Histórico dos Assassinatos em 2011 ACRE Ramal Cacirian – Sena Madureira: João Doido - 03/11/11 Assassinado com um tiro pelos pistoleiros Donizete e Arno Souza em matagal nas proximidades da área em que morava. Testemunhas o viram ser levado amarrado até o local da execução. Os pistoleiros queimaram sua casa e seu corpo na tentativa de ocultar o crime. Donizete confessou o crime e afirmou ter sido contratado por Arno Souza para evitar que posseiros ocupassem a propriedade do sr. Dauro. As 150 famílias que moram na região denunciam que vivem sob ameaça de um fazendeiro que se diz proprietário das terras. AMAZONAS Lábrea / Gleba Curuquetê – Ramal do Jequitibá: Adelino Ramos – conhecido como Dinho - 57 anos – Assentado – Liderança - 27/05/11 Assassinado a tiros por um motoqueiro enquanto vendia verduras, em Vista Alegre do Abunã, RO, divisa com o Amazonas. Dinho era sobrevivente do massacre de Corumbiara (1995) e vivia no assentamento Curuquetê, onde produzia o que vendia. Sua esposa, que presenciou o crime, foi ameaçada de morte. Adelino já havia denunciado à Ouvidoria Agrária do Ministério do Desenvolvimento Agrário e à Polícia Federal, as ameaças que sofria de fazendeiros e toreros (pessoas que roubam toras de madeira na Amazônia). Ozias Vicente Machado, que teria ligações com donos de empresas extrativistas de Rondônia e Amazonas, foi preso, suspeito de ser o responsável pelo assassinato. BAHIA Monte Santo/Comunidade Serra do Bode: Antônio de Jesus Souza – Liderança - 06/01/11 Liderança do movimento pela regularização fundiária das áreas de fundo de pasto da região, Antônio do Plínio, como era conhecido, foi assassinado a tiros e degolado. A execução seria uma forma de intimidar os trabalhadores rurais que resistem às tentativas de grilagem das áreas de fundo de pasto da região. Caravelas/Quilombo de Volta Miúda: Diogo de Oliveira Flozina – 27 anos – Quilombola 24/06/11 Foi assassinado no Quilombo de Volta Miúda, segundo moradores da comunidade, por três policiais à paisana da Companhia de Ações Especiais da Mata Atlântica (Caema). A comunidade declara que sofre ameaças de policiais e empresas produtoras de eucalipto, que têm interesse na área. Policiais invadiram a casa de Diogo e um rapaz de 15 anos foi espancado ao tentar se aproximar. Diogo incomodava empresas de eucalipto por produzir carvão para a subsistência de sua família. O corpo foi levado em uma viatura ao município vizinho de Nova Viçosa, onde há denúncias de tráfico de drogas. No boletim de ocorrência fizeram constar que o rapaz era traficante e que morreu após troca de tiros com policiais em uma “boca de fumo”. Euclides da Cunha – Fazenda Jibóia: Leonardo de Jesus Leite – 37 anos – Liderança 06/09/11 Assassinado por pistoleiros a mando de fazendeiros da região. Leonardo foi arrastado do interior de sua casa, na presença de esposa e filhos, e executado no quintal com um tiro na cabeça. Leonardo era uma liderança regional do movimento CETA e fazia parte de um grupo de trabalhadores rurais sem-terra, que há mais de 10 anos lutam pela desapropriação de fazendas pertencentes ao ex-prefeito de Euclides da Cunha, José Renato. Leonardo denunciou na Delegacia de Polícia Civil que vinha sofrendo ameaças e pediu proteção policial, mas nenhuma providência foi tomada. MARANHÃO Buriticupu – P.A Rosa Saraiva: Cícero Felipe da Silva – Liderança - 06/02/11 Era presidente da Associação de Nossa Senhora de Fátima dos Pequenos Produtores Rurais do Projeto de Assentamento Rosa Saraiva. Foi assassinado com nove tiros nas margens da rodovia MA-006, zona rural entre os municípios de Buriticupu e Santa Luzia. Os mandantes do crime seriam Francisco Leal de Sousa, vice-presidente da Associação, e Francisco Edilazário Pereira Queiroz, este último um empresário do ramo de extração de madeira. Eles faziam parte de um grupo que queria destituir Cícero da presidência da entidade por não concordar com o desvio de recursos repassados pelo Incra para a reforma e construção de casas no assentamento. Após