinado e o modo como é ensinado. Quanto à inovação pedagógica, ela permite não só o exercício da criatividade docente, como organização de materiais, seminários, publicações, mas também o estreitamento dos elos nas ações de desenvolvimento e avaliação curricular e a apreciação do “estado da arte”, particularmente, no estudo reflexivo-crítico de casos de sucesso pedagógico sobre problemas de ensino e de aprendizagem. As bases para o aprimoramento pedagógico do professor devem alicerçar-se na reflexão e na investigação do seu próprio ensino. O que importa é uma mudança docente de atitude pela investigação de sua prática, exercitando a reflexão crítica. A UNOESTE vem, ao longo do tempo, criando ambientes formais acadêmicos de formação e aprimoramento, tais como: cursos de pós-graduação lato e stricto sensu, oficinas pedagógicas para reflexão de temáticas da educação, fóruns de ensino, encontros científicos, programa de avaliação docente on-line. O objetivo central consiste em apoiar a reflexão crítica do docente sobre os problemas da sua práxis pedagógica e reinvestir, posteriormente, de forma inovadora, na sua prática profissional o resultado dessa reflexão. Sem esse reinvestimento, as ações de formação docente perdem o seu sentido. Por isso, a aprendizagem do docente deve ser tomada de forma 1 deliberada e planejada como um processo intencional, em que se submetem as experiências de ensino a revisões (pela pesquisa e pela extensão) de modo organizado e com a cooperação dos pares docentes. Chegou o momento de transformação do Núcleo de Apoio Pedagógico da UNOESTE, instituído pela Resolução nº 1, de 03 de fevereiro de 1998, do Conselho Universitário, em Núcleo de Pedagogia Universitária, para dar apoio aos professores e qualificar seu trabalho pedagógico, levando-os a um processo de emancipação profissional , entendida esta como um fortalecimento da relação de obrigações com os outros e ainda com o estado das coisas, envolvendo, sobretudo, nessa relação de obrigações, as interações necessárias do ensino com a aprendizagem. Objetivos 1. Implementar a política de desenvolvimento pedagógico-profissional do ensino (corpo docente) e suas interações necessárias, com o corpo discente (universitários); 2. Transformar a cultura pedagógico-universitária no sentido de estabelecer relações entre pesquisa – ensino – avaliação e extensão; 3. Desenvolver a formação pedagógico-profissional do docente, contribuindo para novas reflexões, atitudes, competências para definição de seu papel de facilitador da aprendizagem e investigador de sua prática pedagógica (pesquisador) e de sua atuação extensionista na(s) comunidade(s); 4. Reformular o projeto de organização e gestão do conhecimento na Universidade em virtude das mudanças próprias da sociedade da informação. Design do NPU O modo de transformar a pedagogia na Universidade implica duas vertentes dessa transformação, uma como processo e outra como qualidade desse processo. 2 Neste projeto de NPU, pretende-se utilizar a investigação no ensino como um processo de descoberta do processo de transformação, registrando-se que não há fórmulas, modelos para operacionalizar a transformação, pois existe uma singularidade em cada situação de ensino, de aprendizagem e de avaliação. Quanto à qualidade, significa inovar em uma direção que foi escolhida com base nos conteúdos oferecidos pelas áreas de conhecimento, afetos às questões pedagógicas. O NPU da UNOESTE alicerçar-se-á nos princípios gerais pedagógicos declarados pela Instituição na área da pedagogia universitária. A redundância – transformar pela transformação – é significativa e implica uma atenção à transformação como processo e como qualidade desse processo. Poderemos definir com clareza esse processo e essa qualidade? Pensamos que não, mas a resposta tem duas vertentes no âmbito do nosso projeto. Por um lado, a investigação no ensino assume-se, ela mesma, como um processo de descoberta do processo de transformação, sendo ambos os processos imprevisíveis e intermináveis. Não existem fórmulas para operacionalizar a transformação, já que as situações educativas são únicas e complexas, “terrenos pantanosos”, para usar a imagem topográfica de SchÖn (1987), exigindo-se combinações de ciência e arte, que não vêm em nenhum manual e considerando-se, inclusive, as histórias de vida dos professores e dos alunos, que determinam fortemente as suas ações e lhes conferem idiossincrasias que importa compreender e respeitar. Contudo, e aqui entramos na segunda vertente da resposta, relativa à qualidade do processo, seja qual for a solução encontrada num dado contexto de ação quando falamos de transformação, não nos referimos a uma mudança qualquer, mas sim a uma mudança numa determinada