NEUDER WESLEY FRANÇA DA SILVA
FREQUÊNCIA DE PATOLOGIAS EM VÍSCERAS
VERMELHAS DE BOVINOS EM MATADOURO DO
MUNICÍPIO DE MARABÁ - PARÁ
Marabá PA
2009
NEUDER WESLEY FRANÇA DA SILVA
FREQUÊNCIA DE PATOLOGIAS EM VÍSCERAS
VERMELHAS DE BOVINOS EM MATADOURO DO
MUNICÍPIO DE MARABÁ - PARÁ
Trabalho monográfico apresentado à UCB como
requisito para título de Especialização Latu Senso em
Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal,
sob a orientação do Prof. Bruno de Cassio Veloso de
Barros.
Marabá PA
2009
FREQUÊNCIA DE PATOLOGIAS EM VÍSCERAS VERMELHAS DE BOVINOS
EM MATADOURO DO MUNICÍPIO DE MARABÁ-PARÁ
Elaborado por Neuder Wesley França da Silva
Aluno do Curso de Pós Graduação Latu Sensu em Higiene e Inspeção de Produtos de
Origem Animal
Foi analisado e aprovado com nota:________
Marabá-PA,
de
de
________________________________
Membro
______________________________
Membro
_______________________________
MSc. Bruno de Cassio Veloso de Barros
Professor Orientador
Marabá-PA
2009
iii
.
Dedico este trabalho a Nina Maria
Pinheiro Rocha, Minha sogra, por seu
deslocamento mensal de Belém à
Marabá, com o intuito de cuidar de
meus filhos durante todo o meu curso.
iv
AGRADECIMENTOS
A minha esposa – que me ajudou na
coordenação do curso;
Ao meu orientador Bruno de Cassio –
por sua atenção e orientações;
v
RESUMO
Em estudo realizado no único matadouro municipal sob fiscalização do Serviço de
Inspeção Municipal de Marabá foram pesquisadas a freqüência e as causas de condenações
de vísceras vermelhas na linha de inspeção. A inspeção sanitária referentes às linhas de
inspeção foi realizada por auxiliares de inspeção e por Médicos Veterinários do Serviço de
Inspeção Municipal de Marabá, sendo os critérios de condenações, bem como os exames
ante e post-mortem realizados conforme preconiza o Decreto nº 30.691 de 29/03/52 –
RIISPOA (Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal)
e da Lei nº 1.283 de 18/12/50. Dos 17.347 bovinos e 70 bubalinos abatidos, sendo destes,
192(1,11%) machos e 17.155 (98,89%) fêmeas, bem como 70 bubalinos, 69 (98,57%)
machos e 01 (1,43%) fêmea, foram condenados 4.002 rins, 3.349 pulmões, 1.433 fígados e
117 corações. A freqüência encontrada de condenações foi de 44,96% de rins, 37,62% de
pulmões, 16,10% de fígados e 1,31% de corações. Observou-se a necessidade da
implementação das Boas Práticas na indústria e um maior controle sanitário do rebanho.
Palavras chaves: vísceras vermelhas, condenações, matadouro, Serviço de Inspeção.
vi
ABSTRACT
In study carried through in the only municipal slaughterhouse under fiscalization of
the Service of Municipal Inspection of Marabá the frequency and the causes of red
condemnations of gut in the inspection line had been searched. The sanitary inspection
referring to the inspection lines was carried through by assistant of inspection and Medical
Veterinarians of the Service of Municipal Inspection of Marabá, having been the criteria of
condemnations, as well as the examinations before and post-mortem carried through as
praises the Decree nº 30,691 of 29/03/52 - RIISPOA (Regulation of Industrial and Sanitary
Inspection of Products of Animal Origin) and of the Law nº 1,283 of 18/12/50. Of the
17,347 abated bovines and 70 bubalinos, being of these, 192 (1.11%) male and 17,155
(98.89%) females, as well as 70 bubalinos, 69 (98.57%) male and 01 (1.43%) female,
4,002 kidneys, 3,349 lungs, 1,433 had been condemned livers and 117 hearts. The joined
frequency of condemnations was of 44,96% of kidneys, 37.62% of lungs, 16.10% of livers
and 1.31% of hearts. It was observed necessity of the implementation of Good Practical in
the industry and a bigger sanitary control of the flock.
Key Words: guts red, condemnations, slaughterhouse, Inspection Service.
vii
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1 - Pulmão com lesões de tuberculose................................................................
26
Figura 2 - Pulmão com lesões de tuberculose. Visão ampliada.....................................
26
Figura 3 - Endocardite valvular......................................................................................
28
Figura 4 - Endocardite valvular. Visão ampliada...........................................................
28
Figura 5 - Pericardite e abscesso provocados por reticulo pericardite traumática.........
29
Figura 6 - Abscesso aberto.............................................................................................
29
Figura 7 - Pulmão apresentando congestão por ocasião do abate..................................
31
Figura 8 - Aspectos macroscópicos da aspiração de sangue em pulmão.......................
31
Figura 9 - Aspectos macroscópicos da aspiração de conteúdo ruminal em pulmão......
32
Figura 10 - Cistos multifocais em bordo de pulmão......................................................
32
Figura 11 - Suspeita de broncopenumonia.....................................................................
33
Figura 12 - Pulmão com Congestão...............................................................................
33
Figura 13 - Enfisema pulmonar em decorrência do abate..............................................
34
Figura 14 - Secção de Pulmão com Enfisema................................................................
34
Figura 15 - Enfisema alveolar........................................................................................
35
Figura 16 - Enfisema intersticial....................................................................................
35
Figura 17 - Abscesso hepático........................................................................................
37
Figura 18 - Cirrose hepática...........................................................................................
37
Figura 19 - Esteatose hepática........................................................................................
38
Figura 20 - Teleangectasia mostrando aumento de volume e distensão do órgão.........
39
Figura 21 - Teleangectasia com incisão mostrando extensas áreas congestas...............
39
Figura 22 - Nefrite..........................................................................................................
41
Figura 23 – Nefrite.........................................................................................................
42
Figura 24 - Nefrite Incisão.............................................................................................
42
Figura 25 - Quisto urinários...........................................................................................
43
Figura 26 - Quisto urinários. Visão do hilo renal...........................................................
43
viii
LISTA DE GRÁFICOS
Página
Gráfico 1 - Número e frequência de bovinos abatidos no período de maio a setembro
de 2007 no matadouro sob serviço de inspeção municipal em Marabá.................
22
Gráfico 2 - Número e frequência de bubalinos abatidos no período de maio a setembro
de 2007 no matadouro sob serviço de inspeção municipal em Marabá.................
22
Gráfico 3 - Causa, número e frequência de vísceras vermelhas condenadas no
matadouro sob inspeção municipal em Marabá, no período de maio a setembro
de 2007...................................................................................................................
24
Gráfico 4 – Causa e número de condenações ocorridas no período de maio a setembro
de 2007 no matadouro sob serviço de inspeção municipal em Marabá.................
25
Gráfico 5 - Causa, número e frequência de causas aparentes de condenações em
coração de bovinos abatidos no matadouro sob inspeção municipal em Marabá,
no período de maio a setembro de 2007................................................................
27
Gráfico 6 - Causa, número e frequência de casos de condenações de pulmões de
bovinos abatidos no matadouro sob inspeção municipal em Marabá, no
período de maio a setembro de 2007....................................................................
30
Gráfico 7 - Causa, número e frequência de casos de condenações de fígados de
bovinos abatidos no matadouro sob inspeção municipal em Marabá, no
período de maio a setembro de 2007....................................................................
36
Gráfico 8 - Causa, número e frequência de casos de condenações de rins de bovinos
abatidos no matadouro sob inspeção municipal em Marabá, no período de
maio a setembro de 2007......................................................................................
40
Gráfico 9 - Causa, número e frequência de casos de condenações de vísceras
vermelhas por contaminação, em bovinos abatidos no matadouro sob inspeção
municipal
em
Marabá,
no
período
de
maio
a
setembro
de
2007......................................................................................................................
ix
44
SUMÁRIO
Página
RESUMO........................................................................................................
vi
ABSTRAT.......................................................................................................
vii
LISTA DE FIGURAS.....................................................................................
viii
LISTA DE GRÁFICOS...................................................................................
ix
1.
INTRODUÇÃO...............................................................................................
01
2.
OBJETIVO ....................................................................................................
02
2.1.
Objetivo geral..................................................................................................
02
2.2.
Objetivo específico..........................................................................................
02
3.
REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................
03
3.1.
CONTAMINAÇÕES......................................................................................
03
3.2.
HIDATIDOSE.................................................................................................
04
3.3.
PULMÕES......................................................................................................
05
3.3.1.
Linfadenite (Adenite)......................................................................................
06
3.3.2.
Tuberculose.....................................................................................................
07
3.3.3.
Bronquite.........................................................................................................
07
3.3.4.
Congestão........................................................................................................
08
3.3.5.
Enfisema..........................................................................................................
08
3.3.6.
Pleurisia...........................................................................................................
