HISTÓRIA E MEMÓRIA DE PROFESSORES DE SALAS MULTISSERIADAS: FORMAÇÃO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS. Leudimar Amorim Cardoso – UFT/Campus de Palmas - [email protected] Dilsilene Maria Ayres de Santana – UFT/Campus de Palmas - [email protected] Resumo: O presente trabalho é resultado da atividade de pesquisa individual orientada do Programa de Educação Tutorial - PET do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus de Palmas, que assenta-se na área da Educação do Campo. Em específico a temática da pesquisa prioriza a História, a Memória e a Educação, no que se refere à Memória de Professores de Salas Multisseriadas: a sua formação e práticas pedagógicas desenvolvidas no trabalho pedagógico nas salas multisseriadas de escolas rurais. Seu objetivo importa em conhecer e compreender como se desenvolve o processo de formação de professores de salas multisseriadas diante dos desafios pedagógicos de lidar com alunos de idades/séries diferenciadas. Pergunta se, então, como esses professores são formados e que estratégias metodológicas utilizam para intervir no desenvolvimento cognitivo desses alunos? Tomando como base relatos de experiências de professores de escolas rurais, abordar-se-á, de forma exploratória, o processo de sua formação e práticas pedagógicas. Importa destacar não só o processo cognitivo de rememoração, tendo em vista que as turmas multisséries tem se constituído em alternativa para garantir a oferta da educação escolar no meio rural, mas a possibilidade de se tomar a memorização do indivíduo como objeto de estudo, no qual a memória possibilita na contribuição para uma história como objeto da subjetividade. Como procedimento metodológico da pesquisa, utilizar-se-á de entrevista e revisão bibliográfica. O estudo valer-se-á de pesquisa do tipo qualitativa, com a utilização dos seguintes procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica e pesquisa de campo. A pesquisa bibliográfica envolverá a literatura referente à História/Memória/Educação e as discussões teóricas acerca da educação ofertada no meio rural, com ênfase no lugar ocupado pelo professor de salas multisseriadas, sua formação e práticas pedagógicas. A pesquisa de campo realizar-se-á por meio de entrevista semiestruturada com professores que atuaram/atuam em salas multisseriadas. Os sujeitos serão convidados a falar sobre suas histórias de vida, em especial, experiências vivenciadas como professores de salas multisseriadas e sobre sua formação pedagógica; enfim, histórias e memórias acerca de suas experiências pedagógicas e formativas. A relevância desse estudo reside, em especial, na busca e sistematização de conhecimentos sobre a realidade de formação e trabalho pedagógico do professor que atua/atuou em salas de aulas Multisseriadas localizadas no meio rural, bem como na contribuição com a formação profissional, sobretudo com o desafio formativo de apreender metodologicamente o uso da memória do passado que se faz presente na formação do indivíduo, por meio de sua história. Palavras chave: História e Memória, Formação de professores, Salas multisseriadas. 1. INTRODUÇÃO Este trabalho resulta da sistematização do Projeto de Estudo Individual Orientado, uma das atividades desenvolvidas no Programa de Educação Tutorial do Curso de Pedagogia do Campus de Palmas da Universidade Federal do Tocantins (PET PedPalmas), que assenta-se na área da Educação do Campo e trata, em específico, da História e Memória de Professores de Salas Multisseriadas de escolas rurais, em especial, da formação e práticas pedagógicas desenvolvidas no trabalho pedagógico nas salas multisseriadas. Seu objetivo importa em conhecer e compreender como se desenvolve o processo de formação de professores de salas multisseriadas diante dos desafios pedagógicos de lidar com alunos de idades/séries, portanto diferentes estágios cognitivos, em uma só turma de alunos. O interesse em realizar este estudo foi motivado com a participação efetiva na Atividade Integrante, componente da Estrutura Curricular do Curso de Pedagogia, denominada História, Memória e Educação ofertada sob a responsabilidade da Professora Doutora Jocyléia Santana dos Santos – UFT. Na Atividade Integrante compreendi da relevância da história oral