Nome da organização: Hospital das Clínicas da FMB; Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP e Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar – FAMESP Título do trabalho: SUSTENTA SAÚDE: TRANSFORMANDO RESÍDUOS ORGÂNICOS EM CESTAS DE ALIMENTOS AGROECOLÓGICOS Nome completo: Karina Pavão Patrício Telefone: (14) 3880-1343/1366 ou 99815-7305 e-mail: [email protected] RELATÓRIO DESCRITIVO a. Introdução A preocupação ambiental vem tornando-se frequente na vida da grande maioria das pessoas em diferentes culturas e países (REIGOTA, 2008; BARCELOS, QUITÉRIO, 2006; MORADILLO e OKI, 2004). Atrelado ao quadro de degradação ambiental impactando na saúde ambiental das comunidades, o lixo, ou resíduos sólidos, tem ocupado cada vez mais o espaço físico e social das cidades. O consumismo desenfreado associado com a cultura dos descartáveis tem gerado quantidades volumosas de lixo, que não conseguem ser reciclados ou degradados na mesma velocidade da produção. No Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2010, realizado pela Abrelpe, 195 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU) foram produzidas diariamente, sendo que cada brasileiro gera em torno 1,213 kg de lixo por dia (Abrelpe, 2010). Do total de RSU, 51% é de resíduo orgânico, no entanto uma parcela ainda muito reduzida é reciclada ou destinada para a compostagem. Quando seguem para aterros ou lixões (que, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, devem ser totalmente extintos no país até o final de 2014), os resíduos orgânicos se biodegradam e geram chorume e gás metano (com 21 vezes mais poder de gás de efeito estufa do que o gás carbônico). A compostagem é o processo de decomposição biológica da matéria orgânica presente no lixo, por meio da ação de micro-organismos existentes nos resíduos, em condições adequadas de aeração, umidade e temperatura. Desse processo, resulta um adubo de alta qualidade - uma tonelada de lixo doméstico rende cerca de 500 quilos de composto orgânico. Este composto tem sido utilizado cada vez mais para a produção de hortaliças orgânicas ou dentro da agroecologia. A agricultura orgânica está em ascensão em todo o país, fazendo parte das alternativas para contrapor o sistema convencional de produção marcada pela monocultura, uso intensivo de agrotóxicos (Brasil é hexacampeão mundial no consumo de agrotóxicos), além de sementes transgênicas. Dados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de Alimentos (Para) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram muitas amostras contaminadas por agrotóxico, durante o ano de 2010, com resíduos de agrotóxicos acima do permitido e o uso de agrotóxicos não autorizados para estas culturas (ANVISA, 2014). Com o desenvolvimento e disseminação de tecnologias agroecológicas, além de apoio e incentivo técnico, a produção esta crescendo e a demanda por produtos mais saudáveis também é ascendente. A agroecologia pode ser entendida como o manejo ecológico dos recursos naturais, através de formas de ação social coletiva, com propostas de desenvolvimento participativo, desde as formas de produção até a circulação alternativa de seus produtos, estabelecendo relações entre produção e consumo capazes de encarar a crise ecológica e social (EMBRAPA, 2014). Desta forma, a produção agroecológica torna-se um desafio ainda maior, mas também uma alternativa econômica importante à agricultura familiar, que busca diminuir custos e agregar valor aos seus produtos, possibilitando assim uma vida digna e sustentável no campo. b. Objetivo Reduzir e reaproveitar os resíduos orgânicos produzidos na cozinha do HC, utilizandoos para compostagem, juntamente com os resíduos de jardinagem do Campus da FMB e do município, no cultivo de cestas de alimentos agroecológicos produzidas por agricultores familiares locais e oferecidas aos próprios funcionários do HC. Desta forma espera-se alcançar os objetivos pactuados na Rede Global de Hospitais Verdes e Saudáveis: liderança, resíduos, compras e alimentos; a fim de promover a saúde ambiental e uma melhor qualidade de vida, rumo a sustentabilidade socioambiental. c. Desenvolvimento Inicialmente estruturou-se um grupo de pesquisa e de trabalho para planejar as ações dentro da temática de hospitais verdes e saudáveis, pensando em ações a serem desenvolvidas dentro do HC da UNESP que pudessem ser mais sustentáveis. Elegemos e pactuamos cinco objetivos dentro da rede de Hospitais verdes e Saudáveis em Outubro de 2013: alimentos, resíduos, liderança, compras e água. O grupo de pesquisa de meio ambiente e saúde do PET-saúde (Ministério da Saúde) da FMB, composto por alunos bolsistas da Medicina e da Enfermagem, preceptoras