WILSON, Edward
O. O futuro da
vida: um estudo
da biosfera para
a proteção de todas as espécies, inclusive a humana. Rio
de Janeiro: Campus,
2002. 242 p.
Ganhador do Prêmio
Pulitzer, Edward Wilson
apresenta agora uma obra importantíssima
para quem ainda se preocupa com o futuro da
vida sobre o planeta. Ainda que apresente permanentemente uma posição conservadora, O
Futuro da Vida nos traz, ao mesmo tempo, informações relevantes sobre os impactos que
estamos causando à biodiversidade e reflexões
de fundo sobre nosso modo de vida e as conseqüentes externalidades causadas pelo nosso
estilo de desenvolvimento. Entre os destaques,
poderíamos citar o "diálogo" entre o economista e o ambientalista, uma montagem de dados
e discursos correntes em nosso meio (e no dele,
nos USA), sustentado por diferentes visões de
mundo e diferentes pontos de vista sobre o futuro. Como ele afirma, os economistas "sabem
que a humanidade está destruindo a biodiversidade, simplesmente não gostam de passar
muito tempo pensando sobre o assunto". Deste "diálogo", o autor conclui que o grande "dilema do ambientalismo" é resultado da falta de
aproximação e acordo entre "dois sistemas de
valores": o conflito entre valores de curto prazo
e de longo prazo. Encontrar o meio termo sobre o agora e o futuro que queremos seria fundamental para que se possa "passar pelo gargalo em que nossa espécie imprudentemente
se meteu".
A exterminação de espécies, o impacto dos
processos de colonização e a ocupação humana dos espaços são abordados de uma maneira singela e compreensível, ao mesmo tempo
em que o autor relaciona estas questões com
aspectos da macroeconomia, para mostrar que
o crescimento ilimitado é impossível, pois jamais
conseguiremos substituir os serviços ofertados
pela natureza por recursos artificiais. Assim
mesmo, desde uma posição conservadora, o
autor destaca os riscos dos cultivos e produtos
transgênicos. Ainda que veja na engenharia
genética uma arma para o que chama de "revolução verde sustentável", Wilson destaca a
necessidade de adotar-se o princípio da precaução.
Trata-se, pois, de um livro que pode ajudar
os iniciantes nos temas ambientais a familiarizar-se com um conjunto de aspectos que estão
em jogo neste século XXI e que serão decisivos
para o futuro da humanidade, inclusive o potencial para a vida que a natureza ainda nos
oferece, pela biodiversidade que nós ainda não
conseguimos destruir com a "avalanche do capitalismo baseado na tecnologia" que só será enfrentada a partir de uma "ética ambiental a longo prazo e que conte com o apoio da maioria".
Resenha elaborada pelo Engenheiro
Agrônomo Francisco Roberto Caporal,
Diretor Técnico da EMATER/RS. E-mail:
[email protected]
FURTADO, Celso. Introdução ao desenvolvimento:
enfoque históricoestrutural, 3ª ed. revista pelo autor, Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 126 p.
Nascido na Paraíba em 1920, o autor
apresenta uma marcante
trajetória de vida - publicando várias obras
e ocupando importantes cargos públicos - e
continua mantendo a chama de suas idéias
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e sugestões que sempre estimularam o debate. Na obra em questão, Celso Furtado
procura ir além da visão da economia, para
realizar uma análise multidisciplinar, com o
foco na história e na filosofia, contribuindo
dessa forma com a temática do desenvolvimento, fortemente presente em nossa realidade local. Incorpora na análise razões que
possam ter levado os países do Terceiro Mundo a adotar modelo de desenvolvimento que
se mantém sob a tutela tecnológica e financeira dos países centrais, cujas regras provavelmente tenham que ser urgentemente
rediscutidas. No decorrer da obra, é possível identificar nos diversos momentos históricos os beneficiários de determinada decisão, que puderam incorporar excedentes, e
aqueles que sempre operam à margem dos
processos, dificilmente decidindo algo. A partir desses cenários, trabalha os limitados caminhos que restam dentro deste complexo
contexto macroeconômico.
