Um Estudo Experimental do Conceito de Extensão do Self Autoria: Carlos Alberto Vargas Rossi, Celso Augusto de Matos, Valter Afonso Vieira, Caroline Agne Vanzellotti, Martin de La Martinière Petroll, Daniel Kroeff Correa Resumo A teoria de extensão do self propõe que os consumidores usam suas posses como meio para estender e fortalecer seu senso de “eu” e compreender quem eles realmente são. Apesar dos estudos existentes, essa teoria ainda se apresenta complexa para testes empíricos. Diante dessa dificuldade, a presente pesquisa testou a teoria do self de modo experimental. Foi realizado um experimento fatorial 3 x 3, no qual dois fatores foram manipulados: destino (para si, para vender e presentear) e emoção (positiva, negativa e sem emoção). Os participantes (n=197) receberam um objeto de uso pessoal no primeiro encontro e foram submetidos aos estímulos. Após o período de uma semana houve a medição das variáveis dependentes e de controle. Os resultados indicaram que (i) os respondentes estenderam mais seu self quando o objetivo era presentear alguém com o objeto em relação aos outros dois destinos (para si e vender); (ii) aqueles que sentiram que este objeto os simbolizava perceberam a personalidade do objeto como similar à sua; (iii) aqueles que sentiram o objeto como uma extensão do seu self não tiveram dificuldades em autorizar uma produção em massa desse mesmo objeto e (iv) as emoções não tiveram efeito significativo na extensão do self. Por fim são apresentadas uma discussão desses resultados, suas limitações e sugestões para novas pesquisas. Introdução As pesquisas sobre o comportamento do consumidor têm procurado esclarecer os mecanismos que formam o conhecimento sobre como o consumidor consome (Cohen, 1989). Estudos realizados na área preocuparam-se em revelar questões sobre o quê o consumidor compra, usa, guarda ou descarta e o porquê desse consumo. Contudo, a preocupação com a questão do como, apesar de não ser recente, pois data de antes da década de 70, surgiu pela necessidade de se entender os significados que o consumidor dá à posse de produtos (Belk, 1988). Alguns desses significados podem ser traduzidos no sentido pessoal atribuído à posse, esse significado próprio também é conhecido em comportamento do consumidor como as características da própria personalidade atribuídas às posses (Sanders, 1990). Belk (1988) empregou o termo self e self estendido para caracterizar os componentes centrais do mundo subjetivo no qual o ser humano vive (Sanders, 1990). Por self entende-se a soma de tudo aquilo que o consumidor pode dizer como sendo seu (Belk, 1988), ou seja, o self representa o consumidor por meio da soma de suas posses pessoais (Belk, 1992). O conceito de self abrange teorias que analisam as implicações de sua extensão. Essa extensão (a) é um processo, ao invés de um objeto estático (Sanders, 1990), que inclui tanto o que caracteriza e determina a pessoa como sendo ela própria, quanto o que pertence a ela (Belk, 1988; Holbrook, 1992); e (b) pode acontecer em diversas categorias, como no próprio corpo, nos processos internos, nas idéias, nas experiências, em pessoas, lugares e coisas que “pertencem” ao consumidor. Conforme Belk (1988), são nestas últimas três categorias – pessoas, lugares e coisas – que o consumidor potencialmente mais estende o self. Nesse sentido, a extensão do self às posses é uma forma de se descobrir ou de saber quem uma pessoa realmente é (Dodson, 1996). A extensão não se restringe, portanto, a objetos meramente físicos (Dodson, 1996; Ahuvia, 2005). Pesquisas empíricas têm verificado a extensão do self ao próprio corpo (Attias e Goodwin, 1999), às coleções (Belk et al. 1988), a artefatos (Mehta e Belk, 1991), ao trabalho (Tian e Belk, 2005), a animais (Sanders, 1990) e a grupos sociais (Smith e Henry, 1996). Todavia, a maior parte das análises sobre a extensão do 1 self foi realizada sob a ótica de pesquisas interpretativistas, as quais buscam verificar os significados e/ou valores pessoais atribuídos aos bens (ex. Belk, 1987). Apesar de o artigo de Belk (1988) ter fornecido base para o surgimento de inúmeras pesquisas relacionadas à questão de como os consumidores usam os produtos para construir sua identidade (Ahuvia, 2005), deve-se destacar que poucas pesquisas na área utilizaram métodos do tipo survey ou experimentos. Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho é avaliar o conceito de extensão do self de forma experimental, fazendo uma replicação adaptada do estudo de Kiesler e Kiesler (2004). A extensão se dá por meio da manipulação de um fator adicional, a emoção que o objeto produz no participante, e do teste desse fator como possível moderador. O artigo está estruturado da seguinte forma: o primeiro tópico apresenta a teoria de base, a partir de uma descrição do self, de sua extensão e das emoções e as respectivas hipóteses. A segunda parte detalha o método experimental empregado. Na terceira parte, os dados são analisados com o teste das hipóteses. Na quarta seção, os resultados são discutidos à luz da teoria e possíveis explicações são sugeridas. Finalmente, na última seção, são apresentadas as conclusões e as implicações para futuras pesquisas. Desenvolvimento Teórico Extensão do Self Belk (1988) fez uma extensa revisão de literatura para suportar a tese de que consumidores usam posses como mecanismo para estender, expandir e fortalecer seu senso de “eu”. Neste sentido, as pessoas são as somas de suas posses (Belk 1988) e tais posses auxiliam os indivíduos a compreender quem eles realmente são (Dodson, 1996). Assim, o self se torna relevante, pois é difícil entender o comportamento do consumidor sem primeiro entender os significados que ele atribui à posse dos seus bens (Belk, 1999). Por ser a soma de tudo aquilo que uma pessoa pode chamar de seu, o self não se restringe apenas ao corpo ou aos aspectos psíquicos (Belk, 1988). Sua extensão pode ocorrer sobre as roupas, a casa, a família, os amigos, os lugares freqüentados, a cidade onde se vive etc. Tudo o que transmite para o individuo alguma emoção, como alegria, tristeza, euforia, decepção, entre outras, pode ser incorporado ao seu senso de “eu”. Belk (1988, p.139) afirma que “se definimos posses como as coisas que chamamos de nossas, estamos dizendo que somos a soma de nossas posses”. Dessa forma, as