ASSOCIAÇÃO EDUCATIVA DO BRASIL – SOEBRAS/ FACULDADE UNIDAS DO NORTE DE MINAS – FUNORTE ADRIANO FERREIRA SANTOS BIFOSFONATOS E IMPLANTODONTIA BRASÍLIA 2013 ASSOCIAÇÃO EDUCATIVA DO BRASIL – SOEBRAS/ FACULDADE UNIDAS DO NORTE DE MINAS – FUNORTE BIFOSFONATOS E IMPLANTODONTIA Aluno: Adriano Ferreira Santos Orientador: Prof. Dr. Elder Carneiro Monografia apresentada ao ICS – FUNORTE – SOEBRAS, núcleo de Brasília, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Implantodontia. BRASÍLIA 2013 DEDICATÓRIA A minha esposa Adris e a minha filha Gabriela por aceitarem ser muitas vezes trocados por livros, cadernos e suportado o cansaço dos dias de curso mesmo assim estarem sempre de braços abertos me aguardando. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Elder Santos Carneiro, Que através da sua paixão pela Implantodontia nos dá o belo exemplo de dedicação à profissão. Ao Prof. Dr. Flávio Augusto Cardoso, Que sempre bem disposto e dedicado, preocupou-se em oferecer o melhor do seu conhecimento para qualificar nossa formação. RESUMO Sabemos que o edentulismo parcial e total acomete um grande número de pacientes. Dentre as possibilidades de tratamento destacam-se os implantes dentários. Apesar do alto índice sucesso comprovado nesses procedimentos, alguns problemas podem ocorrer e destacamos nesta oportunidade a osteonecrose dos maxilares. Este fenômeno é definido como uma necrose óssea na cavidade oral, provocada, por exemplo, por má cicatrização do tecido ósseo, principalmente após uma intervenção traumática que deixe o osso maxilar exposto, como por exemplo uma extração dentária. A osteonecrose mandibular tem sido identificada como um potente efeito colateral dos bisfosfonatos. Esta classe de medicamentos vem sendo utilizada com sucesso nos últimos anos em uma variedade de doenças ósseas, como osteoporose, doença de Paget, hipercalcemia maligna dentre outras. O mecanismo pelo qual os bisfosfonatos causam osteonecrose não é totalmente elucidado. Um processo de patogênese proposto sugere que a inibição da função dos osteoclastos mediada pelos bisfosfonatos leva a um decréscimo da reabsorção óssea e inibe a remodelação normal do osso, resultando em áreas de acúmulo de microfraturas e redução em algumas propriedades mecânicas do osso. Assim, torna-se importante estudar a associação dos bisfosfonatos com a osteonecrose mandibular, reconhecer o grupo de pacientes de risco, sinais e sintomas, além de estabelecer protocolo preventivo e terapêutico. O presente trabalho mostra que a literatura relata maior susceptibilidade à necrose de mandíbula quando o medicamento é administrado via endovenosa. Ainda não existe um protocolo definido quanto ao tratamento desses pacientes. Contudo sugere-se que, de forma preventiva, o cirurgião dentista solicite exame de CTX para melhor avaliação do paciente, sendo essencial a multidisciplinaridade para prevenção e tratamento desses casos. Palavras-chave: Bisfosfonatos, Implantes, Osteonecrose. ABSTRACT Rehabilitation of edentulous patients is an important challenge to dentistry. Dental implants are the first treatment option in many cases. Although of being usually a successful procedure, one complication that may occur is osteonecrosis of the jaw. Osteonecrosis of the jaw is defined as a bone necrosis in the oral cavity, caused by, for example, a poor healing of bone tissue, particularly after any traumatic intervention that leaves exposed jaw bone, such as a tooth extraction. Osteonecrosis of the jaw has been identified as a potential adverse side effect of bisphosphonates. These therapeutic agents have been used successfully in treating a variety of bone diseases, including osteoporosis, Paget`s disease, malignant hypercalcemia, among others. The mechanism by which bisphosphonates cause osteonecrosis is uncertain. One proposed pathogenesis process suggests that the potent bisphosphonatemediated inhibition of osteoclastic function leads to decreased bone resorption and inhibits normal bone turnover remodeling, resulting in areas of microdamage accumulation and a reduction in some mechanical properties of bone. Thus, it is important to study the association of these drugs with osteonecrosis of the jaw, recognize the group of patients at risk, signs and symptoms, guidelines for preventive and therapeutic actions. The present work demonstrates that the literature reports an increased susceptibility to necrosis of the jaw when the patients have a history of treatment with intravenous bisphosphonates. There is no defined protocol regarding treatment of these patients. However, it is suggested that, as a preventive way, the surgeon dentists ask the CTX examination in order to have a patient`s evaluation, being essential the multidisciplinarity for prevention and treatment of disease. Key words: Bisphosphonates, Implants, Necrosis jaw 1- INTRODUÇÃO O uso de bisfosfonatos vem sendo investigado nesses últimos anos na área da Odontologia em virtude da Implantodontia estar diretamente ligada às implicações do modelamento e remodelamento ósseo. Inúmeras pesquisas têm sido desenvolvidas com o objetivo de minimizar a reabsorção óssea e tornar superior a qualidade e quantidade de tecido ósseo regenerado ao redor dos implantes. Um grupo de agentes químicos mediadores do metabolismo ósseo são os bisfosfonatos, conhecidos pela sua capacidade de inibir a atividade osteoclástica e modificar o turnover ósseo. Os bisfosfonatos, particularmente os nitrogenados, possuem elevada afinidade pelo cálcio circulante e se liga ao cálcio da superfície óssea . Portanto, eles são potentes inibidores da reabsorção e remodelação óssea. Os bisfosfonatos têm sido indiscutivelmente associados à melhora significativa da qualidade de vida dos pacientes portadores de patologias ósseas como doença de Paget, metástases ósseas, osteogênese imperfeita, hipercalcemia maligna e com osteoporose grave. Esses medicamentos vêm sendo utilizados mundialmente em larga escala e estima-se que mais de três milhões de pacientes com câncer no mundo tenham recebido tratamento com bisfosfonatos intravenosos, como ácido zoledrônico (Zometa®), desde sua introdução, além de um grande número de pacientes que recebem bisfosfonatos orais, como alendronato (Fosamax®) e risedronato (Actonel®) para o tratamento de osteoporose pósmenopausa (MARTINS ET. AL. - 2009 E DONANGELO I - 2003). Conforme BAGAN J – 2005, o conhecimento dos efeitos adversos dos medicamentos tem fundamental importância na escolha das drogas a serem empregadas e o manejo de pacientes, sob terapia medicamentosa, pode ser dificultado por tais efeitos. Em 2003 foi descrito pela primeira vez por MARX 2005 um novo efeito colateral associado ao uso de bisfosfonatos com manifestação bucal denominada Osteonecrose Associada aos Bisfosfonatos (ONMAB). Mais uma vez a ciência mostra o caminho para se quebrar dogmas e estabelecer uma mudança comportamental em que a interação entre médicos e cirurgiões dentistas é fundamental, bem como a busca por literatura específica. O presente estudo faz uma revisão literária do entendimento do uso de bisfosfonatos no contexto da Odontologia, principalmente por ser uma possível alternativa para a redução da perda e aumento da densidade óssea, bem como pela possibilidade do aparecimento de osteonecrose dos maxilares, o que requer medidas terapêuticas e preventivas no envolvimento de práticas invasivas. 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 O osso e sua formação O osso, como qualquer outro tecido, é continuamente suprido com fluxo adequado de nutriente pelo sangue. É formado por matriz óssea e por células, sendo estas os osteócitos que se situam dentro da matriz óssea, os osteoblastos que produzem a parte orgânica da matriz, e os osteoclastos que participam da remodelação óssea. A matriz óssea é uma substância do tecido ósseo onde são encontradas lacunas, que contêm osteócitos. Ela é constituída por uma parte inorgânica e outra orgânica. A parte inorgânica é constituída principalmente por íons cálcio e fosfato. GUYTON A - 1988, defende que a maior proporção dos sais ósseos possui a composição química representada pela fórmula [Ca3(PO4)2]3.Ca(OH)2. Esta é a fórmula química da hidroxiapatita, composto muito duro, semelhante ao mármore. Também ocorrem pequenas quantidades de íons potássio, magnésio, citrato, sódio e bicarbonato. A parte orgânica da matriz óssea é constituída por grande quantidade de fibras colágenas (95%) e um apequena quantidade de glicoproteínas e proteoglicanas. A dureza do osso deve-se à associação das fibras colágenas com hidroxiapatita. Em resumo, a matriz protéica impede que o osso quebre quando é submetido à tensão, enquanto que os sais ósseos impedem que o osso se fragmente, isto é, seja esmagado, quando sob pressão. Quanto às funções das diferentes células que compõem o tecido ósseo, pode ser afirmado, resumidamente, que o osteócito é o osteoblasto maduro que parou de secretar matéria orgânica. Eles estão localizados em cavidades ou lacunas dentro da matriz óssea. Destas lacunas formam-se canalículos que se dirigem para outras lacunas, tornando assim a difusão de nutrientes possível graças à comunicação entre os osteócitos. Finalmente, os osteoblastos são células gigantes, intensamente ramificadas. Elas secretam para dentro da matriz óssea íons hidrogênio, e enzimas colagenases e hidrolases, digerindo a matriz óssea e dissolvendo os cristais de sais de cálcio. A atividade desta célula é comandada pelos hormônios calcitonina e paratormônio. Os osteoblastos são as células responsáveis por sintetizar a parte orgânica da matriz óssea. Possuem a capacidade de concentrar fosfato de cálcio, participando ativamente da mineralização da matriz óssea. Quando em fase de síntese, demonstram características estruturais típicas das células produtoras de proteínas. A matriz óssea, recém-formada, junto aos osteoblastos ativos e que não está suficientemente mineralizada recebe o nome de osteóide. 