C8 Cidades/Metrópole %HermesFileInfo:C-8:20121014: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 14 DE OUTUBRO DE 2012 EPIDEMIA: O que 5 décadas de homicídios em São Paulo têm a ensinar Dos esquadrões ao PCC, 52 anos de violência mataram 130 mil pessoas Das execuções do esquadrão da morte nos anos 1960 aos homicídios ordenados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) nos dias de hoje, a epidemia de assassinatos em São Paulo matou 130 mil pessoas. Ao longo de 52 anos, como em um comportamento contagioso, os assassinatos começaram a crescer. De menos de um homicídio por dia em 1960, chegou a quase uma morte por hora em 1999. Nesseano,acidaderegistrou63,5assassinatospor100milhabitan- tes, taxa semelhante à dos três anos de guerra no Iraque. A partir de 2000, a exemplo das epidemias, o contágio cessou e os homicídios despencaram 77% ao longo de 11 anos. Neste ano, contudo, disputas incessantes entre policiais militares e integrantes do PCC mostraram que essa pacificação se sustentava sobre frágeis estruturas. Como compreender essas mudanças bruscas no comportamento doshomicidas? De hoje a quinta-feira, o Estado publica uma série de maisassustavaeraofurtoqualificado, quando o ladrão invadia um comércio ou uma casa quando o dono estava fora”, lembra o criminalista Roberto Von Hyde, de 82 anos, que defendeu criminosos perseguidos pelo esquadrão, além de João Acácio Pereira da Costa, o Bandido da Luz Vermelha, que em 1967 foi preso por assaltar casas e matar quatro pessoas. “Crimes de sangue” envolviamgeralmentehistóriasdemaridos traídos, que, movidos pelo ódio incontrolável, muitas vezes matavam a si próprios em tragédias passionais à la Nelson Rodrigues. Entre 1960 e 1965, em mais da metade dos assassinatos em São Paulo, corpos de vítimas foram encontrados dentro de casa,revelandoforteassociação entre esse tipo de crime e paixõesdomésticasmalresolvidas. Por serem ações tresloucadas, os assassinos sofriam controle acirrado de instituições e da sociedade. Casos como o de Benedito Moreira de Carvalho, que ficou conhecido como o Monstro de Guaianases ao ser acusado de violentar e matar dez mulheres entre 1950 e 1953, tornavam o homicida um pária, odiado e caçado como personagem de filme de terror. ENTRE 1960 E 1999, HOMICÍDIOS PULARAM DE 217 CASOS PARA 6.653. EM 2000, AS MORTES COMEÇARAM A CAIR Assassinatos aumentam depois que passam a ser vistos como ferramenta de controle do crime Bruno Paes Manso ara cada policial morto, dez bandidos vão morrer”, bradou em novembro de1968 o investigador Astorige Correia, o Correinha, na frente de jornalistas durante o enterro de Davi Parré, investigador mortopor umtraficanteda zonanortedeSãoPauloconhecidocomoSaponga.Ojuramentoantecipava asériede assassinatos praticada por policiais civis do famigerado esquadrão da morte liderado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Na semana passada, a fatídicasentençavoltouaassombrar o cotidiano dos paulistas como se as 130 mil mortes ocorridas em 52 anos tivessem sido insuficientes para dar lições.Ohomicídiodepoliciais militares na Baixada Santista e em Taboãoda Serraprovocaram uma sequência de 20 homicídios nos bairros vizinhos. Moradores que viram o massacre apontaram PMs à paisana como suspeitos. Em dois momentos distantes, separadospormaisdemeioséculo, a vingança continua fazendo aengrenagemdoshomicídiosgirar. Para compreender a violência nos dias de hoje, é fundamentalentenderavariaçãodoshomicídiosnos últimos 52 anos.A epidemia dos assassinatos começa no fim dos anos 1960, depois que as mortes à bala passam a ser vistas como uma maneira de se manter o controle dos roubos emumacidadequecresciadesordenadamente. Antes disso, o mundo do cri- “P me em São Paulo era quase romântico, palco dos desviantes que vagavamna boca do lixo perto da Estação da Luz e da velha rodoviária do centro. No chamado Quadrilátero do Pecado, região da Avenida Duque de Caxias, que no futuro se transfor- estadão.com.br Online. Áudios e músicas sobre a violência e os esquadrões www.estadao.com.br 1963 8,1 ESCALADA Maioria das mortes (aqui por 100 mil/hab) era passional e em casa 1960 5,7 maria na cracolândia, em vez de revólveres, os malandros usavam navalhas em noitadas abastecidas por anfetaminas e destilados. Mais do que um reduto de criminosos violentos, o submundo paulistano era palco de contravenções e contraventores que vendiam sexo, jogos de azar e drogas leves. Assassinatos, nesse tempo, eram a opção dos vilões,malvadoseloucos.“Ostempos eram outros. O crime que 1961 Mudança. A epidemia de assassinatos em São Paulo começou quando homicídios passaram a ser vistos como ferramenta para limpar a sociedade dos bandidos.Comocrescimentodosroubos e dos assaltos a banco no fim dos anos 1960, viraram instrumento de extermínio ou vingança para ser usado em benefício da população com medo. Em vez de monstros, os homicidas que alegavam agir em defesa da sociedade e tornar a cidade mais segura se transformaram em heróis. Os chamados “presuntos” eram desovados em estradas de São Paulo, depois de serem retirados de presídios como o antigo Tiradentes. Chefe do esquadrão da morte, o delegado Fleury – que começou em 1968 a matar suspeitos com ajuda de outros integrantes do bando – virou um dos ídolos do período, recebendo homenagens em letras de canções populares. E os métodos cruéis do esquadrãotambémganharamprestígio durante o regime militar. Técnicas de tortura e assassinatos passaram a ser usadas por in- 1964 7,7 reportagens para explicar a variação dos assassinatos em São Paulo. O material é resultado de 13 anos de investigações e estudos e de mais de cem entrevistas – muitas feitas com matadores que atuaram em diferentes períodos em São Paulo. O trabalho resultou em uma tese de doutorado, defendida em 28 de agosto no Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Grupos eram mais letais que a ditadura 9/8/1967 ● Tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, o esquadrão da morte representou o começo da epidemia de assassinatos. Não pela quantidade de homicídios de seus integrantes, mas por colocar em prática uma nova forma de ver o mundo e lidar com assassinatos em sociedades em processo de urbanização. O esquadrão começou no Rio em 1958 e serviu de modelo para o resto do Brasil, inclusive São Paulo. Policiais paulistas conversavam com os cariocas antes de se organizar para matar. O Espírito Santo, Estado que liderou o tegrantes do Exército e da Polícia Militar no combate à guerrilha e para desbaratar os grupos de esquerda. Em 1969, Fleury estava à frente da emboscada que levou à morte do líder comunista Carlos Marighella na Alameda Casa Branca, nos Jardins. Rota. No