Na Fiesp, Fernando Henrique Cardoso abre conferência sobre agências reguladoras O ex-presidente salientou que as agências reguladoras representam uma “mudança de paradigma mental e de comportamento” e são essenciais à construção de um Estado moderno e eficiente Sílvia Lakatos, São Paulo A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Associação Brasileira das Agências Reguladoras (Abar) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) promovem hoje (26) o evento “Regulação 2008 - Realidade e Perspectivas - Conferência sobre os Caminhos da Regulação Brasileira”, que teve início às 9 horas com palestra do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na solenidade de abertura, o presidente da Fiesp e do Ciesp, Paulo Skaf, destacou a importância das agências reguladoras como instrumentos de estímulo à competitividade e à eficiência do País. Também fizeram pronunciamentos a Secretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, Dilma Seli Pena, o ex-ministro Martus Tavares, que hoje integra o Conselho de Infra-Estrutura da Fiesp, o presidente da Abar, Álvaro Otávio Vieira Machado, e o vice-presidente da Fiesp e diretor-titular do Departamento de InfraEstrutura, Saturnino Sérgio da Silva. Vieira Machado, FHC e Skaf Em sua palestra, FHC salientou o valor simbólico da prática da regulação. “Somos filhos de uma visão napoleônica, em que o Estado é gigantesco, e temos a influência do patrimonialismo ibérico, que trata a coisa pública como um bem de família. O resultado disso é que o Estado quer regular tudo, e ainda por cima é patrimonialista. As agências reguladoras se opõem a esse Estado arcaico e ineficiente, em defesa dos interesses públicos”, afirmou, lembrando sempre que a agência reguladora é um ente do Estado, e não do governo. “Por isso, é preciso evitar a perpetuação de vícios, como a infiltração de indivíduos com interesses políticos nas agências, para que estas mantenham sua autonomia”, prosseguiu o ex-presidente. Entre os mecanismos eficazes para assegurar o caráter de independência das agências, Fernando Henrique Cardoso mencionou a manutenção dos mandatos fixos para os diretores (com datas de início e término que não coincidam como as datas de posse do Executivo e do Legislativo) e a manutenção de quadros de pessoal permanentes, com servidores do Estado que gozem de autonomia e estabilidade, de modo a se sentirem confortáveis para a emissão de pareceres técnicos absolutamente independentes. “Mas é claro que não se trata de regular tudo. As agências reguladoras só fazem sentido em setores essenciais, de notório interesse público”, ressaltou. Viabilizar investimentos A segunda palestra do dia ficou a cargo de Jerson Kelman, atual diretor geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA). Ele destacou que as principais funções das agências reguladoras consistem em viabilizar investimentos em infra-estrutura com longos prazos de maturação e em mitigar as falhas de mercado. “Quando o consumidor não pode escolher o prestador de serviço, devido à existência de um monopólio, ou quando ele até pode escolher, mas não dispõe de liberdade suficiente para valer-se do princípio da tentativa e erro, temos falhas de mercado”, assegurou Kelman. “Isso também ocorre quando temos o risco de ocorrer a tragédia do uso do bem comum”, afirmou. Kelman lembrou ainda que “o regulador é o árbitro da concessão e por isso necessita de independência decisória”, e que ele deve estar atento a três pontos de vista: o do consumidor (sociedade), o do prestador de serviço e o do governo. As discussões sobre regulação devem se estender até às 18 horas. No período da tarde, haverá palestras com Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor emérito da Fundação Getúlio Vargas, e com Joaquim Falcão, diretor da Escola de Direito FGV/Rio e membro do Conselho Nacional de Justiça. LAKATOS, S. Na Fiesp, Fernando Henrique Cardoso abre conferência sobre agências reguladoras. Agência Indusnet Fiesp, Mídia Online, 26/03/2008.