Cerimónia de lançamento do Acordo de Colaboração entre o Estado Português e a Sociedade Fraunhofer (Fraunhofer Gesellshaft) e de iniciativas de apoio à valorização económica do conhecimento Alfandega, Porto, 18 de Abril de 2007 Intervenção do Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor Senhor Primeiro Ministro, Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Caro amigo Frieder Meyer Krahmer, Secretário de Estado para a Educação e Investigação do Governo Alemão, Caros dirigentes e amigos da Sociedade Fraunhofer, Caros colegas, minhas senhoras e meus senhores, Damos hoje mais um passo importante na concretização do Compromisso com a Ciência apresentado pelo Governo em Março de 2006 e na prioridade dada ao rápido desenvolvimento científico e tecnológico do País. Lançamos um novo ambiente de cooperação na Europa para o desenvolvimento de uma agenda multidisciplinar entre centros de investigação e empresas, e reforçamos a relevância das actividades de valorização económica de ciência e tecnologia e a necessidade de conjugar de forma articulada a capacidade de empreender com o desenvolvimento científico, nomeadamente através de um novo programa de apoio ao registo internacional de patentes e actividades associadas de investigação aplicada, licenciamento e demonstração de tecnologias. Permitam-me que refira três aspectos principais sobre estas iniciativas que hoje lançamos e que vêm mais uma vez clarificar a nossa prioridade nas pessoas, no conhecimento e nas ideias. Primeiro, lançamos uma nova parceria internacional de forma a estimular a colaboração de instituições públicas e privadas de I&D e de empresas portuguesas na maior rede europeia de laboratórios de investigação aplicada, a Sociedade Fraunhofer. Estimulamos assim o lançamento e a promoção de redes temáticas de ciência e tecnologia de âmbito europeu em áreas que incluem a logística, a produção industrial e o desenvolvimento de novos produtos na indústria automóvel e aeronáutica, a biotecnologia e a nanotecnologia, as quais são hoje vitais para o desenvolvimento económico que todos ambicionamos. Referimo-nos a redes de conhecimento de âmbito europeu para a solução de problemas concretos, que reúnem investigadores e centros e unidades de investigação em estreita colaboração com empresas e outras instituições cientificas, públicas e/ou privadas, de uma forma que é estruturante para reforçar a capacidade científica nacional e criar massas criticas que facilitam a afirmação internacional de Portugal, assim como a valorização económica do conhecimento gerado nas instituições portuguesas. 1 Segundo, e ainda neste contexto, mas de forma inédita na Europa, lançamos em estreita colaboração com a Sociedade Fraunhofer a bases para o estabelecimento em Portugal do primeiro Instituto Fraunhofer na Europa fora da Alemanha. Um projecto ambicioso, que consagramos em torno da área das “tecnologias de informação e comunicação”, e em particular de formas inovadoras de acesso ubíquo a essas tecnologias, promovendo a investigação e o desenvolvimento tecnológico em temas que são hoje críticos para o desenvolvimento da economia do conhecimento que emerge. Estas opções respondem ainda às prioridades inscritas na iniciativa “Ligar Portugal”, desenvolvida no âmbito do Plano tecnológico do Governo, no que respeita à promoção da sociedade de informação em Portugal através de novas tecnologias, serviços e aplicações. A escolha da área de trabalho para o novo instituto, centrada nas tecnologias da informação e da comunicação, mas convocando ainda as ciências sociais e ciências de computação, ambiciona renovar fronteiras tradicionais do desenvolvimento tecnológico que hoje são críticas para garantir a massificação da sociedade de informação. Não se trata pois apenas de criar um novo Instituto Fraunhofer em Portugal, desafio já por si de enorme exigência. Tratase verdadeiramente de construir um novo centro verdadeiramente inovador a nível internacional com a ambição de realmente desenvolver serviços e aplicações para o combate ao digital divide que hoje nos continua a afrontar. Referimo-nos também a um novo instituto que ambicionamos contribuir para abrir as fronteiras da Sociedade Fraunhofer a novos problemas e também aos países de língua portuguesa em África e na América do Sul, aonde a iliteracia digital é hoje também um forte inibidor do desenvolvimento social e económico. Permitam-me que nesta altura refira uma palavra de especial apreço por todos quantos trabalharam nestes últimos meses para que esta parceria com a Sociedade Fraunhofer fosse possível. Aos investigadores e responsáveis nas instituições portuguesas e nos Institutos Fraunhofer na Alemanha e, sobretudo, ao Professor José Luis Encarnação, personalidade invulgar cuja energia, visão e reconhecimento internacional simbolizam bem a inteligência da concepção do novo instituto. Para Ele é devido todo o nosso aplauso e reconhecimento. A ambição que ambos partilhamos é a de inserir activamente Portugal nas redes de referência de laboratórios de investigação aplicada da Europa, assim como de instalar em Portugal um verdadeiro agente de inovação à escala internacional. Mas ao concentrar a sessão de hoje na investigação aplicada e na valorização do conhecimento científico, é ainda importante referir que este assunto tem mobilizado de forma considerável a comunidade científica e tecnológica nacional nos últimos anos. Foi por