Documento de Estratégia para o País II da Cooperação para o Desenvolvimento entre o Governo de Moçambique e o Governo da Flandres 2011-2015 Índice Índice ................................................................................................................................2 Lista de siglas e abreviacões ...............................................................................................4 I. Análise contextual: Moçambique em 2010 ......................................................................7 1. Contexto geral ................................................................................................................ 7 1.1. Geografia ................................................................................................................. 7 1.2. Divisão Administrativa ............................................................................................ 8 2. Contexto político e desenvolvimento ............................................................................ 8 3. Situação económica: progressos significativos, mas desafios ainda maiores… .......... 10 3.1. Evolução macroeconómica ................................................................................... 10 3.2. Economia Nacional ................................................................................................ 11 3.3. Função e participação dos setores económicos ................................................... 13 Agricultura ............................................................................................................ 13 Mineração ............................................................................................................. 14 Indústria ................................................................................................................ 14 Infra-estruturas e Energia ..................................................................................... 14 Comunicações ....................................................................................................... 15 Comércio ............................................................................................................... 15 Desenvolvimento geral no setor privado .............................................................. 16 Consumo Privado e inflação ................................................................................. 16 4. Situação social: grandes progressos mas desafios ainda maiores.... ........................... 17 4.1. Progresso ............................................................................................................... 17 4.2. Os desafios ............................................................................................................ 18 II. A resposta de Moçambique aos desafios socioeconómicos. .......................................... 20 1. A resposta do governo moçambicano ......................................................................... 20 2. A contribuição da comunidade internacional .............................................................. 22 2.1. Fundos dos doadores e como são gastos por setor.............................................. 22 2.2. Harmonização da ajuda e da coordenação dos doadores .................................... 22 2.3 Apoio ao orçamento geral...................................................................................... 23 2.4. Apoio setorial ........................................................................................................ 23 2.5. Apoio descentralizado ........................................................................................... 23 2.6. Actores indirectos ................................................................................................. 23 3. A contribuição da cooperação flamengo-moçambicana para o desenvolvimento ........ 24 3.1. A Cooperação Flamenga para o Desenvolvimento em geral ................................ 24 3.2. A preparação para o início da cooperação formal com Moçambique ................. 24 3.3. A primeira estratégia para o país .......................................................................... 24 3.4. O segundo protocolo de cooperação (Memorando de Entendimento) ............... 25 3.5. Preparação do segundo Documento de Estratégia para o País (DEP II) ............... 26 III. Programa Indicativo .................................................................................................... 28 1. A escolha da Saúde como foco exclusivo ..................................................................... 28 2. Breve análise contextual do sector da saúde em Moçambique .................................. 28 2.1. Geral: um sector com um progresso frágil............................................................ 28 2.2. Financiamento do sector da saúde ....................................................................... 29 2.3. Disponibilidade de pessoal de saúde e de infra-estruturas de saúde .................. 30 2.4. Doenças infecciosas mortais ................................................................................. 31 HIV/SIDA ............................................................................................................... 31 2 Tuberculose (TB) ................................................................................................... 33 Malária ................................................................................................................. 33 2.5. Harmonização e coordenação inadequada entre os doadores ............................ 34 2.6. O complexo setor da saúde e direito sexual e reprodutivo .................................. 35 2.7. A desnutrição e as práticas de má nutrição .......................................................... 35 2.8. A desigualdade social no acesso aos cuidados de saúde ...................................... 36 3. Objetivos ...................................................................................................................... 37 3.1. Objetivo geral ........................................................................................................ 37 3.2. Objetivo específico e sub-objectivos .................................................................... 38 4. Temas Transversais ...................................................................................................... 39 5. Abordagem estratégica ................................................................................................ 40 5.1. Apoio orçamental sectorial como um instrumento privilegiado .......................... 40 5.2. Focalizando em subsectores específicos .............................................................. 40 Recursos humanos para a saúde (RHS) ................................................................ 40 Investigação na saúde e monitorização ............................................................... 41 Saúde e direitos sexuais e reprodutivos (SDSR) .................................................... 41 Práticas de nutrição .............................................................................................. 42 Província de Tete................................................................................................... 43 IV. Implementação e monitoramento do documento de estratégia ................................. 45 1. Componentes verticais da implementação ................................................................. 45 1.1. Abordagem de portfólio ........................................................................................ 45 1.2. Integração da adaptação às alterações climáticas................................................ 45 2. Identificação e formulação de programas e projectos ................................................ 46 3. Documentos de implementação do projecto .............................................................. 46 4. Financiamento e orçamento ........................................................................................ 46 5. Relatórios ..................................................................................................................... 47 6. Auditorias financeiras................................................................................................... 47 7. Monitoramento e avaliação ......................................................................................... 48 7.1 Monitoramento e avaliação a nível de execução .................................................. 48 7.2. Monitoramento e avaliação ao nível político ....................................................... 49 7.3. Apoio do Parlamento e Sociedade Civil ................................................................ 50 V. Gestão de riscos ........................................................................................................ 52 VI. A Cooperação flamengo-moçambicana fora do âmbito de aplicação do programa indicativo do DEPII .................................................................................................... 53 1. Geral ............................................................................................................................. 53 2. Iniciativas organizadas regionalmente ......................................................................... 53 2.1. Reforço da cooperação em saúde através de iniciativas multilaterais ................ 53 2.2. Prevenção de desastres, controlo e reabilitação .................................................. 54 2.3. Comércio e Desenvolvimento e respeito pelas normas laborais.......................... 54 3. Fim dos compromissos do DEP I .................................................................................. 55 3.1. Estratégia de saída do sector educacional ............................................................ 55 3.2. Estratégia de saída da infra-estrutura de Saúde ................................................... 55 VII. Bibliografia ................................................................................................................ 56 1. Publicações ................................................................................................................... 56 2. Recursos electrónicos................................................................................................... 60 VIII. Anexos ..................................................................................................................... 61 3 Lista de siglas e abreviacões APD: Ajuda Pública para o Desenvolvimento APE: Agente Polivalente Elementar AWEPA: Associação de Parlamentares Europeos para África CAD: Comitê de Ajuda ao Desenvolvimento CG: Consulta Geral DdT: Divisão de Trabalho DEP: Documento de Estratégia para o País DFID: Departamento para Desenvolvimento Internacional, Reino Unido DiV: Departamento de Cooperação Internacional do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Governo da Flandres (Departamento Internacional da Flandres) ECTIM: Estratégia de Ciência, Tecnologia e Inovação de Moçambique EITI: Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva EUA: Estados Unidos da America FASE: Fundo de Apoio ao Sector da Educação (no contexto de SWAp) FICA: Agência de Cooperação Internacional Flamenga FRELIMO: Frente de Libertação de Moçambique GCCC: Central de Combate à Corrupção GFATM: Fundo Mundial de luta contra HIV/SIDA, Tuberculose e Malária HIV/AIDS: Vírus da Imunodeficiência Humana/ Síndrome da Imunodeficiência Adquirida HPI: Índice de Pobreza Humana ICRH: Centro Internacional de Saúde Reprodutiva, Ghent IDG: Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Género IDH: Índice do Desenvolvimento Humano IHP+: Iniciativa Internacional em Saúde 4 INS: Instituto Nacional da Saúde IOR-ARC: A Associação dos Países da Orla do Oceano Índico para a Cooperação. Regional ITG: Instituto de Medicina Tropical, Antuérpia MAP: Programa de Multi-países contra AIDS (Banco Mundial) MDG: Objectivos do Desenvolvimento do Milénio MDM: Movimento Democrático de Moçambique MINEC: Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação MISAU: Ministério de Saúde MoU: Memorando de Entendimento MW: Megawatt NAIMA+: Rede de ONGs da área da Saúde e HIV/SIDA NAPA: Programa de Acção Nacional para a Adaptação Às Mudanças Climáticas OCDE: Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico ODAMOZ: Base de Dados da Ajuda Oficial para o Desenvolvimento em Moçambique OMC: Organização Mundial do Comércio OMS: Organização Mundial de Saúde ONUSIDA: Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/SIDA Países ACP: Países da Africa, Caribe e Pacifico PARP: Plano de Acção para Redução da Pobreza PARPA: Plano de Acção para Redução da Pobreza Absoluta PEPFAR: Plano de Emergência do Presidente para o Alivio de SIDA (President’s Emergency Plan for AIDS Relief) PESS: Plano Estratégico para o Sector de Saúde PIB: Produto Interno Bruto 5 PMD: Países Menos Desenvolvidos PME: Pequenas e medias empresas PRISE: Programa Integrado do Sector de Estradas PROAGRI: Programa Nacional de Desenvolvimento Agricola de Moçambique PROSAUDE: Fundo Comum de Apoio ao Sector de Saúde PTMF: Prevenção da transmissão de mãe para filho QAD: Quadro de Avaliação do Desempenho RENAMO: Resistência Nacional Moçambicana RHR: Departamento especializado em “Saúde Reprodutiva e Investigação” da OMS RHS: Recursos Humanos para a Saúde SADC: Comunidade de Desenvolvimento da África Austral SISTAFE: Sistema de Administração Financeira do Estado SDRR: Saúde e direitos sexuais e reprodutivos SWAp: Abordagem Sectorial Ampla (Sector Wide Approach) TBC: Tuberculose TIFA: Acordo do Quadro de Comércio e Investimentos UE: União Europeia UN: Nações Unidas UNICEF: Fundo das Nações Unidas para à Infância 6 I. Análise contextual: Moçambique em 2010 1. Contexto geral 1.1. Geografia A República de Moçambique está localizada na costa oriental de África e partilha fronteira com a Tanzânia, a norte, com a Zâmbia e Malawi, a noroeste, com o Zimbabwe a oeste, com a África do Sul e Suazilândia, ao sul, e é banhado pelo Oceano Índico, a leste. Moçambique tem uma área de total de 799.380 Km², dos quais 786.380 Km² correspondem a terra firme e 13.000 Km² a águas interiores. A linha de costa tem uma extensão de aproximadamente 7 2500Km². O rio Zambeze é o maior e atravessa praticamente todo o país, de oeste a leste. Existem outros 24 rios que também atravessam o país de oeste a leste1. 44% do país é constituído por terras baixas (< 200m) ao longo da costa. As terras baixas convergem com planícies elevadas que cobrem 43% do País e atingem gradualmente alturas de 200 a 1000m. Além de algumas crestas, existem também algumas montanhas isoladas dos planaltos. No total, 13% do país consiste em terras altas (1000-2436 m). Tanto as planícies do baixo litoral como os planaltos têm um clima de savana com períodos de seca no inverno. O Oceano Índico aumenta a humidade em áreas costeiras. O clima subtropical na costa sul do Zambeze e o clima tropical da região costeira ao norte apresentam diferenças consideráveis. A temperatura média de Maputo, a capital, em Julho, o seu mês mais frio, é um pouco mais de 18 graus Célsius. No norte, a temperatura média atinge facilmente 22 graus Célsius. Esta área é dominada por um regime de monções. A precipitação diminui mais para o sul. A precipitação média na Beira, segunda cidade do país, é de 1.429 milímetros por ano, em comparação com 768 milímetros em Maputo. A estação chuvosa começa em Outubro e termina em Março. A população de Moçambique é estimada em 21.670.000 habitantes, da qual, quase metade 44,3% - situa-se na faixa etária entre 0 e 14 anos. A idade média é 17,5 anos. A taxa de crescimento populacional é de 1,79% ao ano. 37% dos moçambicanos vivem em ambientes urbanos, os restantes 63% em zonas rurais. Quase dois terços da população vive nas zonas costeiras (120 pessoas/km² em comparação com uma média nacional de 25 pessoas por km²). O país é caracterizado pela diversidade étnica (Changana/Tsonga, Makua/Lomwe, Sena, Ndau, outras). Entre as línguas faladas, destacam-se, Português (oficial), Emakua, Xichangana, Elomwe, Chisena, Chindau, Echwabo, entre outras, e mutas vezes têm laços com línguas dos países vizinhos. Cerca de 99% da população moçambicana é africana, 0.1% de origem europeia, 0.5% de origem indiana. 1.2. Divisão Administrativa A República de Moçambique está dividida em onze províncias (Cidade de Maputo, Província de Maputo, Gaza, Inhambane (Região Sul), Manica, Sofala, Tete, Zambézia (Centro), Cabo Delgado, Nampula e Niassa (Região Norte) e estas, por sua vez, se subdividem em distritos, postos administrativos e municípios. Uma política de descentralização de poderes e a subsequente responsabilização das províncias e distritos tem sido seguida de forma progressiva por vários anos. Maputo é a capital de Moçambique e tem aproximadamente 2 milhões de pessoas. Além das suas importantes funções administrativas, a cidade tem também um porto marítimo importante. A Beira é a segunda maior cidade de Moçambique. A cidade tem cerca de 570.000 habitantes e tem o maior porto do país. As indústrias mais importantes são a pesca do camarão e o açúcar. O turismo também sido também promovido. Outras cidades importantes são Nampula, Quelimane, Tete, Xai-Xai e Inhambane. 2. Contexto político e desenvolvimento Moçambique tornou-se independente de Portugal em 1975, após uma luta armada de libertação nacional desencadeada pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) que durou 10 anos. O país seguiu uma orientação política e económica de caris socialista, tendo a 1 http://www.ine.gov.mz/o_pais. 8 FRELIMO como partido único e representante dos interesses do povo moçambicano. Face a conjuntura política internacional desfavorável, marcada pela Guerra Fria, Moçambique, desde logo, foi alvo de acções desestabilizadoras perpetradas pelo então regime do Apartheid da África do Sul, em coluio com o regime rodesiano de Ian Smith.Seguiram-se 16 anos de uma violenta guerra de desestabilização que provocou inúmeras vítimas civis, recrutamento forçado de crianças soldado, destruição de campos agrícolas e infra-estruturas económicas, violações dos direitos humanos, colocação de inúmeras minas, êxodo rural e fome. Trata-se de uma guerra que teve um impacto negativo no desenvolvimento de Moçambique2. Fruto de intensas negociações, a paz foi finalmente alcançada a 04 de Outubro de 1992, com a assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma. Antes da assinatura do acordo de paz, o Governo moçambicano aprovou um pacote de reformas de índole política, económica e social, como sejam, a adopção de uma nova Constituição (1990), que introduziu a democracia multipartidária e ampliou os direitos civis e políticos, bem como um conjunto de liberdades e direitos fundamentais. Esta Constituição foi revista em 2004, com o objectivo de adequá-la às transformações que o país vem registando. Foram introduzidas reformas económicas, tendo o país passado de uma economia centralmente planificada para uma economia de mercado livre. O governo avançou também com um programa de reabilitação económica, acompanhado de privatização de empresas estatais. O Sistema político moçambicano é presidencialista em que é patente o princípio da separação e interdependência de poderes entre o executivo (Governo), o legislativo (Assembleia da República) e o Judicial (Tribunais). O Presidente da República é o Chefe do Governo e dirige o executivo. A Assembleia da República, é constituida por 250 deputados eleitos, é o mais alto órgão legislativo na República de Moçambique. O poder judicial, por sua vez, detido pelos tribunais (Tribunal Supremo, Tribunal Administrativo e Tribunais Judiciais). A constituição prevê ainda a criação de tribunais de trabalho, fiscais, aduaneiros, marítimos, arbitrais e comunitários. O sistema judicial do país tem uma estrutura que permite que tanto os tribunais especializados e hierarquicamente organizados e outros institutos, tal como os líderes comunitários, desempenhem um papel na resolução de disputas. As instâncias mais altas deste complexo sistema são o Tribunal Supremo e o Conselho Constitucional. As primeiras eleições gerais em Moçambique (legislativas e presidenciais) tiveram lugar em 1994, onde o candidato às presidenciais pelo partido FRELIMO, Joaquim Alberto Chissano, foi eleito. Na mesma ocasião, a FRELIMO venceu a com 54%, tendo ganho a maioria dos assentos na Assembleia da República. As segundas eleições gerais realizaram-se em 1999, tendo no referido pleito, o Presidente Joaquim Chissano sido reeleito, e o Partido FRELIMO ganho. As terceiras eleições gerais tiveram lugar em 2004, tendo a FRELIMO (62%) e o seu candidato, Armando Emílio Guebuza (63,7%) vencido as eleições. Nas referidas eleições, o candidato da RENAMO, Afonso Dhlakama, obteve 31.7% dos votos e a RENAMO-União Eleitoral obteve 29.7%.3 Em 2009, realizaram-se as quartas eleições gerais (presidenciais, legislativas e para as assembleias provinciais), em que o Presidente Armando Emílio Guebuza foi reeleito com 75,1% de votos, contra 16,3% do líder da RENAMO, Afonso Dlakama. Daviz Simango, do 2 A introdução histórica baseia-se principalmente em: L. Van den Bergh, Why peace worked, Mozambicans look back, AWEPA, 2009, pp. 13-38 (Moçambique, Análise da Política de Administração dos Negócios Estrangeiros, 2002, pp 6-9. 