A Política Externa Alemã do Governo Merkel: Um Balanço dos dois primeiros mandatos (2005-2013) Mariele Laís Christ1 Resumo O presente trabalho tem como objetivo conduzir uma análise de como a Alemanha nas duas primeiras administrações do Governo Merkel (2005-2013) conduziu as suas ações de Política Externa. A Alemanha, país que já foi pivô das duas grandes guerras do século XX, é hoje o sustentáculo da integração regional e considerada a locomotiva econômica da União Europeia. Especialmente após a crise do euro em 2008 e a crise da Ucrânia a partir de 2014, o país tem se destacado não apenas por sua atuação econômica, mas também política. O presente trabalho procura identificar as principais diretrizes e agenda da política externa alemã, sob o comando de Angela Merkel em seus dois primeiros mandatos; sendo o primeiro de 2005 a 2009 e o segundo de 2009 a 2013, tendo-se em consideração conceitos característicos desta política exterior, como o status de “Potência Civil” e de “Potência Comercial”. Palavras-chave: Alemanha; Política Externa; Angela Merkel. Introdução O presente esforço de pesquisa visa a analisar como a Alemanha nas duas primeiras administrações do Governo Merkel (2005-2013), sendo o primeiro mandato de 2005 a 2009 e o segundo de 2009 a 2013, conduziu as suas ações de Política Externa. Tal tema inspira-se no fato de que o corrente ano (2015) é o marco de dois acontecimentos históricos para o Estado alemão: a) celebra-se 25 anos da República Federativa Alemã como Estado Reunificado (19902015), ocorrido a 3 de outubro de 1990; e b) completa-se 10 anos de uma Alemanha sob administração Merkel. A Alemanha, país que já foi pivô das duas grandes guerras do século XX, é hoje o sustentáculo da integração regional e, com um PIB de 3,634 trilhões de dólares americanos2 (CIA World Factbook, 2014), a sexta maior economia mundial, é também considerada a locomotiva econômica da União Europeia. Ademais, com seus 82 milhões de habitantes, é o país mais populoso do bloco. Após a crise do euro em 2008 e a crise da Ucrânia a partir de 2014, o país tem se destacado não apenas por sua atuação econômica, mas também política. Tendo isto em vista, “o estudo da Alemanha importa para o estudo da política internacional, dada a sua capacidade estatal individual e, principalmente, como esteio da União Europeia” (TRIZOTTO et al, 2013, p 109). 1 2 Graduanda do 8º semestre de Relações Internacionais da UFRGS. E-mail: [email protected]. Dados estimados para o ano de 2014. I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 Porém, ao mesmo tempo em que se tornou o centro de gravitação econômica da União Europeia, a Alemanha perdeu “a posição relativamente confortável de remeter à potência hegemônica decisões em última instância sobre suas questões vitais. Sente-se, portanto, estimulada e ao mesmo tempo constrangida a assumir maiores responsabilidades internacionais.” (CÂMARA, 2013, p. 111). Christian Hacke (19983 apud CÂMARA, 2013), chamou a atenção para as crescentes expectativas de que a Alemanha assumisse um papel mais ativo em política externa, o que colocava o país na condição de “potência mundial mesmo contra sua vontade”. A escolha do delimitador temporal para esta pesquisa, quando da posse de Angela Merkel como chanceler em 2005, dá-se devido a maior solidez interna alemã a partir deste período, com maior integração entre as duas recém-reunificadas Alemanhas e, consequentemente, maiores possibilidades de atuar como um protagonista internacional. Além disso, a Alemanha sob o governo Merkel tem tido um papel internacional cada vez mais ascendente e passou de uma situação de relativa paz e estabilidade para uma em que as crises a obrigaram a tomar a frente em determinadas negociações (FRIEDMANN, 2015). Como forma de responder ao questionamento apresentado, ou seja, analisar como a Alemanha dos dois primeiros mandatos do Governo Merkel (de 2005 até 2013) conduziu as suas ações de política externa, foi realizada uma extensa pesquisa bibliográfica a partir de fontes secundárias (livros, artigos e notícias de imprensa de veículos alemães) que versassem sobre o assunto. Quanto as fontes primárias, fez-se uso de dados e documentos oficiais disponibilizados pelo governo federal alemão, especialmente discursos oficiais proferidos pela chanceler, a fim de ilustrar as informações apresentadas. Tais discursos estão disponíveis no portal oficial do governo (Bundesregierung.de), bem como no portal oficial da chanceler (Bundeskanzlerin.de). Cabe ainda um esclarecimento metodológico, com relação às traduções para o português de frases, citações e declarações no original em alemão. Como a maioria das fontes utilizadas nesse idioma não dispunha de tradução, a própria autora, ainda que inexperiente neste exercício, arriscou-se a traduzilas, o que significa que se tratam de traduções livres, não oficiais. No que tange a conceituação de política externa, entende-se que, de acordo com Merle (1990, p. 2604 apud FIGUEIRA, 2011, p.5): “é constituída por um conjunto de iniciativas que 3 Hacke, Christian. Weltmacht wider Willen. Die Aussenpolitik der Bundesrepublik Deutschland. Stuttgart, 1988, p. 12. 4 MERLE, Marcel. Política externa e relações internacionais. In: BRAILLARD, Philippe. Teoria das relações internacionais. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990. I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 emanam do ator estatal, tendo em vista mobilizar para o serviço o máximo de fatores disponíveis tanto no ambiente interno como no ambiente externo.” Segundo Figueira (2011, p. 7), a política externa dos Estados, ou seja, a ação empreendida pelos países no plano internacional, não leva em consideração somente os objetivos e linhas mestras que um determinado país adota, mas também, de fundamental importância, são as estratégias que cada Estado compõe para nortear sua atuação nas diversas esferas da vida internacional, “considerando, para tanto, o poder relativo que cada Estado possui em relação a seus pares”. Assim sendo, conclui-se que a política externa é a associação de interesses externos e internos de um determinado Estado, cujas ações são determinadas pela conjuntura externa em um determinado período, como também pelas forças das pressões internas realizadas através dos diferentes grupos de interesse da sociedade civil. Além da conjugação dos dois âmbitos - interno e externo - deve-se também levar em consideração as capacidades de recursos (econômicos, militares, tamanho do território, população, força institucional), entre outras variáveis que influenciam na