direção, traçada e regulada por uma finalidade emancipatória, traduzida num conjunto de oito princípios de qualidade da pedagogia, acima referidos e já definidos no projeto anterior como uma espécie de “gramática da pedagogia” (Vieira et al.: 2002, pp. 32-33): Intencionalidade: a ação pedagógica desenvolve-se numa direção alicerçada em pressupostos e finalidades relativos à educação formal e à relação entre esta e a sociedade, direcionando-se a uma formação integrada, de âmbito científico, cultural, técnico/profissionalizante, pessoal e social; 3 Transparência: a ação pedagógica integra a explicitação dos pressupostos e finalidades de formação que a orientam, da natureza da metodologia seguida, dos processos/percursos de aprendizagem e dos parâmetros de avaliação adotados; Coerência: a ação pedagógica é coerente com os pressupostos e finalidades de formação que a orientam, com a natureza dos conteúdos disciplinares e com os métodos de avaliação adotados; Relevância: a ação pedagógica integra expectativas, necessidades, ritmos e interesses diferenciados, mobiliza e promove saberes, linguagens e experiências relevantes à futura profissão, promove o contato com a realidade sócio-profissional e perspectiva o currículo de forma articulada; Reflexividade: a ação pedagógica promove o pensamento divergente e o espírito crítico, integrando uma reflexão crítica sobre os seus pressupostos e finalidades, os conteúdos, a metodologia seguida, os parâmetros e métodos de avaliação, os processos/percursos de aprendizagem, o papel das disciplinas no currículo e a relação deste com a realidade sócio-profissional; Democraticidade: a ação pedagógica assenta em valores de uma cidadania democrática – sentido de justiça, respeito pela diferença, liberdade de pensamento e expressão, comunicação e debate de idéias, negociação de decisões, colaboração e inter-ajuda; Autodireção: a ação pedagógica desenvolve atitudes e capacidades de autogestão da aprendizagem – definição de metas e planos de trabalho autodeterminados, autoavaliação e estudo independente, curiosidade intelectual e vontade de aprender, sentido de auto-estima e autoconfiança; Criatividade/Inovação: a ação pedagógica estimula a pesquisa e a extensão universitárias, pelos processos de compreensão e intervenção, com implicações profissionais e sociais, promovendo uma interpretação pessoal e uma visão pluri/inter/transdisciplinar do conhecimento e da realidade, capacidades de resolução de problemas, desenvolvimento de ações pessoais, capacidades de intervenção no contexto profissional e atitudes de abertura à inovação. Estes são princípios com valor transdisciplinar e com potencial transformador no seio do sistema de obrigações que o professor e os seus alunos tecem em contextos locais, com efeitos nas culturas pedagógicas das instituições. 4 Transformar a pedagogia é também mudar o seu papel nessas culturas, o que exige que as iniciativas de mudança sejam avaliadas, disseminadas e expostas ao escrutínio dos pares, nomeadamente no seio das comunidades de pertença dos professores que as desenvolvem. E não apenas para dar a conhecer o que se faz, mas, sobretudo, para evidenciar as condições de (im)possibilidade das mudanças pretendidas, as implicações dessas mudanças nas políticas institucionais que condicionam, direta ou indiretamente, a qualidade do ensino; ou ainda, as contradições que afetam a vida acadêmica e a construção da identidade profissional dos professores. Quando se coloca a pesquisa a serviço do ensino e da aprendizagem, a disseminação (pela extensão) assume um papel estratégico e constitui parte integrante do processo de transformação da pedagogia. Voltando ao subtítulo inicial, admite-se que este projeto representa, sim, uma profissão de fé e uma palavra de ordem, porque através dele interrogamos a cultura pedagógica dominante e, guiados pela utopia e pela esperança, afirmamos publicamente acreditar numa pedagogia de orientação emancipatória, comprometendo-nos a defendêla como causa idealmente coletiva, não no sentido da unificação do pensamento e ação dos professores e dos alunos, mas antes no sentido do reconhecimento da diferença e do dissenso, e da urgência do diálogo sobre a qualidade e o valor da pedagogia no contexto universitário. Mas o projeto representa muito mais do que um ato de palavra ou uma arma retórica. É, sobretudo, uma ação comprometida, através da qual se procura testemunhar: a constituição de uma comunidade de ensino e aprendizagem, preocupada com as questões da pedagogia, rejeitando o isolamento profissional, em favor do reforço das relações coletivas dos professores, organizados em colegiados. a realização de experiências de investigação pedagógica que buscam a compreensão, renovação