3 Os resultados eleitorais são baseados em: http://africanelections.tripod.com/mz.html. Pelo facto de que naquela época Moçambique era um estado de dois partidos, era necessario apenas ganhar alguns assentos no parlamento para conseguir uma maioria absoluta 9 “Movimento Democrático de Moçambique” (MDM), com 8,6% dos votos, ficou em terceiro lugar. Por sua vez, e para a Assembleia da República, a FRELIMO conseguiu 191 deputados, a RENAMO 49 deputados e o MDM apenas 8 deputados. Relativamente as eleições autárquicas, as primeiras tiveram lugar em 1998 em 33 municípios, com a vitória da FRELIMO em maior parte destes. As segundas realizaram-se 2003, em que a FRELIMO foi vencedora em 29 dos 33 municípios. Nas terceiras eleições autárquicas, realizadas em 2008, a FRELIMO venceu em 42 dos 43 municípios. No que diz respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais, são reconhecidos e observados no país, não obstante as dificuldades relacionadas com a falta de recursos suficientes para a sua protecção e promoção efectiva. Apesar de alguns casos de violações, no cômputo geral, o governo tem envidado enormes esforços em reverter estas situações, através de acções multiformes como; a capacitação institucional, formação de mais magistrados, expansão dos serviços judiciais pelo território nacional, aprovação e implementação de instrumentos jurídicos de protecção da pessoa humana, educação cívica da população sobre direitos e liberdades, melhoria das condições prisionais, entre outras realizações. 3. Situação económica: progressos significativos, mas desafios ainda maiores… 3.1. Evolução macroeconómica A guerra de desestabilização logo após a independência, destruiu completamente as infraestruturas sociais e económicas de Moçambique. Esse conflito produziu também um grande número de refugiados e deslocados internos e, além disso, as autoridades foram forçadas a assumir responsabilidade por um elevado número de soldados desmobilizados. No entanto, graças a vários fatores, incluindo um processo de paz bem-sucedido; uma rápida construção da democracia e de um estado multipartidário; a manutenção de um orçamento de estão muito rígido; a introdução de reformas económicas e a aceitação de diferentes formas de ajuda internacionais, tais como o cancelamento da dívida; Moçambique conseguiu criar - condições para um relançamento económico muito rápido. Como resultado, a economia moçambicana tem sido capaz, ao longo dos últimos 15 anos, de produzir taxas de crescimento fortes. Entre 1994 e 2004, o crescimento médio do PIB foi de 8,2% ao ano, um período que teve inclusivamente de suportar o impacto das inundações devastadoras que ocorreram no ano de 2000. No período seguinte, de 2005-2008, o crescimento ainda manteve uma taxa média de 7,8%. Mesmo em 2009, ano em que a crise financeira e económica global estava na sua máxima força, o país ainda conseguiu reportar uma taxa de crescimento de 5,4%. Previsões para 2010 e 2011 dão uma elevada taxa de crescimento de 5,8 e 6,1% respectivamente. Estes números positivos podem não ser suficientes para grandes euforias. A crise financeira e económica ainda tem um efeito amortecedor sobre o crescimento. Isto deve-se principalmente a atrasos da implementação de diferentes mega projetos; à exportação reduzida de madeira, camarão, castanha de caju, gás, algodão, tabaco, mas principalmente de alumínio, e à redução de divisas enviadas por trabalhadores moçambicanos residentes no estrangeiro (nomeadamente em África do Sul). As exportações passaram de 29,4% do PIB em 2008 para 18,5% em 2009. No entanto, as importações também tiveram um crescimento negativo proporcional, passando de 41,5% para 38,8%. Isto significa um forte deficit da balança comercial em 2009. O governo de Moçambique tem antecipado implementações rápidas de 10 grandes infra-estruturas, sérias reservas sobre as despesas e a inclusão de um empréstimo do FMI a partir do fundo especial para absorver os choques exógenos (170 milhões de dólares). O consumo interno continua a ser alimentado principalmente pelo investimento. Em 2009 houve investimento público e consumo privado de mais de metade do crescimento do PIB. Esta tendência deverá continuar se a segunda vaga de grandes projetos privados no setor de mineração e processamento continuar a aparecer e se os setores de infra-estrutura e energia em curso, atrasados pela crise financeira, continuem sem mais demoras. 3.2. Economia Nacional Uma das explicações para o crescimento económico estabelecido é que o governo de Moçambique prossegue uma política rigorosa quando se trata de dar prioridade às despesas. O orçamento de 2009, por exemplo, foi coerente em apontar para uma concentração de pelo menos 65% dos recursos nas áreas prioritárias tal como foram incluídas no atual plano nacional de luta contra a pobreza, o PARPA II. Estas áreas incluem infra-estruturas básicas, agricultura, provisões de água e saneamento, educação e saúde. Moçambique também consegue produzir cada vez mais recursos financeiros internos, permitindo ao governo tornarse assim um pouco mais independente da ajuda externa. A quota do imposto de renda do PIB subiu de 10,4% em 1997 para 14,3% em 2009. Esta evolução deverá continuar nos próximos dois anos, trazendo valores de crescimento de 2010 e 2011 para os 14,7% e 15,3%, respectivamente. O grande programa de cancelamento da dívida, apreciado por Moçambique em 2006, deu ao governo um grande fôlego para o arranque de novas iniciativas e ao mesmo tempo melhorou sua posição para contrair novos empréstimos. Como resultado deste programa, a dívida líquida do país foi reduzida em quase 50%. Em 2009 apenas 123,7 milhões de dólares tiveram que ser pagos através de empréstimos e juros. Dois terços foram destinados à liquidação da dívida interna, apesar de que ela constitui apenas 8% do total da dívida de Moçambique. Atualmente, o grau da dívida de Moçambique é de 26,1%. O consumo do governo subiu em 2009, principalmente devido ao aumento dos salários no setor público, nomeadamente no âmbito da educação dos setores prioritários (11.500 professores adicionais), saúde (138 médicos e treinamento de pessoal de 1.135 unidades de saúde), infra-estrutura e agricultura. Um terço destes salários é financiado com fundos de doadores. A despesa do estado registou 12,5% do PIB em 2009 e, provavelmente, irá aumentar para 13,3% em 2010 e 13,4% em 2011. Ao mesmo tempo estão a ser implementadas medidas importantes que contribuem para o aumento da despesa, tais como, a extensão do Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE) para todos os órgãos governamentais e para as 50 autoridades do distrito; a ampliação do alcance fiscal e a aprovação dos novos códigos de impostos para as PMEs. Estas pressões terão um impacto contínuo, ainda que decrescente, sobre o défice público estimado nos próximos anos. Apesar de 2009 ter sido um ano excepcional, tendo em conta as medidas anti-cíclicas para apoiar a economia e o défice de 5,7% do PIB, o governo provavelmente irá continuar em zona vermelha em 2010 e 2011 com valores de 3,3% e 2,2%, respectivamente. O orçamento do Estado moçambicano ainda depende fortemente da solidariedade internacional (55% para o orçamento de 2009) mas uma diminuição dessa dependência é esperada. Em 2008, 56% dos fundos para as despesas do governo vieram de doações internacionais. No entanto, as autoridades previam que em 2010 apenas 44% do orçamento do governo seriam financiados por fundos de desenvolvimento. Isso prova a seriedade do governo moçambicano em libertar-se da enorme dependência da ajuda externa. O facto de que em 2009 os doadores continuaram a depositar 30% do seu apoio financeiro a Moçambique, 11 através do apoio orçamental geral, mostra a sua grande confiança no progresso do país. No entanto, a dependência da ajuda externa desse tipo continua a comprometer a possibilidade de condução das políticas de longo prazo essenciais e radicais destinadas a reformas e estímulos. Particularmente nas actuais circunstâncias de uma prolongada crise económica mundial, onde os doadores também estão obrigados a reduzir seu padrão de gastos, essa vulnerabilidade poderá ter graves consequências a nível económico, bem como a nível social. A luta contra a corrupção ainda não esta terminada4. Embora várias iniciativas do governo estejam sendo atualmente implementadas para resolver o problema. No setor das matériasprimas, tradicionalmente um setor que é altamente suscetível à corrupção, o governo introduziu recentemente um novo conjunto de leis fiscais. Em 2011 o país tornar-se-á membro de pleno direito da iniciativa internacional em matéria de transparência neste setor, a chamada Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva (EITI). Entretanto, o Presidente Guebuza adoptou a luta contra a corrupção como uma prioridade no programa de governo. Graças a todas estas medidas, Moçambique já é capaz de apresentar as primeiras conquistas significativas nessa luta; conquistas que certamente têm um impacto mais estrutural. A criação de uma instituição vocaionada para a luta contra a corrupção, o chamado Gabinete Central de Combate à Corrupção, GCCC, tem dado um maior poder de manobra a fim de melhorar a sua eficácia. Algumas penas pesadas de prisão foram pronunciadas contra funcionários corruptos mas com cargos importantes. Mas há ainda muito trabalho pela frente e o problema continuará a exigir a total atenção do Governo moçambicano, da sociedade civil, bem como dos países doadores5. 4 De acordo com o Índice de Percepção da Corrupção da Transparency International (TI), o indicador mais utilizado internacionalmente, Moçambique, depois de anos de percepção estável, experimentou um ligeiro declínio em 2009, de 2,8 para 2,6 na escala utilizada. (http://www.transparency.org/policy_research/ surveys_indices/cpi/2007 vs. (http://www.transparency.org/policy_research/surveys_indices/cpi /2008/cpi_2008_table). 5 Para uma análise e visão geral da situação atual, consulte: http://www.business-anti-corruption.com/countryprofiles/sub-saharan-africa/mozambique/initiatives/public-anti-corruption-initiatives/ O processo de monitoramento deve-se principalmente ao diálogo político entre o governo moçambicano e os doadores que prestam apoio orçamental geral, o chamado G-19. 12 3.3. Função e participação dos setores económicos6 Participação dos setores na economia moçambicana (PIB 2008) 13% 26% 2% 11% 2% 2% 3% 6% 15% 9% 11% Agricultura Infra-estruturas Água e Eletricidade Setor financeiro e empresarial Serviços Governamentais Indústria Minas e Pedreiras Outros Transportes e comunicações Comercio, Hotéis e Restaurantes Comercio Agricultura O principal rendimento de pelo menos 65% dos moçambicanos provém da agricultura. Isto reflete a importância do setor em termos de emprego total. Esta proporção não se traduz, contudo, numa parcela equivalente do PIB (26%). 99% dos empreendedores são pequenos produtores sem acesso a crédito adaptado, terrenos, equipamentos, sementes melhoradas, fertilizantes e know-how. Daí, a limitação do valor acrescentado atingido com produtos agrícolas, o que é ainda reforçado pela modesta produtividade do setor e pelo acesso não garantido ao mercado para estas empresas de pequena escala familiar. No entanto, dado o actual peso do setor no emprego, proporcionar estímulos apenas para a agricultura de grande escala não fornecerá uma solução para o desenvolvimento das zonas rurais. As reformas que visam proporcionar o acesso ao crédito e subsídios, bem como conhecimentos sólidos agrícolas e acesso ao mercado para os pequenos produtores do setor são uma via preferencial. A falta de progressos nessa área, assim como o adiamento forçado da época de sementeira e as várias pragas, foram algumas das causas para o ano agrícola decepcionante de 2008-2009. Mais de 450.000 pessoas foram imediatamente confrontadas com grave escassez de alimentos em 2009. No entanto, o governo de Moçambique começou a implementar o seu programa estratégico agrícola há muitos anos. Como resultado de outras reformas mais pontuais, projetos inovadores e industriais de larga escala estão agora a entrar no sector agrícola ao lado de projectos agrícolas mais tradicionais de pequena escala. Graças à privatização da produção de açúcar e, beneficiando por completo do acesso preferencial ao mercado europeu oferecido aos produtores de Países Menos Avançados (PMA), Moçambique conseguiu rapidamente transformar-se num exportador líquido de açúcar refinado. 84.000 toneladas de açúcar de Moçambique foram exportadas para a UE em 2009. Esse mesmo ano viu a adopção de uma Política e Estratégia Nacional de Biocombustíveis com o objectivo de reduzir a dependência do país das importações de produtos petrolíferos. A fábrica de etanol, que foi introduzida em 2007, já produz 120 milhões de litros de etanol por ano. Vários outros grandes projectos foram já concedidos ou estão a aguardar a aprovação do governo. Estima-se que, mesmo a um ritmo lento do aumento da área agrícola dedicada à produção de biocombustíveis, esta indústria inovadora pode gerar até 150.000 novos empregos. 6 Salvo indicado contrariamente, os números para a análise da atual situação económica em Moçambique baseiam-se em:http://www.africaneconomicoutlook.org/en/countries/southern-africa/mozambique/. 13 Mineração Moçambique tem um solo extremamente rico em recursos. Isso já se reflectia na recuperação em massa de bauxite para a produção de alumínio, o que fez de Moçambique um ator global deste sector. Vários outros mega-projetos estão sendo executados no setor de mineração. A mineradora brasileira Vale do Rio Doce está a investir 1,26 milhões de dólares americanos numa mina de carvão na bacia de Moatize, na província de Tete. Com tempo, a mina deverá produzir 40 milhões de toneladas de carvão por ano de modo a abastecer a indústria siderúrgica brasileira. A empresa australiana Riversdale está a planear um investimento similar de 800 milhões de dólares americanos na mesma bacia, com uma capacidade de 20 milhões de toneladas por ano. Assim, o carvão é actualmente o sector de mineração mais dinâmico. No entanto, o potencial do gás e a prospeção para o petróleo e subsequente exploração não deve ser subestimado como uma fonte de riqueza nacional num futuro não tanto distante. Investimentos aprovados no sector dos combustíveis fósseis chegaram a atingir cerca de 8.000 milhões de dólares americanos em 20077. Menos positivo é que esses sectores, apesar de a sua alta rentabilidade para o governo em tempos de preços elevados dos minerais, estão agora dominados por um investimento estrangeiro moderno e de grande escala que criam poucas oportunidades de emprego direto. No objectivo da diversificação do emprego, este setor nunca poderá, portanto, desempenhar um papel importante. Indústria Os minerais de Moçambique não são apenas exportados; cada vez mais eles estão a ser processados no próprio país para formar produtos básicos para a economia global. Isso começa a refletir-se na participação do setor das indústrias na riqueza nacional, que cresceu significativamente de 19% em 1999 para os atuais 31%. Ao mesmo tempo, mais de 70% do valor das exportações nacionais baseia-se na exportação de produtos industriais. Este facto deve-se principalmente à Mozal, um dos maiores complexos de produção de alumínio no mundo. 46% do valor total das exportações de Moçambique entre 1999 e 2008 foi realizado neste subsetor8. No entanto, isto aponta para uma dependência excessiva da exportação de um único produto semi-acabado e para grande limitação da diversidade de indústrias internacionalmente competitivas no país. Infra-estruturas e Energia Tanto os grandes investidores estrangeiros e privados nacionais como projectos de financiamento público na área de mineração de matérias-primas, energia e indústria garantiram o crescimento sustentado no sector das infra-estruturas. Exemplos disso incluem a reabilitação de antigas infra-estruturas e a construção de outras novas: existem diferentes linhas férreasde comboio que permitem a extracção de carvão na Bacia de Moatize; também como a construção do gasoduto da Sasol para a África do Sul e grandes obras nas estradas e na ferrovias que pretende ligar o porto moçambicano de Nacala, na província de Nampula, com o Malawi (1,6 bilhões de dólares americanos) e, posteriormente também com a Zâmbia. Actualmente, o Aeroporto Internacional de Maputo está a ser modernizado (112 milhões de dólares americanos) e a construção da infra-estrutura do projecto de mineração de titânico em grande escala deverá ser lançada. Durante o período 2007-2017, um projecto de um bilião de dólares envolvendo a electrificação e produção de eletricidade deve ser realizado. Novas centrais de energia foram 7 C. CASTEL-BRANCO & R. Ossemane, Moçambique Fase 2, em: Crise Financeira Global, Série Discussões, Livro 18, Instituto de Desenvolvimento Ultramarino, p. 4 8 Idem, p. 6 14 programadas para Moamba, Mpanda Nkuwa (+ 2400 MW), do lado norte da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (+ 1500 MW), Lupata, Moatize (ligado ao projeto de carvão da Vale, +1500 MW) e Benga (+ 2000 MW). Uma linha principal entre o centro e o sul do país deve trazer uma solução para a actual situação de escassez dentro e em volta da capital e permitir a transmissão de energia para países vizinhos como o Botswana, Malawi e Zimbabué. Isso vai permitir que Moçambique consolide o seu papel como produtor regional de energia e também diversificar as suas fontes de energia, o que é vital tendo em conta o facto de que atualmente apenas o local de produção da Mozal consome 900 MW da capacidade total dos 1350 MW disponíveis a partir da barragem de Cahora Bassa. Isso deixa apenas uns meros 450 MW para abastecer quase o resto do país. Comunicações Impulsionado principalmente pelos investimentos na construção de redes de telefone móvel, o sector da comunicação também irá continuar a sua expansão nos próximos anos. O prognóstico de crescimento para 2010 está calculado em 22,7%. Os operadores dominantes são a empresa moçambicana M-Cel e Vodacom da África do Sul. Ao mesmo tempo, a empresa nacional de telecomunicações TDM está a planear uma reorganização da sua rede, em que a conexão com o sistema submarino por cabo de fibra óptica da África Oriental irá proporcionar uma rede de comunicação com o resto do mundo a preços baixos. A TDM visa também garantir serviços básicos, incluindo acesso à Internet, para todos os distritos. A China fornece um apoio financeiro considerável para este projeto. Comércio Moçambique já assinou o novo Acordo de Parceria Económica com a UE e a modificação dos seus próprios procedimentos de comércio seria o último passo na implementação integral do acordo. Esta nova regra tem sido compatível com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), permitindo a Moçambique ter acesso a longo prazo ao mercado europeu em condições preferenciais. No entanto, ainda não está claro se a recente atitude mais positiva da África do Sul em relação às negociações com a Europa pode criar mais atrasos. Ao mesmo tempo, Moçambique está a negociar com os EUA no âmbito do chamado Acordo Quadro de Comércio e de Investimento (Trade and Investment Framework Agreement – TIFA) a fim de poder beneficiar de acesso preferencial ao mercado americano através do African Growth and Opportunity Act (AGOA). O monitoramento contínuo do impacto das regras de reciprocidade para a entrada livre de bens e serviços da UE e outros países continua a ser necessário para garantir que as empresas moçambicanas e os empresários têm o tempo necessário para se adaptarem a um ambiente mais competitivo e/ou que não sejam vítimas de práticas de descargas ilegais. Moçambique é também membro da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, SADC, da Commonwealth, e da chamada Associação dos Países da Orla do Oceano Índico para a Cooperação Regional, IOR-ARC. Actualmente, o alumínio ainda desempenha um papel muito dominante (46%) nas exportações do país. Outros produtos importantes de exportação são a electricidade (7%) e gás (3%), frutos do mar (7%), algodão, açúcar (2%, com elevada taxa de crescimento) e castanha de caju (1%). A tendência para a concentração tem aparentemente aumentado nos últimos anos: as vendas de produtos derivados de mega projetos de electricidade, alumínio e gás representam uns impressionantes 71% do valor total das exportações da economia moçambicana no período de 2007-20089. Apenas o carvão e talvez o petróleo poderão ser capazes de influenciar ligeiramente esta concentração das exportações num futuro próximo. 