Aula Teórica 5 – Impressão em Albumina 20 de Outubro de 2008 – Cadeira Processos de Impressão com Prata Licenciatura em Fotografia 2008-2009 Departamento de Fotografia – Luis Pavão Escola Superior de Tecnologia de Tomar Impressão pelo Processo de Albumina A impressão em albumina, tal como foi usada durante o século XIX, foi invenção do fotógrafo francês Louis Désiré Blanquart-Evrard, no final da década de 1840. Em 1855 a maioria dos fotógrafos tinham-se convertido ou pelo menos experimentado este novo processo de impressão. O processo é semelhante ao processo do papel salgado, com a diferença de que o papel era posto a flutuar sobre uma solução de clara do ovo (previamente batidas em castelo e misturadas com cloreto de sódio a 2,5%). Depois de seca a folha era sensibilizada com nitrato de prata e impressa, como no papel salgado. Vemos que o processo é essencialmente o mesmo do papel salgado, com a diferença que o papel é coberto com um meio ligante, a clara do ovo, que vai tapar os poros do papel e reter as substâncias sensíveis à luz numa camada compacta na superfície do papel. É precisamente porque a imagem de prata é presa ou retida numa camada fina e superficial, que este processo consegue produzir imagens mais vigorosas, com mais contraste e com uma capacidade de reprodução dos pormenores muito superior às provas em papel salgado. A imagem não se afunda nas fibras do papel, como acontece no papel salgado, mas fica retida dentro da camada de albumina. Este processo de impressão foi o mais usado em todo o mundo durante cerca de 40 anos, desde 1855 a 1895. A forma de preparação e utilização deste papel mudou, contudo, consideravelmente ao longo deste período. As primeiras provas em papel de albumina pareciam-se muito com as provas em papel salgado, eram cor acastanhada ou avermelhada, apresentando pouco brilho e fraca profundidade de tons, que era maior ou menor consoante a quantidade de água que era acrescentada à albumina (quanto mais água menos brilho). Os dois melhoramentos no processo foram realizados na década de 1850 e são os seguintes: viragem a ouro da imagem de prata e melhorias na camada de albumina, conseguindo-se provas muito brilhantes. A viragem a ouro, que consiste numa transformação química da imagem num banho de cloreto de ouro, deposita pequenas quantidades de ouro sobre os grãos de prata. Permite obter uma grande variedade de cores, entre o castanho e a púrpura e aumentar a estabilidade da imagem, aumentando a sua resistência ao desvanecimento da prata. A outra alteração foi o resultado de prática e experimentação de muitos fotógrafos, não tendo um inventor. O grande desejo na época era produzir provas com mais brilho e melhor reprodução do pormenor. Verificou-se que uma albumina parcialmente decomposta (levemente fermentada), produzia mais brilho e uma camada mais uniforme e homogénea, do que a camada resultante de uma albumina nova. Escola Superior de Tecnologia de Tomar - Luis Pavão – 2008-2009 A escolha do papel também era decisiva na qualidade das provas de albumina, que eram impressas em papel fino e liso, de uma qualidade e pureza excepcionais. A existência de partículas metálicas ou resíduos minerais no papel contribuíam para defeitos nas imagens. A matéria prima usada no fabrico do papel era o trapo. Os botões metálicos, que eventualmente os acompanhavam, bem como as limalhas provenientes de maquinaria de maceração, deixavam resíduos metálicos no papel, que provocavam defeitos nas imagens. A água para o fabrico do papel podia ser também uma fonte de problemas. Para conseguirem água pura, as fábricas de papel eram situadas em zonas montanhosas; é o caso das fábricas Blanchet Fréres et Kléber Co. situadas em Rives, num vale próximo dos Alpes, que consumiam a água proveniente da fusão dos gelos das altas montanhas. No século XIX existiam apenas duas fábricas no mundo capaz de produzirem papel com a qualidade para provas fotográficas de albumina, uma era a já citada Blanchet Fréres et Kléber Co. em França e a outra era a Steinbach and Company, em Malmedy, hoje uma cidade Belga, mas neste tempo uma cidade alemã. Este último papel era conhecido por Papel de Saxe. Ambos os papéis eram produzidos a partir de trapo, em máquina e eram encolados com uma mistura de amido e resina (resin soap?). Uma análise a este papel feita em 1904 diz-nos que ele é composto por fibras de linho (85%) e fibras de algodão (15%). A partir de 1860 o consumo de papel de albumina aumentou muito, sobretudo com o advento dos cartões estereoscópicos comerciais e os retratos em formato cartãode-visita. Depois de 1854 apareceram as primeiras fábricas que produziam papel