João Miguel Valente Vieira de Sousa Fernandes Avaliação de substratos com compostos de acácia e de hormona natural no enraizamento de alecrim e azereiro Mestrado em Agricultura Biológica Trabalho efetuado sob a orientação de Professora Doutora Isabel de Maria Mourão Professor Doutor Luís Miguel Brito Dezembro de 2013 ÍNDICE ÍNDICE ............................................................................................................................. i RESUMO ........................................................................................................................ iii ABSTRACT ......................................................................................................................v AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... vi LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................ vii ÍNDICE DE QUADROS ................................................................................................ viii ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................... ix ÍNDICE DE ANEXOS .................................................................................................... xii 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................1 1.1 Compostagem na Horticultura Biológica...................................................................1 1.2 Descrição das espécies a utilizar ...............................................................................7 1.2.1 Acácia ................................................................................................................7 1.2.2 Alecrim ..............................................................................................................9 1.2.3 Azereiro ........................................................................................................... 13 1.3 Enraizamento.......................................................................................................... 15 1.4 Objetivos do trabalho………………………………………………………………..17 2. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................... 17 2.1 Estacas ................................................................................................................... 17 2.2 Substratos ............................................................................................................... 18 2.3 Hormonas de enraizamento……………………………………………….. ………………. 19 2.4 Condições específicas de enraizamento ...................................................................19 2.5 Tratamentos ............................................................................................................ 19 2.6 Ensaio..................................................................................................................... 20 2.7 Avaliação das estacas ............................................................................................. 23 2.8 Análise estatística ...................................................................................................24 3. RESULTADOS ........................................................................................................... 25 3.1 Enraizamento de Alecrim (Rosmarinus officinalis L.) ............................................. 25 3.2 Enraizamento de Azereiro (Prunus lusitanica L.).................................................... 29 4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES .................................................................................. 33 4.1 Avaliação dos substratos ......................................................................................... 33 4.2 Avaliação das hormonas de enraizamento ............................................................... 35 i 5. CONCLUSÕES ........................................................................................................... 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………………….40 ANEXOS.………………………………………………………………………………….41 ii RESUMO As plantas lenhosas invasoras, como as acácias e as mimosas, contribuem frequentemente para a proliferação dos fogos florestais em Portugal e para a diminuição da biodiversidade. Estas plantas poderão representar materiais alternativos, após compostagem, para a formulação de substratos de enraizamento de espécies importantes no modo de produção biológico, como as plantas aromáticas e medicinais. No presente trabalho, os cinco substratos utilizados na avaliação do enraizamento de estacas de Rosmarinus officinalis L. (alecrim) e Prunus lusitanica L. (azereiro) foram: o substrato comercial Siro Plant constituído por composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e substratos com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100). Como testemunha foi utilizado o substrato adequado ao enraizamento (Sc), recomendado pelo viveiro Raiz da Terra. O segundo fator estudado, num desenho experimental de blocos totalmente casualizados, foram três tratamentos com hormonas de enraizamento: sem hormona (H0), com hormona natural preparada através de uma infusão de cascas e ramos de salgueiro (HB) e com hormonas sintéticas (AIB e ANA) (HQ). As estacas herbáceas foram colocadas em tabuleiros de alvéolos, numa bancada de enraizamento com rega por nebulização, à temperatura de 22ºC. Ao fim de 55 dias, procedeu-se à avaliação do enraizamento através do comprimento das raízes, de uma escala (0 a 5) de avaliação da ramificação das raízes e da contagem e comprimento dos novos rebentos nas estacas. Para o alecrim, o substrato Sc e os substratos com e sem composto de acácia, comportaram-se de forma idêntica, nomeadamente na percentagem de enraizamento e no comprimento das raízes (em média 66,2% e 4,8 cm). No enraizamento do azereiro, o Sc foi comparável aos substratos A30 e A100, nomeadamente na % de enraizamento e o comprimento das raízes (em média 87,8% e 3,1 cm). Em síntese os substratos de enraizamento que contêm composto de acácia (A30, A60 e A100) poderão constituir uma boa alternativa aos substratos convencionais que contêm composto de casca de pinheiro e turfa (A0). O enraizamento das estacas de alecrim poderá ser efetuado sem aplicação de nenhuma hormona de enraizamento (82,0% de enraizamento), enquanto que com a hormona natural foi 34,7%. No azereiro a aplicação de hormonas sintéticas proporcionou melhores resultados (98,7%) em comparação com a não aplicação que foi idêntica à aplicação de hormona natural (74,0%). A hormona natural teve efeitos negativos ou não iii teve efeito no enraizamento das duas espécies alecrim e azereiro, provavelmente por não ter sido preparada ou aplicada de forma adequada. Devido ao seu potencial de utilização no MPB ou como substituto das hormonas sintéticas deverá de ser estudada e testada em condições laboratoriais e de campo. Palavras-chave: acácia, compostagem, enraizamento, hormona, substrato. iv ABSTRACT Invasive woody plants such as acacias and mimosas, often contribute to the spread of forest fires in Portugal and the decline in biodiversity. These plants may represent alternative materials after composting, preparation of substrates for rooting of important species in organic production, such as aromatic and medicinal plants. In this study, the five substrates used in the evaluation of rooting of Rosmarinus officinalis L. (rosemary) and Prunus lusitanica L. (azereiro) were the commercial substrate Siro Plant, substrate consisting of composts of pine bark and peat without fertilizer (A0) and substrates with substitution of the compost of pine bark by increasing amounts of compost of acacia (A30, A60, A100). As a witness it was used a substrate recommended by the nursery Raiz da Terra (Sc). The second factor studied in an completed randomized blocks experimental design, three treatments of rooting hormone: without hormone (H0), with the organic hormone prepared by an infusion of willow bark and branches (HB) and with synthetic hormones (IBA and ANA) (HQ). The cuttings were placed in trays, in a bench with watering rooting for nebulization at a temperature of 22ºC. After 55 days, the evaluation of rooting was performed through the length of the roots, a scale (0-5) for the assessment of roots and length and number of the new shoots on the cuttings. For rosemary, Sc substrate and substrates with and without compost of acacia, behaved identically, in particular the rooting percentage and root length (mean 66.2% and 4.8 cm). In the rooting of azereiro, Sc was equivalent to the substrates A30 and A100, in particular the rooting percentage and root length (mean 87.8 % and 3.1 cm). In summary rooting substrates containing compost of acacia (A30, A60 and A100) may be a good alternative to conventional substrates containing compost pine bark and peat (A0). The rooting of rosemary may be performed without the application of any of rooting hormone (82.0 % rooting), whereas with the natural hormone was 34.7%. In azereiro the application of synthetic hormones provided better results (98.7% rooting), compared to non-hormone and the application of the organic hormone application (mean 74.0 %). The organic hormone had negative effects or had no effect on rooting of both rosemary and azereiro species, probably because it was not prepared or implemented properly. Due to its potential use in organic production or as a substitute for synthetic hormones should be studied and tested in laboratory and field conditions. Keywords: acacia, composting, rooting, hormone, substrate. v AGRADECIMENTOS Agradeço aos Funcionários e Alunos da Escola Superior Agrária, ao viveiro Raiz da Terra e à Professora Isabel Mourão, a colaboração que prestaram na realização deste trabalho. vi LISTA DE ABREVIATURAS ESA Escola Superior Agrária IPVC Instituto Politécnico de Viana do Castelo MPB Modo de Produção Biológico CTC Capacidade de Troca Catiónica CE Condutividade Elétrica vii ÍNDICE DE QUADROS Quadro 2.1 – Composição dos substratos utilizados no ensaio ......................................... 18 Quadro 2.2 – Características químicas dos substratos ...................................................... 