combate ao crime co- mum, policiais das Rondas OstensivasTobias deAguiar (Rota) assumiram nos anos 1970 o posto de “caçadores de bandidos”, celebrados pelo povo. “Em bairros das periferias, a população pedia para beijar nossa mão”, lembra o coronel Niomar Cyrne Bezerra, ex-comandante da Rota na época. Nos anos 1980, saiu da PM um dos principais matadores da históriadacidade.OsoldadoFlorisvaldo de Oliveira, conhecido como Cabo Bruno, morto há duas semanas depois de ficar 27 anos na prisão, iniciou sua carreira de justiceiromatando asoldode comerciantes. Logo justiceiros pipocaram por todos os cantos de São Paulo. De forma geral, todos alegavammatarbandidosemdefesa dos trabalhadores. Em 1987, depois da prisão de Francisco Vital da Silva, justiceiro conhecido como Chico Pé de Pato, a população do Jardim das Oliveiras, na zona leste, foi em 1966 9,0 1965 8,3 6,4 1962 6,4 DELEGADO FLEURY Líder do esquadrão “GUARDEI (O RELÓGIO DE UMA VÍTIMA) SÓ DE LEMBRANÇA” A PM só é criada em 1969. Antes, cabia à Força Pública defender o patrimônio do Estado. Pouco saía às ruas. No dia 23 de novembro de 1968, é morto Saponga, acusado de matar o investigador Davi Parré O delegado Fleury conversa com a mãe de Saponga, que era jurado de morte acusado de matar um policial 1967 9,2 ranking dos assassinatos no Brasil nos anos 1980 e 1990, também teve seu esquadrão. Considerando levantamentos policiais do período, entre 1963 e 1975 os grupos de extermínio formados por policiais mataram quase 900 pessoas no Rio (654) e em São Paulo (200) – mais do que os 20 anos de regime militar. www.estadao.com.br/acervo peso ao Fórum de Santana pedir sua liberdade. Com o passar dos anos, no entanto, foi ficando mais claro que oshomicídios,em vezde controlarem o crime, acabavam provocando novos assassinatos, em círculos ininterruptos de violência. Se por um lado eliminavam suspeitos, consolidavam também nesses bairros o medo da mortee estimulavam o desejo de vingança. Éoquerevelaahistória domatador César de Santana Souza, quenosanos1990diziatermatado mais de 50 pessoas no Grajaú, na zona sul. Ele praticou o primeiro homicídio por vingança, depois que um amigo foi morto em um campinho de futebol. Jurado de morte por inimigos que queriam vingança, passou a matar por razões cada vez mais banais, sempre que pressentia que corriariscodesermorto.Elechegou a acreditar que a violência o ajudaria a dominar o bairro. Depois de um tempo, percebeu, no entanto, que homicídios serviam apenas para provocar novoshomicídios.Em2006, terminou assassinado por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) que passaram a vender drogas em seu bairro. 1968 10,4 1969 9,9 %HermesFileInfo:C-9:20121014: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 14 DE OUTUBRO DE 2012 60 A CURVA 80 70 Cidades/Metrópole C9 90 ● A epidemia começou no fim dos anos 1960 e cresceu principalmente depois de 1975 Entre 1900 e 1960, São Paulo nunca havia ultrapassado a barreira dos 10 casos por 100 mil habitantes. Os homicídios eram endêmicos e não criavam círculos de vingança Vingador oficial, Fleury inicia a onda de mortes Policiais retiravam vítimas de presídio para executá-las até que um padre, um promotor e um juiz desvendaram o que havia por trás dos crimes CRESCIMENTO DAS PERIFERIAS Tiroteio com a polícia é disfarce para execuções PARQUE ANHANGUERA SERRA DA CANTAREIRA PARQUE ECOLÓGICO DO TIETÊ PIRITUBA ● Em maio de 1970, o tenente da VILA MEDEIROS PARQUE ESTADUAL DO JARAGUÁ ITAIM PAULISTA LAPA Um delegado ligava para os jornalistas anunciando que havia um“presunto” naestrada. Afonte secreta tinha o apelido de Lírio Branco e passava a ficha criminal do morto. Em alguns casos, os matadores deixavam ao ladodocorpodesenhos decaveira do esquadrão da morte. Não bastava matar. Era preciso avisar o público, pelos jornais, que os assassinos tentavam livrar o mundo dos bandidos. Entre 1969 e 1971, mais de 200 suspeitosforamexecutadospelo esquadrão. O efeito dessas mortes, no entanto, transcenderam asvítimas.Aplaudidospelapopulação e respaldados pelas autoridadespaulistasenacionais,osassassinos consolidaram em São Paulo a ideia de que os homicídios podiam ser usados como uma ferramenta eficaz para limpar a sociedade dos bandidos, ao mesmo tempo em que aplacavam o desejo de vingança de uma população amedrontada. “Os efeitos dos assassinatos praticados pelo esquadrão são sentidos até hoje. A limpeza social continuou sendo defendida e praticada por grupos de extermíniohojelocalizados principalmente na Polícia Militar”, afirma o padre Agostinho Duarte Oliveira, de 81 anos, na sede do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, em São Paulo. ANOS 60 O ASSASSINO O homicida deixa de ser um pária para se tornar um herói ao matar em defesa da sociedade TATUAPÉ Vingança. Depois da morte de ● Apoio popular 60% da população de SP em 1970 apoiavam esquadrão (Marplan) 49% apoiavam o esquadrão por considerarem bandidos irrecuperáveis 38% achavam que a Justiça não era suficiente para coibir o crime Amigo de infância do delegado Sérgio Paranhos Fleury, com quem jogava futebol no mesmo clube da Vila Mariana, padre Agostinho conseguiu, em 1969, autorização do secretário da SegurançaPública,HelyLopesMeirelles, para ingressar no antigo PresídioTiradentes,emSãoPaulo, onde a presidente Dilma Rousseff também cumpriu pena com outros presos políticos, separada dos presos comuns. Conversando com os detentos, padre Agostinho descobriu comooesquadrão da morteagia. Os presos comuns eram retiradosdascelasnasmadrugadaspara serem exterminados e terem o corpo cheio de balas jogado em alguma estrada. Para provar o que falava, o religioso conseguiu a lista oficial dos presos. Como eles apareciam nas estradas com suas identidades divulgadas nos jornais, bastava checar a lista e ver quem deveria estar nas celas. “EucompravaoantigojornalNotícias Populares e lia o nome dos mortos para saber se eram os que estavam no Tiradentes.” CABEÇA Com o crescimento dos assaltos e o medo da população, policiais do esquadrão da morte passaram a matar sob a justificativa de que tornavam a sociedade mais segura e livre dos ladrões Saponga, em vingança ao crime contra o investigador Davi Parré, as execuções do esquadrão passaram a se tornar corriqueiras e banais. Jornais da época contabilizavam o total de mortos anunciados pelo esquadrão. Havia uma certa tolerância com essas ações, cujas investigações eram inexistentes. Afinal, aqueles que deveriam investigar eram os mesmos que matavam. O jornalista Afanásio Jazadji, que cobria o assunto no período, lembraquando,certanoite,atendeuumtelefonemanasaladeimprensa da central de polícia que existia no Pátio do Colégio e lhe