10
3.4.
FÍGADO..........................................................................................................
10
3.4.1.
Abscessos........................................................................................................
11
3.4.2.
Cirrose.............................................................................................................
13
3.4.3.
Esteatose..........................................................................................................
13
3.4.4.
Parasitose.........................................................................................................
14
3.4.5.
Periepatite........................................................................................................
15
3.4.6.
Teleangiectasia................................................................................................
15
x
Continuação
Página
3.5
CORAÇÃO......................................................................................................
16
3.5.1.
Endocardites....................................................................................................
16
3.5.2.
Pericardites......................................................................................................
17
3.6
RINS..................................................................................................................
18
3.6.1.
Nefrites...............................................................................................................
19
3.6.2.
Quistos urinários................................................................................................
20
4.
MATERIAL E MÉTODOLOGIA.....................................................................
21
4.1.
MATERIAL.......................................................................................................
21
4.2.
METODOLOGIA..............................................................................................
21
4.2.1.
Colheita de material...........................................................................................
21
4.2.2.
Classificação das lesões/condenações por víscera.............................................
23
4.2.3.
Análise estatística..............................................................................................
23
5.
RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS...................................................
24
6.
CONCLUSÕES.................................................................................................
45
7.
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................
45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................
47
Xi
1. INTRODUÇÃO
Segundo observações pessoais, a inspeção anatomopatológica de vísceras
vermelhas em estabelecimento de abate de bovinos é fator inerente para a inserção de
carnes e vísceras no comércio local sem que ofereça risco à saúde da população.
Em relação ao consumo de vísceras vermelhas, conhecidamente representadas pelo
fígado, coração, pulmões e rins, diariamente são destinados aos açougues e supermercados
em um número significativo e que possuem demanda rotineira por clientes que os
consomem quer por hábito ou por serem relativamente de maior acessibilidade em
decorrência de seus valores nutricionais e econômicos, conforme observações pessoais.
O município de Marabá, a qual possui uma população estimada em 196.468
habitantes IBGE (2007), sendo localizado no sudeste do estado do Pará à
aproximadamente 580 km de Belém, em meados de 2008 iniciou suas atividades do
Serviço de Inspeção Municipal – S.I.M no primeiro Matadouro sob condições para
recepcionar uma equipe do S.I.M. e, diante da necessidade de um melhor controle da
qualidade higiênico sanitária em relação aos produtos decorrentes do abate bovino nesta
região, segundo análises pessoais.
O município estudado é detentor de um rebanho de aproximadamente 677.446 de
bovinos (ULSAV, 2007) e 142 açougues (VISA, 2007), e possuía apenas um
Estabelecimento de abate com Serviço de Inspeção Federal onde apenas duas redes de
supermercados recebiam seus produtos, porém com elevado valor, entretanto verificou-se
que a maioria da população possui-a maior acesso aos produtos destinados aos açougues.
Assim, com o início do S.I.M., em maio de 2007, a população dos principais
distritos da zona urbana começou a consumir carnes e vísceras inspecionadas.
A presente proposta visa indicar os primeiros índices de prevalência sobre
condenações de vísceras vermelhas no único Matadouro com Serviço de Inspeção
Municipal, destacando a importância dos aspectos higiênicos sanitários relacionados ao
consumo destes produtos, garantindo assim a inerência da segurança alimentar com a
prática da inspeção municipal na região estudada.
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
Conhecer a freqüência das principais patologias em vísceras vermelhas no
matadouro sob o Serviço de Inspeção Municipal de Marabá- PA.
2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO
Demonstrar o panorama das causas de condenações de vísceras vermelhas em
matadouro sob Serviço de Inspeção Municipal em Marabá-PA.
.
3. REVISÃO DE LITERATURA
Conforme HERENDA et al (1994) o objetivo da inspeção de carnes é dar segurança ao
consumo da mesma pelo homem, através de profissionais da saúde pública como médicos
veterinários e inspetores auxiliares.
3.1. CONTAMINAÇÕES
SANTOS (1979) relatou que bovinos abatidos em matadouros mostram com freqüência
aspiração de alimentos ou de sangue por vias bronquiais, tratando-se o fenômeno de
simples acidente de matança.
Para THORNTON (1969) em bovinos e carneiros, a matéria alimentar ingerida regurgita
prontamente do rumem durante o abate, penetrando no trato respiratório durante a
inspiração; essa contaminação dos pulmões com ingesta é particularmente comum nos
bovinos e carneiros abatidos segundo o ritual judaico.
A pressão sobre o flanco do boi para facilitar a sangria também favorece o regurgitamento
do material ingerido (THORNTON, 1969).
A presença nos pulmões, de sangue inspirado, pode ser diferenciada da broncopneumonia
pelo fato de que na inspiração de sangue os brônquios conterão sangue, mas o tecido
pulmonar circunjacente permanece normal (THORNTON, 1969).
Em um estudo realizado por PINHO et al (1999), disponível em http://www.propgpq.
uece.br/semana_universitaria/anais/anais1999/SemanaIV/V_PE/agr%C3%A1rias/4pesagra
23.htm, sobre a Influência do método de atordoamento na ocorrência de alterações préagônicas nos pulmões de bovinos, concluiu-se que as alterações pré-agônicas são as
maiores causas de condenações pulmonares em bovinos e que, ao contrário do que seria
esperado, a PDC (pistola de dardo cativo) não favorece a redução destas, entretanto
estudos mais aprofundados fazem-se necessários para uma maior compreensão dos
achados.
Segundo PINHO et al (1999) os resultados mostraram que o número de condenações por
alterações pré-agônicas (95,84%) foi bem superior ao das condenações por outras causas
(4,16%). Diferenças na ocorrência de alterações pré-agônicas foram detectadas nos
diferentes métodos de atordoamento empregados no estudo, tendo sido maior com o uso da
PDC (98,02%) que com o uso da marreta (94,19%). Dentre as alterações pré-agônicas,
observou-se que, com o uso da PDC a aspiração do conteúdo ruminal apresentou menor
ocorrência que com o uso da marreta (24,25% e 31,74% respectivamente). Em relação às
demais alterações pré-agônicas estudadas, constatou-se que ocorrência de congestão não
foi significativamente diferente nos dois métodos de atordoamento estudados (40,55% e
26,77% respectivamente)¸ entretanto a ocorrência de enfisema foi maior quando do uso da
PDC do que da marreta (44,13% e 29,64%) (PINHO, 1999).
A tecnopatia de abate é uma causa não patológica de reprovação do fígado. Esta é a
designação dada a todo e qualquer fator que, após a entrada do animal na sala de abate,
interfira negativamente com a salubridade e aparência comercial do fígado. Assim, dentre
as situações que constituem tecnopatia de abate destacam-se a conspurcação do fígado com
conteúdo intestinal devido ao corte acidental do intestino; a queda acidental do fígado ao
chão é motivo para o rejeitar, uma vez que fica imediatamente conspurcado. Para, além
disso, sendo este órgão rico em células epiteliais e pobre em estroma (YOUNG & HEATH,
2000), o fato de cair ao chão vai provocar-lhe traumatismos os quais desvalorizam
comercialmente o fígado.
3.2. HIDATIDOSE
Hidatidose é uma doença parasitária grave, causada pelo Echinococus granulosus, que se
caracteriza pela formação de vesículas em diversos órgãos dos mamíferos domésticos e do
homem (FORTES,1997). Provoca importantes prejuízos econômicos (DADA & BELINO,
1981; LIGHTOWLERS et al, 1984), além de representar um importante problema de saúde
pública (LAHMAR et al, 1999).
Esta afecção foi descrita na Europa, Ásia, África, Oceania e nas Américas (SALGUEIRO
NUNES, 1982). No Brasil, o estado do Rio Grande do Sul possui os maiores índices de
prevalência da enfermidade (SANTOS, 1995). A enfermidade acomete bovinos, ovinos,
caprinos, suínos, eqüinos e o homem (FORTES,1993). Relata-se uma maior incidência em
áreas rurais estando relacionada com a presença de cães de pastoreio, alimentação desses
animais com vísceras cruas contendo o cisto hidático, falta de programas de vermifugação
e carência de educação sanitária.
Quando os ovos são ingeridos pelos ruminantes, durante o pastoreio, os mesmos são
imediatamente infectivos, liberando larvas que penetram na mucosa intestinal, e através do
sistema linfático ou vascular alcança vários órgãos (PERMIN & HANSEN, 2002), onde se
fixam formando os cistos hidáticos. Quando os cães ingerem órgãos internos de animais
parasitados pelo cisto hidático, os protoescolices presentes dentro do cisto evaginam-se, se
aderem à mucosa intestinal, desenvolvendo os estágios adultos (ANDERSEN et al, 1973).
A forma adulta da tênia parasita o intestino delgado de carnívoros. Os cães passam a
eliminar os ovos nas fezes dentro de sete semanas, renovando o ciclo. Os ovos ficam
viáveis por 21 dias em terra úmida, 11 dias em ambiente seco e por 120 dias congeladas
(FORTES, 1993).