18 viii ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1.1 – Processo de compostagem. Fonte: Martinez (2013) ............................................2 Figura 1.2 – Turfeira. Fonte: Almeida (2009) ...........................................................................3 Figura 1.3 – Pilhas de 500 m³ de casca de pinheiro com as respetivas sondas de monitorização da temperatura. Fonte: Brito (2009) ..................................................................4 Figura 1.4 – Pilhas de acácia após o revolvimento. Fonte: Brito (2013) .................................6 Figura 1.5 – Morfologia da Acacia dealbata Link. (e hábito, f ritidoma, g folha, h flores, i vagem). Fonte: FAPAS (1996) ...................................................................................................9 Figura 1.6 – Morfologia do alecrim. Fonte: SC (2013) ..................................................... 12 Figura 1.7 – Morfologia do azereiro. (a hábito, b raminho em flor, c frutos maduros). Fonte: FAPAS (1996)………………………………………………………………………………………………………………14 Figura 2.1 – Disposição dos tabuleiros em alvéolos com os diferentes tratamentos e repetições…………………………………………………………………………………………………………………………………..20 Figura 2.2 – Estufas da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima. Fonte: Reis (2007) …..20 Figura 2.3 – Estacas caulinares de alecrim e azereiro em tabuleiros de 40 alvéolos, colocados na bancada no estufim. Fonte: Mourão (2013)…………………………………………………….21 Figura 2.4 – Estacas caulinares de alecrim no tabuleiro de 40 alvéolos, com os 3 tratamentos com hormona de enraizamento (HQ, HB e H0). Fonte: Mourão (2013) …………22 Figura 2.5 – Estacas caulinares de azereiro no tabuleiro de 40 alvéolos, com os 3 tratamentos com hormona de enraizamento (HQ, HB e H0). Fonte: Mourão (2013) …………23 Figura 2.6 – Escala de avaliação da quantidade de raízes formadas em estacas de alecrim, 55 dias após a plantação, através do seu volume (comprimento e nível de ramificação das raízes). Foram considerados 4 níveis. Fonte: Mourão (2013) ………………………………………………24 Figura 2.7 – Escala de avaliação da quantidade de raízes formadas em estacas de azereiro, 55 dias após a plantação, através do seu volume (comprimento e nível de ramificação das raízes). Foram considerados 4 níveis. Fonte: Mourão (2013) ………………………………………………24 Figura 3.1 – Percentagem de estacas sem raiz e de estacas mortas de alecrim, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ) ……………………….25 ix Figura 3.2 – Percentagem de enraizamento e comprimento da raiz (cm) de alecrim, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ) ……………………….26 Figura 3.3 – Média do nível de raízes (0 a 4) e comprimento da raiz (cm) de alecrim, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ) ……………………….27 Figura 3.4 – Percentagem do nível de raízes de alecrim, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ) ………………………………………………..28 Figura 3.5 – Número de rebentos por estaca de alecrim, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ) ………………………………………………..28 Figura 3.6 – Percentagem de estacas com calus e sem calus e estacas mortas de azereiro, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ) ……………………….29 Figura 3.7 - Percentagem de enraizamento e comprimento da raiz (cm) de azereiro, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ) ……………………….30 Figura 3.8 - Média do nível de raízes (0 a 4) e comprimento da raiz (cm) de azereiro, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ) ……………………….31 Figura 3.9 - Percentagem do nível de raízes de azereiro, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ) …………………………………………………32 x Figura 3.10 - Número de rebentos por estaca de azereiro, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ) ………………………………………………..33 xi ÍNDICE DE ANEXOS ANEXO – Ficha técnica do substrato recomendado pelo viveiro Raiz da Terra xii 1. INTRODUÇÃO 1.1 Compostagem na Horticultura Biológica A compostagem é o processo biológico de tratamento dos resíduos orgânicos, através do qual estes são transformados, pela ação de microrganismos, em material estabilizado e utilizável na preparação de corretivos orgânicos do solo e de substratos para as culturas. O objetivo da compostagem é converter o material orgânico que não está em condições de ser incorporado no solo num fertilizante orgânico, sem sementes viáveis de infestantes ou microrganismos patogénicos, nem quantidades de metais pesados ou moléculas orgânicas que prejudiquem a qualidade do solo. Estes compostos podem ainda ser utilizados como componentes de substratos hortícolas (Brito, 2007). A produção de calor no interior de uma pilha de compostagem depende da velocidade a que os organismos crescem e atuam, e esta depende do teor de humidade, do arejamento, da razão C/N da biomassa e do sistema de compostagem utilizado. Por outro lado, a dissipação do calor do interior da pilha depende da sua superfície específica, e portanto, da sua dimensão. No entanto, quanto maior a dimensão de uma pilha maior é o número de locais no seu interior com anaerobiose e, por isso, a dimensão da pilha influencia o tipo de microrganismos presentes, a temperatura e o tipo de emissões que se produzem (Brito, 2013). A compostagem ocorre quando existe água, oxigénio, carbono orgânico e nutrientes para estimular o crescimento microbiano. No processo de compostagem os microrganismos decompõem a matéria orgânica e produzem, principalmente, dióxido de carbono, água, calor e húmus (fig. 1.1). O processo de compostagem mais comum no MPB é conduzido em pilhas estáticas, sem ou com poucos revolvimentos, por um período de 2 a 4 meses, seguido por um período de maturação superior a 3 meses (Brito, 2007). 1 Figura 1.1 – Processo de compostagem. Fonte: Martinez (2013). Os materiais utilizados para a compostagem podem ser divididos em duas classes, a dos materiais ricos em carbono e a dos materiais ricos em azoto. Os materiais ricos em carbono fornecem a matéria orgânica e a energia para a compostagem e os materiais azotados aceleram o processo de compostagem, porque o azoto é necessário para o crescimento dos microrganismos. Para razões C/N inferiores a 30 o azoto ficará em excesso e poderá ser perdido por volatilização na forma de amoníaco, causando odores desagradáveis. Para razões C/N mais elevadas a falta de azoto irá limitar o crescimento microbiano resultando numa compostagem mais lenta (Brito, 2007). Entre os materiais ricos em carbono podemos considerar os materiais lenhosos como a casca de árvores, aparas de madeira, serrim, podas dos jardins, folhas e agulhas de árvores, palhas e fenos, carnaz, engaço de uva e papel. Entre os materiais azotados incluem-se as folhas verdes, estrumes animais, urinas, restos de plantas hortícolas e erva (Brito, 2007). Os substratos são materiais, naturais ou artificiais, onde se desenvolvem as raízes das plantas cultivadas na ausência de solo, em recipientes, e que devem servir para fixá-las e suprir as suas necessidades de ar, água e nutrientes. O desenvolvimento de um sistema radicular saudável depende das características genéticas das plantas, mas também, das 2 propriedades físicas e químicas do substrato utilizado. Por isso, a caracterização física e química dos substratos é necessária para a sua correta formulação e, também, para a monitorização da rega e das adubações (Brito, 2011). O substrato pode ser formado de matéria-prima de origem mineral, orgânica ou sintética, de um só material ou mistura de diversos materiais. Os materiais orgânicos mais utilizados como substratos ou como componentes para substratos incluem turfa, casca de árvore triturada, serradura e fibra de coco e os materiais de origem mineral incluem vermiculite, perlite e pedra-pomes (Brito, 2011). Estes materiais, embora não estejam especificados como substratos, estão incluídos no Regulamento (CE) n.º 889/2008 da comissão de 5 de Setembro de 2008, que estabelece normas de execução do Regulamento (CE) n.º 834/2007 do Conselho relativo à produção biológica e à rotulagem dos produtos biológicos, no que respeita à produção biológica, à rotulagem e ao controlo. Neste projeto vai-se utilizar o substrato comercial Siro Plant constituído por composto de casca de pinheiro e turfa e substratos com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia. A turfa é um material vegetal que se decompôs na presença de um baixo teor de oxigénio. Nestas condições (anaerobiose) a decomposição bacteriana foi muito lenta e frequentemente a turfa é retirada de turfeiras (fig. 1.2) com muitos milhares de anos, localizadas nos países frios do norte da Europa e do Continente Americano. Existe também turfa em países tropicais mas esta tem origem em depósitos geralmente mais recentes, e encontra-se menos decomposta (Brito, 2011). Figura 1.2 – Turfeira. Fonte: Almeida (2009). 3 Os substratos designados por “turfa” são normalmente mistura de turfas de diferente qualidade (ex. turfa negra e turfa loira), que é função da sua origem, a qual pode ser bastante distinta. As turfas, ou as suas misturas mais correntes utilizadas em horticultura, têm pH ácido, densidade baixa, retêm muita água facilmente utilizável (sendo esta a sua característica mais importante e que determina a sua ampla utilização na constituição de substratos para propagação de plantas) e têm uma capacidade de arejamento variável. Podem apresentar-se isentas de patogéneos, em função da zona de extração e do posterior manuseamento. Podem constituir bons substratos e ser muito uteis para misturar com outros materiais, melhorando a mistura final (Brito, 2011). A casca de pinheiro é uma alternativa à turfa porque confere propriedades semelhantes às misturas na formulação de substratos. É um material barato mas tem de ser triturado/moído, e crivado (< 2 – 3 cm) e compostado (4 – 6 meses) porque a casca fresca possui taninos, resinas, fenóis, terpenos e outros compostos que podem ser fitotóxicos. A elevada temperatura durante a compostagem (fig. 1.3) também reduz a presença de patogéneos e de sementes de infestantes, para alem de diminuir os riscos de imobilização de azoto nos substratos. A casca de pinheiro retém pouca água, mas a sua capacidade de retenção de água pode aumentar com a diminuição do tamanho das suas partículas (tem capacidade para reter em 60 % da sua porosidade total). Contribui para uma boa drenagem do substrato, possui elevada CTC, e um valor de pH baixo a neutro (Brito, 2011). Figura 1.3 – Pilhas de 500 m³ de casca de pinheiro com as respetivas sondas de monitorização da temperatura. Fonte: Brito (2009). As acácias poderão ter taxas de decomposição baixas devido aos seus teores relativamente elevados de lenhina, polifenóis e celulose. Baggie