UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE LETRAS COORDENAÇÃO DE PÓS GRADUAÇÃO EM LETRAS DOUTORADO EM LETRAS VÍDEOS NO ENSINO E APRENDIZADO DE VOCABULÁRIO EM LÍNGUA INGLESA: uma abordagem léxico-visual LEILA MARIA TAVEIRA MONTEIRO . Niterói, R.J. 2010 LEILA MARIA TAVEIRA MONTEIRO VÍDEOS NO ENSINO E APRENDIZADO DE VOCABULÁRIO EM LÍNGUA INGLESA: uma abordagem léxico-visual UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE LETRAS COORDENAÇÃO DE PÓS GRADUAÇÃO EM LETRAS DOUTORADO EM LETRAS Tese apresentada à UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, como requisito parcial à obtenção do Título de Doutor em Letras (Área: Estudos Linguísticos) ORIENTADOR: Professor Doutor NELSON MITRANO NETO Niterói, 2010 1 LEILA MARIA TAVEIRA MONTEIRO VÍDEOS NO ENSINO E APRENDIZADO DE VOCABULÁRIO EM LÍNGUA INGLESA: uma abordagem léxico-visual Tese apresentada à UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, como requisito parcial à obtenção do Título de Doutor em Letras (Área: Estudos Linguísticos) Aprovada em ________________________________________________________________ BANCA EXAMINADORA __________________________________________________________________________ Prof. Dr. Nelson Mitrano Neto Universidade Federal Fluminense __________________________________________________________________________ Profa. Dra. Kátia Modesto Valério Universidade Federal Fluminense __________________________________________________________________________ Profa. Dra. Solange Coelho Vereza Universidade Federal Fluminense __________________________________________________________________________ Profa. Dra. Marília dos Santos Lima Universidade Federal do Rio Grande do Sul __________________________________________________________________________ Profa. Dra. Barbara Jane Wilcox Hemais Pontifícia Universidade Católica RJ Niterói, 2010 2 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha avó, Maria de Lourdes Villas Taveira, professora e diretora incansável, que com seu exemplo de dedicação, integridade e amor ao ofício do Magistério sempre esteve presente, apesar da ausência, ao longo de todo o meu caminho profissional. “... enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei e me indago. Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que não conheço, e para comunicar a novidade.” (Freire, 1998) 3 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Dr. Nelson Mitrano Neto, por sua orientação segura, sua paciência e interesse, que me guiaram e auxiliaram na produção deste estudo e em meu crescimento acadêmico ao longo dos anos de mestrado e doutorado. A professores inesquecíveis que passaram por minha vida acadêmica e que tiveram participação decisiva em meu Saber e em meu Amor ao estudo. Entre esses, menciono com especial apreço os Professores Dr. David Shepherd, Dra. Maria Elisa Knust e Dra. Solange Vereza. À minha família, de forma especial às minhas filhas, que sempre acreditaram em mim, por seu amor, apoio e estímulo. Aos colegas e amigos de profissão com quem tenho compartilhado essa longa caminhada profissional, em quem encontrei incentivo, parceria e confiança. Em especial, agradeço à Adriana Mesquita Rigueira, por seu apoio e estímulo constantes e à Marilan Accurso por seu inestimável auxílio na revisão deste texto, realizada com cuidado e carinho excepcionais. Aos incontáveis alunos que passaram por minhas salas de aula ao longo dos anos e que foram aqueles por quem e com quem tenho buscando conhecimento e aperfeiçoamento. Eles são a real razão de ser do meu empenho e o incentivo constante e renovado de todos os dias. 4 SUMÁRIO CAPÍTULO1- INTRODUÇÃO............................................................................................... 13 1.1- O TEMA DA PESQUISA E SUA RELEVÂNCIA......................................................... 15 1.2- OS OBJETIVOS E AS QUESTÕES DA PESQUISA .................................................... 21 1.3- A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................... 22 CAPÍTULO 2- ENSINO E APRENDIZADO DE VOCABULÁRIO .................................... 25 2.1- ABORDAGEM HISTÓRICA: UM DEBATE E SUA TRAJETÓRIA........................... 2.2- CRENÇAS E DEBATES NO CAMPO LEXICAL......................................................... 2.3- COMPETÊNCIA COLOCACIONAL: EM BUSCA DE UM CONSENSO .................. 2.4- CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 26 36 47 60 CAPÍTULO 3- MULTIMODALIDADE: UM CONCEITO E SEUS DESDOBRAMENTOS ................................................................................................................................................. 62 3.1- MULTIMODALIDADE E LETRAMENTO .................................................................. 65 3.2- A TEORIA COGNITIVA DE APRENDIZADO DE MULTIMÍDIA ............................ 70 3.2.1- O Princípio de Multimídia................................................................................. 75 3.2.2- O Princípio da Contiguidade ............................................................................. 76 3.2.2.1- O Princípio da Contiguidade Espacial................................................ 76 3.2.2.2- O Princípio da Contiguidade Temporal.............................................. 76 3.2.3- O Princípio da Coerência ................................................................................. 77 3.2.4- O Princípio da Modalidade .............................................................................. 77 3.2.5- O Princípio da Redundância ............................................................................. 77 3.2.6- O Princípio das Diferenças Individuais ............................................................ 78 3.2.7- Considerações finais.......................................................................................... 79 3.3- CINEMA E CINEMA EM SALA DE AULA ................................................................. 79 3.3.1- Cinema, cultura e realidade .............................................................................. 80 3.3.2- O filme como texto sincrético ........................................................................... 83 3.3.3- O filme como recurso pedagógico..................................................................... 87 3.4- CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 91 CAPÍTULO 4 - A SEMIÓTICA DAS IMAGENS ................................................................ 92 4.1- O QUE VEM A SER SEMIÓTICA? .............................................................................. 94 4.2- A GRAMÁTICA DO DESIGN VISUAL........................................................................ 99 4.2.1- Função Representacional................................................................................... 105 4.2.1.1- Representações Narrativas.................................................................. 105 5 4.2.1.2- Representações Conceituais ............................................................... 113 4.2.2- Função Interativa ............................................................................................. 116 4.2.2.1- Olhar ................................................................................................... 117 4.2.2.2- Distância Social .................................................................................. 119 4.2.2.3- Perspectiva.......................................................................................... 120 4.2.3- Função Composicional ...................................................................................... 122 4.2.3.1- Valor de Informação ........................................................................... 123 4.2.3.1.1- Esquerda e direita: Novo e Dado ........................................ 123 4.2.3.1.2- Parte superior e parte inferior: Ideal e Real ....................... 124 4.2.3.1.3- Centro e Margem ................................................................. 124 4.2.3.2- Saliência.............................................................................................. 127 4.2.3.3- Enquadramento ................................................................................... 128 4.3- CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 127 CAPÍTULO 5 - ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA..................................... 131 5.1- HIPÓTESES NORTEADORAS DA PESQUISA ........................................................... 131 5.2- A PESQUISA E SUA TIPIFICAÇÃO ............................................................................ 133 5.3- CONTEXTO DA COLETA DE DADOS........................................................................ 137 5.4- SUJEITOS DA PESQUISA ............................................................................................. 137 5.5- INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA .......................................... 141 5.5.1- Os segmentos de vídeo ...................................................................................... 144 5.5.2- O conteúdo lexical............................................................................................. 148 5.5.3- O conteúdo lexical em seu contexto visual ....................................................... 151 5.5.4- As atividades de intervenção e sua aplicação.................................................... 154 5.5.4.1- A avaliação de reconhecimento lexical .............................................. 155 5.5.4.2- O questionário de reflexão pessoal ..................................................... 157 CAPÍTULO 6 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS E INSTRUMENTOS................... 160 6.1- ANÁLISE E COMPREENSÃO DOS SEGMENTOS DE VÍDEO................................. 160 6.1.1- Segmento 1: “to do laundry” ............................................................................. 161 6.1.2- Segmento 2: “to slam the door” ........................................................................ 165 6.1.3- Segmento 3: “to chop garlic” ............................................................................ 167 6.1.4- Segmento 4: “to hang up the telephone”........................................................... 169 6.1.5- Segmento 5: “to ring the bell”……………………………............................... 170 6.1.6- Segmento 6: “to wear glasses” .......................................................................... 172 6.1.7- Segmento 7: “to hold one’s breath” .................................................................. 173 6.1.8- Segmento 8: “to fall asleep” .............................................................................. 175 6.1.9- Segmento 9: “to sign a paper” ........................................................................... 177 6.1.10- Segmento 10: “to ride a bicycle”..................................................................... 179 6.1.11 Considerações finais ......................................................................................... 179 6 6.2- LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DE DESEMPENHO ......................... 181 6.2.1- Dados relativos ao teste de vocabulário: análise e discussão ............................ 181 6.2.2 Análise individual dos dados referentes às colocações testadas......................... 188 6.2.3 Dados relativos ao questionário de reflexão pessoal: análise e discussão.......... 193 CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................... 198 7.1- RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS DE PESQUISA .......................................................... 198 7.2- LIMITAÇÕES DO ESTUDO .......................................................................................... 200 7.3- SUGESTÕES ................................................................................................................... 201 7.4- CONTRIBUIÇÕES.......................................................................................................... 203 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 206 APÊNDICES .......................................................................................................................... 