Filipe José Nogueira Duarte da Silva Vasco Daniel Carvalho Ferreira dos Santos Joel Pedro Peixoto de Carvalho 1. Segundo as características apresentadas no datasheet do transístor Q1 – BF494 – verificamos que, para IC = 1 mA e VCE = 10V, o ganho de corrente do transístor hFE (ou β) se situa entre 67 e 220. Como requisito adicional, o paralelo das resistências R1 e R2 deverá ser superior a rπ do transístor. Sendo assim, o melhor valor de β a usar no projecto será o seu valor máximo (220), visto que rπ = gm = β gm . Então: IC 220 1 = 5,5 KΩ = = 40 mA/V ⇒ rπ = −3 VT 25 × 10 40 Sendo que R1||R2 > rπ , tomamos um valor para R1||R2 igual a 30 KΩ. De modo a garantir que IC = 1 mA e a tensão de colector seja metade da tensão de alimentação do circuito (VCC = 12 V) é necessário satisfazer as seguintes condições: 12 − RC × 1 = 6 VB = R2 × 12 RC = 6 KΩ R1 + R2 ⇔ 360 VB = RE × 1 + 0,7 RE + 0,7 = R 1 R1 × R2 = 30 R1 + R2 , com RE e R1 expressos em KΩ De modo a que a polarização do transístor tenha o seu ponto quiescente o mais estável possível (β mais insensível às variações de temperatura), é usual introduzir-se uma resistência de emissor RE. Quanto maior o valor de RE mais estável é a polarização mas menor virá a ser a máxima excursão de sinal à saída. Assim, foi escolhido um valor de RE de 560 Ω (que se justifica mediante as características desta montagem). O dimensionamento fica agora completo, pois para RE = 560 Ω, R1 = 285,7 KΩ e R2 = 33,5 KΩ. 2. Após a montagem do circuito e verificação do seu ponto de funcionamento, houve necessidade de alterar alguns componentes para os seguintes valores: Componente R1 R2 RC RE Valor (KΩ) 220 39 5,6 0,56 3. A partir da expressão para o ganho da malha GH(jω) indicada no guião deste trabalho, GH ( jω ) = − gm em que 1 Z b = R1 || R2 || rπ || jωC 2 1 Z c = RC || ω j C 1 Z x = r1 + jωL1 + 1 || 1 jωC s jωC 0 Zb Zc , Zc + Z x + Zb r1, L1 → impedância indutiva do cristal C0, Cs → capacidades paralela e série do cristal O critério de Barkhausen diz que partindo de um qualquer ponto do circuito, após ter percorrido a malha o ganho em malha aberta deverá ser igual à unidade e a rotação de fase igual a 360º para termos um oscilador. Na prática, o ganho atrás referido deverá ser ligeiramente superior à unidade de modo a permitir o arranque (ligeira instabilidade inicial). Segundo o guião, foram-nos sugeridos valores para C1 e C2 de 47pF e 4.7nF, respectivamente. Após simulação em MATLAB com estes valores, para 0º de fase obtivemos um ganho de 2, o que não é ligeiramente superior a um. Após alguns testes de simulação, encontrámos um par de valores que consideramos ser bastante satisfatórios: C1 = 47pF e C2 = 7nF. Após corrermos o seguinte script: %constantes: Ic=1e-3; Vt=25e-3; Beta=150; %transístor Q1 r=22.6; L=123e-3; Cs=12.88e-15; C0=1.7e-12; %cristal de quartzo Rc=5.6e3; R1=220e3; R2=39e3; C1=47e-12 ; C2=7e-9 ; gm=Ic/Vt; rpi=Beta/gm; f=3.997e6:10:4.001e6; w=f*2*pi; Zc=Rc*(1+i*w*C1*Rc).^-1; Zb=((rpi)^-1 + (R1+R2)/(R1*R2) + i*w*C2).^-1; Zx=(i*w*C0 + (r+i*w*L+(i*w*Cs).^-1).^-1).^-1; GH=-gm*(Zb.*Zc)./(Zc+Zx+Zb); subplot(211); plot(f, abs(GH)), axis([3.997e6 4.001e6 -1 2]), grid on; title('Ganho da malha GH (frequencia em Hz)'); subplot(212); plot(f, 180/pi*angle(GH)), axis([3.997e6 4.001e6 -100 100]), grid on; title('Fase da malha GH (frequencia em Hz)'); , obtivemos os seguintes resultados: Verifica-se que à frequência de oscilação (f ≈ 3,999 MHz) o ganho é ligeiramente superior à unidade (mais concretamente 1,2731), confirmando o critério (prático) de Barkhausen. 4. Montámos o circuito de realimentação conforme o esquema dado no guião com Ce = 1nF (condensador de bypass), o que representa um curto-circuito à frequência de 4 MHz. De modo a obter-se um oscilador o mais estável que conseguissemos a 4 MHz, aumentámos o ganho em malha aberta do sistema alterando os valores de C1 e C2 para 0,18nF e 1,5nF, respectivamente. De notar que estes últimos valores também são influenciados pelo facto de ligarmos a ponta de prova no colector de Q1, mesmo sabendo que esta tinha um factor de atenuação 10x. 5. Ao retirarmos Ce do circuito verificou-se que a oscilação decaiu rapidamente. Este facto deve-se ao abaixamento do ganho introduzido pelo transístor de tal modo que o ganho em