et al. (2004) reportaram um elevado teor 4 de lenhina (20%) em resíduos de acácias e sugeriram que o elevado teor de material recalcitrante poderia estar relacionado com a dureza das folhas (filóides) e a proteção física da celulose. O material recalcitrante não contribui para intensificar a atividade microbiana e, consequentemente, para alcançar a temperatura necessária para eliminar a viabilidade das sementes de acácia, considerando que estas podem permanecer viáveis após 6 dias a temperaturas de 55-70ºC. No entanto, as acácias são Fabaceaes e possuem um apreciável teor de N que contribui para o rápido ataque microbiano e consequente elevação da temperatura. Os fungos que decompõem a lenhina, como os basidiomicetes (que possuem lenhinases), têm um crescimento lento e não conseguem competir com as bactérias que, na presença de N disponível, possuem um crescimento muito mais rápido e eliminam os fungos da comunidade microbiana. Posteriormente, durante a maturação do compostado, a lenhina poderá contribuir para a formação de complexos húmicos estáveis que indisponibilizam o N, porque durante a decomposição da lenhina e da celulose libertam-se polifenóis e hidratos de carbono que são percursores das substâncias húmicas (Brito, 2013). Os arbustos de acácia moídos e crivados possuem uma biodegradabilidade e uma estrutura que permite a sua compostagem efetiva, com bom arejamento, como revelam as temperaturas termófilas atingidas logo após a construção das pilhas e que permanecem acima de 65 °C por um período suficientemente longo para satisfazer os critérios mais rigorosos para a inativação completa de agentes patogénicos. O composto maturado pode ser obtido com um número reduzido de revolvimentos das pilhas (fig. 1.4) e pode produzir corretivos do solo ricos em MO e com uma baixa CE sendo, no entanto, necessário um longo período de compostagem e maturação dos compostos finais (Brito et al., 2012). 5 Figura 1.4 – Pilhas de acácia após o revolvimento. Fonte: Brito (2013). A compostagem destes resíduos orgânicos apresenta um elevado interesse económico na medida em que pode contribuir para o rendimento dos produtores florestais e, simultaneamente minimizar problemas ambientais, decorrentes dos incêndios florestais e da perda de biodiversidade causada pela invasão das plantas lenhosas e que são crescentes em muitas matas e explorações florestais. Apresenta também, um interesse económico relevante para os viveiristas que recorrem a substratos, por vezes de baixa qualidade e com preços elevados. Entre as vantagens ambientais pretende-se, também, demonstrar que com a utilização destes compostos poderá diminuir a exploração da turfa que é considerada, cada vez mais, escassa (SIRO, 2013). O composto resultante da valorização das plantas lenhosas invasoras, e a sua utilização na composição de substratos será de grande interesse para as empresas de produção de substratos como a SIRO, para além de contribuir para a gestão sustentável da floresta nacional. Contudo, torna-se necessário investigar o processo de compostagem destes materiais vegetais e avaliar as características físicas, químicas e biológicas dos compostos resultantes, para assegurar que possuam a qualidade necessária para serem aproveitados para o fabrico dos substratos. Neste caso, aumentava-se a competitividade dos substratos produzidos em território nacional e diminuía-se a importação de substratos para a produção de plantas em Portugal. Simultaneamente diminuíam os fogos florestais, a emissão de gases com efeito estufa e a erosão do solo e aumentava-se a biodiversidade nas florestas nacionais (SIRO, 2013). 6 1.2 Descrição das espécies a utilizar 1.2.1 Acácia As espécies do género Acacia, família Leguminosae, subfamília Mimosoideae, originárias da Austrália, terão sido introduzidas em Portugal durante o século XIX, por motivos ornamentais, flores de corte, taninos para a indústria de curtumes, madeira de construção e lenhas. Nas últimas décadas, devido a vários fatores, entre eles o aumento dos incêndios florestais, o abandono das terras e ao uso indevido destas espécies como fixadoras de taludes das bermas das estradas, levaram a que muitas destas espécies que já se encontravam naturalizadas, se tornassem invasoras de comunidades semi-naturais e comunidades ecologicamente estáveis, com consequências graves para os ecossistemas florestais e para a economia do sector florestal nacional (Fernandes, 2008). A acácia que mostra ter mais potencial invasor em Portugal Continental é provavelmente a Acacia dealbata Link. mais popularmente conhecida como mimosa (fig. 1.5) (Marchante, 2005). É uma árvore nativa do sudeste da Austrália e da Tasmânia, de crescimento rápido e pode atingir alturas até 30 m. Plantada nas regiões quentes da Europa, como ornamental, pela madeira e para estabilizar solos. Tornou-se naturalizada na região mediterrânica. O ritidoma é liso e cinzento-esverdeado. Os ramos, raminhos e folhagem são branco-prateado a amarelado devido ao indumento. As folhas são tripinuladas. Os folíolos são 20-25 pares, cada um cerca de 5 mm. As glândulas são numerosas, ocorrendo de forma irregular no ponto de inserção do ráquis. Os Capítulos são em forma de rácimos ou panículas terminais ou axilares, amarelo-vivo, com 5-6 mm de diâmetro e 30-40 flores em cada. A vagem (410×1-1,2 cm) é comprida (FAPAS, 1996). O seu habitat preferido de invasão são terenos frescos dos vales ou margens de cursos de água, solos siliciosos, áreas florestais de zonas montanhosas permanecendo arbustiva em condições de secura e áreas adjacentes a vias de comunicação. Possui características que facilitam a invasão, reproduz-se vegetativamente formando vigorosos rebentos de touça ou raiz após o corte e também se reproduz por via seminal produzindo muitas sementes, que se acumulam em bancos de sementes muito numerosos, permanecendo viáveis no solo durante muitos anos, havendo estudos que indicam até 300 a 400 anos, onde aguarda o ciclo seguinte de perturbação, principalmente através do estímulo pelo fogo, sendo depois dos incêndios florestais o principal fator de invasão dos terrenos. As sementes são dispersas por animais, sobretudo pássaros e formigas, e, por vezes, por ventos fortes o que 7 leva à formação de focos de invasão dispersos e/ou afastados das áreas invadidas. Forma povoamentos muito densos que impedindo o desenvolvimento da vegetação autóctone, diminuindo o fluxo dos cursos de água e aumentam a erosão. Pertencendo a família Leguminosae, possui naturalmente capacidade de fixar o azoto atmosférico, devido a relação simbiótica com bactérias do género Rhizobium, que vivem em nódulos nas raízes. Esta característica em conjunto com os efeitos alelopáticos, isto é a interação negativa com outras plantas, através da libertação de compostos químicos no ambiente, impedindo o desenvolvimento destas, fornecem a Acacia dealbata vantagens no estabelecimento, persistência e competição em ecossistemas em que é introduzida (Marchante, 2005). O controlo de uma espécie invasora exige uma gestão bem planeada, que inclua a determinação da área invadida, identificação das causas da invasão, avaliação dos impactes, definição das prioridades de intervenção, seleção das metodologias de controlo adequadas e sua aplicação. Posteriormente, será fundamental a monitorização da eficácia das metodologias e da recuperação da área intervencionada, de forma a realizar, sempre que necessário, o controlo de seguimento (Marchante, 2005). As metodologias de controlo usadas em Acacia dealbata incluem: controlo físico (arranque manual, corte com motorroçadora e descasque), controlo físico+químico (corte combinado com aplicação de herbicida), controlo químico (aplicação foliar de herbicida e injeção com herbicida), controlo biológico e fogo controlado (Marchante, 2005). Atualmente a principal utilidade dada às acácias e mais concretamente a mimosa, em várias zonas de Portugal incluindo o Gerês, é a de lenha, sendo denominada por “lenha dos pobres” devido ao seu baixo custo (Fernandes, 2008). 8 Figura 1.5 – Morfologia da Acacia dealbata Link. (e hábito, f ritidoma, g folha, h flores, i vagem). Fonte: FAPAS (1996). 1.2.2 Alecrim O alecrim (Rosmarinus officinalis L.) é um arbusto de folhagem perene com altura entre 0,5 a 2 m, da família Lamiaceae, do género Rosmarinus (Marchiori, 2004). Os ramos são castanhos, eretos, pubescentes nos troços jovens. As folhas são coriáceas, persistentes, sésseis, lineares, levantadas, verdes e pontuado-rugosas na página superior, brancotomentosas na página inferior, com a margem revoluta. As flores são agrupadas em cimeiras axilares racimiformes, com bractéolas pequenas ovado-lanseoladas, tomentosas, caducas. O cálice é tomentoso-pubescente, verde ou purpurescente. A coroa com 10-12 mm é azulada, raras vezes rosada ou branca. A floração ocorre durante quase todo o ano mas essencialmente entre janeiro e maio. As flores são altamente melíferas. A maturação dos frutos dá-se na sequência da floração (Boas, 2013). É espontâneo da região do Mediterrâneo, onde cresce em solos de origem calcária, terrenos rochosos e arenosos do litoral (Espanha, Itália, Grécia, Norte de África e na Dalmácia, uma região comum à Hungria e à Áustria), e eventualmente, em outras regiões até 1500 m de altitude como no centro e sul de Portugal, Ilhas Canárias, Ilhas dos Açores e da Madeira. 