posses representam funções na extensão do self que envolvem a criação, o aumento e a preservação do senso de identidade (Belk, 1988). Estender o self não é apenas ter posse de um produto ou atribuir valor a ele (Kiesler e Kiesler, 2004). A extensão do self implica uma conexão com o significado simbólico entre o bem possuído, a identidade do indivíduo e a definição de self (Kiesler e Kiesler, 2004). Portanto, haverá extensão do “eu” do indivíduo para um objeto quando a posse desse objeto fizer parte do seu entendimento sobre si próprio e quando este objeto fizer parte da soma de suas posses. Os significados simbólicos atribuídos a determinados objetos são definidos pela sociedade na qual o consumidor está inserido (Sanders, 1990), ou seja, os valores conferidos a esses objetos são compartilhados socialmente. Sartre apud Belk (1988) salienta que existem três formas de tornar um objeto parte do self: controlando/dominando, criando ou conhecendo. Belk (1988) acredita que o consumidor estende mais seu self através da criação e alteração (ambas ligadas ao fazer) de determinado objeto, ao invés da compra (ligada ao ter) de um objeto acabado. Na criação ou alteração de objetos haveria maior energia psíquica empregada no esforço, no tempo e na atenção despendida, além de o fazer ser o processo inicial de extensão do self. Apesar da abrangência teórica do conceito de extensão do self, (Cohen, 1989), o entendimento do sentido dado pelas pessoas às suas posses tem sido relevante na evolução das 2 pesquisas de comportamento do consumidor. Cohen (1989) afirma que o estudo do self carece de base mais sólida para sua demarcação e definição. Solomon (1990) também sugere que o construto não está bem definido teórica e operacionalmente. Nesse sentido, esta pesquisa justifica-se por buscar explicar um pouco mais o construto self. Assim, buscar-se-á verificar empiricamente algumas das relações hipotéticas que ligam a extensão do self e os objetos possuídos. Hipóteses O estudo de Kiesler e Kiesler (2004) hipotetiza de certa forma o argumentado pelo trabalho de Belk (1988). Em outras palavras, acredita-se que como as pessoas têm alta probabilidade de estender o self quando um objeto é possuído ou personalizado (Kiesler e Kiesler 2004) eles terão a probabilidade de extensão maior do self quando o objeto personalizado pelo consumidor é destinado ao próprio uso, do que quando é destinado para a venda. Isso possivelmente ocorrerá pelo fato que a parte pessoal da pessoa transmitida pela pedra não deveria ser destinada à venda, pois se trata de uma coisa pessoal/particular. Portanto, a intenção de manipular a pedra e, conseqüentemente, ficar com ela para si próprio (como o destino) seria mais lógico do que presentear alguém ou vender a mesma. Deste modo, ficando com objeto para si, essa posse poderia auxiliar os indivíduos a compreender quem eles realmente são (Dodson, 1996). Na verdade, seria a idéia central da Teoria do Self, a qual acredita que a agregação de significados e de sentimentos pessoais aos objetos são mais bem explicados para a pessoa em “si” do que para os outros (Belk 1988). Neste sentido, espera-se que: H1: Os participantes do grupo “para si” experimentarão maior extensão do self que aqueles na situação de “venda” e “presentear”. A segunda hipótese trabalha a questão da personalidade. Chang (2001) salienta que as posses ajudam as pessoas a mostrar seu self para os outros. Deste modo, acredita-se que o consumo é um símbolo e esta a serviço do self (Sirgy, 1982). Dada a definição e a função simbólica as quais o consumo se presta, não é difícil compreender que indivíduos poderão preferir produtos que são congruentes com o seu conceito de self (Chang, 2001), uma vez que os bens possuídos pelo consumidor são profundamente ligados a seus valores e não somente as posses. Esse efeito de congruência já é, de fato, comprovado no campo das marcas. Na verdade, estudos indicaram, por exemplo, uma relação de preferência dos consumidores para com marcas que são congruentes com seu próprio conceito de self (Grubb e Grathwohl, 1967; Sirgy, 1982). Outras pesquisas indicam que os consumidores preferem manter uma relação de longo prazo com a marca que é consistente com sua personalidade (Aaker, 1999; Fournier, 1998). Essa idéia parece vir do efeito da Self-Congruity Theory (ver Kleine, Kleine, e Kernan 1993; Kim, Lee e Ulgado, 2005). Kiesler e Kiesler (2004) encontraram que a personalidade dos indivíduos pode ser projetada a objetos. Esse resultado reforça as pesquisas anteriores (Belk, 1988; Ahuvia, 2005), que consideravam a personalidade do indivíduo como sinônimo de self e defendiam que ambas dizem respeito a como o indivíduo se percebe e como se estende aos objetos possuídos. Essa relação entre extensão do self e personalidade do consumidor também foi abordada por Wicklund e Gollwitzer (1982). Para estes autores, há um entrelaçamento entre os conceitos, pois a simbolização de determinado objeto de posse (seja físico, seja alguma competência, etc.) fará com que haja uma autodefinição da personalidade do indivíduo. Em outras palavras, o consumidor, através da posse do objeto, estende seu self ao mesmo, autodefinindo-se como tal (ex.: competência = profissional de medicina). Espera-se então, que ao descrever o objeto possuído, o consumidor o faça atribuindo-lhe aspectos humanos, tais como cabeça, corpo e membros que são congruentes com o seu. Deste modo, espera-se um efeito de self-congruity 3 não apenas para com marcas (Sirgy, 1982), mas também para com objetos (nesse caso o bloco). Portanto, pressupõe-se que: H2: Participantes que sentem que o objeto possuído os simboliza perceberão a personalidade desse objeto como similar à sua própria personalidade. A terceira hipótese aborda os limites da extensão do self. Cohen (1989) acredita que para ter poder de explicação, a extensão do self necessitaria de contornos melhor definidos. Deveria ainda haver uma diferenciação com altos valores entre extensão do self e posses, ou seja, o self precisaria possuir uma demarcação diferente dos limites estabelecidos para objetos que possuem simplesmente altos valores pessoais. A falta de fronteiras claras poderia ocasionar uma valorização demasiada das potencialidades da extensão do self (Cohen, 1989). Para Ahuvia (2005, p.180), “mais do que simplesmente