Através desta obra, o autor deixa vários
questionamentos e interrogações para os leitores: por que certas sociedades apresentam
em determinados períodos de sua história tão
grande capacidade de inovação, como ocorreu na Grécia de Péricles? Por que outras favorecem em dado momento a invenção de técnicas em detrimento da criação de valores,
como aconteceu na Inglaterra da Revolução
Industrial? Será que o avanço tecnológico reprime a criação dos valores substantivos que
são a conquista maior do espírito humano?
Pode haver desenvolvimento sem criatividade
própria? A globalização agrava este processo? Este ambiente provocativo ilustra a riqueza da obra, que se encontra na terceira edição, toda revista pelo autor e com abordagens
bem atuais sobre o assunto.
O debate se estende também à compreensão das relações internas dos países desenvolvidos e às respectivas implicações sobre
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suas condutas, distintas dos países subdesenvolvidos, os quais operam às margens das grandes decisões, tornando-se periféricos. Essa análise é imprescindível em um período de
globalização, quando surgem novas formas de
apreender a realidade social. Tudo visto dentro
de um contexto histórico, jamais estanque ao
momento presente. A partir desta realidade
dicotômica, estabelece-se uma relação de poder que é bem distinta em cada realidade, e a
respectiva submissão nacional geralmente se reproduz nas relações internas. Em épocas distintas, alguns setores podem ser beneficiados com
as posições dos países desenvolvidos e acumular poder, como também podem ficar à margem.
O desenvolvimento ainda é analisado sob o prisma das estruturas agrárias e das possibilidades
de formação de excedentes. Além disso, a obra
conta com uma análise do progresso técnico,
considerado fruto da criatividade humana, que
nos últimos dois séculos vem sendo canalizada
especialmente para a inovação técnica.
Em síntese, o livro fornece elementos que podem contribuir na compreensão do contexto
dos últimos dois séculos e meio, com ênfase na
análise do presente, momento em que as empresas globais possuem sede em países desenvolvidos e procuram elevar a apropriação de
seus excedentes através da atuação em países
periféricos. Nesses, buscam encontrar mão-deobra mais barata, menos impostos, mais incentivos, menos restrições quanto a poluição e, não
raras vezes, seus excedentes são obtidos com
a devastação dos recursos naturais. A obra é
de fácil leitura e recomendada para todos que
trabalham com a questão do desenvolvimento,
principalmente com os limites de um desenvolvimento endógeno.
Resenha elaborada pelo Engenheiro Agrônomo da EMATER/RS Ivar José Kreutz,
mestrando em Agroecossistemas - UFSC.
E-mail: [email protected]
CAPRA, Fritjof. O
ponto de mutação: a ciência, a
sociedade e a cultura emergente. São
Paulo: Cultrix, 1982.
"Acredito que a visão
de mundo sugerida pela
física moderna seja incompatível com a nossa sociedade atual, a qual não
reflete o harmonioso estado de inter-relacionamento que observamos na natureza. Para
se alcançar tal equilíbrio dinâmico, será necessário uma estrutura social e econômica radicalmente diferente: uma revolução cultural na
verdadeira acepção da palavra. A sobrevivência de toda a nossa civilização pode depender
de sermos ou não capazes de realizar tal mudança". Fritjof Capra.