239 1- COLOCAÇÕES UTILIZADAS NA INVESTIGAÇÃO E SEU CONTEXTO ................. 239 2- ATIVIDADE DE INTERVENÇÃO LEXICAL ................................................................. 241 3- QUESTIONÁRIO DE REFLEXÃO PESSOAL ................................................................ 242 ANEXOS ............................................................................................................................... 243 1- MODELO DE AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTO DE VOCABULÁRIO DE NATION ................................................................................................................................................. 243 2 - CATEGORIAS FRASEOLÓGICAS DE HOWARTH .................................................... 244 3- O CENÁRIO DA PESQUISA: INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS............................. 245 4- QUADRO COMPARATIVO: ABORDAGENS QUANTITATIVA/QUALITATIVA .... 252 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Modelo de avaliação de conhecimento de vocabulário de Nation ......................... 44 Quadro 2: VKS Escala de Elicitação de Paribakht e Wesche ................................................. 45 Quadro 3: Categorias de escore VKS – Significados dos escores........................................... 45 Quadro 4:Categorias Fraseológicas de Howarth ..................................................................... 54 Quadro 5: Contínuo colocacional de Howarth ........................................................................ 54 Quadro 6: Contínuo de colocabilidade de Benson, Benson e Ilson......................................... 56 Quadro 7: Teoria Cognitiva de Aprendizado Multimídia ....................................................... 72 Quadro 8: Comparando as teorias de Braddeley e Paivio ....................................................... 74 Quadro 9: Categorias da Gramática do Design Visual............................................................ 104 Quadro 10: As dimensões do espaço visual ............................................................................ 124 7 Quadro 11: Comparação entre os paradigmas quantitativo e qualitativo................................ 134 Quadro 12: Perfil de proficiência do aprendiz apto a prestar o exame “Flyers”..................... 139 Quadro 13: Instrumentos de pesquisa e análises decorrentes.................................................. 143 Quadro 14: Os segmentos de vídeos e sua duração................................................................. 147 Quadro 15: Comparando categorias de colocações em Howarth e Nesselhauf ...................... 150 Quadro 16: As colocações da intervenção e seu contexto visual .................................................153 Quadro 17: Atividade de intervenção com colocações utilizadas no estudo........................... 156 Quadro 18: Questionário de reflexão pessoal.......................................................................... 159 Quadro 19: Resultado numérico da avaliação lexical comparando-se as respostas assinaladas nas fases pré e pós-tratamento ................................................................................................. 182 Quadro 20: Conhecimento prévio / não conhecimento prévio dos sujeitos considerando-se os resultados na fase pós-tratamento............................................................................................ 183 Quadro 21: Resultados de correção e não correção sobre o léxico desconhecido como efeito da exposição aos vídeos ............................................................................................................... 184 Quadro 22: A página multimodal ............................................................................................ 187 Quadro 23: Resultados da exposição aos vídeos discriminados por item lexical ................... 189 Quadro 24: Correção e não correção de erros via imagem, por item lexical .......................... 190 Quadro 25: Resultados obtidos por meio do questionário de reflexão pessoal ....................... 194 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Jornal do Brasil 1949 ............................................................................................... 91 http://www.jblog.com.br/media/139/20091006-7-10-1949.jpg Figura 2: Jornal do Brasil 1986 ............................................................................................... 91 http://www.jblog.com.br/media/41/20080416-260486%20-%20CAPA%20BLOG.jpg Figura 3: Jornal do Brasil 2005 ............................................................................................... 91 http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/pagplus/2005/02/10/1002pag.jpg Figura 4: Processo de Ação não-transacional.......................................................................... 106 http://imagem.vilamulher.com.br/temp/caminhando-melhor-idade-100308.jpg Figura 5: Processo de Ação transacional ............................................................................... 106 http://www.conservapedia.com/images/thumb/2/2d/Correa_La_Virgen_entregando_al_nino_a_ San_Antonio.jpg Figura 6: Processo de Ação bidirecional ................................................................................. 107 http://luamizade2.blogs.sapo.pt/arquivo/abraco.jpg Figura 7: Processo de Evento .................................................................................................. 107 http://st0.mais.uol.com.br/6/7E/1D/361175-large.jpg Figura 8: Processo Reacional transacional .............................................................................. 108 http://www.beijolivre.blogger.com.br/mae_filho%20beijo.jpg 8 Figura 9: Processo Reacional não transacionaL ...................................................................... 109 http://www.dollmyface.com/wp-content/uploads/2009/02/makeup-myth.jpg Figura 10:Processo Reacional não-transacional ...................................................................... 110 http://www.ibelieveinadv.com/commons/bign1.jpg Figura 11: Processos Acional e Reacional ............................................................................. 110 http://www.dallasnews.com/sharedcontent/dws/pt/photos/2008/11/081103_CAMPAIGN_MCC AIN_4.jpg: Figura 12: Processo de Conversão .......................................................................................... 111 http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/imagens/3ciencias/5chuva_acida.jpg Figura 13: Circunstância Locativa: Cenário ........................................................................... 112 http://images.theage.com.au/2008/10/16/236440/svMCCAIN-420x0.jpg Figura 14: Circunstância de Acompanhamento ..................................................................... 113 http://3.bp.blogspot.com/_Gjb9U8syTuw/RfsVFF4lQEI/0/i2sEbE7Fgrc/s400/tigres.jpg Figura 15: Processo de Classificação ...................................................................................... 114 http://www.tudomercado.com.br/tm/aviso/img_avisos/Submarino_21361181.jpg Figura 16: Processo Analítico ................................................................................................. 114 http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/images/ency/fullsize/19916.jpg Figura 17: Processo Simbólico Atributivo ............................................................................ 115 http://engasgo.files.wordpress.com/2008/04/chef.jpeg Figura 18: Processo Simbólico Sugestivo ............................................................................... 115 http://www.rachelbaum.com/paintings_abstract_sq/lg_pieces_autumn.jpg Figura 19: Olhar de Demanda I ............................................................................................... 118 http://i.olhares.com/data/big/46/461196.jpg Figura 20: Olhar de Demanda II.............................................................................................. 118 http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.notmytribe.com/wpcontent/uploads/2007/12/peta-shirley-manson-fur.jpg Figura 21: Olhar de Oferta....................................................................................................... 119 http://farm1.static.flickr.com/135/352888097_f12fe48b0e_o.jpg Figura 22: Perspectiva subjetiva de afastamento..................................................................... 121 http://www.internationalist.org/yalestrike130903.jpg Figura 23: Perspectiva subjetiva de aproximação ................................................................... 122 http://johnseiler.com/images/immigrants.jpg Figura 24: Esquerda e Direita: Novo e Dado .......................................................................... 123 http://www.portair.co.uk/Images/AQDetails.jpg Figura 25: Parte superior e parte inferior: Ideal e Real .......................................................... 124 http://images.tdaxp.com/tdaxp_flickr/67343854_b0efbc6444_o.jpg Figura 26: Centro e Margem ................................................................................................... 125 http://www.baq2008.org/system/files/imce/SIM_graph.jpg Figura 27: Interpretando as dimensões do espaço visual ....................................................... 127 http://www.anticomunismo.kit.net/coreiadosul.jpg Figura 28: Saliência ............................................................................................................... 128 http://static.andaluciaimagen.com/Mata-a-bola--a-equipe-de-futebol-espanhol_134641.jpg 9 Figura 29: Enquadramento ..................................................................................................... 129 http://landiosi.blog.terra.com.br/files/2009/07/continencia.jpg Figura 30: Cena 1 _ to do laundry .......................................................................................... 164 Figura 31: Cena 2 _ to do laundry ........................................................................................... 164 Figura 32: Cena 1 _ to slam the door ..................................................................................... 166 Figura 33: Cena 2 _ to slam the door ..................................................................................... 166 Figura 34: Cena 1 _ to chop garlic ......................................................................................... 168 Figura 35: Cena 2 _ to chop garlic ......................................................................................... 169 Figura 36: Cena 1 _ to hang up the phone............................................................................... 170 Figura 37: cena 1 _ to ring the bell ......................................................................................... 170 Figura 38: Cena 1 _ to wear glasses…………………………………………………………..173 Figura 39: Cena 2 _ to wear glasses…………………………………………………………..173 Figura 40: Cena 1 _ to hold one’s breath................................................................................. 175 Figura 41: Cena 1 _ to fall asleep ............................................................................................ 176 Figura 42: Cena 2 _ to fall asleep ............................................................................................ 176 Figura 43: Cena 1 _ to sign a paper ......................................................................................... 175 Figura 44: Cena 1 _ to ride a bicycle....................................................................................... 178 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Resultado numérico da avaliação lexical, comparando-se as respostas assinaladas nas fases pré e pós-tramento.................................................................................................... 183 Gráfico 2: Conhecimento prévio / Não conhecimento prévio dos sujeitos ............................. 184 Gráfico 3: Resultados de correção e não correção sobre o léxico desconhecido como efeito da exposição aos vídeos ............................................................................................................... 