ser ou não self, objetos, experiências, grupos, crenças e outros se estendem desde intensivamente identificados com o self (core self), para marginalmente identificados com o self (extended self) até não identificados com o self (nonself)”. Ao invés de pertencer ou não, a agregação de bens ao self se daria através de um continuum, no qual diferentes objetos teriam diferentes níveis de atribuição. Em seu estudo, Ahuvia (2005) sugere que objetos amados são conectados com o self tanto por o expressarem, quanto por transformarem-no em outra nova forma desejada. Há, portanto, uma diferença entre expressão e transformação do self (Ahuvia, 2005). Nessa perspectiva, a Amoebic Self Theory apresenta algumas possíveis explicações (Burris e Rempel, 2004). De acordo com essa teoria, a delimitação da definição do self engloba três níveis de auto-representação: corporal, social e espacial (Burris e Rempel, 2004). A posse de objetos pode ser considerada parte da dimensão espacial (Kiesler e Kiesler, 2004). Neste sentido, Burris e Rempel (2004), através de uma série de seis estudos, demonstraram que as pessoas são sensíveis de modos diferentes para as demarcações do self espacial. Portanto, espera-se que as posses que pertencem à extensão do self (e não as de alto valor agregado) são unicamente do indivíduo. Assim, o ato de retirar a posse que é parte da extensão do self para além de um limite espacial previamente estabelecido poderá ser percebido como uma ameaça para a pessoa. Ou seja, quando as posses não forem ligadas ao self, o consumidor terá menor resistência a substituí-las ou compartilhá-las. Espera-se que a produção em massa de um objeto que pertence ao senso de “eu” será uma maneira de transpassar características pessoais e únicas do indivíduo, invadindo a demarcação criada. Quando o ter, o ser e o fazer se tornam desassociados uns dos outros, como no exemplo da produção em massa, o significado dos objetos não condiz com o self estendido do indivíduo que os criou, podendo, inclusive, estimular a sensação de perda da posse do objeto (Belk, 1988). O indivíduo que tem a posse de um bem massificado não sentirá que aquele objeto o representa tanto quanto outro objeto criado por ele. Os consumidores poderiam, então, não gostar de produzir em larga escala o objeto transformado por eles próprios, pois isso afetaria as demarcações de seu self (Burris e Hempel, 2004). Assim, espera-se que: H3: Participantes que sentem o objeto como uma extensão do self serão relutantes à produção em massa desse objeto na forma manipulada. A quarta hipótese diz respeito ao papel das emoções na extensão do self. Diversas pesquisas surgiram nos últimos anos buscando entender como as emoções afetam o comportamento de compra e seus resultados salientam que as emoções são um componente importante nas respostas dos consumidores (Richins, 1997). De acordo com o paradigma cognitivo, emoções são definidas como “ações de mudança imediatamente obtidas de certos eventos externos e pensamento” (Frijda, 1986, p.263). Esses eventos são efetivos em extrair emoções de uma pessoa somente se são relacionados com seus objetivos, desejos e expectativas (Soscia, 2002). 4 O processo emocional envolvido na extensão do self pode ocorrer de duas formas (Kiesler e Kiesler, 2004). Primeiro, a posse como extensão do self pode atuar como uma identidade e uma formadora de status. Segundo, isso pode dificultar a criação de incertezas ou ameaças por parte do indivíduo, especialmente em situações de crise, pois cercam a pessoa com adornos que a tranqüilizam. Dessa forma, as emoções ligadas ao senso de self podem influenciar sua extensão para os objetos (Kiesler e Kiesler, 2004). Conforme essas autoras, as diferentes formas de posse estão associadas a emoções diferentes que podem levar a diferentes níveis de extensão do self. Espera-se, portanto, que: H4: A extensão do self apresentará diferença entre os níveis de emoção, ou seja, a extensão do self nas situações de manipulação (para si, para vender ou para presentear) será influenciada pelos níveis de emoção. Método Design do Experimento. Foi realizado um experimento fatorial 3 x 3, no qual dois fatores foram manipulados: destino e emoção. O primeiro fator se referiu ao mesmo abordado por Kiesler e Kiesler (2004), porém estas autoras trabalharam com dois níveis, destino do objeto “para si” e “para vender”, tendo-se incluído nesta pesquisa mais um nível, o de “presentear”. O segundo fator foi incluído a partir da lacuna teórica sobre o papel das emoções na extensão do self e sobre seu possível papel moderador. O fator emoção foi manipulado em três níveis: negativa, positiva e sem emoção. Procedimentos e Estímulos. Na situação de emoção negativa, o participante recebia o objeto para ser transformado, o bloco de notas, em papel não-reciclado e assistia a um vídeo que se intitulava “seca na Amazônia”. Nesse vídeo era apresentada a situação atual de seca naquela região decorrente do corte indiscriminado de árvores e do uso irresponsável dos recursos naturais. Logo após o vídeo, era apresentada uma figura mostrando duas fotos de desmatamento e uma mensagem alertando para a importância do uso de papel reciclado. Dando seqüência, os pesquisadores entregavam aos participantes o bloco de notas e uma folha com as instruções da pesquisa, na qual constava (a) o objetivo da pesquisa de forma disfarçada, apresentado como um trabalho de design de um produto; (b) a solicitação para fazer as transformações no produto, (c) a intenção das transformações (reforçando a manipulação do fator destino), (d) o reforço de que o bloco recebido era feito de papel nãoreciclado e (f) o aviso de que após uma semana os pesquisadores retornariam para avaliar como foi o processo de transformação do bloco. Na situação de emoção positiva, o participante recebia um bloco de notas produzido em papel reciclado e assistia a um vídeo que se intitulava “Papel”, que fazia menção à possibilidade de as empresas recorrerem ao uso de papel reciclado. Diferentemente do vídeo usado para emoção negativa, que tinha uma abordagem pessimista, o vídeo sobre papel tinha um caráter otimista quanto ao uso de papel reciclado. Após a transmissão, era apresentada ao respondente uma figura afirmando que o nível de consciência ecológica vem crescendo e que cada pessoa pode ajudar a