disseram que havia quatro corpos jogados em um matagal em Guararema, na Via Dutra. Iniciante, ele foi apurar o crime em busca de um furo sem falar para os outros jornalistas, que continuaram jogando baralho. Para evitar que concorrentes depois chegassem ao local e reportassem a informação aos seus jornais, mudou os corpos de lugar para despistar os outros colegas. “Imagina. Naquele tempo isso era possível. Foi quando deixei de ser foca.” A situação dos integrantes do esquadrão mudou em 17 de julho de 1970, depois da morte de outro investigador. O suspeito da autoria da morte do policial Agostinho Gonçalves de Carvalho era um jovem de 20 anos conhecido como Guri. No mesmo dia da morte do investigador, oito corpos baleados foram levados ao Instituto Médico-Legal. Opromotor Hélio Bicudo, que passariaaatuarnocasodoesquadrão, descobriria, com a ajuda posterior do padre Agostinho, que quatro mortos tinham sido retirados do Presídio Tiradentes.Nosdiasquese seguiram,para achar Guri, Fleury e seus homens foram acusados de torturar os pais do suspeito para que EFEITOS Em vez de coibirem os roubos, os homicídios provocam a reação daqueles que se sentem vítimas dos assassinos. Vinganças e disputas territoriais criam círculos viciosos de violência SÉ BUTANTÃ VILA MARIANA MORUMBI CIDADE TIRADENTES SAPOPEMBA PARQUE DO IBIRAPUERA CAMPO LIMPO PARQUE DO ESTADO A EXPANSÃO DE SP ÁREA URBANIZADA ATÉ 1949 PARQUE ESTADUAL GUARAPIRANGA ÁREA URBANIZADA ATÉ 1962 ÁREA URBANIZADA ATÉ 2002 LIMITE DA ÁREA DE PROTEÇÃO DOS MANACIAIS GRAJAÚ As mortes do esquadrão MARSILAC EM 21 MESES 123 2.351 mortos 12 tiros 13 12 10 9 8 9 6 6 4 3 2 NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI 1968 3 4 2 3 3 O esquadrão retirava as vítimas dos presídios e, por isso, não se vinculava aos territórios. Quando a PM passa a matar, a partir dos anos 1970, as mortes começam a se concentrar nas periferias 9,9 5 2 JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR JUN JUL 1969 1970 INFOGRÁFICO/AE eles o entregassem. Guri acabou sendo encontradonamatafechadadeumafazenda no Parque do Carmo, na zona leste. Os policiais chegaram acompanhados de jornalistas que descreveram a cena nos dias seguintes nos jornais. Guri foi morto com mais de 100 tiros em seu corpo, que ficou desfigurado. O homicídio, anunciado aos quatro ventos pelos policiais, provocou a reação das instituições comoo Tribunal deJustiça. Em agosto de 1970, o depoimento do padre Agostinho, de sobreviventes e de presos do Tiradentes ajudaram o então promotor Hélio Bicudo, hoje procurador aposentado, e o juiz corregedor Nelson Fonseca a iniciarem o processo que levaria ao indiciamento de 35 pessoas. Só seis foram condenadas. Apesar da dificuldade em punir, os au- tos trouxeram à luz informações preciosas. Vieram à tona, por exemplo, daods de que traficantes de São Paulo eram beneficiados por mortes praticadas pelo grupo. A promiscuidadedepoliciaisebandidos da boca do lixo motivou várias mortes do esquadrão, que protegiatraficantesamigosderivais,comorevelaram depoimentos do processo. “A violência era tolerada porque aparentemente ocorria em defesa da sociedade, mas na verdadeerausadaparaacobertaroutros tipos de crime”, lembra Bicudo, um dos principais responsáveis pelas investigações do período, hoje com 92 anos. “Os esquadrões da morte acabaram seguindo o caminho do crime. É o que costuma ocorrer. Engana-se quem acredita em um assassino”, diz. 1971 “TINHA DE MANTER A ORDEM. NÃO ACEITAVA DESOBEDIÊNCIA” 9,6 11,2 1979 13,1 1978 1974 8,4 1975 8,3 1976 8,7 129.278 ASSASSINATOS Variação se acelera a partir de meados de 1975 e a capital registra em 1999 quase 1 homicídio por hora. Em 1960, era menos de 1 por dia No dia 17 de julho de 1970, policiais do esquadrão encontram Guri, que seria morto com mais de 100 tiros 1980 ● Rua 1973 10,1 Polícia Militar Alberto Mendes Júnior foi assassinado a coronhadas pelos guerrilheiros do grupo de Carlos Lamarca depois de cair em uma emboscada no Vale do Ribeira. A informação só chegou ao Exército quatro meses depois, quando um integrante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foi torturado e apontou onde estava o corpo do oficial. A “ameaça comunista” estava no auge. Um dos responsáveis pelo cerco mal sucedido a Lamarca era o coronel do Exército Erasmo Dias. Em companhia do delegado Sérgio Paranhos Fleury, ele participou da caçada à VPR, um dos grupos da guerrilha urbana. Três anos depois, em 1974, Dias assumiria a Secretaria da Segurança para combater o crime comum. Os bandidos seriam seus novos inimigos e alvos. A tortura e os assassinatos continuariam sendo as ferramentas de trabalho de alguns policiais. “Desde aqueles anos, as simulações de resistências seguidas de morte se tornariam uma das formas de disfarçar execuções”, afirma Ivan Seixas, que hoje preside uma entidade de direitos humanos. Em abril de 1971, aos 16 anos, Ivan foi preso com o pai, o operário Joaquim Alencar Seixas, do Movimento Revolucionário Tiradentes. Ambos foram levados ao Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), formado por integrantes do Exército e das Polícias Civil e Militar. O pai de Ivan foi morto no dia seguinte, durante sessões de tortura. Oficialmente, policiais informaram que ele havia morrido em um tiroteio no dia anterior. A caçada aos bandidos comuns, iniciada pelo esquadrão da morte no fim de 1968 e adaptada na luta contra a guerrilha, levaria tensão e medo para as periferias em formação ao longo da década de 1970. Os novos agentes dos homicídios seriam grupos de policiais militares. O enfrentamento era incentivado pelo secretário Erasmo Dias, que premiava com medalhas e elogios PMs envolvidos em tiroteio, como conta o coronel João Pessoa Nascimento. 