como constituição da memória dos acontecimentos, contidos na realidade subjetiva de cada individuo. Tendo por experiência, o desafio que é para o professor que trabalha com turmas multisséries, por já ter vivenciado esse meio, a inquietação pela memorização desses professores se fez presente como alternativa para conhecer a formação desses indivíduos e pelos mecanismos e estratégias utilizadas em salas em vista do desenvolvimento cognitivo do aluno inserido no meio rural, uma questão que carece ser investigada, até mesmo pela pequena quantidade de trabalho que problematiza a realidade da oferta da educação básica através de salas multisseriadas. Outra forte motivação à delimitação do objeto de estudo foi a participação, como Bolsista, do Programa de Extensão intitulado Formação Pedagógica de Supervisores do Programa Escola Ativa – MEC/SECADI/SEDUC-TO/UFT (2008/2012) cujos objetivos, entre outros, era de “capacitar profissionais da educação das Secretarias Estadual e Municipais de Educação (...) responsáveis pela formação contínua e acompanhamento dos professores que atuam em escolas rurais em Salas Multisseriadas”. Os Supervisores em processo de formação eram, em número significativo, professores ou ex-professores de salas multisseriadas localizadas no meio rural. O Programa atendeu 89 municípios do estado do Tocantins que, por adesão, participaram da Formação pedagógica proporcionada pela Universidade Federal do Tocantins, através dos cursos de Pedagogia dos Campi de Palmas e Tocantinópolis. Foram duas turmas, 240 horas de formação pedagógica durante um ano letivo, 240horas de multiplicação da formação junto aos professores das salas multisseriadas, supervisão e acompanhamento por parte da SEDUC-TO e da UFT. (UFT, 2008; UFT, 2010). Para ilustrar a presença das salas multisseriadas no Tocantins, vejamos que: com exceção do município de Palmas, todos os municípios do estado do Tocantins possuem salas multisseriadas no meio rural. O Município de Paranã, por exemplo, situado na região sudeste, possui vinte e nove salas de aulas no meio rural organizadas por multissérie. No Município de Wanderlândia, situado no Norte do Estado, o Plano de Cargos e Salários dos professores prevê gratificação de 50% do salário, mais gratificação de difícil acesso para os professores que atuam em salas multisseriadas. O Município de Ponte Alta do Tocantins, região leste do estado, possui dezesseis escolas rurais, sendo que seis possuem salas multisseriadas. As vivências relatadas levaram-me em análise a incipiente experiência vivida por mim como docente em sala multisseriada. Passei a refletir acerca do desafio que constitui, para o professor, o trabalho pedagógico em salas de aulas que comportam crianças em estágios de desenvolvimento cognitivos díspares, cujas idades variam entre 6 a 13 anos de idade ou mais. A vivência dessa realidade, os estudos realizados no decorrer da graduação e, em especial, nas Atividades Integrantes citadas, inquietou-me a buscar conhecer a memória desses professores no que se referem à formação pedagógica desses sujeitos, os mecanismos e estratégias metodológicas utilizadas em salas com o objetivo de intervir no desenvolvimento cognitivo dos alunos em escolas localizadas no meio rural. Identifiquei nas conversas com as Supervisoras em formação que muitas não haviam participado de nenhuma formação pedagógica no período em que atuaram como professoras de salas multisseriadas. 2. HISTÓRIA E MEMÓRIA DE PROFESSORES DE SALAS MULTISSERIADAS. Historicamente a organização de turmas multisérie tem sido a alternativa para garantir a oferta da educação escolar no meio rural. Dessa feita caberá a um professor a tarefa de lidar com alunos de idades/séries díspares, diferentes interesses e desenvolvimento cognitivo. Quem é esse professor que assume essa árdua tarefa? Qual formação pedagógica tem esse professor e como ocorre o acompanhamento, a supervisão e a avaliação do trabalho realizado, pois normalmente são escolas isoladas distantes das áreas urbanas. É comum tanto a literatura como os órgãos oficiais denominá-los de escolas isoladas. Estariam também esses professores isolados à margem dos programas de formação das ações de acompanhamento do desenvolvimento cognitivo dos alunos? Essas