ATIVIDADE DE Bacillus spp. NO CONTROLE DE Alternaria alternata VEIGA, F.A. (IC)1; RÖSLER, J.P. (IC)1; WEI, L.Y. (IC)1; AZEVEDO, G.R. (IC)1; CAMILO, S.B. (O)2 1. Acadêmicos de Eng. Agronômica – Faculdade Integral Cantareira-FIC 2. Profª Mestre Simone Bragantini Camilo, São Paulo – SP. Email: [email protected] RESUMO: Alternaria alternata é um patógeno causador da podridão negra ou mancha marrom em várias culturas de valor comercial. O controle biológico utilizando microrganismos vem se tornando uma alternativa atraente para diminuir ou eliminar o uso de agroquímicos e dessa forma tornando os alimentos mais saudáveis e com menor custo de produção.O presente trabalho teve como objetivo avaliar, “in vitro”, o efeito inibitório de um isolado endofítico do gênero Bacillus, submetido a três tratamentos diferentes (autoclavado, filtrado com membrana Millipore® e intacto) contra o patógeno Alternaria alternata. O tratamento testemunha e o autoclavado não apresentaram diferença significativa entre si, não inibindo o desenvolvimento da A. Alternata, diferente dos tratamentos filtrado e intacto que também não diferiram significativamente entre si e apresentaram efetivo controle do patógeno. Os isolados de Bacillus spp. foram capazes de produzir metabólitos em quantidade suficiente para inibir a germinação e o crescimento micelial do fitopatógeno, porém, no tratamento submetido a alta temperatura (caldo autoclavado),não houve efeito sobre o fungo, o que leva a crer que o metabólito produzido pela bactéria em estudo é termolábil. INTRODUÇÃO: O controle biológico de doenças de plantas tem como objetivo manter o equilíbrio do agroecossistema através de um programa integrado de produção, sem perdas significativas da produtividade das culturas, reduzindo os custos, riscos e impactos ao meio ambiente (ROBBS, 1986). Diferentes linhagens de bactérias endofíticas, pertencentes a diferentes filos do domínio Bactéria, apresentam atividade antagonista contra diferentes organismos fitopatogênicos e por isso representam importante e inexplorada fonte de agentes para biocontrole e manejo integrado de doenças e pragas agrícolas (ANGONESE et al., 2009; ASSUMPÇÃO et al., 2009; BERG et al., 2005; CAZORLA et al., 2007; KLOEPPER et al., 1989; LIU et al., 2007) Várias espécies de Bacillus são antagonistas de fungos fitopatogênicos podendo ser usadas em programas de controle biológico (ANGONESE et al., 2009; SCHISLER et al., 2004). Bactérias do gênero Bacillus possuem grande potencial para serem usadas como agentes de controle biológico, pois mantêm sua viabilidade quando estocadas por longos períodos (PETRAS; CASIDA, 1985). O objetivo desse trabalho foi avaliar, “in vitro”, o efeito inibitório de um isolado endofítico do gênero Bacillus, submetido a três tratamentos diferentes (autoclavado, filtrado com membrana Millipore® e intacto) contra o patógeno Alternaria alternata, importante patógeno causador da podridão negra ou mancha marrom em várias culturas de valor comercial. METODOLOGIA: O isolado de Alternaria alternata foi obtido de frutos de tomateiro e pertence à coleção do Laboratório de Fitopatologia da Faculdade Integral Cantareira e os isolados bacterianos foram isolados de folhas de tomateiro e mantidos em Agar nutriente. Foram testados 5 isolados bacterianos utilizando-se o método do pareamento. Do isolado MT01, obtido de folhas de tomate e que apresentou maior inibição, foram utilizados três discos de 7mm de uma cultura de 24 horas para o preparo dos caldos bacterianos, sendo 1 parte autoclavado, 1 parte filtrada em membrana Millipore® e outra intacta. Após 24 horas de agitação, os caldos foram transferidos para Erlenmeyers contendo ágar nutriente em uma diluição final à 10%. Após a solidificação do ágar, discos de 7mm de A. alternata foram transferidos para o centro da placa e o ensaio foi avaliado a cada 48h até que a colônia do tratamento testemunha atingisse a borda da placa de Petri. O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado com 5 repetições e os dados obtidos submetidos ao teste de Tukey 1%. RESULTADOS: O crescimento micelial do fitopatógeno nas placas que receberam o caldo bacteriano intacto e o caldo bacteriano filtrado não diferiram entre si, diferindo significativamente do autoclavado e testemunha (Tabela 1). Tal resultado indica que os metabólitos produzidos são termolábeis, susceptíveis a destruição pelo calor. Os dados não concordam com os de MORETTO (2000) que, estudando isolados de Bacillus spp. obtidos de citros, verificou que estes mantiveram suas atividades mesmo após autoclavagem. Testando isolados de Bacillus subtilis obtidos do solo contra Colletotrichum graminicola, MICHEREFF et al. (1994) determinaram que os metabólitos oriundos da bactéria eram termoestáveis, difusíveis, não-voláteis e inibiram o crescimento do fungo, bem como FURLANI ET AL. (2007) estudando o efeito de Bacillus spp. no controle de C. acutatum. Assim, estes resultados sugerem que isolados de Bacillus spp. podem produzir metabólitos com propriedades e talvez modos de ação diferentes. Tabela 1: Cálculo das médias dos resultados do crescimento micelial de A. alternata. Para ANOVA Placas Testemunha (mm) Autoclavado (mm) Intacto (mm) Filtrado (mm) I 90,00 90,00 23,36 30,17 II 90,00 90,00 24,09 27,99 III 90,00 84,35 21,95 27,46 IV 90,00 90,00 24,34 26,20 V 90,00 90,00 17,99 24,28 450,00 444,35 111,71 136,09 Soma Resultados semelhantes foram descritos por outros grupos de estudo que empregaram metodologia similar para avaliar a atividade fungistática de Bacillus spp. e B. subtilis contra fungos causadores de doenças em plantas (ANGONESE et al., 2009; ASAKA; FERREIRA et al., 1991; KUPPER et al., 2003). Em conjunto, esses estudos demonstraram que bactérias do gênero Bacillus possuem grande potencial para serem usadas como agentes de controle biológico de fungos fitopatogênicos.(Gráfico1). Médias dos tratamentos (mm) 100,00 90,00 a 88,87 a 80,00 60,00 40,00 22,34 b 20,00 27,22 b 0,00 Testemunha Autoclavado Normal Filtrado Gráfico 1: Resultado das médias dos diferentes tratamentos. CONCLUSÃO: O tratamento com o caldo autoclavado não afetou o desenvolvimento do micélio, tendo seu desenvolvimento sem diferença estatística quando comparado com a testemunha. O caldo bacteriano intacto e o caldo bacteriano filtrado são os tratamentos mais eficientes, os isolados de Bacillus spp. foram capazes de produzir metabólitos em quantidade suficiente para inibir o crescimento micelial do fitopatógeno, porém, no tratamento submetido a alta temperatura (caldo autoclavado), não houve efeito sobre o fungo, o que leva a crer que o metabólito produzido pela bactéria em estudo é termolábil. Evidencia-se a necessidade de testes “in vivo”, para confirmar a eficiência do tratamento com o Bacillus spp. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGONESE, M. T.; DELLA-GIUSTINA, J.; PAIM, L. H.; PANSERA, M. R.; PAGNO, R. S.; MEZZOMO, F.; ZORZI, E.; PEREIRA, C. O. F.; RIBEIRO, R. T. S. Fungistatic effect of Bacillus spp on plant pathogenic fungi. 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