preservar o meio ambiente. Na situação de nenhuma emoção, o participante não recebia nenhum estímulo (vídeo ou figura), somente recebia o bloco (reciclado ou não) e as instruções para fazer as transformações do mesmo, segundo um dos três destinos. Dessa forma, nove grupos foram comparados, conforme ilustrado na Tabela 1. Cada participante recebeu apenas uma das combinações de estímulos (between-subjects) e a mensuração das variáveis dependentes ocorreu apenas depois de os indivíduos terem sido expostos ao estímulo. Objeto de Manipulação. O produto escolhido como objeto para a extensão do self foi um bloco de notas, principalmente devido ao seu amplo uso, aceitação e facilidade de 5 manipulação (ver anexo). O experimento foi conduzido junto a uma amostra de estudantes tanto do ensino fundamental e médio, como estudantes de cursos de graduação e pósgraduação. O experimento foi aplicado em salas variando de 20 a 40 alunos, sendo que os alunos de uma mesma sala participavam apenas de um dos grupos e cada uma das salas foi escolhida aleatoriamente para um tipo de tratamento experimental. Como forma de aumentar a motivação para a participação, os entrevistados concorreram ao sorteio de um vale-compras de R$ 100,00 em uma grande livraria. Execução do Experimento. Os participantes recebiam o bloco no primeiro encontro e eram submetidos aos estímulos de seu respectivo grupo, ou seja, ao vídeo, à figura e às instruções. Eles ficavam com o bloco de notas pelo período de uma semana, fazendo as transformações. Os pesquisadores reforçavam na explicação das instruções que cada pessoa tinha total liberdade para fazer o que bem quisesse com o seu bloco e que o mesmo não seria recolhido ao final da pesquisa. Após o período de sete dias, os pesquisadores voltavam à sala para o segundo encontro, quando era aplicado um questionário para mensurar as variáveis dependentes e de controle. Variáveis Dependentes. A variável dependente do experimento era a extensão do self, operacionalizada por meio de duas questões, baseadas em Kiesler e Kiesler (2004). A primeira era “o bloco simboliza a minha pessoa” e a segunda “o meu bloco é especial para mim”. Esses itens foram usados para o teste da primeira hipótese. Em conjunto com essas questões foram ainda adicionadas as outras seguintes: em que medida os blocos simboliza (a) as crenças do respondente, (b) uma pessoa amada por ele e (c) o pensamento dos outros, variando de 1 (não-simboliza) a 7 (simboliza), também aplicadas por Kiesler e Kiesler (2004). No teste da segunda hipótese, que relacionava a personalidade do participante e a personalidade que ele atribuía ao seu bloco após as transformações, foram utilizadas as dimensões da escala de personalidade de marca (Aaker, 1997), validada por Muniz e Marchetti (2005). Dessa forma, essa escala de personalidade de marca foi aplicada duas vezes, uma na qual o respondente avaliava a personalidade do seu bloco de notas e outra na qual ele indicava a sua personalidade. A escala adotada era composta por quatorze adjetivos, com o enunciado “após as mudanças que fiz no bloco de notas, posso dizer que ele é...” e com uma escala do tipo Likert variando de 1(discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente). Os adjetivos usados foram: bem humorado, extrovertido, ousado, moderno, responsável, seguro, chique, de alta-classe, delicado, sensível, feminino, masculino, aventureiro e firme. As dimensões subjacentes a essa escala incluem: diversão, audácia, credibilidade, sofisticação, sensibilidade e robustez. Ao aplicar a mesma escala para avaliar a personalidade do indivíduo foi usado como enunciado “sobre a minha personalidade, posso dizer que sou...”. Ressalta-se que essas escalas foram posicionadas em páginas diferentes do questionário e os itens apresentados em ordem diferente em cada uma delas, a fim de se obter maior atenção dos respondentes. Para o exame da terceira hipótese, um item foi mensurado no questionário com a afirmação “seria uma boa idéia se uma empresa produzisse em massa meu bloco com esse formato final” e com uma escala tipo Likert variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente). Por fim, para o teste da quarta hipótese foram usados os mesmos itens da primeira hipótese, juntamente com as variáveis de controle descritas a seguir e os fatores destino e emoção na análise de variância. Variáveis de Controle. As questões de controle usadas foram: se o participante gostou do bloco, se gostou de transformar o bloco, se ele era uma pessoa que gostava de criar/transformar coisas, se gostaria de vender o seu bloco e a qual preço. Esses itens foram mensurados por meio de escala Likert variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo 6 totalmente). Outras três questões de controle, adaptadas de Kiesler e Kiesler (2004), mediam a possibilidade de o objeto decorado ter adquirido uma fisionomia humana (antropomorfismo), de acordo com as pesquisas que mostram que as pessoas atribuem qualidades humanas para os seus bens preferidos. Os itens adotados foram três (aparentemente, o meu bloco tem um corpo; aparentemente, o meu bloco tem um rosto; aparentemente, o meu bloco tem personalidade), variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente). Variáveis de Checagem. Foram usadas questões para checar o entendimento dos participantes sobre os estímulos, conforme indicações de Perdue e Summers (1986). Cinco questões foram usadas para checar os estímulos. A primeira indagava sobre quais tinham sido as instruções recebidas no início da pesquisa (ficar com o bloco, vender o bloco, presentear alguém com o bloco, não sei/não lembro). A segunda investigava qual o tipo de papel do bloco recebido (normal ou reciclado). A terceira questão investigava se o participante havia assistido a algum vídeo no início da pesquisa (não/sim). A quarta checagem perguntava aos que afirmavam ter assistido algum vídeo, qual a mensagem principal (papel reciclado, seca na Amazônia, não sei/não lembro), e a quinta questão avaliava qual a percepção sobre o vídeo, numa escala de 1 (muito pessimista) a 7 (muito otimista). Duas questões finais abertas investigaram quanto tempo o indivíduo gastou transformando o bloco e a sua idade. Análise e Resultados Configuração da Amostra. Foram contatados aproximadamente 500 participantes, dos quais, 197 