18,5 1972 1970 1970 5 CORONEL ERASMO DIAS Secretário de Segurança LOCAL 10 00 Como secretário da Segurança, coronel Erasmo Dias premiava policiais que se envolviam em confrontos 1977 9,0 10,0 Sob o discurso da defesa da sociedade, policiais da Rota assumem o posto de “caçadores de bandidos” %HermesFileInfo:C-5:20121015: O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 15 DE OUTUBRO DE 2012 Cidades/Metrópole C5 ● Acompanhe até quinta-feira EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar 60 A CURVA 80 70 a série especial sobre seis décadas de homicídios em SP. 90 10 00 A violência migra para os territórios periféricos da cidade nos anos 1980, década em que o crescimento das taxas de homicídio alcançou 144%. PAULO CERCIARI/AE Justiceiros e PMs fazem parceria para matar Boinas pretas. Truculência nas periferias Em 1987, Cabo Bruno tentou assassinar sobrevivente de chacina feita por policiais ENTRE 1975 E 1989, A EPIDEMIA SE ACELERA: PASSA, EM 1979, A BARREIRA DOS MIL CASOS. DEZ ANOS DEPOIS, ALCANÇA 3.850 MEDO DA MORTE E VINGANÇAS PROVOCAM MAIS HOMICÍDIOS Bruno Paes Manso padre irlandês Jaime Crowe chegou em fevereiro de 1987aoJardimÂngela, na zona sul da cidade, para comandar a Igreja Santos Mártires, um dos pilares da pacificação do bairro nos anos 2000. O prédio ainda estava em construção quando, em dezembro, no ano de sua chegada, um meninoveio chamá-loparaatender a um homem armado, com bigodes negros e grossos. Diante dele, estava o mais famoso justiceiro da zona sul: Florisvaldo de Oliveira, ex-policial conhecido como Cabo Bruno, quenãoseidentificouepediupara dormir na igreja. “Era Dia dos O DireitosHumanos,10dedezembro, eu nunca me esqueço. Eu não sabia queera o Cabo Bruno.” Em tese, Cabo Bruno deveria estarno RomãoGomes, presídio da Polícia Militar onde cumpria pena por seus crimes. Mas, naquelamadrugada,ele buscavaPirulito,filhode dona Luzia,moradora do Jardim Ângela. Três anos antes, Pirulito havia sido o único sobrevivente de uma chacina praticada por PMs contraquatro jovens. Etestemunharia nos próximos dias. Para que ficasse em silêncio, levou 15 tiros. Cabo Bruno fugiria oficialmente do Romão Gomes depois do atentado, na noite de Natal. “Essa é a história de Pirulito que me revelou a parceria entre os PMs e justiceiros”, diz o padre. OsdetalhesdaparceriaforamparaotúmulodeFlorisvaldodeOliveira, morto há duas semanas. Assassinatos praticados por policiais para coibir roubos acaramincentivandoasescolhashomicidas dos justiceiros. Como eram tolerados pelas autoridades, viraram opção popular. Os justiceiros eram bancados por comerciantes, assim como, na décadaanterior,industriaispaulistas já haviam financiado ações nos porões do regime militar. A estimativa é de que os justiceiros tenham matado pelo menos mil pessoas na Grande São Paulo. Conforme os assassinatos cresciam,apopulaçãodasperiferias começava a reagir aos corposno meio da rua e às pequenas tragédias cotidianas. Em vez de aumentarasensação desegurança,asaçõeshomicidasacabavam armandoosespíritoseproduzindo novos assassinatos. Cada novo caso instigava a compra de revólveres, a formação de grupos MORTOS PELA PM 1500 1200 900 229 600 300 0 1991 2012 rivais e círculos de vingança. Comerciante em Diadema nosanos1980,LaércioSoaresandava com duas armas na cintura para se proteger nos campinhos de várzea da cidade. Ele e outros pequenos empresários também pagavam advogados para defender os justiceiros locais. Com raras exceções, os justiceiros eram migrantes rurais apegados aos valores tradicionais das pequenas cidades onde nasceram.Chegavamacreditando nas oportunidadesoferecidasporSãoPau- 1989 1990 44,1 41,7 INFOGRÁFICO/AE 1987 40,1 1984 37,9 lo.Matavamaquelesqueviamcomo “bandidos”, integrantes da geração de jovens urbanos, descendentes de migrantes, que negavam os valores dos pais e buscavam uma identidade própria. Jovens de uma geração que acabou sendo dizimada na São Paulo dos anos 1980 e 1990. ● Em todos os cantos de SP 1985 36,9 1986 1988 36,5 36,2 Da esquerda para direita: João Balaio, Jonas Félix, Diógenes e Índio, justiceiros que durante a década de 1980 atuaram nas diferentes regiões da Grande São Paulo. Omissão ou parceria com policiais acabou incentivando a carreira dos matadores. 1983 30,5 Depois da PM, mortes migram para a periferia CURVA DE HOMICÍDIOS Justiceiros imitam policiais e 1981 matam suspeitos para tentar manter a ordem no bairro 21,7 1982 20,4 1980 18,5 A recente eleição para vereador dedoisoficiaisdareservadaRondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) mostra como, até hoje, o discurso truculento de combate ao crime tem apelo popular. Quando na ativa, o coronel Paulo Telhada se envolveu em 36 resistências seguidas de morte e o capitão Conte Lopes, em 41. O excesso de violência virou umadascaracterísticasdacorporação, postura que acabou se estendendo a outros batalhões. Se durante o período do esquadrão da morte as vítimas eram tiradas de presídios, quando os homicídiosse tornaramferramentas do policiamentoostensivoosassassinatosmigraram paraos territórios das periferias de metrópole. Matar se transformou em instrumento de trabalho de parte dosPMsque tentavam controlar ocrimede norte asulde São Paulo. Nos anos 1980, em Guaianases, na zona leste, um tenente que pediu para ser identificado apenas como Pereira passou a matar quando percebeu que os suspeitoseramrapidamentesoltos nos distritos policiais. Na zona sul, depois de 11 anos agindo deforma violentaao longodadécada de 1980, com inúmeros casos de resistência seguida de morte,o sargentoDavidMonteiro conta que se enxergava como umpolicialmodelo. Sópercebeu queestavaagindo de formaequivocada quando o comando o afastou da rua para trabalhos burocráticos.“Nessemomentoaficha caiu”, recorda. Ele já havia recusado o convite de um justiceiro para matarem juntos. Em 1960, quando os homicídiosemSãoPauloaindaeramendêmicos e as autoridades de segurança se dividiam entre Força Pública, Guarda Civil e Polícia Civil,oficialmente foi registrado apenas um óbito cometido pelas forças policiaisno Estado. Cinco anos depois, em 1965, foram duas mortes. A situação começou a mudar em 1970, no regime militar. A PM foi criada e passou a ser comandada por oficiais do Exército. Nesse ano, as mortes subiram para 28, pulando para 59 em 1975, no auge da repressão. A execução de suspeitos não parou de crescer, revelando o despreparo dos policiais. Só na décadade1980,foram4.093mortes. Longe de diminuir o crime, a truculência aumentou a desordem na cidade e acendeu o sinal de alerta. Em vez de aplauso, o excesso pediria ajustes. estadão.com.br TV Estadão. Confira análise sobre homicídios www.estadao.com.br/ JUSTIFICATIVA ANOS 60 O ASSASSINO A ação territorial dos justiceiros e dos policiais militares provocam disputas localizadas e concentradas na periferia CABEÇA LOCAL Contando com a omissão e o incentivo da polícia, justiceiros passaram a matar suspeitos nos anos 1980 acreditando agir em defesa dos trabalhadores do bairro e bancados por comerciantes. Os homicídios passaram a se concentrar nas periferias de norte a sul de São Paulo. Nos anos que viriam, os mesmos bairros das periferias vão liderar os rankings de assassinatos. Boa parte dos justiceiros costumava afirmar que tinham começado a matar depois que familiares foram ameaçados ou violentados por bandidos locais. 