185 Gráfico 4: Comparação dos resultados obtidos com os 1000 itens lexicais na fase póstratamento ................................................................................................................................ 186 Gráfico 5: As colocações e seus resultados individuais na fase pós-tratamento ..................... 192 Gráfico 6: As colocações: correção e não-correção a partir da imagem ................................. 193 10 RESUMO O objetivo deste estudo é contribuir para a discussão sobre o ensino e o aprendizado de vocabulário em sala de aula de inglês como língua estrangeira. Nesse cenário, destacamos a necessidade de que a construção do significado seja percebida e realizada através de blocos de linguagem e não em palavras isoladas. A pesquisa se ampara em diversas investigações que enfocam a aquisição do léxico como aspecto crucial no processo de aquisição de língua estrangeira. Este trabalho busca conciliar uma abordagem que prioriza a dimensão lexical, com conceitos relativos à multimodalidade que salientam a crescente importância de um aprendizado de multimídia, em uma sociedade que se vale, cada vez mais, da imagem. Para tanto, buscamos o necessário amparo teórico nos pressupostos de Gunther Kress e Theo Van Leeuwen, assim como no trabalho de Richard Mayer. Os primeiros preconizam a necessidade de um novo conceito de letramento que abarque as modalidades visuais de leitura, ao passo que Mayer defende a propriedade da utilização de recursos multimediáticos no ambiente da sala de aula. Os resultados produzidos pela intervenção de pesquisa sugerem que instrumentos multimediáticos podem contribuir para o processo de aquisição de vocabulário na sala de aula de língua estrangeira, assim como, igualmente, abrem caminho para estudos futuros. Palavras-chave: vocabulário – colocação – multimodalidade – filmes 11 ABSTRACT The aim of this study is to contribute to the discussion on vocabulary teaching and learning in the classroom of English as a foreign language, with an emphasis on the need for meaning construction to be perceived and realized in chunks of language, rather than in isolated words. The theoretical background of the research is based on studies which focus on lexical acquisition as a crucial aspect in the process of foreign language acquisition. The approach of the study combines the lexical dimension and the multimodal perspective. The latter points to the growing importance of multimedia learning, in a society in which images are more and more predominant. Regarding the objective of the study, we use concepts from the model of Kress and Van Leeuwen, as well as the work of Mayer for theoretical support. Kress and Van Leeuwen call for a new concept of literacy which includes the visual modalities, while Mayer argues that there is an urgent need for the appropriate use of multimediatic resources in the classroom environment. The results produced/yielded by the research intervention suggest that the use of multimedia instruments may contribute to the process of vocabulary acquisition in the foreign language classroom and open space for further studies in the area. Key words: vocabulary - collocation – multimodality - films 12 CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO As representações verbais e visuais têm coevoluído histórica e culturalmente para se complementarem e suplementarem mutuamente, para serem coordenadas e integradas. [...]. Na prática humana normal da construção do sentido, elas estão inseparavelmente integradas na maioria das ocasiões. (Lemke, 2002a, p. 303) 1. A motivação para esta pesquisa surgiu da constatação de dois processos facilmente observáveis na sociedade moderna como um todo e, especificamente, na área de aquisição de língua estrangeira, a que nos referiremos, doravante, como LE. O primeiro processo a motivar nosso interesse diz respeito ao papel de crescente destaque desempenhado pela imagem nos meios de comunicação e na vida cotidiana em geral. Hoje, tende-se a um consenso a respeito de que os recursos visuais, ao interagirem com a língua falada e escrita, concorrem para a construção de um sentido único e abrangente, através de diferentes linguagens que se somam e dialogam, a despeito de suas particularidades e, até mesmo, por causa dessas. No que tange à síntese entre linguagem verbal e visual, Petrie (2003, p. 139) endossa que “de forma crescente, o significado se elabora pela fusão desses elementos.”2 Em decorrência dessas transformações, pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento têm cunhado terminologias e sugerido métodos para a investigação do que se delineia como um novo universo discursivo, moldado por “sistemas simbólicos múltiplos.”, ou multiple symbol systems, termo proposto por Short e Kauffman (2000, p. 160): “ por sistemas simbólicos, queremos nos referir a múltiplas formas de conhecimento _ as maneiras por meio das quais o ser humano compartilha e constrói significado, especificamente através da música, arte, matemática, teatro e língua.”3 1 “Language and visual representation have co-evolved culturally and historically to complement and supplement one another, to be co-ordinated and integrated. […]. In normal human meaning-making practice, they are inseparably integrated on most occasions.” (Lemke 2002a, p. 303) 2 “Increasingly, meaning is made through a fusion of these elements.” Petrie (2003, p. 139) 3 “By sign systems we mean multiple ways of knowing _ the ways in which humans share and make meaning, specifically through, music, art, mathematics, drama and language.” (Short and Kauffman, 2000, p. 160) 13 O segundo processo que escolhemos privilegiar se refere à renovada atenção que vem sendo dada a questões relacionadas ao ensino e ao aprendizado de vocabulário, no campo de aquisição de LE, em uma espécie de reação ao longo domínio de prevalência da gramática. Questionamentos crescentes sobre a hipótese de que o léxico pode ser adquirido de modo assistemático, apenas por meio da interação social, vêm direcionando o interesse, cada vez maior, por uma abordagem sistemática que preencha a lacuna de que se ressentem alunos e professores no que se refere a tratamento do vocabulário. Vale ressaltar que reconhecemos haver na literatura opiniões divergentes a respeito de uma sinonímia implícita entre os termos vocabulário e léxico: para Biderman (2001, p. 88), por exemplo, léxico designa o conjunto abstrato de unidades lexicais da língua, ao passo que vocabulário se refere ao conjunto das realizações discursivas dessas mesmas unidades, representadas no dicionário. Barbosa (1995, p.21), porém, define vocabulário como “[...] uma parte do léxico, que representa uma determinada área de conhecimento.” Considerando as fronteiras sutis entre diferentes definições pesquisadas, avaliamos que, para uma conceituação mais acurada, seríamos levados a ponderações teóricas que fogem ao escopo deste trabalho. Como são vários os exemplos de estudos e publicações que tomam vocabulário e léxico como sinônimos _ entre esses, Gatollin, 2007, Scaramucci, 1997 e Gatollin e Scaramucci, 2007_, optamos por seguir essa tendência, utilizando os termos de forma indistinta, para nos referirmos ao repertório de vocábulos de uma língua. Ainda quanto à terminologia adotada, esclarecemos que o termo “aquisição” não será utilizado em oposição a “aprendizado”, conforme distinção estabelecida por Krashen (1981), mas, ao contrário, serão empregados indistintamente. Entre outros, seguimos Ellis, R. (1997), Zilles (2007) e Hulstijn e Laufer (2001) que utilizam as terminologias para se referir ao processo de internalização de conhecimento de língua-alvo, que não L1. Quanto aos conceitos que definem “língua estrangeira”, seguimos a distinção feita por Gass e Selinker (2009, p. 5), para quem o estudo de “segunda língua” (L2) se dá no país onde essa é a língua materna dos falantes locais, ao passo que a terminologia LE conceitua a língua-alvo ensinada, em contexto instrucional, em país de língua materna distinta, cenário da presente investigação. Havendo esclarecido essas questões, relativas à nomenclatura aqui utilizada, passamos a expor o tema desta pesquisa, justificando sua relevância à luz de trabalhos teóricos e empíricos sobre o assunto. 14 1.1- O TEMA DA PESQUISA E SUA RELEVÂNCIA A complexidade do fenômeno da língua/linguagem, _ termos que utilizaremos indistintamente, como partes inseparáveis de um mesmo processo comunicativo _ aprofunda-se com o passar do tempo, pois, como ocorre com todo sistema aberto, novos componentes se agregam, fazendo com que um contínuo processo de auto-organização promova incessante renovação e expansão (Paiva, 2005). Esse natural processo de transformação tem se intensificado nas últimas décadas, quando mudanças socioeconômicas e culturais conferiram um peso nunca visto à informação e ao conhecimento, com profundas consequências para a sociedade como um todo. Um poderoso elemento que tem concorrido de modo decisivo para essas alterações é a tecnologia. Expressivos e rápidos avanços tecnológicos têm possibilitado o surgimento de novos meios de comunicação, como a televisão, o telefone celular e, em especial, o modo digital. Curiosamente, ao mesmo tempo em que é afetada pelas novidades da tecnologia, a língua é propulsora de novos gêneros que são criados, ou transformados e se divulgam através desses mesmos meios, em um contínuo processo de troca e interação (Paiva, ibid.). Um dos aspectos mais visíveis dessas mudanças é o deslocamento do papel central exercido, durante longo tempo, pela linguagem verbal escrita em direção a uma crescente importância assumida pela linguagem visual, um dos elementos sobre o qual nos debruçamos. Entretanto, apesar do consenso de estudiosos e pesquisadores de que textos verbais e nãoverbais dialogam para a construção do significado, muito há que se analisar, para que essas mudanças sejam compreendidas em sua real amplitude e possam levar a ganhos para o ambiente pedagógico que, em essência, configura-se como o foco de interesse deste trabalho. Royce (2002) observa que a primazia da linguagem escrita e falada (a primeira, tradicionalmente, mais valorizada que a segunda) reduziu, durante muito tempo, a importância de recursos visuais na transmissão e na aquisição de informação e conhecimento. Entretanto, a percepção e a leitura do mundo _ primordialmente visual _ que nos cerca e com o qual interagimos é parte integrante do processo de formação do indivíduo como agente social. Dessa maneira, aprender a ler esse contexto, além dos limites das palavras em suas formas verbal e escrita, torna-se uma necessidade a ser considerada por educadores e pesquisadores. Já em 1954, Arnheim avaliava que percepção sensorial e atividade mental são dimensões inseparáveis do processo cognitivo, e ambas devem receber a mesma atenção na busca pelo entendimento do fenômeno comunicativo. Para o pesquisador, “nossos olhos foram reduzidos a instrumentos para verificar e para medir: daí sofremos de uma carência de ideias 15 exprimíveis em imagens e de uma capacidade de descobrir significado no que vemos.” (ibid., 2004, p. 5).4 Na avaliação de Stein (2004, 2000), a limitação acarretada pelo domínio da língua escrita e falada se tornou uma restrição sociocultural, pois sacrificou outras formas de representação que foram relegadas a segundo plano. Em consequência, a autora considera que em uma sociedade essencialmente estruturada com base na linguagem verbal, tornou-se difícil exprimir, fiel e claramente, percepções captadas por nossos sentidos, como sons, gostos, movimentos, cheiros e, até mesmo, sentimentos. Em decorrência, a pesquisadora defende a exploração e o fortalecimento de representações não verbais no ambiente pedagógico. A importância dos nossos sentidos na construção do significado é, igualmente, destacada por Kress (2010, 2009, 2005, 2000), para quem interagimos com o mundo através da combinação de uma série de estímulos _ paladar, audição, olfato, visão e tato _, os quais operam de modo particular, mas integrado e conectado, permitindo que funcionemos em um ambiente semiótico. O pesquisador destaca que o processo de crescente influência de recursos visuais é responsável por uma verdadeira revolução social, com reflexos nas mais diferentes áreas. Kress (2000) avalia que essa nova dimensão do fenômeno comunicativo conjuga linguagem escrita, falada e visual. Nesse processo, não só todas mas cada uma atua como veículo de expressão cultural da sociedade que as produz, cada meio funcionando segundo suas próprias possibilidades e limitações, interagindo e criando significado em sua unicidade. A pressagiada complexidade desse fenômeno se evidencia na avaliação de Kress e Van Leeuwen (2001, p.337): Tornou-se impossível fazer sentido de textos escritos, mesmo apenas de suas partes linguísticas, sem se ter uma ideia clara de como outros elementos, como áudio e imagem, podem contribuir para a construção desse significado. (Kress e Van Leeuwen, 2001, p.337) 5 Esse julgamento é compartilhado por Unsworth (2001), para quem a conceituação de competência comunicativa, proposta por Canale e Swain (1980), precisa ser revista e ampliada, visando à inclusão de múltiplas competências. Nesse sentido, acreditamos que, para atender às necessidades da sala de aula contemporânea, faz-se necessário incorporar ao ambiente 4 Cf: ARNHEIM. Rudolf. Arte e Percepção Visual: Uma Psicologia da Visão Criadora. São Paulo: Thomson Pioneira. Tradução FARIA, Ivonne. 