1 O SISTEMA FEUDAL Considerações gerais: A insegurança provocada pelas invasões dos séculos IX e X levou os europeus ocidentais a se protegerem. Houve considerável migração das cidades para o campo. Construíram-se vilas fortificadas e castelos cercados por estacas e muralhas. Cada um se defendia como podia. Os mais fracos procuraram a ajuda de nobres poderosos. Camponeses, buscando a proteção de senhores de terra, foram submetidos à servidão. Aspectos políticos: Durante o predomínio do feudalismo os reinos europeus não contavam com o governo centralizado. O poder político dividia-se entre os senhores feudais, isto é, proprietários de grandes extensões de terra, os feudos. O senhor feudal era a autoridade absoluta do feudo, detendo poderes de administrador-geral, juiz e chefe militar. O feudo era o domínio do senhor feudal. No sistema feudal, o rei concedia terras a grandes senhores. Suseranos e vassalos tinham estabelecidos entre si direitos e deveres a cumprir. Exemplo: Suserano: devia proteger militarmente seus vassalos e dar-lhes assistência jurídica. Vassalo: devia prestar serviço militar ao suserano, libertá-lo, caso fosse aprisionado por inimigos, etc. Aspectos sociais: A maioria da população era camponesa e vivia em condições de grande pobreza, dominada pelos proprietários de terra. A sociedade feudal dividia-se em estamentos ou ordens e a mobilidade era praticamente inexistente. Os principais estamentos ou ordens eram: Clero: constituído pelos membros da Igreja Católica, destacando-se o alto clero, formado pelos bispos, abades e cardeais. (rezadores). Nobreza: constituída pelos proprietários de terra, que se dedicavam basicamente as atividades militares. (guerreiros). Servos: constituíram a maioria da população camponesa. (trabalhadores). Muitos de nós imaginamos que a vida em um castelo medieval era luxuosa, os nobres cheios de joias e vestindo os mais belos e finos tecidos. Mas, ao contrário de tudo isso, a vida em um castelo não era tão fácil assim. Trabalho era o que não faltava. Além do mais, a vida naquela época não era muito confortável. Não havia aquecedores, a não ser a lareira nos castelos dos nobres senhores feudais. Os servos, soldados e outros se viravam com pequenos candeeiros e passavam muito frio nas frias noites medievais. A cavalaria era uma instituição muito importante. Cavaleiro era um homem de nascimento nobre que praticava a luta a cavalo. A lealdade e a coragem física eram as principais virtudes de um cavaleiro. Aspectos econômicos: Na sociedade feudal predominou a produção destinada ao consumo próprio (subsistência). E a relação social de trabalho que caracterizou o feudalismo foi a servidão (diferente de escravidão). As atividades econômicas predominante nos feudos era a agricultura e a criação de animais. A relação servil impunha uma série de obrigações e compromissos do servo para com senhor feudal. Vejamos as principais: Corvéia: o pagamento em trabalho. O servos dedicavam alguns dias de trabalho nas reservas senhoriais. Prestações: o dever de hospitalidade. Talha: parcela paga sobre a produção realizada no manso servil (terra destinada ao trabalho dos servos para seu próprio sustento. Banalidade: imposto devido pelo uso obrigatório de instalações pertencentes ao senhor, tais como o forno, o lagar, o moinho. Além das obrigações acima existiam outras, dentre elas o DÍZIMO, que todos devia pagar à Igreja, principalmente os servos. A Igreja medieval: Valendo-se de sua influência religiosa, a Igreja Católica exerceu importante papel em diversos setores da vida medieval, tornando-se um instrumento de unificação social, diante da fragmentação política do feudalismo. A Igreja foi a instituição mais poderosa da sociedade medieval do Ocidente. Naquela época não existiam usinas, fábricas, bancos nem máquinas. O importante era a terra. A riqueza era medida pela quantidade de terra que alguém possuía. A Igreja chegou a ser proprietária de dois terços das terras de 2 toda a Europa. Era uma instituição poderosíssima, a “grande senhora feudal”. Alguns mosteiros medievais eram verdadeiros feudos, enormes e com numerosos servos. A Igreja católica era uma das principais instituições da Idade Média.Sua influência se exercia sobre todos os setores da sociedade, estava presente em cada costume e em cada ato da vida dos cristãos. Regulamentava as relações entre as pessoas (casamentos, doações de feudos...), definia o que devia ser feito em cada hora: tempo de orações, de jejum, de guerra e de paz. A mentalidade do homem era totalmente dominada pela religião. Aqueles que se afastassem de suas normas sofreriam punições: penitências, exigência de peregrinações e excomunhão. Com o surgimento de novas religiões e o enfraquecimento da Igreja, foi criada a Inquisição, um tribunal religioso que julgava e condenava os acusados de heresias, aqueles que não seguiam os preceitos cristãos. Sendo tão rica e temida a Igreja detinha também grande poder político: os papas interferiam na política dos reis e imperadores, muitas vezes criando conflitos entre uns e outros. A Inquisição. Tribunal da Igreja Católica instituído no século XIII para perseguir, julgar e punir os acusados de heresia. A Santa Inquisição foi fundada pelo Papa Gregório IX (1148-1241) em sua bula Excommunicamus, publicada em 1231. Heresias são doutrinas ou práticas contrárias ao que é definido como matéria de fé. Na época inicial da Igreja elas eram punidas com a excomunhão. Quando no século IV o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, os heréticos passam a ser perseguidos como inimigos do estado. Divisão clerical: Clero secular: formado por sacerdotes que viviam fora dos mosteiros. Clero regular: formado por sacerdotes que viviam nos mosteiros e obedeciam às regras de sua ordem religiosa (beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas, agostinianos). Além do poder religioso, a Igreja contava com o poder temporal, isto é, com o poder de acumular riquezas a partir das doações de terras feitas por fiéis desejos de salvação eterna. Nos diversos países cristãos, nem sempre a fé popular manifestava-se nos termos pretendidos pela doutrina cristã católica. Havia uma série de crenças e ações, denominadas heresias, que chocavam com os dogmas da Igreja. Para combater as heresias, o papa Gregório IX, em 1231, criou os tribunais da Inquisição, cuja missão era descobrir e julgar os heréticos. As cruzadas foram expedições militares organizadas pela Igreja com o objetivo de promover a Guerra Santa contra os povos muçulmanos que dominavam lugares sagrados do cristianismo, exemplo Jerusalém. Além da questão religiosa, as cruzadas atendiam outros interesses (político e econômico). Podemos apontar como consequências do movimento das cruzadas: O empobrecimento dos senhores feudais; O fortalecimento do poder real; A reabertura do mar Mediterrâneo e o consequente desenvolvimento do intercâmbio comercial entre Europa (Ocidente) e Oriente; A ampliação do universo cultural europeu, promovida pelo contato com os povos orientais. O fim da Idade Média A partir do século XI, a Europa passou a viver um período de relativa tranquilidade social e crescimento populacional. A expansão econômica tornou-se inevitável. Os limites impostos pelo sistema feudal começaram a ser rompidos. O fator que mais contribuiu para o declínio do feudalismo foi o ressurgimento das cidades e do comércio. Até o século XI, a produção agrícola atendia modestamente às necessidades da população européia. As técnicas e os instrumentos utilizados na agricultura eram simples e primitivos. A partir do século XI, melhoram consideravelmente as condições gerais do meio rural. As relações servis começaram a se modificar, após várias revoltas. Aumentaram as áreas de cultivo agrícola e ao mesmo tempo, aperfeiçoaram-se as técnicas que aumentaram a produtividade. Entre os novos instrumentos usados na agricultura, destacam-se: charrua / peitoral / ferradura / moinho d’água. Nesse cenário de expansão, houve crescimento demográfico por toda a Europa. O comércio ganhou significativo impulso com a melhoria dos meios de transporte, o desenvolvimento do artesanato urbano e o maior contato com os povos orientais. Além do comércio local, desenvolveram-se também grandes rotas de comércio internacional, destacando-se: rota comercial do Norte / rota comercial do Sul. O renascimento comercial impulsionou o aumento da produção artesanal, levando os artesãos a se organizarem em Corporações de Ofício, também conhecidas como guildas ou grêmios. As corporações 3 tinham como objetivo defender os interesses dos artesãos, regulamentar o exercício da profissão e controlar o fornecimento do produto. As cidades medievais surgiram nas proximidades das rotas comerciais, nas