9 Também cresce nativa em regiões da Turquia, Líbano e Egipto (fig. 1.6). É também conhecido como alecrim-comum, alecrim-de-jardim, alecrim-de-horta, rosmarinho, ervacoada, erva-da-graça, flor-de-olimpo, rosa-marinha, rosmarinho. O alecrim é plantado, para fins comerciais, sendo que a sua boa qualidade está relacionada com as condições edafoclimáticas (Marchiori, 2004). Esta planta tem várias propriedades, entre elas, antiespasmódico, antisséptico, colagogo, diurético, estimulante, estomáquico, tónico e vulnerário. As partes utilizadas são as flores e as folhas e nelas se encontram componentes tais como, óleo essencial, ácidos orgânicos, heterósidos, saponósidos e colina (Graça et al., 1983). E ainda 5-hidroxi-7,4dimetoxiflavona, princípios amargos, nicotinamida, vitamina C, um diterpenóide tricíclico, o ácido carnosólico, de propriedades antioxidantes para os ácidos gordos insaturados, diversos triterpenóides (α e β-amirinas, epi-α-amirina, betulina, β-sistosterina e derivados dos ácidos ursólicos e oleanólico), um alcaloide rosmaricina e o ácido rosmarínico, pineno, confeno, 1,8-cineol, monoterpenos (borneol e limoneno), acetato de bornila, cânfora, diterpenos (carnosol, rosmanol), lineol, flavonoides e saponina (Marchiori, 2004). É utilizado na medicina, culinária e farmacêutica (Graça et al., 1983). Na medicina e farmacêutica, o alecrim tem aplicações vastas, através de chás e tinturas, é utilizado para combater problemas das vias respiratórias, como asma, gengivites, constipações, tosse, febres, resfriados, congestão nasal, aftas e bronquite; é um estimulante da atividade mental, fortalece a memória, alivia as enxaquecas, nervos, stress, ansiedade e é um antidepressivo; alivia as dores reumáticas, artrite, contusões e cansaço muscular; combate problemas de pele, como acne, sarnas, eczemas, caspa, cabelos oleosos e ajuda na cicatrização de feridas; estimula a circulação sanguínea, o ritmo cardíaco e alivia problemas de hipotensão; estimula as funções renais, melhora o funcionamento do aparelho digestivo, da vesícula e da bílis e promove a irrigação do fígado; possui propriedades anti-sépticas inibindo o crescimento de bactérias (Marchiori, 2004). Na culinária, o alecrim é utilizado em vários pratos, principalmente em carnes e aves, entrando também na composição de molhos, omeletes, sopas, cozidos, peixe, batatas assadas, carne de porco, linguiças e salsichas. É indicado também no preparo de churrascos. Em algumas zonas é também utilizado para dar sabor ao carneiro, cabrito e vitelo (Marchiori, 2004). 10 Formas de propagação do alecrim são por sementes na primavera ou verão brando e por estacas antes ou depois da floração mais intensa. A propagação por sementes pode resultar em indivíduos com características diferentes e consequentes concentrações de princípios ativos variadas (Marchiori, 2004). A germinação das sementes pode ser lenta. Quando as plantas tiverem o tamanho suficiente para se manejar, mudam-se para vasos individuais e, se for necessário, proteja-as do frio no primeiro inverno. Plantam-se nos locais definitivos na primavera (Boas, 2013). As plantas originadas por estacas alcançam a maturidade mais rapidamente, e reproduzem sempre as características da planta-mãe (Marchiori, 2004). Por estacas, estas são semi-lenhificadas de 10-20 cm com um nó, em junho/julho (bastante fácil, enraízam normalmente dentro de 3 semanas). Também com ramos verdes, no início da primavera, plantando-se depois no início do verão. Ainda por mergulhia, no verão (Boas, 2013). Alguns agricultores europeus propagam o alecrim por divisão de touceiras (Marchiori, 2004). Sementeiras e viveiros devem ser localizados em lugares que recebam bastante luz solar, mas protegido dos ventos. Quanto mais longo o dia, mais alta é a planta do alecrim. Não apresenta afinidade com baixas temperaturas e humidade (Marchiori, 2004). O leito deve ser de terra arenosa, misturada com terra vegetal ou composto bem curtido, misturado com esterco. As sementes devem ser colocadas em sulcos de meio centímetro de profundidade, distanciados por 15 cm. Cobrem-se as sementes com terra peneirada e areia bem fina. Quando as plantinhas tiverem atingido alguns centímetros, elas devem ser passadas para o viveiro e distanciadas 15 cm umas das outras. Antes dessa operação, pode efetuar-se um desbaste na sementeira, caso isso se faça necessário, para eliminar plantinhas frágeis e para abrir mais espaço para as raízes e partes aéreas das restantes. Dependendo das circunstâncias, as plantinhas devem permanecer no viveiro até 2 anos, a fim de desenvolverem bem o seu sistema radicular antes do transplante para o local definitivo no outono ou primavera do primeiro ou segundo ano. No local definitivo, pode-se espaçar as mudas de 90 a 120 cm ou manter 120 cm entre a fila e outra onde se assentam as mudas. Estas medidas podem ser diminuídas conforme o porte final das plantas adultas (Marchiori, 2004). A estacaria é efetuada depois da floração plena e consiste em estender e fixar um ramo novo de uns 50 cm ao nível do chão e cobri-lo com terra para que, neste ponto, sejam emitidas novas raízes. É necessário esperar ate ao fim do verão ou outono subsequente para 11 poder cortar e separar a nova planta da planta-mãe, e plantá-la no seu local definitivo, com espaçamento de 90 cm a 120 cm, como se fosse uma muda produzida por semente (Marchiori, 2004). A estacaria consiste em se escolher ramos novos emitidos pela planta-mãe na primavera anterior, e cortá-los em pedaços de 15 cm de comprimento, antes ou depois da floração plena; eliminam-se as folhas inferiores de cada uma das estacas de 15 cm, as quais são enterradas 10 cm (2/3) em terreno arenoso, porém fértil, sombreado, em filas distantes de 15 a 25 cm. É aconselhável tratar estas estacas com fito-hormonas para acelerar o processo de formação radicular. O enraizamento das estacas de alecrim costuma levar de 3 a 4 semanas, mas elas só devem ser transplantadas no outono do ano seguinte, quando então já são plantas dotadas de vigor vegetativo (Marchiori, 2004). Figura 1.6 – Morfologia do alecrim. Fonte: SC (2013). 12 1.2.3 Azereiro O azereiro (Prunus lusitanica L.) é um arbusto ou árvore de folhagem perene, de 3-8 m (mais raramente até 20 m) da família Rosaceae, do género Prunus. O ritidoma é preto e liso ou ligeiramente escamoso. Os ramos são divergentes. Os raminhos são frequentemente matizados de vermelho-escuro, glabros. As folhas (8-13×2,5-7 cm) são ovadas a oblongolanceoladas, acuminadas, arredondadas na base, margens regularmente crenadas ou denticuladas, glabras e bastante coriáceas, verde-escuras e lustrosas na página superior, verde-amareladas na página inferior. O pecíolo tem cerca de 2cm, matizado de vermelhoescuro, sem glândulas. Os rácimos têm 15-28 cm, até 100 flores, flagrantes, excedendo a folha da axila onde se encontra. O pedicelo tem 0,5-1 cm. O hipântio é campanulado. As pétalas (4-7 mm) são branco-creme. Os frutos (0,8-1,3 cm) são ovóides ou cónicos a subglobosos, ligeiramente apiculados, negro-púrpura, glabros. O endocarpo é subgloboso, levemente carenado, liso. A floração ocorre em Junho. Sendo também conhecido como loureiro-de-Portugal ou ginjeira- brava, é uma espécie nativa de Portugal, Espanha e SO de França (FAPAS, 1996) (fig. 1.7). Pela sua beleza tem sido utilizado desde o séc. XVIII com fins ornamentais, embora com menos intensidade do que o desejável na Península Ibérica, onde seria muito apropriado aproveitá-la para jardinaria. Apesar do seu interesse científico, ecológico e ornamental conhecem-se muito poucos trabalhos sobre esta espécie (Ribeiro et al., 1997). Esta espécie é considerada uma relíquia do período Terciário, quando ocorreram alterações climáticas em que o ambiente tornou-se mais árido e o azereiro, tal como a maioria dos sobreviventes terciários (Ilex aquifolium, Viburnum tinus, Arbutus unedo, etc), procurou refúgio ao abrigo das copas das formações arbóreas caducifólias. Encontra-se em comunidades de meia montanha ou na orla exterior das comunidades ripícolas e vales húmidos dos sistemas montanhosos peninsulares, onde cresce em solos húmidos com boa drenagem (Ribeiro et al., 1997). Necessita de chuvas frequentes e nevoeiros. Vive em climas suaves, sem neve e poucas geadas. Os seus frutos e folhagem atraem muitas aves, tanto para se alimentarem como para nidificarem (Boas 2013). É cultivada essencialmente como planta ornamental devido a sua beleza, sendo utilizada em sebes. O fruto é muito amargo e não comestível, mesmo quando totalmente maduro, podendo ser tóxico (Ribeiro et al., 1997). Boas (2013) afirma que os seus frutos, embora possam ser comestíveis, não devem ser ingeridos em grandes quantidades, nem se forem 13 demasiado amargos, como normalmente acontece. Os frutos provavelmente contêm cianeto de hidrogénio. É o ingrediente que dá às amêndoas o seu sabor característico. A não ser que sejam muito amargos, não deverão constituir problema em pequenas quantidades. Em pequenas quantidades o cianeto de hidrogénio tem demonstrado ser benéfico para estimular a respiração e a digestão, sendo também bom para o tratamento do cancro. Contudo em excesso pode causar falência respiratória e morte. Formas de propagação do azereiro são por semente ou estacas. Por semente requerem 2 a 3 meses de estratificação a frio, assim que estiverem maduras. As sementes podem ser bastante lentas a germinar, às vezes 18 meses. Assim que as plantas tenham um tamanho razoável para poderem ser manuseadas, separam-se em vasos individuais. Protegem-se as pequenas árvores do frio durante o primeiro inverno e plantam-se na primavera ou outono do ano seguinte nos locais desejados. Por estacas, estas são semi-lenhificadas com um pouco do ramo anterior na sua base em julho/agosto ou maduras em outubro. Também por alporquia na primavera. (Boas, 2013). Figura 1.7 – Morfologia do azereiro. (a hábito, b raminho em flor, c frutos maduros). Fonte: FAPAS (1996). 