questões suscitaram a delimitação do seguinte problema: Considerando que a realidade das salas multisseriadas não é tematizado nos cursos de formação de professores como ocorreu/ocorre à formação pedagógica de professores de salas multisseriadas? Diante dos desafios pedagógicos de lidar com alunos de idades/séries diferenciadas, que estratégicas metodológicas utilizam para intervir no desenvolvimento cognitivo dos alunos? Tomando como base relatos de experiências de professores de escolas rurais, abordar-seá, de forma exploratória, o processo de sua formação e práticas pedagógicas. Importa destacar não só o processo cognitivo de rememoração, tendo em vista que as turmas multiséries têm se constituído em alternativa para garantir a oferta da educação escolar no meio rural, mas a possibilidade de se tomar a memorização do indivíduo como objeto de estudo, no qual a memória possibilita na contribuição para uma história como objeto da subjetividade. Como procedimento metodológico da pesquisa, utilizar-se-á de entrevista e revisão bibliográfica e documental. Albert (2005) ressalta que, a memorização individual é uma especificidade da história. Pesquisar sobre essa temática nos possibilitará conhecer mais especificamente a história, memória e educação que interliga o processo de formação dos professores que lidam cotidianamente com salas multisseriadas e as estratégias que estes utilizam para o avanço cognitivo dos alunos. Portanto, o propósito deste estudo importa destacar não somente a rememoração, mas a possibilidade de se tomar a ação de constituição de memórias como objeto de estudo. A relevância dessa pesquisa reside, em especial, na busca de conhecimentos sobre a realidade de formação e trabalho pedagógico do professor que atua/atuou em salas de aulas multisseriadas localizadas no meio rural o que muito contribuirá na minha formação como Pedagoga, assim como desafio formativo de apreender metodologicamente o uso da memória do passado que se faz presente na formação do indivíduo, através de sua história. 3. METODOLOGIA A pesquisa é a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, a pesquisa está vinculada a ação problematizada da vida prática e ou vivenciada do sujeito. (MINAYO, 2001, p. 16). O estudo valer-se-á de pesquisa do tipo qualitativa, com a utilização dos seguintes procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica e pesquisa de campo. A pesquisa bibliográfica envolverá a literatura referente à História/Memória/Educação e as discussões teóricas acerca da educação ofertada no meio rural, com ênfase no lugar ocupado pelo professor de salas multisseriadas, sua formação e práticas pedagógicas. A pesquisa de campo realizar-se-á por meio de entrevista semiestruturada com professores que atuaram/atuam em salas multisseriadas. Os sujeitos serão convidados a falar sobre suas histórias de vida, em especial, experiências vivenciadas como professores de salas multisseriadas e sobre sua formação pedagógica; enfim, histórias e memórias acerca de suas experiências pedagógicas e formativas. O universo da pesquisa será o quantitativo dos sujeitos que participaram do Programa de Extensão de Formação Pedagógica de Supervisores do Programa Escola Ativa e que pertençam a Sistema Municipal de Ensino. Pertencer aos quadros de pessoal dos sistemas de ensino municipal justifica-se pelo fato de que a oferta dos Anos iniciais do Ensino Fundamental é de prioridade dos sistemas municipais, bem como a formação continuada e a supervisão do trabalho docente, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96. Ademais, historicamente, é essa etapa a Educação Básica, recorrentemente, ofertada por meio de turmas multisseriadas. Desse modo, o quantitativo que traduz o universo é de oitenta e nove (89) Supervisores de Ensino vinculados à gestão do sistema e noventa e três (93) professores que atuam como regentes de salas multisseriadas em escolas municipais. (UFT, 2008; UFT, 2010). Observe-se que, em encontro ao método da história oral, o fato dos sujeitos vincularem-se a um determinado sistema de ensino não significa que esse aparato será tomado em análise. Como afirmado, interessa-nos a história de vida dos sujeitos, em particular, conhecer e compreender como se desenvolve o processo de