2.2 Osseointegração A osseointegração é a união estável e funcional entre o osso e uma superfície de titânio. Este fenômeno ocorre após a inserção de peça em titânio dentro do osso e a migração das células ósseas para a superfície deste metal. Foi introduzido na década de 1960 por Per-Ingvar Branemark, um pesquisador sueco, que na época estava interessado em procedimentos cirúrgicos que resolvessem deficiências físico-funcionais de seres humanos. O processo envolve a ancoragem de um implante pela formação de tecido ósseo ao redor do implante sem crescimento de tecido fibroso na interface osso-implante. O processo de osseointegração é descrito por Davies em três fases: hemostasia, formação de tecido de granulação e formação óssea. A primeira fase, a hemostasia, tem por objetivo a formação de coágulo. Um aspecto importante nesta fase é a aderência da rede de fibrina na superfície do implante. Davies ainda considera que superfícies rugosas oferecem maior retenção da rede de fibrina, dificultando o afastamento dessas estruturas na fase de retração do coágulo. A fase de formação do tecido de granulação é caracterizada pela fagocitose de restos teciduais necróticos, neoformação vascular intensa e deposição de matriz pelos fibroblastos formando um arcabouço para emergência do sistema vascular. A fase de formação óssea envolve os processos de osteocondução (migração de células com potencial osteogênico para a área do reparo peri-implantar), contração da ferida (responsável também pelo afastamento da ferida da superfície do implante), crescimento aposicional (diferenciação das células em osteoblastos, produção e secreção de matriz óssea) e formação óssea “de novo”. Por fim, a matriz passa a ser mineralizada. 2.3 BIFOSFONATOS Em Farmacologia, bifosfonatos, também chamados de difosfonatos, são uma classe de fármacos que previne a perda de massa óssea e são usados para tratar a osteoporose e enfermidades similares. WEINSTEIN RS - 2009, em linhas gerais, relata que os bifosfonatos inibem a digestão do osso pelos osteoclastos. Os osteoclastos, por sua vez, também possuem um turnover constante e normalmente destroem-se a si mesmo por um processo “suicida” chamado apoptose. Os bisfosfonatos estimulam os osteoclastos a sofrerem tal evento. O fato dos bisfosfonatos serem potentes inibidores de osteoclastos levou esta classe de medicamentos a ser considerada a terapia de primeira escolha nas doenças que afetam o metabolismo ósseo como a osteoporose e a doença de Paget, bem como em tumores malignos como mieloma múltiplo, hipercalcemia maligna e outras com metástase óssea, como o câncer de próstata e mama. Para a Associação Americana de Cirurgia Oral e Maxilofacial aproximadamente 30 milhões de bisfosfonatos são prescritos anualmente apenas nos EUA e mais que 190 milhões no mundo todo. É estimado que pamidronato e zoledronato, utilizados principalmente em tratamentos oncológicos, têm sido usados em 2,5 milhões de pacientes mundialmente. (TARASSOFF P - 2003). Para diversos autores, CUMMINGS SR - 2007; DUNSTAN CR – 2007 e FICARRA G -2005, os bisfosfonatos são fármacos análogos sintéticos estáveis do pirofosfato inorgânico no qual o átomo central de oxigênio da ligação P-O-P é substituído por um átomo central de carbono (P-C-P), o que além da solubilidade em água, proporciona ao medicamento maior resistência à hidrolise química e enzimática. Os pirofosfatos são compostos naturalmente presentes no organismo e reguladores fisiológicos da calcificação e reabsorção óssea. Todos os fármacos da classe dos bisfosfonatos possuem o esqueleto P-C-P (fósforo-carbono-fósforo), conforme mostra a Figura 1: Figura 1: Estrutura química geral dos BP´s. DURIE BG. Os dois grupos PO3-2 (fosfonato) ligados covalentemente ao carbono determinam o nome “bisfosfonato” e a função destes fármacos. A cadeia lateral longa (R2) determina as propriedades químicas, o modo de ação e a potência do medicamento. A cadeia lateral curta (R1), frequentemente chamada de “gancho”, influencia principalmente as propriedades químicas e também as cinéticas. A cadeia longa R2 pode ser apresentada em duas categorias de estrutura química, que são os bisfosfonatos nitrogenados e os nãonitrogenados. Estes grupamentos agem por diferentes mecanismos de ação. A Tabela 1 mostra os principais bisfosfonatos com suas estruturas químicas, potência relativa e a rota de administração utilizada. Tabela 1- Estrutura molecular dos vários tipos de bisfosfonatos, nomes comerciais, potências relativas e suas vias de administração. Nome Nome comercial Genérico Etidronato Didronal Clodronato Tiludronato Palmedronato Alendronato Ibandronato Risedronato Zoledronato Bonefos, Ostac, Loron, clodron Cadeia Lateral Potência Cadeia lateral R2 R1 Relativa ao Administração Etidronato -OH -CH3 X1 Oral -CL -CL X 10 Oral, IV X 10 Oral Skelid -H Aredia -OH -CH2-CH2-NH2 X 100 IV -OH -(CH2)3-NH2 X 1000 Oral -OH X 5000 Oral, IV -OH X 5000 Oral -OH X 10000 IV Fosamax, Oestoral Bonviva, Boniva, Bondronat Actonel Zometa, Aclasta, Somera, Reclst Fonte: Madrid e Sanz, 2009 (ADAPTADO) Os bisfosfonatos não-nitrogenados se assemelham ao pirofosfato e ao serem metabolizados pelos osteoclastos passam a ser substratos na síntese de análogos citotóxicos da adenosina trifosfato (ATP) não-hidrolisáveis, inibindo assim enzimas intracelulares ATP-dependentes que provocam a morte da célula (FLEISCH H - 2002) Segundo GIBBS SD, os bisfosfonatos nitrogenados, depois de reabsorvidos pelos osteoclastos, parecem atuar interrompendo a via do mevalonato, responsável por guiar a síntese do colesterol e lipídeos isoprenóides, tais como geranilgeranil difosfato, que são requeridos para a prenilação de várias proteínas importantes para a função dos osteoclastos. A interrupção deste mecanismo faz com que o transporte vesicular intracelular seja comprometido, provocando a morte celular e afetando diretamente a reabsorção (FLEISCH H - 2002; GNAT M - 2009; GRIZ L - 2006). No que tange às propriedades anti-reabsortivas dos bisfosfonatos, BAMIAS A -2005, relata aumento de, aproximadamente, 10 vezes entre as gerações da droga. Os denominados de endovenosos são os utilizados em pacientes oncológicos e os de uso oral para tratamento de outras doenças que ocasionam lise óssea, dentre elas a osteoporose e, em casos mais raros de manifestações, doença de Paget e Osteogênese Imperfeita na Infância. Essas variações na estrutura química molecular apresentam propósitos biológicos definidos, como: aumentar a afinidade óssea, aumentar sua potência, adequar à seletividade e diminuir a toxicidade dos bisfosfonatos (DUNSTAN CR - 2007). As gerações dos bisfosfonatos a seguir são dependentes da estrutura química e potência: – Primeira geração ou não-nitrogenados: etidronato e clodronato. Apresentam correntes elétricas laterais R2 simples ligando-se fracamente aos cristais de hidroxiapatita. – Segunda geração ou nitrogenados: pamidronato (Aredia, Novartis), alendronato (Fosamax, Merck), rizendronato (Actonel, Procter & Gamble) e Ibandronato (Boniva, Roche), apresentam potência duplicada em relação à primeira geração devido à ligação de um íon nitrogênio. – Terceira geração: ácido zoledrônico (Zometa, Novartis) é uma nova geração que apresenta a potência mais alta em doenças metastáticas de todos os outros bisfosfonatos disponíveis pelo fato de o átomo de nitrogênio ter sido contido dentro de um anel heterocíclico. Para FRITH J - 1997, os menos potentes, que não contêm nitrogênio (etidronato, clodronato, tiludronato), são metabolizados nas células em compostos análogos do ATP (adenosina trifosfato), que acabam por competir com este composto, responsável pela produção de energia celular. Assim, o osteoclasto inicia a apoptose e morre, levando consequentemente a um decréscimo da reabsorção óssea. Por outro lado, os bisfosfonatos mais potentes, os nitrogenados (alendronato, risedronato, pamidronato, ibandronato, zoledronato), bloqueiam a via do mevalonato, bloqueando a enzima FPP (farnesil difosfato sintetase), que é necessária para a síntese do farnesil difosfato e geranil difosfato, o que vai resultar em uma carência intracelular, entre outros, de geranilgeranildifosfato e de farnesil difosfato, ambos necessários para a modificação lipídica de pequenas proteínas sinalizadoras na atividade da GTPase (BERGSTROM JD2000). Como resultado desta disfunção, há alteração da membrana celular lipídica do osteoclasto, levando a uma alteração do seu mecanismo celular, provocando a apoptose osteoclástica. Muitas investigações têm focado o efeito dos bisfosfonatos nitrogenados em células tumorais. As experiências in vitro confirmaram que estes fármacos podem inibir a adesão de células neoplásicas ao osso, reduzir a facilidade para invadirem membranas e baixar a migração celular (WOO - 2006). Embora em menor escala, evidências in vivo demonstrando a ação dos bisfosfonatos também começam a surgir, porém necessitando ainda de mais investigações. Dos bisfosfonatos administrados via oral ou intravenosa, aproximadamente 50% da dose é excretada de forma inalterada pelos rins. O restante possui alta afinidade pelo tecido ósseo, e é rapidamente adsorvido na superfície óssea. Estudos farmacocinéticos de EZRA A - 2000 mostraram que após administração intravenosa de bisfosfonatos aproximadamente 30-80% da dose é excretada na urina, e a maioria do restante é ligada ao osso, onde a droga permanece por um longo período de tempo, possivelmente por toda a vida. Os