enfermeiras da Secretaria Municipal de Saúde de Botucatu e outra aluna bolsista do PROEX-UNESP foram envolvidos. Desenhamos um projeto de cestas agroecológicas, no qual trabalharíamos os quatro primeiros objetivos juntos, podendo transformar resíduos orgânicos em composto que adubariam produção de alimentos que retornariam aos funcionários do HC, tentando fechar um ciclo de reaproveitamento de resíduos, rumo a um sistema mais sustentável socioambiental. A proposta foi apresentada a alguns agricultores e um grupo do bairro do Chaparral aceitou o desafio, envolvendo 11 famílias de agricultores, mas no final somente 5 aderiram ao projeto. O projeto foi amplamente divulgado no campus de Botucatu, por meio de sites e cartazes e faixas. Página dentro do site do HC- UNESP. Estes meios de divulgação servem para colocarmos dados sobre degradações ambientais, impacto na saúde, ações mais sustentáveis e importância disto, além de receitas já com alimentos que compõem as cestas; conscientizando mais as pessoas. Foi realizado o lançamento oficial do projeto em Maio de 2014, com presença de autoridades locais, municipais e nacional (coordenador nacional do HVS), além dos agricultores e comunidade acadêmica. Ao final foi possível degustar receitas com alimentos que estariam presentes na cesta, além de apresentação de música, onde procuramos mostrar a possibilidade de melhorar a qualidade de vida, adotando hábitos sustentáveis e prazerosos. Lançamento do projeto As cestas são vendidas em cotas mensais, contendo 12 produtos entre folhosas, leguminosas e frutas da época, pesando em torno de 6 Kg. Os alimentos são colocados em uma cesta, tipo engradado, produzido em plástico reciclado, contendo o logo de nosso projeto (SUSTENTA SAÚDE). O valor cobrado é de R$18,00 semanalmente e todo o dinheiro da venda pertence a estas 5 famílias da Associação dos Produtores Rurais do Chaparral. Para avaliar as exposições anteriores destes agricultores a agrotóxicos e suas condições de saúde, foi realizado uma visita ao Chaparral com todo o grupo de pesquisa e aplicado uma anamnese socioambiental que será reaplicada após um ano de desenvolvimento do projeto. Os interessados em adquirirem as cestas devem entrar no site do projeto, fazer um cadastro e preencher uma avaliação na qual investigamos o perfil, alimentação, hábitos sustentáveis ou não em relação a lixo, resíduos orgânicos, descarte de medicamentos. Pretendemos reaplicar estes instrumento após 1 ano do projeto aos consumidores das cestas, para ver se algo modificou. Estes dados geravam uma planilha no excell e foram analisados através do programa estatístico SPSS. Mandamos confeccionar camisetas, bonés e aventais para todos da equipe e para os agricultores com a logo marca do nosso projeto: SUSTENTA SAÚDE. Uniforme do projeto Fizemos um trabalho de conscientização com os comensais do refeitório do HC (médicos e residentes) a fim de que separassem os resíduos adequadamente na bandeja, em especial os plásticos. Atingimos em torno de 600 pessoas, durante 3 dias de atividade, trabalhando na liderança. Foram feitos cartazes da logística do lixo e seus impactos na saúde e na vida das pessoas. E a cada dia dávamos um marcador de livro com propaganda das cestas e dados de impactos na saúde. Ca Campanha para segregação correta de resíduo orgânico na cozinha do HC Organizamos a logística entre os funcionários da cozinha e os agricultores, de forma que os resíduos orgânicos da cozinha fossem armazenados separadamente em galões que são retirados a cada dois dias pelos agricultores e levados ao campo para compostagem. Os resíduos de jardinagem foram transportados por um caminhão cedido pela Prefeitura Municipal de Botucatu. O esterco necessário, para acelerar o processo, foi obtido pelos próprios produtores rurais. Além disto, o site e a página do face servem como locais para divulgar informações técnicas, troca de receitas, de ações mais sustentáveis e convite para eventos. Oficinas e dias de campos serão ofertados aos consumidores das cestas e interessados no projeto, de forma periódica. d. Resultados obtidos Do mês de Maio a Julho de 2014 tivemos 204 cadastros de pessoas interessadas em adquirir as cestas e 128 responderam a avaliação. Foram vendidas 1.074 Cestas até Setembro de 2014, correspondendo a 6.500 kg de alimentos livres de agrotóxicos. As cinco famílias de agricultores estão recebendo assessoria técnica agronômica sobre agroecologia pelo SEBRAE de Botucatu e outras famílias da Associação do Chaparral já tem demonstrado interesse em entrar para o projeto. Produção, colheita, preparo e distribuição das cestas de alimentos – CASS. A partir do mês de Setembro estaremos abrindo outro dia da