autonomia, capacidade de decisão e nas medidas diplomáticas adotadas por determinado Estado. No que tange especificamente a política externa do Estado alemão, é importante apresentar dois conceitos abordados pela literatura5 como característicos da política externa alemã. São eles: Potência Civil e Potência Comercial. Ser uma “Potência Civil” encontra forma na constatação de uma profunda identificação das instituições e sociedade da República Federal com o pacifismo. Tal orientação encontra-se inclusive na Lei Fundamental Alemã (Grundgesetz), a qual impede a participação das forças armadas em guerras de agressão e obriga os órgãos de Estado a contribuírem para a integração europeia e para o sistema de segurança coletiva. De acordo com Câmara (2013, p. 142): “O perfil de potência civil decorreu, primeiramente, de uma imposição externa no pós-guerra e constitui hoje também uma persuasão enraizada na sociedade alemã”. Ademais: Estava descartado à República Federal o atributo de “potência militar” desde que aceitou a limitação numérica (primeiro ao aderir à OTAN, em 1955 e depois no Tratado 2+46, em 1990). [...] A alternativa restante – “potência civil” – não foi, portanto, uma opção estratégica, mas uma imposição externa como condição, primeiro para o fim do estatuto de ocupação e, depois, para reaquisição do exercício de soberania” (CÂMARA, 2013, p. 139). 5 Vide por exemplo: SCHMIDT, Manfred. O Tratado 2+4, celebrado em 12 de setembro de 1990, consistiu em entendimentos entre a RDA e a RFA e as quatro potências de ocupação (Estados Unidos, França, Reino Unido e União Soviética) e outorgava independência plena ao Estado alemão reunificado. 6 I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 Consoante CÂMARA (p. 143), “o status de Potência Comercial diz respeito à única dimensão de poder na qual sua projeção ocorre relativamente livre de constrangimentos históricos”, uma vez que provém, em certa medida, de alguns fatores externos, como o auxílio do Plano Marshal após a Segunda Guerra Mundial que viabilizou a retomada da industrialização no país, bem como a instituição da União Europeia, o que favoreceu substancialmente as exportações para os países do bloco. Desta maneira, à luz de sua condição de uma das maiores economias mundiais e a maior da União Europeia, a Alemanha “tem necessariamente um enorme peso sobre decisões tomadas nos principais foros econômicos – G-8, G-20, OCDE, Banco Mundial, FMI – e também na formulação da política comunitária europeia para a OMC.” (CÂMARA, 2013, p. 146). Ainda, devese assinalar as vulnerabilidades do ser “potência comercial”, uma vez que se associa este termo a dependência dos mercados externos (CÂMARA, 2013). Por fim, sublinha-se a constatação do historiador Ludwig Dehio (19967 apud CÂMARA, 2013), o qual chamou a atenção para a condição “semi-hegemônica” alemã no continente europeu, pois ao mesmo tempo em que a Alemanha não reúne condições para impor-se como pleno hegemon europeu, é também forte suficiente para sozinha desequilibrar a balança de poder regional. 1 A Política Externa do Governo Angela Merkel: Principais Vertentes De Atuação (20052013) Primeira mulher e primeiro nacional oriundo da ex-República Democrática Alemã a ocupar o posto de Chanceler Federal, Angela Merkel, nascida em 1954, em Hamburgo, é doutora em física pela Universidade de Leipzig. Antes de ser eleita Chanceler Federal em 22 de novembro de 2005, Merkel foi membro do Bundestag (a partir de dezembro de 1990), Ministra das Mulheres e da Juventude (1991-1994), Ministra do Meio Ambiente (1994-1998), Secretária-Geral (1998-2000) e Presidente do seu partido CDU (Christliche Demokratische Union) - União Democrata Cristã entre 2000 a 2005. O primeiro mandato (2005-2009) exercido por Merkel foi o resultado das eleições parlamentares de 18 de setembro de 2005, o qual não significou, de início, uma substancial mudança de curso na politica externa com relação ao seu antecessor, Gerhard Schröder, que havia sido chanceler entre 1998 até 2005, como líder do SPD (Sozialdemokratische Partei Deutschlands) 7 Dehio, Ludwig. Gleichgewicht oder Hegemonie (1948). Zurique, 1996. Das politische System Deutschlands. München: Verlag C.H. Beck oHG, 2011. No capítulo 12, em que discorre a respeito da Política Externa, o próprio subtítulo já faz referência à predominância da Potência Comercial e Civil na condução da política externa. I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 - Partido Social-democrata Alemão8. A União (CDU+CSU) 9 ganhou as eleições de forma apertada e necessitou formar uma “grande coalizão” com o SPD. Frank-Walter Steinmeier (SPD), com o qual o chanceler antecessor Schröder tinha uma relação próxima de confiança, assumiu o Ministério das Relações Exteriores, fato que parecia significar uma garantia de continuidade das políticas externas. Mas o fim da era Schröder, o qual conduziu a política externa alemã durante 7 anos, não permaneceu totalmente sem consequências - estilisticamente e de conteúdo (BIERLING, 2014). Segundo Bierling (2014), Schröder e Fischer deixaram aos seus sucessores uma herança da política externa nem um pouco leve: A União Europeia encontrava-se em uma forte crise depois do fracasso do Tratado de Constituição; a grande energia que Berlin dispensou para obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU foi sem resultados e o relacionamento com importantes aliados como EUA, Polônia, Itália e Israel estavam “pesados”. No entanto, a Alemanha provou ser, na Guerra do Kosovo, um parceiro de aliança confiável, além de ter conferido mais impulso a integração no continente do que qualquer outro grande Estado da União Europeia (BIERLING, 2014, p. 154). Em uma análise do jornal alemão Deutsche Welle, em julho de 2005, enquanto Merkel ainda era candidata a chanceler, uma reportagem sublinhava as diferenças na condução de política externa que haveria caso Merkel fosse eleita. Comentava-se divergências principalmente na questão das relações bilaterais com os EUA, as quais Merkel prometia intensificar, bem como na política europeia. “Na questão da ampliação do bloco, enquanto o líder social-democrata era favorável ao ingresso da Turquia, a candidata da oposição preferiria até impedir a entrada da Bulgária e da Romênia no bloco, prevista para 2007” (DEUTSCHE WELLE, 2005). Merkel tinha as suas próprias percepções de política externa, as quais não convergiam totalmente com as de Schröder. De acordo com Bierling (2014, p. 155): “ela era convicta às 8 O Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) é a segunda maior força no sistema partidário da Alemanha. Faz parte da família dos partidos social-democratas e socialistas democráticos da Europa e coloca como uma de suas principais questões a manutenção do Estado social. O SPD pode ser considerado de centro-esquerda, disputando com o partido CDU os votos de grande parte da população alemã. É considerado um partido pacifista e autodenomina-se um “partido da paz”. Na política externa, sempre preferiu opções neutras e é um questionador da segurança nacional, sendo um grande crítico dos exercícios das forças armadas em missões fora do país (SCHMIDT, 2011). 