participaram da pesquisa, pois completaram a tarefa (Tabela 1). A dificuldade principal para a obtenção de um número maior de participantes em cada grupo residia no fato de alguns alunos estarem presentes na primeira fase da pesquisa, mas não na segunda, ou vice-versa, e, portanto não terem feito nada com o bloco de notas. Tais casos não puderam ser incluídos na pesquisa. Dos respondentes finais, 56% são do sexo masculino. A idade variou de 13 a 45 anos, com média de 23 anos. Porém, somente 19 participantes tiveram idade entre 13 e 18 anos. O tempo médio de transformação do bloco foi de 58 minutos. Tabela 1: Divisão dos Grupos do Experimento Destino Para si Para vender Para presentear Total Negativa 21 (G1) 20 (G3) 16 (G5) 57 Emoção Positiva 35 (G2) 19 (G4) 27 (G6) 81 Nenhuma 28 (G7) 13 (G8) 18 (G9) 59 Total 84 52 61 197 Checagem dos estímulos. Inicialmente, um teste de qui-quadrado verificou a relação entre o destino apresentado na instrução e o destino percebido pelos respondentes, tendo-se apresentado significativa e coerente (χ² = 245,929; p < 0,000). Um segundo teste verificou a relação entre a emoção apresentada versus qual o tipo de bloco recebido. Conseqüentemente, das 42 pessoas que receberam a emoção negativa, 33 marcaram ter recebido o bloco do tipo não-reciclado e das 80 pessoas que receberam a emoção positiva, 76 assinalaram ter recebido o bloco do tipo reciclado (χ² = 79,267; p < 0,000). Um terceiro teste verificou a relação entre emoção apresentada versus qual o tipo de filme o respondente assistiu. Como resultado, das 42 pessoas que receberam a emoção negativa, 35 delas afirmaram ter assistido ao vídeo com abordagem negativa, e das 80 pessoas que receberam a emoção positiva, 74 afirmaram ter assistido ao vídeo com características positivas (χ² = 37,945; p < 0,000). Verificou-se também a relação entre emoção apresentada versus a mensagem mostrada como otimista ou pessimista. Assim, as pessoas que assistiram ao vídeo positivo perceberam o mesmo como mais otimista (M = 4,95), do que aqueles que assistiram ao vídeo negativo (M = 2,76), com 7 diferença significativa (F (1,114) = 75,785, p < 0,000), conforme o esperado. Como procedimento de checagem final, foi feita uma tabulação cruzada entre emoção e o vídeo apresentado. Das 41 que receberam emoção negativa, 30 marcaram a “seca na Amazônia” e dos 76 que receberam emoção positiva, 73 assinalaram ter assistido o vídeo sobre papel reciclado (χ² = 84,44; p < 0,000). Após as análises iniciais de checagem e verificando-se que todas estavam conforme o previsto partiu-se para o teste das hipóteses. Teste das Hipóteses. A primeira hipótese pressupõe que os participantes do grupo “para si” experimentarão maior extensão do self que aqueles na situação de “venda” e “presentear”. Pelos resultados encontrados na questão “o bloco simboliza a minha pessoa”, não houve diferença significativa (F (2,186) = 1,385; p < 0,253) entre as médias dos grupos “para si” (M = 3,66), “para vender” (M = 4,02) e “para presentear” (M = 4,25). Já na questão “o meu bloco é especial para mim”, houve diferença significativa (F (2,187) = 3,563; p < 0,03) entre as médias dos grupos “para si” (M = 3,71), “para vender” (M = 4,12) e “para presentear” (M = 4,68). Deste modo, os resultados apresentaram um valor não significativo para a questão q6, porém, apresentaram um valor significativo de ordem inversa ao hipotetizado para a questão q10. Portanto, o resultado da ANOVA indicou que a primeira hipótese não foi suportada. O mesmo resultado foi encontrado ao se fazer uma análise de variância multivariada (MANOVA), incluindo as duas questões anteriores como dependentes e com o fator “destino” como independente. Fez-se uso da MANOVA porque as variáveis dependentes eram correlacionadas (r = 0,63, p < 0,01). O resultado mostrou que o fator destino era significativo na variável “o bloco é especial para mim” (F (2,192) = 3,247, p < 0.041), mas não na outra, “o bloco simboliza a minha pessoa” (F (2,192) = 1,111, p < 0.331). Adicionalmente, os participantes do grupo “para presentear” apresentaram uma média maior (M = 5,02) na questão de controle “eu gostei de decorar o meu bloco” se comparados ao grupo “para si” (M = 4,13) e o grupo “para vender” (M = 4,82). A diferença significativa ocorreu apenas entre os grupos “para si” e “presentear” (p = 0,031). A segunda hipótese propõe que aqueles que sentem que o bloco os simboliza perceberão a personalidade do bloco como similar à sua. Para se testar essa hipótese, inicialmente foi calculada a diferença entre cada um dos itens das duas escalas e comparada essa diferença com a questão “o bloco simboliza a minha pessoa”, dividida em dois grupos a partir da mediana (não-simboliza/simboliza). Esses resultados são apresentados no Gráfico 1. Como pode ser visto somente nos itens “delicado” e “feminino” a direção da diferença foi contrária ao esperado. Em todos os outros itens, o grupo que afirmou que o bloco o simbolizava apresentou uma diferença menor entre os escores de personalidade do bloco e de si próprio. Gráfico 1: Diferença entre cada um dos itens das duas escalas de Personalidade 3,00 não simboliza 2,50 simboliza escore 2,00 1,50 1,00 0,50 dc hi qe da lta cl a dd el ica d de xt ro ve df em in in df irm e dm as cu li dm od er no do us ad o dr es po ns ds eg ur o ds en sí ve da ve nt db em hu 0,00 8 Uma outra forma utilizada para testar a segunda hipótese foi fazer o escore médio para cada respondente, tanto na escala de personalidade do bloco, quanto na escala de personalidade do indivíduo. A partir desse escore médio foi calculada uma nova variável, formada pela diferença entre os dois escores (em módulo). Espera-se que haja uma correlação negativa entre a questão “o bloco simboliza a minha pessoa” e a variável da diferença entre os dois escores. Em outras palavras, isso significa que os indivíduos que pensam que o bloco os simboliza apresentarão menor diferença entre os dois escores, pois uma menor diferença significa a proximidade entre as duas questões (personalidade do bloco e personalidade do indivíduo). O valor obtido foi de r = - 0,311, p < 0,000, dando suporte à segunda hipótese. Na terceira hipótese acreditava-se que os indivíduos que sentem o bloco como uma extensão do seu self serão relutantes em autorizar uma produção em massa do bloco