nova eleição na Associação, quando Francisco Leal de Sousa foi empossado como presidente e Francisco das Chagas Sousa Lima, também integrante do grupo criminoso, como primeiro-secretário, Cícero ajuizou na justiça uma ação pedindo a anulação do pleito. Nova Olinda do Maranhão – Terra Indígena Alto Turiacu: Tazirã Ka’apor – cerca de 20 anos – Indígena - 31/03/11 Atropelado por caminhão de um madeireiro conhecido como “Lander” nas proximidades da terra indígena Axiguirenda. Os indígenas denunciam que madeireiros retiram ilegalmente madeira da área, ameaçando a sobrevivência das famílias, que dependem da mata e da caça para se alimentarem. Além disso, sofrem constantes intimidações por parte dos assassinos de Tazirã e outros madeireiros. Buritirana – Terra Indígena Araribóia: Criança Indígena – Awá Guajá - Outubro/2011 Lideranças indígenas do povo Guajajara, da aldeia Zutiwa, encontraram em um acampamento abandonado pelos Awá-Guajá o corpo carbonizado de uma criança indígena. Os Awá-Guajá vivem isolados e só são vistos por indígenas de outros povos da região durante caçadas. O ataque teria acontecido entre setembro e outubro, e depois disto os Awá-Guajá não foram mais vistos. Os indígenas acreditam que o grupo isolado tenha se dispersado para outros pontos da terra indígena Araribóia temendo novos ataques. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), madeireiros atuam livremente dentro da terra indígena, retirando madeiras nobres. Serrano do Maranhão – Comunidade Quilombola Rosário: Valdenilson Borges – 24 anos – Quilombola - 02/10/11 Assassinado com duas facadas no peito por Edvaldo Silva, que ocupa uma porção de terra dentro do território quilombola de Rosário. Edvaldo não é quilombola e ameaça as famílias que lutam pela titulação de suas terras. Valdenilson já havia registrado vários boletins de ocorrência relatando as ameaças de Edvaldo. Serrano do Maranhão – Povoado Portinho: Delmir Silva – 57 anos – Quilombola 07/11/11 Encontrado morto com a cabeça e a perna direita quebradas, perna esquerda deslocada, mão e nariz mordidos, ferimentos que indicam que ele foi assassinado por mais de uma pessoa e que pode ter havido luta corporal antes da morte. Delmir residia no Povoado Portinho junto com sua irmã, Celina Silva, mas acredita-se que a motivação de seu assassinato seja a disputa pela terra que ocupava anteriormente na comunidade Veneza, dentro da fazenda Santo Antônio de Cruz, hoje em processo de reconhecimento como território quilombola. A área da comunidade Veneza é requerida pelo ex-policial Carlos Alberto, conhecido como Bebeto que, segundo moradores, começou a proibi-los de usufruírem dos recursos naturais e de continuarem fazendo suas roças. A irmã de Delmir deixou a comunidade Veneza porque Bebeto havia proibido seu marido, já falecido, de cuidar de sua roça. Arame – Fazenda Citema: Júlio Luna da Silva – 60 anos – Trabalhador Rural - 08/12/11 Encontrado morto com tiros nas costas e degolado, no povoado “Gavião”, assentamento “Fazenda Citema”. Segundo relatos, o sr. Júlio, que morava sozinho, não tinha desavenças com ninguém, mas já havia procurado a delegacia para denunciar intimidações por parte de Oliveira, dono da maior padaria da cidade de Arame, que grilou vários lotes dentro do Projeto de Assentamento. Este também teria cercado uma grande lagoa, impedindo o abastecimento de água e a irrigação de plantações dos vizinhos. A área foi desapropriada em 2009, com Mandado de Imissão de Posse expedido em 2010. Desde então as famílias aguardavam o cadastramento pelo Incra daqueles que seriam assentados. MATO GROSSO DO SUL Paranhos – Fazenda São Luiz – Triunfo – Comunidade Indígena Y’poí: Teodoro Ricardi – 25 anos (outras fontes informam 34 anos) – Indígena - 28/09/11 Indígena Guarani Kaiowá, assassinado enquanto atravessava a fazenda Cabeça de Boi para chegar em sua comunidade. A fazenda é uma das três áreas que incide sobre o território indígena reivindicado. Na companhia de outros dois indígenas, Teodoro