C8 Cidades/Metrópole
%HermesFileInfo:C-8:20121014:
O ESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 14 DE OUTUBRO DE 2012
EPIDEMIA: O que 5 décadas de homicídios
em São Paulo têm a ensinar
Dos esquadrões ao PCC, 52 anos de
violência mataram 130 mil pessoas
Das execuções do esquadrão da morte nos anos 1960 aos homicídios
ordenados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) nos dias de
hoje, a epidemia de assassinatos em São Paulo matou 130 mil pessoas. Ao longo de 52 anos, como em um comportamento contagioso,
os assassinatos começaram a crescer. De menos de um homicídio
por dia em 1960, chegou a quase uma morte por hora em 1999.
Nesseano,acidaderegistrou63,5assassinatospor100milhabitan-
tes, taxa semelhante à dos três anos de guerra no Iraque. A partir de
2000, a exemplo das epidemias, o contágio cessou e os homicídios
despencaram 77% ao longo de 11 anos. Neste ano, contudo, disputas
incessantes entre policiais militares e integrantes do PCC mostraram que essa pacificação se sustentava sobre frágeis estruturas.
Como compreender essas mudanças bruscas no comportamento
doshomicidas? De hoje a quinta-feira, o Estado publica uma série de
maisassustavaeraofurtoqualificado, quando o ladrão invadia
um comércio ou uma casa quando o dono estava fora”, lembra o
criminalista Roberto Von Hyde,
de 82 anos, que defendeu criminosos perseguidos pelo esquadrão, além de João Acácio Pereira da Costa, o Bandido da Luz
Vermelha, que em 1967 foi preso
por assaltar casas e matar quatro
pessoas.
“Crimes de sangue” envolviamgeralmentehistóriasdemaridos traídos, que, movidos pelo
ódio incontrolável, muitas vezes
matavam a si próprios em tragédias passionais à la Nelson
Rodrigues. Entre 1960 e
1965, em mais da metade
dos assassinatos em São
Paulo, corpos de vítimas foram encontrados dentro de
casa,revelandoforteassociação entre esse tipo de crime e
paixõesdomésticasmalresolvidas.
Por serem ações tresloucadas, os assassinos sofriam controle acirrado de instituições e
da sociedade. Casos como o de
Benedito Moreira de Carvalho,
que ficou conhecido como o
Monstro de Guaianases ao ser
acusado de violentar e matar dez
mulheres entre 1950 e 1953, tornavam o homicida um pária,
odiado e caçado como personagem de filme de terror.
ENTRE 1960 E 1999, HOMICÍDIOS
PULARAM DE 217 CASOS
PARA 6.653. EM 2000, AS MORTES
COMEÇARAM A CAIR
Assassinatos aumentam depois que passam a ser
vistos como ferramenta de controle do crime
Bruno Paes Manso
ara cada policial morto, dez bandidos vão
morrer”,
bradou em
novembro
de1968 o investigador
Astorige
Correia, o Correinha, na frente
de jornalistas durante o enterro de Davi Parré, investigador
mortopor umtraficanteda zonanortedeSãoPauloconhecidocomoSaponga.Ojuramentoantecipava asériede assassinatos praticada por policiais civis do famigerado esquadrão da morte liderado
pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.
Na semana passada, a fatídicasentençavoltouaassombrar o cotidiano dos
paulistas como se as 130
mil mortes ocorridas em
52 anos tivessem sido insuficientes para dar lições.Ohomicídiodepoliciais militares na Baixada Santista e em Taboãoda Serraprovocaram uma sequência de
20 homicídios nos
bairros vizinhos. Moradores que viram o
massacre apontaram PMs à
paisana como suspeitos.
Em dois momentos distantes,
separadospormaisdemeioséculo, a vingança continua fazendo
aengrenagemdoshomicídiosgirar. Para compreender a violência nos dias de hoje, é fundamentalentenderavariaçãodoshomicídiosnos últimos 52 anos.A epidemia dos assassinatos começa
no fim dos anos 1960, depois que
as mortes à bala passam a ser vistas como uma maneira de se
manter o controle dos roubos
emumacidadequecresciadesordenadamente.
Antes disso, o mundo do cri-
“P
me em São Paulo era quase romântico, palco dos desviantes
que vagavamna boca do lixo perto da Estação da Luz e da velha
rodoviária do centro. No chamado Quadrilátero do Pecado, região da Avenida Duque de Caxias, que no futuro se transfor-
estadão.com.br
Online. Áudios e músicas sobre
a violência e os esquadrões
www.estadao.com.br
1963
8,1
ESCALADA
Maioria das mortes (aqui por 100
mil/hab) era passional e em casa
1960
5,7
maria na cracolândia, em vez de
revólveres, os malandros usavam navalhas em noitadas abastecidas por anfetaminas e destilados.
Mais do que um reduto de criminosos violentos, o submundo
paulistano era palco de contravenções e contraventores que
vendiam sexo, jogos de azar e
drogas leves. Assassinatos, nesse tempo, eram a opção dos vilões,malvadoseloucos.“Ostempos eram outros. O crime que
1961
Mudança. A epidemia de assassinatos em São Paulo começou
quando homicídios passaram a
ser vistos como ferramenta para
limpar a sociedade dos bandidos.Comocrescimentodosroubos e dos assaltos a banco no fim
dos anos 1960, viraram instrumento de extermínio ou vingança para ser usado em benefício
da população com medo.
Em vez de monstros, os homicidas que alegavam agir em defesa da sociedade e tornar a cidade
mais segura se transformaram
em heróis. Os chamados “presuntos” eram desovados em estradas de São Paulo, depois de
serem retirados de presídios como o antigo Tiradentes.
Chefe do esquadrão da morte,
o delegado Fleury – que começou em 1968 a matar suspeitos
com ajuda de outros integrantes
do bando – virou um dos ídolos
do período, recebendo homenagens em letras de canções populares. E os métodos cruéis do esquadrãotambémganharamprestígio durante o regime militar.
Técnicas de tortura e assassinatos passaram a ser usadas por in-
1964
7,7
reportagens para explicar a variação dos assassinatos em São Paulo.
O material é resultado de 13 anos de investigações e estudos e de
mais de cem entrevistas – muitas feitas com matadores que atuaram
em diferentes períodos em São Paulo. O trabalho resultou em uma
tese de doutorado, defendida em 28 de agosto no Departamento de
Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).
Grupos
eram mais
letais que a
ditadura
9/8/1967
● Tanto no Rio de Janeiro quanto
em São Paulo, o esquadrão da
morte representou o começo da
epidemia de assassinatos. Não
pela quantidade de homicídios
de seus integrantes, mas por colocar em prática uma nova forma
de ver o mundo e lidar com assassinatos em sociedades em
processo de urbanização.
O esquadrão começou no Rio
em 1958 e serviu de modelo para
o resto do Brasil, inclusive São
Paulo. Policiais paulistas conversavam com os cariocas antes de
se organizar para matar. O Espírito Santo, Estado que liderou o
tegrantes do Exército e da Polícia Militar no combate à guerrilha e para desbaratar os grupos
de esquerda. Em 1969, Fleury estava à frente da emboscada que
levou à morte do líder comunista Carlos Marighella na Alameda
Casa Branca, nos Jardins.
Rota. No combate ao crime co-
mum, policiais das Rondas OstensivasTobias deAguiar (Rota)
assumiram nos anos 1970 o posto de “caçadores de bandidos”,
celebrados pelo povo. “Em bairros das periferias, a população
pedia para beijar nossa mão”,
lembra o coronel Niomar Cyrne
Bezerra, ex-comandante da Rota na época.
Nos anos 1980, saiu da PM um
dos principais matadores da históriadacidade.OsoldadoFlorisvaldo de Oliveira, conhecido como Cabo Bruno, morto há duas
semanas depois de ficar 27 anos
na prisão, iniciou sua carreira de
justiceiromatando asoldode comerciantes. Logo justiceiros pipocaram por todos os cantos de
São Paulo. De forma geral, todos
alegavammatarbandidosemdefesa dos trabalhadores.
