Avaliação de Bacillus spp. no controle da flor preta do morangueiro, sob condições de laboratório e casa-de-vegetação Valdionei Giassi1; Katia Cristina Kupper2; Camila Kiritani3; Isabel Cristina Sousa4; Edypol Guilherme Batista5 1 Biólogo pesquisador do Centro de Pesquisa Mokiti Okada (CPMO) [email protected]; 2Pesquisadora do Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC [email protected]; 3Bióloga do Centro de Pesquisa Mokiti Okada [email protected]; 4Química do Centro de Pesquisa Mokiti Okada quí[email protected]; 5Estagiário do Centro de Pesquisa Mokiti Okada [email protected] RESUMO A Flor Preta, causada por Colletotrichum acutatum, é uma das principais doenças do morangueiro. Os sintomas mais marcantes são manchas escuras e irregulares em frutos, folhas e flores. O controle da doença é feito por fungicidas que nem sempre se mostram eficientes. Assim, a busca por alternativas de controle se faz necessária e o uso de Bacillus spp. se mostra como técnica promissora. Este trabalho teve por objetivo avaliar diferentes isolados de Bacillus spp. no controle da flor-preta, sob condições de laboratório e de casa-de-vegetação. In vitro, avaliou-se a atividade antagônica e o efeito de substâncias antifúngicas termoestáveis sobre a germinação e o desenvolvimento micelial do patógeno, observando-se que todos os isolados de Bacillus spp. afetaram o crescimento da colônia do fungo, sendo que, cinco deles apresentaram inibições entre 32 e 34%, inibindo de 50 a 53% o crescimento da colônia do fungo e afetaram a germinação de conídios entre 86 a 97%. Dos 11 isolados bacterianos submetidos a condições de casa-devegetação, apenas 2 não diferiram do controle, sendo que o isolado CPMO 3 apresentou 5,4% enquanto o tratamento químico 26,99% de flores com sintomas da flor preta diferindo significativamente entre os tratamentos. Palavras chaves: Controle biológico, cultivo pareado, germinação, substâncias antifúngicas (Kupper et al. 2009; Batista Júnior et al., 2002). Diante do INTRODUÇÃO A flor xananassa Duch.), preta do morangueiro causada (Fragaria exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar isolados por Colletotrichum de Bacillus spp. no controle da flor preta do morangueiro, acutatum, ocasiona sérios problemas em todas as regiões sob condições de laboratório e de casa-de-vegetação. de cultivo, sendo limitante para a cultura em virtude de sua natureza devastadora, podendo causar danos durante MATERIAIS E MÉTODOS todo o ciclo, com perdas de até 50% da produção Os Bacillus spp. utilizados nesse trabalho foram (Almeida et al., 2009). O método mais utilizado para seu isolados a partir de folhas e frutos do morango controle é o uso de fungicidas, que nem sempre são proveniente de propriedade particular, localizada em eficazes, levando a graves problemas, como o surgimento Atibaia – SP; e folhas de café de cultivo espontâneo, de linhagens do fungo resistentes aos princípios ativos totalizando 16 isolados. O fungo C. acutatum foi isolado utilizados (Tanaka et al., 1997; Ghini & Kimati, 2000). de flores do morango com os sintomas da flor preta. Pesquisas buscam desenvolver novas técnicas de se destacada pelo baixo custo e por não acarretar Influência do cultivo pareado de isolados de Bacillus spp. no crescimento micelial de C. acutatum Para avaliar o potencial antagônico dos isolados problemas ao ambiente. A utilização de microrganismos de Bacillus spp. sobre o crescimento micelial do C. antagônicos, como algumas espécies de Bacillus vem se acutatum, foi utilizado o método de cultura pareada em destacando no controle de doenças do filoplano de plantas placa de Petri com meio BDA (Fuga et al., 2011; Dennis controle desta doença, entre elas, o controle biológico que & Webster, 1971). Para isso foram retirados discos de 5 submetidos à análise de