modificado. Assim, espera-se uma relação inversa nos testes entre as questões “o bloco simboliza a minha pessoa” e “seria uma boa idéia produzir em massa esse bloco”. Porém, nesse caso em específico uma correlação simples com todos os respondentes não testa de forma completa essa relação, já que não controla o efeito dos fatores experimentais. Dessa forma, foi realizada uma ANOVA, considerando os fatores “destino”, “emoção” e a “questão de self” (simboliza/não-simboliza) como variável dicotomizada e como dependente a variável “seria uma boa idéia produzir em massa esse bloco”. Os resultados mostraram um efeito significativo da questão de self (F(1,156) = 28,063, p < 0,000). O grupo que afirmou que o bloco os simbolizava concordou mais em produzir o bloco em massa (M = 4,70) em relação ao grupo que considerou que o bloco não os simbolizava (M = 3,17). Resultado similar ocorreu na questão “o meu bloco é especial para mim”. O grupo afirmando que o bloco era especial concordou mais em produzir em massa (M = 5,00) em relação ao grupo que considerou o bloco como não-especial (M = 2,88), com F(1,161) = 50,788 (p < 0,000). Esses resultados foram contrários ao que se previu na hipótese. A terceira hipótese foi testada adicionalmente por meio da análise de regressão. Neste caso considerou-se como variável dependente a questão “seria uma boa idéia produzir em massa esse bloco” e como independente as questões de self (no formato original métricas), além das dummies controlando os fatores destino e emoção (duas dummies para cada). O resultado mostrou um efeito não significativo da questão “o bloco simboliza a minha pessoa” (β = 0,09, p = 0,247), mas significativo da questão “o bloco é especial para mim” (β = 0,41, p < 0,000), com esse coeficiente positivo indicando que quanto mais os participantes consideraram o bloco especial para eles, maior é o interesse de produzir o bloco em massa. Na quarta hipótese foi testado o possível efeito moderador do fator emoção na relação entre o fator destino e a extensão do self, ou em outras palavras, se a extensão do self em um nível de destino dependia do nível de emoção. Para tanto, foi realizado um teste MANOVA, considerando como variáveis dependentes as questões de self (“o bloco simboliza a minha pessoa” e “o meu bloco é especial para mim”), como fatores o destino e a emoção e como covariáveis as questões relativas a quanto o indivíduo gosta de manipular/criar coisas, se o bloco simboliza as crenças dele, se simboliza uma pessoa amada, se o bloco é especial para outra pessoa e o tempo gasto na manipulação do bloco (essas questões de controle são as mesmas utilizadas no estudo de Kiesler e Kiesler, 2004). Os resultados mostraram um efeito significativo ao nível de 10% do fator emoção na questão “o bloco simboliza a minha pessoa” (p = 0,083) e do fator destino na questão “o bloco é especial para mim” (p = 0,084). No entanto, a interação entre os dois fatores não foi significativa em nenhuma das duas variáveis dependentes. Apesar disso, na questão “o meu bloco simboliza a minha pessoa” houve um contraste significativo no fator emoção, quando se compara os níveis “nenhuma emoção” e “emoção negativa” (p = 0,029). No Gráfico 2, a figura da esquerda ilustra essa relação. Percebe-se que o grupo que recebeu instrução de ficar com o bloco “para si” teve tendência a afirmar que o bloco o simbolizava mais quando a emoção era neutra; já o grupo “para vender” 9 afirmou que o bloco o simbolizava mais quando a emoção era positiva; enquanto no grupo “para presentear” novamente a situação de nenhuma emoção se destacou. Embora na questão “o bloco é especial para mim” (Gráfico 2, figura da direita) não tenha havido contraste significativo nos fatores, percebe-se que as médias são semelhantes quando o destino é “para si” e “para presentear” e menores quando o destino é “para vender”. Isso indica que no grupo ‘para vender’ há uma tendência de menor extensão do self em relação aos outros dois, o que reforça o resultado encontrado na primeira hipótese. Gráfico 2: Questões de self em função dos fatores destino e emoção O bloco simboliza a minha pessoa O bloco é especial para mim 4,8 5,0 4,6 4,5 4,4 Médias Média 4,2 4,0 EMOÇÃO 3,8 4,0 3,5 EMOÇÃO Negativa 3,6 Negativa 3,0 Positiva 3,4 3,2 para si Nenhuma para vender DESTINO para presentear Positiva Nenhuma 2,5 para si para vender para presentear DESTINO Discussão das Hipóteses A primeira hipótese propunha que os participantes no grupo “para si” experimentariam uma maior extensão do self que aqueles na situação de “venda” e “presentear”. Os resultados mostraram uma maior extensão no self no grupo com destino “presentear” ao invés do destino “para si”. Uma possível explicação para esse resultado pode ser o fato de a pessoa atribuir/criar previamente um carinho especial para o possível receptor do bloco de modo que, ao transformar o mesmo, o entrevistado pode se doar mais para o bem em manipulação tentando apresentar sua personalidade. De acordo com Wolfinbarger (1990), os presentes são mais valiosos para os indivíduos pelo seu valor simbólico (carinho, afeto, amor) do que pelo seu valor de benefício da troca material. Existe nesse contexto uma interação simbólica entre quem doa e quem recebe o presente (Farias et al. 2001). Assim, o fato de manipular o bloco inserindo aspectos simbólicos para transpassá-los ao receptor apresenta-se como uma possível explicação. Wolfinbarger e Gilly (1996, p. 458) suportam essa tese dizendo que “os objetos que se tornam presentes transcendem suas funções puramente econômicas para se tornarem representativos e extensões do próprio doador”. Neste sentido, grande parte da explicação sobre a interação simbólica tem sido derivada da orientação da Psicologia Social, que foca o “presentear” como uma oportunidade do doador expressar seu senso de self para o receptor (Schwartz, 1967). O argumento central dessa interação simbólica é que as pessoas buscam se comunicar através de símbolos (Wolfinbarger, 1990). Por fim, uma outra possível explicação para o destino “presentear” apresentar uma extensão do self maior, está no fato de essa ser uma maneira na qual o indivíduo comunica e expõe para outras pessoas sua personalidade. Outra explicação alternativa pode se dar pelo fato de que a incorporação de um objeto ao self estendido, geralmente ocorre de