Em 1987, depois da prisão de
Francisco Vital da Silva, justiceiro conhecido como Chico Pé de
Pato, a população do Jardim das
Oliveiras, na zona leste, foi em
1966
9,0
1965
8,3
6,4
1962
6,4
DELEGADO FLEURY
Líder do esquadrão
“GUARDEI (O RELÓGIO
DE UMA VÍTIMA) SÓ DE
LEMBRANÇA”
A PM só é criada em 1969.
Antes, cabia à Força Pública
defender o patrimônio do
Estado. Pouco saía às ruas.
No dia 23 de novembro de
1968, é morto Saponga, acusado de matar o investigador
Davi Parré
O delegado Fleury conversa
com a mãe de Saponga, que
era jurado de morte acusado
de matar um policial
1967
9,2
ranking dos assassinatos no Brasil nos anos 1980 e 1990, também teve seu esquadrão.
Considerando levantamentos
policiais do período, entre 1963 e
1975 os grupos de extermínio
formados por policiais mataram
quase 900 pessoas no Rio (654)
e em São Paulo (200) – mais do
que os 20 anos de regime militar.
www.estadao.com.br/acervo
peso ao Fórum de Santana pedir
sua liberdade.
Com o passar dos anos, no entanto, foi ficando mais claro que
oshomicídios,em vezde controlarem o crime, acabavam provocando novos assassinatos, em
círculos ininterruptos de violência. Se por um lado eliminavam
suspeitos, consolidavam também nesses bairros o medo da
mortee estimulavam o desejo de
vingança.
Éoquerevelaahistória domatador César de Santana Souza,
quenosanos1990diziatermatado mais de 50 pessoas no Grajaú,
na zona sul. Ele praticou o primeiro homicídio por vingança,
depois que um amigo foi morto
em um campinho de futebol. Jurado de morte por inimigos que
queriam vingança, passou a matar por razões cada vez mais banais, sempre que pressentia que
corriariscodesermorto.Elechegou a acreditar que a violência o
ajudaria a dominar o bairro. Depois de um tempo, percebeu, no
entanto, que homicídios serviam apenas para provocar novoshomicídios.Em2006, terminou assassinado por integrantes
do Primeiro Comando da Capital (PCC) que passaram a vender drogas em seu bairro.
1968
10,4
1969
9,9
%HermesFileInfo:C-9:20121014:
O ESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 14 DE OUTUBRO DE 2012
60
A CURVA
80
70
Cidades/Metrópole C9
90
● A epidemia começou
no fim dos anos 1960 e
cresceu principalmente
depois de 1975
Entre 1900 e 1960, São Paulo nunca havia ultrapassado a
barreira dos 10 casos por 100 mil habitantes. Os homicídios
eram endêmicos e não criavam círculos de vingança
Vingador oficial, Fleury
inicia a onda de mortes
Policiais retiravam vítimas de presídio para executá-las até que um padre,
um promotor e um juiz desvendaram o que havia por trás dos crimes
CRESCIMENTO DAS PERIFERIAS
Tiroteio com a
polícia é disfarce
para execuções
PARQUE
ANHANGUERA
SERRA DA
CANTAREIRA
PARQUE
ECOLÓGICO
DO TIETÊ
PIRITUBA
● Em maio de 1970, o tenente da
VILA
MEDEIROS
PARQUE
ESTADUAL
DO JARAGUÁ
ITAIM
PAULISTA
LAPA
Um delegado ligava para os jornalistas anunciando que havia
um“presunto” naestrada. Afonte secreta tinha o apelido de Lírio Branco e passava a ficha criminal do morto. Em alguns casos, os matadores deixavam ao
ladodocorpodesenhos decaveira do esquadrão da morte. Não
bastava matar. Era preciso avisar o público, pelos jornais, que
os assassinos tentavam livrar o
mundo dos bandidos.
Entre 1969 e 1971, mais de 200
suspeitosforamexecutadospelo
esquadrão. O efeito dessas mortes, no entanto, transcenderam
asvítimas.Aplaudidospelapopulação e respaldados pelas autoridadespaulistasenacionais,osassassinos consolidaram em São
Paulo a ideia de que os homicídios podiam ser usados como
uma ferramenta eficaz para limpar a sociedade dos bandidos, ao
mesmo tempo em que aplacavam o desejo de vingança de uma
população amedrontada.
“Os efeitos dos assassinatos
praticados pelo esquadrão são
sentidos até hoje. A limpeza social continuou sendo defendida
e praticada por grupos de extermíniohojelocalizados principalmente na Polícia Militar”, afirma o padre Agostinho Duarte
Oliveira, de 81 anos, na sede do
Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais, em São Paulo.
ANOS 60
O ASSASSINO
O homicida deixa de ser um
pária para se tornar um herói ao
matar em defesa da sociedade
TATUAPÉ
Vingança. Depois da morte de
● Apoio
popular
60%
da população de SP em 1970
apoiavam esquadrão (Marplan)
49%
apoiavam o esquadrão por considerarem bandidos irrecuperáveis
38%
achavam que a Justiça não era
suficiente para coibir o crime
Amigo de infância do delegado Sérgio Paranhos Fleury, com
quem jogava futebol no mesmo
clube da Vila Mariana, padre
Agostinho conseguiu, em 1969,
autorização do secretário da SegurançaPública,HelyLopesMeirelles, para ingressar no antigo
PresídioTiradentes,emSãoPaulo, onde a presidente Dilma
Rousseff também cumpriu pena
com outros presos políticos, separada dos presos comuns.
Conversando com os detentos, padre Agostinho descobriu
comooesquadrão da morteagia.
Os presos comuns eram retiradosdascelasnasmadrugadaspara serem exterminados e terem
o corpo cheio de balas jogado em
alguma estrada. Para provar o
que falava, o religioso conseguiu
a lista oficial dos presos. Como
eles apareciam nas estradas com
suas identidades divulgadas nos
jornais, bastava checar a lista e
ver quem deveria estar nas celas.
“EucompravaoantigojornalNotícias Populares e lia o nome dos
mortos para saber se eram os
que estavam no Tiradentes.”
CABEÇA
Com o crescimento dos assaltos
e o medo da população, policiais
do esquadrão da morte passaram a matar sob a justificativa de
que tornavam a sociedade mais
segura e livre dos ladrões
Saponga, em vingança ao crime
contra o investigador Davi Parré, as execuções do esquadrão
passaram a se tornar corriqueiras e banais. Jornais da época
contabilizavam o total de mortos anunciados pelo esquadrão.
Havia uma certa tolerância com
essas ações, cujas investigações
eram inexistentes. Afinal, aqueles que deveriam investigar
eram os mesmos que matavam.
O jornalista Afanásio Jazadji,
que cobria o assunto no período,
lembraquando,certanoite,atendeuumtelefonemanasaladeimprensa da central de polícia que
existia no Pátio do Colégio e lhe
disseram que havia quatro corpos jogados em um matagal em
Guararema, na Via Dutra. Iniciante, ele foi apurar o crime em
busca de um furo sem falar para
os outros jornalistas, que continuaram jogando baralho. Para
evitar que concorrentes depois
chegassem ao local e reportassem a informação aos seus jornais, mudou os corpos de lugar
para despistar os outros colegas.
“Imagina. Naquele tempo isso
era possível. Foi quando deixei
de ser foca.”
A situação dos integrantes do
esquadrão mudou em 17 de julho
de 1970, depois da morte de outro investigador. O suspeito da
autoria da morte do policial
Agostinho Gonçalves de Carvalho era um jovem de 20 anos conhecido como Guri. No mesmo
dia da morte do investigador, oito corpos baleados foram levados ao Instituto Médico-Legal.