A infecção no homem também ocorre principalmente pela ingestão de ovos eliminados
junto com as fezes do cão, através de água e alimentos contaminados, e assim como os
herbívoros, não transmitem a doença entre si (SALGUEIRO NUNES & ROSA, 1981).
O cisto hidático pode se localizar em vários órgãos, sobretudo no fígado e pulmões (WYNJONES & CLARKSON, 1984; LAHMAR et al, 1999). A doença geralmente é
assintomática, embora os sinais clínicos possam ser observados de acordo com a
localização do cisto hidático e a intensidade de seu parasitismo. A ausência de sinais
clínicos, em animais de produção, pode ocorrer devido ao fato dos animais serem abatidos
antes do inicio da manifestação clínica da doença (DAJANI & KHALAF, 1981).
A hidatidose foi responsável pela condenação de 5,16% e 3,2% de fígados bovinos em
pesquisas realizadas por LAUZER et al (1979) e LOCATELLII et al (2007),
respectivamente.
Para FUKUDA (2001) a hidatidose é caracterizada pela formação de vesículas que se
insinuam pelo órgão hepático e são revestidas por uma membrana clara e opaca. Menciona
ainda que, após o fígado, o órgão mais lesado por hidatidose é o pulmão.
3.3. PULMÕES
De acordo com LIMA et al, (2007), analisando alterações anatomopatológicas durante a
inspeção post-mortem em bovinos no Abatedouro-frigorífico Industrial de Mossoró, Rio
Grande do Norte, disponível em
http://www.uece.br/cienciaanimal/dmdocuments/Comunicacao2.2007.2
.pdf, obteve-se os seguintes resultados após inspeções em 1.840 bovinos: Das patologias
relacionadas ao sistema respiratório, a mais freqüente correspondeu ao enfisema pulmonar
(66,7%), seguido da congestão pulmonar (16,7%), hiperemia ativa pulmonar (11,1%) e
pneumonia (5,5%). Para as patologias referentes ao sistema urinário, diagnosticou-se:
nefrite (25%), cisto renal (25%), cálculo renal (25%) e ruptura de bexiga (25%). Com
relação às patologias hepáticas e do sistema biliar, pôde-se verificar maior ocorrência de
cálculo biliar, com uma freqüência de 56,25%. Os abscessos hepáticos representaram
31,25 % dos casos, seguido da teleangiectasia hepática (6,25%) e cirrose hepática (6,25%).
Em um estudo realizado por GOMES et al (1995), disponível http://www.famev.ufu.br/
vetnot/vetnot5/res5-4.htm, sobre a frequência de lesões de bovinos abatidos no matadouro
municipal da cidade de Lavras, MG, foi acompanhada a inspeção sanitária de 1.763
bovinos no matadouro municipal, no período de agosto a novembro de 1995, com o
objetivo de determinar a freqüência de lesões detectadas em carcaças e vísceras. Foram
observadas alterações em 0,74% das carcaças, 5,84% dos fígados, 12,59% dos pulmões,
0,34% dos linfonodos, 0,06% dos baços, 0,06% dos intestinos e 2,94% de lesões no
sistema genital feminino. Não foram encontradas lesões em sistema genital masculino,
coração e língua. Rins e estômagos não foram inspecionados por ocasião do abate.
Detectou-se elevada freqüência de alterações provocadas por insensibilização inadequada
3.3.1. LINFADENITE (ADENITE)
Para SANTOS (1975) a inflamação do gânglio linfático denomina-se linfadenite ou
adenite. Esta última denominação é imprópria por significar etimologicamente a
inflamação de uma glândula (do grego aden = glândula).
Segundo SOBESTIANKI et ali (2007) as linfadenites são enfermidades que consistem na
formação de processos inflamatórios tuberculóides, principalmente, localizados em
linfonodos linfáticos. Podem generalizar-se, atingindo vários órgãos, dependendo do
agente etiológico.
O exame dos nodos linfáticos da carcaça e órgãos é, talvez, o guia mais precioso quanto à
natureza e a extensão dos processos septicêmicos ou toxêmicos no corpo do animal, sendo
também de grande valor no julgamento da carcaça tuberculosa (THORNTON, 1969).
A linfadenite ou inflamação dos nodos linfáticos pode ser aguda ou crônica, manifestandose a afecção aguda por tumefação e edema do nodo linfático, que assim fica mais macio
que o normal e, às vezes, congesto (THORNTON, 1969).
A linfadenite crônica se manifesta pelo desenvolvimento do tecido conjuntivo fibroso no
nodo afetado, que por isso se mostra aumentado e endurecido (THORNTON, 1969).
Alterações no tamanho, cor e consistência dos nodos linfáticos também constituem
indicações valiosas nas afecções septicêmicas agudas ou piogênicas, embora estas
alterações possam estar ausentes se o animal foi abatido em fase inicial da doença
(THORNTON, 1969).
3.3.2. TUBERCULOSE
PACOLA (1998) descreveu que os bovinos apresentam lesões com distribuição
padronizada, onde os granulomas tuberculosos podem ser encontrados em qualquer
linfonodo, mas especialmente no bronquial e mediastinal, e em muitos órgãos, enquanto
que os abscessos miliares podem disseminar-se no pulmão e causar broncopneumonia
supurativa. Referiu também, que o pus tem uma cor característica que vai do creme ao
alaranjado, e a consistência varia de cremosa espessa a caseosa que se esfarela com
facilidade e que pequenos nódulos podem surgir na pleura e peritônio, contendo, também,
pus tuberculoso, mas não são acompanhados pela efusão.
FREITAS et al (2001) afirmou que, embora a tuberculose possa manifestar-se numa
grande variedade de formas de apresentação e que depende da via de infecção e resposta
subseqüente, a forma mais freqüente é aquela que apresenta lesões no pulmão e nos
linfonodos brônquico e mediastínico estando associada então a uma infecção pela via
respiratória. Os resultados do presente estudo comprovaram que esta é a forma mais
freqüente da tuberculose do búfalo, como pode ser observado pela distribuição das lesões
do aparelho respiratório, e totalizaram 60,3% dos casos estudados.
ERRICO et al (1980), examinaram microscopicamente 186 amostras de pulmões de
bovinos de diferentes sexos, idades e raças coletados e diagnosticados macroscopicamente
como tuberculose pelos inspetores veterinários do Uruguai, confirmando apenas 47
amostras como causada pelo Mycobacterium tuberculosis, sendo as demais amostras assim
distribuídas: 41 casos de abscessos, 36 de neoplasia, 31 de actinomicose, 15 de
actinobacilose, 13 de granulomas parasitários e 03 de granulomas micóticos.
3.3.3. BRONQUITE
ESPINASSE (1981) observou que na patologia respiratória de bovinos, numerosas
síndromes dependem das condições impostas aos animais no meio em que vivem. A
relação entre o estresse e a broncopneumonia infecciosa em bovinos jovens, testados 15
dias ou mais antes de entrar em uma estação de engorda apresenta significativamente
menos síndromes respiratórias do que aqueles testados após o transporte e período de
adaptação.
3.3.4. CONGESTÃO
SANTOS (1979) denominou hiperemia ativa ou congestão, sendo observada ora no inicio
dos processos inflamatórios do pulmão ora quando há redução da pressão atmosférica
(animais transportados para locais de grandes altitudes), ora quando efetuam funções de
exsudatos pleurais. O órgão apresentando uma coloração viva, quando seccionados deixa
eliminar quantidades apreciáveis de sangue.
3.3.5. ENFISEMA
Segundo OLIVEIRA et al (2005) relacionaram este dado à “agonia do bovino durante o
abate”.
A má insensibilização provoca um quadro de enfisema agônico, aspiração de sangue e de
conteúdo ruminal para os pulmões. As lesões enfisematosas pulmonares, principalmente
devido ao abate, apresentaram, conforme GOMES et al (1999) maior prevalência em
relação às demais patologias do pulmão. Este processo é caracterizado por um pulmão
firme e pesado, principalmente nos lobos caudais, com áreas multifocais brancas elevadas
(SILVA et al, 2005).
RADOSTITS et al (1994) relatam que o enfisema pulmonar é muitas vezes secundário a
lesões primárias, apresentando uma excessiva acumulação de ar nos alvéolos. É um achado
clinicopatológico comum em muitas doenças pulmonares em muitas espécies e é
caracterizada clinicamente por dispnéia, hiperpnéia, pouca tolerância ao exercício e
expiração forçada.
O pulmão de bovino é altamente susceptível a desenvolver enfisema, devido a inúmeras
causas, não tendo todas uma origem respiratória. É comum encontrar enfisema pulmonar,
quando a lesão primária no pulmão causa aprisionamento do ar nos alvéolos ou
bronquíolos terminais. Uma endotoxemia, por exemplo, pode resultar num dano alveolar
difuso, associado a tromboangite, resultando em edema e enfisema pulmonar. De seguida
apresentamos algumas causas de enfisema pulmonar nos bovinos (RADOSTITS et al,
1994):
- pneumonia intersticial aguda;
- pneumonia parasitária com edema pulmonar na anafilaxia aguda;
- perfuração do pulmão por corpos estranhos como na reticuloperitonite traumática;
- intoxicação por plantas como Senecio quadridentatus, Zieria arborescens, Perilla
frutescens e fungos e;
- abscesso pulmonar.