2004. 530 p. Lançado em 1954 e constantemente revisado, o livro de Rudolf Arnheim se mantém ao longo dos anos como bibliografia básica em cursos de artes, design e comunicação visual. 5 “It has become impossible to make sense of written texts, even of their linguistic parts alone, without having a clear idea of how other features, like audio and image, can contribute to the construction of this meaning.” (Kress e Van Leeuwen, (2001, p. 337) 16 pedagógico o conceito de “competência comunicativa multimodal” como em Royce (op.cit.). Para o autor, a noção designa a habilidade de compreender textos cujo significado deriva da conjunção das linguagens visual e verbal, assim como a aptidão de nos comunicarmos através desses textos compostos, ou seja, multimodais. O conceito proposto se alicerça na premissa de que a decodificação do significado se encontra atrelada ao potencial de sentido das diferentes modalidades que coparticipam do processo comunicativo, interagindo e se complementando. Nesse cenário, cabe buscar a construção do indivíduo, não apenas através de um processo de letramento, mas, sim, segundo um conceito de multiletramento. Se o termo letramento é reconhecido como o domínio das habilidades de leitura e escrita, visando à inserção e à interação no tecido social, a nova concepção deixa de se referir, exclusivamente, à referida capacitação para incluir a competência em outros modos de comunicação. Segundo esses novos parâmetros, uma pessoa multiletrada é capaz de operar em ambientes onde variadas modalidades coocorrem e atribuem significado a mensagens veiculadas pelas mais diversas formas de linguagem. A coexistência de diferentes dimensões, especialmente a visual e a verbal, cria um espaço textual único a ser processado pelo receptor que, na impossibilidade de dissociar os dois elementos, desenvolve diferentes estratégias para a construção do significado, potencializando a força de ambos, por meio de um processo de interação recíproco (Cope e Kalantzis, 2001).6 Essa nova postura pode suscitar protestos por parte daqueles que receiam uma ameaça à posição da língua escrita. Acreditamos, entretanto, que esse receio não se justifique. Seguimos o pensamento de Barthes (1994), quando o autor defende que as linguagens escrita e visual não devem ser vistas como excludentes, ou opostas uma a outra. São, de fato, complementares, passíveis de ser conjugadas, somadas e potencializadas em seu uso e significado, pois a conjunção de imagem e texto amplia o significado de um e outro respectivamente. Na visão do autor, levado à sala de aula, esse processo de combinalidade sustenta e facilita o aprendizado, além de reduzir o descompasso entre a crescente importância da linguagem visual e o relativo declínio da linguagem verbal, minimizando as possíveis implicações dessa defasagem no ambiente pedagógico. Levando-se em conta essas considerações e o fato de que esta investigação surgiu do interesse em contribuir com reflexões e sugestões para o ambiente instrucional de LE, cabe indagar quem é o aprendiz que chega, hoje, a essa sala da aula: em nossa percepção, o aluno 6 O termo “multiletramento” foi cunhado em um encontro de pesquisadores da linguagem, de diversas nacionalidades (The New London Group), promovido por Cope e Kalantis, em 1994, na Inglaterra. O evento teve como objetivo a elaboração de um projeto pedagógico que estivesse à altura dos desafios do mundo moderno. O conceito pretendeu incorporar a noção de multiplicidade cultural e linguística à crescente importância das novas tecnologias de comunicação. (Cope e Kalantzis, 2001, p. 10-1) 17 com que convivemos traz consigo uma nova visão da realidade e do que seja aprender uma língua. Os apelos e estímulos sonoros e visuais a que está diariamente exposto não podem ser ignorados em sua capacidade de sedução, já que o uso da televisão e do computador, por exemplo, pode tornar as práticas educacionais regulares pouco atraentes e nada estimulantes. À luz desse enfoque, acreditamos que o uso de instrumentos multimodais, ou seja, recursos pedagógicos que conjugam diferentes modos de linguagem _ tais como filmes, ilustrações, gráficos, slides, peças teatrais e outros _ devem ocupar um espaço relevante no processo de aquisição. Despontam dessa avaliação dois fatores que servem de inspiração a esta pesquisa: o primeiro se refere ao aprendiz e o segundo ao professor de LE. No que toca ao aprendiz, nossa investigação sinaliza a necessidade de que o ambiente pedagógico esteja preparado para a formação de indivíduos aptos a compreender os diferentes modos semióticos de linguagem, que se conjugam e interagem para a formação de textos multimodais. Em consequência, é preciso que esse educando esteja exposto a instrumentos que o treinem para tal, ou seja, o espaço da sala de aula deve comportar uma multiplicidade de linguagens, que favoreçam o desenvolvimento desse multiletramento, como proposto por Cope e Kalantzis (op.cit.). Essa demanda tem se refletido de modo claro nas práticas pedagógicas: os materiais didáticos reservam um crescente espaço a fotos, gravuras, gráficos e desenhos, assim como os professores recorrem, cada vez mais, a aditivos que vão de simples ilustrações ao uso da Internet, de acordo com a infraestrutura disponível. O aluno, por sua vez, espera, e, em certos contextos, até exige, que o professor lance mão de filmes, vídeos musicais, programas de televisão, apresentação de slides e computador, instrumentos fortemente alicerçados no apelo visual. Em efeito, advogamos que, no tocante à aquisição de LE, o conceito de letramento deve se dar em conformidade com a noção de competência comunicativa multimodal, como em Royce (op.cit.), passando a abarcar a linguagem dos meios visuais, tornando necessário, desse modo, que esse educando seja capaz de lidar com instrumentos de comunicação multimodais. Dentre esses, para efetivação deste estudo, nossa escolha recai sobre filmes estrangeiros em língua inglesa, por serem de fácil acesso e apresentarem um grande apelo afetivo e cognitivo para o aprendiz que, de modo geral, os utiliza como fonte de lazer e referência cultural. Além de o texto fílmico combinar, de forma particularmente poderosa, o uso de diferentes linguagens, nossa opção visa a contemplar o fator emocional, aspecto intimamente vinculado à aquisição de LE, e tema de diversas investigações na literatura (Arnold, 1999; Brown, H. 1973; Scovel, 1978). Para Kress (2005), o processo de interação entre imagens e 18 espectadores é de especial relevância, pois o apelo visual, acredita, pode estimular esse envolvimento de forma positiva. Para o autor, o conhecimento objetivo está baseado em um envolvimento afetivo com o objeto de estudo, relação que pode acarretar efeitos positivos sobre o resultado de procedimentos pedagógicos. Somando-se ao componente afetivo, mais recentemente, parece haver um razoável consenso sobre o fato de que os recursos de multimídia presentes em um filme oferecem uma reapresentação dos insumos linguísticos em seus aspectos lexicais, gramaticais e pragmáticos, resultando em uma fonte privilegiada de aprendizado, por sua múltipla funcionalidade. Para Canning-Wilson (2000), ao mesmo tempo em que reproduzem a língua-alvo nos planos auditivo e visual (no caso de legendas intralinguísticas: closed-captions), filmes autênticos são um instrumento valioso para a divulgação de tradições, valores, costumes e música de um grupo social, permitindo ganhos, tanto no plano linguístico, quanto no tocante ao saber cultural. Diversas pesquisas (Canning-Wilson, ibid.; 2001; Cunha, 2007; Danan, 2004) reconhecem que aspectos da língua-alvo, como pronúncia, entonação e ritmo podem ser enfocados, de modo muito mais eficaz e atraente, através de vídeos, termo que usaremos, indistintamente, em substituição a “filmes”. Dessa forma, na esteira das constatações aqui relacionadas, surge o segundo elemento inspirador deste estudo: a necessidade de que o professor de línguas igualmente se prepare para lidar com a crescente utilização de instrumentos pedagógicos alicerçados na conjunção de múltiplas linguagens. É nossa proposta que esse preparo seja fruto de um olhar esclarecido por meio de leituras, entre essas aquelas que serão amplamente sugeridas ao longo deste trabalho. Para Royce (op.cit., p.192), “Professores de inglês para falantes de outras línguas precisam estar aptos a discorrer e a pensar seriamente sobre comunicação de uma perspectiva multimodal, porque precisam ajudar os aprendizes a desenvolver competência comunicativa multimodal.”7 Assim sendo, é nossa proposta encaminhar esta pesquisa de maneira a contribuir com subsídios que possam auxiliar a formação desse profissional, apto a encarar os desafios impostos pelo conceito de multiletramente aqui sugerido. No que concerne ao tema da multimodalidade, os pressupostos teóricos mencionados dão amparo ao particular interesse desta autora pelo potencial de utilização, que acredita subexplorado, de recursos multimodais, para a sala de aula de LE. Somando-se a esses fatores, sua experiência pessoal com aulas práticas e confecção de apostilas e atividades, voltadas, especificamente, para o aprendizado de vocabulário, concorre para a escolha do segundo foco teórico deste trabalho: aquisição do léxico. 