Opromotor Hélio Bicudo, que
passariaaatuarnocasodoesquadrão, descobriria, com a ajuda
posterior do padre Agostinho,
que quatro mortos tinham sido
retirados do Presídio Tiradentes.Nosdiasquese seguiram,para achar Guri, Fleury e seus homens foram acusados de torturar os pais do suspeito para que
EFEITOS
Em vez de coibirem os roubos,
os homicídios provocam a reação daqueles que se sentem vítimas dos assassinos. Vinganças e
disputas territoriais criam círculos viciosos de violência
SÉ
BUTANTÃ
VILA
MARIANA
MORUMBI
CIDADE
TIRADENTES
SAPOPEMBA
PARQUE
DO IBIRAPUERA
CAMPO
LIMPO
PARQUE
DO ESTADO
A EXPANSÃO DE SP
ÁREA URBANIZADA ATÉ 1949
PARQUE
ESTADUAL
GUARAPIRANGA
ÁREA URBANIZADA ATÉ 1962
ÁREA URBANIZADA ATÉ 2002
LIMITE DA ÁREA DE PROTEÇÃO
DOS MANACIAIS
GRAJAÚ
As mortes do esquadrão
MARSILAC
EM 21 MESES
123
2.351
mortos
12
tiros
13
12
10
9
8
9
6
6
4
3
2
NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI
1968
3
4
2
3
3
O esquadrão retirava as vítimas
dos presídios e, por isso, não se
vinculava aos territórios. Quando
a PM passa a matar, a partir dos
anos 1970, as mortes começam
a se concentrar nas periferias
9,9
5
2
JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR JUN JUL
1969
1970
INFOGRÁFICO/AE
eles o entregassem.
Guri acabou sendo encontradonamatafechadadeumafazenda no Parque do Carmo, na zona
leste. Os policiais chegaram
acompanhados de jornalistas
que descreveram a cena nos dias
seguintes nos jornais. Guri foi
morto com mais de 100 tiros em
seu corpo, que ficou desfigurado. O homicídio, anunciado aos
quatro ventos pelos policiais,
provocou a reação das instituições comoo Tribunal deJustiça.
Em agosto de 1970, o depoimento do padre Agostinho, de
sobreviventes e de presos do Tiradentes ajudaram o então promotor Hélio Bicudo, hoje procurador aposentado, e o juiz corregedor Nelson Fonseca a iniciarem o processo que levaria ao indiciamento de 35 pessoas. Só
seis foram condenadas. Apesar
da dificuldade em punir, os au-
tos trouxeram à luz informações
preciosas.
Vieram à tona, por exemplo,
daods de que traficantes de São
Paulo eram beneficiados por
mortes praticadas pelo grupo. A
promiscuidadedepoliciaisebandidos da boca do lixo motivou
várias mortes do esquadrão, que
protegiatraficantesamigosderivais,comorevelaram depoimentos do processo.
“A violência era tolerada porque aparentemente ocorria em
defesa da sociedade, mas na verdadeerausadaparaacobertaroutros tipos de crime”, lembra Bicudo, um dos principais responsáveis pelas investigações do período, hoje com 92 anos. “Os esquadrões da morte acabaram seguindo o caminho do crime. É o
que costuma ocorrer. Engana-se
quem acredita em um assassino”, diz.
1971
“TINHA DE MANTER A
ORDEM. NÃO ACEITAVA
DESOBEDIÊNCIA”
9,6
11,2
1979
13,1
1978
1974
8,4
1975
8,3
1976
8,7
129.278
ASSASSINATOS
Variação se acelera a partir de
meados de 1975 e a capital
registra em 1999 quase 1
homicídio por hora. Em 1960,
era menos de 1 por dia
No dia 17 de julho de 1970,
policiais do esquadrão encontram Guri, que seria morto
com mais de 100 tiros
1980
● Rua
1973
10,1
Polícia Militar Alberto Mendes
Júnior foi assassinado a coronhadas pelos guerrilheiros do grupo
de Carlos Lamarca depois de
cair em uma emboscada no Vale
do Ribeira. A informação só chegou ao Exército quatro meses
depois, quando um integrante da
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foi torturado e apontou
onde estava o corpo do oficial.
A “ameaça comunista” estava
no auge. Um dos responsáveis
pelo cerco mal sucedido a Lamarca era o coronel do Exército Erasmo Dias. Em companhia do delegado Sérgio Paranhos Fleury, ele
participou da caçada à VPR, um
dos grupos da guerrilha urbana.
Três anos depois, em 1974, Dias
assumiria a Secretaria da Segurança para combater o crime comum. Os bandidos seriam seus
novos inimigos e alvos. A tortura
e os assassinatos continuariam
sendo as ferramentas de trabalho de alguns policiais.
“Desde aqueles anos, as simulações de resistências seguidas
de morte se tornariam uma das
formas de disfarçar execuções”,
afirma Ivan Seixas, que hoje preside uma entidade de direitos
humanos. Em abril de 1971, aos
16 anos, Ivan foi preso com o
pai, o operário Joaquim Alencar
Seixas, do Movimento Revolucionário Tiradentes. Ambos foram
levados ao Destacamento de Operações e Informações – Centro
de Operações de Defesa Interna
(DOI-Codi), formado por integrantes do Exército e das Polícias Civil e Militar. O pai de Ivan foi morto no dia seguinte, durante sessões de tortura. Oficialmente,
policiais informaram que ele havia morrido em um tiroteio no dia
anterior.
A caçada aos bandidos comuns, iniciada pelo esquadrão
da morte no fim de 1968 e adaptada na luta contra a guerrilha, levaria tensão e medo para as periferias em formação ao longo da
década de 1970. Os novos agentes dos homicídios seriam grupos de policiais militares.
O enfrentamento era incentivado pelo secretário Erasmo Dias,
que premiava com medalhas e
elogios PMs envolvidos em tiroteio, como conta o coronel João
Pessoa Nascimento.
18,5
1972
1970
1970
5
CORONEL ERASMO DIAS
Secretário de Segurança
LOCAL
10
00
Como secretário da Segurança, coronel Erasmo Dias premiava policiais que se envolviam em confrontos
1977
9,0
10,0
Sob o discurso
da defesa da
sociedade, policiais da Rota
assumem o
posto de
“caçadores de
bandidos”
%HermesFileInfo:C-5:20121015:
O ESTADO DE S. PAULO
SEGUNDA-FEIRA, 15 DE OUTUBRO DE 2012
Cidades/Metrópole C5
● Acompanhe até quinta-feira
EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar
60
A CURVA
80
70
a série especial sobre seis décadas de homicídios em SP.
90
10
00
A violência migra para os territórios periféricos da
cidade nos anos 1980, década em que o crescimento
das taxas de homicídio alcançou 144%.
PAULO CERCIARI/AE
Justiceiros e
PMs fazem
parceria
para matar
Boinas pretas.
Truculência nas
periferias
Em 1987, Cabo Bruno tentou assassinar
sobrevivente de chacina feita por policiais
ENTRE 1975 E
1989, A EPIDEMIA
SE ACELERA:
PASSA, EM 1979, A
BARREIRA DOS
MIL CASOS. DEZ
ANOS DEPOIS,
ALCANÇA 3.850
MEDO DA MORTE E VINGANÇAS
PROVOCAM MAIS HOMICÍDIOS
Bruno Paes Manso
padre irlandês Jaime Crowe chegou
em fevereiro de
1987aoJardimÂngela, na zona sul da cidade, para comandar a Igreja Santos
Mártires, um dos pilares da pacificação
do bairro nos anos
2000. O prédio ainda estava em
construção quando, em dezembro, no ano de sua chegada, um
meninoveio chamá-loparaatender a um homem armado, com
bigodes negros e grossos.