albuminado (coberto de albumina, mas não sensível a luz). A partir de 1870 a grande produção de papel albuminado estabeleceu-se em Dresden, Alemanha, que se situava próximo dos produtores de papel e aproveitava a produção de ovos em grande quantidade na região e ainda dispunha de mão-de-obra mais barata do que a indústria inglesa e americana. Para dar uma ideia da dimensão da produção, vejamos os números de apenas uma das fábricas (existiam duas fábricas grandes e várias pequenas). A fábrica chamada Dresdener Albuminfabriken A.G., produziu no ano de 1888, a quantidade de 16 674 resmas de papel albuminado, tendo cada resma 480 folhas de formato 46x58 cm. Para revestir uma resma eram consumidos 9 litros de solução de albumina, obtidos com 27 dúzias de ovos. A produção anual desta fábrica consumia mais de 6 milhões de ovos, a produção de papel era toda manual, sendo a maior parte do trabalho realizado por mulheres. A folha de papel era posta a flutuar sobre a albumina e algumas folhas eram postas a flutuar duas vezes, para se obter mais brilho. Fixação das provas Como fixador usamos o tiossulfato de sódio penta-hidratado, Na2S2O3 5H2O, diluído a 15%. O tiossulfato de sódio decompõe-se quando em solução, dando origem a sulfito de sódio e a enxofre, o que é indesejável. Por isso as soluções devem ser misturadas apenas pouco antes de se iniciar a fixação e as soluções antigas não devem ser aproveitadas. Com os papéis directos vamos sempre usar um fixador alcalino para evitar branqueamento da prata. Ao contrário do que acontece com os banhos de fixação que usamos para o papel de revelação actual, o fixador de papel salgado e albumina deve ser Processos de Impressão com Prata – Teórica 05 – Impressão em Albumina 2 Escola Superior de Tecnologia de Tomar - Luis Pavão – 2008-2009 ligeiramente alcalino e sem a presença de agentes endurecedores de gelatina. Um meio ligeiramente alcalino impede que os ácidos decomponham o tiossulfato de sódio, evitando assim a formação de enxofre, que iria atacar a imagem de prata. Em segundo lugar um banho ácido iria atacar os minúsculos grãos de prata, provocando o branqueamento da imagem, o que é significativo sobretudo nas zonas mais claras da imagem. Vejamos agora algumas condições para uma boa fixação. Quando o processo de fixação tem inicio, formam-se complexos de prata e enxofre, que apenas são removidos do papel por meio de fixador novo. Isto quer dizer que a quantidade de prata no banho de fixador não pode ser muito elevada, sob pena de que os compostos de prata e enxofre formados não sejam removidos do papel. Para uma fixação mais eficiente sugere-se que se usem dois banhos de fixador, com imersão da prova em cada um deles apenas por metade do tempo. O primeiro banho é o que realiza a maior parte do trabalho de remoção da prata; o segundo banho garante-nos que a provas estará em contacto com fixador novo e todos os compostos de prata são removidos. Quando o primeiro banho está exausto é descartado; o segundo banho passa então para primeiro banho, diluindose de novo o tiossulfato de sódio para fazer o segundo fixador novo. A operação de fixação realiza-se relativamente depressa e após oito minutos as provas devem ser removidas do banho fixador e passadas para água. O prolongamento do banho fixador é muito mais nocivo para as provas do que benéfico. Uma fixação demasiado prolongada vai puxar o fixador para as fibras do papel, sendo muito difícil a sua posterior remoção. Para além disso leva a reacções químicas secundárias, com a formação de complexos de fixador e prata insolúveis, que são difíceis de remover do papel. Preparação do fixador para as provas de albumina Água destilada ....................................... 800 ml Tiossulfato de sódio ............................... 150 g Carbonato de sódio ................................ 2g Água destilada para fazer ............................ 1 l Utilizar água quente para diluir o tiossulfato de sódio. Este composto absorve calor para se dissolver e precisa de água quente para compensar o arrefecimento da água e dissolver melhor. Lavagem das provas Com a lavagem pretendemos remover todos os produtos químicos usados na fixação e deixar apenas sobre o papel a imagem de prata. Os procedimentos para a lavagem são semelhantes aos já dados para o papel salgado. Adaptado e traduzido em Setembro de 2003, a partir do livro de James Reilly “Albumen and Salted Paper Book, the history and practice of photographic printing, 1840-1895”, Leitura de Reilly, James, Albumen and salted paper book, Light Impressions, 1980. Páginas 28 a 46. Processos de Impressão com Prata – Teórica 05 – Impressão em Albumina 3