semana com feira livre dos produtos em outro espaço da UNESP para atender a outras demandas dos consumidores, que preferem escolher os produtos e a quantidade de suas cestas. Pretendemos fazer uma feira de saúde neste bairro rural em Novembro atendendo a todos os moradores e orientando sobre doenças e agrotóxicos, além de imunização, aferição de pressão e diabetes, DST/AIDS, entre outras, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Botucatu. Em relação a coleta de resíduos orgânicos de Julho a Agosto conseguimos coletar e compostar 6.030 Kg de resíduos orgânicos, que deixaram de ir para o aterro sanitário. Coleta de resíduos orgânicos do HC e a compostagem no campo. Os alunos bolsistas do Pet-saúde elaboraram uma página do facebook no qual compartilham receitas e informações. Página e perfil no facebook Realizamos um dia de Campo com os compradores da cesta, no qual puderam visitar as plantações e conhecer as famílias de agricultores, e aproveitamos para realizar uma bela festa Julina com pratos deliciosos preparados pelos próprios agricultores. Dia de campo e festa Julina no Chaparral A partir da aplicação do questionário, foi possível analisar o perfil dos entrevistados que se interessaram pela cesta de alimentos agroecológicos. Como resultado foi obtido um espaço amostral de 128 pessoas, composta por 22 do sexo masculino e 106 do feminino, cuja faixa etária variou de 19 – 69 anos. O hábito alimentar dos compradores das cestas foi autoclassificado como bom por 56,3%, regular por 35,2%. Os compradores disseram que procuram conscientizar as pessoas a cuidarem do meio ambiente (75,8%), enquanto que 24,2% não. A escolaridade dos entrevistados predominou o nível universitário (74,3%), no entanto 36% deles não sabem ou nunca foram informados sobre a maneira que a coleta seletiva. Uma das questões levantadas aos compradores das cestas foi o motivo que os levou a procurar os produtos oferecidos pelo projeto, como mostra a figura 1. O primeiro motivo foi a busca de alimentos frescos e sem agrotóxicos (38,4%), seguido com preocupação com a saúde (37,2%). Figura 1. Grupos das razões que levaram os compradores a aderir ao consumo de cestas de alimentos sem agrotóxicos, 2014 O que lhe motivou a comprar as cestas? 5,9% Alimentos frescos, Livre de agrotóxicos 8,1% 38,4% 10,4% Preocupaçao com a saúde, alimentaçao saudável Preço acessível 37,2% Facilidade/Comodidade Preocupação com o meio ambiente Disseram que não tem hábito de separar o lixo orgânico (72,7%) e 84 (65,6%) dos compradores das cestas sem agrotóxicos não sabem fazer compostagem. Quanto à reciclagem no ambiente de trabalho, dos 128 entrevistados, 73 (57%) separa papéis, 49 (38,3%) separa plásticos, 35 (27,3%) separa orgânicos e 8 (6,3%) não separa lixo nenhum. Os associados veem a Universidade e o Hospital das Clínicas como potencializadores da conscientização da comunidade para o entendimento real da conjuntura ambiental que estamos vivendo. O fato de fazermos parte de uma instituição pública de ensino realça a necessidade de que práticas sustentáveis sejam adotadas de fato e se incorporem nas rotinas dos serviços. Mesmo que o Hospital das Clínicas seja um ambiente de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças, pouco é abordado sobre o processo saúde-adoecimento e sua relação com o meio ambiente. CONCLUSÃO Analisando-se o perfil dos entrevistados pode-se perceber que há falta de informações e iniciativas dentro da proposta de saúde ambiental e hospitais saudáveis. Vislumbra-se com este projeto ter um importante impacto na qualidade de vida dos funcionários da UNESP, consumidores destas cestas de alimentos de melhor qualidade, assim como na vida dos agricultores familiares envolvidos no projeto. E uma mudança de comportamento dessas pessoas, para que repensem suas práticas e adotem hábitos de vida mais sustentável tanto em suas casas como nos locais de trabalho, promovendo a saúde ambiental e lutando contra a degradação ambiental. COMPOSIÇÃO DA EQUIPE E AGRADECIMENTOS: Agricultores: Genilson Polh; Josiane/Gaucho; Helena/Roberto Bigeschi; Ana Carolina/Eduardo de Oliveira; Piero de Oliveira. Alunos bolsistas PET- Saúde: Camila Silva; Isabela Stolar; Érika Bomfim; Paulo Henrique de Lima; Talita Watanabe; Pedro Henrique Derroide; Carlos Henrique Telleria; Luiz Fernando Vieira; Mary Clea Gun; Fábio Hara; Victoria Rovare. Aluna bolsista PROEX: Isadora Passos. Preceptoras: Juliane Andrade; Adriana Mariano. Comissão de Hospitais verdes e saudáveis: Ana Claudia Soares; Rosângela Giarola; Maria Onélia de Almeida; Karina Martins; Cristiane Nascimento; Ione Morita; Margareth de Almeida; Nutricionistas do HC: Célia Regina Lopes; Maria Helena Borgato.