Diante dele, estava o mais famoso justiceiro da zona sul: Florisvaldo de Oliveira, ex-policial
conhecido como Cabo Bruno,
quenãoseidentificouepediupara dormir na igreja. “Era Dia dos
O
DireitosHumanos,10dedezembro, eu nunca me esqueço. Eu
não sabia queera o Cabo Bruno.”
Em tese, Cabo Bruno deveria
estarno RomãoGomes, presídio
da Polícia Militar onde cumpria
pena por seus crimes. Mas, naquelamadrugada,ele buscavaPirulito,filhode dona Luzia,moradora do Jardim Ângela.
Três anos antes, Pirulito havia
sido o único sobrevivente de
uma chacina praticada por PMs
contraquatro jovens. Etestemunharia nos próximos dias. Para
que ficasse em silêncio, levou 15
tiros. Cabo Bruno fugiria oficialmente do Romão Gomes depois
do atentado, na noite de Natal.
“Essa é a história de Pirulito que
me revelou a parceria entre os
PMs e justiceiros”, diz o padre.
OsdetalhesdaparceriaforamparaotúmulodeFlorisvaldodeOliveira, morto há duas semanas.
Assassinatos praticados por
policiais para coibir roubos acaramincentivandoasescolhashomicidas dos justiceiros. Como
eram tolerados pelas autoridades, viraram opção popular. Os
justiceiros eram bancados por
comerciantes, assim como, na
décadaanterior,industriaispaulistas já haviam financiado ações
nos porões do regime militar.
A estimativa é de que os justiceiros tenham matado pelo menos mil pessoas na Grande São
Paulo.
Conforme os assassinatos
cresciam,apopulaçãodasperiferias começava a reagir aos corposno meio da rua e às pequenas
tragédias cotidianas. Em vez de
aumentarasensação desegurança,asaçõeshomicidasacabavam
armandoosespíritoseproduzindo novos assassinatos. Cada novo caso instigava a compra de revólveres, a formação de grupos
MORTOS PELA PM
1500
1200
900
229
600
300
0
1991
2012
rivais e círculos de vingança.
Comerciante em Diadema
nosanos1980,LaércioSoaresandava com duas armas na cintura
para se proteger nos campinhos
de várzea da cidade. Ele e outros
pequenos empresários também
pagavam advogados para defender os justiceiros locais.
Com raras exceções, os justiceiros eram migrantes rurais
apegados aos valores tradicionais das pequenas cidades onde
nasceram.Chegavamacreditando nas oportunidadesoferecidasporSãoPau- 1989
1990
44,1
41,7
INFOGRÁFICO/AE
1987
40,1
1984
37,9
lo.Matavamaquelesqueviamcomo “bandidos”, integrantes da
geração de jovens urbanos, descendentes de migrantes, que negavam os valores dos pais e buscavam uma identidade própria.
Jovens de uma geração que acabou sendo dizimada na São Paulo dos anos 1980 e 1990.
● Em todos os cantos de SP
1985
36,9
1986
1988
36,5
36,2
Da esquerda para direita: João
Balaio, Jonas Félix, Diógenes e
Índio, justiceiros que durante a
década de 1980 atuaram nas diferentes regiões da Grande São
Paulo. Omissão ou parceria com
policiais acabou incentivando a
carreira dos matadores.
1983
30,5
Depois da PM,
mortes migram
para a periferia
CURVA DE HOMICÍDIOS
Justiceiros imitam policiais e 1981
matam suspeitos para tentar
manter a ordem no bairro
21,7
1982
20,4
1980
18,5
A recente eleição para vereador
dedoisoficiaisdareservadaRondas Ostensivas Tobias de Aguiar
(Rota) mostra como, até hoje, o
discurso truculento de combate
ao crime tem apelo popular.
Quando na ativa, o coronel Paulo Telhada se envolveu em 36 resistências seguidas de morte e o
capitão Conte Lopes, em 41.
O excesso de violência virou
umadascaracterísticasdacorporação, postura que acabou se estendendo a outros batalhões. Se
durante o período do esquadrão
da morte as vítimas eram tiradas
de presídios, quando os homicídiosse tornaramferramentas do
policiamentoostensivoosassassinatosmigraram paraos territórios das periferias de metrópole.
Matar se transformou em instrumento de trabalho de parte
dosPMsque tentavam controlar
ocrimede norte asulde São Paulo. Nos anos 1980, em Guaianases, na zona leste, um tenente
que pediu para ser identificado
apenas como Pereira passou a
matar quando percebeu que os
suspeitoseramrapidamentesoltos nos distritos policiais. Na zona sul, depois de 11 anos agindo
deforma violentaao longodadécada de 1980, com inúmeros casos de resistência seguida de
morte,o sargentoDavidMonteiro conta que se enxergava como
umpolicialmodelo. Sópercebeu
queestavaagindo de formaequivocada quando o comando o
afastou da rua para trabalhos burocráticos.“Nessemomentoaficha caiu”, recorda. Ele já havia
recusado o convite de um justiceiro para matarem juntos.
Em 1960, quando os homicídiosemSãoPauloaindaeramendêmicos e as autoridades de segurança se dividiam entre Força
Pública, Guarda Civil e Polícia
Civil,oficialmente foi registrado
apenas um óbito cometido pelas
forças policiaisno Estado. Cinco
anos depois, em 1965, foram
duas mortes.
A situação começou a mudar
em 1970, no regime militar. A
PM foi criada e passou a ser comandada por oficiais do Exército. Nesse ano, as mortes subiram para 28, pulando para 59 em
1975, no auge da repressão.
A execução de suspeitos não
parou de crescer, revelando o
despreparo dos policiais. Só na
décadade1980,foram4.093mortes. Longe de diminuir o crime, a
truculência aumentou a desordem na cidade e acendeu o sinal
de alerta. Em vez de aplauso, o
excesso pediria ajustes.
estadão.com.br
TV Estadão. Confira análise
sobre homicídios
www.estadao.com.br/
JUSTIFICATIVA
ANOS 60
O ASSASSINO
A ação territorial dos justiceiros e dos policiais militares
provocam disputas localizadas e concentradas na periferia
CABEÇA
LOCAL
Contando com a omissão e o incentivo da polícia, justiceiros passaram a matar suspeitos nos
anos 1980 acreditando agir em
defesa dos trabalhadores do bairro e bancados por comerciantes.
Os homicídios passaram a se
concentrar nas periferias de norte a sul de São Paulo. Nos anos
que viriam, os mesmos bairros
das periferias vão liderar os rankings de assassinatos.
Boa parte dos justiceiros costumava afirmar que tinham começado a matar depois que familiares foram ameaçados ou violentados por bandidos locais.
409
HOMICÍDIOS
foram praticados por ano
durante a década de 1980 em
supostos casos de resistência
seguida de morte envolvendo
policiais militares.
Nos anos 1980, a vida do justiceiro Clidenor Ancelmo Brilhante, que atuou em São Bernardo, acabou virando filme.
Corpos amanhecidos no chão
viraram rotina nas periferias.
Cabo Bruno (à esquerda) agiu
em parceria com PMs
L. GEVAERD/AE
ABISMO
Bairros em área nobre da zona
sul, como o Jardim Paulista, tinham taxa de homicídio europeia
(3 por 100 mil), enquanto mortes
no Jardim Ângela ultrapassavam
100 casos por 100 mil.
C6 Cidades/Metrópole
%HermesFileInfo:C-6:20121016:
O ESTADO DE S. PAULO
TERÇA-FEIRA, 16 DE OUTUBRO DE 2012
EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar
60
A CURVA
70
80
● Acompanhe até quinta-feira
a série especial sobre seis
décadas de homicídios em SP.
90
10
00
Nunca São Paulo registrou tantos homicídios quanto
os 6.653 casos de 1999. O total é 30 vezes maior do
que os 217 ocorridos nos anos 1960.