esta razão que escolhemos esta oportunidade para apresentar cerca de 100 projectos empresariais de base tecnológica aprovados durante os últimos anos através da Agencia de Inovação, os quais cobrem uma gama alargada de áreas científicas e tecnológicas. Todos estes projectos empresariais incluem alguns aspectos comuns. Em particular, referem-se a aplicações de âmbito industrial tendo por base 2 conhecimento científico que foi desenvolvido em contextos e com financiamentos totalmente diferentes daqueles normalmente usados nos sectores de aplicação. Adicionalmente, na maioria dos casos, a comercialização dos tecnologias consideradas verifica-se pelo menos 3 a 5 anos após o início da actividade de investigação, a qual foi inicialmente orientada para objectivos completamente diferentes daqueles que tem orientado o processo de comercialização actualmente em curso. Por ultimo, todos eles dependeram do processo de formação avançada de vários jovens, todos eles com formação inicial em áreas científicas e/ou tecnológicas. Recorrendo às teorias endógenas de crescimento económico, a análise de muitos destes projetos empresariais mostra que inovação depende, portanto, da acumulação de conhecimento, desde avanços científicos no domínio da ciência fundamental, a soluções técnicas para responder a requisitos muito específicos. Por vezes, estes requisitos levantam problemas que deixam de ser técnicos, e passam a colocar desafios científicos fundamentais, pelo que se a ciência alimenta a inovação, esta também alimenta a ciência. É por este facto que os mecanismos de desenvolvimento social e económico que temos de privilegiar passam por conjugar de forma articulada a capacidade de empreender com o desenvolvimento científico, devendo o papel do Estado ser centrado no desenvolvimento de competências, de uma forma que beneficie um ambiente propício à experimentação ao longo de todos os níveis do desenvolvimento individual e colectivo, e na facilitação dos recursos necessários a esse processo. Este aspecto leva-me ao terceiro aspecto sobre as iniciativas que hoje lançamos e que diz respeito a um programa de Programa de Valorização Internacional do Conhecimento Científico e Tecnológico, que denominamos de CiênciaValor, e que tem por objectivo reforçar os meios de apoio público ao registo internacional de patentes, estendendo-os e integrando-os com incentivos à I&D empresarial em cooperação com os organismos de I&D e ao licenciamento de tecnologias, assim como à criação de novas empresas de base tecnológica e difusão de resultados através da sua demonstração. Devo notar que o lançamento destas iniciativas ocorre numa altura de particular crescimento da produtividade científica nacional, tendo a produção científica nacional aumentado de 15% entre 2005 e 2006, quando medida em termos do número de publicações científicas referenciadas internacionalmente. Acentua-se ainda em várias frentes um progresso científico evidente, por exemplo, no número de bolseiros de investigação1, assim como no número de novos doutoramentos realizados e reconhecidos anualmente em universidades portuguesas2. De facto, o reforço da capacidade científica tem sido confirmada sistematicamente ao longo dos anos como factor crítico para valorização O qual aumentou de cerca de 5000 em Abril de 2006, para mais de 5800 em Abril deste ano, tendo por referencia os bolseiros financiados directamente pela Fundação para a Ciencia e Tecnologia. 2 O qual aumentou de cerca de 1180 em 2005, para mais de 1250 em 2006. 1 3 tecnológica e, por exemplo, estudos empíricos recentes3 que analisaram os comportamentos de cientistas/académicos que são potenciadores do aparecimento de novos produtos no mercado, como quantificado através do número de patentes, mostram que, normalmente, uma vaga de patentes é precedida por uma vaga de publicações nos anos anteriores ao da submissão da patente. No entanto, nem tudo o que é cientificamente e tecnologicamente possível interessa às pessoas. Para além de ser possível tecnicamente, a inovação exige que haja mercados. Por outras palavras, a inovação exige também esforço, não acontece espontaneamente! Referimo-nos ao esforço de compreender a inércia dos processos de mudança associados a qualquer inovação, e sobretudo ao esforço continuado de promoção de uma sociedade cientificamente culta. Lembrando Almada Negreiros4, “a ciência, que não tem outro conhecimento que o das suas experiências, necessita de um espaço de tempo de que cada um não dispõe”. Esse tempo está hoje com certeza alargado à necessidade de compreender a inovação, exigindo portanto a necessidade de evoluir do capital humano, que corresponde à agregação da capacidade individual para acumular conhecimento, para uma capacidade colectiva de aprendizagem. É também por estas razões que desenhámos a parceria com a Sociedade Fraunhofer com a ambição de fazer de Portugal um lugar de referência na Europa, disponibilizando um ambiente favorável à dinamização de novas redes e parcerias com impacto no tecido social e económico, e nas empresas em particular. Muito obrigado pela V/ atenção, Manuel Heitor Porto, 18 de Abril de 2007 3 P. Azoulay, W. Ding & T. Stuart (2005), “The determinants of faculty patenting behavior: demographics or opportunities?”, NBER, Working Paper 11348, http://www.nber.org/papers/w11348, May 2005 4 Como referido por Gago, J.M. (1990), “Manifesto para a Ciência em Portugal”, Gradiva. 4