9 C. CASTEL-BRANCO & R. Ossemane, Moçambique Fase 2, em: Crise Financeira Global, Série Discussões, Livro 18, Instituto de Desenvolvimento Ultramarino, p. 6 15 Desenvolvimento geral no setor privado Em geral, Moçambique está a fazer progressos rápidos na reforma do seu clima de investimento interno. O sinal mais evidente disso é o salto de cinco lugares, nos últimos dois anos, no ranking do Doing Business. Enquanto na África Subsaariana demora-se em média 45,6 dias para reunir todas as condições administrativas para criar uma (pequena) empresa, as recentes reformas de Moçambique tornaram esse processo possível em 26 dias. Um factor importante é que já não há absolutamente nenhuma exigência de capital inicial. Devido à sua integração limitada nos mercados financeiros globais, o sector bancário não tem sido muito afetado pela recente crise do crédito. O Banco Central apenas tinha adaptado a regulamentação bancária às Normas Internacionais de Relato Financeiro. Isto significa que os bancos detêm capital suficiente e não serão confrontados com problemas de liquidez. Ao mesmo tempo, a proporção de crédito mal parado é muito baixa, representa cerca de 1 a 2%. Mas emprestar dinheiro ainda está sujeito a muitos desafios. A diferença considerável entre as taxas de juros para os produtos de poupança e os empréstimos para indivíduos e empresas não diminuiu apesar de já terem passado de facto os anos de inflação excessiva. Os bancos moçambicanos ainda cobram taxas muito altas aos seus clientes e as suas respectivas redes de balcões estão ainda muito concentradas nas cidades. O resultado de todos esses factores é que apenas 3 milhões, de 21 milhões de moçambicanos, têm uma conta bancária, estando este serviço limitado às classes médias e mais abastadas. Consumo Privado e inflação Apesar de se prever que o consumo privado continue a crescer em Moçambique, a redução ou mesmo a abolição dos subsídios dos combustíveis terá um impacto negativo considerável sobre o crescimento. Embora a inflação nos últimos tempos tenha estado no nível mais baixo de sempre, a expectativa é que ela aumente para mais de 8% com a recuperação da economia mundial e dos custos carregados da energia. A taxa de câmbio apresentou uma desvalorização acelerada do metical face ao dólar americano (-30%) e do rand sul-africano (-36%), entre Março e Agosto de 2010. A forte dependência do país em relação às importações de vários produtos (por exemplo, produtos alimentícios básicos) leva ao aumento dos preços e, consequentemente, ao aceleramento da inflação. Esperançadamente, a política monetária do governo e as positivas reformas económicas em combinação com uma extensa e bem pensada política social ‘pró-pobre’ irá garantir que a inflação não atinja novamente uma inflação insuportável‘ de dois dígitos. Enquanto isso, Moçambique ainda sofre com a carência crónica de infra-estruturas básicas. Isto é, estradas rurais, o que impede o acesso ao mercado para os pequenos produtores agrícolas, bem como o acesso a todos os tipos de serviços públicos e privados (educação, saúde, bancos, etc.) 16 4. Situação social: grandes progressos mas desafios ainda maiores.... 4.1. Progresso Graças à situação económica relativamente saudável e a uma política centralizadora de desenvolvimento humano em geral, Moçambique pode orgulhar-se de progressos significativos no índice de desenvolvimento humano. Desta forma, o país foi capaz de compensar o atraso na área de alfabetização, níveis de escolaridade, rendimento médio e esperança média de vida que advêm de antes, durante e depois da guerra civil. Mais especificamente, Moçambique tem feito progressos convincentes na área da saúde geral da população. Uma análise retrospectiva que abrange um período suficientemente longo e que se centrou nas metas de saúde dos ODM permite uma avaliação precisa do que foi realizado: 17 Tabela 1: Progresso na realização dos ODM relacionados com a saúde em Moçambique10 Indicador ODM (%) Crianças ≤1 ano com vacina contra o sarampo A mortalidade infantil/1000 nados vivos Taxa de mortalidade - 5 anos / 1.000 nados vivos (%) Uso de métodos contracetivos (%) Partos assistidos por pessoal de saúde Taxa de mortalidade de mães para 100.000 nascidos vivos 1990 1990-2009 Obj. 2015 1995 2000 2005 2009 59 61 71 77 77 n.d. +18% 95 158 147 124 100 90 - 68 - 43% 67 235 219 178 145 130 - 105 - 44% 108 5.1 17 11.8 16.5 n.d. +11,4% 34 42.2 47.7 48 55 n.d. +12.8% 66 1000 408 520 520 - 980 - 65 % 250 sem dados sem dados 1500 Abs. % 4.2. Os desafios Apesar do progresso e dos consecutivos programas governamentais contra a pobreza estrutural no país, os desafios estruturais a nível social permanecem grandes e representam uma ameaça para a estabilidade social interna do país11. Afinal, não devemos esquecer que na área de desenvolvimento humano Moçambique ocupa a nível mundial o número 172 numa lista de 182 países. Com uma renda per capita de 802 dólares, a população moçambicana quase perde um lugar no top dez de países com menor poder de compra do mundo (11º a partir do fim do ranking). Ao mesmo tempo, Moçambique confronta um problema clássico de países em desenvolvimento: a crescente desigualdade social. Prova disso pode ser verificada na evolução negativa do Gini coeficiente em Moçambique que, actualmente está num nível relativamente elevado de 47,1% contra os 39,8% registados em 2003. Transformar o impressionante crescimento macroeconómico em progresso social para todos os moçambicanos continua assim a ser um desafio constante, não só para o governo de Moçambique, mas também para os agentes privados e outros parceiros de desenvolvimento. A desigualdade traduz-se em muitas áreas. Para além das diferenças normais de rendimento, há também diferenças entre regiões e províncias, entre a população rural12 e urbana13, e a desigualdade entre homens e mulheres é ainda mais extrema. Moçambique ocupa a 116ª posição no ranking de 155 países que utilizam o Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Género (GDI). Ainda é necessário, portanto, um grande progresso nos sectores sociais da educação e da saúde para prestar serviços mais eficientes, mais eficazes e mais abrangentes para o grande 10 Dados com base em: MISAU, Matriz do Desempenho do Setor Saúde 2009, a OMS, OMS Estratégia de Cooperação 2009-2013, Moçambique, 2009, p. 9, (http://www.who.int/countryfocus/cooperation strategy/ccs_ moz_en.pdf ), OMS, World Health Statistics, 2010 (http://www.who.int/whosis/whostat /EN_WHS10_Full.pdf ) 11 Uma combinação da redução dos subsídios do governo e uma inflação maior aumentaram os preços da electricidade, pão e água, e causou uma forte agitação social no dia 1 e 2 de Setembro de 2010, principalmente em Maputo. Embora o governo ter recuado na maioria das medidas e a tranquilidade voltado ao país, a ameaça de distúrbios sociais duma população predominantemente jovem está longe de terminar. 12 http://www.ruralpovertyportal.org/web/guest/country/statistics/tags/mozambique 13 Ver, por exemplo, para a desigualdade entre crianças rurais e urbanas: UNICEF, Pobreza na Infância em Moçambique: Uma Análise da Situação e Tendências, 2006, pp 20-21, http://www.unicef.org/ mozambique/ Sitan_(Full_version__Part_1).pdf. 18 número da população desfavorecida de Moçambique. No Índice de Pobreza Humana, o chamado IPH-1, que combina valores de indicadores específicos de ambos os sectores sociais como uma alternativa para um indicador de rendimento simples, Moçambique ocupa o lugar 127 num total de 135 países que já realizaram este estudo14. Mais de metade dos moçambicanos são analfabetos, 58% não têm acesso à água potável e 44% das crianças em Moçambique sofrem de subnutrição crónica15. Apesar dos progressos já estabelecidos, o sector da saúde ainda enfrenta muitos desafios estruturais. Uma inspeção mais detalhada das pontuações dos indicadores gerais de saúde revela imediatamente a baixa esperança média de vida, a alta prevalência de HIV/SIDA combinada com um número relativamente baixo de pessoas com acesso a tratamento, o grande número de pacientes com tuberculose, o número de mortes causadas pela malária, o uso limitado de métodos modernos de contracepção, a enorme necessidade de pessoal médico de todos os níveis e a situação altamente precária em matéria de acesso à água potável (excepto nas cidades) e as disposições sanitárias (ver anexo 1 para um quadro comparativo dos indicadores gerais de saúde). 14 PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano 2009, Fichas do País, Moçambique http://hdrstats.undp.org/en/ countries/country_fact_sheets/cty_fs_MOZ.html (HDI, GDI & HPI-1) en http://hdrstats.undp.org/en/indicators/ 161.html (GINI). 15 Instituto Nacional de Estatística, Multiple indicator Cluster Survey, 2008, Maputo, 2009, http://www.unicef.org/ mozambique/MICS_Summary_English_201009.pdf, pp. 7-8. 19 II. A resposta de Moçambique aos desafios socioeconómicos. 1. A resposta do governo moçambicano Ao longo dos anos, o governo moçambicano lançou vários planos estratégicos coerentes destinados a fornecer uma estrutura para a luta nacional contra a pobreza generalizada da população. O plano mais abrangente para reduzir a pobreza é sem dúvida o “Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta”; o chamado PARPA I, para o período entre 20012005, e o PARPA II para o período entre 2006-200916. Estes planos são caracterizados pela sua construção participativa que, além do governo, envolve também a sociedade civil e o sector privado. O PARPA I centrou-se principalmente numa abordagem sectorial no domínio da luta contra a pobreza. Aqui, reformas estratégicas em diversos sectores pré-selecionados foram concebidas de modo a contribuir para uma redução de 9% (de 69% para 60%) do total da população moçambicana que vive na pobreza. Esses setores foram: Educação; Saúde; Agricultura e Desenvolvimento Rural; Infra-estruturas básicas; Boa governação (setor público, justiça e desenvolvimento do setor privado); Macroeconomia e gestão financeira do e pelo Estado; A segunda geração do PARPA começou a partir da conclusão prematura de que a pobreza absoluta da população moçambicana tinha reduzido de 69% para 54% com a implementação do PARPA I. Ainda assim, o governo tirou algumas lições das experiências menos favoráveis do primeiro plano de acção e optou por uma abordagem mais integrada. O foco foi modificado para três estratégias transversais: O desenvolvimento económico; Desenvolvimento do capital humano; Melhoria da gestão e das suas estruturas. Entre as prioridades do PARPA II, encontramos uma estratégia de integração económica interna que, apesar de abranger toda a nação, também considerou os distritos locais como pôlos de desenvolvimento económico do país. A criação de um ambiente favorável ao crescimento do sector privado nacional também foi incluída como uma prioridade desta estratégia. O PARPA foi assim apresentado como o instrumento principal para a execução do plano do governo de cinco anos, que assumiu também a redução da pobreza como seu principal objectivo. Como um indicador geral, o objectivo foi novamente fixado numa redução de 9% (de 54% para 45%) da proporção da população nacional vivendo em situação de pobreza absoluta. Isso traz-nos à situação actual, onde avaliamos o novo programa do Governo moçambicano de cinco anos, o chamado Programa Quinquenal do Governo para 2010-2014. Este plano 16 Governo de Moçambique, Plano para a Redução da Pobreza Absoluta, 2006-2009, http://www.mpd.gov.mz/ documents/parpa/PARPA_II_aprovado_com_Matriz_Final.pdf, p. 1 & passim. 20 mais recente do novo governo de Moçambique concentra-se mais uma vez na luta contra a pobreza da população moçambicana e define cinco objetivos gerais para esse efeito: 1. A consolidação da unidade nacional, paz e democracia; 2. A luta contra a pobreza e promoção da ética no trabalho; 3. Boa governação, descentralização, luta contra a corrupção e o estímulo para uma cultura de responsabilidade; 4. Aumento da Soberania; 5. O desenvolvimento da cooperação internacional. Sete outros temas transversais foram incluídos: 1. Desminagem; 2. Cuidados Ambientais; 3. Gestão de riscos para o impacto de desastres naturais; 4. HIV/SIDA; 5. Género; 6. Segurança alimentar e nutrição; 7. Desenvolvimento rural. No contexto da presente estratégia para o país, o segundo objectivo geral do plano é o mais relevante. Dentro dos dois conjuntos, ou seja, o desenvolvimento humano e social, por um lado, e o desenvolvimento económico, por outro, foram incorporados 12 e 13 pontos de atenção respectivamente. Os conjuntos e pontos de atenção estão listados abaixo: Combate contra a pobreza e promoção da ética no trabalho: principais pontos de atenção17 Conjuntos Pontos de atenção 1. População 2. Habitação 3. Setor Educacional 4. Cultura 5. Religião 6. Juventude I. Desenvolvimento 7. Desporto Social e Humano 8. Saúde 9. Mulheres, Família e Acção Social 10. Ciência, Tecnologia e Inovação 11. Libertação Nacional, proteção de soberania e das pessoas inválidas por causa da guerra. 12. Água e serviços sanitários II. Desenvolvimento económico 17 1. Política Macroeconómica e Desenvolvimento do Sistema de Gestão Financeira 2. Desenvolvimento do empreendedorismo nacional 3. Promoção e Atração de Investimentos 4. Agricultura, Pecuária, Florestas e Fauna 5. Pescas Governo da Moçambique, Programa Quinquenal do Governo para 2010-2014, Maputo, 2010. 21 6. Recursos Minerais 7. Indústria 8. Comércio 9. Comércio Internacional e Integração Regional 10. Roll-out de infra-estruturas 11. Transportes e Comunicação 12. Turismo 13. Trabalho, Higiene e Segurança e do Emprego O plano inclui, assim, uma lista exaustiva de todos os pontos de atenção que o governo moçambicano vai trabalhar ao longo dos próximos cinco anos a fim de realizar uma política eficaz e eficiente de combate à pobreza. Cada ponto de atenção é então dividido em objectivos estratégicos e prioridades. 2. A contribuição da comunidade internacional 2.1. Fundos dos doadores e como são gastos por setor Em 2009, 55% do orçamento do Estado (+/- 1,6 bilhões de dólares) provinha de fundos de cooperação internacional. Em 2008, este era ainda de 56%. Para 2010, até agora, o objetivo passa por conseguir um rápido decréscimo (44% do orçamento) da dependência do Estado por financiamento externo18. Quanto ao Orçamento do Estado de 2009, 68,7% dos setores prioritários identificados no PARPA II foram atribuídos, nomeadamente a educação (de 18,5% para 19,5%), a saúde (de 11,9% para 14,9%), as infra-estruturas (de 21,2% para 17,1%), a agricultura e desenvolvimento rural (de 3,9% para 7,3%), a boa governação e segurança pública (constante em 5,4%). Isto implica um aumento geral de mais de 3% em relação ao orçamento de 2008. 2.2. Harmonização da ajuda e da coordenação dos doadores O governo de Moçambique participou no Fórum de Alto Nível (HLF) em Paris e foi um dos signatários da “Declaração de Paris sobre a Eficácia da Ajuda” (2005). Moçambique tem conseguido atrair, durante muito tempo, um grande interesse por parte dos doadores. Actualmente 22 doadores bilaterais e cerca de 13 multilaterais apoiam país. O país pode fornecer excelentes referências no que diz respeito à coordenação e harmonização entre os doadores e é frequentemente referido como um exemplo. Os doadores reúnem-se regularmente em Maputo para discutir questões de interesse mútuo. Alguns doadores também realizam avaliações e estudos em conjunto, mas ainda há espaço para melhoramento. Alguns doadores importantes ainda usam canais paralelos e uma parte importante da ajuda a Moçambique ainda é executada fora do orçamento governamental. Em 2009, por exemplo, 48% do total da Ajuda Publica ao Desenvolvimento (APD) dos doadores do G-19, dos EUA e das instituições da ONU ainda foi destinada para projetos específicos desses doadores19. Mais 18 The Informal Governance Group and Alliance 2015, Aid and Budget Transparency in Mozambique, Maio 2010, p. 7, 19 Ibidem. 22 coordenação é portanto necessária, por exemplo no domínio da assistência técnica ou no planeamento de missões de avaliação conjuntas20. 2.3 Apoio ao orçamento geral Uma parte importante da ajuda é fornecida sob a forma de apoio orçamental directo por 19 doadores, denominados G-19 (Bélgica (governo federal), Dinamarca, Comissão Europeia, Finlândia, França, Alemanha, República da Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Áustria, Portugal, Suécia, Suíça, Reino Unido, Banco Mundial, Canadá, Espanha e Banco Africano de Desenvolvimento). Em 2009 estes forneceram 30% do total da ajuda a Moçambique (contra 25% em 2008) 21. A sua intervenção está sujeita às disposições de um Memorando de Entendimento que foi renovado recentemente em 2009. Trabalham no âmbito do PARPA II e com base num quadro de desempenho acordado com Moçambique, o chamado Quadro de Avaliação do Desempenho (QAD – PAF). Este último é uma matriz de longo prazo que descreve os principais compromissos anuais de ambos os doadores e do governo de Moçambique para a realização dos objetivos do PARPA22. 2.4. Apoio setorial Uma série de programas de financiamento setorial (semi) harmonizados foram desenvolvidos e vários doadores se comprometeram a coordenar o seu apoio a um setor específico. Isto gradualmente resultou em abordagens setoriais amplas ou SWAps para a Educação (FASE), saúde (PROSAUDE), água (PASR), agricultura (PROAGRI) e obras públicas (PRISE). 2.5. Apoio descentralizado Durante muitos anos a descentralização de partes importantes da política tem sido uma estratégia fundamental do governo central moçambicano de modo a melhorar a política e a sua implementação num contexto local e, consequentemente, em termos de eficácia e eficiência. Muitos doadores bilaterais, têm seguido o governo moçambicano nessa estratégia e além do apoio ao governo nacional agora também, oferecem apoio a uma ou mais autoridades provinciais ou ao processo de descentralização em si. 2.6. Actores indirectos Uma grande variedade de organizações está a trabalhar em Moçambique: ONGs de desenvolvimento nacionais e internacionais, instituições académicas, sindicatos, etc. As suas actividades vão para além do reforço ou da construção de organizações ou da capacidade do seu respetivo parceiro moçambicano. Devido aos imensos desafios envolvidos no alargamento da escala dos diversos serviços nos setores público e produtivos, muitas vezes eles também actuam como prestadores de serviços. Nesse contexto, muitas vezes essas 20 Mesmo dentro do grupo dos G-19, o grupo de 19 doadores que fornecem apoio orçamental geral, há muito trabalho a fazer. De acordo com o próprio desempenho do programa matriz, em 2009, 167 missões internacionais ainda estavam organizados pelos membros, contra um objetivo de menos de 100 missões. Dentro dessas missões internacionais, o número relativo que foi organizado conjuntamente - 25% - ficou muito aquém da meta de pelo menos 40% (República de Moçambique e Parceiros de Ajuda Programático (PAP) , Revisão Anual anexo 3 do Aide-Memoire do Governo e Matrizes do QAD do PAP, Maputo, Maio de 2010, http://www.pap.org.mz/downloads/annual_review_2010/annex3_am_english.pdf. 21 The Informal Governance Group and Alliance 2015, Aid and Budget Transparency in Mozambique, mei 2010, p. 7, http://www.eurodad.org/uploadedFiles/Whats_New/Reports/Aid_Budget_Transparency_in_Moz.pdf. 22 http://www.pap.org.mz/ 23 organizações formam redes de acordo com o setor em que operam. (Dentro da prevenção de saúde e HIV existe o NAIMA+). 3. A contribuição da cooperação flamengo-moçambicana para o desenvolvimento 3.1. A Cooperação Flamenga para o Desenvolvimento em geral A ambição do Governo flamengo é contribuir para um mundo próspero e democrático em estreita colaboração com os parceiros internacionais. Nesse sentido, a Flandres tornou a contribuição para a redução da pobreza e o desenvolvimento socioeconómico dos países em desenvolvimento o alvo geral da sua cooperação. Como uma das regiões mais prósperas do mundo, a Flandres quer assim contribuir parao alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Ao mesmo tempo, a cooperação flamenga está em conformidade com os acordos internacionais sobre as boas práticas dos doadores, estabelecidos na Declaração de Paris (2005), na Agenda de Accra para a Acção (2008) e no Código de Conduta da UE em matéria de divisão do trabalho entre os doadores (2007). Desta forma, a Flandres concentra o seu apoio geograficamente na região da África Austral, nomeadamente a três países parceiros: África do Sul, Moçambique e Malawi; e também de forma sectorial: Acesso à Saúde, Agricultura e Segurança Alimentar, Emprego e Empreendedorismo e, Comércio e Desenvolvimento23. 