e valorização da pedagogia, através do reinvento das práticas e da reflexão crítica sobre as suas finalidades, natureza e efeitos; o reconhecimento de constrangimentos e limitações, dilemas e contradições que a indagação do ensino pelos professores encerra; a criação de resistências às forças históricas e estruturais que contrariam uma pedagogia de orientação emancipatória, como resultado social, ético e político; 5 o potencial da valorização da pesquisa e da disseminação de seus resultados no ensino, como a via mais democrática de realizar a transformação da pedagogia na universidade. Todos nós podemos defender idéias para a educação, mas a questão é saber como as praticamos no nosso dia-a-dia de educadores, e, ainda, como as queremos vir a praticar. Foi o desafio que nos colocamos, esboçando cenários possíveis que expomos a outros olhares, o que nos obriga a uma coragem e modéstia redobradas. (Vieira. It al:2002,pp32-33) O NPU (re)construirá a cultura pedagógica, interrogando-a, modificandoa, tornando-a coletiva, enquanto se reconhecem as diferenças, contradições e o diálogo. Deve a cultura pedagógica levar à construção efetiva da comunidade de ensino e aprendizagem, abolindo, assim, o isolacionismo profissional e levando o educador ao questionamento constante da sua prática. O Núcleo de Pedagogia Universitária da UNOESTE envolverá as seguintes ações: Micro-ensino: Centro de atendimento aos docentes e discentes, relacionado às atividades de ensino, pesquisa e extensão, realizado em ambientes internos ou extra-muros da Universidade, sob uma orientação docente continuada, processual. Ensino e Informação: Compreende o planejamento pedagógico das relações de ensino, aprendizagem e de avaliação constante dessa relação, que acontecem sob orientação docente em ambientes multimídia, com utilização de instrumentos e técnicas do mundo da informática, gerando o desenvolvimento de novas formas didáticas. Pesquisa Docente: Trata da reflexão crítica sobre os resultados de aprendizagem do ensino, através da própria pesquisa do docente. 6 Capacitação Continuada: Trata da capacitação continuada, para a ocupação da função gestor/docente; da atualização destes profissionais em novas tecnologias e novos saberes pedagógicos; e da sua estimulação para uma maior participação dos discentes em projetos de pesquisa e ações extensionistas. Centro de Memória: Trata da criação de um centro de documentação da memória pedagógica local e regional, contribuindo para sua preservação e análise crítica. Análise do desempenho do ensino e dos seus efeitos na aprendizagem: Trata de, anualmente, verificar estatísticas de repetência, desistência, evasão e seus motivos, bem como, do registro de práticas docentes didáticas inovadoras, de resultados positivos confirmados na avaliação da aprendizagem. Encontros Encontro Anual de Ensino (ENAENS) realizado em conjunto com o Encontro Anual de Pesquisa e Iniciação Científica (ENAPI) e Encontro Anual de extensão (ENAEXT) Fórum de Ensino FÓRUM DE ENSINO – propicia a abertura de um canal de diálogo com os docentes e pesquisadores de ensino da graduação e pós-graduação, constituindo um espaço pedagógico para trocas de experiências presenciais e virtuais. Site de informações Criação de um site de informações e links sobre docência; de publicação e socialização de resultados de pesquisas docentes e discentes e de ações extensionistas; e de elaboração de material didático que sirva de suporte ao trabalho docente. Trata-se de um centro virtual de documentos, informações e links relevantes aos docentes em suas tarefas profissionais. 7 O Núcleo Pedagógico terá Coordenação em nível institucional e um docente responsável por cada setor, compondo o Colegiado do NPU para sua administração. Referências Bibliográficas Schön, D. (1987) Educating the reflective practitioner. San Francisco: Jossey-Bass Publishers. Shore, B., Pinker, S. & Bates, M. (1990) Research as a model for university teaching. Higher Education, vol.19, pp. 21-35. Shulman, L. (2000) From Minsk to Pinsk: why a scholarship of teaching and learning?. Journal of Scholarship of Teaching and Learning (JoSoTL), vol.1, nº 1, pp. 48-53 http://www.carnegiefoundation.org/eLibrary/docs. Vieira, F., Gomes, A., Gomes, C., Silva, J.L., Moreira, M.A., Melo, M.C. & Albuquerque, P.B. (2002) Concepções de pedagogia universitária - um estudo na Universidade do Minho. Relatório de Investigação. Braga: Universidade do Minho, CEEP. Vieira, F., Silva, J.L., Melo, M.C., Moreira, M.A., Oliveira, L.R., Gomes, C., Albuquerque, P.B. & Sousa, M. (2004) Transformar a pedagogia na universidade: experiências de investigação do ensino e da aprendizagem. Relatório de Investigação. Braga: Universidade do Minho, CIEd. 21/02/08 8