7 “TESOL professionals need to be able to talk and think seriously about multimodal communication because they need to help learners develop multimodal communicative competence.” (Royce, 2000, p. 192) 19 Os complexos fatores envolvidos no ensino e no aprendizado de vocabulário em LE têm sido objeto de pesquisa por parte de um crescente número de autores, destacadamente após as décadas de 60 a 80, período em que se privilegiou o aspecto gramatical. Contudo, apesar do interesse cada vez maior pelo tema, vozes como McCarthy (2005, 2001, 1990) avaliam que o tratamento do léxico ainda se encontra, em grande parte, subordinado ao ensino de estruturas e funções. Outro aspecto que pode sugerir a insuficiente abrangência de estudos na área lexical foi percebido ao longo das leituras realizadas para este trabalho, quando se verificou uma sensível limitação no escopo das investigações, já que a esmagadora maioria se encontra vinculada direta, e quase unicamente, à prática da leitura de textos escritos. Para Bahns (1993), a despeito da crescente atenção que vem sendo dedicada ao tema, sofre-se com a ausência de uma estratégia sistematizada, que esteja ancorada em resultados empíricos, tanto na área da linguística, como no campo da psicologia do aprendizado. O autor destaca que ainda não há dados suficientes, que possam oferecer uma base sólida para a adoção de processos instrucionais, especialmente no que diz respeito ao aprendizado de colocações (collocations) e avalia: Essa reorientação geral de gramática para vocabulário é, definitivamente, um passo na direção correta. Há, entretanto, um aspecto particular do vocabulário que merece mais atenção do que tem recebido até agora, e esse é o problema da combinação de palavras. (Bahns, ibid, p.56) 8 O fenômeno da combinalidade entre palavras, preocupação do autor citado, é uma dimensão do vocabulário que tem se revelado de crucial importância na área de aquisição de LE. Por sua atualidade, o tema se impõe como desdobramento do aspecto lexical que, como dito, alia-se à questão da multimodalidade, para compor o quadro de interesse teórico desta pesquisa. À vista do aqui exposto, acreditamos que este trabalho se justifica pela pertinência de uma investigação que concilia a necessidade de estudos que ampliem insumos empíricos e conhecimento sobre aquisição de vocabulário em LE, com a percepção de uma sociedade que recorre, cada vez mais, à linguagem visual. Defendemos que o destacado papel assumido pela imagem, nas mais variadas formas de expressão cultural, torna imperativo que o professor reveja sua metodologia, à luz do conceito de multiletramento conforme aqui conceituado, e 8 “This general reorientation from grammar to vocabulary is definitely a step in the right direction. There is, however, one particular aspect of vocabulary learning which deserves more attention than it has received up to now, and this is the problem of word combinability.” (Bahns, 1993, p. 56) 20 esteja preparado para fazer face aos desdobramentos dessa exigência. O assunto é de igual interesse para aqueles que se dedicam à criação de materiais: decisões sobre a conveniência do uso de recursos multimodais, quando e como melhor fazê-lo, demandam um conhecimento teórico mais embasado, para o que acreditamos poder contribuir por meio dos tópicos que enfocaremos ao longo deste estudo. Confiamos, por conseguinte, haver justificado a relevância desta pesquisa por abarcar temas de inegável atualidade para aqueles que se debruçam sobre o desafiador cenário de ensino e aprendizado de língua estrangeira no contexto da sociedade moderna. Passamos a explicitar os objetivos e as questões desta investigação. 1.2- OS OBJETIVOS E AS QUESTÕES DA PESQUISA É nosso desejo contribuir para a ampliação do escopo de estudos sobre as questões da multimodalidade, aplicando-os à especificidade da sala de aula de LE, assim como, do mesmo modo, investigar o processo de ensino e aprendizado do léxico. Em consequência, é nossa intenção destacar subsídios que possam contribuir de forma empírica, para a apreciação de profissionais da área, no que concerne ao uso de recursos multimodais, no contexto de ensino e aprendizado de vocabulário. Este trabalho se apoia, não apenas nas crenças desta pesquisadora e em suas preferências pessoais, mas, igualmente, em estudos que têm assinalado três aspectos que se sobressaem à nossa atenção: i) a necessidade de um olhar mais aprofundado sobre a multiplicidade de linguagens, típica da sociedade moderna, e seu reflexo no processo instrucional; ii) a pertinência de estudos empíricos que forneçam orientação segura ao ensino e ao aprendizado do vocabulário em LE; iii) a propriedade de um enfoque em “pedaços” de língua (chunks), valorizando-se o modo como as palavras se combinam no processo de construção do significado. Partimos do reconhecimento de que os sistemas semióticos das linguagens escrita, falada e visual funcionam a partir de recursos distintos: enquanto a imagem se baseia na lógica da disposição espacial, a língua escrita e, particularmente, a fala operam de modo temporal e sequencial. Entretanto, a despeito dessas especificidades, alinhamo-nos a Dionísio (2005), quando a autora argumenta que imagem e palavra têm, cada vez mais, uma relação próxima e integrada, de tal modo que as duas dimensões não devem ser percebidas em separado, mas em sua unicidade. Por esse motivo, julgamos que a soma dos diferentes sistemas pode resultar em 21 um recurso instrucional, especialmente enriquecido e valioso, particularmente se considerarmos que, de forma cada vez mais acelerada, os avanços tecnológicos têm contribuído para a tradução de mensagem escrita em informação visual. Nesse contexto, traçamos como nossos objetivos: i) pesquisar os significados veiculados pelo texto visual e a possível interrelação entre os sistemas semióticos visual e verbal, que coocorrem para a realização de um texto multimodal coeso e coerente; ii) investigar a utilização de filmes de vídeo, como recurso pedagógico e realçar dados que forneçam subsídios sobre a propriedade de seu uso como instrumento de ensino/aprendizagem, no que se refere, particularmente, a aprendizado de vocabulário; iii) levantar dados sobre a percepção do aprendiz a respeito da utilização de filmes como recurso instrucional e seus próprios processos cognitivos. A partir do acima exposto, esta pesquisa será norteada pelas seguintes perguntas: 1) De acordo com a Gramática do Design Visual, de Kress e Van Leeuwen (2006)9, que elementos o filme, na qualidade de instrumento multimodal, oferece para seu aproveitamento pedagógico na sala de aula de inglês como LE? 2) Em que medida e de que forma a coocorrência de imagens e língua falada, presente em filmes, pode favorecer o ensino e o aprendizado do léxico em língua estrangeira? 3) O aprendiz percebe o uso de filmes em sala de aula, como recurso pedagógico, ou este se destaca à sua atenção pelo seu valor de entretenimento? Desse modo, acreditamos conciliar três temas de caráter atual, cujo interesse se ampara em estudos recentes: multimodalidade, ensino e aprendizado de vocabulário e o papel das colocações no contexto de aquisição lexical. No próximo segmento, discorremos sobre como esse trabalho se encontra organizado. 1.3- A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO A construção das reflexões teóricas que oferecem suporte a este estudo e à análise do material coletado confere a este trabalho uma leitura que se estrutura em sete segmentos, assim distribuídos: 9 O termo original que designa o construto teórico elaborado por Kress e Van Leeuwen (2006) _The Grammar of Visual Design _ é aqui traduzido por “Gramática do Design Visual”, por acreditarmos que a palavra “design” não encontra no português uma tradução exata para o significado que, em inglês, envolve a ideia de concepção, elaboração e criação, dimensões que extrapolam a noção expressa por “desenho” em língua portuguesa. 22 O primeiro capítulo se desdobra na apresentação dos seguintes tópicos: a justificativa, o tema, os objetivos e as questões da pesquisa. O segundo, terceiro e quarto capítulos têm por objetivo discutir questões abordadas na literatura de Linguística Aplicada, consideradas pertinentes e relevantes, como apoio e norteamento teórico para nossa investigação. No segundo capítulo, discorremos sobre fatores relativos ao ensino e aprendizado do vocabulário, assim organizados: i) abordagem histórica sobre o ensino e o aprendizado de vocabulário no contexto de diferentes visões teóricas e tratamentos para o ensino e aquisição de LE; ii) análise de crenças e pressupostos envolvidos no ensino e aprendizado de vocabulário em aquisição de LE; iii) a questão da colocabilidade de palavras, o conceito de competência colocacional e o ensino e aprendizado de colocações em língua inglesa; iv) considerações finais sobre o tema. Na sequência, o terceiro capítulo trata de multimodalidade. Enfocamos: i) a evolução do conceito de multimodalidade e o surgimento do conceito de multiletramento, em um cenário de instrumentos instrucionais multimediáticos; ii) a Teoria Cognitiva de Aprendizado de Multimídia desenvolvida por Richard Mayer e seu grupo de pesquisadores; iii) o tema cinema, realidade e a utilização de filmes para instrução de LE; iv) considerações finais. Concluindo a investigação dos insumos teóricos, o quarto capítulo trata da semiótica das imagens, abrangendo: i) o conceito de Semiótica; ii) a Gramática do Design Visual como concebida por Gunther Kress e Theo Van Leeuwen (2006); iii) as reflexões finais sobre o tema. O quinto capítulo explicita a metodologia que orienta este trabalho. São enfocados os seguintes aspectos: i) as hipóteses norteadoras desta investigação; ii) a definição do tipo de pesquisa em que o estudo se insere, segundo os métodos adotados e seus objetivos; iii) o delineamento do cenário da investigação e seus sujeitos; iv) os instrumentos e procedimentos utilizados e sua aplicação. 23 À luz dos arcabouços teóricos que nos orientam, o sexto capítulo analisa as imagens de vídeo utilizadas em nossa intervenção, assim como os dados gerados pelo tratamento de pesquisa. O sétimo capítulo discorre sobre nossas conclusões e considerações finais. Concluímos com as referências bibliográficas, apêndices e anexos referentes ao estudo. Vale destacar que todas as Figuras utilizadas como exemplificação no Capítulo 4 foram selecionadas a critério desta pesquisadora e, assim como as traduções das citações originais inseridas no corpo do trabalho, são de nossa inteira responsabilidade. 24 CAPÍTULO 2- ENSINO E APRENDIZADO DE VOCABULÁRIO Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Palavras, palavras, (digo exasperado) Se me desafias, aceito o combate. (Drummond, 1983) 10 Um elemento decisivo para a construção da linguagem como fenômeno sóciossemiótico é o aprendizado e a internalização de palavras novas. Não podemos, entretanto, iniciar essa discussão sem tecer, mesmo que brevemente, algumas considerações terminológicas. As questões relativas ao conceito e ao estatuto do termo palavra não se restringem à dimensão teórica, mas são, essencialmente, um problema pertinente ao campo da análise. O assunto tem despertado debates apaixonados, sem que se chegue a uma definição que possa ser aplicada em contextos diversos a diferentes línguas. Como consequência dessa falta de consenso, a literatura oferece uma grande variedade de definições, assim como variados critérios de delimitação. Vale acrescentar que optamos pelo uso dos termos palavra/vocábulo, indistintamente, dado o reconhecimento imediato e a identificação da sinonímia implícita nos mesmos pelos falantes nativos do português.11 Muito além dos limites das questões teóricas, a complexidade envolvida no ensino e aprendizagem de uma língua, materna ou não, sofre a influência de diferentes fatores. O fenômeno abrange aspectos biocognitivos, sócio-históricos e político-culturais que interagem, continuadamente, em um processo dinâmico e inacabado, com o objetivo de permitir ao indivíduo exercer sua subjetividade no contexto social. (Paiva, 2005). Nessa conjuntura, a dimensão lexical talvez seja a que se apresenta mais escorregadia e incerta. Para melhor avaliarmos a extensão e a complexidade do desafio que enfrentam 10 ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. 17ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983. Pp.72-175. Cf. BASÍLIO, Margarida. Teoria Lexical. 6ª ed. São Paulo: Ed. Ática. 1999. Volume temático para uma discussão abrangente sobre a definição de palavra e a delimitação de unidades lexicais. 11 25 professores e aprendizes de LE, basta considerar as dificuldades envolvidas no contexto de aquisição de L1: mesmo no âmbito de língua-mãe, o uso efetivo de um vocabulário amplo e variado, pragmaticamente adequado ao intrincado cenário das relações sociais, é um objetivo ambicioso e desafiador, a dificuldade é, portanto, potencialmente maior quando se trata de um idioma que não o materno. É fato que nos últimos anos o assunto vem sendo investigado de modo sistemático em diferentes centros acadêmicos _ Wales Applied Language Research Unit da Universidade de Swansea no País de Gales na Grã-Bretanha, School of English Studies situada na Universidade de Nottingham na Inglaterra, ou, ainda, School of Linguistics and Applied Language Studies, na Universidade de Victoria of Wellington, na Nova Zelândia. Contudo, linguistas de renome continuam a sinalizar a carência de estudos empíricos na área. Entre outros, citamos, na esfera internacional, Coady e Huckin (1998), McCarthy (2001), Nation (2008) e Schmitt (2000). Já, no panorama nacional, Paiva (2004), Rodrigues (2007) e Scaramucci e Gatollin (2007) são alguns do que se voltam para estudos que enfocam o referido processo no âmbito da realidade brasileira. Desejando contribuir para o debate e o levantamento de subsídios sobre a questão, passamos a discorrer sobre o tema de ensino e aquisição lexical sob uma perspectiva histórica. Adiante, focalizamos crenças e princípios amplamente debatidos no contexto do tema em foco. Na seção seguinte, abordamos o aspecto denominado “colocações” (collocations), palavras que coocorrem, em maior, ou menor grau de rigidez, e para o que acreditamos haver a necessidade de um tratamento instrucional sistemático. Finalizamos com nossas conclusões gerais sobre a temática do vocabulário. 