3.2. A preparação para o início da cooperação formal com Moçambique A Flandres e Moçambique têm mantido fortes laços de cooperação desde 2002, quando Moçambique se tornou o segundo país parceiro oficial na cooperação para o desenvolvimento da Flandres. Os graves danos sociais causados pela epidemia da SIDA foram a causa directa para que o auxílio tivesse sido essencialmente direccionado na luta contra a doença. 2004 foi o ano do primeiro protocolo de cooperação formal entre os governos de Moçambique e de Flandres e este importante tema da saúde tornou-se o ponto principal no âmbito do acordo. O ONUSIDA, o Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia, o Centro Internacional de Saúde Reprodutiva da Universidade de Ghent e os Médicos Sem Fronteiras foram os principais participantes na implementação do acordo de cooperação durante esse período. 3.3. A primeira estratégia para o país Desde 2004, a cooperação foi intensificada tanto ao nível de fundamento como em termos de qualidade. A conclusão do primeiro Documento de Estratégia para o País (DEP I) foi um grande passo nesse sentido. Este documento de estratégia, lançado em Junho de 2006, criou o quadro de referência da cooperação entre a Flandres e Moçambique para o período entre 2006 e 2010. Ele também garantiu o cumprimento da obrigação legal de estruturar a cooperação Flamenga para o desenvolvimento com a concentração de países em conformidade24. A cooperação também foi adaptada aos critérios internacionais sobre a eficiência e a eficácia da 23 K. PEETERS, Beleidsnota 2009-2014, Buitenlands Beleid, Internationaal Ondernemen en Ontwikkelingssamenwerking, pp. 45-56. 24 Lei-Quadro do Parlamento Flamengo sobre Cooperação Internacional de 22 de Junho de 2007, Capítulo VI, artigo 13. 24 cooperação para o desenvolvimento estabelecidos na Declaração de Paris em 200525. A partir desse momento, através da SWAp e outras estruturas, Flandres forneceria apoio directo ao governo de Moçambique na criação e implementação do seu próprio programa, para novamente transformar o domínio da saúde num sector poderoso e dotá-lo de pessoal médico novo e pronto para ser treinado. Ao mesmo tempo o apoio através de actores indirectos na luta contra o HIV/SIDA e para a retenção de pessoal médico, motivado e bem treinado, e de agentes comunitários, continuou na província de Tete. A construção de infra-estruturas de saúde foi incluída como um subsector. Ambos os parceiros também decidiram a favor de uma cooperação intensa no sector da educação em Moçambique e, particularmente, no segmento do ensino técnico e profissional. Enquanto isso, outros departamentos do Governo flamengo como a Educação e o Emprego seguiram o Departamento Flamengo dos Negócios Estrangeiros e da Agência de Cooperação Internacional Flamenga na sua escolha de Moçambique como parceiro privilegiado. Nesse contexto, um grande projecto da UNICEF para a educação infantil ainda está em execução em algumas províncias de Moçambique, e o reforço do diálogo social entre empregadores, trabalhadores e autoridades também está em andamento. Por fim, outras iniciativas de outros actores do desenvolvimento fora do documento de estratégia também recebem apoio, como os planos que envolvam (formação de) turismo de longa duração, acesso a água potável e aquicultura. 3.4. O segundo protocolo de cooperação (Memorando de Entendimento) O crescimento (qualitativo) e a crescente diversificação da cooperação entre os dois parceiros bem como o consenso internacional actualizado sobre a cooperação para o desenvolvimento eficiente e eficaz forçou os parceiros no início de 2009 a adaptarem o seu protocolo de cooperação do seguinte modo: Quanto a Moçambique, a escolha dos sectores de intervenção não será decidida de forma unilateral e será limitada à cooperação na área dos cuidados de saúde e, mais especificamente, na luta contra o HIV/SIDA. Esta escolha faz parte de um diálogo aberto e separado entre o governo moçambicano e flamengo; A conformidade com os princípios internacionais sobre a eficiência e a eficácia da cooperação para o desenvolvimento, ou seja, (1) os programas e estratégias de desenvolvimento pertencem em última instância ao governo de Moçambique, (2) crescente harmonização e integração dos esforços de desenvolvimento flamengos com as iniciativas e os instrumentos de acompanhamento de outros doadores, (3) a gestão orientada para resultados e (4) responsabilidade mútua através de monitorização e avaliação, será feita de forma transversal; Optimização da conformidade com a Lei-Quadro flamenga de Cooperação para o Desenvolvimento através de (1) extensão dos princípios de gestão mencionados no ponto anterior; (2) referência à necessidade de contribuir para a consecução dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e, (3) incorporação de temas transversais, conforme definidos na Cooperação Flamenga para o Desenvolvimento, nomeadamente as questões de género, HIV/SIDA, direitos da criança, boa governação e desenvolvimento sustentável; 25 OESO, A Declaração de Paris sobre a Eficácia da Ajuda e da Agenda de Acção de Acra, 2005/2008, http://www.oecd.org/dataoecd/30/63/43911948.pdf. 25 Definição da divisão de papéis entre as várias organizações de governo dos parceiros envolvidos; Aceitação, por ambas as partes, de outras formas de cooperação e de envolvimento de diversos actores na implementação da cooperação, tal como instituições multilaterais, actores indirectos e cooperação trilateral; Definição do estatuto do pessoal estrangeiro que será utilizado localmente; Definição do lugar do DEP na cooperação; O termo de duração do protocolo e, consequentemente, o seu horizonte de financiamento não será mais limitado a cinco anos, pois ele será agora concluído por um período indeterminado. 3.5. Preparação do segundo Documento de Estratégia para o País (DEP II) No decurso de 2009, o DEP I foi submetido a uma avaliação externa. Embora a avaliação final por parte dos avaliadores sobre a via seguida na melhoria da cooperação tivesse sido bastante positiva, uma série de sugestões importantes foram referidas de modo a elevar a qualidade da cooperação a um nível mais alto, através de uma configuração bem pensada para o segundo DEP (DEP II). Neste contexto, Flandres e Moçambique concordaram, numa discussão em Março 2010, continuar a cooperação da forma mais estruturada possível e iniciar as actividades preparatórias para a instalação do DEP II26. Os parceiros concordaram, numa primeira fase de negociação, que os 12 pontos mencionados abaixo constituirão os princípios condutores da cooperação para o período 2011-2015. Estas orientações constituem a síntese concreta das lições aprendidas e dos compromissos nacionais e internacionais: 1. Manter o mesmo período de execução de cinco anos no âmbito da melhoria da previsibilidade da ajuda para o parceiro governamental envolvido; 2. Intensificação da política de concentração sectorial, focando num único sector com o maior valor potencial para a Flandres, nomeadamente o sector da saúde. E, quando relevante, atenção específica para a saúde sexual e reprodutiva. No entanto, durante os primeiros dois anos, será também dada atenção a examinar uma possível entrada no sector da segurança alimentar/nutrição como o sector de ajuda por excelência numa abordagem multissectorial do tema ‘aceso à saúde’ e com a condição expressa de que os fundos disponíveis serão sempre atribuídos em grande parte ao sector da saúde; 3. Esta relação com o sector deve preferencialmente ser acompanhada da plena participação no diálogo sobre políticas locais através da incorporação e/ou fornecimento de suficientes conhecimentos sectoriais especializados. Isso também permite o monitoramento e avaliação contínua dos esforços flamengos em Moçambique; 4. Respeitar, tanto quanto possível, o princípio de que o país parceiro possui a cooperação durante todo o ciclo de sua configuração e implementação; 5. O DEP deve permitir a integração activa e mais aprofundada, no segundo documento de estratégia, de outras formas de cooperação para o desenvolvimento 26 Governo da Flandres e Governo de Moçambique, Actas aprovadas durante o IV Encontro Anual entre os Governos da Flandres e de Moçambique, pp 6-7. 26 financiadas pelo governo flamengo que estão actualmente, completamente ou parcialmente, fora do âmbito do documento de estratégia (exemplos: apoio de outros departamentos da Flandres, cooperação multilateral, cooperação indirecta, ajuda estrutural de emergência e ajuda humanitária). Isto, não só iria beneficiar a coerência dos vários esforços da Flandres, mas também poderia gerar uma visibilidade muito maior do total da ajuda flamenga entre moçambicanos e outros doadores; 6. Mais encorajamento para a expansão e para uma abordagem programática da cooperação, e providenciar ao mesmo tempo espaço suficiente para ideias inovadoras. 7. Manutenção, por um lado, de uma mistura sensata de diversos instrumentos e métodos de ajuda bem como de apoio ao governo nacional e, por outro lado, de iniciativas provinciais em Tete - a chamada abordagem de portfolio desta cooperação; 8. Manutenção de pelo menos o mesmo nível de financiamento anual (5 milhões de euros/ano como uma indicação) do orçamento inicial da cooperação para o desenvolvimento. Porém, em combinação com o princípio de que quaisquer recursos adicionais serão preferencialmente atribuídos à intensificação da cooperação em curso com os países parceiros, um dos quais Moçambique. A tradução financeira dos esforços de outros departamentos ou de iniciativas total ou parcialmente dirigidos a Moçambique, através de outros canais como as instituições multilaterais, que não fazem parte da estratégia de gestão de risco, serão mantidas fora do valor financeiro deste documento de estratégia, tal como indicado ao Governo de Moçambique, por razões de sua previsibilidade limitada; 9. Para salvaguardar o carácter desvinculado da cooperação flamenga para o desenvolvimento; 10. Em geral, dar suficiente atenção ao tema da boa governação em Moçambique e, em particular no âmbito da cooperação, juntamente com a incorporação de outros temas transversais da cooperação flamenga para o desenvolvimento - género, direitos da criança, HIV/SIDA e desenvolvimento a longo prazo; 11. Incorporar uma estratégia completa para a gestão orientada para resultados e para a gestão de riscos dentro dos limites da responsabilidade mútua; 12. Maior determinação para os esforços contra os impactos negativos das mudanças climáticas e uma forma mais estrutural de ajuda de emergência e ajuda humanitária no documento de estratégia. Ambos os temas serão integrados dentro do sector escolhido, sempre que possível. 27 III. Programa Indicativo 1. A escolha da Saúde como foco exclusivo O tema da Saúde foi escolhido principalmente com base na identificação do relativo valor acrescentado que a cooperação flamengo-moçambicana pode oferecer no âmbito da extensa ajuda externa a Moçambique. Este valor acrescentado decorre essencialmente de uma especialização já disponível no território flamengo e que pode ser aplicado em contextos de desenvolvimento. Isto é ainda mais verdadeiro para o subsector da saúde sexual e reprodutiva. Um segundo critério é a busca da continuidade em relação a estas formas de cooperação que, após uma avaliação cuidadosa, têm provado a sua eficácia. Em terceiro lugar, um critério igualmente importante e que inspirou o foco exclusivo sobre o tema da “Saúde”, no âmbito do Documento de Estratégia para o País, foi uma análise objectiva das necessidades da população moçambicana (análise contextual da Saúde) em combinação com a análise da diferença entre os fundos necessários e disponíveis para a Saúde em Moçambique. 2. Breve análise contextual do sector da saúde em Moçambique 2.1. Geral: um sector com um progresso frágil Tal como referido na análise contextual geral, no decurso das últimas duas décadas, o governo de Moçambique tem conseguido registar progressos significativos numa série de áreas de saúde pública. No entanto, grandes desafios ainda estão por surgir. Um testemunho muito claro da contínua vulnerabilidade da saúde da população moçambicana é a sua relativamente baixa expectativa de vida, tanto da população masculina como feminina (51 anos para ambos os sexos)27. Isto pode ser explicado, em parte, pelo impacto do HIV/SIDA. No entanto, não se pode ignorar a alta taxa de mortalidade entre recém-nascidos e crianças abaixo dos 5 anos de idade, ou a taxa de mortalidade materna ainda relativamente elevada28. Dentro e fora do próprio sistema de saúde existe um número de componentes para nos ajudar a compreender e explicar a frágil natureza do sistema em Moçambique. Estas também se reforçam mutuamente. Estas componentes estão situadas na área da qualidade do financiamento interno e externo (volumes e previsibilidade); na disponibilidade de profissionais de saúde formalmente treinados e de agentes comunitários treinados; na falta de infra-estruturas de saúde adequadas e, da vulnerabilidade epidemiológica de um elevado número de doenças potencialmente fatais. Porém, da mesma forma, os problemas fora do sector da saúde em si, como por exemplo aqueles relacionados com a dificuldade de acesso a alimentos saudáveis e do conhecimento de hábitos alimentares saudáveis, etc., são 27 Incluído em anexo 1 está uma visão comparativa dos indicadores de saúde geral de Moçambique que reflectem a situação de saúde geral da população moçambicana em 2010, e que pode servir como um instrumento de acompanhamento geral na cooperação. Compare isto com a esperança média de vida na Flandres, actualmente em 78,1 anos para homens e 83,1 anos para as mulheres. 28 Dentro do contexto Africano, e mesmo mundial, isto não é certamente um fenómeno exclusivo de Moçambique. Entre outros, isto é comprovado pela enorme atenção internacional que foi dada a o não cumprir desses indicadores, a nível internacional traduzido nos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), ODM 4 e 5, no ano anterior ao lançamento deste DEP. Por exemplo, a cimeira da União Africana realizada em Julho de 2010, foi inteiramente dedicada ao tema da “Saúde Materna e da Criança”, com foco na prevenção da mortalidade infantil e materna. Também a Cimeira dos ODM de 2010 foi em grande medida centrada no fraco desempenho notado em matéria de realização do ODM 4 e, principalmente, os objetivos do ODM 5. O Secretário-Geral Ban Ki-Moon, fez, de facto, no decurso desta cimeira, lançar uma estratégia global especial para promover a saúde de mulheres e crianças em todo o mundo (Ban Ki-Moon, Estratégia Global para a Mulher e Saúde da Criança, http://www.un.org/sg/hf/Global_StategyEN.pdf.) 28 responsáveis pela alta prevalência de desnutrição crónica entre crianças abaixo dos 5 anos de idade e, portanto, para a susceptibilidade e para a reduzida resistência a essas doenças e infecções potencialmente fatais. As páginas seguintes elaboram sobre os graves problemas enfrentados pelo sector da saúde em Moçambique. Esta revisão é de facto necessária de modo a entender correctamente os enormes desafios que vão continuar a confrontar o desenvolvimento de Moçambique e os seus parceiros da saúde no decorrer dos próximos cinco anos. Estes desafios constituem igualmente uma importante fonte de inspiração na determinação dos contextos estratégicos dentro dos quais Moçambique e Flandres irão cooperar num esforço concertado para promover o direito à saúde dos cidadãos moçambicanos mais vulneráveis. Esta questão será desenvolvida mais detalhadamente no ponto 5 de este programa indicativo. 2.2. Financiamento do sector da saúde A despesa média per capita para cuidados de saúde em Moçambique é de 18 dólares americanos. Assim, numa perspectiva global, Moçambique encontra-se na categoria mais baixa de investimento no sector da saúde. O montante atribuído está, portanto, muito abaixo do limiar de cerca de 34 dólares per capita, que é aceite como o requisito mínimo para poder prestar cuidados básicos de saúde ao cidadão individual29. Isto é tanto mais surpreendente tendo em conta que este investimento per capita consiste já de uma parte dos valores relativamente elevados da ajuda internacional aos cuidados de saúde em Moçambique. Por exemplo, em 2008, 73% dos recursos utilizados para os cuidados de saúde vieram de fontes externas. Então, é claro que mesmo com essa ajuda, o chamado défice de financiamento30, no sector da saúde, continua a ser considerável. Uma projecção para 2012 dos fundos disponíveis para a implementação do Plano Estratégico para o sector da Saúde - 495 milhões de dólares americanos - contra os fundos necessários para preencher as necessidades - 660,51 milhões de dólares americanos - mostra que haverá para esse ano um défice de financiamento de pelo menos 25%.31 Isto pode, por um lado, ser parcialmente explicado pelas dificuldades que Moçambique está experimentando, na tentativa de cumprir integralmente as suas obrigações sob o compromisso da Cimeira de Abuja32. Entre outros, os factores instrumentais fazem também parte das exigências conflituantes de toda uma série de sectores sociais e económicos igualmente sub-financiados. Contudo, a ainda limitada capacidade de absorção dentro deste sector, devido à falta de financiamento que permitiria maiores investimentos estruturais e a um prazo mais alargado dentro do sector, contribui para a explicação do deficit. A este respeito, é igualmente crucial estimar o impacto a longo prazo do exercício actual de atribuição entre os doadores europeus, a chamada Divisão do Trabalho ou DdT, relativa ao financiamento (externo) do sector da saúde em Moçambique. Na perspectiva dos doadores no 29 Ministério da Saúde de Moçambique, Plano Estratégico do Setor da Saúde, 2007-2012, http://www.who.int/ countries/moz/publications/pess_2007_2012.pdf, p. 3. Este limiar simples é usado dentro da OMS. O método de cálculo é tratado no J. SACHS, Macroeconomia e Saúde, Investir em Saúde para o Desenvolvimento Económico, Relatório da Comissão sobre Macroeconomia e Saúde, Genebra, OMS, 2001, pp 53-57 30 Deficit de financiamento = A diferença entre o volume de recursos de caixa disponíveis a partir de vários canais e os montantes estimados necessários a fim de realizar um objectivo. 31 + IHP , Taking Stock Report, Mozambique, 2008, pp. 10-11. 32 Na Cimeira de Abuja da União Africana de 2001, os líderes de governos africanos prometeram solenemente que subscreverão o objetivo da atribuição de pelo menos 15% dos respectivos orçamentos para o aprimoramento dos sistemas de cuidados de saúde de seus países (http://wwwupdate.un.org/ ga/aids/pdf/abuja_declaration.pdf). O Ministério da Saúde (MISAU) urge uma vez mais, em relação à realização do plano quinquenal do Governo de Moçambique, para que este compromisso seja honrado (Ministério da Saúde, Proposta PARP 2010-2014, p. 3) 29 final de 2009 (ver anexo 2) pode deduzir-se que em 2011 restarão apenas 13 dos 17 doadores no PROSAÚDE (o fundo comum para sector da saúde). É também provável que, em 2013, um sexto e muito importante doador, o Departamento para o Desenvolvimento Internacional (DFID), retirar-se-á do PROSAÚDE. No entanto, ainda não há novos doadores para substituir os que partem. Até hoje, poucos acordos foram alcançados entre os doadores sobre a questão de quem, entre as partes restantes, detém a capacidade para compensar os fundos perdidos na sequência da retirada dos outros doadores. Só o Canadá tem mostrado planos ambiciosos neste sentido, mas prefere reservar a sua contribuição estritamente nos serviços maternos e infantis. De acordo com esta divisão interna Europeia, é importante salientar que a Comissão Europeia e Moçambique, no seu documento de cooperação para o desenvolvimento estratégico actual (2008-2013), não escolheram o sector da Saúde como sector principal. Ainda assim, a saúde foi incluída como sector não-focal da cooperação. Uma parte significativa dos fundos (10%) foi atribuída a este sector – principalmente através de apoio sectorial e para a luta contra o HIV/SIDA. Por isso, e conforme os dois parceiros, a continuação da cooperação e o alcance de mais resultados no sector da saúde é demasiado importante para eliminá-la já (progressivamente) através de uma estratégia de saída33. Finalmente é verdade que os fundos multilaterais, tais como o “Fundo Global de Combate à SIDA, Tuberculose e Malária”, continuarão a dispor fundos principalmente através de canais paralelos para Moçambique. 