Segundo BENAZZI et al (1988), o enfisema pulmonar deve ser primeiramente distinguido
em enfisema alveolar, condição peculiar do pulmão devido a uma distensão patológica do
parênquima respiratório e, em enfisema intersticial, condição não exclusiva do pulmão,
devida à infiltração de ar no estroma do órgão e/ou nos vasos linfáticos.
O enfisema alveolar ocorre em todas as espécies e é caracterizado por distensão e ruptura
das paredes alveolares, formando variadas bolhas no parênquima pulmonar (LÓPEZ,
1995).
De acordo co BENAZZI et al (1988), o enfisema alveolar pode ser agudo ou crônico. O
agudo pode ser causado por estenose da laringe e da traquéia por corpos estranhos, choque
anafilático (espasmo bronquial), aspiração de notável quantidade de sangue no decurso de
hemorragia e inalação de gases tóxicos.
O enfisema alveolar agudo é de tipo panlobular, atingindo toda a estrutura parenquimatosa
provocando uma uniforme sobre distensão do lóbulo. É reversível, mas pode passar a
enfisema alveolar crônico, irreversível, se a causa persistir (BENAZZI et al, 1988).
Macroscopicamente, o pulmão aparece volumoso, não colapsa face à abertura do tórax por
causa da sobredistensão; é ligeiramente pálido (menor conteúdo de sangue nos capilares),
crepitando levemente ao toque. Ao exame histopatológico, os alvéolos estão muito
distendidos e com poros de Kohn dilatados, mas mantendo a integridade da parede
(BENAZZI et al, 1988).
No enfisema alveolar crônico, o pulmão apresenta-se volumoso (sobredistensão) com
bordos arredondados, muito pálidos (isquemia) e com diminuição da elasticidade à
palpação. O aspecto histológico revela alvéolos muito distendidos, mas pouco atrofiados;
diversos alvéolos formam um espaço único pela fusão de sacos alveolares contíguos
(BENAZZI et al, 1988).
O enfisema intersticial ocorre frequentemente nos bovinos, presumivelmente porque a
inexistência de ventilação colateral, nesta espécie, não permite que o ar se mova livremente
nas estruturas adjacentes. Como resultado, o ar acumulado força a sua progressão no tecido
conjuntivo, causando uma distensão notável dos septos interlobulares repletos de bolhas de
ar móveis e de diferentes tamanhos (GRACEY, 1989) apresentando-se a lobulação bem
evidenciada (GIL, 2000).
Para THORNTON (1969) o enfisema intersticial é visto principalmente nos pulmões das
vacas velhas e também nos pulmões de bovinos abatidos pelo método judaico e aqueles
muito afetados de bronquite verminótica.
3.3.6. PLEURISIA
A pleurite ou pleurisia pode ser causada por qualquer patógeno que entre na cavidade
pleural, mas freqüentemente é uma extensão da pneumonia (MANUAL MERCK, 1996).
Para THORNTON (1969) a pleurisia nos animais de açougue está geralmente
associada à pneumonia, e é caracterizada, nos casos agudos, pela presença de um exsudato
fibrinoso que, em bovinos, tem a uma aparência de veludo vermelho. A pleurisia aguda em
bovinos pode ser confundida, às vezes, com a “sangria profusa” que ocorre quando a
membrana pleural é puncionada na entrada do peito, durante a sangria; em conseqüência
disso, o sangue entra na cavidade torácica e finalmente seca na pleura parietal,
particularmente ao longo do bordo posterior das costelas.
A pleurisia aguda tende a assumir uma forma crônica, com a produção de aderências
fibrinosas entre a pleura parietal e a superfície pulmonar (THORNTON, 1969).
3.4. FÍGADO
O fígado é um órgão parenquimatoso que desempenha diversas funções importantes para
os animais, tais como síntese de proteínas complexas, gliconeogênese, armazenamento de
triglicerídeos, glicogênio e vitaminas lipossolúveis, conjugação e degradação química de
substâncias tóxicas, síntese e secreção de bile, dentre outras. Por isso mesmo, devido à sua
intensa função metabólica, é susceptível a uma grande variedade de lesões (KELLY, 1995;
KRUININGEN, 1998).
O fígado de bovinos é um órgão comestível amplamente utilizado como fonte protéica na
alimentação humana, principalmente por seu valor econômico diferenciado. Dados da
literatura indicam que o fígado é a víscera que sofre maior número de condenações em
matodouros-frigoríficos, com percentuais que variam entre 3,46 e 21,12% dos bovinos
abatidos (MOREIRA et al, 1999; FAUSTINO et al, 2003).
De acordo com (WILSON et al, 1970), citado por Mendes & PILATI (2007), dentre as
afecções mais freqüentes do fígado, estão: telangiectasia, hepatite, peri-hepatite,
fasciolose, hidatidose e tuberculose.
Em um estudo realizado no Estado do Rio de Janeiro (MELLO, 2000), foi encontrada, uma
taxa de condenação de fígados de 4,73% pelo SIF (Sistema de Inspeção Federal); e de
6,74% pelo SIE (Sistema de Inspeção Estadual).
Dentre as causas mais comuns de condenação do fígado bovino pelos serviços de inspeção
encontram-se: teleangiectasia, abscessos, congestão, hepatite e peri-hepatites, esteatose,
cirrose, fasciolose, hidatidose e tuberculose (LAUZER et al, 1979; MOREIRA et al, 1999;
BOSTELMANN et al, 2000; FAUSTINO et al, 2003; LOCATELLI et al, 2007; MENDES
et al, 2007).
Em um estudo retrospectivo de condenações de fígado de bovino em frigorífico com S.I.F,
no município de Jarú-RO no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2006, realizado por
LOCATELLI et al (2009), obtiveram os seguintes resultados: foram condenados 25.405
fígados de bovinos no referido frigorífico. Entre as condenações, 21,65% (5.500)
corresponderam aos abscessos, 21,73% (5.521) a cirrose, 2,6% (661) a contaminação,
4,3% (1.093) a esteatose, 2,85% (726) a hidatidose, 3,2% (816) a peri-hepatite, 36,45%
(9.259) a teleangiectasia e 5,26% (1.336) corresponderam a congestão.
Em estudo realizado por BAPTISTA e MOREIRA, (1996) sobre as causas de condenação
de fígados bovinos em frigoríficos de Minas Gerais e perdas econômicas associadas no ano
de 1996, em 11 frigoríficos de bovinos de Minas Gerais sujeitos à Inspeção Federal,
disponível em http://www.francisco-epidem.net/wp-content/uploads/2009/06/figadobovino.pdf, foram condenados 50.387 fígados, o que corresponde a 8,33% do total de
fígados inspecionados. A taxa de condenação de fígado bovino, por frigorífico, variou
entre 3,46% e 21,12%. As principais causas de condenação foram a teleangiectasia e as
lesões supuradas, com prevalências de 2,08% e 2,02%, respectivamente e responsáveis por
49,49% dos fígados condenados. A tuberculose foi responsável por apenas 0,027% dos
fígados condenados. Os cistos hepáticos, registrados como hidatidose, foram a sexta maior
causa de condenação com 4,65% das condenações
3.4.1. ABSCESSOS
Os abscessos hepáticos resultam da entrada, crescimento e colonização de bactérias
piogénicas (NAGARAJA e LECHTENBERG, 2007). As bactérias podem chegar ao fígado
por diversas vias, como a veia porta, a veia umbilical (recém-nascidos), a artéria hepática
(em caso de bacteremia), infecção ascendente do sistema biliar, migração parasitária
(CULLEN, 2007). Podem ainda resultar de perfuração por corpo estranho vindo do retículo
ou de invasão direta da cápsula por lesão supurada de reticulite traumática, simples ou
múltipla, mas em ambos os casos distribuem-se preferencialmente pelo lobo esquerdo
(STALKER e HAYES, 2007).
Em animais de engorda o acesso de bactérias via veia porta é de longe o mais comum, uma
vez que este vaso sanguíneo transporta grandes quantidades de sangue proveniente do trato
intestinal, o que só por si é uma fonte de bactérias. Os abscessos hepáticos podem ocorrer
em todas as idades e em vários tipos de bovinos, como as vacas leiteiras, embora nos
bovinos de engorda intensiva constituam um problema econômico importante
(NAGARAJA e LECHTENBERG, 2007).
Os abscessos hepáticos representam prejuízos econômicos para os produtores de animais,
circuitos comerciais e consumidor final. O fígado por si só representa apenas uma perda,
mas, em se pensar que devido aos abscessos os animais passam a comer menos, reduzem o
ganho médio diário e decresce a eficiência de conversão alimentar, reduzindo a
performance de produção e, consequentemente, o rendimento da carcaça, então os
prejuízos são realmente grandes (NAGARAJA e LECHTENBERG, 2007).