409 HOMICÍDIOS foram praticados por ano durante a década de 1980 em supostos casos de resistência seguida de morte envolvendo policiais militares. Nos anos 1980, a vida do justiceiro Clidenor Ancelmo Brilhante, que atuou em São Bernardo, acabou virando filme. Corpos amanhecidos no chão viraram rotina nas periferias. Cabo Bruno (à esquerda) agiu em parceria com PMs L. GEVAERD/AE ABISMO Bairros em área nobre da zona sul, como o Jardim Paulista, tinham taxa de homicídio europeia (3 por 100 mil), enquanto mortes no Jardim Ângela ultrapassavam 100 casos por 100 mil. C6 Cidades/Metrópole %HermesFileInfo:C-6:20121016: O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 16 DE OUTUBRO DE 2012 EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar 60 A CURVA 70 80 ● Acompanhe até quinta-feira a série especial sobre seis décadas de homicídios em SP. 90 10 00 Nunca São Paulo registrou tantos homicídios quanto os 6.653 casos de 1999. O total é 30 vezes maior do que os 217 ocorridos nos anos 1960. No auge do caos, 1 morte levava a 150 Jovens moradores de bairros violentos iniciavam conflitos incessantes contra vizinhos e disseminavam os assassinatos pelas periferias semelhante à guerra do Iraque. tério Público, entre 1993 e 1998 é pai de duas meninas. O jovem Corpos nas ruas, rodinhas em as rivalidades entre grupos no matador que ele foi nos anos torno dos defuntos, enterros de Jardim Ângela provocaram 156 1990 cresceu em um contexto violento e foi resultado das amigose parentes, conversas so- mortes, sobretudo de jovens. escolhas erradas que tobretiroteiosecrimes faziamparte da rotina e popularizaram as Mudança. A trajetória de Ale- mou. “Eu, de verdade, escolhas homicidas. No leque de xandre no crime terminou quan- sou essa pessoa que voalternativas dos moradores dos do ele foi preso, em 1998. Repen- cê conhece hoje. Em bairros violentos, o homicídio sou a vida e hoje está em liberda- paz”, resume. tornou-se aomesmo tempo uma de provisória. Virou evangélico 1998 ameaça real e uma opção de rea- há quase uma década. Aos 38 58,3 ção. Foi nos anos 1990 que a en- anos, trabalha com decoração e grenagem de homicídios se azeitou e passou a girar com mais 1996 força. As mortes dos anos 1995 55,2 1980 chegaram como uma bo- 54,8 la de neve. Em 1990, aos 15 anos, AlexandreRodriguesdaSilvainiciou sua trajetória no crime 1997 no Jardim Ângela, na zona 54,0 sul. Ele e os amigos tinham rivais em bairros vizinhos. A maior das rivalidades começou em 1995, contra os Ninjas, moradores do Jardim Tupi. Segundo apurações da políciaedoMinis- preservar a integridade do grupo de amigos e a hegemonia nos vários tipos de negócios criminais em uma pequena área do Grajaú, na zona sul. Depoisdecincoanosdeconflitoscomjovensrivais, elecalculava que já tinha matado mais de 50 pessoas. Narrou pelo menos três chacinas. A primeira morte que praticou foi por vingança de um colega no campinho de futebol. Vários conflitos se sucederam. “Os problemas vão brotando e parece que não acabam DE NORTE A SUL, RIXAS CRIAM A mais”, explicou. GERAÇÃO DE JOVENS MORTOS Em 2006, César e João Carlos foram queimados dentro do carBruno Paes Manso rocom outras três pessoas. A polícia apurou que os autores eram os 21 anos, César de integrantesdoPrimeiroComanSantana Souza sabia do da Capital (PCC) que passaque seu tempo estava ram a vender drogas no bairro. se esgotando. Em Idelvan morreu no mesmo ano, 1999, como ele pró- assassinado na frente do filho de prio dizia, estava fa- 6 anos. zendo “hora extra na As periferias da São Paulo dos terra”. Juntamente anos 1990 são o resultado das comos“aliados”JoséIdelmortes praticadas por polivan dos Santos e João Car- 1991 ciais e justiceiros nas décalos Queiroz, ele tentava 45,5 das anteriores. Em 1999, os assassinatos na cidade alcançariam seu ponto mais alto na curva, com 65 mor1990 tes por 100 mil habitantes, EFEITO DOMINÓ: QUANTO MAIS HOMICÍDIOS EM UM TERRITÓRIO, MAIOR A CHANCE DE NOVAS MORTES OCORREREM A 1994 45,5 44,1 1993 40,7 ANOS 90 40,4 O ASSASSINO Nos anos 1990, nos territórios violentos, o excesso de armas e de riscos induzem a escolha homicida até em conflitos banais PAULO LIEBERT /AE 7/11/2002 273 Facção. Em 1993, Geleião cria o PCC com outros presos CHACINAS ocorreram entre 1998 e 2000. Casos em que morrem três pessoas ou mais no mesmo evento, elas começaram a crescer depois de meados dos anos 1990. CABEÇA LOCAL REFÚGIO O alto grau de risco, o medo excessivo e a grande quantidade de armas em circulação transformaram qualquer conflito em risco de vida para os jovens que se sentiam ameaçados. Os homicídios se concentram nos bairros das periferias. No ano 2000, a taxa em Parelheiros (106 por 100 mil habitantes) é 28 vezes maior do que no Jardim Paulista (3,6 casos por 100 mil). O resultado da matança de jovens viciados em crack é a cracolândia no centro, que se torna um refúgio dos jovens que querem fugir das chacinas das periferias da cidade. A mística em torno das facções no Rio de Janeiro começou em 1981,quandoZéBigode,cofundadordoComandoVermelho,refugiou-se no Conjunto dos Bancários, na Ilha do Governador, trocando tiros com 400 policiais por 10 horas até ser morto. Com um bom fornecedor de cocaína, entre 1983 e 1986 o Comando dominou as bocas de fumo tradicionais, tocadas por pequenos traficantes de maconha. Em1985,jádetinha70%dospontos de venda em um grande e lucrativo mercado. Em São Paulo, desde os anos 1970, quando as taxas de crime começaram a crescer, pequenas células isoladas de criminosos se equilibravam parcamente, correndo o risco de serem caçadasporjusticeiros,policiaisecriminoso rivais. O roubo sempre foi o negócio principal. O tráfico de drogas só se fortaleceria em São Paulo depois dos anos 1990, com a chega- da do crack. Entre 1981 e 1996, o roubo em São Paulo cresceu em média 9% ao ano. Enquanto no Rio os criminosos se vinculavam a facções que dominavam territórios nos morros, em São Paulo os integrantes do mundo do crime se relacionavam de igual para igual, como indivíduos, pisando em ovos e disputando poder em territórios conflagrados, onde viviam sob risco de matar ou morrer a qualquer momento. Nessa estrutura criminal sem hierarquia, horizontal, sobravamoportunidadesemotivospara vinganças e assassinatos banais. “Ninguém é melhor do que ninguém” sempre foi uma frase repetida nesse cenário igualitário e instável das redes criminais paulistas.Na prática,jovens desconfiavam de outros jovens, vistos como homicidas em potencial, e matavam motivados às vezes por conflitos banais. Origem. É nesse contexto de mata-mataedesordemqueoPrimeiro Comando da Capital começou a se formar nas prisões em 1993. E a se fortalecer, com discurso que propunha fim das mortes de integrantes do crime e incentivo a negócios ilegais. FREDERIC JEAN/EDITORA ABRIL Matadores do Grajaú. Em conflitos com jovens rivais, disputas eram travadas na periferia A chegada do crack nas bocas das periferias aumenta a quantidade de pontos de venda e de conflitos. Em 