Comunicação e Linguagem Dificuldades de Aprendizagem Sistemas Alternativos e Aumentativos de Comunicação Trabalho realizado por: Elisa de Castro Carvalho Aluna n.º 22667 Universidade Portucalense Porto, 20 de Junho de 2008. Comunicação e Linguagem Prof. Doutora M.ª Luísa Santos “As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo.” Ludwig Wittgenstein ÍNDICE Introdução ....................................................................................................................... 3 Comunicação e Linguagem ......................................................................................... 4 Sistemas Alternativos e Aumentativos de Comunicação ........................................ 4 Grupos com necessidade de Comunicação Aumentativa e Alternativa ............... 6 Os Símbolos ................................................................................................................... 6 Signos Gráficos .............................................................................................................. 8 As Imagens ..................................................................................................................... 9 Referências Bibliográficas .......................................................................................... 11 2 Introdução Com este trabalho faremos uma reflexão em torno dos Sistemas Aumentativos e Alternativos de Comunicação. Escolhemos este tema abordado nas aulas, visto ser do nosso interesse para o projecto final do curso. Começaremos por abordar os conceitos de comunicação e de linguagem, que será o ponto de partida para a questão central do trabalho: de que forma comunicam as pessoas que não conseguem falar? Partindo desta questão abordaremos de seguida os sistemas alternativos e aumentativos de comunicação, nomeadamente os seus conceitos e o tipo de grupos com necessidade destes tipos de comunicação. Em seguida, faremos uma breve abordagem aos símbolos e aos signos gráficos salientando os sistemas Bliss, PIC, SPC e REBUS. Por último, salientamos a importância da imagem no processo de ensino-aprendizagem, nomeadamente na educação de crianças com Necessidades Educativas Especiais. 3 Comunicação e Linguagem A comunicação é um processo complexo e contínuo que implica a transferência de informação de uma pessoa para a outra. Muitas pessoas não são capazes de comunicar através da fala, o que nos leva necessariamente à questão: como é que alguém que não fala pode comunicar? A linguagem refere-se ao conjunto de sinais com os quais os humanos comunicam e expressam os seus sentimentos e ideias. No caso da linguagem oral, é necessário conhecer palavras cujo significado seja percebido, sendo necessário a articulação dos músculos da laringe, da língua, entre outros. Tal como referem Franco, Reis & Gil (2003), “A aquisição da linguagem oral é realizada através de um processo interactivo que envolve a manipulação, combinação e integração das formas linguísticas e das regras que lhe estão subjacentes, permitindo o desenvolvimento de capacidades de perceber a linguagem (linguagem compreensiva) e capacidades para formular/produzir linguagem (linguagem expressiva). Este processo é determinado pela interacção entre factores ambientais, psicossociais, cognitivos e biológicos”. Crianças ou adultos que apresentam determinadas patologias como a deficiência mental ou motora, o autismo, a paralisia cerebral ou outras perturbações da linguagem necessitam de um modo de comunicação não oral alternativo ou complementar à fala. A dificuldade em comunicar pode acarretar consequências já que a comunicação é fundamental na interacção social, pois é através dela que concretizamos aquilo que pensamos e sentimos. Sistemas Alternativos e Aumentativos de Comunicação Quando a fala não pode ser um veículo da linguagem torna-se fundamental proporcionar, o mais precocemente possível, um sistema alternativo ou aumentativo de comunicação. Para aquelas