Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios
Máximos do euro ameaçam lucros das cotadas
Edgar Caetano | [email protected]
Internacionalização deixa empresas portuguesas mais expostas ao risco cambial. Euro
forte é algo com que terão de conviver nos próximos tempos.
O ano de 2014 no mercado cambial está a ser madrasto para as empresas nacionais cujos
resultados são mais susceptíveis à oscilação do valor das moedas. A valorização do euro face ao
dólar, que está a surpreender a maior parte dos analistas, e a pressão sobre as moedas de países
emergentes como o real brasileiro estão a ser "ventos contrários" para grandes empresas da bolsa
de Lisboa. Um euro forte é, contudo, algo com que as empresas terão de conviver nos próximos
tempos, dizem os analistas, tendo em conta que o BCE parece pouco inclinado a intervir no
mercado.
Um euro chegou a valer mais de 1,39 dólares na sexta-feira, mantendo-se praticamente
inalterado na segunda-feira. É o valor mais elevado desde Outubro de 2011, antes de Mário Draghi
tomar posse como presidente do BCE. Foi a inacção de Draghi, na quinta-feira, dia em que os
analistas esperavam novas medidas de combate à crise, que justificou a subida do euro no final da
semana. O balanço do BCE continua a encolher e a balança comercial face ao resto do mundo
pende cada vez mais para o lado da Zona Euro.
O euro sobe mais de 4,5% face ao dólar nos últimos seis meses, o que é negativo para o
sector do turismo e para as empresas que exportam para fora da Zona Euro, diz João Pereira Leite,
director de investimentos do Banco Carregosa. "São as mais prejudicadas porque têm custos em
euros e receitas em dólares ou noutra divisa", explica. As construtoras e a indústria da pasta de
papel são um bom exemplo, já que o impulso de internacionalização as tornou mais dependentes
de contratos pagos em dólares.
Desde o início do ano, a moeda única valoriza-se também em
1,5% face ao zloty polaco, uma moeda que, ainda assim, tem-se
mantido relativamente imune às tensões quase se abateram este ano
sobre alguns emergentes. "No sector retalhista, a Jerónimo Martins
está a converter os ganhos em zlotys para euros e a ficar
prejudicada", assinala Tiago da Costa Cardoso, gestor da XTB. Ainda
assim, o especialista assinala que, "na maioria dos casos, as empresas
protegem-se, através de contratos 'forward' ou opções, do risco de
desvalorização das moedas, dos países onde têm operações".
Evolução cambial desfavorável tem também tido a Portugal
Telecom, que é accionista de referência da brasileira Oi. O real
perde quase 8% face ao euro nos últimos seis meses. Os proveitos da
operadora de telecomunicações são obtidos em reais, a mesma
divisa em que são pagos os dividendos da Oi à Portugal Telecom,
pelo que a empresa vê esses ganhos limitados quando transpostos
para euros.
Euro em 1,30 dólares este ano
Alguns especialistas têm revisto em alta as suas projecções para o euro face ao dólar em 2014, mas
a média dos bancos de investimento continua a apontar para que a moeda única termine o ano
em 1,30 dólares, isto é, quase 7% abaixo da cotação actual.
Numa nota em que analisa até que ponto o euro forte pode fazer desencarrilar a retoma nos
países da "periferia" da Zona Euro, o Société Générale diz que "tensões ao nível da liquidez" vão
acabar por forçar a mão de Mário Draghi. Uma nova injecção de liquidez a longo prazo é a opção
mais provável para o banco francês. Já Beat Siegenthaler, do UBS, diz que "o BCE será sempre
reactivo e não proactivo". Para que o euro desça face ao dólar, é necessário que a economia dos
EUA acelere e a Fed comece a falar em subir a taxa de juro".
11-Mar-14
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