teria sido abordado por um dos funcionários da fazenda, que lhe desferiu uma série de facadas no rosto e pescoço. Amambaí – Acampamento Tekoha Guaiviri: Nísio Gomes – 59 anos – Liderança Indígena - 01/11/11 Assassinado por um grupo de uns 40 pistoleiros que invadiram o acampamento e atiraram nele. Outros indígenas foram espancados e receberam tiros de bala de borracha. O corpo do cacique foi levado pelos assassinos dentre de uma camionete para local desconhecido e até o momento não foi encontrado. A Polícia Federal encontrou no local do crime sangue e sinais de que o corpo teria sido arrastado. Vários indígenas fugiram do acampamento assustados com o assassinato. As investigações da Polícia Federal apontaram que fazendeiros da região contrataram seguranças de uma empresa privada para retirar os índios do local. Pecuaristas, advogado, administradores da empresa de segurança e outras pessoas estariam sendo indiciados. O relatório da Polícia Federal acenou até com o indiciamento do filho de Nísio, porque, sob pressão dos interrogatórios, teria se contradito. PARÁ Juruti – Gleba Curumucuri – Mamuru – Arapiuns: Jurandir Soares Nunes – Assentado 12/01/11 O assentado foi morto com um tiro de espingarda ao sair para caçar na área que integra o Projeto de Assentamento Estadual Agroextrativista Curumucuri, parte do conjunto de glebas Mamuru-Arapiuns. O corpo foi localizado dias depois na área em que Celso Rech, suspeito de ser o mandante do crime, se diz proprietário. Itupiranga – Fazenda Potiguar – Bandeirantes – Acampamento Planta Brasil: Pedro Oliveira Torres – 41 anos – Liderança sindical - 29/01/11 Morto dentro de sua residência por dois pistoleiros em uma moto. No momento dos disparos, Pedro estava na porta de casa e tentou fugir para o interior da mesma, sendo perseguido por um dos assassinos, que disparou três tiros a queima roupa contra a vítima. Pedro era sindicalista ligado à Fetagri e vinha sendo ameaçado pelo coronel José Ricardo Sobrinho, que se diz proprietário da fazenda Bandeirantes. A área, pertencente à União, havia sido ocupada por 70 famílias sob a liderança de Pedro. O sindicalista já havia registrado vários boletins de ocorrência por causa das ameaças. Breu Branco – Fazenda de Marlene Nerys Pimentel e Darli Almeida de Melo: Francisco Alves Macedo – Liderança - 03/03/11 Liderança na ocupação de uma fazenda por famílias sem teto do município de Breu Branco. As donas da fazenda, Marlene Nerys Pimentel e Darli Almeida de Melo, teriam contratado pistoleiros para assassinar Francisco. Sua filha foi também baleada durante o atentado. Pacajá – Projeto de Assentamento Rio Bandeiras: Adão Ribeiro da Silva e Nildo Ferreira – Assentados - 30/04/11 (data aproximada) Assassinados por denunciarem plantadores de maconha em lotes do assentamento. As famílias que ainda residem na área sofrem constantes ameaças de pistoleiros a mando de madeireiros, grileiros e plantadores de maconha. Nova Ipixuna – Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta-Piranheira – Cupu – Passe bem – Mamona: José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva – Lideranças - 24/05/11 Assassinados a tiros por pistoleiros encapuzados em uma emboscada na estrada vicinal que leva ao Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta-Piranheira. José Cláudio teve uma de suas orelhas arrancadas pelos assassinos como prova da execução. Ele já há anos recebia ameaças e havia sofrido um atentado pouco tempo antes de sua morte, quando tiros foram disparados no quintal de sua casa. O casal era ameaçado de morte por madeireiros e carvoeiros da região, que invadem a área do Projeto de Assentamento em busca de madeiras nobres. Apesar de denunciarem as ameaças às autoridades competentes, o casal não recebeu proteção policial. Eles eram integrantes do Conselho Nacional de Populações Extrativistas, ONG fundada por Chico Mendes, lutavam pela preservação das florestas na Amazônia e produziam de forma sustentável. Nova Ipixuna – Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta-Piranheira – Cupu – Passe bem – Mamona: Herenilton Pereira dos Santos – 25 anos – Trabalhador Rural 26/05/11 Assassinado possivelmente por ter testemunhado a entrada no assentamento dos pistoleiros que assassinaram José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva. Seu corpo foi encontrado por um grupo de assentados em uma estrada vicinal. Pacajá – Acampamento Esperança: Obede Loyla Souza – 31 anos – Acampado - 09/06/11 Assassinado com um tiro de espingarda no ouvido. Embora não se saiba precisamente o motivo de sua morte, houve relatos de que Obede havia discutido com um representante dos interesses de madeireiros, por ser contrário à extração de madeira na região, que deixava intrafegáveis as estradas. Jacundá – Fazenda Califórnia: Valdemar Oliveira Barbosa – 54 anos – Liderança 25/08/11 Assassinado enquanto trafegava de bicicleta em uma rua de Marabá (PA). Valdemar, conhecido como Piauí, fazia parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá e coordenou por vários anos um grupo de famílias que ocupava a fazenda Estrela da Manhã. Como a área não foi desapropriada, Valdemar passou a liderar famílias para ocuparem a fazenda Califórnia, em Jacundá. As famílias foram despejadas pela polícia militar do Pará, mas Valdemar planejava ocupar novamente a área. Ele teria sido morto por pistoleiros contratados pelo proprietário da fazenda para impedir a nova ocupação da fazenda. Rondon do Pará – Fazenda Bela Vista – Santa Cruz – Acampamento Deus É Fiel: José Ribamar Teixeira dos Santos – 49 anos – Liderança - 07/10/11 Assassinado a pauladas e golpes de faca dentro de sua casa e teve sua orelha decepada. Foi um dos fundadores do acampamento e era liderança na área onde vivem 110 famílias sem terra. Eles reivindicam a desapropriação da fazenda onde está localizado o acampamento, área que já foi objeto de grilagem de jurisdição do Estado do Pará. Itaituba – Comunidade de Miritituba – Projeto de Assentamento Areia: João Chupel Primo – 55 anos - 22/10/2011 Assassinado com um tiro na cabeça enquanto trabalhava em sua oficina mecânica. João denunciava a grilagem de terras e a extração ilegal de madeira por um consórcio na região. Já havia registrado vários boletins de ocorrência na Polícia Federal devido às ameaças de morte que recebia. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realizou, com apoio da Polícia Federal, Guarda Nacional e Exército, uma operação para averiguar a grilagem de terras e a extração ilegal de madeira. Porém, a operação não teve continuidade por falta de segurança para os agentes ambientais. PERNAMBUCO Sertânia – Cachoeira do IPA: José Luiz da Silva – Acampado - 02/07/11 Assassinado dentro do acampamento da fazenda conhecida como Cachoeira do IPA, pertencente ao governo de Pernambuco e administrada pelo Instituto de Pesquisa Agropecuária (IPA). O crime teria sido cometido por pessoas que entram na área para extrair madeira de forma ilegal. José Luiz fiscalizava e denunciava a extração ilegal de madeira e a caça dentro da área após os acampados terem decidido em assembleia proibir estas atividades no local. Ele já havida sofrido ameaças, que foram registradas em boletim de ocorrência. Os acampados reivindicam há mais de 10 anos a regularização da área, que pertence ao governo estadual. O Incra já realizou o laudo técnico inicial, mas as negociações estão paralisadas há mais de três anos. RONDÔNIA Buritis / Rio Pardo – Acampamento Rio Alto – Linha 36 - 12/03/2011 Wdiley Alves Martins – 27 anos – Acampado / Suelen Cristina Rodrigues Ferreira – 22 anos - Acampada Assassinados por pistoleiros, suspeita-se que a mando de Kaleb, gerente de Dílson Caldato, fazendeiro e grileiro da região. Kaleb coordenaria um bando criminoso que recruta jovens para roubos, tráfico de armas e pistolagem. A culpa pelos crimes constantemente recai sobre trabalhadores sem-terra. Segundo informações, o casal morava no distrito de Rio Pardo há apenas dois meses e não possuía inimigos declarados.