Meio Ambiente 10 Etanol e o mercado de créditos de carbono por Paulo de Bessa Antunes U m dos temas mais palpitantes na área do chamado ecobusiness (negócios ambientais) são os créditos de carbono que, em linhas gerais, podem ser definidos como títulos representativos da quantidade de carbono abatida nas emissões de uma determinada empresa. São títulos negociáveis como qualquer papel. Eles surgiram no âmbito da Convenção sobre Mudanças Climáticas como uma forma de estabelecer incentivos financeiros para que as empresas reduzam suas emissões de CO2. Os créditos expressos no título são transacionados em mercado, e os seus grandes potenciais adquirentes são empresas que encontrem dificuldades para o abatimento de suas próprias emissões. Neste artigo não cabe uma análise exaustiva dos procedimentos capazes de gerar créditos de carbono, recomendando-se ao leitor que acesse o seguinte sítio da internet: http:// www.mct.gov.br/index.php/ content/view/3881.html. O Brasil, hoje em dia, não tem metas de redução de carbono a alcançar, conforme definido pelo Protocolo de Kyoto, contudo, parece-me muito improvável que a revisão do Protocolo exclua o Brasil das metas, dado o relevante nível de nossa atual emissão de dióxido de carbono. Caso sejamos incluídos nas metas, o mercado tende a se expandir mais ainda. De qualquer forma, o governo federal já deu início à implantação de mecanismos que, em médio prazo, levarão à adoção de metas de redução de emissões. Existe um mercado voluntário de crédito de carbono em Chicago. Durante o ano de 2008, houve valorização de cerca de 28% do preço dos créditos de carbono voluntários (VER – Verified Emission Reductions), em relação ao ano de 2007. O preço médio da tonelada de dióxido de carbono equivalente chegou a US$ 6,30, comparado aos US$ 5,00 em 2007. O mercado voluntário de carbono é formado pelas empresas que não estão submetidas às metas de redução constantes do Protocolo de Kyoto. As negociações feitas com base no Protocolo de Kyoto atingem valores mais elevados, haja vista que as Reduções Certificadas de Emissão (RCEs) aceitas nos termos do Protocolo de Kyoto chegam a obter US$ 26,00 por tonelada de dióxido de carbono equivalente. Intermediário de Crédito de Carbono Certificado Empresas Fonte de Crédito de Carbono A recente valorização do etanol como combustível alternativo à queima de combustíveis fósseis, ao que parece, é coisa que veio para ficar. O Presidente Barack Obama enviou recentemente para o congresso americano uma proposta de lei que promoverá uma mudança radical no que se refere à emissão de carbono dos Estados Unidos, propondo uma redução de emissões de 17% até 2020. O pacote oferece também incentivos para a geração eficiente de energia e o desenvolvimento de novas tecnologias de energia limpa. O cumprimento dessas promessas de campanha acelerará os esforços internacionais para chegar a um consenso sobre o aquecimento global. Obama, discursando na Casa Branca, explicou que essa aprovação poderá gerar milhares de empregos ambientalmente corretos, além de ajudar a fixar as bases para estabilizar a economia. Porém um item importante da proposta inclui as recompensas que os fazen- deiros receberão por práticas que reduzam as emissões de Carbono e o estabelecimento de um período de 4 anos para reduzir os subsídios ao etanol de milho e encorajar, como resultado, o desenvolvimento de biocombustíveis não relacionados a alimentos. Ora, como a cana de açúcar é um fixador de carbono, haja vista que o seu crescimento retira moléculas de carbono da atmosfera, os projetos que a envolvem são elegíveis para a obtenção de créditos de carbono decorrentes da Convenção Climática internacional. Assim, parece-me evidente que a plantação de cana de açúcar com a finalidade de produzir etanol é, em princípio, benéfica em vários sentidos. Em primeiro lugar, (i) o etanol como combustível é muito mais amigável para com o meio ambiente do que os combustíveis fósseis; (ii) existe uma forte tendência à ampliação de seu mercado internacionalmente – em termos de mercado brasileiro, o consumo de etanol já é equivalente ao da gasolina, com possibilidade de superá-lo em pouco tempo; (iii) o produtor de etanol pode se habilitar aos créditos de carbono, auferindo uma rentabilidade extra. Porém, nem tudo são flores. O mercado de combustíveis é muito competitivo e qualquer vacilo pode ser fatal para os produtores de etanol. Em primeiro lugar, não se deve desconsiderar que existe uma pressão muito forte para que o etanol não seja originário de áreas submetidas ao corte ilegal de madeira, como por exemplo, a Amazônia (inclusive a Amazônia Legal).Também é importante que a produção se faça em bases socialmente justas, isto é, observando-se todos os preceitos da legislação trabalhista vigente no Brasil, especialmente no que tange ao chamado “trabalho infantil”. As fragilidades sociais e ambientais de um determinado produtor, no atual contexto de valorização do meio ambiente e de sua utilização como instrumento de concorrência comercial, podem acarretar sua retirada do mercado. Portanto, é fundamental que os plantadores de cana-de-açúcar e as usinas procurem ajustar os seus procedimentos e métodos à nova situação de responsabilidade sócio-ambiental que, definitivamente, veio para ficar. É importante observar que há um crescimento significativo da presença do álcool na nossa matriz energética, conforme indicado no Balanço Energético Nacional (BEN do ano 2007), que passou de 14,5% para 16%. Assim, independentemente dos créditos de carbono, o mercado interno tende a crescer, sendo estimado um consumo de cerca de 25 bilhões de litros de etanol em 2011. Certamente, todo esse crescimento virá acompanhado de pressões ambientais mais e mais complexas, cabendo ao setor demonstrar capacidade de lidar com elas e de ampliar o seu nível de comprometimento com a responsabilidade socioambiental que, hoje, é um importante componente do negócio. Paulo de Bessa Antunes Doutor em Direito pela UERJ e Membro do Ministério Público Federal do RJ Jun | Jul ecoenergia 11