pessoas que não conseguem falar, a comunicação alternativa poderá ser o seu único meio de expressão. Segundo Tetzchner & Martinsen (2000, p. 22), a “Comunicação alternativa é qualquer forma de 4 comunicação diferente da fala e usada por um indivíduo em contextos de comunicação frente a frente. Os signos gestuais e gráficos, o código Morse, a escrita, etc., são formas alternativas de comunicação para indivíduos que carecem da capacidade de falar”, ou seja, é um sistema que substitui a fala. Os mesmos autores referem que a “Comunicação aumentativa significa comunicação complementar ou de apoio. A palavra ‘aumentativa’ sublinha o facto de o ensino das formas alternativas de comunicação ter um duplo objectivo: promover e apoiar a fala e garantir uma forma de comunicação alternativa se a pessoa não aprender a falar” (Ibidem). Actualmente, os sistemas aumentativos e alternativos compreendem os sistemas sem ajuda e os sistemas com ajuda, e ainda a comunicação dependente e independente. Relativamente aos sistemas de comunicação sem ajuda, eles referem-se a todas as formas de comunicação que não estão dependentes de qualquer ajuda técnica, sendo algumas partes do corpo o veículo para transmitir a mensagem (piscar o olho, aponta, abanar a cabeça para dizer sim ou não). Os sistemas com ajuda implicam a utilização de um suporte físico tais como sintetizadores de fala, tabelas de comunicação, entre outros, sendo que neste caso não é utilizador quem produz os símbolos mas sim selecciona-os através dos vários dispositivos (Ferreira, Ponte & Azevedo, 1999). A comunicação dependente implica a dependência de uma segunda pessoa para interpretar o significado daquilo que é comunicado. Temos como exemplo o caso das pessoas que usam signos gestuais e que necessitam de um intérprete. Em relação à comunicação independente, toda a mensagem é dita pelo indivíduo e veiculada através de, por exemplo, sintetizadores de voz ou tecnologias de apoio em que a mensagem é escrita em papel ou num ecrã (Tetzchner & Martinsen, 2000). No momento de escolhermos um sistema aumentativo ou alternativo de comunicação, devemos ter em conta determinados critérios e com base numa avaliação cuidadosa de quem o vai utilizar. Essa avaliação deverá ser feita numa fase inicial, mas também durante a implementação e uso do sistema, já que qualquer utilizador poderá estar em constante evolução, podendo ser necessário misturar ou combinar os vários sistemas aumentativos ou alternativos (Tetzchner & Martinsen, 1993). De igual modo, o processo de 5 avaliação deverá basear-se essencialmente naquilo que o utilizador é capaz de fazer ou poderá vir a fazer. Grupos com necessidade de Comunicação Aumentativa e Alternativa Segundo Tetzchner & Martinsen (2000) existem três grupos de indivíduos com necessidade de comunicação aumentativa e alternativa: - Grupo com necessidade de um meio de expressão (indivíduos que apresentam uma diferença significativa entre a capacidade de compreensão da linguagem e a capacidade de expressão; necessitam de uma forma de comunicação que seja o seu meio de expressão permanente); - Grupo com necessidade de uma linguagem de apoio (aqui incluem-se dois subgrupos, um primeiro cuja aprendizagem de uma forma de comunicação alternativa constitui um passo para o desenvolvimento da fala, e um segundo subgrupo cujos indivíduos aprenderam a falar mas têm dificuldades de se expressarem e fazerem compreender); - Grupo com necessidade de uma linguagem alternativa (indivíduos que não usam ou usam muito pouco a fala como meio de comunicação, e cuja comunicação alternativa será a forma de linguagem que utilizarão para o resto da vida). Os mesmos autores referem ainda que entre estes grupos existem diferentes quadros clínicos como a deficiência mental, perturbações de desenvolvimento da linguagem, autismo e síndroma de Rett. Os Símbolos A palavra símbolo tem origem no grego sýmbolon e refere-se a um sinal que representa ou substitui