formação desses profissionais e as estratégias metodológicas utilizadas para intervir no desenvolvimento cognitivo dos alunos. Diante desses dados, assim delimitamos o quantitativo e os critérios de delimitação dos sujeitos para a pesquisa: três (03) supervisoras que fizeram a Formação e atuaram, por mais de dez anos, como professores regentes, em salas multisseriadas. O critério específico é o tempo de trabalho, ou seja, atuaram em salas multisseriadas há mais de dez anos, independente da localização do Município de atuação. Esses sujeitos já foram, inicialmente, abordados pelas pesquisadoras com a explanação dos objetivos da pesquisa e manifestaram interesse em participar da mesma, sem as formalidades necessárias, apenas uma conversa inicial realizada durante as atividades de formação do Programa de Extensão. O segundo grupo de sujeitos será composto de professores que atuam, como regente, em salas multisseriadas, independente do tempo de trabalho. Com vista a conhecer professores de diferentes regiões do Estado do Tocantins, assim definimos espacialmente a amostra: um (01) professor do município de Paranã, região sudeste; um (01) professor do município de Porto Nacional, região central; um (01) professor do Município de Ponte Alta Tocantins, região leste; e três (03) professores da região Norte dos Municípios: Campos Lindos, Araguatins e Tocantinópolis. Essa última região o número de sujeitos será maior em decorrência da região concentrar uma maior oferta de educação no meio rural, em especial salas multisseriadas. Os sujeitos desse segundo grupo, embora já tenhamos dos dados dos mesmos através dos arquivos do Programa de Extensão, serão convidados a participar através de contatos iniciais por telefone, correspondências eletrônicas e, posteriormente, contatos pessoais a serem realizados nas escolas nas quais trabalham. Portanto, os critérios de definição dos sujeitos que atuaram ou atuam em salas multisseriadas serão: tempo de exercício docente e localização dos Municípios no estado. Ressalte-se que tais critérios combinam com as condições nas quais o trabalho de campo será realizado, pois a pesquisa não possui financiamento. As cidades escolhidas distribuem os sujeitos espacialmente, reconhece a concentração maior de escolas e salas multisseriadas no meio rural e, também, são de fácil apoio às pesquisadoras, pois nessas cidades teremos o apoio de Campi da UFT e/ou são próximas da cidade na qual as pesquisadoras residem, em Palmas. Desta forma, o tipo de pesquisa a ser desenvolvido nessa pesquisa pode ser caracterizado como pesquisa analítica/qualitativa e bibliográfica. Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa, uma vez que tem como objetivo conhecer e compreender a memória de professores de salas multisseriadas, sua formação e práticas pedagógicas. Robert Frank considera que a história oral pode contribuir para uma história objeto da subjetividade (ALBERT, 2005), ou seja, além do pesquisador ter objetivo e interesse de buscar a história do conhecimento se interessa pela história da memória desses acontecimentos até os dias de hoje. Em relação ao tipo de abordagem do problema, a análise será de forma qualitativa, não envolvendo informações numéricas, e o procedimento técnico quanto às coletas de dados será por meio de entrevista desenvolvendo assim a pesquisa de campo, utilizando como instrumentos de coleta de dados entrevista semiestruturada com professores que atuaram/atuam em salas multisseriadas no meio rural. “Compreender é reencontrar o eu no tu” (ALBERT, 2005, p. 18). Nisso consiste o envolvimento do entrevistador com o entrevistado no acolhimento de informações pessoais. Assim facilita o desenvolvimento das ações, tanto para falar sobre a experiência (entrevistador), quanto para entender o relato (entrevistado). A pesquisa bibliográfica envolve a literatura referente à História/Memória/Educação e pesquisa realizada por outros autores sobre a Educação do Campo, como embasamento teórico para as articulações do que se deseja pesquisar. Para Therrien (1993), a educação constitui uma prática social e história que se liga diretamente à vida objetiva e subjetiva dos sujeitos envolvidos na referida prática, ou seja, a educação é uma prática social e histórica que se