9 Os partidos do que se convencionou chamar de União (CDU/CSU) fazem parte da família europeia de partidos democrata-cristãos, concorrem na Alemanha – com exceção da Baviera – com o nome de União Democrata Cristã da Alemanha (CDU). Na Baviera a CDU não possui um diretório regional, deixando a representação a cargo da União Social Cristã (CSU). No Parlamento Federal os deputados de ambos os partidos uniram-se para formar uma bancada comum, a União. Esta pode ser considerada de centro-direita e integram-na grande parte dos setores empresariais, de comerciantes e profissionais liberais, tornando-o um dos principais partidos dentro do parlamento alemão. Em termos de política externa, a União é considerada o “clássico partido da aliança ocidental” (SCHMIDT, 2011). I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 “tradições de Kohl”, de multilateralismo e simpática à integração. Como nacional da ex-DDR, ela concedia uma atenção especial aos ideais de liberdade e aos direitos humanos, e os Estados Unidos lhe era visto como principal parceiro ocidental.”. Em seu discurso de posse, Merkel (2005, p. 28) inicia o tópico da política externa com a seguinte frase: “Nós podemos ser novamente um parceiro forte na Europa e no mundo. [...] E é do interesse da Alemanha concentrar-se em alianças e na cooperação com os nossos parceiros” 10 .O primeiro item tratado foi a política para a Europa em meio a “crise” que a organização enfrentava devido ao fracasso do Tratado de Constituição de 200411. Merkel afirma ser necessário gerar novos impulsos para a UE: Nós podemos superar a crise juntamente com os nossos vizinhos e parceiros, e isto significa com os “grandes” e com os “pequenos”. Eu acredito que a função da Alemanha, até mesmo devido a sua localização geográfica, é ser um ator mediador e promotor do equilíbrio. [...] Nós queremos conduzir ao sucesso do Tratado de Constituição, ainda que hoje isto pareça ilusório. Sem uma própria auto definição, a Europa não é possível.12 (DEUTSCHLAND, 2005, p. 28). Concernente à relação com os Estados Unidos e a OTAN, a chanceler reconhece a importância da OTAN, afirmando que esta “é e permanece a principal âncora da segurança coletiva europeia” e quanto aos Estados Unidos afirma (p. 31): “o novo governo irá investir todo o seu vigor para gerar proximidade através de uma parceira transatlântica verdadeira, aberta e confiável”13. Merkel também comenta a respeito de uma proximidade de valores entre a Alemanha e os Estados Unidos, uma vez que ambos possuem o mesmo entendimento de “Paz e Liberdade, Democracia e Estado de Direito, Igualdade e Tolerância” 14 (DEUTSCHLAND, 2005, p. 32). 10 Do original: “Wir können wieder ein starker Partner in Europa und in der Welt werden. Deutsche Außen- und Europapolitik gründet sich auf Werte und sie ist Interessenpolitik. Eine Politik in deutschem Interesse setzt auf Bündnisse und Kooperationen mit unseren Partnern.” 11 O Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa (2004), com objetivos idênticos aos do Tratado de Lisboa, foi assinado, mas não chegou a ser ratificado. 12 “Wir können sie aber nur gemeinsam mit unseren Nachbarn, mit unseren Partnern meistern, und zwar den großen und den kleinen. Ich glaube, dass Deutschlands Aufgabe auch aufgrund seiner geografischen Lage darin bestehen sollte, Mittler und ausgleichender Faktor zu sein. [...] Wir wollen den Verfassungsvertrag, auch wenn das heute zum Teil illusorisch erscheint, zu einem Erfolg machen. Ohne ein eigenes Selbstverständnis ist Europa nicht möglich.” 13 “Die neue Bundesregierung wird sich mit aller Kraft für ein enges, ehrliches, offenes und vertrauensvolles Verhältnis in der transatlantischen Partnerschaft einsetzen.” 14 “Wir fühlen uns im Blick auf die transatlantische Partnerschaft den gleichen Werten verpflichtet - das ist viel in dieser Welt -: Frieden und Freiheit, Demokratie und Rechtsstaatlichkeit, Gerechtigkeit und Toleranz.” I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 O próximo ponto a ser tratado diz respeito as parcerias globais. Merkel afirma (p. 32) que a Alemanha “precisa de parceiros pelo mundo mais do que nunca”15. Destes, o primeiro mencionado foi a Rússia, denominado como “um parceiro estratégico e econômico importante”, além de “indispensável para a luta contra o terrorismo e para a estabilidade europeia política”, dizendo haver um grande interesse por parte da Alemanha no “processo de modernização da Rússia”16. Posteriormente, Merkel menciona o Oriente Médio, demonstrando preocupação pela situação no Iraque e no Irã, o qual estava enriquecendo urânio no período. Quanto a Israel, Merkel afirma (p.33) haver “uma grande responsabilidade por parte da Alemanha”, porém também menciona o direito do povo palestino de possuir também o seu próprio Estado17. Finalmente, Merkel reconhece a importância do multilateralismo e das instituições internacionais face à globalização (p. 34): “Para nós, e este é o nosso entendimento conjunto, a ONU necessita ter um lugar central na solução de conflitos”. Contudo, posiciona-se favorável a uma reforma na ONU, dizendo estar preparada para “agir com mais responsabilidade por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança”18. Por fim, percebe-se o tom otimista que permeou boa parte do primeiro discurso de posse de Angela Merkel, o qual esteve também na última frase do pronunciamento (p. 36): “A Alemanha pode mais e disto eu tenho certeza, a Alemanha é capaz” 19. Já o segundo mandato da chanceler Angela Merkel iniciou-se em novembro de 2009, no qual Merkel liderou coalizão com os liberais-democratas (FDP20). Guido Westerwelle, expresidente do FDP (Freie Demokratische Partei), exerceu a chefia do Ministério das Relações 15 “Wir brauchen deshalb unsere Partnerschaften in der Welt dringender denn je.” “Russland ist ein wichtiger Wirtschaftspartner. Aber Russland ist genauso ein Verbündeter im Kampf gegen den internationalen Terrorismus und natürlich als Land für die politische Stabilität Europas unverzichtbar. Wir haben ein ganz besonderes Interesse daran, dass der Modernisierungsprozess in Russland gelingt.” 