variância e as médias comparadas mm de diâmetro, contendo meio e colônias do fungo com pelo teste de Tukey a 5 % (SISVAR). sete dias de idade e, colocados no centro de placas de Bacillus spp. foi colocada a 3 cm de distância da colônia Influência de metabólitos termoestáveis sobre o crescimento micelial de C. acutatum Inicialmente foi preparado um caldo bacteriano do fitopatógeno. Adotou-se um delineamento inteiramente de acordo com Kupper et al. (2009), colônias de bactérias casualizado com 4 repetições, sendo o controle composto foram transferidas em Erlenmeyers com capacidade para somente pelo cultivo do fungo isento do antagonista. 250 ml, contendo 50 ml do meio batata dextrose Petri com o mesmo meio . Uma alçada de cada isolado de Após isto, as culturas foram incubadas em BOD a 25°C, com fotoperíodo de 12 horas. autoclavado (120°C e 1 atm) por 15 minutos. Após a As avaliações incubação em condições de laboratório por 48 horas sob ocorreram quando o fungo da placa controle atingiu as agitação constante, amostras de 10 ml de cada caldo bordas da placa, determinando-se a medição da colônia do fermentado foi transferida para Erlenmeyers, contendo 90 fitopatógeno, com o auxílio de paquímetro digital. Foi ml do meio BDA, que foram esterilizados em autoclave determinada a porcentagem de inibição da colônia de C. (120°C e 1 atm) por 20 minutos. O meio autoclavado foi acutatum pela fórmula: vertido em placas de Petri (20 ml cada) e após a solidificação, foram colocados no centro de cada placa %Inibição=[(cre.mic.tes.-cre.mic.trat.)-cres.mic.test.]x100 um disco de 5 mm de diâmetro de C. acutatum mais meio cre. mic. tes.= crescimento micelial testemunha de cultura. As testemunhas foram constituídas de placas cre. mic. trat.= crescimento micelial tratamento. contendo meio de cultura sem metabólito. O efeito do metabólito foi avaliado através da medição do diâmetro Efeito de Bacillus spp. na germinação de conídios de C. acutatum Foram coletadas suspensões de células da da colônia de C. acutatum, quando o fungo da placa controle atingiu a borda da placa. Usou-se delineamento bactéria e do fungo obtendo-se assim, colônias ativas. inteiramente casualizado com 5 repetições e os dados Adicionou-se 10 L da suspensão de cada isolado de submetidos à análise de variância e as médias dos 6 Bacillus spp. (1 x 10 ufc/mL) e de suspensão de conídios tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5 % . 4 do patógeno (1 x 10 esporos/mL) em áreas demarcadas tratamento testemunha foram colocadas gotas de água Efeito de metabólitos termoestáveis, produzidos por Bacillus spp., na germinação de C. acutatum Para avaliar o efeito da produção de metabólitos salina destilada e esterilizada no lugar dos Agentes de na Controle Biológico (ACBS). Depois as mesmas foram delineamento inteiramente casualizado com 6 repetições colocadas no interior de placas de Petri esterilizadas, por tratamento. Foram retirados 1000 µL de caldo contendo algodão embebido em água esterilizada. As bacteriano autoclavado, isolados, e acrescentado em tubo culturas foram incubadas em B.O.D., no escuro a 25ºC de diluição com 1000 µL de uma suspensão do por 12 horas (Kupper et al., 2009). fitopatógeno (1x104 conídios/ml). O tratamento controle na lâmina, preparadas com meio ágar-água. Para o germinação do fitopatógeno, utilizou-se um Ao término desse período, a cada repetição foi constitui-se apenas de 1000 µL da suspensão e 1000 µL adicionado 10µL de azul lático a fim de inibir o de solução salina. Retirou-se uma alíquota de 20 µL que desenvolvimento do patógeno e de qualquer outro foi depositada em áreas previamente demarcadas em microrganismo e, posteriormente, foi determinado o lâminas com meio Ágar-Água e submetidas à incubação número de conídios germinados e não germinados. Foi por 14 horas no escuro a 25°C. Em seguida, foi realizada utilizado um delineamento inteiramente casualizado, a contagem de conídios germinados e não germinados tendo cada tratamento 6 repetições. Os dados foram (Kupper et al., 2009; Furlani et al., 2007). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias dois melhores o BM16 e o BM24 com 36,6% e 38,4% de comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. antagonismo quando comparado ao controle. O mesmo ocorreu com Kupper et al. (2003) quando todos apresentaram potencial de antagonismo sem sobreposição Ensaio em Casa de Vegetação de colônia. Furlani et al. (2007) e Costa (2001) também O experimento foi realizado em casa de obtiveram resultados satisfatórios na inibição do vegetação no período de maio a setembro de 2013. Sendo crescimento micelial do fitopatógeno com isolados de conduzidos em vasos plásticos com capacidade de 2 kg os Bacillus spp. utilizando a técnica do cultivo pareado. quais foram preenchidos com 45,75% solo argiloso 45,75%, solo arenoso 0,5%, bokashi e 8% capim picado. Cada vaso recebeu uma muda de morango, cultivar Camarosa. O experimento contou com 13 tratamentos: 11 isolados de Bacillus spp que melhor se destacaram na “in etapa vitro”, um tratamento químico (TEBUCONAZOL 200g/l i.a) e um controle (água). exceção dos ACBs BM001, BM14 e BM 25 que estimularam a germinação, os outros agentes afetaram a germinação dos conídios do fitopatógeno, porém os que apresentaram uma porcentagem de inibição melhor em Para a produção das suspensões dos isolados de Bacillus spp, colônias de cada ACB foi multiplicada em Erlenmeyers (dois frascos para cada agente de controle biológico), com capacidade para 125 ml, contendo 50 ml de meio batata-dextrose, agitados a 120 rpm em temperatura ambiente por 48 horas. Efeito de Bacillus spp. na germinação de C. acutatum do morango Nos testes em laboratório verificou-se que, com Os antagonistas relação ao controle foram os agentes de controle biológico: BM18, CPMO3, CPMO4, CPMO5 E CPMO6, com 68,17%, 70,29%, 81,30%, 73,87% e 79,05% . Kupper et al. (2009) observaram que suspensões de células de três isolados de Bacillus spp. e de três isolados de Trichoderma spp., somente dois não inibiram a 7 (1x10 células/mL), o químico (TEBUCONAZOL 200g/l germinação do fitopatógeno. Em outro estudo sobre o i.a) e a testemunha (água) foram aplicados semanalmente efeito de dois isolados de B. subtilis na inibição da por meio de pulverizador manual, sendo aplicado o germinação do C. acutatum (Costa, 2001) verificou que volume de calda suficiente para atingir o ponto de os agentes de controle biológico inibiram a germinação de escorrimento. conídios do patógeno e foram capazes de produzir As aplicações dos tratamentos foram realizadas semanalmente no período da tarde. metabólitos em quantidade suficiente para inibir o No início da fase de florescimento, as plantas foram pulverizadas com uma suspensão de conídios/mL do fungo C. acutatum e submetidas à câmera umida para a germinação dos conídios. As avaliações da incidência da flor preta foram efetuadas ao longo do ciclo da cultura (Gouvea et al., 2009). Foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado com desenvolvimento do fungo. 104 quatro repetiçôes por tratamento, e os resultados submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey a 5%. Influência de metabólitos termoestáveis sobre o crescimento micelial de C. acutatum Cinco dos dezesseis isolados de Bacillus spp. apresentaram inibição do crescimento micelial do fitopatógeno acima de 50%, em relação ao controle, o que revela que mesmo depois de autoclavado os metabólitos mostraram-se estáveis e mantiveram suas atividades. Em estudo semelhante, Kupper et al. (2003) mostrou que dos 60 isolados de Bacillus subtilis, apenas dois não RESULTADOS E DISCUSSÃO