valores de incorporação pelo esqueleto humano é aproximadamente 20% no caso do clodronato, 50% para etidronato e mais que esse valor para pamidronato e alendronato. O tempo de meia-vida circulante dos bisfosfonatos é curto; em ratos é na ordem de minutos, e nos humanos um pouco maior (de 30 min a 2h). Portanto, a taxa de entrada no osso é bastante rápida. Os bisfosfonatos se ligam preferencialmente a ossos que possuem elevada taxa de turnover e a sua distribuição não é homogênea. As juntas (especialmente trabecular) da tíbia e do fêmur têm concentrações significativamente maiores do que as porções médias (osso cortical). Esta distribuição pode ser atribuída a diferenças nas taxas superfície/volume. Em humanos, a taxa de superfície/volume é aproximadamente quatro vezes maior no osso trabecular em comparação com o cortical, mas outros fatores como suprimento sanguíneo e diferenças no turnover ósseo também podem contribuir com essas diferenças. A incorporação pelo esqueleto varia com as espécies, sexo e idade. Como exemplo, a incorporação do alendronato foi substancialmente maior, aproximadamente 2-3 vezes maior em ratos jovens (2 meses de idade) em comparação a ratos adultos (12 e 20 meses de idade) depois da administração intravenosa de 1mg/Kg. No entanto, o efeito da idade se mostrou menor quando a dose foi aumentada para 10mg/Kg. Geralmente a concentração de alendronato nos ossos de ratos machos foi maior do que em ratas fêmeas, mas diferenças significativas quanto ao sexo foram observadas com baixas doses e em animais jovens. Após uma dose intravenosa alta, os bisfosfonatos podem ser depositados em tecidos não calcificados, como fígado, pâncreas e rins. Após administração intravenosa (30mg/Kg) de alendronato em ratos, 23% da dose permaneceu nesses tecidos não calcificados durante 48h. Estudos similares foram obtidos com outros bisfosfonatos. Ao menos uma parte dessa distribuição parece ser devido à formação de complexos com metal ou formação de agregados após a injeção muito alta ou rápida do medicamento. Esses complexos são então fagocitados por macrófagos que contribui para a retenção em tecidos não calcificados. 2.4 Indicações terapêuticas Os bisfosfonatos são usados clinicamente no tratamento da osteoporose, doença de Paget dos ossos, metástase óssea (com ou sem hipercalcemia), mieloma múltiplo e outras condições que levam à fragilidade óssea. Na osteoporose e doença de Paget, o alendronato e o risodronato são os fármacos mais populares. Se eles não apresentaram eficácia ou se o paciente desenvolver problemas no trato digestivo, o pamidronato intravenoso pode ser utilizado. Bisfosfonatos intravenosos com potência elevada têm demonstrado modificar a progressão de metástase em várias formas de câncer, especialmente o de mama. Estudos randômicos em mulheres com esse tipo de câncer que receberam zoledronato tiveram uma redução de 36% de risco recorrente da doença, ou um novo câncer na outra mama, ou ainda metástase óssea em comparação com mulheres que não receberam a terapia. Outros bisfosfonatos, como o medronato (R1 e R2= H) e o oxidronato (R1= H, R2= OH), são misturados com tecnécio (Tc) radioativo e são injetados para imagem óssea e detecção de doença nos ossos. Mais recentemente, os bisfosfonatos têm sido utilizados para reduzir taxas de fraturas em crianças portadoras de osteogênese imperfeita (GNAT M - 2009). 2.4.1 Bisfosfonatos orais e doença de Paget A doença de Paget é uma doença óssea causada pela alteração do turnover ósseo. Nesta doença a reabsorção e deposição ósseas estão dramaticamente aceleradas. Assim, esta patologia é um distúrbio benigno e sistêmico, aumentando a velocidade do metabolismo ósseo. Esta remodelação óssea, francamente aumentada, causa a destruição progressiva de ossos do organismo e posterior reconstrução de um osso desorganizado, com pouca resistência compressiva, muito vascularizado e normalmente com elevados níveis sorológicos de fosfatase alcalina (GRIZ L - 2006). Ainda segundo GRIZ L – 2006, não estão referenciadas as etiologias da doença de Paget, embora fatores hereditários e ambientais sejam implicados como facilitadores da doença. Na maioria dos casos esta doença é assintomática, sendo diagnosticada por meio de radiografia óssea feita por outro motivo qualquer, como por exemplo um raio-X do tórax rotineiro. Em algumas pessoas pode causar diferentes sintomatologias, como dor óssea, perda auditiva (por alterações dos ossos do ouvido) e fraturas ósseas e ainda complicações dessas mesmas fraturas. Quando grandes ossos (tíbia e fêmur) são atingidos, pode surgir dor óssea por sustentação do peso do corpo. A dor da doença de Paget é contínua, não melhorando com repouso e, por vezes, piora durante a noite. O tratamento apenas está indicado em pacientes com dor óssea ou naqueles com comprometimento de regiões como a coluna vertebral. O tratamento mais comum é feito com uso de bisfosfonatos, com diminuição das dores ósseas e normalizando os níveis de fosfatase alcalina (REID IR - 2007). 2.4.2 Bisfosfonatos orais e osteoporose A osteoporose é uma doença óssea que diminui substancialmente a quantidade de massa óssea, tornando os ossos ocos, finos e de extrema sensibilidade, estando o esqueleto mais sujeito a fraturas. Esta fragilidade óssea faz parte do processo normal de envelhecimento e é mais comum em mulheres do que em homens, numa proporção de 4:1. Para KARSDAL MA - 2006, a doença progride lentamente e raramente apresenta sintomas, podendo passar despercebida, se não forem feitos exames. O aparecimento da osteoporose está ligado aos níveis hormonais do organismo, principalmente de um hormônio feminino, o estrogênio. Este hormônio ajuda a manter o equilíbrio entre a perda e o ganho da massa óssea. Este hormônio também está presente nos homens, mas em menor quantidade. As mulheres são as mais atingidas pela doença, uma vez que, na menopausa os níveis de estrogênio caem bruscamente; consequentemente, os ossos passam a incorporar menos cálcio, tornando-se mais frágeis. A densidade mineral de cálcio é reduzida de 65 % para 35% quando a osteoporose se instala. O canal medular central do osso torna-se mais largo. Com a progressão da osteoporose, os ossos podem ficar frágeis e quebradiços. O colágeno e os depósitos minerais degradam-se rapidamente e a formação do osso torna-se mais lenta. Com menos colágeno, surgem espaços vazios que enfraquecem o osso. A fisiopatologia primária da osteoporose não é diretamente o metabolismo dos íons cálcio, mas sim a renovação e remodelação óssea. Isto vem enfatizar o envolvimento e a importância dos bisfosfonatos no tratamento da osteoporose. 2.4.3 Bisfosfonatos intravenosos e hipercalcemia maligna Dos vários tipos de câncer que podem provocar hipercalcemia maligna, os mais freqüentes são o carcinoma de pulmão, carcinoma de mama, mieloma múltiplo, carcinoma de próstata e ramente o carcinoma espinocelular da faringe. É comum estes doentes apresentarem níveis elevados de íon cálcio (14-18 mg/dL), ocasionando vários sintomas, tais como confusão mental, letargia, dores ósseas profundas, dores abdominais e paradas cardíacas (FARIAS ML - 2005). Ainda segundo FARIAS, ML – 2005,As doenças oncológicas que produzem hipercalcemia podem fazê-lo de duas formas. Uma, por meio da liberação, por parte do tumor primário, de um peptídeo do hormônio paratireóideo. Esta ação vai levar a um aumento da absorção de cálcio no intestino, diminuição da excreção do cálcio renal e, consequentemente, um aumento da reabsorção óssea pelos osteoclastos.A segunda forma ocorre diretamente associada às metástases ósseas ou tumores secundários, através da secreção da proteína RANKL. Esta é uma proteína transmembranar produzida pelos osteoblastos que, ao ligar-se ao receptor Rank existente nos precursores dos osteoclastos, transmite um sinal que induz a sua diferenciação, potencilizando, assim, a reabsorção óssea. Comum a estes dois tipos de hipercalcemia estão os osteoclastos. Esses fármacos anti- osteoclásticos podem reverter todo esse processo. 2.4.4 Bisfosfonatos intravenosos e metástases ósseas Apesar dos graves efeitos que provocam, muitas das doenças oncológicas não provocam, por si só, uma reabsorção óssea direta. Alguns estudos demonstram que existem tumores secundários que recrutam células precursoras de osteoclastos na medula, estimulando-as a reabsorver o osso, onde mais tarde irão se instalar células tumorais. A estratégia clínica que é usada hoje é clara. Resumidamente, o pamidronato e o zoledronato diminuem a população de osteoclastos existente, havendo menor número de células disponíveis para responder aos mecanismos de ativação do tumor. A partir do momento que não há reabsorção, o tumor fica bloqueado e o seu desenvolvimento limitado. Apesar de não serem fármacos anti-cancerígenos diretos, eles aumentam a sobrevivência e a qualidade de vida dos pacientes com metástases ósseas. Atualmente, no câncer como mieloma múltiplo, mama e próstata, os bifosfoantos são utilizados quase como rotina nos protocolos terapêuticos do tratamento oncológico (DAVIES JE - 1998). 2.4.5 Bisfosfonatos intravenosos e mieloma múltiplo O mieloma múltiplo é uma neoplasia hematológica maligna, grave e incurável, caracterizada por infiltração da medula óssea por plasmócitos e presença de proteína monoclonal (componente A, G ou M) no sangue ou urina. Esta doença atinge tipicamente pessoas com média de 65 anos e caracterizase por dores ósseas, predominantes na região lombar. Estes pacientes sofrem fraturas patológicas, anemia, insuficiência renal, hipercalcemia, infecções recorrentes, dor óssea e osteopenia difusa. O aumento da reabsorção óssea pelos osteoclastos é acompanhada pela diminuição da função dos osteoblastos. Para contrariar estes processos os bisfosfonatos mais utilizados são o pamidronato e o zoledronato. A osteonecrose da maxila ocorre de 6,8% a 12,8% em pacientes com mieloma múltiplo (LACY MQ - 2006). 