14 1.3 Enraizamento No enraizamento de estacas, o processo mais generalizado é o da utilização de estacas caulinares, destacadas dos ramos de 1-3 anos das plantas-mãe com dimensões variáveis de um diâmetro mínimo de 2 cm e comprimento até 20 cm, incluindo um, dois ou três gomos, mas eliminando a zona da ponta do ramo. Podem ser recolhidas no fim do Outono, ficando conservadas em areia humedecida até à colocação no terreno na Primavera (Fernandes, 2009). Em todos os métodos de propagação vegetativa é muito importante usar plantas-mãe, sãs, moderadamente vigorosas e rigorosamente identificadas. Plantas diminuídas por geadas, secura excessiva, pragas e doenças, ou excessiva frutificação anterior devem ser sempre evitadas. Devemos ter presente que neste modo de propagação o material original e as características da planta-mãe se vão reproduzir exatamente sem variações genéticas. As estacas são preparadas, aproveitando-se na generalidade dos casos os lançamentos do ano anterior, selecionando a planta-mãe de acordo com as características atrás referidas. Aos lançamentos donde se cortam as estacas devem corresponder crescimentos médios, quer dizer nem muito grandes nem muito pequenas distâncias entre nós. É também importante cortar as estacas na parte central ou basal dos lançamentos, zonas onde se acumulam maiores quantidades de reservas nutritivas necessárias ao desenvolvimento das novas raízes até a planta ser auto-suficiente. O comprimento das estacas varia normalmente de 10 a 30 cm com diâmetro de pelo menos 8 mm. Cada estaca deverá ter pelo menos 2 gomos, mais vulgarmente 3, sendo o corte basal logo abaixo dum gomo e o corte superior 1,5 a 3 cm acima dum gomo; normalmente as estacas são constituídas só por lenho de um ano, no entanto pode usar-se estacaria de maiores dimensões, que inclua “lenho velho”, vulgar quando não se faz o selecionamento dos ramos, usando-os inteiros. Há ainda que salientar, dada a necessidade de saber quando da plantação qual a parte superior da estaca e qual a sua parte inferior, ser vulgar cortar a parte inferior em bisel e deixar a parte superior direita. As estacas devem ser de preferência enraizadas em solos franco arenosos sendo de qualquer modo desprezar os solos pesados argilosos (Fernandes, 2009). A facilidade de enraizamento varia de espécie para espécie, é maior quando as estacas são tiradas de plantas jovens, sendo além disso possível usar substâncias promotoras de enraizamento, como o ácido indolbutírico, em concentrações relativamente elevadas, pois além de se aumentar a velocidade de enraizamento e a percentagem de plantas enraizadas, 15 obtém-se geralmente melhores sistemas radiculares. As estacas são vulgarmente dos lançamentos do ano anterior. O enraizamento deve ser feito, preferencialmente, em estufas bem iluminadas em ambiente húmido: são vulgares humidades relativas do ar de 95-100% e temperaturas de 24 a 26ºC, no “leito” de enraizamento (Fernandes, 2009). Quanto ao meio de enraizamento terá de ser húmido, oxigenado e livre de doenças. Pode não ter nutrientes até as estacas estarem enraizadas. No que se refere às condições internas da planta, o enraizamento das estacas é influenciado, entre outras coisas, pela presença de auxinas. No enraizamento, a auxina produzida nas folhas e nos gomos move-se para a parte inferior da estaca, juntamente com os hidratos de carbono e outras substâncias, sendo a combinação dos níveis destes compostos que parece determinar a maior ou menos qualidade de enraizamento. O uso de auxinas artificiais como o ácido indolbutírico, e ainda os ácidos naftalenoacético e indolacético, em concentrações apropriadas, facilitam o enraizamento, havendo no entanto plantas quem nem assim enraízam (Fernandes, 2009). Existem também hormonas de enraizamento de fabrico “caseiro”, à base de casca e galhos de salgueiro. Estes são colocados num frasco de vidro, ao qual é adicionado água a ferver, deixando repousar esta mistura algum tempo. No dia seguinte retira-se a casca e os galhos e guarda-se o preparado no frigorífico. Depois é só mergulhar a extremidade da estaca nessa mistura durante um período de tempo (Fernandes, 2009). Das auxinas naturais sintetizadas pelas plantas, a primeira a ser descoberta foi o ácido indol-3-acético (AIA) em 1930, sendo esta mais abundante e de maior relevância fisiológica nas plantas. Além do AIA existem outros tipos de auxinas, como por exemplo: o ácido 4-cloroindolil-3-acético (4-cloroAIA), o ácido fenilacético e o ácido indolil-3-butírico (AIB) (Kerbauy, 2008). O ácido salicílico foi originalmente descoberto devido às suas ações antipirética e analgésica e foi inicialmente extraído da casca do salgueiro, tendo sido isolado em 1827, o seu princípio ativo, a salicilina. Dele se extrai o álcool salicílico, que pode ser oxidado para o ácido salicílico. O ácido salicílico é uma fito-hormona, encontrando-se largamente distribuído no reino vegetal, sobretudo sob a forma de éter metílico (salicilato de metilo), mas também na forma livre em certos frutos como morangos e uvas. Entre os vários efeitos como fito-hormona, o ácido salicílico retarda a senescência das flores, interferindo com a produção de etileno, induz a floração em algumas espécies e tem um papel importante na resistência das plantas às doenças (Kerbauy, 2008). Para além do ácido salicílico, também 16 se pode extrair do salgueiro o ácido indolbutírico (IBA), que está presente em grandes concentrações nas regiões em crescimento dos ramos de salgueiro. O tratamento com as substâncias promotoras de enraizamento, faz-se mergulhando as extremidades basais das estacas durante um dado período de tempo nas soluções a concentrações apropriadas, sendo uso recorrente o tratamento com pó (polvilhamento da base da estaca) (Fernandes, 2009). Relativamente às condições específicas de enraizamento do alecrim e do azereiro temos um pH ótimo do substrato entre 5,5 e 6,0; a temperatura da bancada de enraizamento de 22ºC; a rega automática 60 segundos de 12 em 12 minutos; a época do ano e o tempo necessário para o enraizamento são respetivamente na primavera e um mês e meio a dois meses. 1.4 Objetivos do trabalho Os objetivos deste trabalho consistiram na avaliação de compostos finais de arbustos de espécies lenhosas invasoras, produzidos na empresa Leal & Soares, com base na sua avaliação físico-química, como componente para a formulação de substratos hortícolas, nomeadamente de substrato de enraizamento. Este trabalho inseriu-se no âmbito do Projeto I&DT Empresas em Co-Promoção CEI-13584: Compostagem de espécies invasoras, no programa COMPETE, do QREN, coordenado pela Escola Superior Agrária de Ponte de Lima/IPVC (ESA/IPVC). Para esta avaliação, realizou-se um ensaio de enraizamento de estacas de alecrim e de azereiro, utilizando-se o substrato comercial Siro Plant constituído por composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo e substratos com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia. Considerando a impossibilidade de utilização de hormonas de enraizamento sintéticas no modo de produção biológico, foi ainda objetivo deste trabalho a avaliação de uma hormona natural, de uso tradicional, feita a partir de uma infusão de cascas e ramos de salgueiro. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Estacas O material vegetal, ramos de alecrim e de azereiro provenientes de plantas-mãe, foram provenientes do viveiro da Raiz da Terra. Posteriormente na ESA/IPVC, onde decorreu o 17 ensaio, prepararam-se 450 estacas caulinares de cada espécie com comprimento médio de 10 cm. 2.2 Substratos Os substratos utilizados foram 5. O substrato comercial Siro Plant constituído por composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e substratos com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100) (quadro 2.1). Estes compostos foram misturados com 20% de perlite. Como testemunha foi utilizado o substrato adequado ao enraizamento das espécies (Sc), recomendado pelo viveiro Raiz da Terra, igualmente misturado com 20% de perlite. Quadro 2.1 – Composição dos substratos utilizados no ensaio. Designação Composto Composto acácia casca pinheiro Turfa volume (%) A0 0 70 30 A30 21 49 30 A60 42 28 30 A100 70 0 30 Fonte: Mourão, 2013. O substrato (Sc) recomendado pelo viveiro Raiz da Terra era constituído maioritariamente por turfa loira e, ainda, casca de coco e perlite. Mais informações no Anexo. A colheita das amostras para a análise química dos substratos, foi efetuada no mesmo dia em que se iniciou o ensaio. Recolheu-se para cada substrato 4 amostras de 0,5 kg e cada amostra foi colhida com 20-30 subamostras retiradas com uma colher. Os resultados da análise química dos substratos encontram-se no quadro 2.2. Quadro 2.2 – Características químicas dos substratos. MS pH % CE dS m C/N N-NH4+ MO -1 g kg -1 N-NO3-1 --- mg kg --- N P K Ca Mg Fe -1 ------------- g kg ------------- A0 41,8 6,1 0,3 842 64 12 150 7,4 0,8 4,2 11,8 1,0 2,6 A30 45,3 5,1 1,1 723 42 15 891 9,5 0,9 4,3 17,7 1,4 2,8 A60 46,2 5,6 1,2 652 33 11 810 11,0 0,9 4,3 17,6 1,4 2,9 A100 48,5 6,2 1,0 519 23 31 323 12,4 0,8 4,1 23,4 2,1 3,4 Fonte: Brito, 2013. 18 As características do substrato Sc recomendado pelo viveiro Raiz da Terra encontram-se no Anexo. 2.3 Hormonas de enraizamento Os três tratamentos com hormonas de enraizamento foram os seguintes: sem hormona (H0), com hormona natural (HB) e com hormonas sintéticas (HQ). A hormona natural com propriedades de hormona de enraizamento e de uso tradicional, foi feita através de uma infusão de cascas e ramos de salgueiro, com o seguinte procedimento: 50 g de cascas e 50 g de ramos foram colocados num frasco de vidro de 1 litro e adicionouse água após fervura. Fechou-se o frasco e deixou-se repousar 3 dias, sem levar ao frigorífico. Ao fim dos 3 dias, coou-se para outro frasco e colocou-se no frigorífico para posterior utilização. A infusão foi aplicada mergulhando-se a parte basal das estacas durante 3 horas, e em seguida as estacas foram colocadas no substrato de enraizamento, em tabuleiros colocados na bancada de enraizamento. As hormonas sintéticas utilizadas foram fornecidas pelo viveiro Raiz da Terra. A sua formulação em pó continha as hormonas ácido indolbutírico (AIB) e ácido naftilacético (ANA) e o fungicida Captan. Neste caso mergulharam-se as extremidades basais das estacas no pó. 2.4 Condições específicas de enraizamento Relativamente às condições específicas de enraizamento do alecrim e do azereiro, o pH ótimo é de 5,5-6,0 e o enraizamento deve ser feito durante a primavera. O enraizamento ocorreu com as estacas herbáceas colocadas em tabuleiros com alvéolos, colocados na bancada de enraizamento, com a temperatura de 22ºC. 2.5 Tratamentos Os tratamentos para cada espécie foram os seguintes: 5 substratos (Sc, A0, A30, A60, A100) × 3 hormonas (H0, HB, HQ) = 15. 3 repetições => 45 tratamentos. 10 estacas por cada repetição. 15×3×10 = 450 estacas. 19 2.6 Ensaio O ensaio realizou-se nas estufas da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima e teve início dia 14 de Março e fim no dia 9 de Maio (fig. 2.1, 2.2, 2.3, 2.4 e 2.5). Utilizou-se rega automática (todos os dias das 8 às 18 horas) 60 segundos de 12 em 12 minutos, na última semana foi de 10 segundos de 12 em 12 minutos. Estufa SC3 A63 A11 A03 A13 A61 A01 A33 Bancada de enraizamento no estufim A02 A13 A01 A31 SC1 A62 A12 A33 A61 A32 Tabuleiros azereiro A02 A63 A11 A62 A12 SC2 A03 SC3 A31 A32 Tabuleiros alecrim SC2 SC1 Figura 2.1 – Disposição dos tabuleiros em alvéolos com os diferentes tratamentos e repetições. Figura 2.2 – Estufas da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima. Fonte: Reis (2007). 20 Figura 2.3 – Estacas caulinares de alecrim e azereiro em tabuleiros de 40 alvéolos, colocados na bancada no estufim. Fonte: Mourão (2013). 21 Figura 2.4 – Estacas caulinares de alecrim no tabuleiro de 40 alvéolos, com os 3 tratamentos com hormona de enraizamento (HQ, HB e H0). Fonte: Mourão (2013). 