maneira temporal, quando a pessoa deseja reconstruir o self (Schouten, 1991). Isso significa que o objeto necessita passar por um período de tempo até ser reconhecido não mais como alto valor, mas sim como extensão do self. Porém, não se sabe 10 ainda quanto tempo seria necessário. Neste sentido, uma explicação para a condição experimental “presentear” se sobressair em relação à “para si” poderia ter ocorrido em função de o respondente não ter ficado tempo suficiente com o objeto. Desde modo, não teria havido extensão do self, mas sim foi uma extensão de símbolos, de afeto, de carinho, etc. Analisando essas possíveis explicações para a importância do destino presentear no experimento, o respondente pode ter manipulado o objeto para demonstrar um sentimento para a pessoa que iria recebê-lo, colocando no objeto traços de sua personalidade. A segunda hipótese previa que aqueles que sentem que o bloco os simboliza perceberiam a personalidade do bloco como similar à sua própria. Na verdade, a hipótese previa que a personalidade atribuída ao bloco, dada à transformação e o tempo com o mesmo, poderia gerar uma maior similaridade com a personalidade do próprio respondente. De fato isso ocorreu e a hipótese foi suportada. O fato de existir uma ligação visível entre a imagem que o usuário tem de si mesmo e a imagem de produtos (Belk, 1981) e/ou marcas que ele consome (Fournier, 1998; Muniz e Marchetti, 2005) reforça o resultado da pesquisa. No caso de marcas, a avaliação e a intenção de comprar um produto têm se mostrado determinante na interação entre a percepção do self da pessoa e a personalidade de marca (Grubb e Grathwohl, 1967; Sirgy, 1982). Neste sentido, não somente a relação entre pessoa-marca existe, mas também a relação personalidade da pessoa versus personalidade do bloco se apresentou verdadeira. Isso se explica pela teoria do self, a qual pressupõe que as posses de uma pessoa contribuem sobremaneira para a formação e reflexão da identidade (Belk, 1988). Dessa forma, o resultado foi convergente com aquele encontrado por Kiesler e Kiesler (2004). A terceira hipótese pressupunha que os indivíduos que sentem o bloco como uma extensão do seu self teriam maior resistência em autorizar uma produção em massa do bloco. Essa hipótese não foi suportada. Os resultados indicam que os indivíduos que sentem o bloco como uma extensão do seu self são mais complacentes com a produção em massa do bloco, permitindo que sua personalidade e a manipulação (desenhos, colagens, etc.) possam ser expostos através da produção em grande escala. Pode-se fazer um paralelo entre os resultados dos testes da H3 e da H1. Tais resultados são convergentes, uma vez que a extensão do self torna-se mais forte (ou aparentemente é mais saliente) quando busca se presentear alguém. Estudos salientam (Farias et al. 2001) que os doadores freqüentemente presenteiam objetos que se encaixem com seus gostos e suas personalidades. Deste modo, como o objetivo é a produção em massa, as pessoas poderiam querer demonstrar seus gostos e dons intelectuais e/ou artísticos para os outros. A produção em grande escala poderia ser uma alternativa para tal finalidade. Sob outro ponto de vista, Belk e Watson (1998), num estudo sobre extensão do self em escritórios de professores, encontraram que existia uma considerável variação na extensão e no tipo de posse demonstrada pelos mesmos. Enquanto alguns escritórios tinham poucos indicativos da vida externa dos professores, outros eram como quase museus de interesses, atividades da família, etc. Deste modo, os indivíduos que sentem o bloco como uma extensão do seu self poderão ter aspiração para uma produção em massa do bloco por poder acreditar que essa produção vai demonstrar aos outros as aspirações e/ou criatividades dos participantes - como no caso do estudo de Belk e Watson (1998) e Tian e Belk, (2005). Permitir que uma parte de sua personalidade seja mostrada e até mesmo produzida pode ser uma forma de expor-se e de transpor a delimitação espacial da definição do self (Burris e Rempel, 2004). Os resultados da pesquisa indicam que ultrapassar os limites espaciais definidos nas posses não significou uma ameaça, mas pelo contrário, uma forma de compartilhar o próprio bem e a personalidade do indivíduo. A quarta hipótese propunha que a extensão do self apresentaria diferença entre os níveis de emoção. Os resultados mostraram que a extensão do self entre os grupos do fator “destino” não era influenciada de forma significativa pelos níveis do fator “emoção”. Além disso, o efeito do fator “destino” foi maior que o do fator “emoção” na extensão do self. 11 Embora Tian e Belk (2005) mostrem que blocos de notas, agendas e utensílios de escritório são constantemente citados como objetos passíveis de extensão do self, o uso do bloco de notas, um produto mais utilitário, como objeto de manipulação pode ter limitado o papel moderador das emoções. É provável que as emoções que objetos podem transmitir aos indivíduos sejam mais facilmente incitadas a partir de bens hedônicos e com alto envolvimento, como jóias, por exemplo. Uma outra possibilidade é que apesar de adequadamente impactantes como se propunham ser os estímulos (vídeos e blocos reciclados ou não), pode não ter havido uma preocupação ambiental suficiente em relação à reciclagem pelos indivíduos, a ponto de gerar-lhes emoções significativas para alterar a extensão do self. Essa situação pode estar relacionada à facilidade com que os consumidores podem comprar blocos de papel, que pode ter contribuído para que as emoções produzidas não alterassem significativamente a extensão do self. O fato de a manipulação do objeto utilizado na pesquisa depender de habilidades manuais e artesanais também pode ter contribuído para que a moderação das emoções não se confirmasse. Segundo Hoolbrok et al. (1984), a performance esperada pode afetar as respostas emocionais dos indivíduos para determinadas tarefas. Mesmo que a questão de controle “eu sou uma pessoa que gosta de criar/transformar coisas” tenha apresentado médias similares entre os grupos experimentais, indivíduos com pouca habilidade ou familiaridade com decoração e personalização de objetos podem ter apresentado uma barreira para as respostas emocionais. Resultados Adicionais Dimensionalidade da Escala de Personalidade. Dado