2.3. Disponibilidade de pessoal de saúde e de infra-estruturas de saúde O difícil arranque de uma estrutura institucional de formação após a independência, e da duração prolongada da guerra de desestabilização; a migração de pessoal de saúde treinado; o desvio de profissionais de saúde disponíveis para projectos verticais; o subfinanciamento da escolaridade (académica) no sector da saúde e a maior vulnerabilidade dos profissionais de saúde para doenças infecciosas levaram Moçambique a uma acentuada falta de trabalhadores qualificados. Moçambique tem menos do que um médico qualificado por 10.000 habitantes. Verificamos um fenómeno idêntico também noutras categorias de profissionais essenciais da saúde. Por exemplo, Moçambique tem apenas três enfermeiras/parteiras por 10.000 pessoas34. Desafiados por esta crise, o Ministério da Saúde deu início em 2008 a um ambicioso plano nacional para o pessoal de saúde35. Além disso, a distância média que um moçambicano precisa viajar para chegar ao centro de saúde mais próximo - mais de 20 km para cerca de 50% da população - é ainda muito grande. Ao mesmo tempo, há que considerar o mau estado de muitas estradas rurais. Esta combinação, não só garante a dificuldade que os pacientes encontram quando necessitam de tratamento de longo prazo e de medicamentos contra a malária, HIV/SIDA, parasitas intestinais, tuberculose, etc., mas também apresenta sérias dificuldades para as mulheres grávidas em chegar a um hospital para dar à luz36. 33 República de Moçambique e Comunidade Europeia, Documento de Estratégia para o País e Programa Indicativo Nacional para o período de 2008-2013, 25; p. 35; pp. 44-45, ponto II. 6.3 & anexos p. 6. http://ec.europa.eu/delegations/mozambique/documents/eu_mozambique/023_annex_csp_mozambique.pdf 34 OMS, World Health Statistics, 2009. 35 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Recursos Humanos, Plano Nacional de Desenvolvimento dos Recursos Humanos da Saúde, 2008-2015, 2008. 36 “Fatores associados à utilização dos serviços de saúde materna contam para 16% das desigualdades no atendimento qualificado durante o parto. Desse total, 12% das desigualdades podem ser atribuídas à percepção de barreiras de acesso, especialmente a distância dos serviços, que deve ser um foco de intervenção intersetorial em conjunto com o Ministério das Obras Públicas para melhorar as estradas e com o Ministério dos Transportes para melhorar a disponibilidade de transporte em zonas desfavorecidas” OMS, Um relatório da OMS 30 A grave crise da escassez de pessoal de saúde formalmente treinado e a falta de uma infraestrutura permanente tornam imperativa a participação activa das comunidades em projectos de saúde curativa mas também, e principalmente, em projectos de saúde preventiva. Neste sentido, é necessário que os iniciadores sejam treinados e colocados para trabalhar nas comunidades. Estes iniciadores, ou facilitadores, podem então funcionar como contactos e “disseminadores” dentro de suas comunidades, de modo a continuar a ensinar as boas práticas de higiene e saúde que lhes foram ensinadas. Em Moçambique, estes indivíduos são chamados de “Agentes Polivalentes Elementares de Saúde”. No entanto, o Governo de Moçambique continua apreensivo com a mobilização da comunidade de uma forma deficiente e até mesmo contra-produtiva no trabalho em saúde local. Consequentemente, diferentes critérios são estabelecidos para garantir um emprego correcto e sustentável dos trabalhadores comunitários37. 2.4. Doenças infecciosas mortais HIV/SIDA Moçambique regista uma prevalência de HIV/SIDA de 11,5% entre o grupo populacional dos 15 aos 49 anos de idade38. O facto de ser precisamente este segmento da população que sofre com esta doença persistente e mortal, acarreta um impacto desproporcionalmente grave no tecido social e económico da nação. Olhando para o número de mortes, constatamos que em 2007, aproximadamente 81.000 moçambicanos morreram de uma doença relacionada com a SIDA. Como tal, o país contribuiu com 3,68% de vítimas da SIDA a nível mundial, mesmo que abriga apenas 0,31% da população mundial. Ao mesmo tempo, observamos um número desproporcional de infecções “jovens”. Em combinação com o longo período de incubação do vírus e o acesso limitado a (modernas) terapias antiretrovirais, levanta grandes problemas para o futuro. Além disso, a mortalidade materna está a aumentar em grande escala. A estimativa de prevalência entre as mulheres jovens dos 15 aos 24 anos de idade (11,1%), em Moçambique, é três vezes superior à taxa entre os homens da mesma faixa etária (3,7%)39. Dado o importante papel das mulheres na criação e educação dos filhos e no garante de um rendimento para suas famílias, esta situação irá afectar desproporcionalmente a estabilidade social e económica das famílias40. Finalmente, observamos um aumento alarmante no número de crianças entre os 0 e 11 meses, infectadas pelo HIV (2,3%), contra uma prevalência muito mais baixa (1%) entre as crianças dos 5 aos 9 anos41. Não é exagerado falar no dano do HIV/SIDA para o tecido económico de Moçambique: a perda de dezenas de milhares de moçambicanos durante os seus anos mais produtivos, além das dezenas de milhares de pessoas que durante longos anos irão depender de uma atenção contínua à sua condição e, portanto, exigir que uma enorme quantidade de energia produtiva sobre as iniquidades em saúde materno-infantil em Moçambique, Genebra, 2007 http://www.who.int/countries/moz/publications/moz_motherchild_iniquities.pdf, p. 16. 37 Ministério da Saúde de Moçambique, Plano Estratégico do Sector da Saúde, 2007-2012, http://www.who.int/countries/moz/publications/pess_2007_2012.pdf, pp. 13-14. Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública, Plano Integrado para o Alcance dos Objectivos 4 e 5 de Desenvolvimento do Milénio, 2009-2012 (2015), Maputo, 2008, p. 39. 38 Ministério da Saúde & Instituto Nacional de Saúde, Relatório Preliminar sobre a Prevalência da Infecção por HIV, INSIDA, 2010, p. 7. 39 Idem, p. 8. 40 OMS, ONUSIDA e UNICEF, Ficha Epidemiológica em HIV e SIDA, Moçambique, Actualização 2008 http://apps.who.int/globalatlas/predefinedReports/EFS2008/full/EFS2008_MZ.pdf. 41 Ministério da Saúde & Instituto Nacional de Saúde, Relatório Preliminar sobre a Prevalência da Infecção por HIV, INSIDA, 2010, p. 9. 31 seja dedicada aos seus cuidados; os encargos sociais impostos pelas consequências desta epidemia generalizada de SIDA; os enormes custos médicos necessários para tratar centenas de milhares de pacientes com longos inibidores provenientes da SIDA; a perda de pessoal técnico educado e treinado, etc. De acordo com projecções bem fundamentadas, esta doença é culpada por a economia nacional estar actualmente a produzir entre 14 a 20% abaixo do que poderia ou teria sido sem os terríveis impactos do HIV/SIDA, dado que com 0,3 a 1% por ano, ela tem tido um desempenho abaixo do seu potencial normal42. Por isso, continua a ser um grande desafio para Moçambique prosseguir a sua batalha para tentar manter a epidemia sob controlo através de uma política persistente, multisectorial e multidimensional, com preocupações de prevenção, tratamento e cuidados. Porém, Moçambique e os seus parceiros já têm conseguido resultados impressionantes neste domínio. Um conselho nacional de coordenação das actividades multissectoriais no combate ao HIV/SIDA está a trabalhar activamente. Da mesma forma, neste momento, o terceiro plano nacional para uma reacção coordenada para esta doença, o chamado PENN III, está a ser implementado43. Entre os recursos mobilizados, é especialmente o rápido aumento do número de centros equipados para administrar os TARV e o número de pessoas admitidas à terapia ARV (Antiretroviral) que é mais impressionante. Capacidade de crescimento do Ministério da Saúde para administrar ARV a pacientes com HIV/SIDA44 Indicador 2005 Atdo 2006 Obj. Atdo 2007 Obj. # Centros 38 24 150 112 Adultos Crianças Total 17.325 1.631 18.956 19.119 1.686 20.805 36.314 3.416 39.730 40.684 3.686 44.370 Atdo 211 2008 Obj. Atdo 112 213 84.600 11.820 96.420 118.937 9.393 128.330 2009 Obj. Atdo Obj. 220 # Pacientes 82.001 6.210 88.211 111.454 20.826 132.280 156.688 13.510 170.198 146.500 11.500 158.000 O aumento dramático no número de centros que oferecem tratamento para HIV/SIDA é imediatamente perceptível. Aliado a isso está uma explosão no número de pacientes internados no âmbito de um plano de tratamento crónico. Isso pode ser explicado, entre outras razões, por uma mudança de política em 2008. A fim de fazer o seu combate contra o HIV/SIDA mais eficiente e eficaz, o Governo de Moçambique decidiu descentralizar os serviços de atendimento para adultos e crianças para os 209 centros de saúde de nível primário e secundário. Devido à rápida expansão do número de locais onde a terapia preventiva de ARV pode ser administrada a mulheres grávidas com HIV positivo - de 222 centros em 2006 para 832 até o final de 2009 - foi possível aumentar a cobertura de saúde, deste grupo de mulheres, de 29,8% para 45,7%45. Mas também existe um lado negativo nesta 42 Ch. ARNDT, HIV/AIDS, Human Capital, and Economic Growth Prospects for Mozambique, Africa Region Working Paper Series No. 48, February 2003 (http://www.worldbank.org/afr/wps/wp48.pdf). 43 Conselho de Ministros, Plano Estratégico Nacional de Resposta ao HIV e SIDA,2010-2014, PENN III, http://www.cncs.org.mz/index.php/por/Publicacoes/Planos-do-CNCS. 44 Composto por: Ministério da Saúde, Matriz de Desempenho do Sector de Saúde: Metas Referentes ao Período 2008-2012 e Conselho Nacional da SIDA de Moçambique, Declaração Universal de Compromisso sobre HIV e SIDA, Relatório de Progresso de Moçambique, Relatório para as Nações Unidas Sessão Especial da Assembleia Geral sobre HIV e SIDA, 2006-2007, 2008 (http://data.unaids.org/pub/Report/2008/mozambique_2008_country_ progress_report_en.pdf, pp.58-59 & Idem, 2008-2009, 2010 (http://www.unaidsrstesa.org/files/u1/mozambique_ 2010_country_progress_report_en.pdf), pp. 73-80. 45 Figuras compostas por: Ministério da Saúde, Matriz de Desempenho do Sector Saúde 2009; OMS, OMS estratégia nacional de cooperação, 2009-2013, Moçambique, 2009, p. 9 (http://www.who.int/countryfocus/cooperation_strategy/ccs_moz_en.pdf ). 32 questão. São necessários altos investimentos para poder garantir a qualidade dos serviços e o acompanhamento apropriado desses pacientes crónicos no futuro. Estamos ainda perante um enorme desafio. O aumento relativo entre 2008 e 2009 de 8% (3038%) do número de pacientes em estado avançado de infecção pelo HIV, versus o número de pacientes em tratamento é impressionante. Ao mesmo tempo, temos de reconhecer que apenas 42% dos adultos e até mesmo apenas 19% das crianças (!) dentro deste grupo poderia realmente contar em receber tratamento ativo46. Finalmente, há também o componente geográfico para este aumento impressionante. Na parte sul do país, 65% dos adultos e 43% das crianças doentes foram admitidas para tratamento. No centro e no norte este número cai para apenas 30% e 10% e, 30% e 13%, respectivamente, para ambas as faixas etárias. Isto quando a epidemia se manifesta principalmente no centro e no sul. Há, portanto, um problema de equidade no acesso aos serviços de saúde específicos. É de notar também que 63% dos pacientes tratados são do sexo feminino. Como tal, a relação entre masculino e feminino no número total de infecções começa a refletir-se também no número relativo de mulheres tratadas47. Tuberculose (TB) Com uma prevalência estimada de 624 pacientes por cada 100.000 habitantes, Moçambique ocupa o 19º lugar numa lista mundial de 22 países com alta incidência de doença causada pela TB. Ao mesmo tempo, em 2008, a co-infecção de pacientes de TB com o HIV/SIDA explodiu para um nível alarmante de 60,1%. Esta combinação maligna é também responsável por um aumento no número de pacientes afetados pela TB multirresistente: 3,4% dos novos pacientes de TB têm que lidar com uma estirpe multirresistente da bactéria. Entre os mais deteriorados, isso é já de 8,3%. A TB extremamente resistente a medicamentos está inclusivamente a começar a fazer vítimas, ameaçando assim qualquer progresso no combate à doença. A taxa de sucesso do tratamento (49% de acordo com os padrões da OMS) está muito aquém do objetivo global de 85%. Por conseguinte, o Governo de Moçambique declarou a epidemia como emergência nacional e elaborou um Plano Estratégico Nacional para 2008-201248 de modo a combater este problema49. Malária A malária é endémica em 99% do país e é a principal causa de morbidade e mortalidade em Moçambique. Anualmente, cerca de 6 milhões de casos de malária são registados. No entanto, embora a tendência seja de queda, o índice geral de mortalidade devido a malária continua a ser elevado (92/100,000 moçambicanos). Estima-se que cerca de 24% da mortalidade infantil na faixa etária entre os 0 e os 5 anos de idade deve-se à malária. Ao mesmo tempo, a doença é também a causa de um grande número de mortes entre as mães. A malária é responsável por 26% das mortes nos hospitais. A doença é a causa directa de 40% das visitas a doentes fora do hospital. Apesar de 15,7% das famílias em Moçambique possuírem redes mosquiteiras, apenas 7,3% das mulheres grávidas e 6,7% das crianças dormem sob uma rede de protecção. 46 Duplo indicador de progresso relativo ao tratamento ARV, inscritos no PARPA II. Conselho Nacional de combate ao HIV/SIDA de Moçambique, Declaração Universal de Compromisso sobre o HIV e SIDA, Relatório de Progresso de Moçambique, Relatório para as Nações Unidas Sessão Especial da Assembleia Geral sobre HIV e SIDA, 2008-2009, 2010 (http://www.unaidsrstesa.org/files/u1/mozambique_2010_ country_progress_report_en.pdf), pp. 73-80. 48 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Promoção de Saúde e controlo de Doenças, Plano Estratégico Nacional de Controlo da Tuberculose em Moçambique para o Período 2008-2012, 2007, http://www.misau.gov.mz/pt/programas/tuberculose. 49 Ministério da Saúde de Moçambique, Plano Estratégico do Setor da Saúde, 2007-2012, http://www.who.int/countries/moz/publications/pess_2007_2012.pdf, pp. 18-19. 47 33 Assim, não surpreende que Moçambique, confrontado com uma ameaça à saúde pública de tal escala, tenha elaborado uma estratégia nacional anti-malária50. 2.5. Harmonização e coordenação inadequada entre os doadores Os últimos dez anos têm testemunhado uma enorme mudança no ponto de vista de uma política de desenvolvimento eficiente para o setor da saúde. Como ela estava concebida, muita atenção era dada ao financiamento vertical da luta contra algumas doenças e epidemias, entre as quais, e principalmente, o HIV/SIDA. A fim de registar rápidos ganhos nessa área, era necessário recorrer a outros métodos paralelos na prestação de serviços de saúde. Estes competiam com o setor público com recursos muito desiguais. Assim, não só o desenvolvimento prioritário de uma ampla base de cuidados de saúde encontrava-se completamente subfinanciado51, mas também importantes recursos (humanos) haviam sido desviados dos centros de prestação de cuidados gerais. Consequentemente, a crise de recursos humanos no setor da saúde em Moçambique, anteriormente apresentada, tornou-se mais aguda do que nunca. A um grande número de médicos e enfermeiros foi-lhes assim atribuído responsabilidades muito reduzidas e limitadas. Além disso, eles eram obrigados a manter um registo de administração de programas específicos de saúde que, na sua maioria, pareciam incompatíveis com o sistema público de informação. Além disso, a Comissão Europeia (CE) apoiou fortemente esta tendência para a aplicação vertical das suas contribuições no setor da saúde52. No contexto desta problemática, também devem ser mencionados os fundos substanciais à disposição de Moçambique fora das chamadas Iniciativas Globais de Saúde, como por exemplo, o “Fundo Mundial de Luta contra a SIDA, Tuberculose e Malária” (GFATM), o “Programa Multi-país de SIDA do Banco Mundial” (MAP), e o “Plano de Emergência do Presidente para o Alivio de SIDA” (PEPFAR) que planeia investimentos de 200-250 milhões de dólares americanos por ano até 201453. Estes fundos, de facto, ajudam Moçambique em doenças específicas, por canais paralelos, e portanto, sem uma grande dose de sincronização com o planeamento nacional e procedimentos administrativos. A este respeito, eles ainda competem com as autoridades e instituições que prestam serviços. Isto, não só hipoteca a sustentabilidade do impacto de um grande número desses fundos, mas também, e ao mesmo tempo, priva as autoridades de Moçambique de uma parte considerável de financiamento (previsível) e de um já esgotado e escasso pessoal de saúde. Para ser capaz de remediar esta situação, Moçambique assinou em 2008 um chamado compact com a International Health Partnership (IHP+)54 50 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde, Departamento de Epidemiologia e Endemias, Programa Nacional de Controlo da Malária, http://www.misau.gov.mz/pt/programas/malaria. 51 O fortalecimento dos cuidados primários de saúde como a principal estratégia para atingir o ambicioso objetivo mundial “Boa Saúde para Todos” foi inscrito pela primeira vez na declaração de Alma Ata de 1978 pela Comunidade Mundial. Só agora, mais de 30 anos após a sua formulação, e após 20 anos de uma política predominantemente vertical, mais uma vez tornou-se um tema central no debate sobre o desenvolvimento. A este respeito, o relatório de 2008 sobre o estado de saúde do mundo foi dedicado a uma reavaliação da declaração de Alma Ata para a promoção dos cuidados primários de saúde: OMS, Relatório Mundial da Saúde 2008, Cuidados Primários de Saúde, Não mais do que sempre, 2008, http://www.who.int/whr/2008/whr08_en.pdf, DANIDA, Saúde e Desenvolvimento, Uma Nota de Orientação para a Assistência Dinamarquesa ao Desenvolvimento para a Saúde, 2009, pp 1-2. 52 s.n., CE Assistência ao Desenvolvimento a Serviços de Saúde na África Subsariana, acompanhado das respostas da Comissão (Relatório Especial n º 10/2008), http://eca.europa.eu/portal/pls/portal/docs/ 1/2482362.PDF, 2008, pp. 18-19 & passim. 53 USAID, Moçambique, Estratégia de Assistência Nacional, 2009-2014 http://www.usaid.gov/mz/doc/ plan/usa_moz%20assistance%20strategy%202009-14.pdf, p. 16 54 http://www.internationalhealthpartnership.net/CMS_files/documents/ihp_mozambique_compact_EN.pdf. 34 2.6. O complexo setor da saúde e direito sexual e reprodutivo Vários factores, entre os quais a elevada prevalência de HIV/SIDA entre as mulheres jovens e a desigualdade na acessibilidade a cuidados de saúde institucional ajudam-nos a explicar a alta taxa de mortalidade materna e infantil. A este respeito, Moçambique está ainda longe de ser capaz de alcançar o alvo dos ODM 4, 5 e 6. Em termos de suprimir a taxa de mortalidade entre crianças menores de cinco anos, Moçambique terá praticamente de dobrar a sua taxa de progresso a fim de alcançar seu objetivo. Além disso, Moçambique está ainda a tentar lidar com um dos valores mais elevados de mortalidade neonatal em todo o mundo. Também no que respeita à taxa de mortalidade materna, Moçambique - apesar da redução impressionante de 65% entre 1990 e 2009 - permanece entre as nações com maiores taxas nesta área55. Para registar progressos em relação a estes indicadores cruciais, recomenda-se uma maior incidência na melhoria da saúde sexual e reprodutiva da população de Moçambique em geral e, das mulheres durante a fase reprodutiva, em particular. A importância desta maior focalização é aparente na atenção dada dentro do atual Plano Estratégico para o Sector da Saúde (PESS) aos desafios específicos da saúde com respeito à taxa de mortalidade materna. Um grande número de desafios estruturais é anotado aqui. Em extensão desta matéria, o Governo de Moçambique compôs um programa especial integrado, para alcançar os ODM 4 e 5, que, por sua vez, abrange também uma parte do programa nacional de saúde reprodutiva56. O Governo flamengo, por seu lado, tem marcado este setor como um componente importante nos seus esforços cooperativos internacionais na sua actual política. Dentro das suas fronteiras, encontra-se nesta área específica de facto muita experiência reconhecida internacionalmente57. 