22 Figura 2.5 – Estacas caulinares de azereiro no tabuleiro de 40 alvéolos, com os 3 tratamentos com hormona de enraizamento (HQ, HB e H0). Fonte: Mourão (2013). 2.7 Avaliação das estacas No final do ensaio retiraram-se as estacas uma a uma e procedeu-se à sua avaliação através de uma escala (fig. 2.6 e 2.7), comprimento da raiz e contagem do número de novos rebentos. 23 Figura 2.6 – Escala de avaliação da quantidade de raízes formadas em estacas de alecrim, 55 dias após a plantação, através do seu volume (comprimento e nível de ramificação das raízes). Foram considerados 4 níveis. Fonte: Mourão (2013). Figura 2.7 – Escala de avaliação da quantidade de raízes formadas em estacas de azereiro, 55 dias após a plantação, através do seu volume (comprimento e nível de ramificação das raízes). Foram considerados 4 níveis. Fonte: Mourão (2013). 2.8 Análise estatística Recorreu-se ao software aplicativo Statistical Package for Social Sciences- SPSS, versão 15.0 para obter a comparação das médias entre os tratamentos, sendo realizada pela 24 diferença mínima significativa, após análise de variância. A significância estatística foi indicada para o nível de probabilidade P = 0,05. 3. RESULTADOS 3.1 Enraizamento de Alecrim (Rosmarinus officinalis L.) A interação entre os fatores substratos e hormonas de enraizamento não foi significativa para nenhum dos parâmetros de enraizamento analisados. A percentagem de estacas de alecrim sem raiz situou-se entre os 11,1 e 23,4% sem diferenças significativas entre todos os tipos de substrato de enraizamento utilizados (fig. 3.1). A percentagem de estacas que se apresentaram secas ou com sintomas de apodrecimento foi menor (10,0%) no substrato constituído por 30% de turfa e 70% de composto de acácia (A100), em comparação com as estacas no substrato que continha 30% de turfa e 70% de composto de casca pinheiro (A0), que foi de 24,4%, sendo este valor idêntico ao dos restantes tratamentos, em média 16,3% (fig. 3.1). Considerando o fator hormona de enraizamento, a percentagem de estacas sem raiz e de estacas mortas de alecrim onde se aplicou a hormona natural (HB) foi respetivamente de 34,0% e 31,3%, valor significativamente superior (p <0,05) à não aplicação de hormona (H0) e à aplicação de hormonas sintéticas (HQ), cujas percentagens foram semelhantes, em média com 8,7% de estacas sem raiz e 9,3 de estacas mortas (fig. 3.1). (b) 40 40 35 35 30 30 a' 25 20 15 a a a'b' a a'b' a'b' a a b' 10 Percentagem Percentagem (a) a a' 25 20 15 b b' 10 5 b' b 5 0 0 Sc A0 A30 A60 Tratamentos s/ raiz Morta A100 H0 HB HQ Tratamentos s/ raiz Morta Figura 3.1 – Percentagem de estacas sem raiz e de estacas mortas de alecrim, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por 25 quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ). A percentagem de enraizamento de estacas de alecrim variou entre 61,1% e 72,2% e foi em média de 66,2% sem diferenças significativas entre todos os tipos de substrato de enraizamento utilizados (fig. 3.2). No entanto, o comprimento das raízes foi superior (em média 5,6 cm) nas estacas que enraizaram no substrato comercial (Sc) e no substrato constituído por 30% de turfa, 49% de composto de casca pinheiro e 21% de composto de acácia (A30), sendo este ultimo tratamento idêntico aos restantes, cujo comprimento médio da raiz foi de 4,2 cm (fig. 3.2). Nos tratamentos com hormonas de enraizamento, a percentagem de enraizamento foi de 82,0% em média para os tratamentos H0 e HQ e foi bastante inferior (34,7%) com a aplicação de hormona natural (HB), tendo-se verificado idênticos resultados para o comprimento das raízes, nomeadamente 3,7 cm para HB e 5,3 cm, em média, para H0 e HQ (fig. 3.2). 7 a' b' 70 a'b' b' b' 5 60 4 50 40 6 a a a a a 30 3 2 20 10 1 0 0 Sc A0 A30 A60 Tratamentos % Enraiz Comp Raíz A100 90 a' a' 80 60 6 5 70 Percentagem Percentagem 80 Comprimento raízes (cm) 90 (b) b' a a 50 4 3 40 30 2 b 20 1 10 0 Comprimento raízes (cm) (a) 0 H0 HB HQ Tratamentos % Enraiz Comp Raíz Figura 3.2 – Percentagem de enraizamento e comprimento da raiz (cm) de alecrim, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ). A avaliação das estacas foi ainda efetuada através de uma escala do nível de raízes (fig. 2.6) e da contagem do número de novos rebentos nas estacas. O nível de raízes foi idêntico para as estacas enraizadas em todos os substratos em estudo, em média, de nível 2,0 (fig. 3.3) e foi inferior com a aplicação de hormona natural (nível 1,6), em comparação com a 26 não aplicação de hormona e com a hormona sintética que apresentaram um nível de raízes idêntico, em média, de 2,2 (fig. 3.3). a a a a a' 6 5 a'b' 1,5 4 b' b' b' 1,0 3 2 0,5 1 0,0 0 Sc A0 A30 A60 2,5 7 a a 6 2,0 b a' 1,5 4 b' 1,0 3 2 0,5 1 0,0 0 H0 A100 HB BQ Tratamentos Tratamentos Média nível raízes 5 a' Comprimento raízes (cm) 2,0 7 a Média do nível de raízes (0 a 4) 2,5 (b) Comprimento raízes (cm) Média do nível de raízes (0 a 4) (a) Média nível raízes Comp Raíz Comp Raíz Figura 3.3 – Média do nível de raízes (0 a 4) e comprimento da raiz (cm) de alecrim, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ). A percentagem de estacas de alecrim para cada nível de raízes não foi significativamente diferente para os diferentes substratos (fig. 3.4), mas ocorreram diferenças significativas para as hormonas de enraizamento utilizadas. Assim, para as estacas de nível N0 os resultados correspondem às percentagens de estacas sem raiz e de estacas mortas já referidos, onde a aplicação de hormona natural (HB) resultou em valores significativamente superiores (p <0,05) à não aplicação de hormona (H0) e à aplicação de hormonas sintéticas (HQ), que foram idênticos entre si. Para o nível de raízes N1, a percentagem de estacas foi idêntica em todos os tratamentos. No entanto, para os níveis N2 e N3, a hormona natural resultou numa percentagem inferior de estacas, comparativamente com H0 e HQ. Apenas no nível N4, que correspondeu à maior quantidade de raízes desenvolvidas nas estacas, a hormona natural (HB) resultou numa percentagem de estacas semelhante à aplicação de hormonas sintéticas (HQ), que foi inferior à percentagem alcançada pela não aplicação de hormonas (fig. 3.4). 27 (b) 70 70 60 60 Nível de raízes (%) Nível de raízes (%) (a) 50 40 30 20 10 a a'' 50 a'' 40 30 b'' b 10 b a''' 20 a' a' a'''' Sc A0 A30 A60 H0 A100 HB N1 N2 HQ Tratamentos Tratamentos N0 a''''b'''' b'''' 0 0 a''' a' b''' N3 N0 N4 N1 N2 N3 N4 Figura 3.4 – Percentagem do nível de raízes de alecrim, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ). O número de novos rebentos nas estacas de alecrim, quer o número total (em média de 2,3 rebentos/estaca), quer por intervalos de comprimento dos rebentos, não foi significativamente diferente para os diferentes substratos, nem para os diferentes tratamentos de aplicação de hormona de enraizamento em estudo (fig. 3.5). Para o comprimento dos rebentos de 0-1 cm, 1-2 cm, 2-3 cm e > 3 cm, o número de rebentos foi em média, respetivamente, de 1,5; 0,5; 0,2 e 0,1 rebentos/estaca (fig. 3.5). (b) 3,0 3,0 2,5 2,5 Nº rebentos / estaca Nº rebentos / estaca (a) 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 Sc A0 A30 A60 A100 H0 HB Tratamentos 0-1 1-2 2-3 + 3 cm HQ Tratamentos Nº total rebentos 0-1 1-2 2-3 + 3 cm Nº total rebentos Figura 3.5 – Número de rebentos por estaca de alecrim, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ). 28 3.2 Enraizamento de Azereiro (Prunus lusitanica L.) As respostas da espécie Prunus lusitanica L. às condições de enraizamento das estacas foram diferentes das respostas do alecrim. No entanto, a interação entre os fatores substratos e hormonas de enraizamento, também não foi significativa para nenhum dos parâmetros de enraizamento analisados. A percentagem de estacas sem raízes, com e sem formação de callus, foi idêntica para todos os substratos utilizados, em média, respetivamente, de 7,6% e 9,1% (fig. 3.6). No entanto, a percentagem de estacas que se apresentaram mortas (secas ou com sintomas de apodrecimento) foi superior nas estacas enraizadas com os substratos A30 e A60, constituídos por 30% de turfa e, respetivamente, 49% e 28% de composto de casca pinheiro, e 21% e 42% de composto de acácia. Nestes substratos, a percentagem de estacas mortas foi de 1,1% e de 4,4%, respetivamente, não tendo ocorrido a morte de estacas com nenhum dos restantes substratos (fig.3.6). Considerando as hormonas de enraizamento, a não aplicação de hormona (H0) e a aplicação de hormona natural (HB) causaram uma maior percentagem de estacas sem raízes, com e sem formação de callus, respetivamente, 11,0% e 13,3%, comparativamente, com a aplicação de hormonas sintéticas (HQ), cuja percentagem foi de apenas 0,7% para ambas as situações de estacas sem raízes, com e sem formação de callus (fig.3.6). Não ocorreram diferenças significativas nas estacas mortas, embora em HQ a percentagem tenha sido de 0% e em H0 e HB de 1,7% em média. (a) (b) 18 18 a' 16 a' 16 a 10 a a a 8 6 Percentagem Percentagem 12 a' 14 14 a' a' a'' a' 4 2 b'' 0 Sc A0 A30 a A60 a 10 8 6 s/ calus b'' A100 a'' 2 a'' b b' a'' 0 H0 HB HQ Tratamentos Tratamentos c/ calus a' a 4 a''b'' b'' 12 Morta c/ calus s/ calus Morta Figura 3.6 – Percentagem de estacas com calus e sem calus e estacas mortas de azereiro, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por 29 quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ). A percentagem de enraizamento foi mais elevada (93,3%) no substrato constituído por 30% de turfa e 70% de composto de acácia (A100), em comparação com o A0 e A60 (em média 73,9%), e foi idêntica aos restantes tratamentos Sc e A30, em média 85,0% de estacas enraizadas (fig. 3.7). Os resultados do comprimento das raízes formadas foram idênticos aos da percentagem de enraizamento, sendo maior nos substratos A100, Sc e A30, com um comprimento médio de 3,1 cm e mais baixo no A0, substrato sem composto de acácia, com 2,3 cm de comprimento máximo das raízes, que foi idêntico ao substrato A60 (em média 2,4 cm). A percentagem de enraizamento de 98,7% foi significativamente superior (p <0,05) com a aplicação de hormonas sintéticas (HQ), comparativamente com a não aplicação de hormona (H0) e com a hormona natural (HB), cujas percentagens de enraizamento foram semelhantes entre si, em média, de 74,0%. O comprimento das raízes seguiu a mesma tendência, tendo sido de 3,2 cm com HQ e 2,6 cm para H0 e HB (fig. 3.7). 