2.4.6 Bisfosfonatos intravenosos e câncer de próstata O carcinoma de próstata metastiza em cerca de 15 a 20% dos casos e cerca de 90% destes tumores avançados desenvolvem metástases ósseas. As metástases ósseas destes tumores são usualmente osteoblásticas com elevada deposição de tecido ósseo. Mas há evidências de, concomitantemente, existirem metástases osteolíticas. Por este motivo, os bisfosfonatos têm lugar no tratamento da metastização óssea destes tumores. O zoledronato revelouse útil no tratamento desta patologia (OLSON KB - 2005). 2.4.7 Bisfosfonatos intravenosos e câncer de mama Para BODY JJ – 2006, o câncer de mama é um processo oncológico em que as células sadias da glândula mamária se alteram, transformando-se em células tumorais, as quais se multiplicam descontroladamente, até constituírem o tumor. É a forma mais comum de carcinoma em mulheres ocidentais, afetando uma em cada nove mulheres que atingem os noventa anos. A indicação mais importante do tratamento com bisfosfonatos no câncer da mama é a correção da hipercalcemia maligna decorrente da metástase óssea, como já foi referido. As pacientes se beneficiam da terapêutica com bisfosfonatos, pois em 50% dos casos há controle da dor. A utilização do ácido zoledrônico por via endovenosa, por períodos curtos, é a forma adequada, uma vez que existem efeitos colaterais de osteonecrose da maxila em cerca de 2,5 a 12% das pacientes com câncer de mama, submetidas a este tipo de tratamento. 2.4 O USO DE BISFOSFONATOS NA ODONTOLOGIA O sucesso da osseointegração dos implantes depende tanto de alterações sistêmicas como das condições ósseas em sua estrutura macro e micro. Condições estas que podem comprometer severamente a instalação de implantes orais em diversos casos. Pelo fato de os bisfosfonatos serem uma classe de medicamentos que interagem no remodelamento ósseo, muitos estudos foram realizados com o intuito de aproveitar os efeitos antireabsortivos dessa droga, bem como melhorar o padrão de densidade óssea tanto em áreas periodontais como em áreas perimplantares. TAKAISHI et al., em 2001, avaliaram o efeito clínico do etidronato em quatro casos de indivíduos do sexo feminino com periodontite crônica. Após tratamento convencional da periodontite crônica, foram administradas 200 mg de etidronato diariamente por um período de duas semanas seguido por um período de 10 semanas ou mais sem a medicação, num período total de tratamento que variou entre dois e três anos. Todos os quatro casos apresentaram diminuição na mobilidade dos dentes afetados, assim como diminuição na profundidade de sondagem. Estes resultados foram mais evidenciados num período de seis a 18 meses após a terapia com etidronato. Os autores concluíram que o etidronato pode ser uma droga promissora efetiva no tratamento da doença periodontal crônica. Em 2006, JEFFCOAT avaliou a segurança e a efetividade do uso de bisfosfonatos orais em dois estudos. O primeiro estudo duplo cego controlado teve como objetivo buscar os efeitos do uso oral do alendronato de sódio na perda óssea alveolar em pacientes com doença periodontal. Um total de 335 pacientes foi dividido em um grupo tratado com alendronato de sódio (grupo teste) e um com placebo (grupo controle). A dose utilizada foi 70mg semanal. Todos os pacientes receberam previamente tratamento periodontal nãocirúrgico e foram examinados antes da randomização e a cada três meses durante dois anos. O principal ponto considerado como medida de segurança foi a ausência de osteonecrose. Infecção e perda óssea progressiva também foram consideradas. A eficácia do alendronato de sódio foi verificada através da alteração do nível ósseo alveolar. Após dois anos, um ganho significativo de altura óssea foi observado no grupo tratado com alendronato de sódio nos pacientes com baixa densidade mineral óssea. Já no grupo com densidade mineral óssea normal não houve diferença. Não foram observados casos de osteonecrose após o término do período do estudo. O estudo indica ser seguro o uso oral da dose semanal de 70 mg de alendronato de sódio. O segundo estudo também controlado, comparou as taxas de sucesso de implantes dentais em pacientes que receberam bisfosfonatos orais (grupo-teste) durante uma média de três anos e os pacientes que não receberam (grupo-controle). Todos os pacientes eram mulheres pós-menopausa com índices de densidade mineral óssea indicativo de osteoporose. Após a cirurgia de colocação dos implantes os pacientes foram examinados durante três anos. Sucesso foi definido como ausência de mobilidade, infecção, dor e osteonecrose e perda óssea menor que 2 mm ao redor do implante. Os resultados revelaram 100% de sucesso nos implantes colocados nos pacientes que usaram bisfosfonatos e 99,2% no grupo que não recebeu bisfosfonato. Não houve diferença significativa entre os dois grupos. O estudo indica que a terapia oral com bisfosfonatos não está associada à falha de implantes dentais. Em um estudo retrospectivo pesquisou-se sobre tratamento com bisfosfonatos e o risco de falhas na instalação de implantes e enxertos ósseos. Cento e um implantes foram instalados em 42 pacientes que estavam sob tratamento com bisfosfonatos antes dos procedimentos cirúrgicos odontológicos. O tempo de tratamento com bisfosfonatos variou de seis meses de uso a 11 anos, sendo tomados até o momento presente. Desses pacientes, 95% eram do sexo feminino, 30 desses pacientes receberam também enxertos ósseos, 34 pacientes utilizaram alendronato, seis risedronato, dois ibandronato. Requisitos para perda de implante, sangramento e profundidade de sondagem e altura da crista óssea foram 26 examinados, bem como indícios de ONMAB. Resultados: cinco implantes falharam, dando uma taxa de sucesso de 95%, o que é comparável ao normal taxa de sucesso de 96,5% pelo mesmo operador. Nenhum paciente apresentou sinais de osteonecrose da mandíbula. Conclusão: os pacientes que tomam bisfosfonatos por via oral não apresentaram maior risco de insucesso para implantes e enxertos ósseos do que os outros pacientes. O estudo retrospectivo de FUGAZZOTO - 2007 avaliou a cicatrização no primeiro e segundo ano após a instalação dos implantes colocados em pacientes fazendo uso de bisfosfonatos orais com ou sem extração concomitante. Entre janeiro e dezembro de 2005, 61 mulheres que faziam uso de alendronato ou risedronato (70 mg ou 35 mg/semana) tiveram a instalação de 43 implantes imediatamente após extração ou em áreas edêntulas. Da sexta semana até o sexto mês pós-operatório, radiografias foram feitas e os implantes foram avaliados pela mobilidade e características clínicas de sucesso de osseointegração, segundo ALBRECKTSSON - 1989. Como resultado observouse que 54% dos pacientes faziam uso dos bisfosfonatos com uma média de tempo de uso de 3,3 anos. E apenas um paciente apresentou exposição óssea seguida da exodontia e instalação do implante com sinais e sintomas já na primeira semana pós-operatório. Todos os outros implantes estavam estáveis. Após o primeiro e o segundo ano todos os implantes estavam com função e próteses estáveis. O objetivo do estudo de ALTUNTAL e GUVENER – 2004, foi avaliar o efeito inibitório da reabsorção óssea pós-extração dentária em ratos Wistar com o uso de alendronato administrado subcutaneamente pós-extração numa concentração de 0,25 mg/kg/dia. Os níveis de fosfatase alcalina foram utilizados como marcadores da atividade osteoblástica. Histopatologicamente avaliou-se os números de osteoclastos, osteoblastos, canais de havers, número e tamanho de lacunas reabsortivas e formação osteóide. A espessura da parede vestíbulo-lingual foi medida e observou-se que nos ratos tratados com alendronato a redução dessa parede foi significativamente menor do que no grupo tratado com solução salina, bem como níveis de excreção de cálcio diminuído e a supressão pronunciada do número de osteoclastos. Nesse grupo percebeu-se também que os níveis de fosfatase alcalina diminuíram tanto em duas como em quatro semanas pós-extração. A diminuição dos níveis de fosfatase alcalina revela uma diminuição acentuada da remodelação óssea nos grupos tratados com alendronato. A administração sistêmica de alendronato preveniu a perda óssea na parede vestibular em 95% e da parede lingual 98%%, medida altamente significante. Uma pesquisa realizada por MERAW SJ e REEVE CM - 1999 observou o osso periférico após cirurgia de instalação de implantes revestidos com alendronato de sódio com o objetivo de avaliar o efeito da droga na regeneração óssea. Foram selecionados implantes revestidos por hidroxiapatita e implantes maquinados, e cada um dos grupos foi dividido para a comparação, com e sem o uso do alendronato de sódio. Na ocasião, 48 implantes foram colocados imediatamente após extrações dentárias de prémolares em cães de caça. Os resultados indicaram que o alendronato promoveu uma taxa de formação óssea maior e mais rápida. 