Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Foi realizado experimento o qual é descrito no Capítulo nove deste trabalho. O experimento teve como objetivo verificar o nível de desconforto entre homens e mulheres em relação às bicicletas dos tipos Tradicional e Aerodinâmico, as quais chamamos 1A, 1B e 1C (Figuras 10.1, 10.2 e 10.3), quando nos referimos às bicicletas tradicionais, e 2A, 2B e 2C (Figuras 10.4, 10.5 e 10.6), quando nos referimos às bicicletas aerodinâmicas. Variaram-se a postura do tronco e a altura do selim criando, dessa forma, seis situações diferentes para que fossem avaliados os níveis de desconforto em 28 regiões do corpo. Para isso, foram medidos os tempos pedalados, a velocidade, a distância percorrida e os batimentos cardíacos, e, ao final de cada sessão, foi solicitado aos participantes que respondessem a escala de avaliação de desconforto/dor corporal para detectarmos os níveis de desconforto/dor nas várias regiões do corpo e, de posse destes resultados, indicar qual o tipo de bicicleta mais confortável do ponto de vista postural, se a postura tradicional, com o tronco ereto, ou se a postura aerodinâmica, com o tronco flexionado; e, do ponto de vista dimensional no que diz respeito à altura do selim. Figura 10.1 – Bicicleta 1A Suzi Mariño Pequini Figura 10.2 – Bicicleta 1B FAU-USP/2005 Figura 10.3 – Bicicleta 1C 10.1 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.4 – Bicicleta 2A Figura 10.5 – Bicicleta 2B Figura 10.6 – Bicicleta 2C Os resultados foram analisados em três etapas. Na primeira etapa, foram comparados os níveis de desconforto dos indivíduos do sexo masculino, feminino e de ambos em relação às bicicletas analisadas, foi utilizada a técnica estatística chamada Análise Exploratória de Dados – parte da estatística descritiva que consiste na coleta, organização e exploração dos dados para descobrir ou identificar os aspectos ou padrões de maior interesse, gerando conclusões em que a incerteza e as variabilidades estão presentes. A análise exploratória foi realizada nos resultados obtidos da aplicação, ao final de cada sessão, da Escala de níveis de desconforto adaptada de Corllet e Wilson (1986:326) (Apêndice A), como mencionado anteriormente, pois um dos principais critérios para avaliar a ergonomia de um produto é utilizar uma escala de avaliação de desconforto/dor a partir da opinião do usuário. Esta escala é considerada importante e válida e freqüentemente a avaliação de desconforto/dor é aplicada junto com um mapa das regiões corporais (Figura 10.7). Este é um método onde o desconforto/dor percebido durante a utilização de um produto é atribuído às regiões corporais. É solicitado que o indivíduo avaliado mencione as regiões desconfortáveis/doloridas começando pela pior, e assim por diante, até que todas as regiões sejam mencionadas. Depois é solicitado que ele faça uma avaliação do desconforto geral, qual o maior incômodo, ou mencione uma região mais desconfortável/dolorida em particular. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.2 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Usam-se cinco ou sete pontos de uma escala que são classificados em ordem crescente de níveis de desconforto/dor, começando por ‘nenhum desconforto/dor’, até chegar a ‘insuportável desconforto/dor’. Segundo Eklund (1986:325), este método de avaliar desconforto postural foi apresentado por Corlett e Bishop em 1976 e tem sido usado, desde então, com eficiência. Na segunda etapa foi realizada análise estatística dos tempos médios de pedalada dos ciclistas, ou seja, o tempo que eles permaneceriam em cada tipo de bicicleta, pois estes foram orientados a parar quando o nível de desconforto ficasse insuportável, ou não tivesse condições, seja do ponto de vista postural ou dimensional, para pedalar. Figura 10.7 – Mapa das regiões corporais utilizado para avaliação de desconforto/dor. Fonte: Corllet e Wilson (1986:326) Estes valores foram estimados através de um modelo de sobrevivência que associa os tempos percorridos por cada indivíduo aos valores das co-variáveis de ajuste. Os dados coletados no experimento que deram origem as duas primeiras etapas da análise foram tratados estatisticamente por Maristela Dias Oliveira, Mestre em Estatística pelo Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais, Professora do Departamento de Estatística da Universidade Federal da Bahia. Na terceira etapa, analisaram-se os ângulos biomecânicos posturais dos indivíduos nas seis sessões através dos registros fotográficos realizados durantes as sessões, para o qual nos baseamos em observações similares realizadas por Mandal (1985:350) (Figura 10.8). Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.3 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.8 – Observações realizadas para avaliação da flexão na região lombar em funcionários de escritórios. Fonte: Mandal (1985:352). A partir dessas análises, detectamos qual o tipo de bicicleta foi considerado o mais desconfortável e o mais confortável; quem sentiu maior desconforto (o homem ou a mulher) e principalmente em que região do corpo eles sentiram maior desconforto em relação aos tipos de bicicletas analisadas. A conclusão dessas análises permite que o designer projete uma bicicleta que melhore suas qualidades, proporcionando maior conforto e desempenho para os ciclistas, evitando qualquer tipo de danos à sua saúde, assim como este método também serve de modelo para a avaliação de produtos e estações de trabalho, de forma a levantar níveis de desconforto que interfiram na usabilidade de produtos e estações de trabalho que possam diminuir o desempenho dos usuários e causar danos à saúde. Assim, obtivemos os resultados descritos nos próximos itens. 10.1 Análise exploratória dos resultados da escala de avaliação de desconforto/dor Esta pesquisa foi realizada na academia Hangar 45 na Cidade do Salvador-BA. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.4 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA A amostra dessa população foi selecionada partindo de alguns critérios detalhados no Capítulo nove deste trabalho: homens com faixa etária média de 30 anos, peso médio 77 kg e estatura média de 179,7cm, e mulheres com faixa etária média de 33 anos, peso médio 57 kg e estatura média de 162,7cm. Além disso, todos os indivíduos, de ambos os sexos, tinham excelente condicionamento físico e eram praticantes de ciclismo. Foram selecionadas 20 pessoas (10 homens e 10 mulheres) para pedalar cada tipo de bicicleta durante meia hora, avaliando assim o nível de desconforto destes em relação as 28 partes do corpo: 00 pescoço, 01 cervical, 02 dorsal, 03 cintura, 04 lombar, 05 região púbica, 06 ombro esquerdo, 07 ombro direito, 08 braço esquerdo, 09 braço direito, 10 cotovelo esquerdo, 11 cotovelo direito, 12 antebraço esquerdo, 13 antebraço direito, 14 punho esquerdo, 15 punho direito, 16 mão esquerdo, 17 mão direita, 18 coxa esquerda, 19 coxa direita, 20 joelho esquerdo, 21 joelho direito, 22 perna esquerda, 23 perna direita, 24 tornozelo esquerdo, 25 tornozelo direito, 26 pé esquerdo, 27 pé direito (Figura 10.7). Os níveis de desconforto foram classificados em nenhum, algum, moderado, bastante, intolerável e foi utilizada a seguinte pontuação: (01) para nenhum desconforto, (02) para algum desconforto, (03) para moderado desconforto, (04) para bastante desconforto, (05) para intolerável desconforto. a – Bicicleta 1A Podemos observar que a Bicicleta 1A foi bem aceita pela grande maioria dos participantes (Quadro 10.1), já que cerca de 90% destes não sentiram nenhum desconforto em 95% das partes do corpo. É importante ressaltar que o nível de desconforto feminino difere do masculino. Através da análise, notamos que a parte do corpo mais afetada por ambos os sexos, isto é, com pior nível de desconforto, foi a região Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.5 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA púbica, sendo o desconforto masculino