A ARTE NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO E DO PROFESSOR: POSSIBILIDADES E REFLEXÕES Luciana Guimarães Pedro Universidade Federal de Uberlândia (UFU) [email protected] Camila Turati Pessoa Universidade Estadual de Maringá (UEM) [email protected] GT:2 Educação e Arte Resumo Partindo do pressuposto de que a formação profissional envolve aspectos que vão além dos conteúdos curriculares trabalhados nos espaços educacionais, o presente trabalho propõe uma discussão sobre a arte na formação profissional. Objetivamos refletir acerca das possibilidades de utilização da arte, em suas diversas manifestações, na formação do sujeito/profissional, especificamente do psicólogo e do professor. Escolhemos a arte, a partir do olhar da Psicologia Histórico-Cultural, por considerarmos que ela, em suas diferentes linguagens, instiga de forma diferenciada o desenvolvimento das funções psíquicas superiores e também amplia o repertório cultural dos sujeitos, além de trabalhar a expressividade, criatividade e outros aspectos imprescindíveis na atuação deste profissionais. Logo, refletimos sobre as possibilidades de utilização de diferentes recursos artísticos como ferramentas que propiciam a construção de aprendizados importantes à constituição profissional tanto do professor quanto do psicólogo. Sabemos que ambas as áreas citadas requerem a todo o momento partilhar e pensar conjuntamente saberes teórico-práticos na relação com outros sujeitos que possuem um repertório social próprio que influi diretamente na forma como apreendem e se relacionam com o mundo. Ao assumir a arte como componente essencial de nossa cultura que determina a constituição do sujeito, verificamos que ela pode ser utilizada como instrumento que possibilita a apropriação de aspectos que auxiliam a pensar e repensar os saberes próprios da atuação do professor e do psicólogo, ampliando o universo de referência destes profissionais que atuam diretamente com o humano, além de poder integrar-se às suas práticas profissionais, mediando novos conteúdos que incidem em diferentes aprendizagens. Palavras-chave: Arte. Psicologia Histórico-Cultural. Formação do Profissional. 1 Neste trabalho buscaremos compreender a arte como campo de conhecimento que oferece subsídios interessantes para pensarmos práticas, intervenções e refletirmos sobre contextos educacionais, principalmente no que se refere à formação profissional tanto do psicólogo quanto do professor. Consideramos aqui arte como uma grande área de conhecimento que se ocupa de diferentes linguagens, como a literatura, a música, a dança, as artes visuais etc., que fazem parte de um grande campo artístico (BIANCO et al., 1992). Apreendemos a abrangência destas produções para além de uma arte com juízo de valor que se restrinja a determinados grupos ou manifestações, pensando as expressividades artísticas como um todo. Utilizaremos, desta forma, esta grande área do saber para pensar sobre suas contribuições na formação do ser humano e, em especial, em atuações que envolvem a relação direta com o outro, como é o caso do psicólogo e do professor. Entendemos que a aproximação com a arte produz nos sujeitos novas percepções sobre si, o outro e o mundo e, neste sentido, Barroco (2007) afirma que, quando os indivíduos se apropriam de produções humanas em suas formas mais complexas e elaboradas, por intermédio de produções artísticas por exemplo, conseguem elaborar outras formas de compreensão da realidade. Assim, vislumbramos, nas aproximações com diferentes obras de arte, oportunidades para o sujeito reelaborar pensamentos, conhecimentos e sentimentos e, nesse movimento, constituir e ser constituído pela arte. De acordo com Vigotski (1999), a obra de arte provoca um modo específico de pensamento comparável com o pensamento científico, mas o que os diferencia é que o pensamento artístico atinge o sujeito por outras vias, e destaca que é a do sentimento. Neste sentido, ao pensarmos na formação profissional do psicólogo e do professor temos que considerar a formação destes não apenas nos espaços formais de constituição profissional, mas entendemos outros espaços como importantes formadores do sujeito e, consequentemente, do profissional. Assim, as expressões artísticas são um convite ao profissional para entender de forma diferenciada sua realidade bem como a si mesmo, sendo instigado a exercitar outros olhares ao pensar e elaborar sua prática. 