CÉLULAS MONONUCLEARES NA REGENERAÇÃO DO
VII PAR CRANIANO: ESTUDO EXPERIMENTAL
MONONUCLEAR CELLS IN VII CRANIAL NERVE REGENERATION:
EXPERIMENTAL STUDY
DIOGO MARILIO MARTINS
Médico otorrinolaringologista, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde, área de
concentração em clínica cirúrgica - Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS), Porto Alegre, RS. E-mail: [email protected] Currículo cadastrado na plataforma Lattes do CNPq;
MARCOS RICARDO JAEGER
Doutorado em Medicina e Ciências da Saúde pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Membro Titular
da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). E-mail: [email protected] Currículo cadastrado na
plataforma Lattes do CNPq;
JEFFERSON LUIS BRAGA DA SILVA
Professor Livre-Docente em Cirurgia UNIFESP; Professor adjunto do Departamento de Cirurgia da Pontifícia Universidade
do Rio Grande do Sul, PUCRS. E-mail: [email protected] Currículo cadastrado na plataforma Lattes do CNPq;
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Diogo Marilio Martins - [email protected] - Avenida Ganzo 664/201 - CEP 90150-070 - Porto Alegre (RS).
Fone: 51-91554069
DESCRITORES
PARALISIA FACIAL, NERVO FACIAL, REGENERAÇÃO NERVOSA.
KEYWORDS
FACIAL PALSY, FACIAL NERVE, REGENERATION.
RESUMO
ABSTRACT
Introdução: A paralisia facial periférica traz
impacto significativo na vida dos pacientes.
Anastomoses término-terminais são viáveis
em poucos casos. As células-tronco têm
mostrado bons resultados na regeneração de
nervos periféricos. Objetivo: Estudar as células
mononucleares na recuperação funcional do VII
par craniano. Métodos: Estudo experimental,
controlado, cegado e randomizado.Dezesseis
ratos Wistar foram divididos em dois grupos.
Foram ressecados quatro milímetros do tronco
do nervo facial e, então, interposto um tubo de
silicone, preenchido com células mononucleares
(grupo 1) e com veículo (grupo 2). Foram
avaliados por testes funcionais: observação do
movimento das vibrissas e do fechamento ocular
durante 64 dias. O nível de significância foi 5%.
Resultados: O DELTA para o somatório vibrissasolhos foi -0,50 no grupo 1 e -1,50 no grupo 2,
mostrando uma recuperação funcional satisfatória
em ambos os grupos. O grupo que utilizou as
células mononucleares apresentou recuperação
funcional mais precoce no fechamento ocular
entre a segunda e terceira semanas. Conclusões:
Os dois grupos obtiveram recuperação da mímica
facial no teste funcional após a lesão aguda do
VII par craniano no período de 64 dias, com uma
recuperação mais precoce do fechamento ocular
com as células mononucleares.
Background: Peripheral facial paralysis has
significant impact on patient’s life. End-to-end
anastomosis is possible in very few cases. The stem
cells have shown good results in peripheral nerves
regeneration. Objective: This paper aims to study
the mononuclear cells in functional recovery of the
VII cranial nerve. Methods: Experimental, controlled,
randomized and blind study. Sixteen Wistar rats
were divided into two groups. It was resected four
millimeters of facial nerve trunk and then interposed
a silicone tube, filled with mononuclear cells (group
1) and vehicle (group 2). Rats were evaluated by
functional tests: observation of vibrissae movement
and eye closure for 64 days. The significance level
was 5%. Results: The vibrissae-eyes sum DELTA
was -0.50 for group 1 and -1.50 for group 2, showing
a functional recovery in both groups. The eye
closure was an early improvement in mononuclear
cells group, evidenced by the median between the
second and third weeks. Conclusions: Both groups
had recovery of facial movements in functional
tests after acute injury of the facial nerve in the
period of 64 days. The mononuclear cells group
had an early improvement in the eye closure test.
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INTRODUÇÃO
A recuperação funcional do nervo facial
permanece insatisfatória e a síndrome pósparalítica ainda é inevitável em grande parte
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dos casos, provocando seqüelas nos pacientes.
Anastomoses
término-terminais
imediatas
produzem resultados satisfatórios, porém são
possíveis em apenas 6% das lesões transfixantes
do 1-6 tronco do nervo e em 12% das lesões
dos ramos. 7-10 Alguns estudos sugerem que
a utilização de células mononucleares (CMN)
permite uma melhora significativa na regeneração
de nervos periféricos, 11-13 porém em pares
cranianos, isto não está bem estabelecido.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é estudar a
recuperação funcional do nervo facial após lesão
aguda com reparação imediata utilizando CMN
em um modelo experimental.
