Comunidade Solidária Ao decidir iniciar um plano de erradicação da pobreza, o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso optou por um modelo pouco convencional para os padrões brasileiros de atuação na área social: a substituição do assistencialismo e do clientelismo pelo atendimento aos direitos básicos da cidadania. A tarefa prevê a ação conjunta de órgãos federais, organizações não-governamentais, governos estaduais e municipais e o envolvimento da população para a efetivação do programa denominado Comunidade Solidária. A metodologia de trabalho está calcada na parceria e na solidariedade, ponto crucial, segundo os coordenadores do Programa, para o fim do assistencialismo. O papel do governo no desenvolvimento do Programa será basicamente o de monitorar a aplicação eficiente dos recursos federais destinados ao combate à pobreza. A intenção é evitar a pulverização de recursos, submeter a assistência financeira a critérios transparentes de aplicação e priorizar os bolsões de miséria e os grupos marginalizados da população. O Programa Comunidade Solidária é conduzido principalmente pelo Gabinete Civil da Presidência da República e tem uma Secretaria Executiva, cujo principal papel é coordenar e promover a articulação com todos os setores envolvidos nesse plano de combate à exclusão social. O Comunidade Solidária tem também um Conselho, nomeado pelo Presidente da República, integrado por Ministros de Estado das áreas intimamente ligadas aos objetivos do Programa. Dele também fazem parte personalidades da sociedade civil. O Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso elegeu cinco áreas de atuação prioritária do Comunidade Solidária: saúde, alimentação e nutrição; serviços urbanos; desenvolvimento rural; emprego e renda; e defesa de direitos. Como vários órgãos federais já atuam em cada uma dessas áreas, a gestão do Programa será um sistema articulado, de forma a eliminar a centralização. Recursos - Na área de saúde, alimentação e nutrição, o plano dá ênfase ao combate à mortalidade infantil, alimentação escolar e do trabalhador, e distribuição emergencial de alimentos. A parte relativa aos serviços urbanos prioriza os programas de moradia e saneamento. A área de desenvolvimento rural também é alvo da ação prioritária do governo, assim como a geração de emprego e renda. Em oposição às políticas sociais praticadas até a eleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o atual governo adotou a estratégia da parceria e coresponsabilidade entre os mais diversos atores sociais, para obter sucesso no combate à pobreza. Esta foi a maneira encontrada pelo governo para complementar os recursos do Programa com as contrapartidas fornecidas pelos estados e municípios. Segundo estimativas do relatório sobre "Estratégias de Combate à Fome e à Miséria", será estimulada a captação de recursos adicionais junto aos mais diversos setores da sociedade, como empresas, sindicatos, universidades, igrejas, ONG´s e cidadãos, bem como junto a agências nacionais e internacionais de financiamento e cooperação. Os programas federais já existentes para atendimento da área social, que compõem o Comunidade Solidária, têm um "selo de prioridade". Esses programas já fazem parte das políticas governamentais para o setor nas áreas dos Ministérios da Saúde, Educação, Trabalho e Planejamento. A cada um dos órgãos federais envolvidos no Comunidade Solidária cabe aprovar propostas que impliquem a "otimização do apoio financeiro ou material da União, valendo-se das normas existentes e de outras recomendações para o atendimento dos pleitos encaminhados por estados e municípios. Abrangência - De acordo com o documento de intenção do governo para o Programa Comunidade Solidária, a atuação desdobra-se em duas fontes: melhoria do gerenciamento e da abrangência dos programas federais selecionados e concentração em áreas geográficas escolhidas com base em indicadores de concentração de pobreza. O Comunidade Solidária atuou, em 1995, em 302 pequenos municípios que apresentam grande percentual de pobres e em concentrações de miséria, especialmente nas capitais e regiões metropolitanas. Em 1996, a atuação foi ampliada para 1.111 municípios. Nos bolsões de miséria do interior do país, o Comunidade Solidária estimula a elaboração e execução de propostas de atuação em conjunto com os governos estaduais e municipais e a comunidade. Nos demais casos são incentivadas as iniciativas que já vêm sendo desenvolvidas em parceria com a comunidade. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), órgão do Ministério do Planejamento e Orçamento, e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), auxiliaram na formação dos indicadores e no fornecimento de informações à Secretaria Executiva do Comunidade Solidária sobre as condições de vida da população em todos os municípios, com o objetivo de identificar aqueles com maior concentração relativa de miséria dentro de cada estado. Essas informações serviram de base para a seleção daqueles que têm sido alvo prioritário do Comunidade Solidária". Critérios - Como uma das exigências desse programa governamental é a parceria, o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso fixou como responsabilidade dos estados e municípios, em conjunto com as organizações não-governamentais e membros da comunidade, a definição das necessidades prioritárias nos bolsões de pobreza e a elaboração de propostas de ação no âmbito local. As propostas são analisadas pelos órgãos competentes dos estados juntamente com a sociedade civil, e o governo somente as apoia se obedecerem aos seguintes critérios: a) localização em bolsões de pobreza; b) participação da sociedade civil e da comunidade no controle e no gerenciamento das ações; c) impacto no combate à pobreza; d) integração entre diferentes ações governamentais; e e) viabilidade técnico-financeira. Embora atue fortemente no âmbito financeiro do programa, o governo se autodenomina "parceiro" no Comunidade Solidária. Autoridades governamentais salientaram que a decisão do Presidente Fernando Henrique Cardoso, de criar o Conselho vinculado à Casa Civil da Presidência da República "exprime o reconhecimento de que o Estado precisa da participação dos cidadãos e de que são necessários novos canais de parceria Estado-sociedade". Ao divulgar os objetivos do Programa Comunidade Solidária, sua Secretária Executiva salientou que "a melhoria do gerenciamento dos programas selecionados é o maior desafio que se propõe a enfrentar. Por isso, a ênfase nas expressões parceria e solidariedade". O governo ressaltou que "é necessário evitar a centralização, a fragmentação e o clientelismo que redundam em ineficiência, descontinuidade e desperdício de recursos".