UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA Curso de Ciências Econômicas Osvaldo Luiz Ribeiro Júnior 14/11/2013 Programa de iniciação científica Jovens Talentos para a Ciência Professor orientador: Lourival Batista de Oliveira Júnior FICHAMENTO STRATHERN, P. Antes de Adam (Capítulo 3). Uma Breve História da Economia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 286 p. No início do século XVIII o mundo atravessava um período de mudança social. As atividades comerciais eram intensas e novas fortunas estavam sendo construídas. John Blunt e seus associados perceberam a oportunidade e fundaram a Companhia do Mar Sul, que desde o princípio foi um jogo de azar, mas também a oportunidade de participarem desse momento propício ao comércio e ao enriquecimento. Há quem defenda que foi uma ideia ousada, mas que não teve sorte e foi atropelada pelas circunstâncias. A Companhia do Mar do Sul foi fundada como uma companhia comercial. Assumiu uma parcela considerável da dívida publica da Grã-Bretanha e, em troca, o governo lhe concedeu direitos exclusivos de comércio com a América do Sul espanhola e um pagamento anual de 10% do estoque da dívida. Com o acesso ilimitado às minas de ouro e prata do México e dos Andes, assim que a companhia fez uma emissão de ações, não faltaram compradores. A primeira viagem obteve um pequeno lucro, mas que foi suficiente para fomentar os ânimos de diretores e acionistas. Ousados, decidiram emitir mais ações e, com a ajuda do parlamento, assumiram toda a divida pública nacional. Em três meses os preços das ações subiram mais de 400%. Devido a esse crescimento inesperado e contínuo havia compradores de todas as classes sociais. Pouco tempo depois o valor da ação chegou a seu ápice, que representou seu auge e o início de seu fim. Um mês depois a bolha que havia se formado com o crescimento especulativo das ações da Companhia estourou e os preços caíram na mesma proporção que cresceram. Os motivos eram desconhecidos e as suposições eram variadas. Apesar das tentativas de reerguer o preço das ações e aos apelos ao Banco da Inglaterra, a queda foi inevitável, patrimônios foram reduzidos a nada em pouco tempo. Uma verdadeira caça as bruxas começou para encontrar os culpados, todo mundo culpava todo mundo, havia casos de assassinato e Blunt, temendo o pior, estava escondido. Na realidade a culpa era de todos os investidores. O evento ficou conhecido como “Bolha do Mar Sul”. O holandês Mandeville, médico especializado em doenças hipocondríacas e histéricas, usou de sua perspicácia psicológica para estudar o comportamento humano durante a Bolha do Mar do Sul. Lançou o best seller sobre o assunto, A fábula das abelhas, que aprofundou a autocompreensão social. Mostrou que o mercado funcionava melhor quando deixado a seus próprios cuidados, sem intervenção governamental. Compreendeu que a divisão do trabalho contribuía para a eficiência e que “para fazer a sociedade feliz... é necessário que grandes números sejam tanto ignorantes quanto pobres” (p. 68). Essa foi a principal contribuição de Mandeville, ser o primeiro a questionar sobre um meio para unir moralidade e economia e produzir um sistema econômico justo para todos. Nessa mesma época outra descoberta revolucionária foi feita por De Moivre e aprofundou o estudo da estatística. “Pela primeira vez, ele ligou a desordem aleatória do mundo (tanto dos objetos quanto das pessoas) a um princípio numérico” (p. 68). O estudo da estatística já havia sido desenvolvido por outros pensadores como Pascal e Fermat, mas foi De Moivre que desenvolveu os conceitos de distribuição normal e desvio padrão. Ele conseguiu estabelecer um padrão para a aleatoriedade, uma ordem no meio da desordem. No século XVIII a Grã-Bretanha foi o centro do desenvolvimento de insights teóricos, mas foi na França onde surgiram os primeiros pensadores econômicos sistemáticos, conhecidos como fisiocratas. O principal pensador fisiocrata foi o médico François Quesnay, que aplicou a compreensão científica sistemática que adquirira na medicina ao domínio mais amplo da França. No centro das ideias fisiocráticas está a noção de liberdade econômica e individual. Os pensamentos de Quesnay contém três conceitos básicos: o primeiro era que o esquema social e econômico das coisas era governado pelo direito natural - “o que acontece no mercado é o melhor para o mercado; o melhor para o mercado é o que acontece no mercado” (p. 74). O mercado tinha de ser livre para se desenvolver e resolver suas problemáticas sozinho. O segundo conceito foi o laissez-faire (deixe fazer). “O próprio mercado é a força orientadora suprema, não Deus” (p.75). Segundo os fisiocratas, o laissez-faire permitiria aos comerciantes eficientes prosperar mais do que nunca. O terceiro conceito foi o de que “a agricultura é a fonte de toda a riqueza do Estado e da riqueza de todos os cidadãos” (p. 75). A contribuição central da fisiocracia foi, portanto, a mescla entre liberalismo e feudalismo. Foi o primeiro pensamento estruturado sobre o assunto e alguns conceitos se tornaram traços permanentes no cenário econômico.