No auge do caos, 1 morte levava a 150
Jovens moradores de bairros violentos iniciavam conflitos incessantes contra vizinhos e disseminavam os assassinatos pelas periferias
semelhante à guerra do Iraque.
tério Público, entre 1993 e 1998 é pai de duas meninas. O jovem
Corpos nas ruas, rodinhas em as rivalidades entre grupos no matador que ele foi nos anos
torno dos defuntos, enterros de Jardim Ângela provocaram 156 1990 cresceu em um contexto
violento e foi resultado das
amigose parentes, conversas so- mortes, sobretudo de jovens.
escolhas erradas que tobretiroteiosecrimes faziamparte da rotina e popularizaram as Mudança. A trajetória de Ale- mou. “Eu, de verdade,
escolhas homicidas. No leque de xandre no crime terminou quan- sou essa pessoa que voalternativas dos moradores dos do ele foi preso, em 1998. Repen- cê conhece hoje. Em
bairros violentos, o homicídio sou a vida e hoje está em liberda- paz”, resume.
tornou-se aomesmo tempo uma de provisória. Virou evangélico
1998
ameaça real e uma opção de rea- há quase uma década. Aos 38
58,3
ção. Foi nos anos 1990 que a en- anos, trabalha com decoração e
grenagem de homicídios se azeitou e passou a girar com mais
1996
força. As mortes dos anos 1995
55,2
1980 chegaram como uma bo- 54,8
la de neve.
Em 1990, aos 15 anos, AlexandreRodriguesdaSilvainiciou sua trajetória no crime
1997
no Jardim Ângela, na zona
54,0
sul. Ele e os amigos tinham rivais em bairros
vizinhos. A maior das
rivalidades começou
em 1995, contra os
Ninjas, moradores
do Jardim Tupi.
Segundo apurações da políciaedoMinis-
preservar a integridade do grupo
de amigos e a hegemonia nos vários tipos de negócios criminais
em uma pequena área do Grajaú,
na zona sul.
Depoisdecincoanosdeconflitoscomjovensrivais, elecalculava que já tinha matado mais de
50 pessoas. Narrou pelo menos
três chacinas. A primeira morte
que praticou foi por vingança de
um colega no campinho de futebol. Vários conflitos se sucederam. “Os problemas vão brotando e parece que não acabam
DE NORTE A SUL, RIXAS CRIAM A
mais”, explicou.
GERAÇÃO DE JOVENS MORTOS
Em 2006, César e João Carlos
foram queimados dentro do carBruno Paes Manso
rocom outras três pessoas. A polícia apurou que os autores eram
os 21 anos, César de integrantesdoPrimeiroComanSantana Souza sabia do da Capital (PCC) que passaque seu tempo estava ram a vender drogas no bairro.
se esgotando. Em Idelvan morreu no mesmo ano,
1999, como ele pró- assassinado na frente do filho de
prio dizia, estava fa- 6 anos.
zendo “hora extra na
As periferias da São Paulo dos
terra”. Juntamente anos 1990 são o resultado das
comos“aliados”JoséIdelmortes praticadas por polivan dos Santos e João Car- 1991
ciais e justiceiros nas décalos Queiroz, ele tentava 45,5
das anteriores. Em 1999, os
assassinatos na cidade alcançariam seu ponto mais
alto na curva, com 65 mor1990
tes por 100 mil habitantes,
EFEITO DOMINÓ:
QUANTO MAIS
HOMICÍDIOS EM
UM TERRITÓRIO,
MAIOR A
CHANCE DE
NOVAS MORTES
OCORREREM
A
1994
45,5
44,1
1993
40,7
ANOS 90
40,4
O ASSASSINO
Nos anos 1990, nos territórios violentos, o excesso de armas e
de riscos induzem a escolha homicida até em conflitos banais
PAULO LIEBERT /AE 7/11/2002
273
Facção. Em
1993, Geleião
cria o PCC com
outros presos
CHACINAS
ocorreram entre 1998 e 2000.
Casos em que morrem três pessoas ou mais no mesmo evento,
elas começaram a crescer depois de meados dos anos 1990.
CABEÇA
LOCAL
REFÚGIO
O alto grau de risco, o medo excessivo e a grande quantidade de
armas em circulação transformaram qualquer conflito em risco
de vida para os jovens que se sentiam ameaçados.
Os homicídios se concentram
nos bairros das periferias. No
ano 2000, a taxa em Parelheiros
(106 por 100 mil habitantes) é 28
vezes maior do que no Jardim
Paulista (3,6 casos por 100 mil).
O resultado da matança de jovens viciados em crack é a cracolândia no centro, que se torna um
refúgio dos jovens que querem
fugir das chacinas das periferias
da cidade.
A mística em torno das facções
no Rio de Janeiro começou em
1981,quandoZéBigode,cofundadordoComandoVermelho,refugiou-se no Conjunto dos Bancários, na Ilha do Governador, trocando tiros com 400 policiais
por 10 horas até ser morto.
Com um bom fornecedor de
cocaína, entre 1983 e 1986 o Comando dominou as bocas de fumo tradicionais, tocadas por pequenos traficantes de maconha.
Em1985,jádetinha70%dospontos de venda em um grande e lucrativo mercado.
Em São Paulo, desde os anos
1970, quando as taxas de crime
começaram a crescer, pequenas
células isoladas de criminosos
se equilibravam parcamente,
correndo o risco de serem caçadasporjusticeiros,policiaisecriminoso rivais.
O roubo sempre foi o negócio
principal. O tráfico de drogas só
se fortaleceria em São Paulo depois dos anos 1990, com a chega-
da do crack.
Entre 1981 e 1996, o roubo em
São Paulo cresceu em média 9%
ao ano. Enquanto no Rio os criminosos se vinculavam a facções que dominavam territórios
nos morros, em São Paulo os integrantes do mundo do crime se
relacionavam de igual para igual,
como indivíduos, pisando em
ovos e disputando poder em territórios conflagrados, onde viviam sob risco de matar ou morrer a qualquer momento.
Nessa estrutura criminal sem
hierarquia, horizontal, sobravamoportunidadesemotivospara vinganças e assassinatos banais. “Ninguém é melhor do que
ninguém” sempre foi uma frase
repetida nesse cenário igualitário e instável das redes criminais
paulistas.Na prática,jovens desconfiavam de outros jovens, vistos como homicidas em potencial, e matavam motivados às vezes por conflitos banais.
Origem. É nesse contexto de
mata-mataedesordemqueoPrimeiro Comando da Capital começou a se formar nas prisões
em 1993. E a se fortalecer, com
discurso que propunha fim das
mortes de integrantes do crime
e incentivo a negócios ilegais.
FREDERIC JEAN/EDITORA ABRIL
Matadores do Grajaú.
Em conflitos com jovens
rivais, disputas eram
travadas na periferia
A chegada do crack nas bocas
das periferias aumenta a quantidade de pontos de venda e
de conflitos.
Em 1992, 111 são mortos por
PMs na Casa de Detenção do
Carandiru. Episódio vai mudar
a política carcerária em SP.
HEITOR HUI/AE 4/10/1992
65,3
2000
59,4
estadão.com.br
TV Estadão. Confira análises
sobre homicídios
www.estadao.com.br
PCC surge do mata-mata em SP
e tenta criar hegemonia no crime
Enquanto o crime no Rio
era tocado por facções
desde 1980, só no fim dos
1990 uma organização
marcou presença em SP
1992
1999
Chacina e crack
revelam ápice da
desordem nos 1990
● No começo dos 1990, o crack
– droga feita a partir da pasta de
cocaína com bicarbonato de sódio e vendida em pequenas pedras que tornavam a dose barata
– aumentou o giro das bocas e a
quantidade das biqueiras nas
periferias de São Paulo. Viciados
em crack, chamados de noias,
mergulharam de cabeça no consumo, fazendo de tudo por novas
doses. Eles se tornaram um dos
alvos preferenciais dos matadores. “Noia se mata com pedrada,
não precisa nem gastar balas de
tão tranqueira”, dizia César Souza em 1999, matador do Grajaú.