2.1- ABORDAGEM HISTÓRICA: UM DEBATE E SUA TRAJETÓRIA A despeito do crescente interesse e atenção voltados para o ensino do vocabulário em LE, a sintaxe foi, durante muito tempo, a viga mestra para a elaboração da maior parte das teorias, métodos e abordagens surgidos na área, assim como para a criação de materiais (Leffa, 2000a). A primeira e mais antiga metodologia para ensinar línguas clássicas, como o grego e o latim, foi criada por linguistas alemães e, apesar de desafiada em muitas frentes, vigorou do início do século XVII até o princípio do século XX. A chamada “Abordagem Tradicional”, ou “Gramática e Tradução” _ The Grammar Translation Method _ tinha como objetivo básico o domínio da gramática normativa, de modo a permitir o acesso a clássicos da literatura. Seus criadores propunham a tradução e a versão como base de compreensão da língua-alvo, além da 26 memorização de regras e exemplos para o aprendizado da morfologia e da sintaxe. As aulas constavam de explicações sobre o sistema gramatical da língua-alvo, via língua materna, e da leitura de longas passagens literárias com a respectiva tradução. Visando ao ensino de vocabulário, os alunos deveriam memorizar exaustivas listas bilíngues de palavras, compiladas de acordo com os campos semânticos. Sua seleção se dava a partir dos textos clássicos, cuja leitura e tradução eram, na verdade, o principal objetivo (Leffa, ibid.; Zimmerman, 1998). Embora esse tratamento tenha prevalecido nas escolas europeias até o final da década de 20, o método enfrentava diversas críticas já desde meados do século XIX. Em 1864, Thomas Prendergast, em uma primeira reação às listas tradicionais, escreveu um manual intitulado The mastery of languages, or, the art of speaking foreign tongues idiomatically 12. O autor incluiu as palavras mais usuais da língua inglesa, baseando-se, exclusivamente, em seu julgamento pessoal e, embora na época o trabalho tenha sido considerado irrelevante, teve o mérito de inovar ao incluir palavras do cotidiano, até então ignoradas. A partir de 1880, vozes dissidentes do método gramatical começaram a se fazer ouvir com cada vez mais insistência. Alegavam que a língua falada era ignorada e consideravam o método sem atrativos, distante da realidade do aprendiz. Essas oposições abriram caminho para que linguistas, preocupados com abordagens mais dinâmicas, começassem a discutir a necessidade de uma maior ênfase no aspecto oral e na fonética. Encontraram um líder em Henry Sweet que, em 1899, estabeleceu os princípios do que viria a ser chamado Movimento Reformista, “The Reform Movement”, ao publicar The Practical Study of Languages 13 . Segundo os valores defendidos pelo autor, as aulas de língua estrangeira deveriam dar ênfase à fala, em detrimento da escrita, a tradução deveria ser evitada e a gramática ensinada de modo indutivo. No tocante ao léxico, a seleção do vocabulário partia de critérios de simplicidade e utilidade prática para o educando e sua apresentação deveria ocorrer de modo contextualizado e significativo. Ao ignorar as listas de palavras arcaicas, apresentadas de modo isolado, a maior contribuição do movimento foi associar o léxico ao mundo real (Richards e Rodgers, 2001; Zimmerman, op.cit.). No final do século XIX, beneficiando-se do debate levantado pelo Reform Movement, surge o “Método Direto”, The Direct Method, assim rotulado por priorizar a relação entre o significado e a língua-alvo sem o recurso da tradução. Os professores deveriam ser nativos e fazer uso exclusivo da língua-alvo além de trabalhar com grupos reduzidos. No que tange ao vocabulário, o método prioriza a linguagem do dia a dia e as palavras concretas são explicadas, 12 PRENDERGAST, Thomas. The mastery of languages or, the art of speaking foreign tongues idiomatically. London: R. Bentley. 1864. 13 SWEET, Henry. The practical study of languages: A guide for teachers and learners. London: Oxford University Press. 1899/1964. 27 através de mímica e do uso de figuras (flash cards) e objetos, para se evitar a tradução direta e simples, recurso que cunhou o termo “realia” (Zimmerman, op.cit.). O método foi criticado por parecer excessivamente simplista, mas alcançou grande sucesso em escolas particulares e se tornou popular através das escolas Berlitz (Richards e Rodgers, op.cit.). Nas décadas de 20 e 30, deu-se uma grande ênfase ao desenvolvimento da habilidade da leitura, o que acarretou uma maior preocupação com a questão do vocabulário. Esse novo enfoque suscitou mudanças significativas na percepção do papel do léxico, com grande impacto em questões como a produção de materiais instrucionais e as práticas metodológicas (Richards e Rodgers, op.cit.). É quando surge nos Estados Unidos o Método de Leitura, The Reading Method, e, na Grã-Bretanha, o “Método Situacional”, Situational Language Teaching. O método americano, como diz o nome, visava ao aperfeiçoamento da habilidade da leitura que, em relatórios sobre alunos americanos estudantes de língua estrangeira, era apontada como deficiente. O procedimento britânico foi buscar inspiração nos conceitos defendidos por Michael West, professor e pesquisador, que pregava o foco no léxico, como recurso para o aprimoramento da leitura. West acreditava que um vocabulário insuficiente deveria ser combatido através de listas de palavras, organizadas com base em critérios de frequência, posição que defendeu em sua tese de doutorado, em 1927, e que manteve por mais de 40 anos (Zimmerman, op.cit.). West se baseou nos conceitos traçados pelos pioneiros em estudos de frequência, os professores Edward Lee Thordike e Irving Lorge. Em 1921, Thorndike publicara uma lista14 com as 5.000 palavras mais comuns da língua inglesa. O levantamento foi feito manualmente, a partir de um corpus de 4,5 milhões de palavras, e impulsionou mudanças no ensino, tanto de língua materna como de estrangeira, nos Estados Unidos e na Europa. A publicação serviu como inspiração para abordagens baseadas no controle do vocabulário, nas quais os alunos têm contato, em primeiro lugar, com as palavras mais frequentes (Sardinha, 2000a). Mais tarde, em parceria com Lorge, Thorndike ampliou a compilação para 30.000 palavras, listadas no Teacher's Word book of 30,000 words 15. A pesquisa se baseou em um universo de 18 milhões de palavras de texto escrito e tinha como objetivo oferecer a autores de materiais didáticos dos Estados Unidos subsídios para a produção de livros em língua materna (Leffa, op.cit.). Em 1939, na Universidade de Michigan, foi criado o primeiro Instituto de Língua Inglesa dos Estados Unidos, especializado no treinamento e na formação de professores de inglês, como segunda língua, ou língua estrangeira. Nessa época, a entrada do país na Segunda 14 15 Thorndike, E. L. Teacher's Wordbook. New York: Columbia Teachers College. 1921. Thorndike, E. L. & Lorge, I. The teacher’s word book of 30,000 words. New York: Teachers College, Columbia University. 1944. 28 Guerra Mundial exerceu um efeito significativo sobre o ensino de línguas, devido à necessidade de comunicação entre os soldados. A demanda para a formação de tradutores e intérpretes em curto prazo levou à criação de um programa especial e várias universidades americanas se engajaram no projeto. Charles Fries, diretor do Instituto e com formação em linguística estrutural, aplicou seus conhecimentos ao campo do ensino de línguas para, em 1945, publicar um trabalho em que se coloca contra os princípios do Método Direto e estabelece as bases teóricas para o método Audiolingual, The Audio Lingual Method 16 , a princípio conhecido como “método do exército”. A metodologia áudio-oral era baseada nos princípios da psicologia behaviorista de Skinner e da linguística distribucional de Bloomfield, então dominantes nos Estados Unidos, e partia da crença de que a formação de hábitos poderia ser aplicada ao aprendizado de línguas. Segundo os princípios do método, as estruturas gramaticais deveriam ser ensinadas através da intensa prática de exercícios de repetição (drilling), com especial atenção para a pronúncia. Fries não acreditava na equivalência direta entre palavras de línguas diferentes, a não ser no campo do vocabulário técnico. Sustentava que as palavras da língua inglesa não têm um significado único, mas vários, e não podem ser conhecidas, apenas, por sua tradução mais básica, por isso, o vocabulário, constituído de palavras simples e usuais, era apresentado, não através de listas, mas em frases completas. Nessa época, combateu-se a ideia de que acumular vocabulário seria de utilidade para o ensino de LE. Discutia-se o que era visto como uma supervalorização enganosa do papel do léxico, conceituado como instrumento para a compreensão e o domínio de estruturas gramaticais, e não como veículo de comunicação (Richards e Rodgers, op.cit.). Em 1953, West, em defesa do critério de frequência para o ensino de vocabulário, publicou A General Service List of English Words17, um marco de referência, considerada até hoje a mais completa compilação no que diz respeito a palavras de alta frequência. O autor listou 2.000 palavras de cabeçalho, em um corpus que chega a 5.000.000 de itens lexicais18, com indicações quanto à sua frequência e à frequência relativa de seus significados. Essa foi, talvez, a primeira tentativa para que se estabelecesse, não só um critério científico na escolha do vocabulário, como, igualmente, princípios técnicos para a criação de um programa de ensino de língua estrangeira (Leffa, op.cit.). Sardinha (op.cit.) e Zimmerman (op.cit.) ressaltam que o 16 FRIES, C. C. Teaching and Learning English as a Foreign Language. Ann Arbor: University of Michigan Press. 1945. 17 WEST, M. A General Service List of English Words. London: Longman, Green and Co. 1953. 18 Tomamos para “item lexical” a definição de Lewis (1993, p.90): “Um item lexical se define como uma palavra ou frase que opera como ‘unidade independente socialmente sancionada’, que é usada como uma unidade mínima para determinados propósitos sintáticos.” (“A lexical item is defined as a word or word phrase that operates as a ‘socially sanctioned independent unit’ that is used as a minimal unit for certain syntactic purposes.”) 29 trabalho de West continua a ser, até hoje, citado e respeitado como referência, considerado como a mais conhecida descrição do léxico inglês na era pré-computador. Em 1957, a publicação do trabalho do linguista americano, Avram Noam Chomsky, Syntatic Structures19, veio trazer novos elementos a esse cenário. Chomsky desenvolveu o conceito de “competência linguística”, que definiu como a gramática mental internalizada, existente de modo inconsciente na mente humana. Para o pesquisador, um conjunto limitado de regras gramaticais, parâmetros e princípios permite ao ser humano gerar um número infinito de frases bem formadas. O conceito se baseia na hipótese de que conhecimentos inatos _ princípios que ele chamou de Gramática Universal (UG) _ permitem a uma criança adquirir a língua do seu meio, durante um período crítico em seu desenvolvimento. A teoria _The Critical Period Hypothesis _ postula que há um tempo durante o qual é possível se aprender uma língua com facilidade, de modo completo e preciso, após o qual se torna difícil chegar à mesma habilidade de um usuário nativo (Ellis, R. 1997, p.67). Chomsky não fez referências específicas sobre o aprendizado de LE, mas alguns de seus seguidores argumentam que a ideia de uma UG oferece a melhor perspectiva para a compreensão do processo, embora outros afirmem que a UG não é aplicável para aprendizes que já ultrapassaram o mencionado período crítico de aquisição. Controvérsias à parte, seu trabalho contribuiu para o campo da linguística ao questionar a formação de hábitos, defendida pela teoria behaviorista, e ao chamar a atenção de especialistas da área e de psicólogos para os processos mentais que ocorrem no uso e no aprendizado de uma língua (Richards e Rodgers, op. cit.). Em reação a Chomsky, em 1966, o antropologista Dell Hymes20 cunhou o termo “competência comunicativa” (communicative competence), definida como o conhecimento internalizado do falante sobre o uso apropriado da língua, em função do contexto sociocultural em que se encontra. O autor não negava os pontos defendidos por Chomsky, mas destacava os fatores pragmáticos e sociolinguísticos inerentes ao uso efetivo e bem sucedido da língua, os quais devem se somar ao saber puramente linguístico (Zimmerman, op.cit.; Richards e Rodgers, op.cit.). Embora Hymes não tivesse em mente os processos relativos a ensino/aquisição linguística (Scaramucci, 1995, p.81), esses novos conceitos afetaram profundamente a visão sobre as metodologias a serem adotadas nas salas de aula de LE. Passou-se a valorizar a 19 20 Cf. CHOMSKY, Noam. Syntactic Structures. Berlin: Mouton, Den Haag. 1957. Cf. HYMES, Dell. Two Types of Linguistic Relativity. In: BRIGHT, William. (Ed.) Sociolinguistics. The Hague: Mouton. 