Normalmente, os abscessos hepáticos só são diagnosticados em matadouro, quando da
inspeção post mortem, mas quando numerosos podem ser fatais para o animal após alguns
dias de indigestão vagal. As seqüelas dos abscessos hepáticos para um animal variam. Na
maior parte das vezes eles são assintomáticos. Ocorre com frequência a reabsorção da
infecção, com cura ou encapsulamento. Os abscessos mais superficiais podem desencadear
ligações fibrosas com vísceras adjacentes. Raramente um abscesso perfura a cápsula, mas é
comum invadir as veias hepáticas, o que pode desencadear tromboflebite na veia cava,
endocardite, embolismo ou abscessos pulmonares (desfecho fatal). Nos animais adultos a
morte pode ser desencadeada se os abscessos hepáticos forem múltiplos, recentes, capazes
de desencadear uma toxemia (STALKER e HAYES, 2007).
É preconizado que, nos casos de lesões extensas a condenação da víscera seja total e, nos
casos de lesões focais, que haja condenação parcial com remoção apenas das porções
acometidas. LOCATELLI et al (2007) verificaram que os abscessos hepáticos levaram à
condenação de 21,73% dos 25.405 fígados condenados avaliados em seu estudo. Um
número igualmente elevado de abscedação hepática como causa de descarte foi observado
por MENDES et al (2007), que verificaram um percentual de 18% dessa alteração dentre
167 fígados condenados.
A patogenia da trombose da veia cava caudal em bovinos inicia-se na maioria das vezes,
em decorrência de processos inflamatórios que acometem os pré-estômagos ou o abomaso,
especialmente rumenites e lesões ulcerativas, que favorecem as bactérias à alcançarem o
sistema porta, desencadeando, com isso, a formação de abscessos no fígado (NAGARAJA
et al, 1998; REBHUN, 2000).
3.4.2. CIRROSE
O termo cirrose hepática pode ser definido como uma doença crônica caracterizada por
fibrose intensa associada à regeneração, que provoca distorção da arquitetura normal do
órgão. É uma condição patológica que possui causas variadas, tais como: insultos tóxicos,
processos degenerativos ou inflamatórios, congestão crônica, obstruções biliares, dentre
outras. Os órgãos afetados apresentam-se diminuídos de volume, com consistência mais
firme, superfície irregular associada á presença de nódulos de tamanhos variados, que lhes
confere um aspecto repugnante (KELLY, 1995; JONES et al, 2000). LOCATELLI et al
(2007) detectaram cirrose em 661/25.405 (2,6%) dos fígados bovinos condenados em
frigorífico no município de Jarú, estado de Rondônia no período compreendido entre 2004
e 2006.
3.4.3. ESTEATOSE
Esteatose hepática é o termo utilizado para descrever uma acumulação de lipídios nos
hepatócitos superior à que seria de esperar neste órgão. Esta definição pode incluir
exemplos de acumulação lipídica hepatocelular que é mais ou menos fisiológica como seja
na gestação tardia ou no pico da lactação em ruminantes. Nestes animais, o estresse
nutricional pode conduzir a cetose clínica, mas animais clinicamente normais podem ter
fígados com esteatose (KELLY, 1993).
Pequenos depósitos de gordura, usualmente numa posição periportal e justasinusóidal,
podem ser encontrados normalmente no fígado (KELLY, 1993).
Em casos pouco severos o fígado pode ter um tamanho normal ou reduzido, mas não se
apresenta aumentado. O fígado apresenta-se amarelado, especialmente nas porções
adjacentes às vênulas hepáticas, mas a cor pode não ser realmente evidente, exceto nas
áreas isquêmicas devido à pressão de uma víscera adjacente. Na superfície a arquitetura é
obscura embora, se existe necrose, as veias hepáticas possam estar proeminentes e
rodeadas por um halo amarelo. A consistência é mais branda do que o normal (KELLY,
1993).
A acumulação de gordura presente nos estádios iniciais da degenerescência é usualmente
muito maior do que pode ser apreciado microscopicamente. A gordura acumula-se em
pequenos glóbulos no citoplasma que têm tendência a fundir-se. O núcleo não está
deslocado, mas pode estar distorcido. Mudanças na gordura é o resultado de lesão celular
aguda, que pode ser produzida por toxinas e anóxia aguda (KELLY, 1993).
Nestes casos usualmente não é fatal a menos que seja acompanhada por outra doença fatal
como uma mastite hiper-aguda. O grau de infiltração gorda, nestes casos é muito menos
óbvio (RADOSTITS et al, 1994).
Nos casos graves, o fígado está muito aumentado, amarelo pálido, friável e untuoso. As
alterações histopatológicas incluem o aparecimento de células gordas ou lipogranulomas,
hepatócitos aumentados, compressão dos sinusóides hepáticos, uma diminuição do volume
do retículo endoplasmático rugoso e evidências de dano mitocondrial. As duas últimas
alterações refletem-se na redução dos níveis de albumina e aumento da atividade das
enzimas hepáticas no sangue (RADOSTITS et al, 1994).
A esteatose hepática ou fígado gorduroso é um distúrbio de natureza degenerativa no qual
ocorre acúmulo intracelular anormal de gorduras neutras nos hepatócitos, de etiologia
variada (KELLY, 1995; KRUININGEN, 1998; JONES et al, 2000). Quando o acúmulo é
intenso, o órgão afetado mostra-se com consistência friável e de coloração amarelada
constituindo causa de condenação. A esteatose foi responsável pela condenação de fígados
bovinos em 2,85% (726/25.405) e 4,2% (7/167) em trabalhos realizados por LOCATELLI
et al. (2007) e MENDES et al. (2007), respectivamente.
3.4.4. PARASITOSE
Conforme observações pessoais, todos os relatos de parasitoses detectados nos fígados
durante a inspeção em Marabá consideraram como tais as formações arredondadas, de
pequenos nódulos atingidos de calcificações distróficas, não sendo relatadas presenças de
helmintos íntegros; de alguma forma considerou-se parasitoses inespecíficas.
A migração dos parasitas imaturos no fígado provoca hemorragias e necrose tecidual, as
quais são visíveis como áreas avermelhadas ou brancacentas com disposição linear.
Posteriormente, ocorre reparação tecidual com cicatrização e estas áreas adquirem
coloração brancacenta. Além de causar grandes prejuízos econômicos pela mortalidade dos
animais e descarte de fígados nos abates, a fasciolose também tem importância em termos
de saúde pública, uma vez que é considerada uma zoonose (BOSLTELMANN et al, 2000).
3.4.5. PERIEPATITE
Conforme
disponível
em
http://www.uff.br/higieneveterinaria/teses/raimundoalberto.pdf, em um estudo morfológico
de alterações hepáticas em bubalinos (Bubalus bubalis) batidos para consumo em Belém –
Pará com ênfase à peri-hepatite e realizado por GOMES (2010), de um total de 6.393
fígados condenados entre 1990/94, por causas diversas (abscessos, cirrose, hidatidose,
telangiectasia, tuberculose, contaminação e outras causas), a peri-hepatite apareceu em
5.055 casos.
3.4.6. TELEANGECTASIA
Telangiectasia hepática caracteriza-se por uma marcada dilatação dos sinusóides em áreas
onde os hepatócitos foram destruídos. É particularmente comum em bovinos e
aparentemente não tem significado clínico (MACLACHLAN e CULLEN, 1995).
Ao exame macroscópico de um fígado com telangiectasia, a superfície hepática apresentase irregular (KELLY, 1993), devido à existência de múltiplas áreas deprimidas (GIL,
2000) de dimensões variáveis, bem delimitadas (circunscritas) (KELLY, 1993) e de cor
violácea (ou vermelha escura). Ao corte o parênquima hepático revela o mesmo tipo de
lesões na profundidade do órgão (GIL, 2000 e DHAME, 1989).
Microscopicamente os hepatócitos estão distorcidos e os sinusóides congestionados. Foi
proposto que seja causada por isquemia secundária a êmbolos ou outras patologias
vasculares incluindo parte da circulação portal a qual supre 60% a 80% do oxigênio
hepático. Não são visíveis sinais clínicos, mas esta condição resulta numa reprovação de
1,7% a 2,1% dos fígados de bovinos abatidos (SMITH e MURRAY, 1996).
Em um estudo sobre Anatomopatologias em fígados de bovinos de interesse para inspeção
sanitária, de acordo com ROCCO (2005), disponível em
http://www.uff.br/higieneveterinaria/te ses/fernandaroccoresumomestrado.pdf, no período
de maio de 2004 a fevereiro de 2005, em matadouro-frigorífico de bovinos localizado no
Estado de Mato Grosso, sob Serviço de Inspeção Estadual (SIE), foram inspecionados
30.605 bovinos, destes 1.746 (5,7%) fígados foram condenados pela inspeção sanitária,
durante a rotina de inspeção “post-mortem” por apresentarem alterações ou lesões
hepáticas. Foram coletadas 197 amostras de fígados bovinos que foram examinadas
macroscopicamente, e posteriormente fixadas em solução de formalina a 10%, sendo
submetidas ao diagnóstico histopatológico. Os macrófagos espumosos foram somente
observados pelo exame microscópico. A peri-hepatite (18,78%), a telangiectasia (15,74%),
os macrófagos espumosos (12,7%) e a congestão (11,17%) foram as lesões encontradas
com maior freqüência. Algumas patologias resultaram em erro de diagnóstico
macroscópico quando comparadas aos resultados histopatológicos obtidos.