outra coisa (Dicionário da Língua Portuguesa On-line). Ao longo da evolução da humanidade, o símbolo foi sempre utilizado como meio de comunicação. Nos dias de hoje há já uma grande preocupação em tornar a informação acessível para todos, tanto 6 para pessoas com dificuldades de aprendizagem e/ou comunicação tanto para pessoas que não sabem ler. Uma das formas de tornar essa informação acessível é através do uso de símbolos junto ao texto escrito. Quantos de nós já não tivemos que ler determinado folheto de instruções que só se tornou perceptível depois de fazermos a “leitura” das imagens? Algumas organizações têm já a preocupação em suportar a informação textual através de símbolos. No site www.symbolworld.org podemos ver alguns exemplos: De acordo com Correia & Pinto (2002) os símbolos podem dividir-se em: - Símbolos reconhecíveis ou pictográficos (puramente ilustrativos e facilmente reconhecíveis); - Símbolos representativos (representam conceitos espaciais e temporais, pronomes); - Símbolos ilustrativos ou ideográficos (referem-se ao conceito apresentado de forma gráfica; não ensinam conceitos mas relembram ideias compreendidas anteriormente); 7 - Símbolos abstractos (são mais complicados por serem abstractos e implicam memorização). Signos Gráficos Segundo Beaudichon (2001, p. 41) “a comunicação não verbal designa toda a comunicação que se estabelece entre duas ou várias pessoas mediante vectores não verbais”. A mesma autora refere que existem vectores tácteis, térmicos e olfactivos (implicação do papel das feromonas na atracção e na repulsa), vectores voco-acústicos (gritos e componentes paralinguísticas), vectores visuais (gestos, olhar, mímicas, expressão facial), e por último vectores de emblemas (por exemplo, o vestuário, a maquilhagem ou o penteado podem transmitir mensagens acerca de uma pessoa) (Idem, p. 50). Entre os sistemas de signos gráficos mais conhecidos estão o sistema Bliss, o sistema PIC, o sistema SPC e o sistema REBUS. O sistema Bliss compõem-se de “signos logográficos ou ideográficos, isto é, são signos que não se baseiam na combinação de letras” (Downing 1973, cit. por Tetzchner & Martinsen, 2000, p. 24). É constituído por 100 signos que quando combinados formam palavras novas. O sistema PIC é constituído por cerca de 1300 símbolos, sendo que em Portugal existem apenas 400 símbolos. Trata-se de “desenhos estilizados que formam silhuetas brancas sobre um fundo preto. A glosa está sempre escrita em branco sobre o desenho” (Idem, p. 28). O sistema SPC compõe-se de cerca de 3000 signos, sendo que estes são “desenhos de linhas simples a preto, sobre fundo branco, e a palavra está escrita sobre o desenho” (Ibidem). O sistema REBUS conta com cerca de 2000 símbolos e “baseia-se na combinação de signos e de significados dos símbolos” (Idem, p. 30). 8 As Imagens A utilização da imagem no processo de ensino-aprendizagem de crianças com Necessidades Educativas Especiais assume especial importância. Ao trabalharmos com estas crianças devemos utilizar diferentes meios de expressão que as cativem e motivem, recorrendo para isso à imagem. Vários autores têm vindo a defender o recurso à imagem como facilitador da aprendizagem da leitura e da escrita, bem como do raciocínio matemático: “O recurso à imagem é fundamental no ensino destas crianças, principalmente na aprendizagem da leitura e escrita, na Matemática e em várias disciplinas do currículo” (Fonseca, 1988; Moles, 1981; Grosso, 1976, cit. por Chaves, Coutinho & Dias, 1993, p. 63). A escolha das imagens a utilizar no processo de ensino-aprendizagem deve ter em conta, segundo Calado (1994, p. 67) as “variáveis de sentido (variáveis a que poderíamos chamar enfáticas, na medida em que são elas que conferem ênfase a determinados elementos, em detrimento de outros)”. A mesma autora refere que essas variáveis podem ser respeitantes ao nível sintáctico (cor, tamanho, contraste…), ao nível semântico (valor informativo dos elementos presentes na imagem), e ao nível pragmático (condicionantes culturais e ontogenéticos) (Ibidem). À imagem reconhece-se cada vez mais o seu potencial educativo, nomeadamente no que diz respeito à educação de crianças com Necessidades Educativas Especiais. Sendo a imagem uma aproximação à realidade, ela materializa-se através da representação de objectos ou ideias facilitando a sua compreensão. 