1992, 111 são mortos por PMs na Casa de Detenção do Carandiru. Episódio vai mudar a política carcerária em SP. HEITOR HUI/AE 4/10/1992 65,3 2000 59,4 estadão.com.br TV Estadão. Confira análises sobre homicídios www.estadao.com.br PCC surge do mata-mata em SP e tenta criar hegemonia no crime Enquanto o crime no Rio era tocado por facções desde 1980, só no fim dos 1990 uma organização marcou presença em SP 1992 1999 Chacina e crack revelam ápice da desordem nos 1990 ● No começo dos 1990, o crack – droga feita a partir da pasta de cocaína com bicarbonato de sódio e vendida em pequenas pedras que tornavam a dose barata – aumentou o giro das bocas e a quantidade das biqueiras nas periferias de São Paulo. Viciados em crack, chamados de noias, mergulharam de cabeça no consumo, fazendo de tudo por novas doses. Eles se tornaram um dos alvos preferenciais dos matadores. “Noia se mata com pedrada, não precisa nem gastar balas de tão tranqueira”, dizia César Souza em 1999, matador do Grajaú. As chacinas – casos em que três ou mais vítimas são assassinadas – alcançaram 95 casos anuais em 2000. E eram o retrato da desordem generalizada. Na maior ocorrência do Estado, em 1998, 12 pessoas foram mortas em Francisco Morato. Os autores, PMs que também faziam segurança, buscavam uma menina que testemunharia contra eles na Justiça. Mataram os outros para evitar o risco de sobrarem mais testemunhas. “É aquela coisa. Está de madrugada, bebendo com quem não presta, coisa boa não deve ser”, explicava José Idelvan dos Santos sobre as três chacinas que praticou nos anos 1990. Nesse contexto de extermínio, as periferias passaram a expurgar os consumidores para o centro de São Paulo. A cracolândia se tornaria uma zona neutra, um refúgio onde se podia traficar sob os olhos da polícia e consumir a droga sem o risco de ser assassinado. Nas periferias, com revólveres e medo em excesso, conflitos banais podiam provocar escolhas homicidas. O aluno de uma escola em Diadema explicou o assassinato praticado por um amigo. Ele ia toda manhã levar a irmã à aula e um jovem o encarava do lado de fora da escola. No terceiro dia, atirou e matou o jovem sem questionar. “Está certo. Desacreditou, tem de morrer.” Episódio da Favela Naval, em Diadema, em 1997, revela despreparo da PM e força comando a mudar a gestão da tropa. AGLIBERTO LIMA/AE 1/12/1998 REPRODUÇÃO %HermesFileInfo:C-5:20121017: O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 17 DE OUTUBRO DE 2012 Cidades/Metrópole C5 EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar 60 A CURVA 70 80 ● Acompanhe até amanhã a série especial sobre seis décadas de homicídios em SP. 90 10 00 A surpreendente queda ininterrupta dos homicídios salvou mais de 30 mil vidas entre 2000 e o ano passado, quando as 6.653 mortes caíram para 1.403. TIAGO QUEIROZ/AE Após desordem e dor, mortes caem aceleradamente 2000 Homicídios se tornam estorvo para todos, 2001até para assassinos, e abrem espaço para a intervenção do Estado no crime 57,8 59,4 2001 57,8 2002 50,9 INTERVENÇÃO ANTIVIOLÊNCIA DO ESTADO FOI EFICAZ PORQUE MORADORES DA PERIFERIA APRENDERAM COM TRAGÉDIAS O MESMO OCORREU EM OUTRAS CAPITAIS BRASILEIRAS Bruno Paes Manso N atalino Pereira dos Santos chegou a São Paulo, vindo da pequena Jardim Alegre, no Paraná, em1989.Veio para trabalhar em um frigorífico. Separado da mulher, com ajuda dasirmãs conseguiucriar osdois filhos, Leandro e Edmar, dando duro em diferentes empregos. No ano passado, seu filho mais novo, Leandro Damião, foi convocado para a seleção brasileira de futebol, aos 22 anos. A trajetória de Damião no esporte está associada à pacificação não só do Jardim Ângela, na zona sul, como de toda a cidade, onde homicídios despencaram a partir de 2000. Leandro Damião fez primeira comunhão e crisma naParóquiaSantosMártires,ondeo padre Jaime Crowe passou a liderar, em meados dos anos 1990, uma caminhada em defesa da vida. A queda nas taxas de homicídio em mais de 80% permitiu que ele seguisse sua trajetória em paz. Em 2006, Damião jogou no time de várzea do Família Tupi City,antesdesedestacarnoAtlé- tico de Ibirama,deSan2003 ta Catarina, e 47,7 chamar a atenção doInternacional,quando em2010 marcou o gol que deu ao clube o título da Libertadores. O presidente do Família Tupi City é o motoboy Paulo Enoc. Em outubro de 2001, ele havia sido ameaçado de morte por integrantes da Gangue dos Ninjas, um dos grupos mais perigosos do bairro na época,protagonistaderixasqueprovocaram mais de 150 assassinatos no Jardim Ângela de 1990. Para lidar com a situação, Enoc comprou uma arma e foi conversar com Luizinho, um dos líderes da gangue. Chegou a um pagode, assustou-se e atirou, matando Luizinho e outra pessoa.Sumiuporumtempo,foiajudado pelos patrões e acabou inocentado na Justiça por atirar em legítima defesa. Enoc montou o Família Tupi City para tentar ajudar as crianças do bairro. Entidades do Jardim Copacabana, como o Cio da Terra, ajudaram a levar Damião ao time de várzea do bairro vizinho, visto como violento. “Montamos a escolinha de futebol, organizamos festas, distribuímos leite e tentamos ajudar as crianças daqui. A pacificação a partir doano 2000 foifundamental para isso”, diz Enoc. PCC. A queda acelerada dos as- sassinatos a partir da virada do século ocorreu com o aumento da venda de drogas e da influência do Primeiro Comando da Capital (PCC) na região. Mas a tensão permanece na cidade, que ainda sofre ameaça de retomada da epidemia. Mesmo que ocorra pela ação de outro tipo de vírus. Jardim Ângela. Enoc com crianças do bairro: dono do time em que Leandro Damião jogou Todos perderam com homicídios e ação do Estado surtiu efeito 2004 37,3 2005 24,3 No auge dos homicídios, em 1999, José Idelvan, matador do Grajaú, autor de dezenas de assassinatos e de pelo menos três chacinas, explicava que pararia de matar se pudesse. “Mas não tem como. Se eu parar, aqueles que querem me pegar teriam vida fácil e eu morreria rapidinho”, disse. Idelvan morreu em 2006,assassinadodepoisqueoutroscincocolegasforam queimados dentro de um carro. Aquedadosassassinatosocorreu porque, depois que os homicídios se disseminaram e se popularizaram, todos se prejudicaram, incluindo os assassinos, que passaram a ser jurados de morte. Nos anos 1970 e 1980, os assassinos ainda tinham a ilusão de que seus crimes podiam exercer algum controle no território. Vinte cinco anos de 2006 mortes ensinaram 23,5 que não era bem assim:adesordemtende só a aumentar. Os homicídios e os assassinos, no en2007 17,7 2008 14,8 tanto, não mudaram sozinhos. Dependeramdeumaforçaexterna, capaz de induzir potenciais homicidas a optar por soluções alternativas. Só o Estado tinha a capilaridade e a