2.7. A desnutrição e as práticas de má nutrição Com uma média nacional de 44%, a prevalência de desnutrição crónica entre crianças menores de 5 anos de idade é muito elevada em Moçambique. Da mesma forma, um número relativamente elevado de recém-nascidos nasce com baixo peso (15%). Isto exerce, sem dúvida, um forte impacto sobre o desenvolvimento físico e mental dessas crianças e, no futuro, irá também restringir severamente as oportunidades de desenvolvimento local. Dentro de algumas províncias, como Cabo Delgado (56%), Nampula (51%), Tete e Manica (48%), a média de desnutrição é um pouco maior. Em geral, a desnutrição não é apenas uma consequência da insuficiente ingestão de macros nutrientes. Muitas vezes, existem também outras causas relativas, como infecções múltiplas que acompanham as doenças (principalmente doenças relacionadas com a diarreia), desequilíbrio nutricional com deficiência de proteínas, açúcares e micro nutrientes, maus cuidados e más práticas alimentares entre recém-nascidos e bebés, serviços de saúde inadequados, água contaminada e falta de instalações sanitárias. Embora ligeiramente, a percentagem de crianças menores de 55 Ministério da Saúde., Avaliação de Necessidades em Saúde Materna e Neonatal em Moçambique, 2009. BRYCE J., B. DAELMANS, DWIVEDI EA A., Countdown to 2015 for maternal, newborn, and child survival: the 2008 report on tracking coverage of interventions, in: The Lancet, Vol. 371, April 2010, pp. 1253-1254, http://download.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140673608605590.pdf?id=e16241398b8eb460:550f3e78:12a376bc7e4:45261280838057237. 56 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública, Plano Integrado para o Alcance dos Objetivos 4 e 5 de Desenvolvimento do Milénio, 2009-2012 (2015), Maputo, 2008. Para o programa nacional da saúde reprodutiva, consulta: http://www.misau.gov.mz/pt/programas/saude_reprodutiva. 57 Esta opção estratégica para as crianças e, principalmente, mulheres, é também formulado na atual Nota política do Governo flamengo: K. PEETERS, Beleidsnota 2009-2014, Buitenlands Beleid, Internationaal Ondernemen en Ontwikkelingssamenwerking, p. 50. 35 cinco anos de idade que estão abaixo do peso estabelecido como normal para sua idade tem diminuído, descendo para 17,5%. No entanto, a este respeito é de notar que este fenómeno ocorre duas vezes mais do que o normal nas zonas rurais do que cidades58. A desnutrição aguda, embora agora menos frequente, continua ainda assim afectando 4% das crianças com idade inferior a 5 anos. Ao mesmo tempo, permanece importante considerar o grave fenómeno da má nutrição, no sentido da falta de micros nutrientes essenciais nas dietas dos segmentos mais vulneráveis da população de Moçambique. 74,7% das crianças, abaixo dos 5 anos de idade, sofrem de anemia associada à falta de ferro, enquanto 52,4% das mulheres em idade fértil sofrem também do mesmo problema59. Anualmente, a carência de iodo provoca sérios problemas mentais a 134.000 recém-nascidos. Para concluir, a carência de vitamina A provoca anualmente a morte prematura de 14.000 crianças de Moçambique60. Por todas estas razões, a este subsector é dado um lugar de destaque no PARPA II, ou seja, ele é definido como um tema transversal e como um direito humano fundamental61. O actual plano estratégico para o sector da saúde desenvolve esse princípio ainda mais além, como prioridade máxima, com a sua ênfase no combate à desnutrição e esforços no sentido de hábitos de alimentação saudáveis62. Da mesma forma, este tema está dentro do contexto dos cuidados de saúde no plano estratégico quinquenal do Governo de Moçambique mantido como um ponto importante de atenção e até mesmo sujeito a uma nova transversalidade. Muito recentemente, também o plano multisectorial para a melhoria da nutrição da população de Moçambique, coordenado pelo Ministério da Saúde, foi aprovado63. 2.8. A desigualdade social no acesso aos cuidados de saúde A desigualdade no acesso aos cuidados de saúde com base na residência e/ou nível de renda é um problema significativo em Moçambique. Porém, essa desigualdade e até a maior vulnerabilidade a doenças específicas e de fraca saúde física e mental em geral são, ao mesmo tempo, caracterizadas por uma dimensão de género. Já desde o início da epidemia do HIV/SIDA, por exemplo, podia-se observar uma forte tendência em Moçambique para atribuir a incidência do HIV às mulheres e, a violência baseada no género continua a ser uma característica dominante no país64. Por sua vez, entre outras razões, isto tem a ver com o facto do nível de renda das mulheres ser significativamente inferior ao dos homens e também com o nível de alfabetização entre as mulheres, que é apenas metade da do sexo masculino65. Junto com a origem/residência rural ou urbana, esses dois factores formam determinantes sociais 58 Instituto Nacional de Estatística, Multiple indicator Cluster Survey, 2008, Maputo, 2009, http://www.unicef.org/mozambique/MICS_Summary_English_201009.pdf, pp. 7-8. República de Moçambique, Relatório sobre o Desenvolvimento do Milénio, 2010, pp.23-24. 59 Iniciativa de micro nutrientes, UNICEF, Banco Mundial, USAID, GAIN & Iniciativa de fortificação de farinhas, Investir no Futuro, um apelo conjunto à acção sobre a carência de vitaminas e minerais, Relatório Global 2009, http://www.unitedcalltoaction.org/documents/Investing_in_the_future.pdf,, p. 41. República de Moçambique, Relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, 2010, pp 24-31. 60 A Iniciativa de micro nutrientes e UNICEF, Carência de vitamina e minerais, relatório de avaliação do dano global, 2004, http://www.micronutrient.org/CMFiles/PubLib/Report-67-VMD-A-Global-Damage-AssessmentReport1KSB-3242008-9634.pdf, p. 8. 61 Governo de Moçambique, Plano para a Redução da Pobreza Absoluta, 2006-2009, http://www.mpd.gov.mz/ documents/parpa/PARPA_II_aprovado_com_Matriz_Final.pdf, pp. 65-67. 62 Ministério da Saúde de Moçambique, Plano Estratégico do Setor da Saúde, 2007-2012, p. 35, 50, 73, 84. 63 República de Moçambique, Plano Multisetorial para a Redução da Desnutrição Crónica em Moçambique, 2011-2014 (2020), Maputo, 2010. 64 N. ANDERSSON, A. COCKCROFT & B. SHEA, Gender-based violence and HIV: relevance for HIV prevention in hyperendemic countries of southern Africa, in: AIDS, Vol. 22, 12/2009, pp. 73-86. 65 Como resultado, Moçambique ocupa a 115ª posição no Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Género (GDI) do ONU, PNUD, Relatório de Desenvolvimento Humano 2009, Ficha Técnica do País, Moçambique, http://hdrstats.undp.org/en/countries/country_fact_sheets/cty_fs_MOZ.html. 36 importantes na procura de serviços de assistência entre as mulheres de Moçambique66. Da mesma forma, o acesso a alimentos adequados e de qualidade é um problema que é afectado por uma forte dimensão da desigualdade. Onde a prevalência de desnutrição entre crianças abaixo de três anos de idade em áreas rurais pode ser tão alta quanto 41%, para as crianças dentro de um contexto urbano este número está muito abaixo de 26%. Entre as crianças de mães sem instrução esse número é de 43% em relação a crianças com mães que tenham aproveitado do ensino primário ou secundário67. Portanto, não é coincidência que a busca da igualdade para todos os moçambicanos, e principalmente para o segmento feminino mais vulnerável da população, seja, em relação ao acesso da população aos serviços de saúde, um ponto extremamente preocupante para os Governos de Moçambique e da Flandres na implementação de suas estratégias de saúde68. 3. Objetivos 3.1. Objetivo geral A Flandres e Moçambique vão trabalhar em conjunto durante o período 2011-2015 de modo a prosseguir o direito fundamental de acesso ao mais alto nível possível de saúde para toda a população de Moçambique, como parte de uma estratégia para reduzir a pobreza absoluta no país. Concretizando esses objetivos, eles estão a implementar a missão do Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU), conforme definido no seu plano estratégico actual: “Promover a Saúde e Bem-Estar dos moçambicanos, com especial atenção aos grupos vulneráveis através de intervenções inovadoras e através da prestação de serviços de saúde de boa qualidade que, ao mesmo tempo, sejam duráveis e que progressivamente estejam ao dispor de todos os moçambicanos, através da realização dos princípios de igualdade em termos de acesso à saúde e eficiência”69. Ao mesmo tempo, o quadro geral destes laços de cooperação ligam-se na perfeição com o papel que a União Europeia e os seus Estados-Membros identificaram para si na cooperação internacional destinada a promover a saúde global: 66 A percentagem de mulheres grávidas que fazem várias visitas pré-natais (pelo menos 4) ao centro de saúde é quase três vezes mais alta nas cidades (71%) do que nas áreas rurais (26%). Também, o facto de saber se uma mulher grávida pode ou não, no final da viagem, receber cuidados de saúde por pessoal treinado, está de um modo significativo relacionado com determinantes sociais. Por exemplo, a diferença de rendimento seria determinante em 61% no que se refere a esta desigualdade relativa ao acesso a cuidados institucionais, a escolaridade da mãe 16%, e o meio rural 16%. Ao mesmo tempo, a distância do centro de saúde contribui em 12% para a mãe procurar assistência técnica durante o nascimento de seu filho. Ainda mais impressionante, porém, é o facto de que a percepção da qualidade do serviço de atendimento é responsável por nada menos que 23% nesta desigualdade. OMS, Pobreza e Determinantes Sociais da Saúde, Um relatório da OMS sobre as iniquidades em saúde materno-infantil em Moçambique, Genebra, 2007, p. 2, http://www.who.int/ social_determinants/media/inequities_maternal_child_health_mozambique_2007.pdf. 67 OMS, OMS Estratégia Nacional de Cooperação, 2009-2013, Moçambique, 2009, p. 5 (http://www.who.int/ countryfocus/cooperation_strategy/ccs_moz_en.pdf ). 68 “A preocupação central do Governo de Moçambique na área de saúde é melhorar o acesso com equidade a serviços de saúde essenciais e assegurar que o setor da saúde desempenhe um papel essencial na estratégia de redução da pobreza no País.” “O PESS (...) visa essencialmente reduzir as iniquidades entre a zona rural e urbana assim como as iniquidades ligadas ao género, educação e nível sócio económico. Ministério da Saúde de Moçambique, Plano Estratégico do Setor da Saúde, 2007-2012, http://www.who.int/countries/moz/ publications/pess_2007_2012.pdf, p. 2 & p. 6. 69 Ministério da Saúde, Plano Estratégico do Setor da Saúde, 2007-2012, p. 10. 37 “A UE tem um papel central a desempenhar na aceleração do progresso sobre os desafios da saúde global, incluindo os ODM de saúde e doenças não transmissíveis, através do seu compromisso de proteger e promover o direito de todos desfrutarem do mais elevado nível possível de saúde física e mental. O conselho salienta os valores comuns da UE de solidariedade para a cobertura equitativa e universal de serviços de saúde de qualidade como base para as políticas da UE nesta área” 70. Além disso, ambos os parceiros partem da noção de que a saúde requer uma abordagem multisectorial. Neste contexto o sector técnico da saúde é apenas uma ferramenta para promover a saúde. Outros sectores precisam, portanto, de ser envolvidos a fim de promover o impacto dos nossos esforços. A falta de uma abordagem multisetorial em Moçambique é considerada um problema fundamental para a obtenção efectiva de resultados de saúde71. Ao mesmo tempo, a UE e os seus Estados-Membros aplicam esta abordagem multisectorial como uma boa prática para a Cooperação em Saúde com países em desenvolvimento72. Mas a nova estratégia global da ONU para promover a saúde de mulheres e crianças também se baseia na necessidade de uma abordagem multisetorial73. O sector de ajuda privilegiado na promoção da saúde para ambos os parceiros74, mas também para a UE75 e Nações Unidas76, é sem dúvida a alimentação e as práticas de nutrição. Disponibilidade suficiente e ingestão adequada de micro e macro nutrientes suficientemente diversificados protegem os indivíduos e as comunidades de condições prejudiciais à saúde, incluindo vários tipos de anemia crónica e escassez crónica de glóbulos brancos. Estes, por sua vez, têm um impacto directo sobre a resistência individual e colectiva contra uma variedade de doenças infecciosas, incluindo HIV/SIDA. Uma dieta correta e adequada protege também contra o aumento da prevalência de várias doenças não-transmissíveis mas muito prejudiciais, como diabetes, e contra todos os tipos de distúrbios do crescimento físico e mental. A cooperação neste sector único de apoio irá beneficiar de uma atenção necessária, embora a ênfase actual em termos de mobilização de recursos e a identificação de projetos e programas será sempre no sector da saúde em si. 3.2. Objetivo específico e sub-objetivos Os princípios básicos constantes da cooperação, incluindo (1) a colaboração sobre o tema de acesso à saúde como parte integrante de uma estratégia mais ampla de combate à pobreza, (2) a necessidade de uma abordagem multisetorial, a fim de ser capaz de alcançar o progresso sustentável e significativo neste domínio e, (3) a identificação do setor de práticas nutricionais 70 UE e Estados-Membros, As conclusões do Conselho sobre o papel da UE em Saúde Global, 3011° Reunião do Conselho de Negócios Estrangeiros, http://onetec.be/global_health/doc/Council%20Conclusions% 20Global%20Health%20May%202010.pdf, item 4. 71 + IHP , Taking Stock Report, Mozambique, 2008, p. 6. 72 “… uma atenção especial será dedicada aos quatro principais desafios de saúde (saúde sexual e reprodutiva, saúde da criança, doenças transmissíveis e não transmissíveis) e à natureza multidimensional da saúde, com estreitas ligações ao género, segurança alimentar e nutricional, água e saneamento, educação e pobreza” União Europeia e Estados-Membros, As conclusões do Conselho sobre o papel da UE em Saúde Global, 3011° reunião do Conselho de Negócios Estrangeiros, 2010, item 6. 73 Ban Ki-Moon, Global Strategy for Women’s and Children’s Health, p. 5, p. 7-8, p. 10 e p. 16. 74 Conselho Nacional de Moçambique para SIDA, Declaração Universal de Compromisso sobre HIV e SIDA, Relatório de Progresso de Moçambique, Relatório para Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre HIV e SIDA, 2008-2009, 2010, pp 83-87. 75 União Europeia e Estados-Membros, Conclusões do Conselho sobre o papel da UE na Saúde Global, 3011° reunião do Conselho de Negócios Estrangeiros, 2010, item 16.d. 76 Ban Ki-Moon, Global Strategy for Women’s and Children’s Health, p. 5, p. 6, p. 7, p. 8, p. 9, p. 10, p. 12 & p. 16. 38 como um sector de apoio extremamente importante para o tema da saúde levam-nos a determinar o seguinte objetivo específico para essa cooperação: "Contribuir para o desenvolvimento e implementação de uma política de saúde eficiente e eficaz a nível nacional e na Província de Tete (ODM 1, 4, 5 e 6)" e isso em conjunto com os seguintes sub-objectivos a partir dos quais a cooperação flamengo-moçambicana pretende derivar o seu real valor acrescentado: 1. Contribuir para o desenvolvimento de um conjunto crítico de trabalhadores de saúde bem treinados e motivados (ODM 4, 5 e 6); 2. Contribuir para a investigação de boa saúde e vigilância de doenças e epidemias (ODM 4, 5 e 6); 3. Contribuir para a promoção da saúde e direitos sexuais e reprodutivos (ODM 4, 5 e 6); 4. Contribuir para a promoção de práticas de nutrição saudáveis (ODM 1, 4, 5 e 6). Como resultado, a cooperação vai contribuir para atingir quatro dos seis objetivos estratégicos em termos de saúde no novo plano quinquenal do Governo moçambicano77: 1. A promoção da igualdade de acesso a cuidados de saúde através dos quais a promoção da saúde das mulheres e crianças, e outros grupos vulneráveis é privilegiado; 2. Reduzir o impacto das doenças endémicas graves, como malária, tuberculose, HIV/SIDA, parasitas intestinais, doenças diarreicas e outras pandemias. Contribuir para reduzir o grau de desnutrição crónica e malnutrição como resultado de uma ingestão inadequada de proteínas/calorias e micro nutrientes; 3. Melhorar a gestão dos trabalhadores de saúde, aumentar o nível de humanismo do serviço - com atenção especial para recepção qualitativa dos utilizadores, bem como na satisfação das suas necessidades; 4. Garantir a sustentabilidade e boa gestão financeira do sector através do reforço da capacidade institucional a todos os níveis e, pela consolidação dos mecanismos de parceria e de acção contra a corrupção. Ambos os Governos têm incorporado a sua cooperação na agenda dos objetivos de Desenvolvimento do Milénio da ONU. 4. Temas Transversais Ao programar e realizar a sua cooperação, os parceiros irão também incorporar os temas transversais de género e HIV/SIDA que se sobrepõem para ambos os governos. Os outros temas transversais, tais como definidos pela Lei-Quadro flamenga sobre a cooperação para o desenvolvimento, nomeadamente: direitos da criança, boa governação e desenvolvimento sustentável irão receber sistematicamente atenção dentro de todos os programas e projectos de apoio por parte do Governo flamengo78. Por fim, será feito um esforço adicional, através da incorporação de determinados elementos no âmbito da cooperação (regional), nos temas transversais que foram identificados pelo governo moçambicano mas que não coincidem com 77 Governo de Moçambique, Programa Quinquenal do Governo para 2010-2014, pp. 25-30. Do desenho do novo programa de redução da pobreza, conhecido como PARP, pode deduzir-se que este programa assumirá a maioria dos objectivos do programa estratégico sobre a promoção da saúde da população moçambicana. 78 Lei-Quadro sobre Cooperação para o Desenvolvimento, de 13 de Junho de 2007, Capítulo III, art. 10. 39 os temas flamengos. Estamo-nos referindo mais especificamente, à desminagem, segurança alimentar, ciência e tecnologia e desastres naturais79. 5. Abordagem estratégica 5.1. Apoio orçamental sectorial como um instrumento privilegiado Um sistema de saúde forte e adequadamente financiado é condição básica para a realização de progressos duradouros no acesso à saúde. Neste sentido, a grande maioria dos esforços tem de focar numa estratégia única concebida pelo próprio governo moçambicano. A execução administrativa e técnica deste programa sectorial tem de ser coordenada, tanto quanto possível, por este Governo e suas instituições. A modalidade de ajuda mais adequada para tal horizontalização no sector da saúde é sem dúvida a abordagem sectorial ampla para o sector da saúde: o SWAp para a saúde. Nesse sentido, a UE e os seus Estados-Membros já se comprometeram a: “(...) Sempre que possível, canalizar dois terços das suas contribuições anuais para a saúde através de um programa de cooperação com os países parceiros. Neste contexto, pelo menos 50% desses fundos serão alocados pelos próprios sistemas dos países, incluindo o mecanismo do apoio orçamental setorial. Simultaneamente, perseguirão a previsibilidade a médio e longo prazo para facilitar a concepção e implementação de estratégias nacionais de saúde” 80. Os dois parceiros também concordam programar uma contribuição significativa de pelo menos 2 milhões de euros por ano à PROSAUDE. 5.2. Focalizando em subsectores específicos Recursos humanos para a saúde (RHS) Moçambique tem de lidar com uma das piores crises do mundo em termos de recursos humanos disponíveis para a saúde (RHS) ou pessoal de saúde. Contudo, a suficiente disponibilidade de pessoal qualificado constitui um requisito básico para alcançar o progresso em praticamente todos os componentes dos cuidados de saúde. Ambos os parceiros decidiram pôr uma atenção extensiva nesta questão, nos diversos níveis da sua cooperação, a fim de contribuir para a intensificação dos esforços em termos de dedicação, formação e motivação do pessoal de saúde. Assim, o Governo moçambicano decidiu implementar um “Plano Nacional de Desenvolvimento de Recursos Humanos da Saúde”. A Flandres procurará libertar uma contribuição anual de 1 milhão de euros para apoiar a implementação deste plano81. 79 PARPA II, pp. 61-72. PQG, pp. 100-110. “Segundo os compromissos de Paris e de Acra sobre a eficácia da ajuda, a UE e seus Estados-Membros deverão, sempre que as circunstâncias o permitam, procurar canalizar dois terços do Consolidated Plan of Action (CPA) para a saúde através de abordagens programáticas, de pelo menos 50% utilizando os sistemas dos países, incluindo o apoio orçamental. Eles esforçar-se-ão para alcançar a previsibilidade a médio prazo de modo a permitir a concepção e implementação de estratégias nacionais de saúde”. União Europeia e EstadosMembros, as conclusões do Conselho sobre o papel da UE em Saúde Global, 3011ª reunião do Conselho de Negócios Estrangeiros, item 9. 81 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Recursos Humanos, Plano Nacional de Desenvolvimento dos Recursos Humanos da Saúde, 2008-2015, 2008. 