17 “Deutschland steht zu Israel in einer ganz besonderen Verantwortung. [...]Ebenso bekräftigen möchte ich allerdings das Recht des palästinensischen Volkes auf einen eigenen Staat” 18 “Angesichts der Globalisierung nimmt die Bedeutung der internationalen Institutionen zu. Für uns - das ist unser gemeinsames Verständnis - muss die UNO der zentrale Ort der Konfliktlösung werden und dies dann auch bleiben. [...] Wir werden uns bemühen - ich halte es für ganz wichtig, dass wir das schaffen -, bei der Reform der UNO gemeinsame europäische Positionen durchzusetzen. Wir bleiben bereit, mit der Übernahme eines ständigen Sitzes im Sicherheitsrat mehr Verantwortung zu übernehmen.” 19 “Deutschland kann mehr und ich bin überzeugt, Deutschland kann es schaffen”. 20 O Partido Liberal Democrata (FDP) tem como maior credo político a interferência mínima do Estado no mercado e, internamente, possui maior apoio junto às classes sociais com maior poder econômico e nível de escolaridade mais alto. Porém externamente, o FDP é conhecido por ter uma das formações de política externa das mais interessantes do sistema partidário alemão (SCHMIDT, 2011), a qual procura um equilíbrio entre Leste e Oeste e entre continuidade e mudança. 16 I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 Exteriores (Auswärtiges Amt). Diferentemente do tom otimista que permeou o primeiro discurso em 2005, em seu segundo discurso de posse de 10 de novembro de 2009, Angela Merkel resume suas intenções para o segundo governo que se iniciava em uma “Reforma de Cinco Pontos”, em que a “superação das consequências da crise econômica e financeira global”21 (DEUTSCHLAND, 2009, p. 2) coloca-se como ponto prioritário. Neste discurso, Merkel permanece mais centrada na politica doméstica e na recuperação econômica da crise, especialmente tratando de temas como situação bancária, empresariado nacional e aumento do desemprego, e chama pouca atenção para a política externa e de como a Alemanha poderia se firmar como um ator global. Percebe-se ainda, um tom pessimista quanto ao cenário em que a Alemanha estava permeada: “A Alemanha encontrase, devido a crise, na pior recessão de sua história”22 (DEUTSCHLAND, 2009, p. 2). Merkel, entretanto, chama a atenção para a importância do recém criado G-20 para a superação conjunta da crise (DEUTSCHLAND, 2009, p.7). Ao contrário do discurso de 2005, em que os Estados Unidos são apontados como principal parceiro transatlântico, no discurso de 2009 há pouca referência a este país, havendo ainda, uma crítica por não aderirem às políticas mundiais de proteção climática, quando solicita a cooperação de países como Estados Unidos, China e Índia23. Merkel ainda dá uma especial ênfase a este tópico, sinalizando que ela própria participaria da Conferência Climática Mundial, que seria realizada em Copenhagen, Dinamarca, no mês seguinte ao de sua posse, dezembro de 2009 24. A OTAN, por sua vez, é mais uma vez mencionada como “a principal âncora de segurança da Alemanha”25 (DEUTSCHLAND, 2009, p. 17). A partir deste embasamento inicial através de uma breve contextualização do cenário em que Merkel assume o governo alemão, além da ilustração de seus dois primeiros discursos de posse, pode-se adentrar nas seções seguintes, as quais expõem os principais acontecimentos e políticas adotadas pela Alemanha por território/tópico. 21 “Wir müssen die Folgen der internationalen Finanz- und Wirtschaftskrise überwinden.” “Deutschland befindet sich infolge dieser Krise in der schwersten Rezession seiner Geschichte.” 23 “Jetzt erwarten wir Beiträge von den USA und Ländern wie China und Indien.” 24 “Ich werde mich ganz persönlich dafür einsetzen und, wenn es erfolgversprechend ist, nach Kopenhagen fahren.” 25 “Auch in Zukunft wird die NATO der bedeutendste Sicherheitsanker Deutschlands sein” 22 I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 1.1 Política para a Europa (Europapolitik) A rejeição da proposta de Constituição Europeia pelas populações da França e dos Países Baixos, em meados de 2005, através de plebiscitos, além de ter colocado a criação do Estado Europeu em cheque e ser considerado uma derrota para o processo de integração encabeçado pela Alemanha (TRIZOTTO et al, 2013), causou divisões internas e uma intensa crise europeia até esta data. Quando a Alemanha assumiu a presidência de turno da União Europeia em 1º de janeiro de 2007, Merkel manteve a ideia central de Schröder/Fischer de reestruturação do arcabouço institucional da União Europeia por meio de um “tratado constitucional”. Em discurso, ao assumir a presidência rotativa da instituição, Merkel (DEUTSCHLAND, 2007, p. 4) afirma: “Os pontos fortes e a capacidade de atuação da União Europeia precisam ser garantidos, o que não é o caso dos atuais tratados em vigor. Na segunda metade de nossa presidência nosso principal e intensivo compromisso será com a questão de como dar prosseguimento ao Tratado de Constituição26.” Consoante Câmara (2013, p. 261): “Depois de intensas tratativas, a Alemanha conseguiu, no primeiro semestre de 2007, o assentimento de seus pares [...] Pela “Declaração de Berlim”, de 27 de março de 2007, os vinte e sete países se comprometeram, até as eleições europeias de 2009, em estabelecer um “novo fundamento comum”.” Desta forma, como alternativa à Constituição rejeitada em 2005, surge o Tratado de Lisboa, assinado em 13 de dezembro de 2007 e entrando em vigor em 1º de dezembro de 2009, o qual se traduziu em um conjunto dos dois principais tratados da União Europeia até então: os Tratados de Roma, de 1957, e o de Maastricht, de 1992. Com um caráter mais técnico, o Tratado de Lisboa conseguiu a institucionalização da PESC (Política externa e de Segurança Comum) através da criação do cargo de Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, uma espécie de “Ministro dos Negócios Estrangeiros da União Europeia” (TRIZZOTO et al, 2013). Porém, de acordo com Bierling (2014, p. 189): “o mais importante era que, com a assinatura do Tratado de Lisboa, a grave crise que paralisou a União Europeia durante dois anos, pode ser superada”. No que tange a entrada de novos membros, como já comentado acima, Merkel diferenciouse de Schröder ao retirar o apoio alemão à adesão da Turquia ao bloco regional. “A seu ver, as 26 “Stärke und Handlungsfähigkeit der Europäischen Union müssen gewährleistet sein. Mit den bestehenden Verträgen ist das nicht der Fall. In der zweiten Hälfte unserer Präsidentschaft wird uns daher