As chacinas – casos em que
três ou mais vítimas são assassinadas – alcançaram 95 casos
anuais em 2000. E eram o retrato da desordem generalizada. Na
maior ocorrência do Estado, em
1998, 12 pessoas foram mortas
em Francisco Morato. Os autores, PMs que também faziam segurança, buscavam uma menina
que testemunharia contra eles
na Justiça. Mataram os outros
para evitar o risco de sobrarem
mais testemunhas.
“É aquela coisa. Está de madrugada, bebendo com quem
não presta, coisa boa não deve
ser”, explicava José Idelvan dos
Santos sobre as três chacinas
que praticou nos anos 1990.
Nesse contexto de extermínio,
as periferias passaram a expurgar os consumidores para o centro de São Paulo. A cracolândia
se tornaria uma zona neutra, um
refúgio onde se podia traficar sob
os olhos da polícia e consumir a
droga sem o risco de ser assassinado.
Nas periferias, com revólveres
e medo em excesso, conflitos
banais podiam provocar escolhas homicidas. O aluno de uma
escola em Diadema explicou o
assassinato praticado por um
amigo. Ele ia toda manhã levar a
irmã à aula e um jovem o encarava do lado de fora da escola. No
terceiro dia, atirou e matou o jovem sem questionar. “Está certo.
Desacreditou, tem de morrer.”
Episódio da Favela Naval, em
Diadema, em 1997, revela despreparo da PM e força comando a mudar a gestão da tropa.
AGLIBERTO LIMA/AE 1/12/1998
REPRODUÇÃO
%HermesFileInfo:C-5:20121017:
O ESTADO DE S. PAULO
QUARTA-FEIRA, 17 DE OUTUBRO DE 2012
Cidades/Metrópole C5
EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar
60
A CURVA
70
80
● Acompanhe até amanhã a
série especial sobre seis
décadas de homicídios em SP.
90
10
00
A surpreendente queda ininterrupta dos homicídios
salvou mais de 30 mil vidas entre 2000 e o ano
passado, quando as 6.653 mortes caíram para 1.403.
TIAGO QUEIROZ/AE
Após desordem e
dor, mortes caem
aceleradamente
2000
Homicídios se tornam estorvo para todos,
2001até para assassinos, e abrem espaço para a
intervenção do Estado no crime
57,8
59,4
2001
57,8
2002
50,9
INTERVENÇÃO
ANTIVIOLÊNCIA
DO ESTADO FOI
EFICAZ PORQUE
MORADORES DA
PERIFERIA
APRENDERAM
COM TRAGÉDIAS
O MESMO OCORREU EM OUTRAS
CAPITAIS BRASILEIRAS
Bruno Paes Manso
N
atalino Pereira dos Santos chegou a São Paulo,
vindo da pequena Jardim Alegre, no Paraná,
em1989.Veio para trabalhar em um frigorífico.
Separado da mulher, com ajuda
dasirmãs conseguiucriar osdois
filhos, Leandro e Edmar, dando
duro em diferentes empregos.
No ano passado, seu filho mais
novo, Leandro Damião, foi convocado para a seleção brasileira
de futebol, aos 22 anos.
A trajetória de Damião no esporte está associada à pacificação não só do Jardim Ângela, na
zona sul, como de toda a cidade,
onde homicídios despencaram a
partir de 2000. Leandro Damião
fez primeira comunhão e crisma
naParóquiaSantosMártires,ondeo padre Jaime Crowe passou a
liderar, em meados dos anos
1990, uma caminhada em defesa
da vida. A queda nas taxas de homicídio em mais de 80% permitiu que ele seguisse sua trajetória em paz.
Em 2006, Damião jogou no time de várzea do Família Tupi
City,antesdesedestacarnoAtlé-
tico de Ibirama,deSan2003
ta Catarina, e
47,7
chamar a atenção
doInternacional,quando em2010 marcou o gol
que deu ao clube o título
da Libertadores.
O presidente do Família
Tupi City é o motoboy Paulo
Enoc. Em outubro de 2001,
ele havia sido ameaçado de
morte por integrantes da Gangue dos Ninjas, um dos grupos
mais perigosos do bairro na época,protagonistaderixasqueprovocaram mais de 150 assassinatos no Jardim Ângela de 1990.
Para lidar com a situação,
Enoc comprou uma arma e foi
conversar com Luizinho, um
dos líderes da gangue. Chegou a
um pagode, assustou-se e atirou,
matando Luizinho e outra pessoa.Sumiuporumtempo,foiajudado pelos patrões e acabou inocentado na Justiça por atirar em
legítima defesa.
Enoc montou o Família Tupi
City para tentar ajudar as crianças do bairro. Entidades do Jardim Copacabana, como o Cio da
Terra, ajudaram a levar Damião
ao time de várzea do bairro vizinho, visto como violento. “Montamos a escolinha de futebol, organizamos festas, distribuímos
leite e tentamos ajudar as crianças daqui. A pacificação a partir
doano 2000 foifundamental para isso”, diz Enoc.
PCC. A queda acelerada dos as-
sassinatos a partir da virada do
século ocorreu com o aumento
da venda de drogas e da influência do Primeiro Comando da Capital (PCC) na região. Mas a tensão permanece na cidade, que
ainda sofre ameaça de retomada
da epidemia. Mesmo que ocorra
pela ação de outro tipo de vírus.
Jardim Ângela. Enoc com crianças do bairro: dono do time em que Leandro Damião jogou
Todos perderam com
homicídios e ação do
Estado surtiu efeito
2004
37,3
2005
24,3
No auge dos homicídios, em
1999, José Idelvan, matador do
Grajaú, autor de dezenas de assassinatos e de pelo menos três
chacinas, explicava que pararia
de matar se pudesse. “Mas não
tem como. Se eu parar, aqueles
que querem me pegar teriam vida fácil e eu morreria rapidinho”, disse. Idelvan morreu em
2006,assassinadodepoisqueoutroscincocolegasforam queimados dentro de um carro.
Aquedadosassassinatosocorreu porque, depois que os homicídios se disseminaram e se popularizaram, todos se prejudicaram, incluindo os assassinos,
que passaram a ser jurados de
morte. Nos anos 1970 e 1980, os
assassinos ainda tinham a ilusão
de que seus crimes podiam exercer algum controle no território.
Vinte cinco anos de
2006
mortes ensinaram
23,5 que não era bem assim:adesordemtende só a aumentar.
Os homicídios e
os assassinos, no en2007
17,7
2008
14,8
tanto, não mudaram sozinhos.
Dependeramdeumaforçaexterna, capaz de induzir potenciais
homicidas a optar por soluções
alternativas. Só o Estado tinha a
capilaridade e a capacidade de
agir com abrangência suficiente
para reverter as taxas de homicídios em quase todas as cidades
paulistas a partir de 2000.
As políticas mais importantes
começaram a ser executadas nos
anos 1990, provocadas por acontecimentostrágicos. Depoisdessasações,omundodocrimenunca mais seria o mesmo.
O massacre do Carandiru,
quando 111 presos morreram em
1992, foi um desses episódios
transformadores.
Cinco meses depois, foi criada
a Secretaria da Administração
Penitenciária, que ganhou autonomiaem relação à Secretariada
Segurança e ampliou as vagas no
sistema.Entre1988ehoje,ocrescimento de presos por 100 mil
habitantes foi de 770%. Passou
de 51 por 100 mil habitantes no
Estado para 418 por 100 mil nos
dias de hoje.
Paralelamente, o sucesso das
medidas implantadas em Nova
York, que pela primeira vez conseguiu reduzir homicídios em
curtoprazo,incentivouamudança no patrulhamento dos policiais militares, que passaram a
agir nos lugares com taxas maiores de homicídio. Um dos focos
era retirar armas frias das ruas,
aproveitando o rigor de novas
leis contra o porte.