3.5. CORAÇÃO
As moléstias inflamatórias do miocárdio comumente são infecciosas. Contudo, existem
relatos cuja patogênese permanece obscura, como por exemplo, áreas focais de miocardite,
necrose e fibrose do miocárdio, que são observadas, com certa freqüência, particularmente
em animais idosos. Ocasionalmente são observadas cicatrizes de tecido fibroso, que são
interpretadas como sendo procedentes de um abscesso ou lesão parasitária curada (JONES
et al, 2000).
3.5.1. ENDOCARDITES
A endocardite resulta usualmente de infecções bacterianos, exceto pelas lesões produzidas
por migrações de larvas de Strongylus vulgaris em equinos e, em circunstâncias
ocasionais, por infecções micóticas (CARLTON, 1998).
Segundo CARLTON et al (1998), a patogenia da endocardite é complexa e, na maioria das
vezes, incompletamente entendida. Animais afetados geralmente tiveram infecções extra
cardíaca que resultaram em um ou mais episódios de bacteremia.
A destruição do revestimento endotelial, nas válvulas normalmente avasculares, permite a
aderência e a proliferação de bactérias e o início da reação inflamatória, com subseqüente
deposição de massas de fibrinas. Microrganismos frequentemente recuperados das lesões
são Actinomyces pyogenes em bovinos e Streptococcus spp e Erysipelothrix
rhusiopathiae em suínos (CARLTON, 1998).
Alterações valvulares cardíacas ocorrem em bovinos como conseqüência de endocardites
bacterianas, dilatação, más formações, calcificações ou tumores do coração (TYLER et al,
1991; ANDREWS et al, 2004; DIRKSEN et al., 2005;).
As alterações trombóticas verrucosas ou ulcerosas do endocárdio causam estenose e/ou
insuficiência de uma ou várias válvulas cardíacas, levando à insuficiência cardíaca com
congestão de veias, pulmões, rins, fígado e por ser produzida por diversos agentes
bacterianos, causa ainda, infecções tromboembólicas-metastáticas em outros órgãos
(TYLER et al, 1991; DIRKSEN et al, 2005).
A endocardite valvular ulcerativa, devido aos estreptococos ou ao Corynebacterium
pyogenes é observada às vezes em bovinos e pode determinar a produção de êmbolos
sépticos e abscessos metastáticos, que são encontrados no rim (THORNTON, 1969).
3.5.2. PERICARDITES
A pericardite é uma inflamação do pericárdio (associada a uma insuficiência cardíaca
congestiva) com acumulação de líquidos no saco pericárdico e exsudação que origina
obliteração e adesões restritivas do coração (RADOSTITS et al, 1994).
As lesões do pericárdio podem estar associadas a lesões noutras porções do coração ou dos
tecidos adjacentes ou associadas a doenças sistêmicas, sendo pouco comum uma afecção
do pericárdio isolada (COTRAN et al, 1999).
Em bovinos a pericardite de origem traumática é freqüente, embora ocorra em menos de
10% dos animais com retículoperitonitetraumática. A maioria dos bovinos é afetada no
final da gestação ou no período puerperal (REEF e MCGUIRK, 1996).
A pericardite fibrinosa é a causa mais comum de inflamação do pericárdio nos animais
resultando de uma infecção por via hematógena. As doenças específicas com este tipo de
lesão em bovinos incluem Pasteurelose, septicemia por coliformes, encefalomielite
esporádica bovina entre outras (VAN VLEET e FERRANS, 1995).
Em estádios iniciais observa-se a serosa do pericárdio hiperêmica com depósitos de
fibrina. Por vezes, detecta-se uma acumulação de fluido turvo e fragmentos de fibrinas
presentes no epicárdio e pericárdio espessados. Pode existir gás e o fluido pode ter um
odor pútrido, se estiverem presentes Fusobacterium necrophorum e Actinomyces
pyogenes (RADOSTITS et al, 1994).
Na pericardite fibrinosa a superfície do coração encontra-se recoberta por material
fibrinoso, de consistência branda e coloração amarela. Na pericardite fibrino-hemorrágica
o pericárdio visceral está afetado por uma inflamação aguda exsudativa (GIL, 2000).
Quando a pericardite se encontra numa fase crônica, os folhetos visceral e parietal do
pericárdio encontram-se parcial ou totalmente aderentes (RADOSTITS et al, 1994).
Podem encontrar-se lesões associadas, nomeadamente efusão pleural e ainda congestão
passiva crônica do fígado, edema e congestão pulmonar devido a insuficiência cardíaca
congestiva (REEF e MCGUIRK, 1996).
Os exames histopatológicos revelam fibrose do pericárdio, epicárdio e, ocasionalmente do
miocárdio. Além disto, também se encontra inflamação com a presença de neutrófilos,
linfócitos, eosinófilos ou infiltrações de células plasmáticas. Podem ainda ser visualizadas
bactérias (REEF e MCGUIRK, 1996).
3.6. RINS
Segundo BORDIN (1992), a análise do rim é muito importante. Vale registrar que certas
doenças de caráter tóxico-septicêmico comumente causam lesões ao rim, de sorte que a sua
correta interpretação, em conjunto com a de outros órgãos, auxiliam no diagnóstico. MAIA
(1988) observou poucos, mas significativos erros de interpretação das lesões renais por
parte do pessoal encarregado das tarefas.
De acordo com um Estudo morfológico de rins de bovinos abatidos em frigoríficos
industriais sob inspeção estadual no Oeste e Planalto Catarinense, Brasil, realizado por
MENDES et al (2009), disponível em
http://www.revistas.ufg.br/index.php/vet/article/view File/3292/4595, desenvolvido em
rins condenados e não-condenados de bovinos durante inspeção de rotina em frigoríficos
comerciais com o objetivo de estabelecer as principais causas de condenação pelo Serviço
de Inspeção Estadual (SIE) , obteve-se o seguinte resultado: Existem incongruências na
rotina de inspeção de carnes do Serviço de Inspeção Estadual (SIE), pois alterações
microscópicas observadas em 34,19% dos rins não-condenados não foram detectadas pelo
exame macroscópico e órgãos com lesão foram liberados para consumo humano, assim
como 3,42% dos rins condenados foram rejeitados desnecessariamente, causando perdas
econômicas.
3.6.1. NEFRITES
Os processos inflamatórios que atingem os rins são designados por nefrites (SANTOS,
1986).
Rim manchado de branco ou nefrite fibroplástica, é encontrado às vezes em bezerros
jovens e é atribuído ao retardo do desenvolvimento embrionário do rim ou à infecção pela
Brucella abortus. (THORNTON, 1969).
A nefrite intersticial é raramente reconhecida como causa de doença clínica nos
animais, embora seja um achado post-mortem freqüente em algumas espécies. A nefrite
intersticial pode ser difusa ou ter uma distribuição focal. Nos bovinos, a nefrite intersticial
focal (rim das máculas brancas) ocorre como seqüela de bacteremia. É um achado comum
na necropsia, mas não é causa de doença do trato urinário (RADOSTITS et al, 1994).
Segundo estudo feito por SANTOS (1983), disponível em http://www.uff.br/
higieneveterinaria/teses/agnaldosantos.pdf, as lesões que mais comumente ocorrem em
bovinos abatidos para o consumo, em matadouro frigorífico com Inspeção Federal, são:
Em um total de 10.686 bovinos, na maioria machos com idade variando entre 2 e 4 anos e
meio e as fêmeas geralmente com mais de 5 anos, 139 eram portadores de lesões renais,
representando o percentual de 1,3%. As lesões mais comumente observadas foram: nefrite
intersticial, glomerulonefrite, hiperemia, cisto de retenção, cisto urinário, hidronefrose,
hidatidose, degeneração tubular e calcificação, abscesso, infarto renal, rim policístico,
neoplasia, pigmentos, pielonefrite e tuberculose renal.
O diagnóstico feito na sala de matança é falho, sendo muitas lesões erroneamente
diagnosticadas. A técnica de abate, apesar de haver uma padronização, varia de
estabelecimento para estabelecimento. O exame do rim e deficiente, com relação a técnica
adotada por outros países e, às vezes, é executado por pessoas não devidamente
autorizadas ou treinadas, segundo SANTOS (1983), conforme disponível em
http://www.uff.br/higieneveterinaria/teses/agnaldo santos.pdf.