die Frage, wie es mit dem Verfassungsvertrag weitergehen soll, intensiv beschäftigen.” I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 relações entre Ancara e Bruxelas devem se limitar a uma “parceria privilegiada”.” (CÂMARA, 2013, p. 262). Entretanto, Merkel não tomou apenas o Tratado de Constituição como sua bandeira, uma vez que ela sabia que a sociedade civil não teria tanto interesse com essa temática. Mais do que isso, ela procurou um tema que a população crítica tomasse como um “tema da UE”. Assim, ela encontrou na bandeira da Proteção ao Clima um tema unificador a todos os países do bloco (BIERLING, 2014). Nos discursos proferidos por Merkel ao longo de seu mandato, é clara uma aproximação com os temas ambientais, não apenas no plano interno, mas também em eventos multilaterais europeus e globais. (BIERLING, 2014). Ainda que a presidência alemã na União Europeia desde 2007 tenha sido considerada um sucesso e conduziu ao melhoramento dos ânimos entre os países do bloco, os anos posteriores foram marcados pelo início da crise do Euro, iniciada com a crise do subprime nos mercados imobiliários dos Estados Unidos, no ano de 2008. Naturalmente, a Europa não conseguiu se isolar da crise, a qual, segundo Bierling (2014, p. 190), “abalou as estruturas do sistema monetário do bloco e conduziu a uma longa luta pela sobrevivência”. Desde a entrada em vigor da moeda única, “não houve uma política fiscal comum que regulasse o mercado, deixando o sistema exposto a especulações de alto risco e endividamento desmedido dos Estados.” (LIMA et al, 2012, p. 58). Câmara (2013) expõe que durante esta década de moeda única institucionalizada, passou-se a verificar políticas fiscais de sentidos opostos: contracionista no centro e expansionista na periferia: [...] Para Estados como Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália a principal vantagem da entrada na zona monetária comum era a possibilidade de acesso a créditos baratos. Em razão das condições favoráveis da taxa de juros intrazona e da ausência, na prática, de efetivo mecanismo punitivo de altos déficits primários e/ou níveis de endividamento, houve entre aqueles países propensão ao arrefecimento da disciplina fiscal. Afigurava-se-lhes mais confortável o equilíbrio fiscal via empréstimos do que aumento da carga tributária. Exemplo mais acabado de imprudências creditícias, com graves sequelas para o sistema bancário nacional, foi o alto nível de endividamento (134% do PIB) do setor privado (sobretudo imobiliário) espanhol, cujos preços triplicaram entre 1998 e 2008. (CÂMARA, 2013, p. 269). Em maio de 2010, Merkel foi criticada por estar “matando a Europa” devido a seu egoísmo (ABADI, 2010). Durante este período de dúvidas com relação a que medidas tomar para responder I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 a crise da dívida da zona do euro, Merkel foi cunhada de “Frau Germania” pelos veículos de mídia internacionais, em uma referência a sua resistência em concordar a concessão de ajudas econômicas para os países mais debilitados pela crise, como, por exemplo, a Grécia, além de sua insistência na permanência de políticas de austeridade fiscal para estes países. A mídia internacional chegou a afirmar que Merkel causava a impressão de prefer que os países endividados saíssem da Zona do Euro a conceder-lhes o “suado” dinheiro alemão para os “gastadores” países do Sul (ABADI, 2010), o que ocasionou diversas críticas dos países europeus, especialmente do então presidente da França, Nicolas Sarkozy. Por fim, em maio de 2010, os países da Zona Euro, o FMI e a Grécia chegaram a um acordo, envolvendo empréstimos no valor de 110 bilhões de euros ao país e condicionado à execução de um programa de ajuste estrutural da economia grega. Segundo Câmara (2013), a política de Merkel para a crise do euro teve as seguintes principais características: Em primeiro lugar, coube a ela, muito mais do que a Sarkozy, a principal responsabilidade pela administração da crise. A primazia da Chanceler Federal sobre o Presidente francês foi reflexo direto da incontestável superioridade econômica alemã. Com taxas de crescimento (3,6%/2010) e superávit comercial (€ 141 bilhões/2010) inigualadas na zona do euro e no G-8 [...]. Em segundo lugar, Merkel se opôs, desde início, a todos os expedientes “heterodoxos”[...]. Para ela os remédios para a crise são, no curto prazo, ajustes fiscais e manutenção de equilíbrio orçamentário e, no médio-longo prazo, mudança nos tratados da União Europeia a fim de dotála de maior poder de controle sobre as políticas fiscais. [...] A seu ver, a reestruturação da dívida, aceita parcialmente no caso grego somente em outubro de 2011, consiste em um prêmio à irresponsabilidade fiscal (CÂMARA, 2013, p. 276-277). Como acima mencionado, apesar de ter um papel central nas respostas à crise do Euro, Merkel sofre críticas por sua abordagem quase que exclusivamente baseada em ajustes fiscais aos países endividados, tendo sua administração em relação a crise da Zona do Euro altamente questionada, principalmente pelos países que mais sofrem com a alta dívida. Afinal, “o nível de cortes orçamentários impostos à Grécia e a Portugal não somente tendem a aprofundar a recessão em suas economias (e consequentemente agravar a insolvência do Estado) como ameaçam o equilíbrio social e, em última instância, a legitimidade do pacto europeu” (CÂMARA, 2013, p. 280). I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 1.2 Relações com os Estados Unidos/OTAN Menos de dois meses após ser empossada como chanceler da Alemanha, Merkel viaja a Washington em 12 de janeiro de 2006, em uma visita que ela denomina como “encontro entre amigos”. Ainda que tenha recorrentemente expresso a sua intenção de reestabelecer uma melhora no diálogo com o parceiro transatlântico, Merkel não o fez sem objeções. Durante esta visita, a chanceler assinalou a “existência de opiniões diferentes” no relacionamento bilateral, em questões como a ameaça do terrorismo e a prisão de Guantánamo em Cuba. Como assinalou Harnisch (2010, p. 515): “nos quatro anos de cooperação entre a grande coalizão com a segunda administração Bush foram maiores as áreas coincidentes, mas não menores as de divergência. A cooperação entre os dois países foi geralmente baseada em três campos políticos: a Política para a OTAN, a política econômica mundial e a “guerra conjunta ao terror”.” Conforme Harnisch (2010, p. 515): “o governo Merkel atribui a OTAN, e assim também aos Estados Unidos, como líder da aliança, uma importante função para a estabilização da situação