Organização. No mundo do crime, o impacto dessas políticas
públicas levou a mudanças radicais no comportamento de seus
integrantes. Como o homicídio
prejudicava os criminosos – que
estãointeressados em ganhardinheiro roubando e traficando –,
as medidas induziram a escolhas
diferentes.
OPrimeiroComandoda Capital foi também uma das consequências das políticas públicas.
Com o aumento de presos e a organização da facção, os debates
nas “quebradas” também acabou ajudando a controlar os assassinatos a partir de 2006.
O círculo virtuoso entrou em
ação. Assim como no período de
ascensão, no qual um homicídio
podia produzir outros homicídios, um assassinato a menos
também provocava redução em
escala.
estadão.com.br
TV Estadão. Confira análises
sobre homicídios
www.estadao.com.br
2009
15,3
2010
14,5
2012
13,3
2011
12,5
ANOS 2000
Damião. Do
Jardim Ângela
para a seleção
brasileira
O ASSASSINO
Índice de
homícidios
por 100 mil
habitantes
Quando todos podem matar, o homicida deixa
de ter poder e fica sujeito a ser assassinado.
Ganham força, assim, soluções alternativas
CABEÇA
LOCAL
EFEITOS
O PCC de Marcola (acima) não
foi causa da queda dos homicídios, mas resultado de políticas
antiviolência. A facção ganhou
força por conseguir, dentro e fora
das prisões, mediar mortes.
Apesar de os homicídios terem
caído em bairros da periferia,
eles continuam liderando os rankings de assassinato. O total de
casos, contudo, cai acentuadamente ao longo da década.
O Cemitério São Luís, na zona
sul, que ficou conhecido como
o “cemitério dos jovens” por
enterrar muitas vítimas de homicídio, passou a ter áreas
vagas e arborizadas.
As caminhadas contra a violência até o Cemitério São
Luís, na região do Jardim Ângela, continuam até hoje.
1.403
HOMICÍDIOS
ocorreram na capital em 2011.
Esse número é inferior ao total
de 1980, quando 1.470 pessoas
foram assassinadas em São
Paulo.
Os ataques praticados pelo
PCC em 2006 evidenciaram
ao público a força da facção,
principalmente nas prisões.
VIVI ZANATTA/AE 21/11/2005
NIGEL RODDIS/REUTERS
EVELSON DE FREITAS / AE 7/8/2006
C10 Cidades/Metrópole
%HermesFileInfo:C-10:20121018:
O ESTADO DE S. PAULO
QUINTA-FEIRA, 18 DE OUTUBRO DE 2012
EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar
Homicídio
retoma alta
com embate
‘PM x PCC’
Antes em queda, índice volta a crescer após
atentados a policiais e mortes de suspeitos
ENTENDER A
NATUREZA DOS
CONFLITOS É
IMPORTANTE
PARA DEFINIR SE
ESSA EXPANSÃO
É CONJUNTURAL
OU ESTRUTURAL
ASSASSINATO COMO CONTROLE
INTENSIFICA A VIOLÊNCIA
Bruno Paes Manso
primeiro trabalho do
soldado Paulo Cesar
LopesCarvalhonaPolícia Militar foi na base comunitária do Jardim Ângela, na zona
sul, em 1998. Carvalhotinha26anos enos
anos seguintes faria parte de um
dos projetos mais premiados da
corporação paulista.
Antes de começar a funcionar,
a base comunitária organizou
discussões na Paróquia Santos
Mártires, do padre Jaime Crowe,
onde os PMs conheceram mais
de 200 lideranças da zona sul no
FórumemDefesa daVida.O grupo se juntou para reverter o quadro do bairro que, em 1995, havia
sido considerado o mais violento do mundo, com 108 homicídios por 100 mil habitantes.
Uma das ideias surgidas foi a
criação da Caminhada em Defesa da Vida, feita no Dia de Finados,atéo CemitérioSãoLuís,conhecido como o “cemitério dos
jovens” pelo número de vítimas
de homicídios. Os PMs da base
estavam sempre presentes.
O
Carvalho fazia cooper uniformizado pelas ruas do bairro para
interagir com a população. Na
Páscoa, ele e outros policiais distribuíam ovos para as crianças,
concorrendo com o crime que
usava a mesma estratégia. PMs
tambémabriramabaseparaintegrantes do hip-hop organizarem
cursos e oficinas.
Em 21 de junho, aos 40 anos de
idade, Carvalho foi assassinado
enquanto fazia compras. O policial estava de folga. Antes de matá-lo,umjovemmexeunospacotes do supermercado para desviarsuaatenção.Outrostrêschegaram atirando.
Nos dias seguintes, oito pessoas foram mortas nos arredores, em crimes com características parecidas. Na morte do copeiro Eleandro Cavalcante de
Abreu, testemunhas disseram
que homens com toucas ninjas
em carro e moto mataram com
pistolas silenciosas e de calibre
12 de cano serrado.
Retomada. Assim como ocor-
reu em 2009, neste ano as disputas sangrentas envolvendo mortesdepoliciaisedesuspeitosvoltaram a mudar a tendência da
curva de homicídios, que vinha
caindo aceleradamente. Em
2009, na Baixada Santista, o embate envolvendo matadores ninjas já havia causado leve aumento de homicídios no Estado.
Neste ano, a situação começou a degringolar em março.
Nosoitoprimeirosmeses, oshomicídios cresceram 15,4% na capital e 6,3% no Estado. Até ontem, 81 policiais haviam sido assassinados.Desses,segundoapuração da Polícia Civil, 39 homens
da ativa e 4 da reserva foram executados. Outros 27 foram mortos em ocorrências esclarecidas
como roubos. Grampos mostraramintegrantes do PrimeiroComando da Capital (PCC) dando
ordens para matar PMs – as chamadas “xeque-mate”.
Sequências suspeitas de mortes ocorreram logo após assassinato de policiais. Em Osasco, oito morreram dois dias depois do
atentado a um soldado que sobreviveu.Duassemanasmaistarde, seis pessoas foram executadas em Guarulhos após um PM
das Rondas Ostensivas Tobias
de Aguiar (Rota) levar um tiro.
Moradores disseram que os
PMs da Rota passaram na região
ordenando toque de recolher.
Parte dos assassinatos ocorreu a
200metrosdoatentado.Atéagora, os casos não foram esclarecidos.Nasemanapassada,20mortesocorreramnaBaixada Santista e na região de Taboão da Serra
depois de atentados a PMs.
Ainda é cedo para afirmar sobre o futuro, se a tendência é para valer ou apenas um espasmo,
como explica o economista João
Manoel Pinho de Mello (PUCRJ), que estuda a curva de homicídios em São Paulo. “Isso pode
ser conjuntural – uma onda de
conflitos fora do nível de equilíbrio – ou estrutural – quando,
por alguma razão, aumenta o número e a letalidade dos conflitos”, afirma. “Será importante
estudara natureza desses conflitosparaevitarquealgoconjuntural se torne estrutural.”
Conclusões. É importante, con-
tudo,prestar atençãoaos ensinamentosqueos52anosdeassassinatos oferecem. Para os especialistas, o principal deles é que os
homicídios não podem ser mais
aceitoscomo resposta deautoridades de segurança pública.
A grande quantidade de resistências seguidas de morte revelam – segundo eles – despreparo
da Polícia Militar e incapacidade
de prender criminosos com estratégias e métodos inteligentes. Dão brecha também para
que agentes de segurança acabem se tornando assassinos e integrantes de grupos de extermínio e outras quadrilhas.
Como esta série de reportagens mostrou de domingo a hoje, homicídios provocam novos
homicídios.Emvez defuncionaremcomoferramentade controle, eles aumentam a desordem e
fazem o vírus da epidemia se espalhar rapidamente.