capacidade de agir com abrangência suficiente para reverter as taxas de homicídios em quase todas as cidades paulistas a partir de 2000. As políticas mais importantes começaram a ser executadas nos anos 1990, provocadas por acontecimentostrágicos. Depoisdessasações,omundodocrimenunca mais seria o mesmo. O massacre do Carandiru, quando 111 presos morreram em 1992, foi um desses episódios transformadores. Cinco meses depois, foi criada a Secretaria da Administração Penitenciária, que ganhou autonomiaem relação à Secretariada Segurança e ampliou as vagas no sistema.Entre1988ehoje,ocrescimento de presos por 100 mil habitantes foi de 770%. Passou de 51 por 100 mil habitantes no Estado para 418 por 100 mil nos dias de hoje. Paralelamente, o sucesso das medidas implantadas em Nova York, que pela primeira vez conseguiu reduzir homicídios em curtoprazo,incentivouamudança no patrulhamento dos policiais militares, que passaram a agir nos lugares com taxas maiores de homicídio. Um dos focos era retirar armas frias das ruas, aproveitando o rigor de novas leis contra o porte. Organização. No mundo do crime, o impacto dessas políticas públicas levou a mudanças radicais no comportamento de seus integrantes. Como o homicídio prejudicava os criminosos – que estãointeressados em ganhardinheiro roubando e traficando –, as medidas induziram a escolhas diferentes. OPrimeiroComandoda Capital foi também uma das consequências das políticas públicas. Com o aumento de presos e a organização da facção, os debates nas “quebradas” também acabou ajudando a controlar os assassinatos a partir de 2006. O círculo virtuoso entrou em ação. Assim como no período de ascensão, no qual um homicídio podia produzir outros homicídios, um assassinato a menos também provocava redução em escala. estadão.com.br TV Estadão. Confira análises sobre homicídios www.estadao.com.br 2009 15,3 2010 14,5 2012 13,3 2011 12,5 ANOS 2000 Damião. Do Jardim Ângela para a seleção brasileira O ASSASSINO Índice de homícidios por 100 mil habitantes Quando todos podem matar, o homicida deixa de ter poder e fica sujeito a ser assassinado. Ganham força, assim, soluções alternativas CABEÇA LOCAL EFEITOS O PCC de Marcola (acima) não foi causa da queda dos homicídios, mas resultado de políticas antiviolência. A facção ganhou força por conseguir, dentro e fora das prisões, mediar mortes. Apesar de os homicídios terem caído em bairros da periferia, eles continuam liderando os rankings de assassinato. O total de casos, contudo, cai acentuadamente ao longo da década. O Cemitério São Luís, na zona sul, que ficou conhecido como o “cemitério dos jovens” por enterrar muitas vítimas de homicídio, passou a ter áreas vagas e arborizadas. As caminhadas contra a violência até o Cemitério São Luís, na região do Jardim Ângela, continuam até hoje. 1.403 HOMICÍDIOS ocorreram na capital em 2011. Esse número é inferior ao total de 1980, quando 1.470 pessoas foram assassinadas em São Paulo. Os ataques praticados pelo PCC em 2006 evidenciaram ao público a força da facção, principalmente nas prisões. VIVI ZANATTA/AE 21/11/2005 NIGEL RODDIS/REUTERS EVELSON DE FREITAS / AE 7/8/2006 C10 Cidades/Metrópole %HermesFileInfo:C-10:20121018: O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 18 DE OUTUBRO DE 2012 EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar Homicídio retoma alta com embate ‘PM x PCC’ Antes em queda, índice volta a crescer após atentados a policiais e mortes de suspeitos ENTENDER A NATUREZA DOS CONFLITOS É IMPORTANTE PARA DEFINIR SE ESSA EXPANSÃO É CONJUNTURAL OU ESTRUTURAL ASSASSINATO COMO CONTROLE INTENSIFICA A VIOLÊNCIA Bruno Paes Manso primeiro trabalho do soldado Paulo Cesar LopesCarvalhonaPolícia Militar foi na base comunitária do Jardim Ângela, na zona sul, em 1998. Carvalhotinha26anos enos anos seguintes faria parte de um dos projetos mais premiados da corporação paulista. Antes de começar a funcionar, a base comunitária organizou discussões na Paróquia Santos Mártires, do padre Jaime Crowe, onde os PMs conheceram mais de 200 lideranças da zona sul no FórumemDefesa daVida.O grupo se juntou para reverter o quadro do bairro que, em 1995, havia sido considerado o mais violento do mundo, com 108 homicídios por 100 mil habitantes. Uma das ideias surgidas foi a criação da Caminhada em Defesa da Vida, feita no Dia de Finados,atéo CemitérioSãoLuís,conhecido como o “cemitério dos jovens” pelo número de vítimas de homicídios. Os PMs da base estavam sempre presentes. O Carvalho fazia cooper uniformizado pelas ruas do bairro para interagir com a população. Na Páscoa, ele e outros policiais distribuíam ovos para as crianças, concorrendo com o crime que usava a mesma estratégia. PMs tambémabriramabaseparaintegrantes do hip-hop organizarem cursos e oficinas. Em 21 de junho, aos 40 anos de idade, Carvalho foi assassinado enquanto fazia compras. O policial estava de folga. Antes de matá-lo,umjovemmexeunospacotes do supermercado para desviarsuaatenção.Outrostrêschegaram atirando. Nos dias seguintes, oito pessoas foram mortas nos arredores, em crimes com características parecidas. Na morte do copeiro Eleandro Cavalcante de Abreu, testemunhas disseram que homens com toucas ninjas em carro e moto mataram com pistolas silenciosas e de calibre 12 de cano serrado. Retomada. Assim como ocor- reu em 2009, neste ano as disputas sangrentas envolvendo mortesdepoliciaisedesuspeitosvoltaram a mudar a tendência da curva de homicídios, que vinha caindo aceleradamente. Em 2009, na Baixada Santista, o embate envolvendo matadores ninjas já havia causado leve aumento de homicídios no Estado. Neste ano, a situação começou a degringolar em março. Nosoitoprimeirosmeses, oshomicídios cresceram 15,4% na capital e 6,3% no Estado. Até ontem, 81 policiais haviam sido assassinados.Desses,segundoapuração da Polícia Civil, 39 homens da ativa e 4 da reserva foram executados. Outros 27 foram mortos em ocorrências esclarecidas como roubos. Grampos mostraramintegrantes do PrimeiroComando da Capital (PCC) dando ordens para matar PMs – as chamadas “xeque-mate”. Sequências suspeitas de mortes ocorreram logo após assassinato de policiais. Em Osasco, oito morreram dois dias depois do atentado a um soldado que sobreviveu.Duassemanasmaistarde, seis pessoas foram executadas em Guarulhos após um PM das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) levar um tiro. Moradores disseram que os PMs da Rota passaram na região ordenando toque de recolher. Parte dos assassinatos ocorreu a 200metrosdoatentado.Atéagora, os casos não foram esclarecidos.Nasemanapassada,20mortesocorreramnaBaixada Santista e na região de Taboão da Serra depois de atentados a PMs. Ainda é cedo para