Em um estudo realizado por SALGADO et al (2004), sobre a ocorrência de
condenações e aproveitamento condicional no abate de bovinos em um matadouro
frigorífico
no
Estado
de
São
Paulo,
disponível
em
http://tapajo.unipar.br/site/ensino/pesquisa/publicacoes/revistas/revis/view
03.php?ar_id=1665, através de um acompanhamento das atividades da Inspeção Federal
junto às linhas de inspeção e no Departamento de Inspeção Final, em um matadouro–
frigorífico de bovinos, SIF 337 no mês de maio de 2004, onde no período foram abatidos
cerca de 1200 animais/dia, oriundos em sua maioria, do próprio Estado, obtiveram-se, os
seguintes resultados em relação aos rins e pulmões: a maior freqüência de condenações de
vísceras ocorreu nos rins, com 38,91% das vísceras condenadas, sendo deste um total de
63,0% devido à nefrite. Pulmões a principal causa de condenação foi o enfisema pulmonar,
com 78,06% dos casos e contaminação em geral das vísceras.
3.6.2. QUISTOS URINÁRIOS
Na maioria dos casos, o rim cístico é um achado de necropsia ou abatedouro, uma vez que
não há manifestação clínica (COELHO, 2002).
A patogenia dos cistos congênitos em rins de animais domésticos já foi estudada (MAXIE,
1993). NIEBERLE e COHRS (1970) citam três possíveis origens, com causas em lesões
obstrutivas por doença renal, alterações no crescimento do epitélio tubular e alterações de
causa desconhecida com a formação de saculações e cistos. Entretanto, tem sido sugerido
que durante o desenvolvimento do metanéfron o túbulo renal secretor desenvolvido do
blastema falha, quando se conecta com os túbulos coletores em crescimento, o que resulta
em dilatação cística dos túbulos renais, porque a urina formada na parte secretora não pode
ser eliminada. Segundo DUMM (2006), a ocorrência de cistos renais está relacionada à
não-conexão de néfrons aos túbulos coletores. Assim, a urina não pode ser eliminada,
levando à dilatação e formação de cistos.
4. MATERIAL E MÉTODOLOGIA
4.1. MATERIAL
O material utilizado constituiu-se nas analises de 150 planilhas de condenações de vísceras
de 17.347 bovinos e 70 bubalinos abatidos, de acordo com suas respectivas linhas de
inspeção no matadouro sob Serviço de Inspeção Municipal em Marabá – Pará, durante o
período de Maio a Setembro de 2007.
A inspeção sanitária referentes às linhas de inspeção foi realizada por auxiliares de
inspeção e por Médicos Veterinários do Serviço de Inspeção Municipal de Marabá, sendo
os critérios de condenações, bem como os exames ante e post-mortem realizados conforme
preconiza o Decreto nº 30.691 de 29/03/52 – RIISPOA (Regulamento de Inspeção
Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal) e da Lei nº 1.283 de 18/12/50.
4.2. METODOLOGIA
4.2.1. COLHEITA DE MATERIAL
A colheita de material baseou-se na compilação e obtenção de dados provenientes das
planilhas de condenações de vísceras e análise nas linhas de inspeção no período em que o
autor esteve como responsável pelo Serviço de Inspeção Municipal no único
estabelecimento de abate de bovinos sob tal Serviço.
As planilhas de condenações informavam o quantitativo de vísceras condenadas durante o
período de maio a setembro de 2007 onde foram abatidos 17.347 bovinos, sendo destes,
192(1,11%) machos e 17.155 (98,89%) fêmeas (Gráfico 1), bem como 70 bubalinos,
69(98,57%) machos e 01 (1,43%) fêmea (Gráfico 2).
As condenações basearam-se nas apresentações anatomopatológicas macroscópica das
vísceras e critérios de avaliação dos nódulos linfáticos durante as análises nas linhas de
inspeção, nenhuma sob critério laboratorial, sendo a Inspeção realizada por 09 (nove)
Auxiliares de Inspeção sob responsabilidade de 02 (dois) Médicos Veterinários.
Os bovinos abatidos possuíam origens do município de Marabá e de outros municípios
próximos como: São Domingos do Araguaia, São João do Araguaia e Itupiranga.
O estabelecimento de abate possuía 35 funcionários e horário de abate ocorrendo de
segunda a sábado, sendo das 15:00h às 20:00h durante a semana e iniciando-se às 14:00
com término em torno das 22:00h.
Fêmeas
17.155
98,89%
Machos
192
1,11%
Fonte: Planilha de Condenações de Vísceras/S.I.M, 2007.
Gráfico 1 Número e frequência de bovinos abatidos no período de maio a setembro de
2007 no matadouro sob serviço de inspeção municipal em Marabá
Machos
69
98,57%
Fêmeas
01
1,43%
Fonte: Planilha de Condenações de Vísceras/S.I.M, 2007.
Gráfico 2 Número e frequência de bubalinos abatidos no período de maio a setembro de
2007 no matadouro sob serviço de inspeção municipal em Marabá
4.2.2. CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES/CONDENAÇÕES POR VÍSCERA
A classificação das lesões e condenações das vísceras está descrita conforme o Gráfico 3 e
seque o sistema a seguir:
a) Coração: Endocardites, contaminação e pericardite;
b) Pulmões: Adenite, aspiração de sangue, aspiração ruminal, bronquite, congestão,
contaminação, enfisema, hidatidose e pleurisia;
c) Fígados: Abscessos, cirrose, contaminação, esteatose, hidatidose, parasitose, periepatite
e teleangectasia e;
d) Rins: Nefrite, contaminação e quisto urinário.
4.2.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA
A análise estatística baseou-se na freqüência com que as causas de lesões e condenações
surgiram no período do levantamento dos dados (Gráfico 3), de acordo com cada linha de
inspeção.
Considerou-se no estudo a título de conhecimento as demais condenações de animais
inteiros e quartos de animais.
As condenações de vísceras por brucelose não estão inseridas nas figuras de lesões e
condenações em virtude das mesmas não terem sido condenadas por apresentarem
alterações macroscópicas e sim por serem provenientes de animais que apresentavam lesão
sugestiva no ligamento cervical (bursite).
No período em questão foram condenados 07 (sete) bovinos com brucelose, 03 (três) com
tuberculose e 01 (um) com lesões sugestivas de ambas as doenças (Gráfico 4).
Dois bovinos também foram condenados por apresentarem tumores típicos de malignidade
na região torácica e dois com infecção generalizada, sendo considerados apenas os achados
macroscópicos das lesões.
Observou-se durante o período estudado: 07 (sete) condenações de quartos dianteiros e 01
(um) traseiro por traumas, contusões e lesões.
5. RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS
De acordo com os dados obtidos têm-se os seguintes Gráficos informativos de causas de
condenações:
Rins; 4.002;
44,96%
Pulmões; 3.349;
37,62%
Fígado; 1.433;
16,10%
Coração; 117;
1,31%
Fonte: Planilha de Condenações de Vísceras/S.I.M, 2007.
Gráfico 3 Causa, número e frequência de vísceras vermelhas condenadas no matadouro
sob inspeção municipal em Marabá, no período de maio a setembro de 2007.
De acordo com o Gráfico 3, em relação às causas de condenações de vísceras vermelhas
observou uma incidência de 44,96% de rins do total de 8.901 peças, em relação às demais
causas.
Nº de condenações
Brucelose
Tuberculos
e
Brucelose
e
Tuberculos
e
Tumores
na região
torácica
Tumores
generaliza
dos
7
3
1
2
1
Quarto
Quarto
dianteiro:
traseiro:
traumas,
traumas,
contusos e contusos e
lesões
lesões
7
1
Fonte: Planilha de Condenações de Vísceras/S.I.M, 2007.
Gráfico 4 Causa e número de condenações ocorridas no período de maio a setembro de
2007 no matadouro sob serviço de inspeção municipal em Marabá
No Gráfico 4 encontram-se registrados nas cinco primeiras barras verticais o
número e causas de condenações totais, sendo as demais, referentes às condenações
parciais de quartos dianteiros e traseiros.
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
A
Figura 1 Pulmão com lesões de tuberculose
B
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
A
Figura 2 Pulmão com lesões de tuberculose. Visão ampliada da figura anterior
B
Pericardite; 117;
69,64%
Contaminação;
30; 17,86%
Endocardite; 21;
12,50%
Fonte: Planilha de Condenações de Vísceras/S.I.M, 2007.
Gráfico 5 Causa, número e frequência de causas aparentes de condenações em coração de
bovinos abatidos no matadouro sob inspeção municipal em Marabá, no período
de maio a setembro de 2007.
No Gráfico 5, em relação às causas de condenações em coração observou-se uma
incidência de 69,64% de pericardites do total de 168 peças, em relação às demais causas,
equivalendo a 0,67% do total abatido.
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 3 Endocardite valvular.
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 4 Endocardite valvular. Visão ampliada da figura anterior.
A
B
B
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 5 Pericardite e abscesso provocados por reticulo pericardite traumática.
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 6 Abscesso aberto da Figura 10. Não houve lesão interna do coração.
