ERRADICAR O ANALFABETISMO FUNCIONAL PARA ACABAR
COM A EXTREMA POBREZA E A FOME.
Adriane Abrantes Lazarotti 1
Gisele Rogelin Prass ¹
Pedrinho Roman 2
RESUMO
A educação está buscando soluções para problemas como o analfabetismo.
Teóricos realizam estudos sobre temas como alfabetização e letramento, termos que
apresentam diferenças marcantes no conceito e na prática, que estão diretamente
ligados ao analfabetismo funcional. À medida que estes estudos evoluem, os sistemas de
ensino se organizam para melhorar a qualidade da educação abrindo novos caminhos
para os antes excluídos. Consequentemente oportunizando a solução de problemas
como pobreza e fome. Esse avanço na educação é necessário e fundamental para
termos um mundo melhor.
Palavras-chave: analfabetismo, letramento, educação, pobreza, fome.
O tema deste trabalho surgiu dentro da disciplina de Sociologia da Educação,
com o intuito de trazer uma sugestão para melhorar ou sanar problemas sociais
levantados durante a aula. Entre “Oito jeitos de mudar o mundo”, título do projeto
proposto, escolhemos erradicar a extrema pobreza e a fome, como enfoque para o nosso
trabalho. Em uma perspectiva acadêmica do curso de Letras, o que poderia ser feito para
tentar sanar o problema social levantado, foi nosso ponto de partida para uma pesquisa.
Acabar com o analfabetismo funcional foi uma forma indireta que encontramos para
debater este problema. Vários teóricos que encontramos abordam com riqueza esse
assunto, principalmente falando sobre a importância da educação de jovens e adultos,
cujo olhar nos motivou a essa pesquisa.
COSTA, em uma de suas entrevistas, indaga Libâneo sobre os problemas da
educação. Esse por sua vez, tem uma posição bem particular sobre o assunto:
“Quem mexe com lingüística acha que o problema, está na linguagem, na
cultura; quem mexe com sociologia acha que o problema é fazer da escola
um espaço de socialização. O outro mexe com a psicologia e acha que o
problema está na afetividade, na zona desenvolvimento proximal etc. O
professorado fica mesmo perdido, porque ele deveria dar conta de puxar
1
Acadêmicas do curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil – Campus Guaíba.
Professor da disciplina de Sociologia da Educação, da Universidade Luterana do Brasil e orientador
deste trabalho.
2
vários fios, de várias direções, para compreender melhor o ato docente, o ato
pedagógico”. (p. 47)
Cada teórico acaba desenvolvendo uma teoria “fantástica” dentro de uma linha
apenas, aquela que estuda. Para esse teórico entrevistado, o que pode transformar a
educação é sim, um professor reflexivo. Mas reflexivo do quê? Das suas práxis
pedagógicas, da sua metodologia, da didática que utiliza, dos currículos em questão na
sala de aula e da educação como um todo, da educação para o futuro.
Visando atender as necessidades de pessoas que não tiveram acesso ao mundo
letrado na idade apropriada, surgiu uma modalidade diferente para o ato pedagógico que
é a EJA, educação de jovens e adultos. Esses vivem numa sociedade que os exclui um
pouco mais a cada dia, pois o mundo letrado e tecnológico está cada vez mais longe do
alcance da maioria. Como a maior parte da população brasileira é de baixa renda, o
estudo acaba ficando em segundo lugar, a prioridade das famílias é o trabalho e a renda
para a alimentação e as necessidades básicas. Nisso muitos adultos e idosos deixaram de
estudar para manter o trabalho e alimentar a família.
O índice de analfabetos no Brasil está diminuindo aos poucos, mas há alguns
anos este índice era bem significativo. Por esse motivo, teóricos começaram a estudar
uma maneira de recuperar esses índices através de ações pedagógicas, e iniciaram um
estudo sobre analfabetismo e letramento. O conceito de alfabetização vem sofrendo
modificações através dos anos, em 1986, Mary Kato escreve uma das primeiras
ocorrências do termo letramento na sua obra No mundo da escrita: uma perspectiva
psicolingüística. A partir deste estudo, são lançadas outras obras que decorrem o
assunto, um exemplo é o livro LETRAMENTO Um tema em três gêneros de Magda
Soares(2001). Segundo MAGDA (2001), letramento é o que resulta do processo de
ensino-aprendizagem da leitura e da escrita no processo de alfabetização, é também a
posição que o individuo adquire quando se apossa desse conhecimento e suas
conseqüências. Diferentemente o alfabetismo, que é estado ou qualidade de
“alfabetizado”. Portanto analfabetismo é não decodificar os signos lingüísticos da língua
escrita. O conceito de analfabetismo está intimamente ligado ao conceito de
analfabetismo funcional, que é o decodificar dos signos, mas sem interpretação dos
mesmos. A leitura é realizada, mas o sentido não se concretiza, o leitor não compreende
o que lê e não é capaz de construir algo sobre o que leu.