80 40 Investigação na saúde e monitorização De modo a alocar os escassos recursos de saúde da forma mais eficiente e eficaz possível, é essencial empregar uma boa coleta de dados médicos e conduzir uma monitorização epidemiológica e uma investigação na área da saúde de forma adequada e ética. Esta é a única forma de garantir que as escolhas certas em termos da definição de prioridades no âmbito da política geral de saúde e, do tratamento mais adequado, será feita pelo governo82. Parte da cooperação flamengo-moçambicana poderá assim ir no apoio a actores que possam oferecer a totalidade ou parte dos seguintes serviços, da forma mais eficiente e eficaz possível: 1. monitorização do estado da saúde no território nacional ou parte dele; 2. gestão e divulgação de dados de saúde estratégicos para a elaboração de políticas; 3. controle de qualidade de vacinas, medicamentos, serviços de saúde e examinação (monitorização); 4. gestão de laboratórios de referência médica; 5. garantir diagnósticos rápidos em caso de surtos de doenças/epidemias; 6. formação de pesquisadores e de assistentes para os laboratórios e uso de testes rápidos; 7. distribuição de informações de saúde dirigidas à população no quadro da promoção da saúde em geral. A cooperação flamengo-moçambicana irá também previligiar o apoio à investigação e monitorização sobre Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos e Práticas de Nutrição. Em primeiro lugar será investigada a possibilidade de apoio ao Instituto Nacional de Saúde como parceiro prioritário na área de investigação e monitorização. Saúde e direitos sexuais e reprodutivos (SDSR) A cooperação irá enfatizar especificamente o subsetor da saúde e direitos sexuais e reprodutivos. A cooperação irá assim contribuir para atingir a meta global definida pela ONUSIDA de reduzir a transmissão materno-infantil do HIV, também conhecido por Prevenção da Transmissão Vertical (PTV), para 0 até 2015 e, da Estratégia Global da ONU para a Saúde da Mulher e da Criança83. Essa ênfase também será traduzida explicitamente ao nível local (províncias e distritos). Afinal, é a este nível que a maioria dos serviços curativos e preventivos são fornecidos. Todos os programas multilaterais e indiretos que beneficiam de apoio neste domínio terão por base as estratégias e os planos nacionais (cf. supra). A troca de dados com os serviços de saúde do Governo de Moçambique também será garantida. Programas do setor da saúde sexual e reprodutiva devem também prestar atenção à integração dos seus componentes essenciais específicos em pelo menos três dos seguintes componentes da saúde e direitos sexuais e reprodutivos84: 82 Este tema de pesquisa é uma das prioridades no âmbito do PESS (PESS, p. 55-56). Porém, a investigação em saúde e suas necessidades estruturais também são abordadas no âmbito da Estratégia Moçambicana de Inovação para Pesquisa, Tecnologia e Inovação, o GdM, Estratégia de Ciência, Tecnologia e Inovação de Moçambique (ECTIM), 2006-2016, pp 32-33. 83 Ban Ki-Moon, Global Strategy for Women’s and Children’s Health, p. 5, pp. 7-8, p. 10& p. 16. 84 No que diz respeita à necessidade de integração ver entre outros: http://data.unaids.org/pub/BaseDocument/2010/20100604_26thpcbthematicbackground_final_en.pdf Note-se que a luta contra o HIV/SIDA, direitos da criança e de género também são temas transversais para a cooperação flamengo-moçambicana no geral. 41 1. 2. 3. 4. 5. Educação sexual; A luta contra o HIV/SIDA e outras doenças sexualmente transmissíveis; cuidados pré-natais; Acompanhamento da mãe e da criança durante o primeiro ano após o nascimento; Relações de género e violência. Finalmente, a integração dessas iniciativas em serviços de saúde preventivos e curativos contra as principais doenças infecto-contagiosas (principalmente tuberculose e malária) também tem de ser seguida. Isto é, através da implementação de esquemas de vacinação para mães e bebés e da prevenção e tratamento de doenças relacionadas com a diarreia e parasitas intestinais85. Práticas de nutrição O uso de práticas de alimentação apropriadas tem exigido bastante atenção como componente fundamental de uma política abrangente que visa atingir bons resultados em termos de saúde. Algumas considerações importantes incidem não apenas no impacto evidente do desenvolvimento físico de uma pessoa, mas também no desenvolvimento cognitivo. Ao mesmo tempo, há que considerar o impacto crucial sobre o desenvolvimento e manutenção do sistema imunológico individual e colectivo. Em geral, os indivíduos e as comunidades que consomem alimentos adequados e suficientemente diversificados desenvolvem uma maior resistência a doenças infecciosas, por oposição a indivíduos ou comunidades cronicamente malnutridas. Da mesma forma, indivíduos e comunidades que, pelas vias tradicionais, mas também, sem dúvida, influenciados por novos hábitos alimentares impróprios ou pela alta prevalência e incidência de doenças infecciosas e/ou doenças parasitárias não incluem alguns componentes alimentares essenciais nas suas dietas, ou não os tomam de forma satisfatória, estão obviamente mais vulneráveis e suscetíveis a um maior risco. Esse tipo de malnutrição nem sempre é óbvia à primeira vista, enquanto que uma alimentação crónica deficiente em certas vitaminas torna-se evidente em indicadores gerais de saúde, tais como a taxa de mortalidade entre mães e filhos, problemas oculares graves, impacto sobre o Quociente de Inteligência (QI), da duração e da incidência de diarreia e de deficiências em nascimentos, como por exemplo no desenvolvimento do sistema nervoso central. Até à data, a distribuição de alimentos ricos em nutrientes e alimentos prontos tem sido considerada, quase exclusivamente, ao abordar a necessidade premente de certos nutrientes para grupos-alvo específicos com um risco significativamente maior de desnutrição (como portadores do HIV/SIDA e crianças). Embora essa abordagem seja muito eficaz e indispensável a curto prazo, é questionável se essa estratégia dominante é a mais sustentável. Igualmente importante é a consciencialização do consumo de alimentos ricos em nutrientes e suficientemente diversificados para as famílias rurais mais pobres, algo que foi também incorporado como um objetivo estratégico no mais recente Plano Multisetorial de Redução da Desnutrição Crónica, 2011-2014, do Governo de Moçambique86. É por isso que ambas as partes concordam em focalizar parte da sua cooperação na sensibilização para o consumo correto de diversos produtos agrícolas que podem combater a desnutrição crónica entre os grandes setores da população moçambicana. Este componente da nutrição torna-se assim numa abordagem de apoio para a melhoria da saúde geral da população rural. 85 Relativamente a esta necessidade estratégica para a integração, consulte Comissão da União Africana, Plano de Acção de Maputo para a Operacionalização do Quadro Político Continental para a Saúde e os Direitos Sexuais e Reprodutivos, 2007-2010, Maputo, 2006. Mas também: PESS, p. 43, p. 45, p. 64, p. 68 e p. 86. 86 República de Moçambique, Plano Multisetorial para a Redução da Desnutrição Crónica em Moçambique, 2011-2014 (2020), Maputo, 2010, pp 13-14 e 29-30. 42 Província de Tete A cooperação flamengo-moçambicana previligirá o apoio à implementação na Província de Tete de trabalhos de pesquisa, apoio à ONG’s trabalhando numa das areas acima mencionadas e cooperação com outros doadores na area de nutrição. 43 5.4. Programa indicativo para a alocação de recursos Financiamento indicativo da Cooperação flamengo-moçambicana para o DEP II, 2011-2015 Ano 2011 2012 2013 2014 2015 2011-2015 Contribuir para o desenvolvimento e implementação de uma política de saúde eficiente e eficaz * 2.000.000 2.000.000 2.250.000 2.500.000 2.250.000 11.000.000 Contribuir para o desenvolvimento de um conjunto crítico de profissionais de saúde bem treinados e motivados ** 1.000.000 1.250.000 1.250.000 1.500.000 1.000.000 6.000.000 1.250.000 2.000.000 2.500.000 1.750.000 8.000.000 3.500.000 4.500.000 5.500.000 6.500.000 5.000.000 25.000.000 Contribuir para a investigação em saúde de alta qualidade e vigilância de doenças e epidemias Contribuir para a promoção da saúde e direitos sexuais e reprodutivos 500.000 Contribuir para a promoção de boas práticas nutricionais TOTAL * dos quais pelo menos 2 milhões de euros serão desembolsados para a SWAp na Saúde ** dos quais pelo menos 1 milhões de euros serão desembolsados para o plano nacional para os Recursos Humanos de Saúde 44 IV. Implementação e monitoramento do documento de estratégia 1. Componentes verticais da implementação 1.1. Abordagem de portfólio Uma abordagem de portfólio será utilizada para a execução do presente documento de estratégia. Esta abordagem visa envolver: (1) diferentes mecanismos de financiamento ou entrega; (2) diferentes níveis administrativos de execução (cf. supra níveis descentralizados); (3) diferentes categorias de actores de execução (directos, indirectos, multilaterais,....) na cooperação e combiná-los de uma forma coerente e complementar. Esta abordagem de portfólio garante a flexibilidade necessária no gasto dos recursos e na diversificação do risco até um certo ponto. A Flandres irá informar o Governo de Moçambique sobre qualquer decisão de não intervir diretamente através de organismos estatais, a fim de evitar o risco de insuficiente harmonização com os planos do Governo de Moçambique. Irá também insistir com as partes interessadas e com as organizações de apoio para que estas alinhem os seus programas, tanto quanto possível, com os planos nacionais e, os tornem o mais compatível possível com os procedimentos administrativos que são aplicados dentro do serviço público de saúde. 1.2. Integração da adaptação às alterações climáticas A alta vulnerabilidade a desastres naturais de Moçambique esta definitivamente relacionada com o clima. Qualquer mudança de factores determinantes do clima e do aquecimento global pode ter amplas consequências negativas para o país. Como resultado, Moçambique foi um dos primeiros países a desenvolver um Programa de Acção Nacional para a Adaptação (PANA) 87 com a ajuda da comunidade internacional. No entanto, ambos os parceiros gostariam de integrar a adaptação às alterações climáticas, tanto quanto possível nos seus programas de desenvolvimento. Ao identificar, conceptualizar, executar e monitorizar novos programas ou projectos, os resultados de desenvolvimento pretendidos serão sistematicamente testados para a sensibilidade climática e, quando necessário, esses projectos e programas serão adaptados. Medidas apropriadas para gerir os riscos do clima também serão fornecidas no caso de projetos e programas vulneráveis. 87 Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental, Programa Nacional de Acção para a Adaptação, Aprovado pelo Conselho de Ministros na sua 32ª sessão de 04 de Dezembro, 2007. 45 2. Identificação e formulação de programas e projectos As autoridades competentes de Moçambique e a Agência de Cooperação Internacional Flamenga (FICA) são responsáveis pela identificação e formulação de programas e projectos a serem implementados em colaboração com o Governo de Moçambique no âmbito deste DEP. Estes poderão também identificar e formular outros projectos e programas que, posteriormente, podem ser realizados por agentes indiretos interessados, universidades ou organizações multilaterais. A FICA irá sempre testar tais projectos e propostas de programas contra os acordos nesta estratégia para o país, contra a sua conformidade com as prioridades estabelecidas nos respectivos documentos de estratégia nacionais e os objectivos e prioridades propostas pelos ODM. A FICA está comprometida, (1) na requisição de propostas de programas e projectos e, (2) na elaboração da proposta final de programas e projectos, sempre que possível, baseado nos formatos existentes e/ou na informação suficientemente atualizada do parceiro de implementação, a fim de reduzir os encargos administrativos tanto quanto possível. 3. Documentos de implementação do projecto Para cada programa ou projecto – excepto para o apoio orçamental para o qual o Memorando de Entendimento comum aplica-se e serve como contrato do programa – um acordo de projecto será estabelecido de acordo com os parceiros relevantes. Pelo menos, este acordo especifica os recursos essenciais em matéria de programas ou projectos, tais como: o objecto do contrato, as tarefas relacionadas com a implementação, coordenação e acompanhamento do programa ou projecto, as contribuições e compromissos de todos os parceiros, a liberação de fundos, monitoramento, relatórios e auditorias financeiras, efeitos, validade, alterações, rescisão e resolução de conflitos. O contrato do programa/projecto deve fornecer uma base suficiente para o monitoramento, acompanhamento e avaliação. Todas as informações relativas ao programa e objectivos do projecto, resultados e actividades necessárias para isso serão especificadas num documento separado do projecto. Qualquer alteração só pode ser aprovada após consulta em conjunto. Este documento será anexo ao contrato do programa/projecto. Também aqui a FICA comprometeu-se a reduzir, tanto quanto possível, a carga administrativa sobre o parceiro de implementação, escolhendo trabalhar de preferência com os formatos organizacionais próprios do parceiro. No caso de projectos e programas financiados por várias entidades, propostas integradas de projetos e de programa, terão prioridade. O Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação está autorizado a assinar os documentos de execução do projecto em nome do Governo de Moçambique. A Agência de Cooperação Internacional Flamenga está autorizada a assinar os documentos de execução do projecto em nome do Governo da Flandres. 4. Financiamento e orçamento A autoridade do financiamento flamengo de programas e projectos compete ao Ministro flamengo da Cooperação para o Desenvolvimento. Em nome dessa pessoa (entidade), a FICA 46 providenciará o financiamento para programas e projectos que tenham sido aceites por ambas as partes. O financiamento pode ser direto ou indireto. Os orçamentos exactos disponíveis serão comunicados pela FICA ao Governo de Moçambique numa base anual. Os recursos aplicados e gastos serão incorporados no ODAMOZ. Na ocasião da Consulta Geral a FICA irá também fornecer uma visão geral dos compromissos e dos recursos gastos. Durante o tempo em que esta estratégia para o país é aplicável, a Flandres irá liberar um orçamento médio anual de 5 milhões de euros para a sua execução. No caso em que recursos adicionais para a cooperação bilateral sejam disponibilizados, estes terão de ser gastos no âmbito do quadro geral do presente documento de estratégia e, de preferência, após consulta com o Governo moçambicano. A FICA irá notificar o Governo moçambicano caso isso aconteça. 5. Relatórios A FICA irá alinhar-se tanto quanto possível com os sistemas e procedimentos de relatório implementados pelas organizações parceiras e/ou com sistemas ou procedimentos de outros doadores a fim de reduzir, tanto quanto possível, os encargos administrativos dos parceiros. Estes sistemas e procedimentos de relatório, no entanto, têm de ser capazes de resistir a um teste de qualidade específico da FICA e, as necessidades específicas de relatório da FICA têm de ser suficientemente integradas ou incluídas nos formatos e sistemas do parceiro. Os relatórios também devem conter informações suficientes sobre os progressos nos planos de trabalho que foram acordados no contrato do projecto/programa. Estes relatórios serão compostos por, pelo menos, um relatório intercalar e um relatório financeiro. Por sua vez, este relatório de progresso deverá conter informações qualitativas suficientes sobre: Os resultados reais em comparação com os resultados planeados; Um resumo sobre como foram gastos os fundos em comparação com o orçamento previsto; Uma visão geral de todas as alterações dos resultados; Uma avaliação interna sobre a necessidade de fazer alterações nos planos de trabalho. Os relatórios financeiros proporcionarão uma perspectiva e uma visão geral suficiente da despesa de modo a controlar a gestão financeira de acordo com o orçamento acordado e aprovado nos planos de trabalho. Se por qualquer motivo mais modelos específicos de relatório forem necessários, a FICA oferecerá os seus próprios modelos de relatório financeiro e narrativo aos parceiros de implementação. 6. Auditorias financeiras Como regra geral, todos os programas ou projectos serão regularmente auditados financeiramente. As modalidades de auditoria estão na sua maioria previstas no contrato do projecto/programa. Uma auditoria adicional pode ser encomendada pela FICA se objectivamente necessário. A auditoria é harmonizada, tanto quanto possível com os sistemas do parceiro, mas também tem que respeitar as normas internacionais pertinentes. Ao participar em programas conjuntos, a Flandres irá preferencialmente participar em auditorias conjuntas com os outros doadores envolvidos. 47 7. Monitoramento e avaliação 7.1 Monitoramento e avaliação a nível de execução A responsabilidade global pela execução do programa e os relatórios sobre os progressos e resultados reside com os parceiros de implementação. A FICA irá acompanhar este processo. Juntamente com os parceiros e com outros doadores, a obtenção de resultados bem definidos, assim como o gasto dos fundos, será monitorizado. O processo de monitoramento será composto por reuniões regulares – incluindo a possível participação na Consulta Geral – visitas no terreno e pelos mecanismos de relatório descritos acima. Como regra geral, todos os programas ou projectos também serão avaliados. Quando a Flandres participa em programas conjuntos só vai participar nas avaliações organizadas conjuntamente. Por exemplo, ao aderir a uma abordagem setorial, a Flandres vai assegurar que a monitorização e a avaliação estão harmonizadas com as disposições e mecanismos previstos pelo Código de Conduta relevante e/ou Memorando de Entendimento para esta abordagem setorial88. Quanto à utilização de indicadores para o acompanhamento da cooperação bilateral direta ao nível dos objectivos específicos e, ao nível dos sub-objectivos 1 e 2, serão utilizados indicadores relevantes tal como descritos no quadro de desempenho para a SWAp-Saúde89. Os resultados provinciais para a composição dos indicadores nacionais podem portanto ser usados para testar os resultados da cooperação descentralizada. Para o monitoramento dos resultados obtidos no sub-objectivo 3, em matéria de investigação e controlo de saúde, é possível escolher entre dois dos seguintes indicadores para definir as áreas de resultados: Número de análises extensivas e orientadas para a acção da epidemiologia (alterada) de doenças ou da situação de saúde da população no território nacional ou parte dele; Número de casos registados e descrições qualitativa da situação da incidência de casos de doenças com o dever de comunicação internacional; Número de mudanças de comportamento detetáveis ilustradas pela educação em saúde direcionada, entre a população nacional ou numa parte substancial dela, que leva à prevenção de doenças infecto-contagiosas; Unidades do pessoal de saúde (RHS) no trabalho de laboratório, qualificado pelos serviços competentes do Ministério da Saúde dentro do território nacional ou numa parte bem definida do mesmo; Número de laboratórios do setor de saúde pública que receberam certificação nacional de gestão da qualidade; Número de exames diagnósticos bem realizados a doenças específicas; 88 Para uma representação do memorando de entendimento no setor da saúde, consulte: http://blogs.dfid.gov.uk/ wp-content/uploads/2010/03/mou-final-version-30july08.pdf 89 GdM, Matriz de Desempenho do Setor Saúde: Metas Referentes ao Período 2008 – 2012, versão atualizada, 2010. 