Enfisema; 2.060;
61,51%
Contaminação;
211; 6,30%
Congestão; 231;
6,90%
Bronquite; 198;
5,91%
Asp. Ruminal;
324; 9,67%
Asp. Sangue;
193; 5,76%
Hidatidose; 45;
1,34%
Adenite; 15;
0,45%
Pleurisia; 72
2,15%
Fonte: Planilha de Condenações de Vísceras/S.I.M., 2007.
Gráfico 6 Causa, número e frequência de casos de condenações de pulmões de bovinos
abatidos no matadouro sob inspeção municipal em Marabá, no período de maio
a setembro de 2007.
Conforme indicado no Gráfico 6, das causas de condenações de pulmões têm-se enfisema
com 61,51%, aspiração ruminal 9,67% e congestão com 6,90%, respectivamente em
relação às causas de condenações verificadas.
O enfisema foi a maior causa de condenação de pulmões, sugerindo ser conseqüência
típica do processo de abate, seguido de aspiração ruminal e congestão, todos resultados de
manejo inadequado no ato da insensibilização e sangria.
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 7 Pulmão apresentando congestão por ocasião do abate
Fonte: http://www.ufsm.br/lpv/aulas/II%20ENDIVET/endivet-palestra_3.pdf. Acervo de: Barros, C. 1,
Daniel Rissi1 e Raquel Rech2: 1Universidade Federal de Santa Maria & 2The University of Georgia
Figura 8 Aspectos macroscópicos da aspiração de sangue em pulmão.
Fonte: http://www.ufsm.br/lpv/aulas/II%20ENDIVET/endivet-palestra_3.pdf. Acervo de: Barros, C. 1,
Daniel Rissi1 e Raquel Rech2: 1Universidade Federal de Santa Maria & 2The University of Georgia
Figura 9 Aspectos macroscópicos da Aspiração de conteúdo ruminal em pulmão.
Fonte: http://www.ufsm.br/lpv/aulas/II%20ENDIVET/endivet-palestra_3.pdf . Acervo de: Barros, C. 1,
Daniel Rissi1 e Raquel Rech2: 1Universidade Federal de Santa Maria & 2The University of Georgia
Figura 10 Presença de Cistos multifocais em bordo de pulmão.
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 11 Suspeita de broncopenumonia
Fonte: http://www.mgar.com.br/clinicabuiatrica/aspRespiratorio.asp
Figura 12 Pulmão com Congestão
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 13 Enfisema pulmonar em decorrência do abate, mostrando distensão do enfisema
e áreas de congestão.
B
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 14 Secção de Pulmão com Enfisema, mostrando a congestão associada.
Fonte: http://www.fmv.utl.pt/atlas/ap_resp/resp_019.htm.
Figura 15 Enfisema alveolar
A
Fonte: http://www.fmv.utl.pt/atlas/ap_resp/resp_017.htm
Figura 16 Enfisema intersticial
A
Abscessos; 72;
5,02%
Teleangectasia;
643; 44,87%
Cirrose; 56; 3,91%
Contaminação;
95; 6,63%
Periepatite; 184;
12,84%
Hidatidose;
61; 4,26%
Esteatose; 291;
20,31%
Parasitose; 31;
2,16%
Fonte: Planilha de Condenações de Vísceras/S.I.M., 2007.
Gráfico 7 Causa, número e frequência de casos de condenações de fígados de bovinos
abatidos no matadouro sob inspeção municipal em Marabá, no período de maio
a setembro de 2007.
Observa-se no Gráfico 7, significativas condenações de fígados por teleangectasia,
representadas por 44,87% e as esteatoses com 20,31% dos casos encontrados.
Fonte: http://www.ufsm.br/lpv/aulas/II%20ENDIVET/endivet-palestra_3.pdf: Barros, C. 1, Daniel Rissi1 e
Raquel Rech21Universidade Federal de Santa Maria & 2The University of Georgia.
Figura 17 Abscesso hepático
Fonte: Arquivo pessoal de COELHO, H.E. – Patologia Veterinária, 2006.
Figura 18 Cirrose hepática
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 19 Esteatose hepática
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 20 Teleangectasia mostrando aumento de volume e distensão do órgão
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 21 Teleangectasia com incisão mostrando extensas áreas congestas.
Nefrites;
671;
16,77%
Quisto urinário;
2.860;
71,46%
Contaminações;
471;
11,77%
Fonte: Planilha de Condenações de Vísceras/S.I.M., 2007.
Gráfico 8 Causa, número e frequência de casos de condenações de rins de bovinos
abatidos no matadouro sob inspeção municipal em Marabá, no período de maio
a setembro de 2007.
Conforme os dados do Gráfico 8 têm-se os rins com 71,46% das causas de
condenações por ocasião dos quistos urinários seguido de 16,77% em decorrência de
nefrites.
Por ser um órgão par, a amostra tem um número significante de condenações, as
quais podem ser apenas individuais e quantificadas da mesma forma em papeletas de
inspeção.
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 22 Nefrite. No rim ao meio e à direita são observadas áreas esbranquiçadas de
tamanhos distintos e em inúmeros lobos. Á esquerda rim normal.
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 23
Nefrite.
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 24 Nefrite. Incisão mostrando área da cortical atingida
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 25 Quisto urinários.
A
B
Fonte: Arquivo pessoal de SILVA, N., 2007.
Figura 26 Quisto urinários. Visão do hilo renal
A
B
Rins; 471;
58,36%
Pulmões; 211;
26,15%
Fígado; 95;
11,77%
Coração; 30;
3,72%
Fonte: Planilha de Condenações de Vísceras/S.I.M., 2007.
Gráfico 9 Causa, número e frequência de casos de condenações de vísceras vermelhas por
contaminação, em bovinos abatidos no matadouro sob inspeção municipal em
Marabá, no período de maio a setembro de 2007.
Conforme os dados do Gráfico 9 têm-se os rins com 58,36% das causas de
condenações por ocasião das contaminações, seguido dos pulmões com 26,15%, sendo o
total de condenações por contaminação correspondendo a 4,65% dos 17.347 bovinos
abatidos.
Por ser um órgão par, a amostra de rins tem um número significante de
condenações, as quais podem ser apenas individuais e quantificadas da mesma forma em
papeletas de inspeção.
6. CONCLUSÕES
Considerando-se a analise dos dados, as causas de condenações de vísceras
vermelhas no estabelecimento sob Inspeção Municipal em Marabá-PA, no período de Maio
a Setembro de 2007, foram em Coração: as endocardites, pericardites e contaminações;
Pulmões: enfisema, aspiração ruminal, congestão, contaminação, bronquites, aspiração de
sangue, pleurisia, e hidatidose; Fígado: teleangectasia, esteatose, periepatite, contaminação,
hidatidose, abscessos, cirrose e parasitose; Rins: quistos urinários, nefrites e
contaminações. A freqüência encontrada de condenações foi de 44,96% de rins, 37,62% de
pulmões, 16,10% de fígados e 1,31% de corações, observando-se que cerca de 4,65% das
condenações correspondem às contaminações e que as tecnopatias de abate, representadas
neste trabalho pelas contaminações ocorrentes no estabelecimento de abate têm sido
elevadas e as perdas econômicas significativas. Notou-se que o matadouro, por possuir
apenas o Serviço de Inspeção Municipal, sendo assim limitado ao comercio das carnes e
vísceras apenas no município sob análise, possui gado abatido de baixo valor em
contrapartida do estabelecimento com SIF em Marabá. Já a constante rotatividade dos
funcionarios do matadouro (magarefes) tem representado fator predisponente para
aumentar os prejuijos em decorrencia da pouca habilidade, manejo de abate inadequado e
ausência de boas práticas de fabricação durante o processo de abate, sendo este último,
geralmente ausente em matadouros sob Serviço de Inspeção Municipal. Considera-se que
haja equívocos na detecção precisa de patologias por parte da inspeção, algo presente em
muitos estabelecimentos de abate de bovinos.
7. COSIDERAÇÕES FINAIS
O estabelecimento referido no estudo recebia principalmente animais de descarte
como no caso as fêmeas, o que explica o maior número destas no abate, sendo as principais
causas de condenações de vísceras estando no rol das patologias comumente conhecidas,
não apresentando doenças de grande importância epidemiológica para a região no período
avaliado, tampouco alterações raras.
O quadro de patologia encontrado representa o primeiro panorama em termos de
resultados relacionados à Inspeção Municipal em Marabá o que confere a relevância da
inspeção uma vez que é significativo o número de municípios no Estado do Pará que
fornecem carnes e vísceras provenientes de abate clandestino.
O manejo inadequado nas propriedades de origem dos animais, associado ao fato de
muitas patologias detectadas não apresentarem sintomatologia clinica visível que acuse um
menor rendimento do animal, reflete em muitas condenações de vísceras, sendo inerente
ressaltar que a maioria dos bovinos abatidos no matadouro em estudo possui origem de
propriedades do município de Marabá, sendo poucos os que advêm de municípios
próximos, os quais não dispõem de abatedouro sob inspeção.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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