regiões das feiras ou junto a mosteiros, castelos ou catedrais. O comércio fez surgir uma nova classe social, a burguesia. O progresso do comércio e do artesanato foi acompanhado pelo crescimento social da burguesia, ou seja, a classe de homens de negócios que viviam nas cidades, livres dos laços feudais. Os séculos finais da Baixa Idade Média (XIV e XV) foram marcados por uma série de crises. Vejamos alguns fatores que provocaram essas crises: A carência de solos férteis teve como resultado a que da produtividade. Perdas de colheitas, provocadas por fatores climáticos (resfriamento), guerras, técnicas inadequadas de cultivo, etc. A falta de alimentos provocou a morte e a subnutrição de milhares de pessoas. Enfraquecida pela fome, enorme parcela da população européia tornou-se vitima de moléstias contagiosas, como a Peste Negra, epidemia trazida do Oriente por um navio genovês contaminado. A Peste Negra vitimou um terço da população européia. Em fins do século XII, as Cruzadas chegaram ao fim. Sem um inimigo externo, os nobres desencadearam conflitos internos, isto é, no próprio mundo cristão. Como conseqüência dessa multiplicação de guerras na Europa Ocidental, temos inúmeras cidades saqueadas e plantações devastadas. A desorganização da produção provocou crises de abastecimentos e alta de preço dos alimentos. Intranqüilos, a burguesia e os camponeses revoltaram-se contra a exploração da nobreza feudal e a incapacidade dos reis de garantir a ordem e proteger a população. Entre os conflitos desse período, merece destaque a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre a França e a Inglaterra. Como causas do conflito, podem ser apontadas a sucessão dinástica e a disputa pela rica região dos Flandres, onde se desenvolvia a manufatura de lã. Essa longa guerra prejudicou a vida econômica da França e Inglaterra, empobrecendo grande parcela da nobreza feudal. Após seu término, a autoridade do rei estava fortalecida – isso, posteriormente possibilitou a construção de uma monarquia centralizada. A crise religiosa (a Igreja governada por dois papas, um em Avinhão / França e outro em Roma / Itália) colaborou para gerar insegurança e desorientação nos membros da cristandade, surgindo várias doutrinas contrárias aos dogmas da Igreja Católica. Cultura Medieval Sobre a cultura medieval merece destaque: Educação: controlada basicamente pelo clero católico. Artes: a produção artística da Idade Média revela a preocupação religiosa do homem ao retratar sua época. Literatura: a poesia medieval procurou enaltecer os valores e as virtudes do cavaleiro; justiça, amor, prudência e cortesia. Desenvolveu-se a poesia épica e lírica. Arquitetura: desenvolveu dois estilos que dominaram a arquitetura medieval: o romântico e o gótico. Pintura: dominada por temas religiosos, a pintura medieval dos séculos XII e XIII abandonou as paisagens naturais e concentrou-se na representação humanizada de santos e divindades. Música: a música sofreu grande influência da Igreja Católica, sendo adaptada aos ideais religiosos do cristianismo. Na música destacou-se o papa Gregório Magno (540-604), que introduziu o canto gregoriano, destacaram-se também as canções dos trovadores e menestréis, inspiradas em temas românticos ou nos feitos heróicos dos cavaleiros. Os mosteiros eram os únicos lugares onde se conservava a cultura antiga. O trabalho dos monges copistas, que passavam a vida inteira copiando obras da Antigüidade, preservou essa cultura. O homem medieval, de modo geral, não sabia ler nem escrever. Os homens da igreja eram os mais instruídos, que controlavam todas as atividades artísticas, literárias e científicas da época. Ciência e filosofia Na Idade Média, a ciência e filosofia ainda estava muito ligada. Diversas obras, traduzidas do árabe e do grego, influenciaram o progresso da Matemática, da Astronomia, da Biologia e da Medicina. Houve também o aperfeiçoamento da arte de navegar, com a utilização da bússola, dos mapas de navegação, do astrolábio e outros instrumentos. Na filosofia, destacaram-se Santo Agostinho (século IV) e São Tomás de Aquino (século XIII). A principal preocupação desses pensadores era harmonizar a fé cristã com a razão. Adaptado de: COTRIM, Gilberto. História Global Brasil e Geral. Editora Saraiva. Edição 1ª / 1997. p.101-120 e http://marged.vilabol.uol.com.br/medieval.html Prof°. Sebastião Abiceu