2 O presente trabalho, neste sentido, envolve a reflexão sobre a formação profissional que não se dá descolada da formação pessoal e que pode ser mediada por produções artísticas que representem a herança cultural da humanidade que, consequentemente, referem-se à aspectos relevantes para o entendimento do ser humano, foco de trabalho do psicólogo e do professor. O intuito é, portanto, apresentar algumas possibilidades de utilização da arte na formação seja inicial ou continuada desses profissionais, visando expandir e possibilitar que cada um reelabore o conhecimento que traz consigo, movimentando uma rede de saberes necessária à construção de um sujeito/profissional humanizado, crítico e reflexivo. A arte na formação profissional Pensar acerca do lugar da arte na formação profissional, envolve refletir sobre o papel da universidade e da educação superior, mesmo que brevemente. Sendo uma instituição cunhada no bojo da sociedade, a universidade vem ao longo da história se constituindo e transformando segundo o modelo de vida vigente que, na atualidade, é ditado pelo modo capitalista de produção. Nessa lógica, a universidade, instituição de ensino voltada para formação profissional, permanece estruturando a educação que oferece, por meio de uma grade curricular e disciplinas específicas a cada área do conhecimento, dando ênfase nos conteúdos que devem ser absorvidos pelos alunos e comprovados por meio da realização de uma avaliação (FREIRE, 1996; KEIM, 2011). Dentro dessa lógica educacional, ainda assinalada por posturas tecnicistas e conservadoras, evidencia-se uma crise no ensino superior marcada por diversos problemas que vão desde a relação professor-aluno, até a falta de identidade do professor, o distanciamento entre a teoria e a prática e, especialmente, a burocratização e superficialidade das relações estabelecidas neste espaço, cujo foco se detém, em sua maioria, nos aspectos profissionais. Ao fazer uma análise das universidades na contemporaneidade, considerando a importância de formarmos sujeitos críticos e reflexivos, Ribeiro (2003) aponta para a importância de haver nas instituições de ensino superior um curso, comum a todas as profissões, que abarque conhecimentos ligados à humanidade, por meio do estudo da 3 arte, literatura e filosofia. A ideia do autor é culturalizar a dogmática formação acadêmica e possibilitar que os universitários ampliem seu universo de referência sobre os diversos aspectos da vida, desenvolvendo-se como cidadãos. Tal proposta vai ao encontro da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) 9.394 de 1996 que em seu segundo artigo traz que “a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, p. 1), transcendendo, portanto, a exclusiva formação profissional. A despeito disso, quando observamos o cotidiano das universidades, notamos facilmente quão distante de uma formação humanizadora se encontram os espaços de aprendizagem nela configurados. Silva et al. (2007) corroboram este apontamento quando abordam sobre a ausência de espaço para a arte no contexto universitário, apontando uma falha na função social da universidade, quando se destina exclusivamente à formação tecnicista dos estudantes, desconsiderando a esfera pessoal. Superar esse modelo de educação formativa e instituir a universidade como espaço de formação de cidadãos, requer considerar todos os sujeitos envolvidos no ensino superior, como seres humanos histórico-culturalmente constituídos, dotados de subjetividade e conhecimentos relativos às coisas do mundo. Essa perspectiva preocupase com a constituição do sujeito como um todo e o desenvolvimento de suas funções psíquicas superiores indicativas de aprendizagem, que se dá mediada pelo contato com o outro e com o meio material no qual está inserido (PINO, 2005). Nesse ponto a arte se apresenta como uma ferramenta diferenciada no processo de constituição pessoal e profissional do sujeito, uma vez que [...] tem em si uma função que poderíamos chamar de conhecimento, de “aprendizagem”. Seu domínio é o do não-racional, do indizível, da sensibilidade: domínio sem fronteiras nítidas, muito diferente do mundo da ciência, da lógica da teoria. Domínio fecundo, pois nosso contato com a arte nos transforma. Porque o objeto artístico traz em si, habilmente organizados, os meios de despertar em nós, em nossas emoções e razão, reações culturalmente ricas, que aguçam os instrumentos dos quais nos servimos para apreender o mundo que nos rodeia (COLI, 1987, p. 109). 