póssoviética”. Até o final da ocupação militar americana no Iraque, em 15 de dezembro de 2011, Merkel optou pela não participação militar alemã naquele país. Porém, para compensar esta ausência, prosseguiu com o ativo engajamento das forças armadas alemãs (Bundeswehr) na missão da OTAN (ISAF - International Security Assistance Force) no Afeganistão. O contingente alemão tem sido o terceiro maior (depois dos EUA e do Reino Unido), com atribuições também em tarefas civis por meio de Equipes de Reconstrução Provincial - Provincial Reconstruction Teams (CÂMARA, 2013). O segundo veículo para a aproximação entre os dois países foi, segundo Harnisch (2010), a integração econômica no espaço transatlântico. Na cúpula UE-EUA, em abril de 2007, durante a presidência alemã no Conselho Europeu, “a chanceler Merkel e o presidente Bush avançaram importantes passos ao chegar a algum acordo sobre as regras para a indústria, propriedade intelectual, energia e meio ambiente.” (HARNISCH, 2010, p. 516). Ainda, a terceira forma de intensificação das relações bilaterais deu-se no trabalho conjunto de política contra o terrorismo: “as autoridades de segurança e defesa dos EUA e da Alemanha trabalharam de forma aproximada e bem-sucedida” (HARNISCH, 2010, p. 516). Segundo Câmara (2013) esta substancial consideração entre EUA e Alemanha também pode ser estendida à gestão Barack Obama, uma vez que, durante as campanhas para as eleições I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 presidenciais norte-americanas de 2008, Merkel (e a Alemanha) foram assinaladas com importância pelo candidato democrata ao escolher Berlim para realizar, em 24 de junho, seu único comício na Europa. Durante o discurso, Obama propôs uma “parceria nova e global” entre os dois continentes. Segundo BIERLING (2014), a relação de Merkel com Obama foi mais centrada nas consequências da crise financeira, na qual ambos estiveram mais voltados às suas respectivas políticas domésticas do que em projetos conjuntos de política externa. Consoante Harnisch (2010), as diferenças transatlânticas mostraram-se principalmente na política climática internacional, na qual a chanceler utilizou-se de instrumentos multilaterais como o G8 e a União Europeia, para pressionar os Estados Unidos a projetarem metas concretas para redução de gases carbono. Ainda, o gesto considerado mais controverso em política externa de Angela Merkel foi quando da abstenção da Alemanha no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a Resolução 1973, de 17 de março de 2011, que impunha, entre outras medidas, uma zona de exclusão aérea na Líbia com vistas à proteção da população civil contra as forças do governo líbio. “À abstenção no Conselho seguiu-se decisão de retirada dos vasos de guerra alemães a serviço da OTAN no Mediterrâneo para não tomarem parte nos bombardeios conduzidos pela organização. [...] A abstenção no caso da Alemanha foi considerada por seus parceiros ocidentais como um voto contrário virtual, inclusive por terem partido deles a iniciativa de tabulação da resolução.” (CÂMARA, 2013, p. 260). Segundo Peterke (2009), é importante considerar as causas internas que influenciaram esta abstenção, e para a qual contribui o ceticismo alemão no engajamento de suas forças armadas, como por exemplo, na força de paz no Afeganistão, em que se critica não apenas a perda de militares alemães, mas também a morte de civis afegães. Ademais, houve uma aprovação geral da posição alemã pelos deputados do Bundestag (Parlamento alemão). Outro ponto que causou um relativo “mal-estar” entre os dois países foi o episódio da NSA (National Security Agency), a Agência Nacional de Segurança estadounidense, quando documentos de espionagem foram encontrados, inclusive do celular da própria chanceler. De acordo com Bierling (2014, p. 243): “a falta de confiança desencadeada deste processo foi enorme e a situação das relações entre Estados Unidos e Alemanha deterioradas como nunca desde 1990”. De uma forma geral, os Estados Unidos continuam sendo o principal parceiro alemão fora do continente europeu, ainda que o trabalho conjunto tenha perdido a intensidade e a política do governo Bush tenha sido altamente rejeitada na Alemanha. Com as suas críticas ao governo I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 estadonidense, como no caso da prisão de Guantánamo, Merkel procurava deixar claro que, mesmo entre “amigos”, a política externa era baseada por valores e tinha os seus próprios princípios (BIERLING, 2014). 1.3 Política multilateral Segundo Bierling (2014, p. 256), “durante a administração Merkel, o engajamento alemão em questões globais decresceu sucessivamente”. Entretanto, a Alemanha obteve liderança global durante este período no que tange a proteção climática global, “sendo que Merkel chegou a ser entitulada pela mídia internacional como “Chanceler do Clima”.” Nas Nações Unidas, Merkel manteve a Alemanha no G-4 e não deixou de reafirmar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, a intenção da Alemanha de reformar o Conselho de Segurança e garantir um assento permanente. Além disso, trabalhou ativamente à frente do PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (BIERLING, 2014). Durante sua presidência do G-7/G-8, em 2007, a qual, por coincidência, também no primeiro semestre da Presidência da União Europeia, “Merkel tentou projetar a capacidade de iniciativa da diplomacia alemã nas discussões sobre governança global” (CÂMARA, 2013, p. 263) Desta forma, procurou institucionalizar diálogo com os principais países emergentes: Brasil, Índia, China, África do Sul e México, em áreas como finanças, meio ambiente, energia e cooperação para o desenvolvimento. Apesar dessa abertura, “a presidência alemã não permitiu àqueles cinco países interlocução nas decisões tomadas pelo G-7/G-8 nem ofereceu horizonte temporal para sua incorporação ao grupo, como defendiam o Reino Unido e a França.” (CÂMARA, 2013, p. 263). Na área de meio ambiente, Merkel conseguiu em Heiligendamm, Alemanha, cidade sede da cúpula do G8 em junho de 2007, “que, pela primeira vez, os EUA, comprometessem textualmente a avaliar possibilidade de redução de 50% de suas emissões até 2050.” (CÂMARA, 2013, p. 263). No lado europeu, durante a presidência alemã, o bloco se comprometeu a cortes de 20% até 2020 caso outros países assim também procedessem. No campo de energia, a Alemanha teve papel preponderante para o estabelecimento, em janeiro de 2009, da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), medida que obteve grande repercussão regional e mesmo internacional (CÂMARA, 2013). I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 1.4 Parcerias globais Neste sub-capítulo pretende-se abordar os principais acontecimentos das relações bilaterais entre a Alemanha com seus parceiros além do território europeu, ou como Merkel denominou em seu primeiro discurso de posse em 2005, “parceiros globais”. 