liga a vida pessoal de cada individuo inserido na sociedade, e partindo desse pressuposto que este trabalho visa pesquisar os aspectos que dizem respeito à educação ofertada no meio rural como forma de resgatar o que permanece guardado na memória subjetiva do sujeito. A posteriori os dados serão analisados e interpretados, de forma qualitativa, a fim de atender os objetivos previstos nesse estudo sobre o conhecimento do passado dos sujeitos envolvidos. No contexto histórico acerca da educação do campo as salas multisseriadas tem sido a alternativa para garantir a oferta da educação no meio rural. Para Barros (s/d) muitos sujeitos que ensinam, estudam, gestam, investigam ou demandam a educação no meio rural ou na cidade, se referem às salas multisseriadas como responsáveis pelo fracasso escolar dos sujeitos do campo. Nesse sentido, a solução para os problemas enfrentados seria a transformação das escolas multisseriadas em escolas seriadas. No entanto, Arroyo afirma, de forma precisa, que a problemática da organização escolar, que envolve o modelo seriado, comporta a explicação dos índices alarmantes de fracasso escolar, dado o caráter seletivo e excludente da seriação. A seriação, para o autor citado, é a própria negação da escola como direito de todos, e acaba por não dar conta da formação integral dos alunos. A seriação seria então a negação da escola como direito de todos. A questão que trazemos ao debate, portanto não é o questionamento ao modelo de multissérie, mas a formação de professores leigos que atuam nessas escolas. Desse modo buscaremos conhecer as práticas pedagógicas e a formação sistemática, com subsídios teóricos e práticos, necessário à intervenção no desenvolvimento do aluno inserido na realidade camponesa. No entendimento de muitos sujeitos do campo envolvidos com a educação escolar a junção de várias séries provoca uma fragmentação quanto à organização do trabalho pedagógico do professor e certamente esse modelo traz uma sobrecarga maior ao professor, dificultando assim o desenvolvimento de suas atividades pedagógicas. Barros e outros (2007) ao dialogar com educadores (as) e estudantes, técnicos e gestores públicos, pais, mães, líderes comunitários e movimentos sociais populares do campo sobre o que pensam em relação às salas multisseriadas e como deve ser para eles a escola do campo, buscando como alternativa compreender e analisar a complexidade que configura essa problemática encontra uma fala que reafirma a organização escolar por seriação. No geral, esses sujeitos respondem aos desafios da complexidade do processo de ensino e aprendizagem em salas multisseriadas por um modelo que, historicamente, é considerado excludente. A luta pela escola é a luta por saber, afirma Therrien (1993). A formação de professores leigos é produto de práticas pedagógicas, tendo em vista os diversos saberes que para o professor do campo pode ser, ou de origem formal, apenas por relações humanas ou o saber escolar que envolve as ciências e tecnologias como constituição sistemáticas. Ou seja, a formação social no âmbito rural para professores dessa realidade compõe o processo de organização da prática escolar de informar sistematicamente o saber para contribuição de sua prática escolar, tendo em vista, nesse contexto, a sua formação com subsídios teóricos e práticos para contribuir na intervenção do desenvolvimento do aluno inserido na realidade camponesa. Como se educa o educador, ou seja, qual o espaço do saber social na relação pedagógica cotidiana do professor? A educação constitui uma prática e história que se liga diretamente à vida objetiva e subjetiva dos sujeitos envolvidos nessa prática, sendo assim uma prática social e histórica que se liga a vida objetiva e subjetiva dos sujeitos envolvidos na realidade em que vive. Apesar de a escola rural ser limitada e precária a instituição tem importante papel social. A literatura informa-nos que a realidade das escolas que ofertam turmas multisseriadas é de precariedade. Segundo Barros e outros (2007), o ensino e a aprendizagem do aluno do campo são prejudicados pela estrutura precária da escola. As salas são constituídas de um único espaço, geralmente em salões paróquias, centros comunitários, em residências; sem espaço para