4 Assim, as expressões artísticas são formas de apropriação da cultura produzida pela humanidade e se delineiam em diversos formatos, resultando em variadas linguagens. Quando pensamos em linguagem, inicialmente nos remetemos à forma de comunicação mais usualmente utilizada em nossa interação, nesta direção Meira (2007) afirma que na apreensão da linguagem os processos mais elementares tornam-se mais complexos à medida que se modificam no percurso de desenvolvimento de cada sujeito. Podemos dizer que a linguagem não é apenas instrumento de comunicação, mas também a expressão mais humana na formação da consciência e, portanto, primordial para que ocorra o desenvolvimento humano. Então, ao mesmo tempo em que elabora elementos constituintes de sua consciência, o sujeito interage com seus pares e sua cultura de modo a também modificá-los e a transformar-se em um movimento contínuo. Para além de considerarmos que a linguagem é uma forma de comunicação entre os homens, entendemos que outras formas de expressividade são possíveis, como por exemplo, por meio da arte, que possibilita ao homem se apropriar do conhecimento, da experiência e elaborar seus saberes de maneira criativa, saindo da mera repetição (PINO, 2005). Isto ocorre porque ao entrar em contato com o contexto no qual está inserido o sujeito internaliza as relações, os modos de pensar e sentir compartilhados na sociedade e elabora, a seu modo, todas estas interferências, convertendo-as do plano coletivo para o individual. Neste sentido, podemos dizer que a mediação – dos signos linguísticos, do outro, dos objetos da vida material, da arte etc. – atua como elemento central no processo de internalização da cultura pelos sujeitos, pois os significados que os homens atribuem às coisas, aos outros e às funções naturais só adquirem sentido pela mediação que o outro confere a estes elementos (PESSOA, 2014). Desse modo, ao possibilitar a sensibilização do homem para aquilo que é próprio do humano, a arte se mostra ainda mais profícua na formação do psicólogo e do professore, uma vez que ambos profissionais lidam diretamente com o sujeito em sua complexidade e precisam a todo momento mediar relações, construir espaços de aprendizagem, administrar emoções, compreender o outro, ou seja, precisam ter um repertório amplo sobre os diferentes aspectos da vida e a imprevisibilidade do humano (SILVA, 2005). 5 Expressões artísticas mediando a formação do psicólogo e do professor Ao pensarmos sobre formação profissional, contribuem Alvarado-Prada e Freitas e Freitas (2010, p. 369) quando apontam que “formar-se é um processo de toda a vida; enquanto seres humanos, temos a possibilidade de aprender e, portanto, nos humanizamos permanentemente, mediante as relações e interações que acontecem nos diversos ambientes culturais nos quais temos relações”. Assim, é de suma importância pensarmos uma formação que seja contínua, mas não atribuindo apenas sobre ela a responsabilidade por mudar todo o cenário que se atua. Caso assim o fizermos, colocaremos sobre alguns atores deste contexto toda a responsabilidade pelo processo educacional, o qual deve ser compreendido em um contexto mais amplo e complexo (OLIVEIRA & ALVARADO-PRADA, 2010). Para pensar a profissão tanto do psicólogo como do docente como um todo, devemos considerar o processo educativo ligado à vida (VIGOTSKI, 2003), e almejarmos práticas formativas de qualidade oferecendo aos atores escolares chances de se expressarem, trocarem experiências e legitimarem seus saberes. Facci (2004) salienta que precisamos pensar a formação docente em um processo envolvendo a humanização destes profissionais, oferecendo conhecimentos que ultrapassam o senso comum para que se construam saberes que realmente visem uma transformação social. Nesse mesmo sentido, mas em relação à formação do psicólogo, Silva (2004, p. 101) acrescenta que “o contato com a obra de arte aproxima as pessoas das características constituintes da condição humana, como alegria, medo, tristeza, angustia, saudade, esperança”, foco do trabalho deste profissional que se dedica ao entendimento da subjetividade do sujeito. Desse modo, quando pensamos em uma formação profissional devemos considerar o sujeito como um todo, especificamente, no que se refere à constituição como psicólogo e professor, é necessário considerar que este processo se dará na confluência de diferentes saberes, que podem ser enriquecidos pela arte. Por isso, apresentaremos aqui algumas expressões artísticas que podem ser profícuas na formação e constituição destes profissionais. 