2.6 OSTEONECROSE Os primeiros relatos de ONMAB envolveram doentes que faziam uso de bisfosfonatos intravenosos para tratamento de doenças metastáticas ósseas. Existem, porém, casos associados ao uso de bisfosfonatos de uso oral para o tratamento de osteoporose e osteopenia. MARX, em 2003, relatou uma série de 36 casos em que os pacientes estavam em tratamento com bisfosfonatos e tiveram exposições ósseas dolorosas nos maxilares. Dezoito pacientes recebiam o fármaco para hipercalcemia associada à mieloma múltiplo, 17 para hipercalcemia relacionada a metástases de câncer da mama e um para osteoporose. A mandíbula foi afetada em 80% dos pacientes, a 15 maxila em 14% deles e ambas em 6% dos pacientes. As lesões estavam associadas a extrações dentárias em 78% dos casos, nos outros 22% desenvolveram-se espontaneamente. Na maioria dos casos, os autores conseguiram controle e limitação da progressão das lesões com antibioticoterapia intermitente, uso de colutórios à base de clorexidina e debridamento periódico do osso sequestrado com irrigação da ferida. Os mesmos autores, em 2005, relataram uma série de casos de 119 pacientes com ONMAB. Nesta revisão os autores se referiram a três bisfosfonatos como prováveis causadores dessas lesões. Do universo de pacientes estudados, 26% utilizavam pamidronato (Aredia, Novartis Pharmaceuticals, East Haven, NJ), 40,3% usavam zoledronato (Zometa, Novartis Pharmaceuticals), 30,2% dos pacientes recebiam Aredia e depois mudaram para o uso com Zometa e 2,5% dos pacientes faziam o uso de alendronato (Fosamax, Merck Co, West Point, VA). A média do tempo de uso do medicamento e o aparecimento dos sinais e sintomas das lesões ósseas foi de 14,3 meses para quem recebia Aredia, 9,4 meses para quem utilizava Zometa e três anos para quem recebia Fosamax. Convém esclarecer que 52,1% dos pacientes foram tratados para mieloma múltiplo, 42% para câncer ósseo metastático, 4% para câncer de próstata e 2,5% para osteoporose. Os achados do estudo mostraram que 31,1% das lesões ósseas expostas eram assintomáticas, 68,9% dos pacientes relataram dor, 23,5% mobilidade dental e 17,6% apresentaram fístulas. Percebeu-se também que 68,1% das exposições ósseas ocorreram somente em mandíbulas, 27,7% em maxilas e 4,2% em ambas as arcadas. Os autores observaram que a prevenção completa dessas complicações não é correntemente possível, entretanto, planejamento e pré-tratamento com bisfosfonatos podem diminuir essas incidências e procedimentos não-cirúrgicos podem prevenir novos casos. Para aqueles pacientes que relataram dor em conjunto com as exposições ósseas, o controle desta sintomatologia foi efetiva, bem como a resolução das exposições foi controlada com o uso de antibioticoterapia e bochechos com chlorexidine 0,12%. Em 2007, MARX et al. determinaram o risco e o tempo de curso da ONMAB de 30 casos consecutivos de pacientes que faziam o uso oral de bisfosfonatos comparados com os 116 casos de ONMAB ocasionados pelo uso da droga por meio intravenoso. A incidência das exposições ósseas se deu em 94,7% na região posterior de mandíbula, e 50% das lesões ocorreu após procedimentos cirúrgicos. Quanto aos pacientes, 53% deles utilizavam alendronato (Fosamax, Merck, Whitehouse Station, NJ) para o tratamento de osteopenia, 33,3% para o tratamento de osteoporose e 13,4% para osteoporose induzida por esteróides. Os resultados mostraram uma relação direta ente o tempo de exposição e a concentração do uso oral do bisfosfonato. Os níveis de C-terminal telopeptide – É telepeptídeo-C terminal (CTX) foram correlacionados com a duração do uso do bisfosfonato e seus valores aumentaram com a descontinuidade da droga. Níveis de CTx menores que 100 pg/ml representaram alto risco para o desenvolvimento de ONMAB, valores entre 100 pg/mL e 150 pg/mL, risco moderado e valores acima de 150pg/ml representaram risco mínimo. Os autores concluíram que a indução de ONMAB pelo uso de bisfosfonatos de uso oral é rara, porém existe e medidas de prevenção devem ser tomadas. RUGGIERO et al., em 2004, relataram 63 casos de ONMAB. Na ocasião, 28 pacientes recebiam o fármaco para o tratamento de mieloma múltiplo, seguido de 21 pacientes para câncer da mama, três para câncer de próstata e cinco pacientes o recebiam para outras doenças malignas. Sete pacientes também faziam uso de bisfosfonatos orais para tratamento de osteoporose, sem terem tido diagnóstico de doenças malignas ou terem passado por quimioterapia. A maxila foi envolvida em 38% dos pacientes e a mandíbula em 63%. Um paciente teve todos os quadrantes acometidos por lesões ósseas necróticas. O quadro clínico mais frequente foi de dor e tecido ósseo exposto em local onde houve uma extração dentária prévia. Entretanto, 14% dos pacientes não tinham história de qualquer procedimento dentoalveolar recentemente. Ao exame radiográfico, os autores observaram osso com aspecto mosqueado, formação de sequestros, sinusite crônica e fístulas bucosinusais. Em seis pacientes foram verificadas imagens de áreas osteolíticas antes da extração, sugerindo envolvimento prévio do osso alveolar. Ao exame microscópico foi observado osso necrótico com restos bacterianos e tecido de granulação. Os autores realizaram cultura de material em que foram identificados microorganismos integrantes da microbiota oral normal. O tratamento variou de debridamento sob anestesia local até procedimentos cirúrgicos para remoção de toda a peça óssea envolvida. A interrupção do uso do bisfosfonato não teve um grande impacto na progressão do processo. Em cinco pacientes a necrose óssea não apenas persistiu como também se desenvolveu em outros sítios. Segundo a Associação Americana de Cirurgiões Buco-Maxilo Faciais (AAOMS), a Osteonecrose dos Maxilares associada ao uso de Bisfosfonatos (ONMAB) só é diagnosticada quando o paciente estiver em tratamento com bisfosfonatos ou já ter feito uso dele, bem como apresentar áreas de exposição óssea necrótica nos maxilares, as quais persistem por mais de oito semanas e que não foram irradiadas. Dados fornecidos pelo fabricante do alendronato (Fosamax-Merck) relataram que a incidência de ONMAB foi calculada em 0,7/100.000 pessoas/ano de exposição9. Hess et al., em 2008, realizaram uma revisão sistemática no período 1996 a 2007 para identificar ONMAB em pacientes que utilizaram bisfosfonatos por outra indicação que não no tratamento oncológico. Apenas 99 casos foram identificados, sendo que destes, 85 pacientes tinham osteoporose, 10 doença de Paget e dois artrite reumatóide. Além disso, 83,3% utilizavam a medicação por via oral e não intravenosa. As causas da ONMAB ainda não estão claras, mas as ações antiosteoclásticas e antiangiogênicas dos bisfosfonatos são dadas como determinantes no aparecimento da doença. Acredita-se que a ONMAB resulte de uma interligação entre metabolismo ósseo alterado pelos bisfosfonatos, trauma local, aumento da necessidade de reparo ósseo, infecção e hipovascularização. Segundo DIXON et al - 1997, a taxa de remodelamento ósseo das cristas alveolares é 10 vezes superior à da tíbia e o osso alveolar depende mais do processo de reabsorção/remodelação e renovação, mediado por osteoclastos, do que qualquer outra parte do esqueleto adulto. Os bisfosfonatos, por sua vez, irão agir em áreas de maior mobilização de osteoclastos, o que atribui sua maior ação em áreas do tecido ósseo alveolar, os quais causam remodelamento ósseo diário ao redor do ligamento periodontal e, por consequência, mandíbula e maxila são os locais de manifestação do seu maior efeito adverso. Apesar de estas complicações serem observadas tanto na maxila como na mandíbula, a maior incidência é na mandíbula devido à sua hipovascularização e, frequentemente ocorre após extração dental, mas podem também ocorrer espontaneamente. A região posterior da mandíbula é o sítio de maior acometimento (65%), seguido da área posterior da maxila (22,7%)33. A AAOMS desenvolveu uma classificação para determinar os fatores de risco e os níveis de intensidade da ONMAB: – Risco: todos os pacientes que fazem o uso de bisfosfonatos. – Com ONMAB: * Primeiro estágio: osteonecrose com exposição óssea, assintomático, sem sinais de infecção persistindo por semanas e possivelmente meses. As lesões desenvolvem-se em torno de áreas ósseas afiladas e sítios cirúrgicos prévios. * Segundo estágio: osteonecrose com exposição óssea com sinais clínicos de infecção com dor, edema de tecidos moles, perda dentária e drenagem. Já existem alterações osteolíticas radiograficamente e a biópsia tecidual mostra presença de actinomices, o que é possivelmente causado pela infecção secundária24,35. * Terceiro estágio: presença de osteonecrose, parestesias, fratura patológica, fistula extraoral ou sequestros ósseos/osteólise. Os fatores de risco para ONMAB podem ser modulados pela natureza da droga, fatores locais e sistêmicos. A potência do bisfosfonato e duração do tratamento são diretamente proporcionais ao aparecimento da ONMAB. Pacientes que fazem uso de bisfosfonatos e são submetidos a procedimentos cirúrgicos odontológicos apresentam risco sete vezes maior de desenvolverem ONMAB. Dentre os fatores locais foram descritos principalmente traumas cirúrgicos, como extração dentária (86% dos casos), pobre higiene oral, doenças infecciosas orais e trauma ocasionado por próteses removíveis. A administração endovenosa parece conferir um risco mais alto do que a administração oral. A média de ocorrência de ONMAB nos pacientes em tratamento com ácido zoledrônico (Zometa) é de 16 meses, nos tratados com pamidronato (Aredia) é de 34 meses e com bisfosfonatos orais (alendronato – Fosamax) de 54 meses. Os casos de ONMAB que envolvem alendronato relatam que os pacientes faziam o uso de doses iguais ou maiores que 70 mg/semanal durante 2 a 3 anos de tratamento contínuo ou uma dose de 35 mg/semanal num período de quatro anos de tratamento contínuo. Terapias com posologias de menor duração resultam em pequena ou nenhuma interferência com a angiogênese ou apoptose de osteoclastos e o surgimento de ONMAB. Doses usadas para o tratamento de doenças metastáticas que chegam a ser oito vezes maiores do que utilizada para a prevenção da osteoporose foram relatadas como risco para a ONMAB. O uso de alendronato por um curto período, no caso, menos que três anos, não parece