afirmar sobre o futuro, se a tendência é para valer ou apenas um espasmo, como explica o economista João Manoel Pinho de Mello (PUCRJ), que estuda a curva de homicídios em São Paulo. “Isso pode ser conjuntural – uma onda de conflitos fora do nível de equilíbrio – ou estrutural – quando, por alguma razão, aumenta o número e a letalidade dos conflitos”, afirma. “Será importante estudara natureza desses conflitosparaevitarquealgoconjuntural se torne estrutural.” Conclusões. É importante, con- tudo,prestar atençãoaos ensinamentosqueos52anosdeassassinatos oferecem. Para os especialistas, o principal deles é que os homicídios não podem ser mais aceitoscomo resposta deautoridades de segurança pública. A grande quantidade de resistências seguidas de morte revelam – segundo eles – despreparo da Polícia Militar e incapacidade de prender criminosos com estratégias e métodos inteligentes. Dão brecha também para que agentes de segurança acabem se tornando assassinos e integrantes de grupos de extermínio e outras quadrilhas. Como esta série de reportagens mostrou de domingo a hoje, homicídios provocam novos homicídios.Emvez defuncionaremcomoferramentade controle, eles aumentam a desordem e fazem o vírus da epidemia se espalhar rapidamente. VIOLÊNCIA G Todos G Todos os homicídios registrados na capital paulista em cada um dos anos os homicídios registrados na capital paulista em cada um dos anos 2000 46º DP ● Mapa 46º DP vermelho 38º DP 45º DP 87º DP 33º DP 91º DP 7º DP 14º DP 62º DP 39º DP 40º DP 13º DP 9º DP 19º DP 13º DP 2º DP 9º DP 19º DP 90º DP 10º DP 90º DP 52º DP 10º DP 33º DP 7º DP 73º DP 39º DP 40º DP 28º DP 91º DP 73º DP 20º DP 38º DP 45º DP 28º DP 87º DP 77º DP 12º DP 24º DP 22º DP 62º DP 24º DP 64º DP 59º DP 22º DP 63º DP 59º DP50º DP 67º DP 63º DP 32º DP 50º DP 67º DP 68º DP 81º DP 64º DP 21º DP 32º DPDP 68º DP 12º DP 103º 52º30º DPDP 65º DP 8º DP 81º DP 31º DP 21º DP 1º DP 93º DP 3º DP 44º DP 57º DP 23º DP 103º DP 65º DP 30º DP 66º DP 4º DP 5º DP 1º DP 8º DP 31º DP 58º DP 14º DP 93º DP 44º DP 18º57º DPDP 78º DP 29º DP 66º DP 53º DP 51º DP 5º DP 6º DP 58º DP 15º DP 18º DP 54º DP 41º DP 78º DP36º DP 56º DP29º DP 42º DP 53º DP 51º DP 6º DP 17º DP 34º DP 15º DP 54º DP 41º DP 36º DP 56º DP 42º DP 70º DP 96º DP 16º DP 34º DP 17º DP 49º DP 69º DP 95º DP 70º DP 96º DP 16º DP 49º DP 69º DP 89º DP 95º DP 26º DP 27º DP 55º DP 89º DP 26º DP 27º DP 37º DP 55º DP 11º DP 35º DP 83º DP 75º DP 75º DP de perigo Sozinhos, quatro DPs da zona sul (92º, 47º, 37º e 100º) registraram 789 homicídios, ou 14,9% do total da cidade. 20º DP 72º DP 74º DP Cidade tinha homicídios espalhados por todos os distritos, com bolsões de violência nas zonas sul, norte, leste e central. ● Zona 72º DP 74º DP 37º DP 11º DP 92º DP 102º DP 47º DP 43º DP 99º DP 80º DP 83º DP Os 10 mais violentos de 2000 97º DP 92º DP 47º DP 100º DP 98º DP 101º DP 54º DP 85º DP 25º DP 37º DP 74º DP 80º DP 102º DP 98º DP 48º DP 100º DP 98º DP 48º DP 101º DP 100º DP 2º DP 3º DP 77º DP 4º DP 43º DP 35º DP 97º DP 99º DP 92º DP 47º DP 23º DP 101º DP 85º DP 85º DP 25º DP 25º DP Parque Santo Antonio Capão Redondo Jardim Herculano Jardim Miriam Jardim das Imbuias Cidade Tiradentes Jardim Mirna Parelheiros Campo Limpo Parada de Taipas 235 212 209 197 195 157 156 139 133 124 2007 ● Alívio Com diminuição geral do índice de homicídios, alguns bairros quase conseguiram se livrar totalmente dos crimes, mas ainda há bolsões. 46º DP 73º DP 39º DP 28º DP 62º DP 9º DP 13º DP 19º DP 24º DP 90º DP 2º DP 91º DP 7º DP 77º DP 23º DP 78º DP 15º DP 36º DP 96º DP 99º DP 47º DP 48º DP 101º DP estadão.com.br 85º DP 25º DP 97º DP 80º DP 102º DP 64º DP 31º DP 98º DP 44º DP 53º DP 41º DP 42º DP 70º DP 69º DP 68º DP 103º DP 66º DP 58º DP 95º DP 83º DP 32º DP 65º DP 26º DP 35º DP 43º DP 29º DP 56º DP 50º DP 67º DP 21º DP 57º DP 6º DP 16º DP 11º DP 100º DP 8º DP 18º DP 27º DP 92º DP TV Estadão. Assista ao documentário ‘12 Tiros’ www.estadao.com.br 1º DP 52º DP 59º DP 63º DP 10º DP 30º DP 17º DP 89º DP 37º DP 81º DP 5º DP 34º DP 75º DP 12º DP 3º DP 4º DP 14º DP 51º DP 22º DP 40º DP 33º DP ● Zona No bolsão da zona sul, o total de mortes cai para 180, mas isso ainda representa 12% dos homicídios da capital paulista. 20º DP 38º DP 45º DP 87º DP 93º DP de perigo 72º DP 74º DP 54º DP 49º DP 55º DP Os 10 mais violentos de 2007 101º DP 92º DP 37º DP 98º DP 47º DP 25º DP 73º DP 46º DP 74º DP 100º DP Jardim das Imbuias Par Santo Antonio Campo Limpo Jd Miriam Capão Redondo Parelheiros Jaçanã Perus Parada de Taipas Jd Herculano 57 49 47 47 46 46 40 40 39 38 INFOGRÁFICO/AE FRASES | Leia a íntegra: www.estadao.com.br JOÃO MANOEL PINHO DE MELLO SÉRGIO ADORNO LEANDRO PIQUET TULIO KAHN SOCIÓLOGO DA USP CIENTISTA POLÍTICO DA USP CIENTISTA POLÍTICO ECONOMISTA DA PUC-RIO “A questão da segurança pública não mais se restringe ao aparelho repressivo. Outras políticas, com apoio da sociedade civil, devem alcançar os cidadãos comuns nos bairros, solidificar laços de cooperação e contribuir para um redesenho urbano com maior equidade.” “As instituições do sistema de Justiça criminal de São Paulo conseguiram deter as engrenagens que tornaram o Estado um dos mais violentos do País. O ciclo virtuoso da política se inicia quando o crime, que antes recompensava, deixou de ser uma alternativa viável.” “É possível apontar a continuidade da queda nacional das taxas de homicídio nos próximos anos em razão de fatores como a diminuição de jovens na população, o aumento do investimento em segurança e a queda da desigualdade no País.” “Para atingir níveis mais baixos de homicídios, seria preciso melhorar a distribuição de renda e aumentar um pouco as penas nas idades entre 15 e 18 anos. A segunda opção não me parece estar disponível.” ADÍLSON PAES DE SOUZA 59,4 Antes do esquadrão da morte, o assassino era o pária e louco que assustava e provocava repulsa. A epidemia começou quando policiais do esquadrão passaram a matar alegando defender a sociedade. Com a ação da PM nos anos 1970, a morte de suspeitos se concentrou na periferia, mesmo lugar onde os justiceiros matavam nos anos 1980. A engrenagem da violência passou a funcionar, com círculos de vingança e assassinatos. Todos perdiam. A partir do ano 2000, com a sociedade saturada de tragédias, abriu-se espaço para que as políticas públicas tivessem mais efeito. Os homicídios, então, caíram. 4,6 “(Muitos policiais) desconhecem a realidade social em que vão trabalhar, confundem autoridade com truculência, exercício do poder com superpoderes, com os quais podem agir segundo suas próprias regras, cujo resultado é mais arbitrariedade.” 2000 A CURVA 1950 CORONEL DA RESERVA DA PM 1990 44,1 1980 18,5 1970 1960 5,7 9,9 2010 14,5 2012 13,3