6 A Literatura que pode ser considerada, de modo geral, como meio de expressão dos sentimentos humanos por meio da linguagem escrita na forma de conto, poema, narrativa, prosa, etc., faz parte do nosso universo simbólico desde tempos imemoriáveis. Os livros habitualmente estiveram presentes na educação dos sujeitos, mas estes, em sua maioria, centram-se em uma escrita acadêmica e científica que muitas vezes não se atém ao aspecto artístico, ou seja, não abrangem aspectos que comunicam com a subjetividade e afeto dos sujeitos. Sem a pretensão de classificar que tipo de leitura é mais relevante na formação do psicólogo e do professor, é importante considerar, como já citado anteriormente, que a formação profissional não se dá descolada da constituição pessoal. Portanto, a leitura de diferentes textos de diversos escritores, desde obras clássicas até mesmo breves poemas, que diferem das leituras científicas, são também relevantes para a constituição destes profissionais. Referente a isto, Calvino (2007), em seu livro “Por que ler os clássicos” aponta que uma obra clássica seria aquela que se comunica com o homem de maneira específica e que tem uma ressonância cultural própria; são as obras que sempre nos surpreendem e têm algo a nos dizer, pois tratam de temas concernentes à condição humana. Considerando que tanto o psicólogo com o professor estarão a todo momento em comunicação direta com vários e diferentes sujeitos, ter acesso e conversar sobre literatura pode ser enriquecedor, se não um diferencial significativo para estes profissionais. Na formação de ambos caberia, por exemplo, refletir sobre o conto “Um general na biblioteca” (CALVINO, 2001) que fala sobre a censura e o poder de libertação dos livros, ao relatar a situação de um país dominado pela ditadura militar, onde a leitura era proibida e os livros tinham que passar pela inspeção de um general para serem considerados lícitos ou não, enfatizando o papel dessa linguagem artística para o desenvolvimento de aprendizados diversos. Além dos livros, que são ferramentas constantemente presentes nos contextos educacionais, outro elemento artístico facilmente encontrado em nosso cotidiano que pode aprimorar os espaços de formação, é a Música. Como sujeitos que apreendem o mundo pelos órgãos dos sentidos, nos desenvolvemos e aprendemos não só pela escrita, mas também pelo que vemos, ouvimos, sentimos, aspiramos, etc. Rodeados por diferentes estímulos, o som também nos afeta e a música é popularmente difundida, 7 sendo uma expressão artística que apresenta diferentes gêneros, segundo a realidade dos sujeitos que as compõem. Por isso, é comum nos identificar, comunicar e, até mesmo, desenvolver reflexões de diversas natureza pela fruição de músicas que comunicam com a nossa subjetividade. Na formação do psicólogo e do professor, a música pode mediar a compreensão de conteúdos específicos, a sensibilização, integração, interação, movimentação do corpo, expressão e comunicação. Para além disso, pode ser utilizada como ferramenta de desconstrução de saberes pré-estabelecidos, ampliando as possibilidades de relacionamento com o outro e o mundo. Como exemplo, podemos considerar a música “Tô” de Tom Zé (1976), compositor baiano expoente da Tropicália, cujos versos “Eu tô te explicando prá te confundir, eu tô te confundindo pra te esclarecer” podem nos ajudar a pensar no quanto a formação profissional pode ser também provocadora, instigando os sujeitos a se implicarem em seu processo de aprendizado de modo ativo, questionador, crítico e reflexivo. Vale ponderar quão valiosas são estas características ao psicólogo que precisa sempre trabalhar com a construção e desconstrução de seus padrões internos, suas concepções, na tentativa de auxiliar o outro na elaboração de novos sentidos sobre os desafios da vida e o professor que, por sua vez, tem a função de auxiliar o outro no desenvolvimento da própria capacidade de pensar, criar novas conexões cognitivas, apreender conhecimentos, etc. Outra expressão artística muito divulgada que também pode gerar aprendizados de modo muito singular nos espaços formativos é o Cinema. Os filmes, documentários e curtas-metragens associam imagem e som de modo a representar simbolicamente aspectos muito importantes da vida. Ao entrar em contato com tais obras podemos construir aprendizados sobre questões que não vivenciamos ou que se aproximam de nossa realidade de modo a ampliar nosso entendimento sobre conteúdos diversos. Pensando na formação de psicólogos e professores, poderíamos elencar diferentes expressões artísticas que seriam de grande relevância para ambos, mas neste momento nos restringimos a fazer referência ao curta “La maison en petits cubes” (KATÕ, 2008), uma produção japonesa que relata a vida de um idoso que vive em uma cidade abandonada devido à constantes alagamentos. Esta obra, que não apresenta diálogos, possui uma combinação cuidadosa de imagens e som bastante sensível que nos leva a 8 olhar para a nossa própria trajetória de vida, compreendendo os principais dilemas vivenciados nas fases de desenvolvimento