9 Conclusão As aulas de Comunicação e Linguagem funcionaram como uma espécie de mnemónica de alguns conceitos abordados na licenciatura em ensino de Português. Uma vez que alguns desses conceitos já não eram novidade, optou-se pela escolha do tema dos sistemas aumentativos e alternativos de comunicação. O trabalho de pesquisa e de revisão da literatura alargou os nossos horizontes de investigação para um trabalho posterior a desenvolver no projecto final. Em termos de literatura nas áreas da comunicação e da linguagem há um grande manancial de autores que se dedicam a estas questões. No caso dos sistemas aumentativos e alternativos de comunicação houve alguma dificuldade em encontrar autores, sobretudo portugueses, que se dediquem a estas questões. A obra traduzida de Tetzchner e de Martinsen foi uma mais-valia para a compreensão de determinadas questões. Acreditamos que sistemas como estes são de facto instrumentos especiais no processo de comunicação de alguém com dificuldades a este nível. É necessário, contudo, que o professor se informe antes de optar por determinado sistema, e que tenha sobretudo em conta as características da criança e aquilo que ela já é capaz de fazer. Estes sistemas poderão assim ser usados como auxiliares ou suplementares no processo de inclusão escolar. A escola inclusiva deverá estar aberta a propostas curriculares adaptadas às necessidades dos alunos, de modo a que estes usufruam de oportunidades de acordo com as suas necessidades. Em jeito de conclusão, pensamos que a inclusão só se faz incluindo, tal como só aprendemos a andar andando; no entanto, é muito mais difícil andar sem uma perna, daí que cabe-nos a nós providenciar estratégias de apoio que caminhem nesse sentido: o da inclusão. 10 Referências Bibliográficas BEAUDICHON, Janine (2001). A Comunicação. Processos, formas e aplicações. Porto: Porto Editora. CALADO, Isabel (1994). A utilização educativa das imagens. Porto: Porto Editora. CHAVES, José Henrique; COUTINHO, Clara Pereira; DIAS, Manuela (1993). A Imagem no ensino de crianças com necessidades educativas especiais. Revista Portuguesa de Educação, 6 (3), 57-66. CORREIA, Patrícia; PINTO, Teresa (2002). O significado dos símbolos. As potencialidades da utilização de símbolos. Coimbra: CNOTINFOR. FERREIRA, Maria Carlota; PONTE, Maria Margarida; AZEVEDO, Luís Manuel (1999). Inovação Curricular na Implementação de meios Alternativos de Comunicação em Crianças com Deficiência Neuromotora Grave. Lisboa: SNRIPD. FRANCO, Maria da Graça; REIS, Maria João; GIL, Teresa Maria Sousa (2003). Comunicação, Linguagem e Fala. Perturbações específicas de linguagem em contexto escolar. Fundamentos. Lisboa: Ministério da Educação. TETZCHNER, Stephen von; MARTINSEN, Harald (1993). Introducción a la ensenãnza de signos e al uso de ayudas técnicas para la comunicación. Madrid: Visor Distribucciones, S. A. TETZCHNER, Stephen von; MARTINSEN, Harald (2000). Introdução à Comunicação Aumentativa e Alternativa. Porto: Porto Editora. 11 Sites consultados: Symbol World: http://www.symbolworld.org consultado em 12 de Junho de 2008. Blissymbolics Institute: http://www.blissymbolics.org consultado em 12 de Junho de 2008. Blissymbol Communication: http://www.blissymbols.co.uk consultado em 12 de Junho de 2008. Picture Communication Symbols (PCS): http://www.mayer-johnson.com consultado em 13 de Junho de 2008. Picsyms: http://www.inclusive.co.uk consultado em 13 de Junho de 2008. Dicionário da Língua Portuguesa On-Line: http://www.priberam.pt consultado em 13 de Junho de 2008. 12