ser uma contra-indicação à cirurgia dental. No entanto, aqueles que fazem o uso dos bisfosfonatos orais há mais de três anos e usam concomitantemente corticosteróides, necessitam interromper a administração dos bisfosfonatos pelo menos três meses antes do procedimento cirúrgico, só devendo retomar o uso após completa cicatrização dos tecidos ósseos envolvidos, provavelmente três meses após a cirurgia. Neste caso, a solicitação de um termo de consentimento informado e esclarecido se faz necessário. Tem sido proposto que os testes para monitorar os marcadores da renovação óssea podem ajudar no diagnóstico e risco do desenvolvimento ONMAB. Os telepeptídeos-C terminal ou do colágeno tipo I (CTx) são fragmentos de colágeno que são liberados durante a remodelação e renovação óssea. Como os bisfosfonatos reduzem a formação dos CTx, acredita-se que a contagem dos níveis séricos de CTx poderia ser um indicador confiável no nível de risco. Os níveis séricos de CTx devem ser maiores que 150 pg/ml para iniciar qualquer procedimento cirúrgico. Se os níveis de CTx estiverem menores que 150 pg/ml, se faz necessária a descontinuidade do uso do bisfosfonato aprovado pelo médico pelo menos três meses antes do procedimento cirúrgico até que os níveis séricos estejam maiores que 150 pg/ml. Os valores laboratoriais normais de CTx são de 300-600 pg/ml e valores menores que 150 pg/ml conferem um alto risco para o desenvolvimento de ONMAB. O protocolo odontológico preventivo ao uso prévio de bisfosfonatos deve incluir: 1. avaliação odontológica (exame clínico e radiográfico); 2. remoção de focos de infecção e fatores traumáticos para a mucosa oral; 3. rígido controle de higiene oral para evitar infecções e complicações dentárias que possam ocasionar a ONMAB; 4. esclarecimento do paciente quanto aos fatores de risco para o desenvolvimento da ONMAB; 5. consultas frequentes ao cirurgião-dentista para avaliação das condições orais, controle de higiene, aplicação de flúor, monitoramento radiográfico, adaptação de próteses (a cada seis meses); 6. quando for necessário procedimento invasivo na boca, o caso deve ser discutido entre o oncologista e o cirurgião-dentista; 7. monitoramento do tecido ósseo através do nível de CTx. O tratamento da ONMAB é bastante variado, controverso e desafiador, visto que nenhum tratamento efetivo tem sido proposto até o momento. O protocolo é direcionado para cada caso, dependendo do grau clínico da doença. O tratamento é integrado e envolve o uso de antibióticos, irrigação local com solução antimicrobiana, debridamento local da ferida, sequestrectomia, cirurgia e oxigenação hiperbárica. Pacientes com exposições ósseas assintomáticas podem ser tratados com irrigação mediante soluções antimicrobianas, como a clorexidina, rigoroso controle clínico e radiográfico. Em alguns casos tem sido utilizado antibiótico sistêmico para prevenir infecção secundária. Nos casos em que há sequestro ósseo sintomático indica-se a remoção do osso necrótico, com menor agressão tecidual possível tanto ao osso como para o tecido mole adjacente. Tratamento cirúrgico agressivo foi, na maior parte dos casos, ineficiente e frequentemente exacerbou os quadros de exposição óssea. A interrupção do tratamento com bisfosfonatos tem sido considerada em casos graves de ONMAB. Entretanto, deve-se considerar se os benefícios serão maiores do que o risco de eventos esqueléticos resultantes da interrupção do medicamento. Na maior parte dos pacientes oncológicos, a manutenção do tratamento é primordial para a sobrevida do paciente. A interrupção no tratamento com bisfosfonatos não assegura a melhora do quadro já instalado de ONMAB porque esta droga pode persistir por vários anos no tecido. Assim, segundo a Associação Americana de Cirurgiões Oral e Maxilofacial, podemos dividir os pacientes sujeitos a tratamento com bisfosfonatos em quatro grupos, com relação à ocorrência de osteonecrose associada com bisfosfonatos: pacientes em risco (0), pacientes baixo risco (I), médio risco (II) e alto risco (III) (Tabela 3). Esta classificação é baseada na existência de exposição óssea/necrose na cavidade oral, sintomatologia e também presença ou não de infecção em todos os pacientes que tomaram ou se encontram fazendo uso de bisfosfonatos. Os pacientes em risco são aqueles que não têm osso necrótico/exposto aparente e que foram tratados com bisfosfonatos orais ou intra-venosos, não revelando qualquer tipo de sintoma doloroso ou infeccioso. Os pacientes de baixo risco têm osso necrótico/exposto, porém estão assintomáticos e não têm evidência clínica de infecção. Os pacientes de médio risco têm osso necrótico/exposto com dor e evidência clínica de infecção. Pacientes de alto risco têm osso necrótico/exposto com dor, infecção e fratura patológica ou fístula extra-oral. Todos os pacientes grau (0), sem exceção, que vão iniciar terapia intravenosa com bisfosfonatos devem ser observados previamente por um dentista. Pacientes que tenham feito uso de bisfosfonatos orais durante os três últimos meses devem igualmente submeterse a uma avaliação odontológica, apesar da evidência apontar para uma baixa incidência de osteonecrose associada com bisfosfonatos antes dos seis meses a contar do início da terapia com bisfosfonatos. Portanto, o procedimento odontológico necessário pode ser realizado a estes pacientes antes que o risco de desenvolvimento de osteonecrose aumente. Tabela 2 - Classificação segundo riscos de osteonecrose e medidas terapêuticas recomendadas de acordo com esse risco. CLASSIFICAÇÃO PARÂMETROS Sem risco DOR INFECÇÃ FRAT / O FÍSTULA - Educação do paciente (+)? - - - + - - - Baixo risco - Educação do paciente - Consulta para controle de 3 e 3 meses - Bochecho anti-séptico Grau II + + + (-)? - - Antibiótico Oral - Controle da dor - Debridamento superficial Risco - Bochecho anti-séptico Grau III + Alto Risco - Sem tratamento indicado - Bochechos anti-séptico Grau I Médio TRATAMENTO PREVENÇÃO Grau 0 ON + + + - Antibiótico oral - Controle da dor - Debridamento / Ressecção cirúrgica FONTE: Adaptado de Associação Americana de Cirurgiões Oral e Maxilofacial (2007). TRAATAMENTO Doentes 2.7 PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E CONDUTA Em 1845, numerosos casos de necrose mandibular foram documentados a partir de trabalhadores de indústrias de fósforos e minas de fosfato. A exposição crônica diária aos fosfatos causou um acúmulo destes compostos nos ossos (mandíbula e/ou maxilar) dessas pessoas causando uma doença ocupacional denominada “phossy jaw”. A alta mortalidade associada a essas lesões resultaram em mudanças na higiene das indústrias, e casos precoces da patologia foram tratados com protocolo similar aos da osteoradionecrose. MARX, em um alerta médico publicado em 2003, identificou 36 casos de exposição óssea dolorosa na mandíbula e/ou maxila que não responderam aos tratamentos cirúrgicos ou médicos. Todos os pacientes descritos estavam recebendo pamidronato (Aredia; Novartis Pharmaceuticals) ou zoledronato (Zometa; Novartis Pharmaceuticals) para o controle de tumor maligno nos ossos. Inicialmente esta conexão foi fortemente negada pela Novartis, sendo que alguns de seus pesquisadores atribuíram a osteonecrose à quimioterapia e à dexametasona que os pacientes haviam recebido para o tratamento do câncer. No entanto, outros pesquisadores (CARTER G – 2005, MIGLIORATTI CA – 2005, RUGGIERO - 2004) chamaram a atenção da comunidade médica frente a esses fatos. CARTER em 2005 apresentou cinco casos de exposição óssea dolorida na mandíbula e/ou maxila. Todos os pacientes haviam recebido pamidronato ou alendronato, e a duração da terapia havia sido de seis meses a seis anos. WANG e COL. – 2007, descreveram três casos de osteonecrose de mandíbula associados com quimioterapia contra câncer metastático de mama. Eles não encontraram outros fatores etiológicos, portanto atribuíram esta necrose secundária à quimioterapia. Os três pacientes também foram tratados com pamidronato. Contudo, em uma carta subseqüente ao editor, um dos autores admitiu, em virtude de casos similares reportados depois da sua publicação, que a causa mais provável da necrose era o bisfosfonato. RUGGIERO e COL apresentaram 63 casos de osteonecrose da mandíbula associada ao uso dos bisfosfonatos. Cinquenta e seis pacientes com doença maligna haviam recebido bisfosfonato intravenoso por pelo menos um ano, e sete pacientes faziam uso crônico de bisfosfonatos orais para o tratamento de osteoporose. HELLSTEIN e MAREK 2005, compararam a osteonecrose causada pelo bisfosfonatos (“bis-phossy jaw”) com a histórica doença “phossy jaw”. Os resultados de seus estudos mostraram que as descrições de ambas os relatos eram similares, e concluíram que prevenção e identificação precoce de pacientes que apresentam risco seriam de relevada importância. Segundo a Associação Americana de Cirurgiões Oral e Maxilofacial, a osteonecrose define-se como osso necrótico, exposto na região maxilofacial, sem resolução em oito a doze semanas, em doentes tratados com bisfosfonatos, que não fizeram radioterapia da cabeça e pescoço. A osteonecrose é uma condição em que o tecido ósseo necrosa e tem capacidade limitada de regeneração. É uma complicação rara, de alguns pacientes que recebem quimioterapia ou outros tipos de tratamento anticancerígeno de tumores dos maxilares e outras patologias ósseas, e, mais recentemente, relacionada com a terapia com bisfosfonatos. Segundo BAMIAS e COLS - 2005, a osteonecrose é referida como a necrose do osso, como resultado de um ineficaz suprimento sanguíneo das áreas afetadas, o que pode aparecer após o início do tratamento com bisfosfonatos (4 meses), como pode se revelar seis anos após o início