pelas quais passamos, possibilitando uma entendimento mais completo sobre o humano em constante constituição. Tais reflexões tanto para o psicólogo, quanto para o professor aumentam o repertório de entendimento sobre as etapas de vida do homem, auxiliando-os no trabalho com pessoas de diferentes idades. Por fim, gostaríamos de elencar o Teatro como possibilidade de recurso na formação profissional. Alguns jogos teatrais podem ser propostos com o intuito de vivenciar a teatralização para além da ideia da montagem de espetáculos teatrais, mas expandindo-se para exercícios de expressão corporal, representação, dramatização, etc. Durante a trajetória escolar o corpo do sujeito encontra-se tão enrijecido escolar pela formatação do espaço da sala de aula, dos livros acadêmicos, normas institucionais, e acaba por utilizar-se tanto da fala, que não se proporciona outras formas de comunicação para além da usual linguagem falada, o que possibilitaria experimentar outras formas de estar com o outro e, consequentemente, criar novas formas de pensar e aprender. Desse modo, entendemos que as linguagens artísticas possibilitam um revisitar às referências culturais de cada um, possibilitando trocas e partilhas de saberes, que serão futuramente utilizados nos contextos de atuação profissional. Assim, reiteramos que a arte possibilita o contato com diferentes formas de expressão, permite que cada um se posicione de modo autoral nas atividades que realiza e ainda auxilia a trabalhar a diversidade entre os pares (ALMEIDA, 2010; SILVA, 2005; VIGOTSKI, 1999). Seja qual for a linguagem de expressão – literatura, música, cinema, teatro, etc., o intuito é refletir sobre o uso da arte na formação do sujeito/profissional. Considerações finais À guisa de conclusão, cabe ressaltar que no trabalho em questão buscamos refletir acerca das possibilidades de utilização da arte, em suas diversas manifestações, na formação do sujeito/profissional, especificamente do psicólogo e do professor. Neste sentido, Freire (1998) contribui ao apontar que o conhecimento precisa ser discutido e 9 construído, não apenas transferido. Com este intuito, entendemos que o trabalho com arte possibilita tanto a valorização do repertório de cada sujeito bem como a partilha de saberes entre os pares, favorecendo encontros que são formativos, para além de um conteúdo formal. Reiterando que, tanto no trabalho do psicólogo como do professor necessariamente se promovem relações humanas, a arte, a partir da perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural, em suas diferentes linguagens, instiga de forma diferenciada o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, ampliando o repertório cultural dos sujeitos, além de trabalhar a expressividade, criatividade e outros aspectos imprescindíveis na atuação destes profissionais. Escolhemos neste trabalho apresentar apenas algumas das inúmeras manifestações artísticas para possibilitar reflexões acerca da formação profissional, e independente da linguagem – literatura, música, cinema ou teatro – entendemos que são expressividades humanas imprescindíveis à constituição de todo ser humano. Quando pensamos na formação do sujeito como um todo, a cultura como produção especificamente humana, de fato contribui para que outros olhares possam ser construídos tanto a respeito de si como dos outros, além de ampliar a compreensão do contexto do qual se encontra. Com isso, concordamos com a necessidade de se almejar espaços formativos que favoreçam o encontro entre sujeitos e subjetividades, e entendemos a arte como importante mediadora neste processo. Nesta direção, contribui Pessoa (2014) ao destacar a arte como produção humana diferenciada que convida “a entrelaçar a vida e o processo educativo de modo interligado, envolvendo todas suas nuances: considerando o sujeito de modo completo, em seus aspectos físico, cognitivo, afetivo, social e cultural” (p. 140). Por fim, esperamos ter convidado, por meio das possibilidades e reflexões apresentadas, à reflexão sobre a necessidade da interlocução entre diversos conteúdos na formação, não restringindo a formação do psicólogo e do professor apenas à profissionalização, mas considerando o sujeito como um todo. 10 REFERÊNCIAS ALMEIDA, C. M. Concepções e práticas artísticas na escola. In: S. Ferreira (Org.), O ensino das artes: construindo caminhos(9ª ed., pp. 11-38). Campinas: Papirus, 2010. ALVARADO-PRADA, L. E.; FREITAS, T. C.; FREITAS, C. A. Formação continuada de professores: alguns conceitos, interesses, necessidades e propostas. Revista Diálogo Educacional (PUCPR. 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