obtiveram sucesso, tornando-o um organismo atraente Influência do cultivo pareado de isolados de Bacillus spp. no crescimento de C. acutatum do morango Todos os isolados de Bacillus spp. apresentaram para estudos de controle biológico. antagonismo ao crescimento micelial do fungo, sendo os Efeito de metabólitos termoestáveis na germinação do C. acutatum Dos 16 isolados estudados, apenas dois não inibiram a germinação dos conídios. O ACB que melhor teve resultado obteve 97,01% de inibição. Realizando Agradecimentos A Fundação Mokiti Okada pelo apoio e financiamento do experimento, a Drª Katia C. Kupper pela estudo semelhante, Kupper et al. (2009), utilizou 6 orientação no decorrer do experimento e a todos que de isolados, sendo que apenas um deles não produziu alguma forma contribuiram. metabólitos tóxicos termoestáveis capazes de inibir a germinação do C. acutatum. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Ensaio em Casa de Vegetação Dos onze isolados de Bacillus spp. 9 obtiveram resultados superiores ao tratamento controle correspondendo 5,4 a 26,4% de número de flores com sintomas da doença e o tratamento químico 27% enquanto que o tratamento controle apresentou 45,42%, sendo que o Bacillus spp. correspondente ao tratamento CPMO3 apresentou níveis significativos de controle quando comparado ao tratamento químico, conforme apresentado na Figura 1. Avaliando-se o efeito de diferentes fungicidas ALMEIDA, T. F.; CAMARGO, M.; PANIZZI, R. de. Efeito de extratos de plantas medicinais no controle de Colletotrichum acutatum, agente causal da flor preta do morangueiro. Summa Phytopatholoica. Botucatu, v. 35, n. 3, p. 196- 201, 2009. BATISTA JÚNIOR, C.B., ALBINO, U.B., MARTINES, A.M., SARIDAKIS, D.P., MATSUMOTO, L.S., AVANZI, M.A., ANDRADE, G.; Efeito fungistático de Bacillus thuringiensis e de outras bactérias sobre alguns fungos fitopatógenos. 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Revista do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão, v. 1, n. 8, p. 188-194, 2011. controle da antracnose do morangueiro. Assim o uso de Bacillus spp. pode ser uma alternativa para a substituição do uso de fungicidas químicos no controle da flor preta do morangueiro. FURLANI, A.C.F.A., CAMARGO, M., PANIZZI, R.C., PEREIRA, C.F.; Atividade de células, filtrado e autoclavado de Bacillus ssp. como bioagentes de controle de Colletotrichum acutatum. Científica, Jaboticabal, v35, n2, p. 196-200, 2007. GHIMI, R., KIMATI, H.; Resistência de fungos a fungicidas. Jaguariúna. Embrapa Meio Ambiente, 2000. GOUVEA, A., KUHN, O.J., MAZARO, S.M., MAY-DE MIO, L.L., DESCHAMPS, C., BIASI, L.A., FONSECA, V.C.; Controle de doenças foliares e de flores e qualidade póscolheita do morangueiro tratado com Saccharomyces cerevisiae. Horticultura Brasileira, v27, n4, p.527-533, 2009. Figura 1- Porcentagem de flores com sintomas da flor preta, letras iguais na coluna não diferem estatísticamente pelo teste de Tukey 5% de probabilidade. Conclusões Nas condições estudadas o Bacillus spp CPMO3 se mostrou eficiente no controle da flor preta do morangueiro em casa de vegetação. Entretanto ensaio a campo será necessário para comprovar sua eficiência. KOSOSKI, R.M., FURLANETTO, C., TOMITA, C.K.; Efeito de fungicidas em Colletotrichum acutatum e controle da antracnose do morangueiro. Fitopatol. bras. v26 n3 Brasília. 2001. KUPPER, K.C., BELLOTTE, J.A.M., GOES, A.; Controle alternativo de Colletotrichum acutatum agente causal da queda prematuro dos frutos cítricos. Revista Brasileira de Fruticultura, v.31, n.4, Jaboticabal, 2009. KUPPER, K.C., GIMENES-FERNANDES, N., GOES, A.; Controle biológico de Colletotrichum acutatum, agente causal da queda prematura dos frutos cítricos. Fitopatologia Brasileira 28:251-257. 2003. 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