3 b'c' c' 4 3 80 2 60 40 ab 2 ab a b b 20 1 1 0 0 Sc A0 A30 A60 Tratamentos % Enraiz Comp Raíz A100 a' 120 100 Percentagem Percentagem 100 a'b' a' a'b' Comprimento raízes (cm) 120 (b) b' 4 3 b' a 80 3 2 60 2 40 b b 1 20 1 0 Comprimento raízes (cm) (a) 0 H0 HB HQ Tratamentos % Enraiz Comp Raíz Figura 3.7 - Percentagem de enraizamento e comprimento da raiz (cm) de azereiro, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ). Considerando a escala do nível de raízes das estacas (fig. 2.7), o nível de raízes foi idêntico para as estacas enraizadas em todos os substratos em estudo, em média, de nível 2,1, à excepção do substrato A0 (sem composto de acácia), cujo nível de 1,8 foi inferior (p<0,05) aos restantes tratamentos (fig. 3.8). A aplicação de hormonas sintéticas resultou num maior 30 nível de raízes (2,9), em comparação com H0 (nível 1,8), que também foi superior à aplicação de hormona natural (nível 1,5). 7 2,5 6 a a a a 5 b 2,0 4 1,5 3 1,0 a' a'b' a'b' b'c' c' 2 0,5 1 0,0 0 Sc A0 A30 A60 A100 Tratamentos Média nível raízes a 3,0 6 2,5 2,0 7 5 b c 4 1,5 a' 1,0 b' 3 2 b' 0,5 1 0,0 0 H0 HB HQ Tratamentos Comp Raíz Média nível raízes Comp Raíz Figura 3.8 - Média do nível de raízes (0 a 4) e comprimento da raiz (cm) de azereiro, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ). A percentagem de estacas de azereiro para o nível N0, sem raízes, foi naturalmente idêntico aos resultados da percentagem de enraizamento, ou seja, o nível N0 foi inferior no substrato A100, em comparação com o A0 e A60 e foi idêntico aos restantes tratamentos Sc e A30 (fig. 3.9). A percentagem de estacas com os níveis de raízes N1, N3 e N4 foram idênticas para todos os substratos em estudo, respetivamente, em média, 20,0%, 15,8% e 7,8%. Apenas a percentagem de estacas com o nível de raízes médio N2, foi significativamente superior em A100, em comparação com o A0 e A60 e foi idêntico aos restantes tratamentos Sc e A30 (fig. 3.9). As diferenças das percentagens de estacas N2 destes últimos quatro tratamentos não foram significativas (fig. 3.9). A percentagem de estacas de azereiro com o nível de raízes N2 foi idêntica para os três tratamentos de aplicação de hormonas de enraizamento. Para o nível de raízes N1 a sequência da maior para a menor percentagem de estacas foi de HB, H0 e HQ; para o nível N3 a mesma sequência foi no sentido de HQ, H0 e HB; e para o maior nível de raízes N4, a aplicação de hormonas sintéticas (HQ) resultou em 23,3% de estacas, enquanto a não aplicação de hormona (H0) e a aplicação de hormona natural (HB) não permitiram em nenhuma estaca a formação de raízes equivalente a este nível N4 (fig. 3.9). 31 Comprimento raízes (cm) 3,0 Comprimento raízes (cm) (b) Média do nível de raízes (0 a 4) Média do nível de raízes (0 a 4) (a) (a) (b) 60 a'b' a'b' 40 Nível de raízes (%) Nível de raízes (%) 50 b' 30 20 60 a' a a b' ab ab b 10 50 a' 40 30 20 b' c' A30 A60 c'' b''' A100 N1 N2 b''' H0 HB HQ Tratamentos Tratamentos N0 b 10 0 A0 a''' a a b'' 0 Sc a'' N3 N4 N0 N1 N2 N3 N4 Figura 3.9 - Percentagem do nível de raízes de azereiro, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ). O número total de novos rebentos nas estacas de azereiro foi superior no substrato A60 (2,8 rebentos/estaca) em comparação com os substratos A30 e A100, em média, com 1,7 rebentos/estaca, e foi idêntico aos restantes substratos Sc e A0, com 2,2 rebentos/estaca em média (fig. 3.10). Para o comprimento dos rebentos de 0-1 cm e de 2-3 cm, o número de rebentos foi idêntico para todos os substratos em estudo e foi em média, respetivamente, de 1,3 e de 0,2 rebentos/estaca. Para o comprimento de 1-2 cm, A60 obteve o maior valor (0,8 rebentos/estaca), superior a A100 e idêntico aos restantes tratamentos. Os novos rebentos acima de 3 cm o comprimento, foram significativamente em maior número no substrato A0 (0,2 rebentos/estaca), em comparação com todos os restantes substratos, cujo número de rebentos > 3cm foi idêntico entre si, em média 0,1 rebentos/estaca (fig. 3.10). O número total de novos rebentos nas estacas de azereiro foi superior (p <0,05) sem aplicação de hormona (H0) e com a aplicação de hormona natural (HB), que foram iguais entre si, em média 2,4 rebentos/estaca, comparativamente com a aplicação de hormonas sintéticas (1,5 rebentos/estaca). Para o comprimento dos rebentos de 0-1 cm, 2-3 cm e > 3 cm, o número de rebentos foi idêntico para os três tratamentos de hormonas de enraizamento, em média, respetivamente, 1,3; 0,2 e 0,1 rebentos/estaca. O comprimento dos rebentos de 1-2 cm foi superior para H0 e HB (em média 0,7 rebentos/estaca), em comparação com HQ (0,3 rebentos/estaca) (fig. 3.10). 32 (a) (b) 2,5 b'''' b'''' a a a a a 1,0 0,5 a'''' a''''b'''' 2,0 1,5 3,0 a'''' a''''b'''' Nº rebentos / estaca Nº rebentos / estaca 3,0 a'b' a'' a'b' a'' b''' a'b' a'' a''' a' b' a'' b''' b''' a'' A0 A30 2,0 b'''' a 1,5 1,0 a a' a'' 0,5 1-2 2-3 a'' a'' a''' a''' 0,0 A60 + 3 cm b' a''' A100 H0 HB HQ Tratamentos Tratamentos 0-1 a a' b''' 0,0 Sc a'''' 2,5 Nº total rebentos 0-1 1-2 2-3 + 3 cm Nº total rebentos Figura 3.10 - Número de rebentos por estaca de azereiro, para os tratamentos de (a) substrato de enraizamento: comercial (Sc), composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo (A0) e com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia (A30, A60, A100); e de (b) hormona de enraizamento: sem hormona (H0), hormona natural (HB) e sintética (HQ). 4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES 4.1 Avaliação dos substratos Alecrim a) Os substratos A0, A30, A60 e A100, no enraizamento de estacas de alecrim, comportaram-se de forma idêntica ao substrato comercial (Sc), para os seguintes parâmetros: - Percentagem de estacas sem raiz, que variou de 11,1% a 23,4%; - Percentagem de enraizamento, que variou de 61,1% a 72,2%; - Nível de raízes nas estacas, em média 2,0 numa escala de 1 a 4; - Percentagem de estacas para cada nível de raízes; - Número de novos rebentos nas estacas, em média de 2,3 rebentos/estaca - Número de rebentos, em média, 1,5; 0,5; 0,2 e 0,1 rebentos/estaca, respetivamente, para os comprimentos de 0-1 cm, 1-2 cm, 2-3 cm e > 3 cm. b) Aspetos particulares: 33 - O substrato A0 conduziu a uma maior percentagem de estacas mortas (secas ou com sintomas de apodrecimento) (24,4%) do que o A100 (10,0%), embora ambos os resultados não tenham tido diferenças significativas com os restantes substratos (16,3%). - O Sc e o A30 conduziram a um maior comprimento das raízes (em média 5,6 cm), embora A30 tenha sido idêntico aos restantes (em média de 4,2 cm). Azereiro a) Os substratos A0, A30, A60 e A100, no enraizamento de estacas de azereiro, comportaram-se de forma idêntica ao substrato comercial (Sc), para: - Percentagem de estacas sem raízes, com e sem formação de callus, respetivamente, em média 7,6% e 9,1%; - Percentagem de estacas com os níveis de raízes N1, N3 e N4 (em média, respetivamente, 20,0%, 15,8% e 7,8%); - Número de rebentos/estaca, com o comprimento de 0-1 cm e de 2-3 cm (em média, respetivamente, 1,3 e 0,2 rebentos/estaca). b) Os substratos A30 e A100 comportaram-se de forma idêntica ao substrato comercial (Sc), para os seguintes parâmetros: - Percentagem de enraizamento mais elevada em A100 (93,3%), em comparação com o A0 e A60 (em média 73,9%), e idêntica aos restantes tratamentos Sc e A30 (em média 85,0%); - Comprimento máximo das raízes formadas (A30, A100 e Sc, média 3,1 cm) e mais baixo no A0 que foi idêntico ao A60 (em média 2,4 cm); - Nível médio de raízes (A30, A60, A100 e Sc, em média nível 2,1) foi superior ao substrato A0 (nível 1,8); - Percentagem de estacas com o nível de raízes N2 superior em A100, em comparação com o A0 e A60 e foi idêntico aos restantes tratamentos Sc e A30. As diferenças entre Sc, A0, A30 e A60 não foram significativas. c) Aspetos particulares: - A percentagem de estacas mortas foi de 0% em A0, A100 e Sc, valor inferior ao dos substratos A30 e A60 (1,1% e 4,4%); 34 - Número total de novos rebentos nas estacas foi superior no substrato A60 (2,8 rebentos/estaca), em comparação com os substratos A30 e A100 (média de 1,7 rebentos/estaca), e idêntico aos restantes substratos Sc e A0 (média 2,2 rebentos/estaca); - O número de rebentos/estaca, com o comprimento de 1-2 cm, foi superior em A60 (0,8 rebentos/estaca) em comparação com A100 e idêntico aos restantes tratamentos; - O número de rebentos/estaca, com o comprimento de > 3 cm foi superior em A0 (0,2 rebentos/estaca), em comparação com todos os restantes substratos (em média 0,1 rebentos/estaca). 4.2 Avaliação das hormonas de enraizamento Alecrim a) A aplicação de hormona natural (HB) resultou em efeitos diferentes da não aplicação de hormona (H0) ou da aplicação de hormonas sintéticas (HQ), cujos efeitos foram idênticos entre si, para os seguintes parâmetros: - Percentagem de estacas sem raiz (34,0%) e de estacas mortas (31,3%) superior a H0 e HQ (em média 8,7% e 9,3%); - Percentagem de enraizamento (34,7%) e comprimento das raízes (3,7 cm) inferiores a H0 e HQ (em média 82,0% e 5,3 cm); - Nível médio de raízes (nível 1,6) inferior, em comparação com H0 e HQ (em média 2,2); - Percentagem de estacas com o nível N2 e N3, inferior a H0 e HQ. b) Todas as hormonas se comportaram de forma idêntica: - Percentagem de estacas com o nível de raízes N1; - Número total de novos rebentos nas estacas (em média de 2,3) e número de rebentos/estaca para os diferentes intervalos de comprimento dos rebentos. c) A não aplicação de hormonas (H0) resultou em efeitos inferiores a HB e HQ, cujos efeitos foram idênticos entre si, na: - Percentagem de estacas com o nível N4 foi menor (0,0%) do que HB e HQ (em média 4,7%). 