VIOLÊNCIA
G Todos
G Todos
os homicídios registrados na capital paulista em cada um dos anos
os homicídios registrados na capital paulista em cada um dos anos
2000
46º DP
● Mapa
46º DP
vermelho
38º DP
45º DP
87º DP
33º DP
91º DP
7º DP
14º DP
62º DP
39º DP
40º DP
13º DP
9º DP
19º DP
13º DP
2º DP
9º DP
19º DP
90º DP
10º DP
90º DP
52º DP
10º DP
33º DP
7º DP
73º DP
39º DP
40º DP
28º DP
91º DP
73º DP
20º DP
38º DP
45º DP
28º DP
87º DP
77º DP
12º DP
24º DP
22º DP
62º DP
24º DP
64º DP
59º DP
22º DP
63º DP
59º DP50º DP
67º DP
63º DP
32º DP
50º DP
67º DP
68º DP
81º DP
64º DP
21º DP
32º
DPDP 68º DP
12º DP
103º
52º30º
DPDP
65º DP
8º DP 81º DP
31º DP 21º DP
1º DP
93º DP
3º DP
44º DP
57º DP
23º DP
103º DP
65º
DP
30º DP
66º DP
4º DP
5º DP 1º DP 8º DP
31º
DP
58º
DP
14º DP
93º DP
44º DP
18º57º
DPDP
78º DP
29º DP
66º DP
53º DP
51º DP
5º DP 6º DP
58º DP
15º DP
18º DP
54º DP
41º DP
78º DP36º DP
56º DP29º DP
42º DP
53º DP
51º DP
6º DP 17º DP
34º DP
15º DP
54º DP
41º DP
36º DP
56º DP
42º DP 70º DP
96º DP
16º DP
34º DP
17º DP
49º DP
69º DP
95º DP
70º DP
96º DP
16º DP
49º DP
69º DP
89º DP
95º DP
26º DP
27º DP
55º DP
89º DP
26º DP
27º DP
37º DP
55º DP
11º DP
35º DP
83º DP
75º DP
75º DP
de perigo
Sozinhos,
quatro DPs
da zona sul
(92º, 47º, 37º
e 100º) registraram 789
homicídios,
ou 14,9%
do total da
cidade.
20º DP
72º DP
74º DP
Cidade tinha
homicídios
espalhados
por todos os
distritos, com
bolsões de
violência nas
zonas sul,
norte, leste
e central.
● Zona
72º DP
74º DP
37º DP
11º DP
92º DP
102º DP
47º DP
43º DP
99º DP 80º DP
83º DP
Os 10 mais violentos de 2000
97º DP
92º DP
47º DP
100º DP
98º DP
101º DP
54º DP
85º DP
25º DP
37º DP
74º DP
80º DP
102º DP
98º DP
48º DP
100º DP
98º DP
48º DP
101º DP
100º DP
2º DP
3º DP
77º DP
4º DP
43º DP 35º DP
97º DP
99º DP
92º DP
47º DP
23º DP
101º DP
85º DP
85º DP
25º DP
25º DP
Parque Santo Antonio
Capão Redondo
Jardim Herculano
Jardim Miriam
Jardim das Imbuias
Cidade Tiradentes
Jardim Mirna
Parelheiros
Campo Limpo
Parada de Taipas
235
212
209
197
195
157
156
139
133
124
2007
● Alívio
Com diminuição geral do
índice de homicídios, alguns
bairros quase
conseguiram
se livrar totalmente dos crimes, mas ainda há bolsões.
46º DP
73º DP
39º DP
28º DP
62º DP
9º DP
13º DP
19º DP
24º DP
90º DP
2º DP
91º DP
7º DP
77º DP
23º DP
78º DP
15º DP
36º DP
96º DP
99º DP
47º DP
48º DP
101º DP
estadão.com.br
85º DP
25º DP
97º DP
80º DP
102º DP
64º DP
31º DP
98º DP
44º DP
53º DP
41º DP
42º DP
70º DP
69º DP
68º DP
103º DP
66º DP
58º DP
95º DP
83º DP
32º DP
65º DP
26º DP
35º DP
43º DP
29º DP
56º DP
50º DP
67º DP
21º DP
57º DP
6º DP
16º DP
11º DP
100º DP
8º DP
18º DP
27º DP
92º DP
TV Estadão. Assista ao
documentário ‘12 Tiros’
www.estadao.com.br
1º DP
52º DP
59º DP
63º DP
10º DP
30º DP
17º DP
89º DP
37º DP
81º DP
5º DP
34º DP
75º DP
12º DP
3º DP
4º DP
14º DP
51º DP
22º DP
40º DP
33º DP
● Zona
No bolsão
da zona sul,
o total de
mortes cai
para 180, mas
isso ainda representa 12%
dos homicídios
da capital
paulista.
20º DP
38º DP
45º DP
87º DP
93º DP
de perigo
72º DP
74º DP
54º DP
49º DP
55º DP
Os 10 mais violentos de 2007
101º DP
92º DP
37º DP
98º DP
47º DP
25º DP
73º DP
46º DP
74º DP
100º DP
Jardim das Imbuias
Par Santo Antonio
Campo Limpo
Jd Miriam
Capão Redondo
Parelheiros
Jaçanã
Perus
Parada de Taipas
Jd Herculano
57
49
47
47
46
46
40
40
39
38
INFOGRÁFICO/AE
FRASES | Leia a íntegra: www.estadao.com.br
JOÃO MANOEL
PINHO DE MELLO
SÉRGIO ADORNO
LEANDRO PIQUET
TULIO KAHN
SOCIÓLOGO DA USP
CIENTISTA POLÍTICO DA USP
CIENTISTA POLÍTICO
ECONOMISTA DA PUC-RIO
“A questão da segurança pública
não mais se restringe ao
aparelho repressivo. Outras
políticas, com apoio da
sociedade civil, devem alcançar
os cidadãos comuns nos bairros,
solidificar laços de cooperação e
contribuir para um redesenho
urbano com maior equidade.”
“As instituições do sistema de
Justiça criminal de São Paulo
conseguiram deter as
engrenagens que tornaram o
Estado um dos mais violentos do
País. O ciclo virtuoso da política
se inicia quando o crime, que
antes recompensava, deixou de
ser uma alternativa viável.”
“É possível apontar a
continuidade da queda nacional
das taxas de homicídio nos
próximos anos em razão de
fatores como a diminuição de
jovens na população, o
aumento do investimento em
segurança e a queda da
desigualdade no País.”
“Para atingir níveis mais baixos
de homicídios, seria preciso
melhorar a distribuição de
renda e aumentar um pouco as
penas nas idades entre
15 e 18 anos. A segunda
opção não me parece estar
disponível.”
ADÍLSON PAES DE
SOUZA
59,4
Antes do esquadrão da morte, o
assassino era o pária e louco que
assustava e provocava repulsa.
A epidemia começou quando policiais do esquadrão passaram a
matar alegando defender a sociedade. Com a ação da PM nos
anos 1970, a morte de suspeitos
se concentrou na periferia, mesmo lugar onde os justiceiros matavam nos anos 1980. A engrenagem da violência passou a funcionar, com círculos de vingança e
assassinatos. Todos perdiam. A
partir do ano 2000, com a sociedade saturada de tragédias,
abriu-se espaço para que as políticas públicas tivessem mais efeito. Os homicídios, então, caíram.
4,6
“(Muitos policiais) desconhecem
a realidade social em que vão
trabalhar, confundem autoridade
com truculência, exercício do
poder com superpoderes, com
os quais podem agir segundo
suas próprias regras, cujo
resultado é mais arbitrariedade.”
2000
A CURVA
1950
CORONEL DA RESERVA DA PM
1990
44,1
1980
18,5
1970
1960
5,7
9,9
2010
14,5
2012
13,3
Download

Cinco décadas de homicídios - Instituto Fernand Braudel de