O livro do físico, cientista, ambientalista e
educador Fritjof Capra explora as mudanças
de paradigma que acompanharam as descobertas científicas. Em sua primeira parte, descreve o desenvolvimento histórico da visão
cartesiana do mundo e a drástica mudança de
conceitos básicos que ocorreu na física moderna, enfatizando principalmente as limitações da
visão de mundo cartesiana e como isto está
afetando a nossa saúde individual e social. Segundo ele, desde o século XVII, a física tem sido
o exemplo brilhante da ciência exata e os físicos utilizaram uma visão mecanicista do mundo para desenvolver e refinar a estrutura
conceptual do que é conhecido como física clássica. Suas idéias foram baseadas em duas figuras gigantescas do século XVII: Descartes e
Newton, que trataram o mundo como uma
grande máquina. Esse quadro mecânico tornou-se o paradigma dominante da ciência. A
teoria de Descartes foi estendida até os orga-
nismos vivos, considerando o corpo humano
como uma máquina, um relógio, comparando
um homem doente a um relógio mal fabricado. Cientistas, sociólogos, psicólogos e economistas passaram a tratar os organismos vivos
como máquinas e a ignorar outros fatores, os
quais poderiam contribuir para evitar o
desequilíbrio cultural e social em que nos encontramos hoje.
O autor, professor da Universidade da
Califórnia (Berkeley) e fundador do Center for
Ecoliteracy (instituição que forma profissionais
para ensinar ecologia nas escolas), cita três
grandes acontecimentos como o passo inicial
para uma transformação no nosso sistema
social: a) o declínio do patriarcado, pois o
movimento feminista é uma das mais fortes
correntes culturais de nosso tempo e terá um
papel importante na evolução social e cultural
futura; b) o declínio da era dos combustíveis
fósseis, que estariam esgotados por volta de
2003 (estaríamos experimentando um processo de transição da era do combustível fóssil
para a era solar); c) mudança de paradigma,
uma mudança profunda nos valores e percepções. Ademais, nos remete a uma reflexão de
que a crise energética, a crise na assistência à
saúde, as altas taxas de desemprego e os desastres ambientais que estão ocorrendo são
decorrentes de uma só crise: a "crise de percepção". Estamos tentando aplicar os conceitos de uma visão de mundo obsoleta - a visão
de mundo mecanicista da ciência cartesiananewtoniana - a uma realidade que já não pode
ser entendida em função destes conceitos. Precisamos de um novo "paradigma".
A proposta de Capra é uma mudança de
paradigmas baseada na transferência da concepção mecanicista para uma visão holística
da realidade, apoiada na consciência do estado de inter-relações e interdependência essencial de todos os fenômenos físicos, biológicos,
psicológicos, sociais e culturais. Aliás, em toda
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a sua obra o autor faz uma crítica fundamental
à mentalidade analítica e fragmentadora da ciência normal, em especial às ciências que tomam
o método analítico da Física Clássica de Newton
como modelo que deve ser seguido para erguer
as demais ao status de ciência perante a comunidade acadêmica. Analisa profundamente a influência do pensamento cartesiano-newtoniano
sobre a biologia, a medicina, a psicologia e a
economia e apresenta suas críticas ao paradigma mecanicista nestas disciplinas. Posteriormente, faz um exame detalhado da nova visão da
realidade, no qual inclui a emergente visão
sistêmica da vida e todas as suas manifestações.
Mostra ainda que a evolução de uma sociedade, inclusive a evolução de seu sistema econômico, está intimamente ligada a mudanças no sistema de valores que serve de base a todas as
suas manifestações. Os valores que inspiram a
vida de uma sociedade determinarão sua visão
de mundo. E a concepção sistêmica vê o mundo
em termos de relações e de integração, tornando-se cada vez mais necessária a aplicação de
conceitos sistêmicos aos processos e atividades
econômicas.
No final, Capra deixa bem claro que a sobrevivência humana, ameaçada por várias ações
igualmente humanas e advindas de uma visão
de mundo mecanicista e fragmentada, somente
será possível se formos capazes de mudar radicalmente os métodos e os valores subjacentes à
nossa cultura individualista e materialista atual
e à nossa tecnologia de exploração do meio
ambiente. Esta mudança deverá, logicamente,
refletir-se em atitudes mais orgânicas, holísticas
e fraternas entre os seres humanos e entre estes
e a natureza, em todos os seus aspectos.
Resenha elaborada por Luisa Helena
Schwantz de Siqueira, socióloga da
EMATER/RS, mestranda em Desenvolvimento Rural - UFRGS. E-mail:
[email protected]
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