MATERIAL E MÉTODO
Estudo experimental, controlado, cegado e
randomizado. Foram utilizados 18 ratos albinos
da linhagem Wistar, isogênicos, pesando entre
250 e 300 gramas. Dois animais foram utilizados
para a obtenção das CMN da medula óssea, os
demais animais foram divididos em dois grupos
(8 cada): Grupo 1 (CMN): identificação do nervo
facial (Figura 1), secção unilateral produzindo
um defeito de quatro milímetros (Figura 2),
interposição de tubo de silicone entre o tubo e o
epineuro (Figura 3) e, antes do término da sutura,
preenchimento do tubo com o preparado de
CMN; Grupo 2 (controle): mesmo procedimento
e uso do veículo gelificado de hidroxil-propil-metil
celulose (HPMC) a 3% para preencher o tubo.
Figura 3 - Sutura do tubo de silicone ao epineuro do coto proximal
do tronco do nervo facial
Os animais foram submetidos a teste
funcional, previamente ao procedimento e
após em dias alternados durante trinta dias e
semanalmente por mais trinta dias, totalizando
sessenta e quatro dias de seguimento. Os
parâmetros observados foram: movimentação e
posição das vibrissas, fechamento da rima ocular
e reflexo de piscamento, conforme os quadros 1
e 2. 14-15 O projeto de pesquisa foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, sob
registro 07/04020.
Todos os escores foram descritos por
mediana e a comparação dos grupos ponto a
ponto avaliada pelo teste U de Mann-Whitney.
Para consideração do efeito global usamos a
abordagem da área sob a curva (AUC: area
under the curve) e para avaliar o processo de
recuperação funcional, utilizamos o DELTA
(valor final - valor inicial). O nível de significância
adotado foi de alfa=0,05 e a análise dos dados
foi realizada por meio do programa SPSS
versão 11.5.
RESULTADOS
Figura 1 - Tronco do nervo facial com seus ramos zigomático,
bucal e mandibular
A tabela 1 mostra a mediana obtida
por cada grupo nos critérios movimentação
de vibrissas, fechamento ocular e somatório
vibrissas-olhos, o DELTA e a área sob a curva
(AUC).
Para melhor visualização da característica
da recuperação funcional de cada grupo foram
criados os gráficos 1, 2 que correspondem ao
movimento das vibrissas e fechamento da rima
ocular, respectivamente.
Os gráficos mostram uma melhora em
todos os critérios no decorrer do estudo, com
superioridade do grupo CMN em praticamente
todos os dias.
Figura 2 - Tronco do nervo facial seccionado com defeito
de 4 milímetros
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DISCUSSÃO
Realizamos o teste funcional ao invés
de testes eletrofisiológicos, tendo em vista
que frequentemente a melhora nestes parâmetros
não acompanha a evolução clínica. A inexistência
de diferença estatisticamente significativa entre
os dois grupos estudados pode estar relacionada
ao tamanho amostral, o qual foi estabelecido
esperando-se uma diferença de grande magnitude
ou ao tamanho da lesão, já que não encontramos
na literatura estudada nenhuma referência ao
tamanho da lesão crítica do nervo facial.
Realizamos a ressecção de quatro milímetros
do tronco do nervo, o que foi possível em 100%
dos animais, todavia em nenhum rato haveria a
possibilidade de uma ressecção maior.
Os ratos do grupo 2 (controle) apresentaram
uma boa recuperação da funcionalidade do nervo
facial, dificultando uma diferença acentuada dos
ratos do grupo 1 (CMN). Apesar disto, houve
uma discreta superioridade na recuperação
funcional dos ratos do grupo 1 durante os
sessenta e quatro dias de seguimento17. Como em
outros estudos, o parâmetro fechamento ocular
parece ser o mais precocemente recuperado,
já no primeiro mês e foi o único a revelar uma
diferença estatisticamente significativa, entre a
segunda e terceira semanas em favor do grupo
tratado com CMN.
CONCLUSÃO
Os dois grupos obtiveram recuperação da
mímica facial nos parâmetros estudados após 64
dias da lesão aguda do VII par craniano, não
havendo diferença estatisticamente significativa
entre os grupos. O grupo que utilizou as CMN
apresentou recuperação funcional mais precoce
no critério fechamento da rima ocular entre a
segunda e terceira semanas. Houve uma melhora
progressiva dos parâmetros relacionados à
mímica facial durante os sessenta e quatro dias
de seguimento16.
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