1.4.1 Rússia Bierling (2014, p. 244) define a Rússia como “o difícil parceiro” da Alemanha. Segundo o autor, as relações com a Rússia “esfriaram” durante o governo Merkel, em comparação com o seu antecessor, Schröder, o qual prezou por um bom relacionamento com a Rússia. Ainda assim, o Ministro de Relações Exteriores do primeiro mandato de Merkel, Steinmeier, foi um dos grandes articuladores da manutenção das boas relações com a Rússia. De qualquer forma, Bierling (2010, p. 244) afirma que “a autoridade crescente de Putin desgastou as relações”. Em 2006, o Ministério das Relações Exteriores (Auswärtiges Amt) elaborou um “plano conceitual” da estratégia bilateral e regional para as relações bilaterais com a Rússia. Denominado de “Aproximação pela Interpenetração” (Annährung durch Verflechtung), o plano foi acolhido pela União Europeia durante a presidência alemã em 2007. De uma maneira geral, houve um reconhecimento por parte do governo de administração Merkel do papel central da Rússia em temas securitários europeus e de sua importância aos interesses econômicos de suprimento energético para a Alemanha. “Tal consideração ficou evidenciada com a “política alemã de “equidistância entre Moscou e Washington” no conflito Rússia-Geórgia em 2008 e também com a manutenção do projeto gasoduto setentrional europeu (Nordeuropäische Gas-Pipeline)” (CÂMARA, 2013, p. 264). “Apesar das animosidades pessoais, Merkel procurou trazer equilíbrio e continuidade às relações com a Rússia, considerando sua importância como parceiro comercial e sua capacidade de interferência na política internacional” (BIERLING, 2014, p. 245). 1.4.2 China Segundo Bierling (2014, p. 250), “a principal atenção alemã além da Europa, está focada nos Estados Unidos, mas também na China e em Israel”. Conforme Câmara (2013), as relações com a China foi a vertente da política externa com maiores distinções em relação ao período anterior, uma vez que Merkel abandonou o viés praticamente econômico dado às relações bilaterais por Schröder. Evento central nessa reformulação de prioridades foi a visita do Dalai Lama a Berlim em setembro I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 de 2007. “A recusa da Chanceler Federal em abandonar uma linha crítica a Pequim na sequência da visita implicou o cancelamento de eventos importantes da agenda bilateral e a ausência da delegação chinesa à reunião do Diálogo Estratégico daquele ano” (CÂMARA, 2013, p. 265). Porém, em julho de 2011, Merkel realiza uma viagem de quatro dias à China, o que pode ser entendido como uma iniciativa de reaproximação e de reconhecimento da necessidade do diálogo entre a Alemanha e a China. Esta viagem “também se inscreve em uma estratégia, que compreende a Índia e outros países em desenvolvimento, de diversificação de parceiros comerciais tendo em conta a recessão dos mercados dos países industrializados.” (CÂMARA, 2013, p. 265). Bierling (2014) também assinala para a importância da China enquanto parceiro comercial da Alemanha, especialmente após a crise de 2008, quando a Alemanha perde mercado nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Zona do Euro para suas exportações. Desta forma, “a Alemanha precisa mais do que nunca do aquecido mercado chinês” (BIERLING, 2014, p. 251). 1.4.3 Oriente Médio A atuação diplomática alemã nesta região, durante a administração Angela Merkel, foi marcada pela pró-atividade (HARNISCH, 2010). Em dezembro de 2006, o Ministro do Exterior Frank-Walter Steinmeier visitou Damasco, tendo sido correspondido por seu colega sírio com visita a Berlim, em janeiro de 2008, ainda que estas visitas tenham sido criticadas pelos Estados Unidos. Em defesa de Steinmeier, declarou a Chanceler que as visitas representam simbolicamente o entendimento de política externa do conjunto do Governo Federal. Segundo Harnisch (2010, p. 514) a chanceler afirmou que “prontidão para o diálogo, princípios e valores claros pertencem a nós todos e continuarão a sê-lo no futuro. Procederemos assim no tocante à Síria, ao Irã e a conflitos em todos os outros países”. No tocante as relações com Israel, estas são consideradas como BIERLING (2014) como “especiais” por tratarem-se do ponto angular da política alemã no Oriente Médio, mas também “sensíveis” devido aos constrangimentos do passado alemão. De acordo com Bierling (2014), enquanto seus antecessores normalmente deixavam a região e Israel a cargo do Ministro de Relações Exteriores, Angela Merkel preferia ela mesmo realizar estas visitas oficiais. Ainda assim, as relações da Alemanha com Israel são de certa forma “incoerentes”, pois ao mesmo tempo em que procura satisfazer a segurança de Israel, prefere usar somente meios diplomáticos (BIERLING, 2014). I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 Em fevereiro de 2011, a Alemanha pela primeira vez votou a favor, no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas, um projeto de resolução condenatório à política do Governo israelense de expansão dos assentamentos nos territórios ocupados palestinos. O gesto foi de grande importância simbólica, pois tratou-se de mudança de paradigma clássico da política externa alemã de não antagonizar interesses do Estado israelense (CÂMARA, 2013). Para finalizar esta seção, é importante considerar a constatação de BIERLING (2014), em que ele observa que a maior parte da energia da chanceler Angela Merkel em termos de política externa foi destinada às consequencias da crise financeira e econômica global. Problemas, países e regiões, que não possuíam relação direta com a crise, permaneceram em segundo plano. “Este é o motivo para o fato de que regiões como América Latina, Ásia e África, com algumas exceções, estarem na “periferia” da política externa alemã. Quando ocorreram viagens oficiais à estas regiões [...], o que estava em jogo era principalmente interesses econômicos e de comércio exterior” (BIERLING, 2014, p. 238). 