malha aberta desceu abaixo da unidade, deixando de se verificar o critério de oscilação de Barkhausen. Se antes tínhamos um ganho G (ganho introduzido na malha, pelo transístor) dado em módulo por G = gm × RC = 40 × 5,6 = 224 V V , ao RC 5,6 = = 10 V V (baixou aproximadamente 20 RE 0,56 vezes). De notar que o ganho da malha de realimentação H não se alterou com o retirar do condensador de bypass. retirar Ce, o ganho passa a ser G = 6. Tendo em consideração o datasheet do transístor Q2 – BC547 – no qual hFE ≈ 500 para IC = 10 mA, para alcançar o objectivo de uma tensão de emissor igual a metade de VCC e resistência de entrada Rin superior a 10 KΩ (conforme o pedido no guião), o dimensionamento de R3, R4 e Ree provém das seguintes equações (admitindo Rin = 30 KΩ): V E = 6 = Ree × 10 V B = R4 × 12 Ree = 600 Ω R3 + R4 ⇔ R3 = 55 KΩ V B = VE + 0,7 R = R || R || (r + ( β + 1) × R ) ≈ R || R 3 4 3 4 π2 ee R4 = 69,5 KΩ in R3 R4 R + R = 30 4 3 7. Após a montagem deste último andar houve necessidade de corrigir alguns componentes: Componente R3 R4 Ree Valor (KΩ) 56 69 0,56 De modo à polarização do 1º andar não ser afectada pela introdução do buffer de saída, foi escolhido um valor para a capacidade de desacoplamento (bloqueio da componente contínua) entre andares Cc = 1nF. 8. Ao pormos o dedo no colector de Q1 verificámos que a amplitude de oscilação se reduz muito drasticamente, quase “matando” a oscilação, ao passo que na saída do buffer isso já não acontece: a amplitude apenas varia um pouco. Dado que o nosso corpo é caracterizado por ter uma impedância baixa (fortemente capacitiva), vai constituir uma grande carga capacitiva no terminal do colector de Q1. Essa capacidade em paralelo com C1 vai ser a mais significativa das duas, baixando drasticamente o ganho da malha de realimentação H. Note-se que o ganho G se mantém sensivelmente o mesmo dado que a resistência equivalente vista do colector dada pelo paralelo de RC com a resistência do nosso corpo se mantém aproximadamente igual a RC. Visto da saída do sistema, a carga que introduzimos ao tocar-lhe com o dedo não vai ter um efeito tão significativo porque a própria resistência de saída já é bastante baixa: R || R4 || rπ 2 r V 25 × 10 −3 || Ree || Rcorpo ≅ π 2 = re 2 = T = Rout = 3 = 2,5 Ω β2 +1 β +1 I C 2 10 × 10 −3 Isto porque Rcorpo é muito elevada. 9. Tal como está bem realçado no guião a componente DC deverá ser completamente eliminada para se poder fazer uma análise espectral através do analisador de espectros. Para tal colocou-se à saída do buffer (no emissor) uma capacidade idêntica e com o mesmo objectivo da do ponto 7. Ao fazermos a análise espectral verificou-se que existia uma (forte e predominante) componente à frequência zero (DC) que corresponde à componente contínua intrínseca do próprio aparelho (quando a vimos até nos assustámos!). Normalizámos o ruído de modo a observar apenas as componentes espectrais interessantes e obtivemos os resultados que apresentamos no seguinte quadro: Frequência (MHz) 3,9 (Fundamental) 7,9 11,9 15,9 19,9 23,9 27,6 31,9 Amplitude (dBµV) 70 12 -2 -6 -17 -22 -37 -46 Amplitude (µV) 3162,277 3,981 0,794 0,5012 0,14125 0,0794 0,01412 0,00501 Todas estas medidas foram efectuadas com a ponta de prova atenuada 10x. A partir destes valores de frequência já os restantes harmónicos são desprezáveis. Cálculo da distorção harmónica: dist = ∑ Subharm 2 Fundamental × 100 = 0,12945% Embora este resultado aparente ser bastante bom é pura ilusão, já que ao nível dos osciladores comerciais, apresentam uma distorção muito mais baixa. No vosso caso é considerável um valor aceiptável pois trata-se de um oscilador artesanal. Com este trabalho comprovou-se que uma onda sinusoidal aparentemente pura - risca espectral a 4MHz - observada no osciloscópio não o é (visualização do harmónico fundamental – 4 MHz e sub-harmónicos no analisador de espectros). Claro está que dependendo da aplicação onde se insere o nosso oscilador poderemos ficar bastante contentes com o seu desempenho, agora, se pretendermos purificar a nossa onda (diminuir a distorção espectral) deveremos diminuir o ganho G (pois menos linearidades serão excitadas no transistor) e deveremos também aumentar o ganho H (se quizermos obter a mesma amplitude de oscilação).