maior que o feminino, ou seja, 60% das mulheres não sentiram “nenhum” desconforto contra 30% dos homens. Além disso, dos 70% dos homens que sentiram “algum” desconforto, 50% admitiram “bastante” ou “intolerável” desconforto contra 20% das mulheres. Quadro 10.1 – Bicicleta TIPO 1A: Níveis de Desconforto Geral – Feminino e Masculino Níveis de desconforto/dor Partes do corpo 00pescoço 01cervical 02dorsal 03cintura 04 lombar (1) Nenhum (2) Algum 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 18 (90%) 01 (5%) 01 (5%) 05 região púbica 09 (45%) 01 (5%) 03 (15%) 06 ombro esquerdo 19 (95%) 01 (5%) 07 ombro direito 19 (95%) 01 (5%) 08 braço esquerdo 19 (95%) 01 (5%) 09 braço direito 19 (95%) 01 (5%) 10cotovelo esquerdo 11cotovelo direito 12antebraço esquerdo 13antebraço direito 14punho esquerdo 15punho direito 16mão esquerdo 17mão direito 18 coxa esquerda 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 18 (90%) 02 (10%) 19 coxa direita 18 (90%) 02 (10%) 20 joelho esquerdo 19 (95%) 01 (5%) 21 joelho direito 19 (95%) 01 (5%) 22perna esquerda 23perna direita 24tornozelo esquerdo 25tornozelo direito 26pé esquerdo 27pé direito 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) (3) Moderado (4) Bastante (5) Intolerável 04 (20%) 03 (15%) Em relação às outras partes do corpo, notamos que 10% dos homens sentiram “algum” desconforto nos ombros, na coxa direita e joelhos, e um “moderado” desconforto na lombar (10%) e coxa esquerda (20%). Enquanto isso, apenas 10% das mulheres sentiu “algum” desconforto na lombar e nos braços. Portanto, podemos concluir que o desconforto masculino foi maior que o feminino em relação à Bicicleta 1A. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.6 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Em geral, como já foi dito inicialmente, este tipo de bicicleta agradou à maioria de homens e mulheres. Cerca de 90% ou mais dos participantes não sentiram “nenhum” desconforto em 95% das partes do corpo, com exceção da região púbica, em que a maioria, cerca de 55%, sentiu “algum” (05%), “moderado” (15%), “bastante” (20%) e “intolerável” (15%) desconforto. b – Bicicleta 1B Observamos que, na Bicicleta 1B (Quadro 10.2), a região mais desconfortável (com pior nível) para ambos os sexos foi a região púbica, assim como na Bicicleta 1A, também com maior desconforto masculino (90%) que o feminino (80%). Quadro 10.2 – Bicicleta TIPO 1B: Níveis de Desconforto Geral – Feminino e Masculino Níveis de desconforto/dor Partes do corpo 00pescoço 01cervical 02dorsal 03cintura 04 lombar 05 região púbica 06 ombro esquerdo 07 ombro direito 08 braço esquerdo 09 braço direito 10cotovelo esquerdo 11cotovelo direito 12 antebraço esquerdo 13 antebraço direito 14punho esquerdo 15punho direito 16mão esquerdo 17mão direito 18 coxa esquerda 19 coxa direita 20 joelho esquerdo 21 joelho direito 22 perna esquerda 23 perna direita 24 tornozelo esquerdo 25 tornozelo direito 26 pé esquerdo 27 pé direito Suzi Mariño Pequini (1) Nenhum 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 16 (80%) 03 (15%) 19 (95%) 19 (95%) 16 (80%) 16 (80%) 20 (100%) 20 (100%) 19 (95%) 19 (95%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 20 (100%) 14 (70%) 14 (70%) 12 (60%) 12 (60%) 11 (55%) 11 (55%) 15 (75%) 15 (75%) 09 (45%) 09 (45%) FAU-USP/2005 (2) Algum 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) (3) (4) Bastante (5) Moderado Intolerável 01 (5%) 04 (20%) 05 (25%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 03 (15%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 03 (15%) 03 (15%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 03 (15%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 05 (25%) 05 (25%) 02 (10%) 08 (40%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 03 (15%) 03 (15%) 03 (15%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 03 (15%) 03 (15%) 03 (15%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 10.7 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Percebemos que na região púbica, 50% das mulheres consideraram um desconforto “intolerável”; 20% e 10% delas também sentiram “bastante” e “moderado” desconforto, respectivamente, enquanto 30% dos homens consideraram “intolerável”, “bastante” e “moderado” desconforto, sem contar que o número de pessoas que não sentiram nenhum desconforto nessa região foi mínimo: apenas 10% dos homens contra 20% das mulheres. Outras regiões que podemos destacar também foram os braços, em que 30% dos homens acharam “algum” ou “moderado” desconforto e 10% das mulheres acharam “bastante” desconfortável. Além disso, podemos perceber que muitos reclamaram dos membros inferiores do corpo, como é caso das coxas, para as quais 20% dos homens acharam um “moderado” desconforto e 40% das mulheres consideraram entre “moderado” e “intolerável” desconforto; nos joelhos e pernas, cerca de 60% das mulheres sentiram “moderado”, “bastante” e “intolerável” desconforto, já os homens, 20% e 30% deles sentiram “moderado” e “intolerável” desconforto nos joelhos e nas pernas, respectivamente; nos tornozelos, as mulheres também sentiram mais desconforto (40% de “moderado” à “intolerável”), enquanto, nos os homens, apenas 10% sentiram “algum” desconforto. De todos os membros inferiores, aqueles em que as mulheres sentiram maior desconforto foram os pés (70% sentiram “algum”, “moderado”, “bastante” e “intolerável” desconforto), enquanto para os homens, 40% deles sentiram o mesmo desconforto nos pés. Percebemos, então, que o nível de desconforto para as mulheres foi maior do que para os homens, com exceção da região púbica, em que o incômodo foi maior para os homens. De modo geral, mesmo com tantas diferenças existentes entre níveis de desconforto para homens e mulheres, notamos que, para ambos os sexos, as “regiões” com “pior” desconforto foram os membros inferiores, principalmente os pés e a região púbica. Porém é importante ressaltar que Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.8 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA ainda assim, 50% ou mais dos participantes não tiveram “nenhum” desconforto em 85% das partes do corpo. c – Bicicleta 1C Na Bicicleta 1C (Quadro 10.3), observamos que o nível de desconforto entre homens e mulheres foi menos diversificado se comparado com o experimento em outras bicicletas, com exceção da Bicicleta 1A, porém mantendo sempre a desigualdade de níveis de desconforto entre os sexos. Quadro 10.3 – Bicicleta TIPO 1C: Níveis de Desconforto Geral – Feminino e Masculino Níveis de desconforto/dor (1)Nenhum Partes do corpo 00pescoço 20 (100%) 19 (95%) 01 cervical 02dorsal 20 (100%) 03cintura 20 (100%) 17 (85%) 04 lombar 07 (35%) 05 região púbica 06ombro esquerdo 20 (100%) 07ombro direito 20 (100%) 08braço esquerdo 20 (100%) 09braço direito 20 (100%) 10cotovelo esquerdo 20 (100%) 11 cotovelo direito 20 (100%) 19 (95%) 12 antebraço esquerdo 19 (95%) 13 antebraço direito 14punho esquerdo 20 (100%) 15punho direito 20 (100%) 16mão esquerdo 20 (100%) 17mão direito 20 (100%) 15 (75%) 18 coxa esquerda 15 (75%) 19 coxa direita 15 (75%) 20 joelho esquerdo 15 (75%) 21 joelho direito 18 (90%) 22 perna esquerda 18 (90%) 23 perna direita 19 (95%) 24 tornozelo esquerdo 19 (95%) 25 tornozelo direito 18 (90%) 26 pé esquerdo 18 (90%) 27 pé direito (2)Algum (3)Moderado (4)Bastante (5)Intolerável 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 04 (20%) 01 (5%) 06 (30%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) Inicialmente, podemos notar que a parte do corpo com pior nível de desconforto foi a região púbica, tanto para as mulheres (70%) como para os homens (60%), sendo que 20% delas o acharam “moderado” e “intolerável” Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.9 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA e 30% “bastante” desconfortável; já para os homens, 20% consideraram “moderado”, 30% “bastante” e 10% “intolerável” desconforto. Percebemos também que outra região do corpo cujo nível de desconforto se