2 Considerações Finais Até 1990, a política externa da República Federal da Alemanha (RFA) caracterizava-se por certa moderação, diretamente resultante de seu passado hitlerista e da divisão do país em diversas zonas. Atualmente, 25 anos depois da queda do Muro, a Alemanha é o poder dominante na Europa. Esta afirmação sofre pouca contestação fora e dentro do continente (MÉNUDIER, 2010). A partir dos dados apresentados na seção acima, no que se refere aos principais acontecimentos de política externa nos dois primeiros mandatos de Angela Merkel, observa-se que a chanceler assume o governo alemão em dois períodos turbulentos na cena europeia: em 2005, quando havia um clima de “crise” devido ao fracasso do Tratado de Constituição; e em 2009, em meio ao auge da crise global econômica que havia acabado de afetar os países da Zona do Euro e desequilibrado as contas públicas de alguns países membros. Ainda assim, percebe-se que o clima em 2005 é de esperança e de tentativa de esforço para o sucesso do Tratado da União Europeia, fato que efetivamente se consumou durante a presidência da Alemanha no Conselho Europeu no ano de 2007, trazendo credibilidade para o país devido ao sucesso do acordo e trazendo novos ânimos para I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 o futuro do bloco. Tal cenário, entretanto, passou do otimismo para o desgaste da crise, que afetou sobremaneira os países do sul da Europa, e que possui consequências até os dias atuais. Entretanto, a despeito de todos os problemas da crise na União Europeia, sabe-se que, caso o fim do euro ocorresse, o prejuízo para a Alemanha seria inquestionável. Se a moeda fosse abolida, poderia haver uma valorização muito grande de moedas nacionais fortes como o marco alemão. Isso prejudicaria as exportações da Alemanha, gerando desemprego em massa no país, uma vez que a Alemanha depende dos parceiros do bloco para manter suas exportações ativas. Ainda, pode-se depreender que, a partir do episódio da crise da dívida dos países do euro, a Alemanha despontou com um papel de liderança como principal intercolutor da politica econômica europeia, devido a sua supremacia econômica em comparação com os demais países do bloco. A crise econômica e financeira global iniciada em 2008 também centrou as atenções de política externa da Alemanha para a Europa e para os países envolvidos na crise, direta ou indiretamente. Com este objetivo de voltar-se para à crise na política externa, é que as relações bilaterais extra-europeias também foram direcionadas, tendo como alvo parceiros comerciais alemães, como é o caso dos Estados Unidos, Rússia e China. A partir desta observação, constata-se a predominância da característica “Potência Comercial” da Política Externa alemã, que caracteriza majoritariamente as relações da Alemanha com a União Europeia, mas também com os seus parceiros globais. Ainda com relação ao seu status de Potência Comercial, depreende-se que a conservação e a estabilização do sistema multilateral é de suma importância para a Alemanha, de forma a viabilizar a estrutura supranacional europeia, da qual é o sócio economicamente mais forte e também devido a sua dependência do comércio internacional. Com relação a característica “Potência Civil”, verifica-se que esta está presente em diversos momentos dos acontecimentos apresentados acima durante os dois mandatos de Angela Merkel, de 2005 a 2013. Exemplos desta característica e presentes durante este período são, entre outros: a) delegar à OTAN (organização de segurança coletiva transatlântica) questões de segurança nacional; b) predominância de uma “Agenda Verde” em fóruns multilaterais – utilizado inclusive como um instrumento de pressão para parceiros como os Estados Unidos; c) a ênfase no multilateralismo e na importância das decisões dos organismos internacionais, especialmente a União Europeia; d) Abstenção na Resolução 1973 do CSNU que visava a instalação de tropas militares na Líbia; e) o desgaste interno devido à longa manutenção das Forças Armadas alemãs em missão no Afeganistão. Segundo Bierling (2014), dominou a partir de 2005 e especialmente após 2009, uma resistência e I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 relutância militar. Na ausência de um cenário ameaçador e depois da moderada experiência no Afeganistão, a aversão alemã contra missões internacionais das Forças Armadas expandiu. De acordo com Câmara (2013, p. 148): “o perfil de potência civil fortalece o de potência comercial. Aquele minimiza possíveis constrangimentos à projeção econômica nacional. O uso da dimensão militar em iniciativas de segurança coletiva, flexibilizado a partir de 1990, correspondeu, não à revisão daquele perfil, mas à necessidade de adaptação dos meios de política externa às transformações do país e do sistema internacional”. Segundo Bierling (2014), Berlin evitou tomar posições políticas de liderança ou adentrar-se em riscos militares durante este período e ainda não soube aproveitar a oportunidade que a crise poderia lhe trazer para lançar-se como a pedra fundamental da União Política da União Europeia. Dessa forma, a política externa da Alemanha teria uma característica de, apesar de deter prestígio em conferências internacionais, não haver desenvolvido nenhum perfil próprio e, ao invés de engajar-se ativamente em desafios urgentes, preferir evita-los. Este é o cenário em que a Angela Merkel assume o seu terceiro mandato, de incerteza se ocupará uma posição internacional de maior responsabilidade ou se continuará sendo um “Hegemon relutante”, um “Hegemon contra a sua vontade”. Por fim, salienta-se que, desde 17 de dezembro de 2013, está no poder uma nova coalizão dos grandes partidos tradicionais CDU/CSU e SPD, sob liderança de Angela Merkel. Após os anos 1966-1969 e 2005-2009, esta é a terceira vez na história da República Federal da Alemanha, que uma grande coalizão liderada pela União (CDU/CSU) governa o país. Este mandato, iniciado em 2013, deve prosseguir até 2017 e inclui diversos desafios em termos de política externa, como, por exemplo, a crise da Ucrânia iniciada em 2014 e a constante crise da Zona do Euro, abalada no ano de 2015 pelas intensas discussões entre o Banco Central Europeu e o premie grego, Alexis Tsipras. Desta forma, justifica-se o prosseguimento do estudo e pesquisa da Política Externa da Alemanha, objetivando-se não apenas compreender de que forma são direcionados os posicionamentos exteriores deste país, mas também de forma a compreender a situação de todo o continente europeu, dada a importância da Alemanha para a estabilização econômica da região. Referências bibliográficas ABADI, Cameron. Frau Germania. How Angela Merkel's selfishness is killing Europe. Foreign Policy, Washington, 2010. Disponível em: <http://foreignpolicy.com/2010/05/25/frau-germania/> Acesso em: 15 ago 2015. 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