do mesmo. Segundo SAMBROOK - 2006, a osteonecrose dos maxilares é uma “área de osso exposto que persiste por mais de 6 semanas”. Esta necrose óssea está descrita quase exclusivamente na maxila e na mandíbula, exceto um ou dois casos em outros ossos do esqueleto. Diferentes autores sugerem que esta predileção se deve ao fato que na cavidade oral os tecidos são submetidos a traumas contínuos e expostos aos microrganismos orais através do sulco gengival. Outro fator favorecedor desta localização seria que as artérias mandibulares são artérias terminais, favorecendo assim a osteonecrose. Em 2007, MARX ET AL., sugeriram que a osteonecrose da mandíbula é resultado da osteopetrose local. Contudo, existem outras condições sistêmicas associadas ao turnover ósseo cronicamente reduzido, como o hipotireoidismo, no qual a osteonecrose da mandíbula não ocorre. HANSEN ET AL - 2006, em uma observação paradoxal, comparou os osteoclastos em pacientes com osteonecrose e pacientes-controle, e demonstraram que nos pacientes doentes essas células estavam em proporção quatro vezes maior do que nos pacientescontrole. A cintilografia óssea também sugeriu que o turnover não foi suprimido nos locais da osteonecrose (67). SEDGHIZADEH ET AL. - 2008, mostrou evidência de microfilmes nos ossos de pacientes afetados pela osteonecrose de mandíbula utilizando microscopia eletrônica. Os achados de biofilmes de pacientes afetados podem explicar porque a BION é crônica na natureza e não responde a modalidades de tratamento convencional. Biofilmes ocorrem comumente em uma variedade de infecções crônicas, incluindo infecções dentárias, osteomielite, osteoradionecrose e infecções relacionadas com cateteres e próteses. Por outro lado, REID - 2007, sugeriu que a BION pode resultar de uma toxicidade direta às células ósseas e aos tecidos moles a partir dos bisfosfonatos e a infecção contribui na patogênese desta complicação. Este fato é corroborado por relatos de melhoras nas lesões osteonecróticas depois da antibioticoterapia. Pode ser concluído que a BION é um alteração do processo normal de cicatrização de feridas no qual o fechamento epitelial retardado de uma abertura de mucosa na cavidade oral leva a uma infecção crônica e consequente necrose do osso. Não existem provas que mostrem uma relação direta causa-efeito entre bisfosfonatos e osteonecrose da mandíbula. Recentemente os pesquisadores têm relatado muitos casos de osteonecrose associada com bisfosfonatos, descrevendo casos de pacientes com distintos tipos de carcinoma (mama, próstata) medicados com bisfosfonatos endovenosos para controlar e tratar as metástases ósseas desses tumores. A grande maioria dos doentes está medicada com pamidronato e zoledronato. Também existem alguns casos de osteonecrose em doentes que tomaram doses orais de alendronato para tratar a osteoporose ou a osteopenia. A informação que o dentista deve obter do paciente e do médico oncologista inclui uma revisão completa de toda a história médica, o diagnóstico para o qual o paciente irá receber ou recebe terapia com bisfosfonato, o histórico de tratamento do câncer, a toxicidade esperada resultante do regime de tratamento em vigor, uma análise de sangue completa, o tipo de bisfosfonato que será utilizado e o protocolo de administração, incluindo a duração prevista da terapia. Esta informação médica vai permitir ao dentista estabelecer um plano de tratamento odontológico baseado nas necessidades dentárias do paciente. Segundo MIGLIORATI -2005, na primeira consulta deve ser efetuado um exame exaustivo, extra e intraoral. Uma série radiográfica completa e uma radiografia panorâmica das arcadas dentárias auxiliarão no diagnóstico de cárie e de doença periodontal, na avaliação de terceiros molares e na identificação de metástases ósseas ou qualquer outro tipo de patolgia oral. A história clínica mais frequentemente associada a esta situação clínica é a ausência ou o atraso na cicatrização dos tecidos duros e moles, após uma intervenção como uma extração dentária. O trauma provocado por dispositivos protéticos é igualmente implicado como iniciador deste processo patológico. Os sinais clínicos da doença na cavidade oral são inúmeros. Geralmente apresenta osso necrótico exposto na maxila e/ou mandíbula, rodeado por mucosa inflamada, podendo existir infecção secundária. Outro achado freqüente é o odor fétido, característico de necrose, principalmente em doentes com grandes áreas de exposição óssea, o que pode até dificultar a vida destes pacientes em sociedade. Segundo BAGAN - 2007, a lesão é produzida espontaneamente ou, na maior parte das vezes, depois de uma cirurgia ou procedimento dentário, como já referido. Normalmente os pacientes não apresentam sintomas, mas podem desenvolver dor intensa, uma vez que o osso necrosado pode infectar após ter sido exposto ao ambiente oral. A osteonecrose é, muitas vezes, progressiva e pode criar extensas áreas de exposição óssea e deiscências. Outro dos sintomas muitas vezes relatado é a dificuldade em engolir e, em alguns casos de destruição óssea, parestesias. Em pacientes que desenvolvem espontaneamente osteonecrose associada a bisfosfonatos, a queixa inicial mais comum é a presença súbita de desconforto intraoral e de rugosidades na mucosa oral que podem evoluir até a perda da integridade desses tecidos moles orais que rodeiam a área do osso necrosado. Histologicamente, a osteonecrose caracteriza-se pela presença de um extenso infiltrado inflamatório, típico de uma reação tecidual a uma iflamação/infecção. O osso necrótico normalmente está relacionado a contaminação com Actinomyces sp., não mostrando sinais de malignidade. Nas fases iniciais de osteonecrose não se detectam manifestações radiográficas, porém em uma fase mais avançada, a osteonecrose é possível ser identificada radiograficamente. Quando a osteonecrose está instalada pode ser observada uma área osteolítica mal definida com destruição da cortical e perda da trabeculação esponjosa e densidade óssea (imagem típica de osteomielite). A osteonecrose menos avançada ou restrita a pequenas áreas de exposição óssea (< 1 cm) podem ser indetectáveis em radiografias panorâmicas, mas em tomografias computadorizadas já se pode averiguar os sinais de destruição óssea decorrentes deste processo. Em resumo, o diagnóstico da osteonecrose é baseado na história dentária e médica de cada paciente, assim como na observação de sinais e sintomas clínicos deste processo patológico. Quando há suspeita de osteonecrose, exames auxiliares de diagnóstico devem ser solicitados, como referido anteriormente, para exclusão de outras patologias, como tumores e metástases. Os mais utilizados são radiografias panorâmicas e periapicais, bem como tomografias computadorizadas, onde são observadas áreas osteolíticas. A biópsia deve ser realizada se houver suspeita de doença metastática e parte do material pode também ser enviado para cultura de microrganismos, na tentativa de identificar os patógenos secundários, sejam bacterianos ou fúngicos. Para o estabelecimento do diagnóstico de osteonecrose associada ao uso de bisfosfonatos é necessário que seja afastada a possibilidade de osteoradionecrose (necrose associada à radioterapia na região da cabeça e pescoço). A avaliação do risco da osteonecrose da mandíbula para pacientes que fazem uso dos bisfosfonatos é um desafio clínico na Odontologia. O exame de densitometria óssea, que é um método padrão para avaliação da osteoporose, não é efetivo para o diagnóstico da ONJ, porque a diferença entre a precisão do exame (1%) e a taxa geral anual média da perda óssea pós-menopausa (1,2%) é tão pequena que requere a espera de um ano ou mais antes da densitometria poder confirmar as mudanças na densidade óssea. O doseamento de marcadores químicos tanto da urina quanto do sangue é um indicador muito mais sensível e rápido de mudanças na reabsorção óssea. Durante a reabsorção óssea, o colágeno dominante tipo I é degradado, liberando o telopeptídeo C-terminal conhecido como CTX ou CrossLaps (Elecsys Roche Diagnostics GmbH, Mannheim, Germany). Em pacientes com turnover ósseo aumentado, os níveis de CTX são altos. Já quando o turnover ósseo é diminuído por um bifosofonato, o CTX é baixo; estes efeitos são observados durante as primeiras semanas da terapia com este medicamento. É recomendado que os níveis de CTX sejam determinados como linha base antes do início do tratamento com bisfosfonato para osteoporose. O nível decrescerá aproximadamente 60% no intervalo de seis semanas, tratando-se de dosagens convencionais do medicamento. . Isso pode ser utilizado como monitoramento durante o tratamento. O uso do teste CTX como indicador de risco da ONJ foi primeiramente sugerido por MARX, em 2007. Ele reportou que valores menores que 100 pg/Ml representavam um grnde risco de ONJ; 100 a 150 pg/mL, risco moderado; e maior que 150 pg/mL, risco mínimo ou nulo. Em estudo recente KUNCHUR R 2009, 348 pacientes foram investigados quanto aos níveis de CTX. Desta investigação, os autores concluíram que o teste de CTX não prevê o desenvolvimento da ONJ para um paciente específico, mas identifica aqueles que estão em uma “zona de risco”, que corresponde a um valor menor que 150 a 200 pg/mL. Os autores também recomendaram que estes exames fossem realizados em outros centros com populações maiores de pacientes que estejam fazendo uso de bisfosfonatos orais e intravenosos. Vale citar que nesse estudo a maioria das pacientes (215) eram mulheres com osteoporose, média de 71 anos (+/- 16 anos) e fazendo uso de bisfosfonatos orais a longo prazo. Como controle, foram examinadas 113 pessoas. Laboratórios que realizam este exame sugerem os seguintes valores de referência, e