48 Número de casos de pesquisas com influência provada, realizados pela organização, para novos protocolos, manuais, procedimentos de diagnóstico, etc. utilizados em Moçambique; A monitorização do sub-objectivo 4, em termos de práticas nutricionais, será feita inicialmente com base nos indicadores nacionais e/ou provinciais em termos de desnutrição crónica entre as mães e crianças nas zonas de intervenção. Os acordos para programas e projetos específicos que serão realizados pelos agentes indirectos ou multilaterais interessados, no âmbito da abordagem de portfolio, terão de surgir com as suas próprias agendas de monitorização e avaliação. Esses sistemas, mais uma vez, terão de se aproximar tanto quanto possível dos formatos que são típicos da organização/organizações executora (s) em causa. No entanto a FICA também pode optar por realizar avaliações motivadas ad hoc. 7.2. Monitoramento e avaliação ao nível político Em termos da monitorização e avaliação da SWAp para a Saúde, a Flandres irá participar no diálogo político com o Ministério da Saúde como estabelecido por este instrumento. Neste sentido, a coordenação do doador líder é respeitada e, portanto, ligada tanto quanto possível com o princípio de que a monitorização e avaliação devem ser exercícios colectivos. Para esse fim, ambos os parceiros continuarão a avaliar as diferentes ferramentas que já foram utilizadas para fornecer conhecimentos setoriais suficientes e para fornecer feedback sobre os resultados das iniciativas descentralizadas e inovadoras para o diálogo da SWAp. Porém, novos instrumentos poderão também ser analisados e utilizados para esse fim. Assim, a Flandres irá continuar a trabalhar com os outros doadores a fim de garantir que os pontos de vista e propostas traduzidas para o Ministério da Saúde são tão coerentes e consistentes quanto possível. O instrumento permanente de escolha para a monitorização e avaliação ao nível da política da colaboração geral entre os governos moçambicano e flamengo é o diálogo político direto entre ambos os parceiros. Isto acontece principalmente durante as Consultas Gerais, que serão realizadas em Maputo e em Bruxelas. Durante a primeira consulta, será principalmente avaliado o arranque das actividades no âmbito do DEP II. As medidas podem ser tomadas, quando necessário, em consulta conjunta para acelerar determinados processos e/ou alterar certos detalhes. No quadro destas consultas ambos os parceiros poderão trocar informações sobre o progresso, mas também sobre os problemas no quadro da cooperação, baseado num espírito aberto de responsabilidade mútua e de melhoria permanente. O Governo moçambicano irá relatar brevemente sobre os desenvolvimentos no âmbito da política geral para o setor da saúde e das boas práticas de nutrição. Além disto, os resultados de saúde que já foram alcançados e os resultados desejados para o futuro serão brevemente explicitados. De seguida, o diálogo concentrar-se-á na discussão mútua da política e do progresso em termos de alguns pontos de atenção, através dos quais a cooperação flamengo-moçambicana obteve o seu valor acrescentado, isto é: 1. Progresso geral em termos de ampliação e motivação do pessoal da saúde em Moçambique e em Tete. 49 Indicadores: progresso em termos de formação/retenção/ distribuição do pessoal de Saúde. Racio de trabalhadores de saúde das áreas de medicina, enfermagem e Saúde Materno Infantil por 100.000 habitantes. 2. Progresso geral em termos de Saúde Sexual e Reprodutiva das mulheres moçambicanas, principalmente e não exclusivamente, a saúde geral de seus filhos em Moçambique: Indicador: Cobertura de Partos Institucionais e incidência das ITS´s 3. Reforçar a investigação em Saúde e o Sistema de Monitoramento; Indicadores: eficiência/eficácia dos elementos específicos de serviço no âmbito da descrição dentro da qual a organização seleccionada de execução opera com recursos flamengos; 4. Luta contra todos os tipos de malnutrição de mulheres e crianças em Moçambique; Indicadores: progressos na implementação do Plano de Acção Multissectorial pela Redução da Desnutrição Crónica em Moçambique, 2011-2015 (20): Taxa de Baixo peso ao nascer nas zonas de intervenção; A Flanders apresentará um relatório sobre seus esforços específicos em termos financeiros institucionais e substanciais para apoiar o progresso dentro destes vários subdomínios em Moçambique através de uma abordagem de portfólio. Ambos os Parceiros irão igualmente reflectir sobre o seu desempenho mútuo, a fim de garantir que cumprem os diferentes compromissos de París no melhor das suas capacidades, dentro do quadro da cooperação global; A ferramenta de monitoramento geral será a actual matriz de Avaliação do Desempenho do Sector a ser acordado por ambos Parceiros, no decurso do primeiro ano da implementação do documento de estratégia. Este quadro de desempenho, será baseado nos formatos da OCDE/CAD existentes de modo a limitar, tanto quanto possível, os encargos administrativos para os Parceiros e, integrará também o desempenho ao nível dos objectivos gerais e específicos e dos sub-objectivos de forma clara; Como complemento a este diálogo político permanente, o Departamento Flamengo dos Negócios Estrangeiros e o Governo Moçambicano irão executar uma avaliação intermédia externa do DEP II no 3º trimestre de 2014 coordenada em conjunto (Revisão Intercalar ou Mid-term Review). Com base nesta avaliação, será possível avaliar os progressos em termos da aplicação do documento estratégico, bem como os resultados gerais. A avaliação terá também de dar sugestões para introduzir alterações necessárias no âmbito da cooperação futura, a fim de torná-la mais eficaz. As conclusões e recomendações dessa avaliação externa serão discutidas entre os parceiros durante a Terceira Consulta Geral e, se dentro do prazo do DEP, também na última Consulta Geral. 7.3. Apoio do Parlamento e Sociedade Civil Ambos os parceiros são da opinião que o Parlamento e a Sociedade Civil local estão em uma posição privilegiada para monitorar a responsabilidade do Governo em termos de combate à 50 pobreza absoluta90 e realização dos direitos humanos fundamentais, incluindo o direito ao mais alto nível possível de saúde. Para esse fim, ambas as estruturas acima referidas necessitam de ferramentas e recursos suficientes à sua disposição e, as suas capacidades precisam ser desenvolvidas. Recursos serão, portanto, libertados para esses importantes intervenientes a fim de permitir-lhes: controlar a eficiência e a eficácia das políticas e serviços e outros princípios de boa governação no setor da saúde em Moçambique; identificar as desigualdades dentro do direito de acesso ao mais alto nível possível de saúde e, difundir este direito e torná-lo discutível; sugerir linhas de orientação política alternativas às autoridades. Todas as decisões de apoiar iniciativas específicas do Parlamento ou da Sociedade Civil também serão pontualmente anunciadas ao Governo de Moçambique. 90 Uma plataforma da Sociedade Civil foi estabelecida na altura da elaboração do primeiro plano para prevenir a pobreza absoluta, PARPA I. O chamado Observatório da Pobreza tem de apoiar o Governo de Moçambique em manter um diálogo aberto sobre boa governação em todas as suas dimensões, fortalecendo as escolhas políticas, melhorando o serviço público ou a administração e clarificar o papel do Estado em uma sociedade livre: “Desde a fase da concepção do Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta, PARPA, que o Governo de Moçambique tem procurado a participação e o diálogo com a Sociedade Civil. O Observatório da Pobreza foi criado com a intenção de se constituir uma plataforma para o debate aberto, entre o governo e a sociedade civil “como um instrumento vital para o aprimoramento da governação em todas as suas dimensões. A livre discussão dos problemas da população pode ajudar o governo a fortalecer as suas políticas, melhorar a provisão dos serviços públicos, melhorar a administração e clarificar o papel do Estado numa sociedade livre” (Luisa Diogo citado em: G 20, Relatório Anual da Pobreza, 2004, p. 3.) 51 V. Gestão de riscos Caso factores de risco sejam encontrados durante a implementação do documento de estratégia, o parceiro flamengo poderá ter que tomar uma série de medidas para garantir uma boa gestão do seu programa e dos recursos liberados pelo seu governo. Os seguintes elementos devem ser levados em consideração: Os princípios da Declaração de Paris, que se aplicam mutuamente aos governos de Moçambique e da Flandres devem ser respeitados tanto quanto possível na consideração de alguma alteração nas modalidades de ajuda. A Flandres irá em conjunto com os outros doadores acompanhar de perto os riscos em todos os seus programas de cooperação e, vai também tentar encontrar soluções, em diálogo com o Governo de Moçambique e em conjunto com os outros doadores. No caso da redução objectiva determinada de desempenho e/ou aumento de risco das despesas dos fundos a nível central, que precisam ser depositados para outros níveis, a Flandres pode redirecionar os fundos concedidos pelo aumento do apoio financeiro às autoridades locais e/ou às organizações não-governamentais e internacionais. Estes têm de ter em comum pelo menos uma parte dos objectivos e do grupo alvo com o apoio directo bilateral original. Em tal caso, a Flandres pode também decidir mudar a ênfase da sua cooperação para o apoio ao sector da segurança alimentar e boas práticas de nutrição. Essas decisões serão sempre pontualmente notificadas ao Governo moçambicano. No caso de as condições básicas (diálogo aberto, boa governação, etc.) para gastar recursos na província de Tete não estejam (mais) presentes, a Flandres pode progressivamente reorientar o apoio directo às ONGs e organizações internacionais que operem a nível local se elas tiverem em comum o grupo alvo e os objectivos do programa com as autoridades provinciais. No caso de choques de governação graves, a Flandres terá de avaliar se a capacidade de absorção de Moçambique foi afectada. Em casos extremos, o apoio poderá ser reduzido ou congelado. De acordo com o que é possível naquele momento, isso terá de ser decidido em consulta com o Governo moçambicano bem como com base numa avaliação da situação por parte da comunidade de doadores internacionais e, especificamente, pela União Europeia. De todos os modos, as populações mais desfavorecidas de Moçambique continuam a ser o grupo alvo da presente estratégia para o país. O objectivo final da cooperação ainda é ajudar os mais vulneráveis entre a população moçambicana, gerir os riscos que as populações enfrentam na sua vida quotidiana e construir uma capacidade para, posteriormente, reduzir a vulnerabilidade estabelecida. 52 VI. A Cooperação flamengo-moçambicana fora do âmbito de aplicação do programa indicativo do DEPII 1. Geral A revisão do programa indicativo do DEP II não é suficiente para obter uma visão completa e transparente de todas as iniciativas que Flandres vai apoiar em Moçambique durante a vigência deste DEP. É por isso que os esforços financeiros que, por várias razões, não estejam incluídos no âmbito do programa indicativo do DEP, serão explicados neste capítulo. Em primeiro lugar, a Flandres, gostaria de reforçar o seu compromisso sustentável com a parceria de desenvolvimento global (ODM 8). Em parte, isto respeita a iniciativas com o objectivo principal de reforçar a cooperação bilateral, mas que são dirigidas a Moçambique, em parte, através de outros canais. Outros componentes menores, têm sido até agora organizados numa escala regional mas o principal objectivo é reduzir as assimetrias das relações comerciais na região e também numa escala global. No entanto, outros recursos estão direccionados a promover bons infantários e ensino primário. A última categoria tem por objetivo terminar os compromissos decorrentes do DEP anterior, que devido a atrasos, não foram ainda totalmente concluídos. 2. Iniciativas organizadas regionalmente 2.1. Reforço da cooperação em saúde através de iniciativas multilaterais A Flandres decide prestar apoio principalmente às organizações multilaterais como um complemento da cooperação bilateral com os países parceiros e com a região. Desta forma, o departamento especializado em “Saúde Reprodutiva e Investigação” (RHR) da OMS, apoiado pelo Centro Internacional de Saúde Reprodutiva (ICRH) e o Instituto de Medicina Tropical da Antuérpia (ITG), está neste momento a conduzir um programa de investigação para um modelo mais eficiente e eficaz de cuidados pré-natais para Moçambique, Malawi e África do Sul. O objectivo geral é integrar melhor os serviços gerais como parte dos cuidados prénatais, com intervenções de saúde que visam, por um lado, prevenir e combater outras doenças com impacto negativo sobre o curso da gravidez e parto, tais como HIV, malária, anemia e sífilis (componente 1). Por outro lado, a prevenção da violência (física) contra as mulheres grávidas também é dirigida. A maioria dos recursos e atenção incidirá no apoio a Moçambique. Um segundo exemplo é o apoio à ONUSIDA no quadro do segundo acordo de cooperação com a Flandres. A ONUSIDA é considerada a principal instituição em termos de resposta integrada para o HIV hyper-epidémico. Além disso, a organização também enfatiza fortemente a prevenção através de mudanças comportamentais. Mas a ONUSIDA também desempenha um papel incomparável na abordagem multi-sectorial contra a epidemia, trabalhando no sentido de remover barreiras para a prevenção e tratamento que estão consagrados na legislação nacional e eliminar atitudes sociais que descriminalizam membros dos grupos mais vulneráveis a esta doença, tais como homosexuais, consumidores de drogas, e também as mulheres em geral. Uma grande mudança neste quadro é que o apoio não será afetado ao nível do projecto nos países parceiros. A Flandres vai agora concentrar o seu financiamento apenas na tarefa central da organização, ou seja, realizando um trabalho de coordenação nacional no seio da ONU através do apoio às representações da ONUSIDA em 8 países pré-seleccionados da SADC, incluindo Moçambique. 53 Outro componente de saúde que beneficia principalmente do apoio através da cooperação multilateral, que é gerido a nível regional, centra-se na promoção do acesso a saneamento e água potável. O financiamento vai principalmente para o programa WASH da Unicef na África Austral. 2.2. Prevenção de desastres, controlo e reabilitação Moçambique esta classificado como o terceiro país mais vulnerável de África para vários riscos relacionados com o clima. O país está regularmente exposto a grandes inundações, ciclones e secas91. É por isso que este setor foi incluído como tema transversal na elaboração do PARPA II92. No âmbito dos esforços realizados pela Flandres para garantir que a ajuda humanitária que presta seja tão durável quanto possível, ela pretende utilizar parte desses recursos para uma abordagem estrutural na prevenção de desastres nos países parceiros, incluindo Moçambique. Além disso, se ocorrer algum desastre, a Flandres fará um esforço extra para fornecer ajuda de emergência e liberação de financiamento para a reabilitação. Um enfoque complementar relativo à salvaguarda da saúde sexual e reprodutiva e dos direitos das (potenciais) vítimas pode ser considerado neste quadro. Quase 20 anos após a assinatura do Acordo Geral da Paz, entre o Governo de Moçambique e a RENAMO a necessidade de acelerar a desminagem continua a ser uma preocupação importante para o Governo moçambicano. Mesmo que este tenha sido assinalado como um tema transversal no PARPA II93 e também no actual programa quinquenal94 do Governo moçambicano. Moçambique também assinou o Tratado de Proibição de Minas e está, portanto, obrigado a ser totalmente desminado até 1 de Março de 2014. Ambos os parceiros acordaram assim em continuar a apoiar a cooperação existente destinada a desminar a Província de Gaza. Estes esforços também se aproximam da estratégia geral do presente trabalho tendo em vista o facto de que eles visam a prevenção de deficiências graves e a promoção do acesso aos centros de saúde e segurança alimentar. 2.3. Comércio e Desenvolvimento e respeito pelas normas laborais Notamos em particular os esforços no contexto mais amplo do “Comércio para o Desenvolvimento” que visa desenvolver as competências para as exportações regionais e/ou internacionais de pequenos produtores e médias empresas dos países parceiros, quer sejam ou não dentro do circuito do comércio justo. Isto é feito através de vários canais. Há por exemplo as bolsas para formação em matérias relacionadas com portos e, vários instrumentos que visam melhorar a produção para alcançar qualidade de exportação e maior valorização da produção na comercialização. Os parceiros de implementação incluem, entre outros, o Exchange, a UNIZO e o Centro de Comercio Internacional (CTI) como agência de cooperação técnica entre a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e a OMS. Um outro componente gira em torno da promoção das normas laborais na região parceira. Aqui a cooperação é principalmente com a OIT, com o apoio do Ministério do Trabalho e da Economia Social. 91 Global Facility for Disaster Reduction and Recovery, Disaster Risk Management Programs for priority countries, Africa, 2009, blz 32 92 Governo de Moçambique, Plano para a Redução da Pobreza Absoluta, 2006-2009, http://www.mpd.gov.mz/ documents/parpa/PARPA_II_aprovado_com_Matriz_Final.pdf, pp. 70-71. 93 Governo de Moçambique, Plano para a Redução da Pobreza Absoluta, 2006-2009, pp. 71-72. 94 Governo de Moçambique, Programa Quinquenal do Governo para 2010-2014, pp. 100-101. 54 3. Fim dos compromissos do DEP I 3.1. Estratégia de saída do sector educacional No DEP I do desenvolvimento para a cooperação entre a Flandres e Moçambique, a educação e, mais especificamente, a formação de professores para o ensino técnico e profissional, constitui o segundo sector-chave em que os esforços flamengos foram concentrados. Com base na mudança das referências sobre boas práticas dos doadores, ambos os parceiros concordaram que a Flandres se retiraria da responsabilidade deste sector de a modo a se poder concentrar totalmente sobre o tema da saúde, que beneficia de uma abordagem multissectorial. Os Governos moçambicano e flamengo acordaram, no âmbito de um exercício de identificação coordenado, focar a restante quantidade no ensino técnico e profissional através do mecanismo sectorial amplo para o setor educativo, FASE. Este apoio será preferencialmente prestado através de cooperação delegada e em consonância com as directrizes do Código de Conduta Europeu para a Complementaridade e Divisão do Trabalho na Cooperação para o Desenvolvimento95. Durante um período de três anos 3,2 milhões de euros serão investidos através do FASE neste subsector. 3.2. Estratégia de saída da infra-estrutura de Saúde Actualmente ainda existem vários projectos de infra-estruturas de saúde em curso nas províncias de Gaza, Tete, Inhambane e Sofala. Estes serão concluídos o mais rapidamente possível e tornar-se-ão operacionais. Parcialmente em consonância com as recomendações da avaliação intercalar do DEP I não haverá mais financiamento para este segmento de saúde. 95 EU Code of Conduct on Division of labour in Development Policy, Guiding Principle 2, http://ec.europa.eu/ development/icenter/repository/code_conduite_labor_division_en.pdf 55 VII. Bibliografia 1. Publicações African Union Commission, Maputo Plan of Action for the Implementation of the Continental Policy Framework for Sexual and Reproductive Health and Rights, 20072010, Maputo, 2006, http://www.unfpa.org/africa/newdocs/maputo_eng.pdf. N. ANDERSSON, A. COCKCROFT & B. 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Anexos 61 Anexo 1: Indicadores de Saúde de Moçambique & Comparação com certos países africanos e a Bélgica Indicadores de Saúde de Moçambique / Certos países do SADC / Bélgica Mortalidade Vida País Esperanç Total de a media Nascim de vida entos ♀ ♂ Neon. Criança Mãe s 0-5a # ‰ ‰ Atraso no crescimento NCD /100.000 /100.000 Morbidade Despesas no sector da saúde Prevalência de Doenças % HIV/SIDA TB % 15-49a /100.000 Governo Malária /100.000 $/PC Ext. Privado % bud. % despes. $/PC Ger. % % Botswana 62 60 2.9 16 31 380 594 29.1 23.9 454 1.6 278 13 74.6 94 25.4 Lesoto 49 44 3.3 37 79 960 581 45.2 23.2 513 n.d. 166 7.9 58.3 21 41.7 11.5 Malawi 54 52 5.5 29 100 1.100 796 20.1 11.9 322 95 10 11.9 59.7 7 40.3 59.9 Moçambique 51 51 5.1 43 130 520 777 44 (MICS) 12.5 624 92 13 12.6 71.8 5 27.2 57.8 Namíbia 66 61 3.4 18 42 210 513 29.6 15.3 658 47 134 11.1 42.1 185 57.9 10.6 África do sul 55 52 2.5 20 67 400 867 18.1 998 0.3 206 10.8 41.4 291 58.6 0.8 Suazilândia 48 48 3.5 18 83 390 707 30.9 (9099) 29.5 26.1 1.084 0.1 95 9.1 62.5 56 37.5 7.9 Zimbabwe 42 42 3.4 28 96 880 816 35.8 15.3 597 10 36 8.9 46.3 43 53.7 0.2 Região Africana Bélgica 54 52 4.9 40 142 900 841 n.d. 4.9 518 104 34 9.6 45.3 42 54.7 6.9 82 77 1.8 2 5 8 437 n.d. 0.2 n.d. 3.005 14.4 74.1 1.051 25.9 4 0 62 Indicadores de Saúde de Moçambique / Certos países do SADC / Bélgica (cont.) Aceso a medicamentos País ARV Fertilidade Acesso a água potável Pessoal da Saúde Antimal. DTP3 Nados Instituciona is CPN Contracepção Médicos Acessos Sanit. Enfermeiros R. U. R. U. % PTMF % Criança /100.000 % ≤ 4 Visitas % /10.000 # /10.000 % % % % Botswana 79 >95 n.d. 96 94 97 44.4 4 715 26 90 99 39 74 Lesoto 26 57 n.a. 83 55 70 37.3 1 89 6 81 97 25 40 Malawi 35 n.d. 24 91 45 57 41 <0.5 257 3 77 95 57 51 Moçambique 24 42 23 72 48 53 16.5 <0.5 548 3 29 77 4 38 Namíbia 88 91 14 83 81 70 55.1 3 598 31 88 99 17 60 África do Sul 28 73 n.d. 67 91 56 60.3 8 34.829 41 78 99 65 84 Suazilândia 42 >95 26 95 74 79 50.6 2 171 63 61 92 53 61 Zimbabwe 17 36 5 62 69 71 60.2 2 2.086 7 72 99 37 56 Região Africana 44 n.d. n.a. n.d. 47 44 23.7 2 174.510 11 84 45 58 28 Bélgica n.d. n.d. n.a 93 n.d. n.d. 74.6 42 44.124 5 100 100 100 100 63 Anexo 2: Áreas de concentração para cada doador e financiamento indicativo 64