cozinhas, banheiros, bibliotecas, nem alimentação e muito menos o lazer. Outra dificuldade encontrada é o transporta escolar, que prejudica o acesso tanto do aluno, quanto do professor. Do mesmo modo que a estrutura física é precária, também o é as condições de trabalho do professor. Os professores sentem-se sobrecarregados ao assumirem as funções desde direção ao preparo da merenda e a realização da faxina escolar. Com tantas atribuições qual o tempo lhe resta para pensar e executar a organização do trabalho pedagógico, tendo em vista a junção de várias séries em que há de se pensar um plano para cada distinta série, questionam os próprios professores. Ainda conforme os autores citados acima, o que muitos sujeitos entendem a respeito da situação da educação camponesa está centrado no descaso que as instâncias governamentais atribuem às salas multisseriadas, por não investirem na construção de propostas pedagógicas exclusivamente para esta realidade e tão pouco na formação dos docentes que atuam no multisseriado. Os autores sugerem que algumas questões deverão orientar o debate capaz de interferir na realidade das escolas do campo multisseriadas, uma das sugestões se centra na formação do educador; questão essa que será discutida em nosso trabalho, visto que essa é uma questão extremamente relevante para qualidade da educação camponesa. A lógica das turmas multisseriadas exige que nos atentemos não somente a formação dos professores, mas fundamentalmente às diferentes possibilidades de organização do trabalho pedagógico nas turmas que acolhem pessoas de idades diferenciadas. A proposta de investigação proporcionará um conhecimento maior da realidade da oferta da educação básica no meio rural, locus de nossa atuação quanto da conclusão da graduação em Pedagogia. Conhecer os diferentes saberes pedagógicos desses docentes, compreender a militância, a experiência, bem como o saber-fazer partindo de seus diversos saberes certamente contribuirão, sobremaneira, na verticalização de nossa formação acadêmica e propedêutica, 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Até os anos de 1980 à maioria absoluta dos professores que atuavam em escolas localizadas no meio rural não era exigida formação mínima, nem era ofertado a formação continuada. No geral esse quadro vem sofrendo alterações por força da atuação dos movimentos sociais rurais e o regulamentado no aparato legal. No entanto, essa situação anda é marcante quando trata-se de escolas “isoladas” com apenas salas multisseriadas. Em síntese, os problemas vividos pelos professores de escolas localizadas no meio rural são semelhantes aos que são enfrentados nas escolas urbanas, porém em maiores proporções, haja vista, o modo como as escolas localizadas no meio rural não tem sido alvo de políticas públicas no decorrer dos anos. REFERÊNCIAS ALBERTI, Verena. Ouvir e contar: textos em história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. ______________ Manual de História Oral. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2004. BARROS, Oscar Ferreira e HAGE, Salomão Mufarrej. Práticas Interdisciplinares na Escola do Campo: questões para orientação do debate no Programa Escola Ativa/Tocantins. Belém-PA, 2007. BRASIL, Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Nº 9394/96. CARVALHO, Maria Cecília Marigoni (org.) Construindo o saber. Metodologia Científica: fundamentos e técnicas. São Paulo: Papirus, 1989. LAKATOS, E. N; MARCONI, N. A. Técnicas de Pesquisas: Planejamento e execução de pesquisas, amostragem e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2006. MINAYO, Cecília de Souza. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 18ª Ed., Rio de Janeiro: Vozes, 2001. THERRIEN, Jacques. DAMASCENO, Maria Nobre. Educação e Escola no Campo. Campinas: Papirus, 1993. UFT. Campus de Palmas e Tocantinópolis. Curso de Pedagogia. Programa de Extensão - Programa de Formação Pedagógica de Supervisores do Programa Escola Ativa. Adesão 2009/2010 – MEC/SECADI/SEDUC-TO/UFT; Palmas - TO, 2008. UFT. Campus de Palmas e Tocantinópolis. Curso de Pedagogia. Relatório final do Programa de Extensão - Programa de Formação Pedagógica de Supervisores do Programa Escola Ativa. Adesão 2009/2010 – MEC/SECADI/SEDUC-TO/UFT; Palmas - TO, 2012.