são determinados pelo método de Eletroquimioluminescência: Homem: de 30 a 50 anos: 0,016 a 0,584 ng/mL (16 a 584 pg/mL) de 50 a 70 anos: inferior a 0,704 ng/mL (704 pg/mL) acima de 70 anos: inferior a 0,854 ng/mL (854 pg/mL) Mulher: pré-menopausa: 0,025 a 0,573 ng/mL (25 a 573 pg/mL) Pós-menopausa: 0,104 a 1,008 ng/mL (104 a 1008 pg/mL) Sinônimos: C-Telopeptídeo, PDCO, Crossplas, Interligadores C terminais, CTX. 3 DISCUSSÃO A osteoporose é induzida pela deficiência de estrógeno. Por ser uma doença sistêmica do metabolismo ósseo, pode ser um fator prejudicial para o processo de osseointegração. Este processo patológico poderia ainda resultar em um osso alveolar de qualidade pobre (osso tipo IV), que apresenta grande risco para o sucesso de implantes dentais16. O trabalho de LIBERMAN ET AL., empregando alendronato em mulheres pósmenopausa, durante um período de três anos, mostrou um aumento da densidade mineral óssea de 8,8% na coluna lombar e 5,9% no colo do fêmur, impedindo a perda na densidade dos ossos do antebraço. A frequência aumentada de pacientes osteoporóticos fazendo uso de bisfosfonatos com necessidades de reabilitação oral com implantes dentais requer uma compreensão maior pela comunidade odontológica de como esta droga, em específico, os bisfosfonatos, afetam a osseointegração dos implantes dentais. Em geral, o processo curativo parece acontecer desimpedido, mas prolongado. Uma compreensão clara do metabolismo ósseo bem como a farmacologia dos bisfosfonatos é necessária para se tomar decisões de tratamentos com implantes orais. Atualmente, muito se tem pesquisado sobre substâncias que possam aumentar o contato osso e o implante, melhorando assim a osseointegração, tanto na superfície do implante quanto na modulação da reparação óssea. O alendronato, que é uma medicação utilizada por via sistêmica no tratamento da osteoporose, aumenta o volume ósseo pela supressão de osteclastos. Atentos à atividade de modulação da reparação óssea desse medicamento, muitos pesquisadores realizaram trabalhos associando-o a uma maior qualidade de osseointegração. O alendronato, na implantodontia tem sido aplicado de forma sistêmica, ou na forma de aplicação local. Grande parte dos trabalhos demonstrou haver maior e mais rápida formação óssea quando se associa esse medicamento (sistêmico ou local) aos implantes dentais, não apresentando qualquer efeito prejudicial sobre a osseiontegração4. Da mesma forma, o alendronato pode auxiliar na reparação de perdas ósseas periodontais ou perimplantares. A despeito das interações benéficas dos bisfosfonatos sobre o metabolismo ósseo, dúvidas ainda permanecem sobre o fato de se compreender o papel da reabsorção óssea necessária e fisiológica dentro do processo de remodelamento ósseo. Esse processo é importante para a remoção de micro-danos do osso danificado e velho para a sua substituição por um tecido novo. FUGAZZOTO ET AL., em 2007, salientaram que os bisfosfonatos apresentam um potencial supressor do turnover ósseo, inibindo angiogênese, produzindo hipermineralização óssea, prejudicando assim as propriedades reparativas do osso. Isso mostra que existem riscos associados ao desempenho dos procedimentos cirúrgicos orais, particularmente implante e colocação de enxerto ósseo em pacientes que estão a tomar bisfosfonatos, principalmente pelo fato da possibilidade do aparecimento da ONMAB. A ONMAB é uma importante complicação oral associada ao uso dos BFs que, apesar de ter sido descrita recentemente, já mostra vários casos relatados na literatura. Esta necrose óssea tem mostrado um comportamento indolente, de difícil controle, podendo levar à exposição óssea crônica e a quadros infecciosos persistentes. Desta forma, os cirurgiões-dentistas e médicos devem estar familiarizados com esta alteração e ter atenção especial no tratamento de todos os pacientes que fazem uso crônico dos bisfosfonatos, tendo em vista que os mesmos alteram o remodelamento e reparo ósseo. Apesar de vários trabalhos mostrarem uma baixa incidência da ONMAB, acredita-se que estes números poderão aumentar, tendo em vista que cada vez mais pessoas fazem uso destes medicamentos e que o efeito dos bisfosfonatos é cumulativo e persistente no tecido ósseo. Até o presente momento, o maior número de casos relatados é em pacientes que fazem uso de bisfosfonatos endovenosos, em protocolos de tratamento oncológico. Isso ocorre porque a potência relativa do bisfosfonato usado é maior. Acredita-se, entretanto, que à medida que os pacientes utilizam o bisfosfonato oral por um longo período de tempo, passarão a ter um risco maior de desenvolver ONMAB. Além disso, a ação dos bisfosfonatos sobre o metabolismo ósseo é a principal responsável pelas lesões. A inclusão de informações mais específicas sobre essa complicação potencial na bula dos medicamentos, bem como o alerta aos profissionais envolvidos são atitudes importantes que não podem ser negligenciadas. O laboratório Novartis Pharmaceuticals Corporation emitiu relatórios para os profissionais da área da saúde, alertando sobre a osteonecrose mandibular, condição observada em pacientes com câncer submetidos a procedimentos dentários invasivos, enquanto recebem o tratamento com bisfosfonatos intravenosos. A ONMAB pode causar danos aos maxilares graves e irreversíveis. Bisfosfonatos administrados por via oral não foram objeto das precauções do laboratório. No entanto, a FDA observou que tem havido relatos de anedóticas ONMAB em associação com bisfosfonatos administrados por via oral para osteoporose. De acordo com LIN ET AL., os bisfosfonatos podem permanecer no osso por 12 anos após a terapia ter sido descontinuada. Essa propriedade dos bisfosfonatos faz com que a ONMAB possa ocorrer mesmo após a interrupção do medicamento. Portanto, pacientes que fazem ou fizeram uso de bisfosfonatos devem participar de um rigoroso protocolo de prevenção de ONMAB. O tratamento da ONMAB é bastante complexo e diversos protocolos terapêuticos vêm sendo descritos na literatura com índices variáveis de sucesso. Assim, pensando nesta forma de osteonecrose, a prevenção é fundamental, pois a maior parte dos casos é desencadeada por algum fator traumático, quadros infecciosos que levam ao rompimento da mucosa oral, infecção, exposição e necrose óssea. O protocolo preventivo deve incluir avaliação clínica e imagenológica oral antes do tratamento com bisfosfonatos ser iniciado, para eliminar focos de infecção, seguido de consultas odontológicas periódicas para eliminar possíveis fatores traumáticos, monitoramento do nível do metabolismo ósseo pelo CTx e orientação dos pacientes quanto aos riscos de desenvolverem a ONMAB. O cirurgião-dentista deve estar alerta para identificar pacientes usuários crônicos de bisfosfonatos e prevenir as complicações decorrentes do uso desta droga. Os oncologistas, por outro lado, devem solicitar aos pacientes que façam avaliação odontológica prévia e mantenham saúde oral. Segundo CARVALHO - 2009, o dentista não deve ficar alheio a essa condição médica que poderá trazer consequências indesejáveis no pósoperatório de procedimentos cirúrgicos que envolvem os tecidos ósseos, entre estes os implantes dentários. MARX ET AL. concluíram que a prevenção de osteonecrose em pacientes que tomam bisfosfonatos não é completamente possível, mas procedimentos preventivos não-invasivos poderiam ajudar a diminuir a sua incidência. Já WONG e RABIE sugeriram que usuários de bisfosfonatos de uso oral por longo prazo devem ser tratados com cautela, embora mais estudos sejam necessários. Uma declaração oficial da AAOMS recomenda que os pacientes devem deixar de usar bisfosfonatos três meses antes do procedimento cirúrgico e permanecer sem o uso da medicação por mais três meses, se possível, especialmente se vêm utilizando bisfosfonatos por mais de três anos. As cirurgias invasivas devem ser evitadas em pacientes que fazem uso dos bisfosfonatos, principalmente o endovenoso, tendo sempre prioridade os tratamentos preventivos. Caso alguma intervenção cirúrgica seja indispensável, o paciente deverá ser alertado das complicações pós-operatórias. O tipo de bisfosfonato, a via de administração, bem como a duração do tratamento com essas drogas parece ter relação direta com a incidência de ONMAB. CONSIDERAÇÕES FINAIS Inúmeras pesquisas sobre o uso de bisfosfonatos vêm alertando profissionais sobre o risco de desenvolvimento de osteonecrose na cavidade oral. Entretanto, embora esse seja um importante problema clínico, não se deve desprezar os benefícios dessas drogas. Os bisfosfonatos podem proporcionar grandes vantagens em cirurgias reconstrutivas maxilofaciais, prevenindo a reabsorção óssea. Os bisfosfonatos possuem diferenças quanto à estrutura química, potência, via de administração, dosagem e indicações. Por isso, é importante manter-se atento sobre novas pesquisas e descobertas para cada droga específica. A abordagem de qualquer paciente deve obedecer a uma rotina semiológica e diagnóstica, implicando em uma formação profissional que integre em sua rotina a abordagem de todos os aspectos das medicações e complicações sistêmicas relacionadas ao paciente. Ainda não existe um protocolo definido quanto ao tratamento desses pacientes. Contudo sugere-se que, de forma preventiva, o cirurgião dentista solicite exame de CTX para melhor avaliação do paciente, sendo essencial a multidisciplinaridade para prevenção e tratamento desses casos. Finalmente, uma tentativa foi feita para identificar as relações entre o uso de bisfosfonatos na Odontologia e que questões que permanecem sem respostas deverão ser abordadas por futuras pesquisas para definir protocolos clínicos previsíveis e reproduzíveis para o uso dessa droga.