35 Azereiro a) A não aplicação de hormona (H0) e a aplicação de hormona natural (HB) resultaram em efeitos idênticos e diferentes da aplicação de hormonas sintéticas (HQ), para os seguintes parâmetros: - Percentagem de estacas sem raízes, com e sem formação de callus, foi maior (respetivamente, 11,0% e 13,3%), do que HQ (0,7% para ambas); - Percentagem de enraizamento e comprimento das raízes menor (média 74,0% e 2,6 cm), em comparação com HQ (98,7% e 3,2 cm); - Percentagem de estacas de nível N4 (média 0,0%) foi inferior a HQ (23,3%); - Número total de novos rebentos nas estacas foi superior (em média 2,4 rebentos/estaca), do que HQ (1,5 rebentos/estaca); - Número de rebentos com o comprimento de 1-2 cm foi superior (em média 0,7 rebentos/estaca), em comparação com HQ (0,3 rebentos/estaca). b) Todas as hormonas se comportaram de forma idêntica: - Percentagem de estacas mortas idêntica em HQ (0,0%) e em H0 e HB (em média 1,7%); - Percentagem de estacas com o nível de raízes N2; - Número de rebentos com o comprimento de 0-1 cm, 2-3 cm e > 3 cm, em média, respetivamente, 1,3; 0,2 e 0,1 rebentos/estaca. c) Todas as hormonas se comportaram de forma diferente: - Nível médio de raízes aumentou no sentido de HB, H0 e HQ, respetivamente nível 1,5; 1,8 e 2,9; - Percentagem de estacas de nível de raízes N1, diminuiu na sequência de HB, H0 e HQ; - Percentagem de estacas de nível N3, diminuiu no sentido de HQ, H0 e HB. 36 5. CONCLUSÕES O enraizamento de estacas de algumas espécies importantes em produção biológica, como as plantas aromáticas e medicinais e os pequenos frutos, constitui um método de propagação vegetativa interessante e economicamente viável, em detrimento da propagação das espécies por semente, devido ao facto do crescimento das plantas ser mais lento e de se manter as características da planta-mãe, sem variabilidade genética. O substrato de enraizamento das estacas, juntamente com a temperatura, humidade e luz, são os principais fatores para o sucesso do enraizamento. Face ao contexto atual da fileira florestal, onde se verifica escassez de matéria-prima e onde é imprescindível desenvolver substratos que possam incluir menores quantidades de outros materiais como a turfa ou a casca de pinheiro, é urgente encontrar outros materiais para utilização em substratos. Este trabalho inseriu-se no âmbito do projeto I&DT Empresas em Co-Promoção CEI13584: Compostagem de espécies invasoras, do programa COMPETE, do QREN, coordenado pelo Professor Miguel Brito da ESA/IPVC, cujos objetivos consistiram na avaliação de compostos finais de arbustos de espécies lenhosas invasoras, produzidos na empresa Leal & Soares, com base na sua avaliação físico-química, como componente para a formulação de substratos hortícolas, nomeadamente de substrato de enraizamento. Para esta avaliação, realizou-se um ensaio de enraizamento de estacas de alecrim e de azereiro, utilizando-se o substrato comercial Siro Plant constituído por composto de casca de pinheiro e turfa, sem adubo e substratos com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia. Considerando a impossibilidade de utilização de hormonas de enraizamento sintéticas no modo de produção biológico, foi ainda objetivo deste trabalho a avaliação de uma hormona natural, de uso tradicional, feita a partir de uma infusão de cascas e ramos de salgueiro. Avaliação dos substratos Em síntese, os substratos com substituição do composto de casca de pinheiro, por quantidades crescentes de composto de acácia, são aptos a serem utilizados como substratos hortícolas destinados ao enraizamento de estacas. Para o alecrim, o substrato comercial (testemunha) e os substratos com e sem composto de acácia comportaram-se de forma idêntica, nomeadamente na percentagem de enraizamento e no comprimento das raízes formadas (em média 66,2% e 4,8 cm). A única diferença 37 encontrada foi o menor comprimento da raiz das estacas de alecrim, à exceção do substrato A30 (constituído por 30% de turfa, 49% de composto de casca pinheiro e 21% de composto de acácia), que produziu raízes de comprimento idêntico ao do substrato comercial. No enraizamento do azereiro, o substrato comercial (testemunha) foi comparável aos substratos A30 e A100 (constituído por 30% de turfa e 70% de composto de acácia), em diversos parâmetros analisados, nomeadamente na percentagem de enraizamento e o comprimento das raízes formadas (em média 87,8% e 3,1 cm), indicando que o composto de acácia, até na sua maior percentagem nestes substratos, é adequado para a propagação de azereiro. No entanto, os outros substratos A0 e A60, também se apresentaram com um bom potencial para a propagação desta espécie, pois inclusivamente, o número total de novos rebentos nas estacas aparentemente foi superior nas estacas enraizadas nos substratos A0 e A60, que apresentaram os valores mais baixos de percentagem de enraizamento e de comprimento de raízes (em média 73,9% e 2,4 cm). De um modo geral e atendendo aos resultados, os substratos de enraizamento que contêm composto de acácia (A30, A60 e A100) poderão constituir uma boa alternativa aos substratos convencionais que contêm composto de casca de pinheiro e turfa (A0). Avaliação das hormonas de enraizamento A hormona natural preparada através de uma infusão de cascas e ramos de salgueiro, teve efeitos negativos no enraizamento das duas espécies alecrim e azereiro, provavelmente por não ter sido preparada ou aplicada de forma adequada. Esta hormona de enraizamento de uso tradicional, poderá ter um grande potencial de utilização no modo de produção biológica ou como substituto das hormonas sintéticas na propagação convencional de plantas. No entanto, deverá de ser estudada e testada em condições laboratoriais e de campo, incluindo a espécie adequada de Salix spp., a dosagem das substâncias ativas promotoras do enraizamento (ácido indol-butírico, IBA e ácido acetilsalicílico), o modo de produção e de aplicação da infusão. Para o alecrim, os resultados indicaram que o enraizamento das estacas poderá ser efetuado sem aplicação de nenhuma hormona de enraizamento, pois a não aplicação de qualquer hormona foi idêntica à aplicação de hormonas sintéticas, em diversos parâmetros, nomeadamente na percentagem de enraizamento e no comprimento das raízes formadas (em média 82,0% e 5,3 cm), enquanto a hormona natural foi bastante inferior (34,7% e 3,7 38 cm). Foi exceção a percentagem de estacas com o maior nível de raízes N4, que foi zero sem aplicação de qualquer hormona e foi de 4,7% com a aplicação de hormonas sintéticas. No enraizamento do azereiro a aplicação de hormonas sintéticas proporcionou melhores resultados, designadamente na percentagem de enraizamento e comprimento das raízes (98,7% e 3,2 cm), em comparação com a não aplicação de hormona que foi idêntica à aplicação de hormona natural (em média 74,0% e 2,6 cm). Ribeiro e Antunes (1997) também referiram as vantagens da utilização de auxinas na propagação por estaca de azereiro. A percentagem de estacas de nível N4 (maior quantidade de raízes) foi de 23,3% com aplicação de hormonas sintéticas e inexistentes sem hormona ou com hormona natural. No entanto, nestas duas últimas modalidades, o número total de novos rebentos nas estacas foi superior (em média 2,4 rebentos/estaca), em comparação com a aplicação de hormonas sintéticas (1,5 rebentos/estaca). 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Kerbauy, G. B., 2008. Fisiologia Vegetal. Editora Guanabara Koogan Lda., 2ª ed. Rio de Janeiro. Mourão, I. M., Reis, M., Brito, M., Rodrigues, R., Afonso, A., Almeida, D. P. F. e Gomes, M. H., 2007. Manual de Horticultura no Modo de Produção Biológico. ESA/IPVC, Ponte de Lima, 198 pp. Brito, L. M., 2011. Características dos substratos para Horticultura. ESA/IPVC, Ponte de Lima, 52 pp. Brito, L. M., Mourão, I., Nestler, H. e Coutinho, J., 2012. Evolução de características físico-químicas durante a compostagem de espécies invasoras de acácia. V Congresso Ibérico da Ciência do Solo, Universidade dos Açores, Departamento de Ciências Agrárias, 1ª ed. Angra do Heroísmo, 60-68. SIRO, 2013. Projeto – Compostagem de plantas invasoras para a produção de substratos. SIRO – Grupo Leal & Soares SA, 9 pp. Fernandes, M. J. S. M., 2008. Recuperação ecológica de áreas invadidas por Acacia dealbata Link. no vale do rio Gerês: um trabalho de Sísifo? Dissertação de Mestrado, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 156 pp. Marchante, E., Morais, M. C., Marchante, H., Reis, C. S., Freitas, H., Carvalho, V. e Gamela, A., 2005. Plantas invasoras: uma ameaça vinda de fora. Universidade de Coimbra. Site disponível: Plantas invasoras em Portugal (Última atualização: 6 Nov. 2013), URL: http://invasoras.uc.pt/gallery/acacia-dealbata/. Consultado em 09 Dez. 2013). Marchiori, V. F., 2004. Rosmarinus officinalis. Monografia de Conclusão do Curso Online Fitomedicina, Fundação Herbarium – Associação Argentina de Fitomedicina, 35 pp. Humphries, C. J., Press, J. R. e Sutton, D. A., 1996. Árvores de Portugal e Europa. FAPAS, Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens e Câmara Municipal do Porto, Porto, 206-207, 212-213. Ribeiro, M. M. e Antunes, M. A., 1997. Enraizamento de Estacas de Azereiro (Prunus lusitanica L. ssp. lusitanica) após Realização de Ferida e Aplicação de Auxina. I Congresso Florestal Hispano-Luso, Pamplona, 3:527-532. Fernandes, J. M. S., 2009. Propagação de Buxus sempervirens por Estacaria. Relatório Final de Projecto, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 19 pp. Graça, J. A. B. e Aires, L. F., 1983. Segredos e Virtudes das Plantas Medicinais. Selecções do Reader´s Digest, SARL, Lisboa, 463 pp. Brito, L. M., 2013. Compostagem de Espécies Invasoras Lenhosas. ESA/IPVC, Ponte de Lima, 62 pp. Boas, R. V., 2013. Florestar.net. Site Disponível: Florestar.net. URL: www.florestar.net/azereiro/azereiro.html, www.florestar.net/alecrim/alecrim.html. Consultado em 10 Dez. 2013. 40 ANEXOS 41 PAPERPOT PLUS (Nº RECETA 18321) COMPONENTES ORGÁNICOS COMPONENTES INORGÁNICOS Turba Rubia Alemana Abonado de fondo Cocopeat Carbonato cálcico (ajuste del pH) APW+ Perlita CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS ESTRUCTURA* pH (CaCl2): 5,3 – 6,1 (5,7) WT Salinidad: 0,4 – 1,2 g/l Perlita T.Rubia Estructura: Fina Cocopeat Perlita COMPOSICIÓN Cocopeat Materia Orgánica: 90 – 96 % N: 40 – 100 mg/l (N) P: 140 – 200 mg/l (P2O5) K: 110 – 170 mg/l (K2O) NUTRIENTES PG – Mix (12/14/24/1) + Elementos traza: 0,6 Kg/m3 Superfosfato (0/46/0) CARACTERÍSTICAS GENERALES Es un producto compuesto de turba rubia procedente de Alemania, perlita y coco, con una estructura adecuada para la elaboración de “Paperpot” así como para el esquejado en bandejas. Este producto lleva un aditivo especial que promueve la generación de raíces y inhibe la aparición de hongos damping-off, tipo Fusarium, Pytium o Rhizoctonia. No deben aplicarse fungicidas incompatibles con el aditivo con este substrato (solicitar listado). Se sirve en sacos verdes de 70 litros y Big Bales de según la norma 12580 EN *WT: Turba Rubia