que foi utilizada a escala de personalidade de marca de Aaker (1997) para o teste da segunda hipótese, testou-se ainda a dimensionalidade da mesma. Foram escolhidos 12 itens da versão em português e 2 itens adicionais da versão em inglês, aventureiro e masculino. Nota-se que a versão em português possuía 38 itens. Assim, espera-se que esse trabalho apresente um número menor de fatores do que os cinco originalmente propostos. Os resultados indicaram quatro dimensões em ambas as versões – a atribuída ao bloco e a atribuída ao indivíduo (ver Tabela 2). Tabela 2: Dimensionalidade Escala de Personalidade de Marca para Bloco e Indivíduo Personalidade Atribuída ao Bloco Personalidade do Indivíduo 1 2 3 4 1 2 3 4 Extrovertido ,210 -,035 ,153 ,113 ,052 ,085 ,849 ,841 Bem humorado ,299 ,074 ,038 ,072 ,135 ,000 ,809 ,784 Ousado -,104 ,181 ,113 -,217 ,348 ,397 ,769 ,580 Moderno -,042 ,241 ,243 -,092 ,408 ,299 ,718 ,495 Aventureiro -,425 ,342 ,157 -,336 ,195 ,310 ,533 ,606 Feminino ,095 -,093 ,010 ,094 -,097 ,002 ,842 ,926 Delicado ,154 ,222 ,326 -,070 ,129 ,235 ,770 ,824 Sensível ,194 ,268 ,183 -,083 ,309 ,079 ,717 ,723 Masculino ,233 ,314 ,073 ,004 ,240 ,130 -,661 -,851 Responsável -,002 ,122 ,092 ,222 ,005 -,032 ,855 ,842 Seguro ,163 ,065 ,250 -,115 ,193 ,075 ,779 ,820 Firme ,356 -,234 ,074 -,035 ,302 ,100 ,700 ,597 Alta classe ,174 ,088 ,205 ,033 ,053 -,026 ,910 ,913 Chique ,219 ,142 ,139 ,196 ,150 ,041 ,898 ,861 Variância extraída 33,50% 19,47% 11,39% 7,87% 27,47% 21,99% 11,67% 8,89% Alpha de Cronbach 0,82 0,81a 0,76 0,89 0,82 b 0,77 0,72 0,75 Notas - Bloco: Componentes Principais e Varimax; Variância explicada: 72,24%; KMO = 0,759; (a) após purificação (exclusão do item ‘masculino’). Indivíduo: Componentes Principais e Varimax; Variância explicada: 70,02%; KMO = 0,723; (b) após purificação (exclusão do item ‘masculino’). O padrão dos resultados foi similar nas duas escalas quando se usou a extração por Eixos Principais e rotação Oblimin. 12 Em ambas as escalas a variância explicada acumulada ficou acima de 70%, e o teste KMO acima de 0,70. Todos os valores de alpha ficaram acima de 0,70 (Hair et al. 1998), indicando uma boa confiabilidade do instrumento. De modo geral, a escala mostrou boa performance e uma dimensionalidade convergente com a proposta por Muniz e Marchetti (2005). Considerações Finais A teoria do self ainda apresenta-se como complicada para testes empíricos (Cohen 1989), já que as definições do conceito de self carecem de base teórica e instrumentos operacionais (Solomon, 1990). Diante dessas dificuldades, o presente estudo testou a teoria do self de modo experimental e apresenta resultados que podem auxiliar a avançar ainda mais a Teoria do Self no contexto do comportamento do consumidor. Primeiramente, os resultados indicaram que as pessoas estenderam mais seu self na condição “presentear” em relação a “para si”. Apesar de divergir da hipótese proposta no trabalho, tal resultado é congruente com a questão do controle via extensão do self feita ao presenteado pelo remetente (Belk, 1988), ou seja, ao presentear alguém, a pessoa se estende ao objeto de tal forma que assume o controle da posse desse objeto, subjugando o desejo do presenteado. Neste sentido, o consumo simbólico apareceu como potencial explicador dos resultados. Portanto, isso salienta ainda mais que os objetos não têm finalidade puramente econômica, mas sim de expressar sentimentos (Belk e Coon, 1993) e de integração social (Sherry, 1983). Uma outra conclusão do estudo é que os participantes que sentem que o bloco os simboliza perceberam a personalidade do bloco como similar a sua. Esse resultado é coerente com a Teoria de Auto-Congruência, dando a entender que no comportamento de compra o indivíduo tem por objetivo obter bens que representem a sua identidade. Assim, há uma relação bidirecional entre posse e extensão do self, onde: ao mesmo em tempo que o bem possuído representa a personalidade do indivíduo, o indivíduo estende seu senso de “eu” para o objeto. Essa conclusão reforça a idéia de que propagandas devem anunciar características pessoais dos compradores, tais como identidade e personalidade (Aaker, 1997). Os resultados do experimento indicaram ainda, que os indivíduos que sentiram o bloco como uma extensão do seu self não tiveram dificuldades em autorizar uma produção em massa do bloco. Os participantes desse estudo mostram que são favoráveis à comercialização de produtos que tenham parte de sua personalidade. A partir desses achados, evidencia-se que a busca pela compreensão e o entendimento das características pessoais dos consumidores é importante para o desenvolvimento de ações de marketing. O fato de aceitar produzir em massa um objeto personalizado e com características pessoais fortemente marcadas abre novas oportunidades para os profissionais de marketing, que poderão oferecer bens e serviços condizentes com o senso de “eu” e com a personalidade de cada consumidor. Esse resultado foi diferente do previsto pela hipótese 3. Portanto, pesquisas que abranjam outras formas de extensão do self e que coloquem em evidência a questão do compartilhamento e a exibição do self deverão ser feitas para fortalecer os resultados. Por fim, os resultados não mostraram um efeito moderador da emoção na relação entre destino e extensão do self. Cabe ressaltar que o estudo das relações entre emoções, destino de objetos e extensão do self pode ser considerado uma abordagem inovadora em comportamento do consumidor. Por esse motivo, existem poucos trabalhos que analisam tais relações de forma experimental e, assim, ainda é incipiente o arcabouço teórico sobre esse tema. Nesse sentido, embora este experimento não tenha encontrado uma relação significativa entre emoções, destino e extensão do self, seria, no mínimo, prematuro afirmar que tal relação 13 não existe. Dessa forma, novos estudos deverão rever a influência do fator emoção na extensão do self, bem como outros possíveis que sejam relevantes para o contexto. Referências AAKER, Jennifer. Dimensions of brand personality. Journal of Marketing Research, v.34, n.3, p.347-356, 1997. AAKER, Jennifer. The Malleable Self: The Role of Self-Expression in Persuasion, Journal of Marketing Research, v. 36, n.1, p.45-57, Feb., 1999. AHUVIA, Aaron C. 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