1966. Pp. 114-58. . 30 proficiência comunicativa do aprendiz, o que se refletiu no surgimento da Abordagem Comunicativa, um marco divisor de águas na área. Hoje, considerado um termo “guardachuva” (umbrella term), a nomenclatura designa, de fato, diferentes métodos e tratamentos que comungam a valorização da fluência, em detrimento da forma, a contextualização das atividades e o foco no desenvolvimento de estratégias que permitam ao aprendiz usar essa língua, de modo efetivo e socialmente apropriado. No que tange à dimensão lexical, as diversas variedades de modelos que se enquadram na cartilha comunicativa podem apresentar percepções distintas sobre o tratamento instrucional mais efetivo. De um modo geral, apesar do foco na fluência, em oposição à forma, a abordagem comunicativa não privilegiou o ensino do vocabulário, mas voltou sua atenção para o uso de categorias, propostas pela primeira vez em 1972, pelo linguista inglês David Wilkins21 (Zimmerman, op.cit.). Wilkins desenvolveu um trabalho, em que propõe a existência de dois tipos de sistemas, ou categorias de significado: categorias nocionais, como tempo, quantidade e espaço e funcionais, como solicitações, recusas, agradecimentos e desculpas. Segundo o autor, o desenvolvimento do léxico em L2 deve se dar do mesmo modo como acontece em L1, ou seja, através da exposição à língua-alvo. Para isso, sugere que o aprendiz seja exposto a situações nas quais possa utilizar o vocabulário, de modo contextualizado, a partir de um programa centrado nos grupos que desenvolveu (Richards e Rodgers, op.cit.). Nessa ocasião, embora o papel do léxico pareça ganhar um espaço incontestável, de um modo geral, as leituras realizadas para esta investigação indicam que, mesmo após as mudanças ocasionadas pela Abordagem Comunicativa, o ensino de vocabulário continuou a se fazer, sobretudo, de modo implícito e não controlado. O aparente paradoxo _considerando-se que comunicação pressupõe a necessidade de palavras_ é avaliado por Zimmerman (op.cit.), para quem muito do insucesso no quesito aquisição de vocabulário pode ser explicado, ainda que parcialmente, pela influência da Abordagem Comunicativa, que levou à preferência por práticas instrucionais que privilegiam o contexto, em detrimento do ensino explícito, tanto de vocabulário, quanto de gramática. No cenário nacional, Gattolin e Scaramucci (2007) adotam postura semelhante: as autoras analisam que a crença, amplamente difundida pelos seguidores da abordagem em pauta, de que o processo de aquisição do vocabulário ocorre de modo quase espontâneo, a partir das interações sociais, pode haver concorrido, para que a falta de um tratamento sistemático resultasse na incapacidade que um grande número de aprendizes encontra para se expressar adequadamente, em situações da vida real. Para as pesquisadoras, métodos comunicativos 21 WILKINS, D. Linguistics in Language Teaching. London: Edward Arnold. 1972. 31 costumam expor o aprendiz a uma grande variedade de situações sem, contudo, fazê-lo com a frequência necessária, para que a aquisição de palavras novas se dê de modo efetivo e permanente e afirmam: [...] a variedade de tópicos e situações exposta ao aprendiz nas aulas comunicativas parece não permitir a realização de um movimento espiral, em que diversos encontros com os mesmos itens lexicais em diferentes contextos poderiam promover oportunidades para um processo de aprendizagem mais bem-sucedida [...]. (Gattolin e Scaramucci, 2007, p. 40) Um dos documentos mais importantes para a prática de situações adotada pela Abordagem Comunicativa foi o Threshold Level de Van Ek22 (1976), um inventário do vocabulário básico da língua inglesa, segundo um nível mínimo de funções linguísticas que o aluno deveria dominar, de modo a interagir socialmente. Embora o critério de frequência ainda sirva de parâmetro, o corpus utilizado não é mais, apenas, o da língua escrita, mas inclui insumos da língua falada. Como resultado desse trabalho, aspectos produtivos e receptivos do léxico foram incorporados ao inventário de, aproximadamente, 1.500 palavras, adotado na maioria dos países europeus, como parâmetro para organização de seus currículos escolares (Leffa, op.cit.; Zimmerman, op.cit.). Fugindo à prevalência das listas lexicais, um novo capítulo na história do ensino de línguas começou a ser escrito, quando Tracy Terrell, um professor de espanhol na Califórnia, apresentou uma nova proposta que rotulou de Abordagem Natural, The Natural Approach. Terrell se uniu a Stephen Krashen23, a fim de elaborar uma base teórica que oferecesse sustentação à sua proposta. Embora não fugisse ao escopo que embasava outras abordagens de cunho comunicativo (Zimmerman, op.cit.), o método se destaca por estar baseado em alguns parâmetros do modelo monitor de Krashen, The Monitor Model 24 , desenvolvido com o objetivo de que aprendizes iniciantes e intermediários alcançassem níveis aceitáveis de proficiência em comunicação oral. O elemento central da teoria de Krashen é que o aprendizado de LE ocorre de maneira natural, exatamente como com a língua materna, mas sob condições apropriadas. Para o autor, línguas estrangeiras não são habilidades a serem ensinadas, estudadas, ou memorizadas, mas, sim, assimiladas e desenvolvidas gradativamente, de forma natural, em situações reais de comunicação (Richards e Rodgers, op.cit.). 22 Cf. VAN EK. A. The Threshold Level Form: modern language learning in schools. London: Longman. 1976. Cf. KRASHEN, S.; TERREL, T. The Natural Approach: language acquisition in the classroom. Oxford: Pergamon. 1983. 24 O Modelo Monitor de Stephen Krashen reúne premissas sobre fatores que, na visão do autor, afetam, determinam ou impedem a aquisição. Os conceitos centrais se baseiam na provisão do insumo compreensível (comprehensible input) e no ambiente afetivo favorável à aquisição (Cf. Krashen, 1981, 1985). 23 32 Segundo a visão da Abordagem Natural, o vocabulário é veículo condutor do significado, e os pesquisadores acreditam que seu aprendizado deve ocorrer naturalmente, a partir da prática de atividades comunicativas. No caso específico de alunos adiantados, Krashen (1989) sugere a leitura como meio para aquisição do léxico e argumenta que sua prática voluntária e prazerosa oferece um veículo natural para que esse aprendizado ocorra livre de ansiedade e tensão. Ao nos perguntarmos sobre a conjuntura atual e as perspectivas para o futuro, cumpre abordar a Linguística de Corpus 25. Na visão de Aijmer e Altemberg (1991, p.84), a especificidade da disciplina implica uma categorização diferenciada: A Linguística de Corpus não é semelhante à Psicolinguística, à Sociolinguística ou à Geolinguística, nas quais métodos e teorias de áreas com objetos próximos são aplicados e correlacionados a dados linguísticos [...]. Como uma metodologia para pesquisa, a Linguistica de Corpus se encontra em uma categoria própria. (Aijmer e Altenberg, 1991, p. 84) 26 A Linguística de Corpus se ocupa, portanto, da coleta e da exploração de dados linguísticos textuais, obtidos através de evidências empíricas, com o propósito de servirem para a pesquisa de uma língua, ou variedade linguística (Sardinha, 2000a, p. 323). Esse procedimento começou ainda na Antiguidade, quando Alexandre, o Grande definiu o corpus helenístico. Continuou na Idade Média com a compilação e o registro de passagens da Bíblia e, mais recentemente, serviu de base para a criação das listas de vocabulário, elaboradas por Thorndike, Lorge e West _ conforme mencionado. Entretanto, a partir do final dos anos 50, o trabalho com corpora foi alvo de duras críticas, por parte daqueles que questionavam a validade e a exatidão de dados que dependiam de coleta e de processamento manual. Essas acusações se davam sob a influência dos paradigmas da gramática Chomskyana27, que descartava o trabalho empírico, alegando que todos os dados necessários se encontravam na mente do próprio linguista (Sardinha, ibid.). A grande mudança se deu com o advento do computador, instrumento que revolucionou as possibilidades de precisão e abrangência dos procedimentos. O primeiro corpus linguístico eletrônico, o Brown University Standard Corpus of Present-Day American English inovou, não só pela quantidade de dados _ um milhão de palavras _ como pelo ineditismo da 25 Neste trabalho, adotamos para corpus o conceito de Sinclair (2003, p. 71), por sua abrangência e objetividade: “um corpus é uma coletânea de textos, que ocorrem de forma natural, escolhidos para caracterizar um estado ou variedade de linguagem e que pode ser usada como base para pesquisa linguística.” 26 “Corpus linguistics is not like Psycholinguistics, Sociolinguistics or Geolinguistics, in which the theories and methods of neighbouring subject areas are applied to and correlated with linguistic data [...]. As methodology for research, corpus linguistics is in a class of its own.” (Aijmer, Altenberg, 1991, p. 84) 27 Cf. CHOMSKY, N. Syntactic Structures. The Hague: Mouton. 1957. 33 informatização. Desde então, o levantamento de dados linguísticos, através do uso do computador, escreveu capítulos determinantes na história do ensino de línguas. De um milhão de palavras do projeto Brown, chegou-se a quase 400 milhões no chamado Bank of English, projeto com corpora de inglês britânico e que, sob constante processo de atualização, mantémse em expansão continuada (Sardinha, op.cit.). A Universidade de Cambridge coleta corpora de língua falada e escrita, tanto de inglês americano como britânico, e possui, atualmente, uma base de dados formada por mais de 700 milhões de palavras no The Cambridge International Corpus. No campo dos estudos lexicais com base em Linguística de Corpus, o linguista John Sinclair (1933-2007) se destaca, não só por haver aberto caminho para o estudo do vocabulário através de corpora28, como por sua expressiva contribuição na área: além de incontáveis publicações, Sinclair foi o fundador do projeto COBUILD e editor chefe do primeiro dicionário compilado, a partir de corpus computadorizado _ Collins COBUID English Language Dictionary (1987). O pesquisador foi, igualmente, o precursor do conceito de idiomaticidade (idiomaticity), ao defender que a língua deve ser analisada levando-se em conta “porções” (chunks) que se agrupam, com maior, ou menor frequência, e não em unidades isoladas 29 (Sardinha, op.cit.). Os conceitos e propostas de Sinclair têm encontrado continuidade, não só em trabalhos acadêmicos como os de Lewis (1993, 1997, 2000), mas, igualmente, refletem-se na produção de dicionários e materiais pedagógicos. Essa é, por exemplo, a perspectiva da série de três livros para o ensino de inglês para estrangeiros de autoria de McCarthy, McCarten e Sandiford (2005a; 2005b; 2006)30 . Para a apresentação e a organização dos tópicos gramaticais e lexicais, os autores se basearam na descrição do corpus de inglês americano, cuja compilação faz parte do “The Cambridge International Corpus”. McCarthy (2004b, p. 3) explica que sua motivação foi utilizar os agrupamentos lexicais e as estruturas gramaticais que são, de fato, empregados na linguagem coloquial, isto é, são atestados pelo uso de falantes nativos. Conclui-se, portanto, que o acelerado processo de informatização do ensino tem contribuído para acentuar a tendência de que o tratamento do léxico se faça a partir de um enfoque contextual. Para Leffa (op.cit.), o uso de meios digitais, no processo de ensino e aprendizado do vocabulário, traduz a síntese das propostas e sugestões que evoluíram, 28 Cf. SINCLAIR, J. Beginning the study of Lexis, In: BAZELL, C. E. (Ed.). In Memory of J.R. Firth. London: Longman. 