A EJA vem combatendo estas dificuldades e tentado acabar não só com o
analfabetismo, mas também com o analfabetismo funcional. O projeto pedagógico desta
modalidade de ensino é diferenciado, tendo uma identidade própria, pois tem sua
realidade caracterizada por alunos trabalhadores, maduros, com larga experiência
profissional, com um olhar diferenciado sobre o mundo. Por isso, a função da EJA
torna-se diferente da educação comum, apresenta uma função reparadora, inclui os que
por diversos motivos excluíram-se ou foram excluídas, tem como função fazer com que
o aluno possa participar da sociedade na qual pertence e exercer seu direito de
cidadania, e também qualifica o aluno com a oportunidade de certificação que traz a
possibilidade de um emprego mais digno e assim a perspectiva de melhores condições
para a família.
Conforme Paulo Freire (1981) apud VÓVIO (1998):
“O analfabeto apreende criticamente a necessidade de aprender a ler e a
escrever. Prepara-se para ser o agente dessa aprendizagem. E consegue fazêlo na medida em que a alfabetização é mais do que o simples domínio
dessas técnicas em termos conscientes. É entender o que se lê e escreve o
que se lê e escreve o que se entende. É comunicar-se graficamente. É uma
incorporação. Implica não em uma memorização mecânica das sentenças,
das palavras, das sílabas, desvinculadas de um universo existencial – coisas
mortas ou semimortas – , mas uma atitude de criação e recriação.”
A importância do aprender a ler e escrever dentro do universo do adulto ou
idoso, significa apossar-se de uma autonomia antes negada, depender de si mesmo para
realizar as tarefas no dia-a-dia e se determinar, ser independente. No momento em que o
individuo se apropria destes conhecimentos letrados, seu horizonte é ampliado e ele se
torna ser integrante de uma sociedade que antes o excluía. As possibilidades no mercado
de trabalho se ampliam e o seu olhar torna-se crítico em relação ao mundo que o cerca.
Segundo VÓVIO (1998), os jovens e adultos tem um contato diário com a
escrita, que funciona como ponto de partida para o professor realizar o seu trabalho de
alfabetização, os alunos devem ser incentivados a escrever algo, mesmo que não siga o
padrão convencional, explicando para ao professor o que queria escrever, o professor
analisando esta escrita pode tomar decisões sobre a melhor forma de proceder na
construção da alfabetização. Na medida em que trocam informações com os colegas, os
educandos criam hipóteses, reorganizam seus conhecimentos e associam com as novas
informações construindo assim seu processo de alfabetização de uma forma não linear.
O acesso a diferentes tipos de textos, a produção textual do aluno solicitada pelo
educador de maneira continua e o conhecimento prévio do professor sobre o
funcionamento da escrita, facilitam o percurso e geram bastante êxito no processo de
ensino-aprendizagem de jovens e adultos .
Segundo estudos do IBGE sobre a cidade de Guaíba, o índice de analfabetismo é
muito maior em pessoas acima de quinze anos de idade, com o crescimento de 3% sobre
os indivíduos em idade escolar. O sistema municipal de ensino possui recursos
diferenciados no atendimento individual dos alunos de sua rede, que abrange a
Educação Infantil e o Ensino Fundamental não só regular, mas também na modalidade
da EJA que é oferecida no turno da noite facilitando o acesso ao trabalhador. A rede
estadual de ensino oferece em algumas escolas não só o Ensino Fundamental, mas
também o Ensino Médio nesta modalidade. Guaíba também conta, em menor número
com escolas particulares que oportunizam o reingresso aos estudos dos jovens e adultos.
Apesar de muito se ter feito, não podemos acreditar que o analfabetismo está às
vésperas da extinção, pois faz parte de um processo continuo que só vai ser erradicado
quando todas as crianças e jovens estiverem na escola e todos os adultos sejam não só
alfabetizados, mas também letrados. Quando todos os seres humanos tiverem seus
direitos colocados em prática, como a educação, tema principal deste artigo, teremos um
mundo com menor número de desigualdades, no qual todos possam lutar por uma vida
digna com condições para sustentar sua família e acabar com a triste realidade da fome,
que está presente no nosso país, no nosso estado e nesta cidade.
Com este trabalho, concluímos que ainda há muito que fazer para acabar
com o analfabetismo funcional. A educação tem buscado caminhos e hipóteses para
resolver esse problema e dar aos cidadãos a oportunidade de crescimento social e
econômico. Mas este caminho é muito longo. A solução para acabar com o
analfabetismo funcional, após as leituras realizadas para este trabalho, se dá através de
uma boa formação escolar, pois leitura não se limita em apenas decodificar os códigos
lingüísticos e sim compreender a mensagem implícita do texto, a que ele quer
transmitir. Investir na qualidade da educação é uma solução possível para erradicarmos
o analfabetismo funcional e conseqüentemente ajudar a erradicar a extrema pobreza que
assola o mundo e causa muita fome.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, Marisa Vorraber. A escola tem futuro?. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2003.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Editora
Contexto, 2003.
KATO, Mary. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüista, São Paulo: Ática,
1986.
SOARES, Magda. Letramento um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica,
2001.
VÓVIO, Cláudia Lemos. Viver, Aprender: educação de jovens e adultos. São Paulo:
Ação Educativa; Brasília: MEC, 1998.
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