diversificou bastante foram os membros inferiores. Tanto para os homens quanto para as mulheres, 10% sentiram “algum” e “moderado” desconforto nas coxas; já nos joelhos, 20% deles sentiram “algum” desconforto enquanto 20% delas sentiram “moderado” e 10% sentiram “bastante” desconforto; além disso, 10% dos homens acharam um desconforto “moderado” nas pernas, e, quanto às mulheres, 10% sentiram “algum” desconforto nas pernas, tornozelos e pés. Mesmo com pouca diferença, ainda assim, as mulheres sentiram mais desconforto do que os homens, com exceção da região púbica, pois a intensidade de desconforto foi maior para eles. Em geral esta bicicleta não causou muito incômodo para a maioria dos ciclistas. Observamos que as percentagens de níveis de desconforto, “algum”, “moderado”, “bastante” e “intolerável” nas regiões destacadas acima, foram consideradas pequenas (em torno de 10% a 30%), sem levar em conta a região púbica, em que 65% dos participantes sentiram maior desconforto. d – Bicicleta 2A Na Bicicleta 2A (Quadro 10.4), notamos que os dados apresentam-se bastante heterogêneos, o que nos leva a crer que houve grande divergência de opinião em relação ao nível de desconforto entre homens e mulheres. Para os homens, a região mais desconfortável ou com pior nível de desconforto foi na região púbica, em que 30% deles acharam “bastante” e 20% acharam “intolerável” desconforto e apenas 30% não acharam “nenhum” desconforto. Os membros superiores também foram considerados uma das regiões com maior desconforto. Cerca de 20% dos homens acharam “intolerável” desconforto nas mãos e nos braços e Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.10 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA “moderado” desconforto nos punhos; 10% sentiram “bastante” desconforto no pescoço, cervical e cintura. Quanto às mulheres, estas sentiram ainda mais desconforto do que os homens em relação aos membros superiores: 30% sentiram “moderado” desconforto na cervical, 30% “bastante” desconforto nos ombros e nas mãos, 20% “bastante” desconforto nos braços, cotovelos e punhos e 40% também sentiram “bastante” desconforto nos antebraços; sem contar com a região púbica, onde 40% delas sentiram “bastante” e 10% “intolerável” desconforto. Quadro 10.4 – Bicicleta TIPO 2A: Níveis de Desconforto Geral – Feminino e Masculino Níveis de desconforto/dor (1) Nenhum Partes do corpo 16 (80%) 00 pescoço 13 (65%) 01cervical 18 (90%) 02 dorsal 18 (90%) 03 cintura 17 (85%) 04 lombar 08 (40%) 05 região púbica 14 (70%) 06 ombro esquerdo 14 (70%) 07 ombro direito 11 (55%) 08 braço esquerdo 11 (55%) 09 braço direito 14 (70%) 10 cotovelo esquerdo 14 (70%) 11 cotovelo direito 09 (45%) 12 antebraço esquerdo 09 (45%) 13 antebraço direito 12 (60%) 14 punho esquerdo 12 (60%) 15 punho direito 11 (55%) 16 mão esquerdo 11 (55%) 17 mão direito 17 (85%) 18 coxa esquerda 17 (85%) 19 coxa direita 19 (95%) 20 joelho esquerdo 19 (95%) 21 joelho direito 19 (95%) 22 perna esquerda 19 (95%) 23 perna direita 24tornozelo esquerdo 20 (100%) 25tornozelo direito 20 (100%) 19 (95%) 26 pé esquerdo 19 (95%) 27 pé direito (2) Algum 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) (3) Moderado 04 (20%) (4) Bastante (5) Intolerável 01 (5%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 03 (15%) 03 (15%) 04 (20%) 04 (20%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 07 (35%) 03 (15%) 03 (15%) 03 (15%) 03 (15%) 03 (15%) 03 (15%) 05 (25%) 05 (25%) 03 (15%) 03 (15%) 05 (25%) 05 (25%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) Percebemos, então, que esta bicicleta desagradou mais às mulheres do que aos homens. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.11 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Em geral, podemos concluir que, na Bicicleta 2A, o nível de desconforto para ambos os sexos foi bastante divergente e notamos que, de todas as partes do corpo, as que mais incomodaram a maioria dos participantes foram a região púbica (cerca de 60%) e membros inferiores. Apesar dos divergentes níveis de desconforto conforme citado acima por homens e mulheres, foi comprovado que a maioria deles (55% ou mais) não sentiram nenhum desconforto na maioria (85%) das regiões do corpo. e – Bicicleta 2B Segundo os homens e as mulheres pesquisados, a Bicicleta 2B (Quadro 10.5), apresentou pior nível de desconforto na região púbica. Entre eles, destacamos um desconforto ainda pior para as mulheres (90% delas acharam “bastante” e “intolerável” desconforto) enquanto, para os homens, 80% deles acharam “moderado” e “intolerável” desconforto. Notamos também que houve um certo incômodo nos membros inferiores do corpo para ambos os sexos, na sua maioria, as mulheres. Cerca de 90% delas sentiram “moderado” e 10% “intolerável” desconforto nos pés, contra 20% dos homens que acharam um desconforto “moderado” nesta mesma região; em relação às pernas e joelhos, o maior desconforto também foi para elas: 70% sentiram “algum”, “moderado”, “bastante” e “intolerável” desconforto nas pernas, e 50% sentiram o mesmo nos joelhos. Quanto aos homens, apenas 10% sentiram “intolerável” desconforto nos joelhos e todos eles relataram não ter sentido “nenhum” desconforto nas pernas. Outra região que nos chamou atenção também foi a lombar devido à diferença de desconforto entre os sexos: 70% das mulheres acharam “moderado”, “bastante” e “intolerável” desconforto, contra 20% dos homens que acharam “algum” e “moderado” desconforto. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.12 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Quadro 10.5 – Bicicleta TIPO 2B: Níveis de Desconforto Geral – Feminino e Masculino Níveis de desconforto/dor (1) Nenhum Partes do corpo 17 (85%) 00 pescoço 18 (90%) 01 cervical 18 (90%) 02 dorsal 17 (85%) 03 cintura 11 (55%) 04 lombar 03 (15%) 05 região púbica 17 (85%) 06 ombro esquerdo 17 (85%) 07 ombro direito 13 (65%) 08 braço esquerdo 13 (65%) 09 braço direito 17 (85%) 10 cotovelo esquerdo 17 (85%) 11 cotovelo direito 13 (65%) 12 antebraço esquerdo 13 (65%) 13 antebraço direito 11 (55%) 14 punho esquerdo 11 (55%) 15 punho direito 16 (80%) 16 mão esquerdo 16 (80%) 17 mão direito 13 (65%) 18 coxa esquerda 13 (65%) 19 coxa direita 14 (70%) 20 joelho esquerdo 14 (70%) 21 joelho direito 13 (65%) 22 perna esquerda 13 (65%) 23 perna direita 17 (85%) 24 tornozelo esquerdo 17 (85%) 25 tornozelo direito 08 (40%) 26 pé esquerdo 11 (55%) 27 pé direito (2) Algum 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) (3) (4) Bastante Moderado 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 03 (15%) 01 (5%) 04 (20%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 03 (15%) 01 (5%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 04 (20%) 02 (10%) 04 (20%) 03 (15%) 04 (20%) 03 (15%) 04 (20%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 03 (15%) 02 (10%) 03 (15%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 02 (10%) 01 (5%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 09 (45%) 02 (10%) 03 (15%) (5) Intolerável 01 (5%) 04 (20%) 12 (60%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 03 (15%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) Enfim, percebemos que este tipo de bicicleta foi mais desconfortável para as mulheres do que para os homens. Em geral, tanto para os homens quanto para as mulheres, a região do corpo, cujo nível de desconforto apresentou-se mais intenso foi a região púbica, isto é, 85% deles consideraram “moderado”, “bastante” e “intolerável” desconforto; destes, 60% sentiram intolerável desconforto. Além disso, uma boa parte dos ciclistas sentiu alguns incômodos nos membros inferiores do corpo, como é o caso dos pés, em que 60% e 45% sentiram “algum”, “bastante” e até mesmo um “intolerável” desconforto no pé direito e no pé esquerdo, respectivamente. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.13 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Mas, assim como em todas as outras bicicletas, a maioria (55% ou mais) dos entrevistados não sentiu nenhum desconforto na maior parte (cerca de 93%) das regiões do seu corpo. f – Bicicleta 2C Podemos notar que, na Bicicleta 2C (Quadro 10.6), o nível de desconforto entre homens e mulheres apresentou-se bastante diferenciado e diversificado, o que nos leva a fazer uma análise ainda mais cuidadosa. Quadro 10.6 – Bicicleta TIPO 2C: Níveis de Desconforto Geral – Feminino e Masculino Níveis de desconforto/dor (1) Nenhum Partes do corpo 17 (85%) 00 pescoço 13 (65%) 01 cervical 18 (90%) 02 dorsal 18 (90%) 03 cintura 16 (80%) 04 lombar 06 (30%) 05 região púbica 10 (50%) 06 ombro esquerdo 10 (50%) 07 ombro direito 12 (60%) 08 braço esquerdo 12 (60%) 09 braço direito 17 (85%) 10 cotovelo esquerdo 17 (85%) 11 cotovelo direito 11 (55%) 12 antebraço esquerdo 11 (55%) 13 antebraço direito 11 (55%) 14 punho esquerdo 11 (55%) 15 punho direito 13 (65%) 16 mão esquerdo 13 (65%) 17 mão direito 08 (40%) 18 coxa esquerda 08 (40%) 19 coxa direita 15 (75%) 20 joelho esquerdo 15 (75%) 21 joelho direito 15 (75%) 22 perna esquerda 15 (75%) 23 perna direita 17 (85%) 24 tornozelo esquerdo 17 (85%) 25 tornozelo direito 17 (85%) 26 pé esquerdo 17 (85%) 27 pé direito (2) Algum 01 (5%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 03 (15%) 03 (15%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 05 (25%) 05 (25%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) (3) Moderado 01 (5%) 03 (15%) 02 (10%) 02 (10%) 03 (15%) 03 (15%) 03 (15%) 04 (20%) 04 (20%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 04 (20%) 04 (20%) 03 (15%) 03 (15%) 05 (25%) 05 (25%) 03 (15%) 03 (15%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) (4) Bastante (5) Intolerável 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 05 (25%) 03 (15%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 04 (20%) 04 (20%) 02 (10%) 02 (10%) 03 (15%) 03 (15%) 02 (10%) 02 (10%) 03 (15%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 05 (25%) 03 (15%) 03 (15%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 02 (10%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 01 (5%) 02 (10%) 02 (10%) Assim como as outras bicicletas, nesta, percebemos que a parte do corpo com pior nível de desconforto também está concentrada na região púbica. Notamos que 70% dos homens e mulheres sentiram “algum”, “moderado”, Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.14 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA “bastante” e, até mesmo, “intolerável” desconforto nesta região. No entanto, as mulheres sentiram ainda mais desconforto do que os homens, já que 60% delas e 40% deles sentiram “bastante” e “intolerável” desconforto. O que nos chamou mais atenção nesta bicicleta foi que tanto os membros superiores como os membros inferiores do corpo foram considerados desconfortáveis em todos os níveis por uma quantidade significante de indivíduos de ambos os sexos. Podemos destacar, por exemplo, que 30% dos homens acharam “intolerável” desconforto nos ombros enquanto 30% das mulheres sentiram “algum” ou “moderado” desconforto nesta mesma região; 10% deles também sentiram desconforto “intolerável” nos braços, antebraços, punhos, mãos e joelhos; quanto às mulheres, 10% delas também sentiram “intolerável” desconforto na cervical, antebraços e punhos. Considerando a percentagem de homens e mulheres que não sentiram nenhum desconforto nas regiões do corpo e intensidade desses níveis, podemos concluir que esta bicicleta apresentou pior nível de desconforto para eles, pois 50% ou mais não sentiram nenhum desconforto em 65% das partes do seu corpo, enquanto 50% ou mais das mulheres não sentiram nenhum desconforto em 95% das regiões do seu corpo. Em geral, o nível de desconforto apresenta-se bastante heterogêneo, não comparando apenas os sexos, mas também individualmente. Também, nessa bicicleta, a região do corpo com pior nível de desconforto para a maioria (cerca de 70%) foi a região púbica. Destes 50% registraram “bastante” (25%) e “intolerável” (25%) desconforto. É importante ressaltar que, mesmo com a grande disparidade em relação aos níveis de desconforto entre os indivíduos de ambos os sexos, a maioria deles (acima de 50%) não sentiu nenhum desconforto em 85% das regiões do corpo. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.15 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Portanto, conclui-se o seguinte: Em todas as bicicletas analisadas (1A, 1B, 1C, 2A, 2B e 2C), os níveis de desconforto – nenhum, algum, moderado, bastante e intolerável – variaram bastante, algumas mais (como a 2B e a 2C), outras menos. Mas a disparidade desses níveis em relação aos sexos dos indivíduos manteve-se presente em todos os tipos de bicicletas. Após pedalarem por alguns minutos e avaliar os níveis de desconforto das bicicletas, a maioria dos entrevistados, de ambos os sexos, achou que a parte do corpo cujo nível de desconforto apresentou-se mais intenso, foi a região púbica onde os dados mostram os seguintes resultados (Figura 10.9). • Bicicleta 1A: 55% sentiram “algum”, “moderado”, “bastante” e “intolerável” desconforto, dos quais 15% consideraram intolerável desconforto; • Bicicleta 1B: 85% sentiram “moderado” “bastante” e “intolerável” desconforto. Destes, 25% e 40% sentiram bastante e intolerável desconforto, respectivamente. • Bicicleta 1C: 65% sentiram “moderado”, “bastante” e “intolerável” desconforto, dos quais 15% sentiram “intolerável” desconforto; • Bicicleta 2A: 60% sentiram “moderado”, “bastante” e “intolerável” desconforto, destes15% sentiram um desconforto intolerável; • Bicicleta 2B: 85% sentiram “moderado”, “bastante” e “intolerável” desconforto. Destes, 60% sentiram “intolerável” desconforto; • Bicicleta 2C: 70% sentiram “algum”, “moderado”, “bastante” e “intolerável” desconforto, dos quais 25% consideraram “bastante” e 25% “intolerável”. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.16 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Percentagem de homens e mulheres que sentiram desconforto intolerável em relação aos seis tipos de bicicletas 70% 60% 60% 50% 40% 40% 30% 20% 25% 15% 15% 15% 1C 2A 10% 0% 1A 1B 2B 2C Tipos de bicicletas Figura 10.9 – Gráfico de percentagem de homens e mulheres que sentiram desconforto intolerável em relação aos seis tipos de bicicleta.. Analisando a intensidade de desconforto na região púbica entre os indivíduos do sexo masculino e feminino, em relação a todos os tipos de bicicletas, podemos concluir que a Bicicleta 2B foi a que apresentou maior intensidade, já que cerca de 60% dos entrevistados sentiram “intolerável” desconforto nesta região. Notamos que as Bicicletas 2B e 2C foram as que apresentaram piores níveis de desconforto em relação a todas as regiões do corpo analisadas. Se levarmos em conta a “ausência” de desconforto, podemos perceber que a percentagem média das duas é bem parecida: 67,86% para Bicicleta 2C e 69,82% para a Bicicleta 2B; em relação ao nível “bastante desconfortável”, a média percentual delas também é muito próxima: 9,28% para 2B e 9,46% para 2C. Porém, ao analisar a percentagem média do desconforto “intolerável”, notamos que a Bicicleta 2B apresenta uma percentagem um pouco maior, isto é, 7,85% contra 4,28% da Bicicleta 2C. Isso pode ser visto na Figura 10.10. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.17 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Percentagem de níveis de desconforto nas bicicletas 2B e 2C 80% 69.82% 70% 67.86% 60% 50% 40% 30% 20% 9.28% 10% 9.46% 7.85% 4.28% 0% Nenhum desconforto Bastante desconforto Intolerável desconforto 2B 2C Figura 10.10 – Gráfico da percentagem de níveis de desconforto nas Bicicletas 2B e 2C. Além disso, o tempo de permanência dos indivíduos na Bicicleta 2B durante a pesquisa foi menor, se comparado com o da Bicicleta 2C. Portanto, concluise que a Bicicleta 2B foi a mais desconfortável. Já a Bicicleta 1A foi a mais confortável, pois a grande maioria, cerca de 90% ou mais, dos participantes, não sentiu “nenhum” desconforto em 95% das partes do corpo, com exceção da região púbica, conforme mencionado anteriormente. Apesar de algumas coincidências, a análise individual nos revelou que existem diferenças significativas em relação aos níveis de desconforto entre os indivíduos do sexo masculino e feminino. Nas Bicicletas 1A e 2C, o desconforto maior foi para os homens, enquanto nas Bicicletas 2A, 1B e 2B o desconforto foi maior para as mulheres. Sob este ponto de vista, podemos concluir que as mulheres sentiram maior desconforto do que os homens. Porém, é importante ressaltar que, apesar da grande disparidade de níveis de desconforto entre os indivíduos de ambos os sexos, em todas as bicicletas analisadas prevaleceram níveis de desconforto menos intensos, isto é, com algum ou nenhum desconforto em quase todas as regiões do corpo. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.18 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA 10.2 Análise estatística dos tempos médios de pedalada Esta análise, como mencionado anteriormente, foi realizada por Maristela Oliveira a qual descreve o método utilizado a seguir: Os tempos médios de pedalada em cada um dos seis tipos de bicicleta puderam ser estimados através de um modelo de sobrevivência que associa os tempos percorridos por cada indivíduo aos valores das co-variáveis de ajuste. A análise de sobrevivência consiste no ajuste de um modelo de regressão não linear dos tempos de pedalada como função de possíveis preditores. Outro objetivo da análise de sobrevivência, além da estimação do tempo médio de pedalada, é a identificação das variáveis preditoras desse tempo. A análise de sobrevivência é uma subárea da Estatística cuja variável resposta é o tempo até a ocorrência de um evento de interesse, usualmente denominado de falha. Exemplos de tempos de falha incluem: os tempos de vida de componentes de uma máquina em aplicações industriais; a duração de uma greve ou períodos de desemprego em estudos econômicos; o tempo necessário para que um indivíduo execute determinada tarefa, que é a forma como será abordada neste trabalho, entre outros tempos de falha. A principal característica de dados de sobrevivência é a presença de censura, que representa a observação parcial da resposta. Isto é, por alguma razão, o acompanhamento do processo foi interrompido para determinado indivíduo ou componente, antes que a falha fosse observada. Isto significa que toda informação sobre tal resposta se resume ao conhecimento de que o tempo de falha é superior àquele que foi observado. A presença de censura dificulta a análise de tais dados com métodos estatísticos convencionais, já que estes métodos necessitariam de todos os tempos de falha. Por esta razão, a modelagem de dados de sobrevivência recebe atenção especial no âmbito estatístico da análise de dados. Tal análise deve levar em conta que a resposta é o tempo até a ocorrência da falha e a presença de censura. Os conjuntos de dados de sobrevivência são caracterizados pelos tempos de falha e pelas censuras. Estes dois componentes constituem a resposta. O tempo Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.19 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA de falha é determinado pelo tempo inicial de observação, pela escala de medida e pelo evento de interesse (desconforto/dor), comumente associado à falha (COX; OAKES, 1984). Uma representação do mecanismo de censura é feita utilizando duas variáveis aleatórias: seja T (tempo) uma variável aleatória representando o tempo de falha, e seja C (censura) uma outra variável aleatória, independente de T, representando o tempo de censura. Assim, os dados observados são: t = min(T,C) e 1, se T ≤ C 0, se T > C δ = T é usualmente especificada pela função de sobrevivência ou pela função taxa de falha, apresentadas a seguir. A função de sobrevivência é definida como a probabilidade de uma observação não falhar até o tempo t. Ou seja, t S(t) = P(T > t) = 1 - F(t) = 1- ∫ f (u )du 0 sendo que F(t) e f(t) são, respectivamente, a função de distribuição acumulada e a função densidade de probabilidade de T. S(t) é uma das principais funções probabilísticas usadas para descrever estudos de sobrevivência. A função taxa de falha ou de risco é definida por: h (t ) = lim ∆t →0 P(t ≤ T < t + ∆t T ≥ t ) ∆t h(t) é função não-negativa do tempo e representa a taxa de falha instantânea no tempo t, condicionada à sobrevivência até esse tempo. Para analisar dados de sobrevivência na presença de co-variáveis, são utilizados modelos de regressão cujos parâmetros são usualmente estimados pelo método da máxima verossimilhança. Este método consiste basicamente em se encontrar os valores dos parâmetros que maximizam a função de verossimilhança, que é uma função dos valores da amostra, e será o método adotado para este trabalho. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.20 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Modelando o tempo médio de pedalada: Vale ressaltar que a análise descritiva não considera a influência que as demais variáveis exercem sobre o tempo médio. Este fato pode levar-nos a uma conclusão errônea, por exemplo, a respeito do tempo médio de pedalada, que parece ser maior entre os homens do que entre as mulheres. Conclusão discordante com o evidenciado nas análises mostradas a seguir para a maioria das bicicletas, com exceção apenas para a Bicicleta 2C. Um ponto de relevante importância a ser enfatizado aqui é que o sexo pode ter influenciado o comportamento das demais co-variáveis, ou seja, é sabido que existem diferentes respostas de freqüência cardíaca, distância e velocidades de pedalada entre homens e mulheres. Daí pode decorrer a diferença entre o comportamento observado na análise descritiva do tempo médio de pedalada em cada sexo e o evidenciado na presente análise. Neste sentido, uma análise, excluindo a variável sexo poderia ter sido considerada. No entanto, tal procedimento teria como conseqüência a não percepção da influência do sexo sobre o tempo médio de pedalada. Codificação das co-variáveis: Nos resultados apresentados a seguir, foram usados os seguintes códigos: FCXX representa a freqüência cardíaca do indivíduo na bicicleta XX, DistXX representa a distância percorrida, ViXX é a velocidade inicial e VfXX a velocidade final. As co-variáveis do estudo, consideradas para estimar o tempo médio de pedalada, com exceção de sexo, são todas contínuas. Para proceder aos ajustes dos modelos listados a seguir, foi feita uma codificação para a variável sexo (que precisaria ser numérica) da seguinte maneira: o valor “0” foi atribuído ao sexo feminino e o valor “1” ao masculino. Uma outra observação a ser feita antes de se prosseguir com o estudo é que, devido ao fato de não terem sido observadas “falhas” no que tange à Bicicleta 1C, não foi possível estimar o tempo médio de pedalada, através da análise de sobrevivência, devido ao fato de todos os tempos terem sido “censurados”. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.21 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA A significância estatística das co-variáveis foi verificada através do valor-p da estatística de Wald, definida por: Z= βˆ ∧ () SE βˆ , que tem distribuição aproximadamente normal padrão (HOSMER; LEMESHOW, 1999), ou seja, a última coluna de cada um dos cinco quadros a seguir representa a probabilidade de uma normal padrão ser maior do que z (valor da penúltima coluna) e testa a importância da respectiva co-variável como preditora do tempo médio de pedalada em cada bicicleta. a – Bicicleta 1A O teste de Wald (ou teste Z) revela que todas as co-variáveis foram estatisticamente significantes para predizer o tempo médio de pedalada, pois todas apresentaram p-valor igual a zero, e o teste de quiquadrado (com 5 graus de liberdade) mostra que o modelo como um todo é estatisticamente significante a um nível de significância acima de 9,1%. Modelo de ajuste para o tempo médio de permanência na Bicicleta 1A: Tempo = 119,85 - 0,49×FC + 11,88×Dist – 12,44×VI + 7,99VF – 44,91Sexo Quadro 10.7 – Saída do ajuste do modelo de Análise de sobrevivência, para a Bicicleta 1A Value Std.Error z p (Intercept) 119.852 0.502 239 0 FC1A -0.485 0.000 -Inf 0 Dist1A 11.879 0.000 Inf 0 Vi1A -12.441 0.000 -Inf 0 Vf1A 7.987 0.000 Inf 0 SexoMASCULINO -44.913 0.000 -Inf 0 Log(scale) -0.689 0.000 -Inf 0 Scale= 0.502 Weibull distribution Loglik(model)= -2.6 Loglik(intercept only)= -7.4 Chisq= 9.49 on 5 degrees of freedom, p= 0.091 Number of Newton-Raphson Iterations: 16 n= 20 Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.22 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Este modelo pode ser usado para estimar o tempo médio de pedalada de um indivíduo da população observada na Bicicleta 1A. O Quadro 10.7 ainda demonstra que o tempo médio global deste grupo de indivíduos nesta bicicleta seria de, aproximadamente, 120 minutos, caso o experimento não tivesse sido interrompido no trigésimo minuto, desde que os valores referentes à freqüência cardíaca, à distância percorrida e às velocidades inicial e final pudessem ser todos iguais a zero, o que não faz sentido se supor neste específico problema. Neste aspecto, este valor tem pouca interpretabilidade prática, além da melhoria do ajuste, já que a forma correta de se interpretar esse valor seria: “o tempo médio de pedalada para uma mulher com freqüência cardíaca, distância, velocidade inicial e final iguais a zero é de aproximadamente 120 minutos”, o que é inconsistente. Os valores estimados para os coeficientes das co-variáveis indicam uma relação inversa do tempo de pedalada com a freqüência cardíaca e com a velocidade inicial, e uma relação direta com a distância e com a velocidade final. Também demonstra que, ao compararmos um homem e uma mulher de mesma freqüência cardíaca, que percorreram a mesma distância e com as mesmas velocidades inicial e final, a mulher pedalaria 44 minutos mais que o homem. Há de se ressaltar ainda a pouca influência da freqüência cardíaca para o tempo médio de pedalada. b – Bicicleta 1B Aqui a estatística de Wald tem p-valor infinitamente pequeno, indicando também a significância estatística de todas as co-variáveis para predizer o tempo médio de pedalada. Já o teste de quiquadrado (com 5 gruas de liberdade) indica a significância estatística do modelo de maneira inconteste. Modelo de ajuste para o tempo médio de permanência na Bicicleta 1B: Tempo = 5,03 - 0,02×FC + 0,51×Dist – 0,04×VI – 0,06VF – 0,56Sexo Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.23 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Quadro 10.8 – Saída do ajuste do modelo de Análise de sobrevivência, para a Bicicleta 1B (Intercept) FC1B Dist1B Vi1B Vf1B SexoMASCULINO Log(scale) Value Std.Error z p 5.0301 0.30481 16.50 3.53e-61 -0.0201 0.00225 -8.95 3.71e-19 0.5123 0.01921 26.67 1.08e-156 -0.0364 0.00529 -6.89 5.62e-12 -0.0593 0.00562 -10.56 4.79e-26 -0.5626 0.08184 -6.87 6.20e-12 -2.6277 0.28960 -9.07 1.15e-19 Scale= 0.0722 Weibull distribution Loglik(model)= -5.4 Loglik(intercept only)= -38.1 Chisq= 65.3 on 5 degrees of freedom, p= 9.7e-13 Number of Newton-Raphson Iterations: 21 n= 20 Este modelo pode ser usado para estimar o tempo médio de pedalada de um indivíduo desta população na Bicicleta 1B. Os valores estimados para os coeficientes das co-variáveis revelam que apenas a distância percorrida apresenta uma relação direta com o tempo de pedalada e, também que as mulheres, tal como ocorre com a Bicicleta 1A, tendem a pedalar mais tempo do que os homens com as mesmas características que elas, ainda que esta diferença seja pequena. Nota-se aqui que a influência exercida por estas covariáveis sobre o tempo médio de pedalada é pequena, por exemplo, se todas as demais co-variáveis permanecerem constantes, o acréscimo de uma unidade da freqüência cardíaca está associado à redução de 0,02 minutos do tempo médio. c – Bicicleta 2A Modelo de ajuste para o tempo médio de permanência na Bicicleta 2A: Tempo = 2,83 + 0,12×Dist – 0,01VF – 0,19Sexo O comportamento do tempo de pedalada na Bicicleta 2A é semelhante ao da Bicicleta 1B, no entanto, não é observada significância estatística para a freqüência cardíaca nem para a velocidade inicial de pedalada. Isto mostra que estas co-variáveis não devem ser consideradas como preditoras para a determinação do tempo médio de pedalada neste tipo de bicicleta. Observa- Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.24 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA se ainda que o tempo médio global de permanência seja ainda menor neste tipo de bicicleta do que no anterior, apesar de, descritivamente, ser observada nesta uma maior freqüência de indivíduos que conseguiram cumprir 30 minutos de pedalada. Quadro 10.9 – Saída do ajuste do modelo de Análise de sobrevivência, para a Bicicleta 2A Value Std.Error z p (Intercept) 2.82992 0.19673 14.38 6.44e-47 FC2A -0.00304 0.00162 -1.88 6.06e-02 Dist2A 0.11868 0.00945 12.56 3.63e-36 Vi2A -0.01343 0.00730 -1.84 6.59e-02 Vf2A -0.00904 0.00304 -2.98 2.93e-03 SexoMASCULINO -0.18530 0.04315 -4.29 1.76e-05 Log(scale) -3.37705 0.32048 -10.54 5.80e-26 Scale= 0.0341 Weibull distribution Loglik(model)= -8 Loglik(intercept only)= -38.1 Chisq= 60.3 on 5 degrees of freedom, p= 1.1e-11 Number of Newton-Raphson Iterations: 14 n= 20 d – Bicicleta 2B Nesta bicicleta, apenas um indivíduo conseguiu cumprir os 30 minutos de pedalada. Este, provavelmente, foi um determinante para não se observar uma significância estatística para a maioria das co-variáveis, já que o desconforto intolerável reclamado impediu a influência das co-variáveis em questão no tempo médio de pedalada. Aqui, apenas a distância percorrida apresenta significância estatística, demonstrando que as demais co-variáveis não se mostraram importantes para prever o tempo médio de pedalada. Modelo de ajuste para o tempo médio de permanência na Bicicleta 2B: Tempo = 2,77 + 0,51×Dist Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.25 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Quadro 10.10 – Saída do ajuste do modelo de Análise de sobrevivência, para a Bicicleta 2B Value Std.Error z p (Intercept) 2.7694 1.05888 2.615 8.91e-03 FC2B -0.0132 0.00755 -1.742 8.14e-02 Dist2B 0.2875 0.06066 4.740 2.14e-06 Vi2B 0.0108 0.02837 0.381 7.04e-01 Vf2B -0.0249 0.02942 -0.845 3.98e-01 SexoMASCULINO -0.4223 0.24143 -1.749 8.03e-02 Log(scale) -1.0641 0.22281 -4.776 1.79e-06 Scale= 0.345 Weibull distribution Loglik(model)= -24.4 Loglik(intercept only)= -40 Chisq= 31.32 on 5 degrees of freedom, p= 8.1e-06 Number of Newton-Raphson Iterations: 8 n= 20 Este modelo poderia ser usado para estimar o tempo médio de pedalada de um indivíduo desta população na Bicicleta 2B, pois só foi observada uma significância estatística para a co-variável “Distância”, mas esta significância tem pouca utilidade prática, diante do desconforto reclamado, sendo indicada uma análise mais detalhada para esse tipo de bicicleta. e – Bicicleta 2C Aqui todas as co-variáveis envolvidas voltam a ter significância estatística. Modelo de ajuste para o tempo médio de permanência na Bicicleta 2C: Tempo = 2,23 - 0,02×FC + 0,25×Dist + 0,10×VI – 0,09VF + 0,37Sexo Este modelo pode ser usado para estimar o tempo médio de pedalada de um indivíduo desta população na Bicicleta 2C. Os valores estimados para os coeficientes das co-variáveis revelam que a distância percorrida, a velocidade inicial de pedalada e o sexo do indivíduo apresentam uma relação direta com o tempo de pedalada. Este é o único, entre os seis tipos de bicicleta estudados, em que as mulheres tendem a pedalar menos do que os homens, ainda que a diferença seja ínfima. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.26 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Quadro 10.11 – Saída do ajuste do modelo de Análise de sobrevivência, para a Bicicleta 2C Value Std.Error z p (Intercept) 2.2306 0.64220 3.47 5.14e-04 FC2C -0.0159 0.00461 -3.46 5.49e-04 Dist2C 0.2467 0.02154 11.45 2.30e-30 Vi2C 0.1033 0.02253 4.58 4.61e-06 Vf2C -0.0856 0.01750 -4.89 1.00e-06 SexoMASCULINO 0.3659 0.11533 3.17 1.51e-03 Log(scale) -2.2139 0.34337 -6.45 1.14e-10 Scale= 0.109 Weibull distribution Loglik(model)= -13.6 Loglik(intercept only)= -35.9 Chisq= 44.58 on 5 degrees of freedom, p= 1.8e-08 Number of Newton-Raphson Iterations: 14 n= 20 Portanto, conclui-se o seguinte: Assim como nos resultados da análise dos níveis de desconforto, em relação ao tempo pedalado, a Bicicleta 1A apresentou-se como a melhor e a Bicicleta 2B como a pior. Ao considerar que os resultados demonstram que o tempo médio global de pedalada do grupo de indivíduos da Bicicleta 1A seria de, aproximadamente, 120 minutos e que, para a Bicicleta 2B, apenas um indivíduo conseguiu cumprir os 30 minutos de pedalada já que o desconforto intolerável reclamado impediu que os demais alcançassem os 30 minutos solicitados sendo, inclusive, indicada uma análise mais detalhada para este tipo de bicicleta. Podemos observar a aplicação da Análise de Sobrevivência no Quadro 10.12 onde calculou-se o tempo estimado de quatro participantes do experimento das Bicicletas 1A e 1B, onde constatou-se mais uma vez que a Bicicleta 1A é mais confortável, pois os participantes que utilizamos para o cálculo deste exemplo poderiam pedalar muito mais tempo que na Bicicleta 1B como mostraram os resultados da participante “Feminina 1”, que poderia pedalar 254,7 minutos na Bicicleta 1A e aproximadamente três minutos na Bicicleta 1B. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.27 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA 10.12 – Quadro dos resultados da aplicação da análise de sobrevivência em quatro participantes do experimento, dois do sexo feminino e dois do sexo masculino. Tipo da Sexo Tempo Bicicleta Feminino 1 Masculino 1 Feminino 2 Masculino 2 Observado 30 min 30 min 30 min 30 min Estimado Tipo 1A 254,7 min 83,9 min 97,9 min 152, 1 min (4:15h) (1:24h) (1:38h) (2:32h) Tipo 2B Observado Estimado 10.3 2 min 2 min 2,5 min 1,5 min 3,0 min 3,1 min 2,8 min 2,9 min Análise dos ângulos biomecânicos posturais assumidos pelos ciclistas durante o experimento a – Ângulos biomecânicos posturais nas bicicletas do tipo Tradicional Para esta análise, tomou-se como referência biomecânica de ângulos posturais para bicicletas que mantêm o tronco ereto, a qual chamamos neste trabalho de Tradicional, as recomendações de Dreyfuss (1966:Q). Para as bicicletas tradicionais, as quais o autor denomina Cruiser, ele recomenda que o ângulo entre tronco e coxa seja de 90º, como mostra a Figura 10.11. Para medir o ângulo do tronco e coxa, tomou-se como referência o ponto Trochanterion laterale, de acordo com recomendações de Moraes (Figura 9.12). A partir dessa recomendação, elaboramos análise dos ângulos dos troncos dos participantes do experimento utilizando a Bicicleta 1A, pois esta bicicleta foi a indicada como a mais confortável, tanto pelo resultado da aplicação da escala para avaliar os níveis de desconforto pela análise de sobrevivência e também pela indicação destes ao final das seis sessões. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.28 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.11 – Ângulos biomecânicos posturais para bicicleta Cruiser. Fonte: Dreyfuss (1966:Q) Observa-se que, na bicicleta utilizada para o experimento – Bicicleta ergométrica Monark Ergomedic 828-E (Figura 9.9), apesar de ser uma bicicleta que possibilita maior variação de ajustes, o ajuste do guidão não foi suficiente para que os participantes, ao segurá-lo, mantivessem o tronco ereto. O maior ajuste do guidão ainda era muito baixo e muito distante do selim, fazendo com que os participantes projetassem seu tronco para a frente, entre 6º e 26º. Mesmo com esta deficiência de ajuste, as bicicletas do tipo tradicional foram consideradas as melhores, sendo a Bicicleta 1A, como já foi dito, considerada a melhor entre as seis por 100% dos participantes. A variação da inclinação do tronco pode ser observada nas Figuras 10.12 a 10.25. Observa-se que a postura dos avaliados nesta bicicleta, ao compararmos com as bicicletas aerodinâmicas (Figuras 10.35 a 10.54), é Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.29 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA aparentemente confortável, anatomicamente mais correta, os indivíduos não necessitam fazer nenhum esforço anti-anatômico para se adaptar à postura solicitada. Eles usaram a expressão ‘mais agradável’ para qualificar esta bicicleta, pois, segundo eles, conseguiram pedalar mais rápido e não sentiram dores. Observou-se também que tanto os homens quanto as mulheres de percentis que se aproximam do 97,5º percentil, têm uma tendência maior de flexionar o tronco do que os outros dos percentis menores, independentemente do tipo da bicicleta. Um outro fato importante a ser ressaltado é que a variação de ângulos, assumida pela posição do tronco, foi muito pequena, uma média de 6,35º por um período de 30 minutos. Isto confirma ser esta bicicleta a mais confortável, tendo em vista que um dos indicadores de desconforto em relação à usabilidade de um produto é quando o usuário troca muitas vezes de posição, para o que se supõe que este está buscando uma posição mais confortável. Figura 10.12 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 1 na Bicicleta 1A Figura 10.13 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 2 na Bicicleta 1A Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.30 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.14 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 3 na Bicicleta 1A Figura 10.15 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 4 na Bicicleta 1A Figura 10.16 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 5 na Bicicleta 1A Figura 10.17 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 6 na Bicicleta 1A Figura 10.18 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 7 na Bicicleta 1A Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.31 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.19 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 8 na Bicicleta 1A Figura 10.20 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 9 na Bicicleta 1A Figura 10.21 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 10 na Bicicleta 1A Figura 10.22 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 1 na Bicicleta 1A Figura 10.23 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 2 na Bicicleta 1A Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.32 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.24 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 3 na Bicicleta 1A Figura 10.25 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 4 na Bicicleta 1A Figura 10.26 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 5 na Bicicleta 1A Figura 10.27 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 6 na Bicicleta 1A Figura 10.28 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 7 na Bicicleta 1ª Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.33 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.29 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 8 na Bicicleta 1A Figura 10.30 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 9 na Bicicleta 1A Figura 10.31 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 10 na Bicicleta 1A b – Ângulos biomecânicos posturais nas bicicletas do tipo Aerodinâmico Para esta análise, também se tomou como referência Dreyfuss (1966:Q), para avaliar os ângulos biomecânicos de ângulos posturais (Figura 10.32). Neste item são observadas as bicicletas do tipo aerodinâmico, bicicletas que induzem o ciclista a uma postura com flexão do tronco. Esta bicicleta é denominada por Dreyfuss de “bicicleta de corrida”. Para bicicletas aerodinâmicas as recomendações do ângulo entre tronco e coxa, medido a partir do ponto Trochanterion laterale, é de 17º, conforme mostra a Figura 10.32. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.34 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.32 – Ângulos biomecânicos posturais para bicicleta de corrida. Fonte: Dreyfuss (1966:Q) Como se pode observar nas Figuras 10.33 e 10.34, os usuários começam a pedalar e já nos primeiros minutos tentam elevar o tronco que deveria permanecer em flexão. Eles alegaram que o músculo quadríceps dói muito, há desconforto nos braços e cotovelos por ter que suportarem o peso do tronco, doem as mãos e os ombros e a flexão do tronco propicia dores nas regiões cervical e lombar. Figura 10.33 – Ciclista de percentil 2,5, do sexo feminino, realizando experimento na Bicicleta 2A, modelo aerodinâmico. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.35 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.34 – Ciclista de percentil 50, do sexo masculino, realizando experimento na Bicicleta 2C, modelo aerodinâmico. Observou-se que foram poucos os momentos em que os ciclistas assumiram posturas próximas da recomendada na Figura 10.32, alguns que as conseguiram ficaram por pouquíssimo tempo o que pode ser observado nas Figuras 10. 35 a 10. 54. Figura 10.35 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 1 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.36 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.36 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 2 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Figura 10.37 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 3 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.37 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.38 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 4 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Figura 10.39 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 5 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.38 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.40 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 6 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Figura 10.41 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 7 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.39 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.42 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 8 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Figura 10.43 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 9 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.40 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.44 – Ângulos biomecânicos do Ciclista masculino nº 10 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Figura 10.45 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 1 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.41 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.46 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 2 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Figura 10.47 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 3 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.42 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.48 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 4 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Figura 10.49 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 5 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.43 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.50 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 6 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Figura 10.51 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 7 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.44 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.52 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 8 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Figura 10.53 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 9 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.45 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Figura 10.54 – Ângulos biomecânicos da Ciclista feminina nº 10 nas Bicicletas 2A. 2B e 2C. A análise dos ângulos biomecânicos posturais mostra que a Bicicleta 2B, com o selim ajustado 10% acima do correto foi a que mais propiciou a postura aerodinâmica com um ângulo próximo do recomendado na Figura 10.32, porém esta foi a bicicleta em que os ciclistas permaneceram pelo menor tempo, alegando que o desconforto era insuportável. Esta bicicleta foi escolhida por 90% deles como a pior entre os seis tipos. Nas bicicletas aerodinâmicas, os ciclistas, para manter o tronco flexionado, tiveram que elevar a cabeça, forçando a região cervical a uma postura antianatômica, ficando esta em uma lordose acentuada. Esta postura fez com que os ciclistas, mesmo por pouco tempo na bicicleta, permanecessem com a cabeça baixa, olhando a maior parte do tempo para o piso. Isto foi possível porque eles estavam em uma bicicleta estacionada e não havia necessidade de guiá-la em ruas, de forma a não colidir com pedestres, carros e outros obstáculos. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.46 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA Na Bicicleta 2C, com o selim ajustado 10% abaixo do correto, a situação de desconforto não foi muito diferente, porém nesta bicicleta o ciclista não conseguia flexionar o tronco, de acordo com a Figura 10.32 nem nos momentos iniciais, pois, pelo fato de estar com o selim muito baixo a perna impossibilitava que o tronco se flexionasse por falta de espaço. Esta bicicleta foi apontada por 10% dos ciclistas como a pior entre as seis. Eles alegaram dores nos joelhos, punhos, braços, mãos, ombros, coluna lombar, entre outras regiões do corpo. Esta situação da Bicicleta 2C é a mais encontrada nos usuários de bicicletas. As bicicletas encontradas no mercado, como mostrado no Capítulo dois, são na sua maioria do tipo Mountain Bike. Este modelo, que se assemelha à Bicicleta 2B, induz o ciclista a uma postura com flexão do tronco por ser o guidão mais baixo que o selim. Porém, os usuários abaixam o selim ao máximo para conseguir ficar com o tronco mais ereto, assemelhando-se neste caso com a Bicicleta 2C, nesta situação o selim fica muito baixo. Em conseqüência, o ciclista não consegue pedalar por causa do desconforto. Para as bicicletas do tipo aerodinâmico, ao contrário das tradicionais, a mudança dos ângulos do tronco foi muito constante. Os registros mostraram que os participantes mudaram de postura em relação à postura inicial, em uma média de: na Bicicleta 2A, 16,1º por um tempo médio de 20 minutos; na Bicicleta 2B, 14,35º por um tempo médio de 7 minutos e para a Bicicleta 2C, 16,8º por um tempo médio de 23 minutos. A mudança constante de postura demonstra que o usuário busca uma posição que lhe proporcione maior conforto. Ao compararmos os graus de movimentação do tronco entre as Bicicletas 1A e 2B, consideradas a mais confortável e a mais desconfortável, respectivamente, veremos que, enquanto que na Bicicleta 1A os ciclistas se movimentaram em média 0,21º por minuto, na Bicicleta 2B a movimentação foi em média 2,05º por minuto, ou seja, o índice de mudança de posição na Bicicleta 2B em relação à 1A foi Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.47 Ergonomia aplicada ao Design de produtos: Um estudo de caso sobre o Design de bicicletas 10 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA maior 86,76%, o que vem confirmar que as bicicletas aerodinâmicas e com ajuste do selim errado causam desconforto aos seus usuários. As três análises realizadas mostraram os mesmos resultados, ou seja, a Bicicleta 1A como a mais confortável e a Bicicleta 2B como a mais desconfortável. Tal situação coincidiu também com a questão feita aos participantes da pesquisa ao final das seis sessões. Foi solicitado a estes que indicassem a bicicleta mais confortável e a mais desconfortável, para o que 100% indicaram a Bicicleta 1A como a mais confortável. Para a mais desconfortável, 90% indicaram a Bicicleta 2B e 10%, a Bicicleta 1C. Suzi Mariño Pequini FAU-USP/2005 10.48