1966. 29 Cf. SINCLAIR, J. Collocations: A Progress Report, In: STEEL, R.; THREADGOLD, T. (Eds.). Language Topics: Essays in honour of Michael Halliday. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamin. 1987. 30 Cf. MACCARTHY, Michael; MCCARTEN, Jeanne; SANDIFORD, Helen. Touchstone. Cambridge: Cambridge University Press. Level 1, 2005a; Level 2, 2005b; Level 3, 2006. 34 dialeticamente, de uma ênfase externa _ em que o foco se fez, prioritariamente, no material a ser preparado e oferecido ao aluno (input) _ para uma ênfase nos processos internos, como fatores de caráter emocional e afetivo, e preferências pessoais e individualidades, em que se valorizam as estratégias. O autor destaca: Os recursos atuais da informática, incluindo a indexação total de textos e a conseqüente facilidade na busca de palavras em contexto de uso, tornaram o vocabulário um dos aspectos mais importantes na aprendizagem da língua, tanto em L1 como L2, [...] pela facilidade com que recolhem e analisam as palavras, reverteram a hierarquia dos componentes lingüísticos na aprendizagem, subordinando sintaxe, fonologia, morfologia e pragmática ao léxico. (Leffa, 2000a, p.15) Por conseguinte, pode-se prever que dados computadorizados se encontrem, hoje, irremediavelmente vinculados à aquisição lexical, não só no caso de pesquisadores, como _ talvez de forma irreversível _ para criadores de material e professores. Kennedy (1992, p. 335) chama a atenção para o papel da disciplina e sustenta: “A linguística de corpus pode nos informar não apenas aquilo que é sistematicamente possível, mas o que, realmente, tende a ocorrer na língua, em contextos específicos, ou particulares.”31. O autor defende que uma abordagem calcada na realidade reflete o uso real da língua e permite que o foco se faça nas manifestações linguísticas que verdadeiramente importam. Sem esse recurso, acredita que poderia haver um desvirtuamento, com investigações voltadas para aspectos linguísticos sem relevância. Esse potencial da linguística de corpus pode facilitar, imensamente, a organização de ementas e a elaboração de materiais e programas pedagógicos, ao permitir a seleção de recortes da língua-alvo que sejam realmente significativos: “Ao ilustrar a língua que é produzida de modo inconsciente, quando o foco se faz na mensagem e não na forma, um corpus pode contribuir para o ensino de segunda língua, ao aperfeiçoar a precisão de gramáticas, dicionários e listas de palavras.” (Kennedy, ibid, p. 365).32 A breve visão histórica que apresentamos expõe diferentes abordagens e enfoques a que tem estado sujeito o ensino de LE, com prioridades desiguais e tratamentos para essa, ou aquela área da aquisição. Frequentemente, uma nova visão surge em oposição à anterior, como é comum acontecer nas mais diversas áreas do conhecimento. Respostas e soluções são sugeridas, sem que nenhuma esteja completamente correta, ou totalmente errada. Nem essa atende a todas as indagações, nem aquela deve ser inteiramente rejeitada. É de se esperar que 31 32 “Corpus linguistics can tell us not just what is systematically possible, but what is actually like to occur in the language in general or particular contexts.” (Kennedy, 1992, p. 335) “By instantiating language produced unselfconsciously, when the focus is on message not form, a corpus can contribute to second language teaching through improvements in the descriptive accuracy of grammars, dictionaries and word lists.” ( Kennedy, 1992 p. 365). 35 novas pesquisas e estudos continuem a trazer esclarecimentos para a área em questão, ao mesmo tempo em que _naturalmente _ outras indagações haverão de surgir. 2.2- CRENÇAS E DEBATES NO CAMPO LEXICAL O estudo do léxico tem recebido diversos tratamentos, que vão do princípio de que seja componente essencial ao aprendizado de uma língua, à sua conceituação como elemento acessório e circunstancial. Historicamente, a esmagadora maioria das pesquisas na área está relacionada à leitura, e investiga, na maior parte dos casos, se o ensino e a aprendizagem do vocabulário devem ocorrer de modo implícito/incidental/indireto, ou explícito/direto. Esclarecemos que o termo explícito, nesse cenário, diz respeito à aplicação de meios instrucionais que visam, diretamente, à aquisição intencional de determinados elementos da língua alvo. Já, o aprendizado implícito ocorre sem que o aprendiz direcione sua atenção para esse, ou aquele componente linguístico. No caso específico de aquisição de vocabulário, esse processo se dá a partir de insumos que, em princípio, têm como objetivo a prática e o desenvolvimento de outras competências, como compreensão de leitura, fluência oral, ou a prática de pronúncia. Aqueles favoráveis a um tratamento implícito _ entre os quais citamos Paribakht e Wesche (1999) e Sternberg (1987) _ seguem na esteira das teorias desenvolvidas por Goodman (1967)33 e Smith (1975), sobre leitura em língua materna, doravante LM. Os autores em questão acreditam que o leitor, ao fazer uso de pistas linguísticas, constrói hipóteses e faz previsões que conduzem à compreensão textual, processo que comparam a um jogo psicolinguístico de adivinhação. O conceito recebeu amplo crédito na literatura e, a despeito do leitor em LM contar com uma base linguística muito mais sólida, estendeu-se ao contexto de aquisição de LE, dando origem à hipótese de aquisição incidental de vocabulário, por meio da leitura, formulada por Nagy e Herman (1985). Nagy, Anderson e Herman (1985) reafirmam o conceito ao defender que: “o aprendizado incidental de palavras durante a leitura pode ser o meio mais fácil e poderoso de promover o aumento, em larga escala, do vocabulário.” (ibid, p.27) 34. A tendência se fortaleceu em função da Hipótese do Insumo (The Input Hypothesis), postulada por Krashen (1981, 1985), conforme a qual se adquire uma segunda língua através, e somente através, de exposição à língua-alvo. Em 1989, o pesquisador reforça sua posição, ao 33 34 Cf.GOODMAN, Kenneth. S. The Reading Process. In: ALDERSON, J. Charles; URQUHART, Arthur H. (Eds.). Reading in a foreign language. New York: Longman. 1984. Pp: 11-21. “[…] incidental learning of words during reading may be the easiest and single most powerful means of promoting large-scale vocabulary growth.” (Nagy, Anderson e Herman, 1985, p. 27) 36 defender que o ensino explícito de vocabulário não interfere diretamente no processo de aprendizagem e que a maneira mais efetiva de aprender palavras novas é por meio de leitura extensiva, tomando-se o termo como sinônimo de foco no significado, em detrimento da forma. Essa teoria encontrou ardorosos defensores, como posteriormente refletido nos trabalhos de Day e Bamford (1998, 2002) e Huckin e Coady (1999). Entretanto, em paralelo ao endosso ao tratamento incidental, maus resultados despertaram o cuidado de pesquisadores que, particularmente a partir do final dos anos 90, voltaram-se para a investigação do real papel do léxico, assim como para a busca de procedimentos que pudessem auxiliar em sua aprendizagem. Entre as investigações de autoria internacional destacamos as pesquisas de Blachowicz e Fisher, (2002), Laufer (2005) e Meara (2007), ao passo que no âmbito nacional chamam nossa atenção os trabalhos de Gattolin (2007, 2005, 2002, 1998), Gattolin e Scaramucci (2007), Leffa (2000a, 2000b), Scaramucci (1997, 1995) e Zilles (2007, 2001). Apesar das diferentes investigações sobre o tema, parece não haver uma fronteira claramente definida entre processos diretos e indiretos, já que, mesmo no caso de aquisição incidental, acredita-se ser necessário um esforço dirigido, por parte do aprendiz, para a efetiva internalização de palavras novas (Ellis, N. 2006, 2002). Além disso, diversos autores fazem referência à necessidade de um vocabulário básico mínimo, para que se possa obter ganhos por meio de um tratamento implícito, repertório esse denominado por Carter (1998) de “core vocabulary” e por Laufer (1997, 2001) de “threshold vocabulary”, ou “sight vocabulary”. Para Laufer (1997, p.23) esse conhecimento engloba de 4.500 a 5.000 palavras, a partir do que a aquisição incidental poderia ocorrer de forma significativa. É fato que a demarcação de um número específico de palavras nos parece temerosa, já que fatores como o objetivo da leitura, o gênero textual e o conhecimento prévio do leitor têm, inegavelmente, efeito decisivo sobre o que seria um patamar mínimo de proficiência. Contudo, Gattolin (2005) e Scaramucci (1995) informam a existência de um consenso recente, a respeito de que a aquisição indireta, para ser relevante, deve se dar a partir de um limiar de conhecimento básico. Esse inventário lexical funcionaria como uma base mínima, para que o aprendiz pudesse fazer uso efetivo de inferência, conhecimento prévio e outras estratégias de compreensão, recursos que seriam comprometidos pela carência de proficiência vocabular. Paradoxalmente, há evidências de que um texto “grávido” (pregnant text), ou seja, rico em pistas textuais (textual clues), embora facilite a compreensão, pode, de fato, ser um obstáculo ao aprendizado de palavras novas. A riqueza contextual facilita a compreensão a tal ponto que a ausência de envolvimento cognitivo e psicológico impede que as palavras novas sejam percebidas como tal, e o aprendiz não lhes dá a atenção necessária para que sejam 37 incorporadas de modo ativo (Anderson e Freebody, 1983; Mondria e Witt-de Boer, 1991). Prince (1996, p.489) vai ainda mais longe ao afirmar que, “Na verdade, parece que o aprendizado de uma palavra nova requer que esta esteja momentaneamente ‘isolada do seu contexto’.”35 A aparente controvérsia nos leva ao enfoque do estudo de Schmidt (2001), sobre a importância do papel da atenção no aprendizado de LE: Embora alguma evidência recente indique a possibilidade de aprendizado sem que haja atenção, essa circunstância parece ter alcance e importância limitados no campo de aquisição de L2. Não há dúvida de que o aprendizado atento é, de longe, superior e, para todos os propósitos práticos, a atenção é necessária para a aprendizagem de todos os aspectos de L2.” 36 (Schmidt, 2001, p. 3) O autor contrapõe os termos “aprendizado com consciência” (“learning with awareness”) e “aprendizado sem consciência” (“learning without awareness”) ao argumentar que o aprendiz claramente se beneficia de procedimentos explícitos, já que essa modalidade instrucional provoca maior envolvimento cognitivo e emocional. Essa hipótese parece se fortalecer sob o enfoque de Rott (2005, p. 96), que argumenta que compreensão e aprendizagem podem ser processos complementares, mas não são o mesmo fenômeno. Por conseguinte, o excesso de pistas textuais, embora facilitando a compreensão, afetaria, negativamente, o processo de atenção de que nos fala Schmidt (op.cit.), contribuindo para um baixo envolvimento cognitivo e, em consequência, ocasionando baixa retenção. Em meio ao debate, Schmitt e McCarthy (1998) pontuam que a questão não é se determinar se o tratamento explícito é superior ao implícito, ou o oposto, mas perceber que ambos os procedimentos devem ser vistos como suplementares, e não necessariamente excludentes entre si. Na apreciação de Hulstijn (2005), a aquisição de LE pode se fazer a partir de duas abordagens distintas, de forma combinada: a primeira diz respeito ao uso intencional, por parte do aprendiz, de práticas para a memorização do léxico, ou da sintaxe e a segunda por meio de exposição, através da qual se internalizam palavras, ou estruturas da língua-alvo sem que haja um esforço intencional. Para o pesquisador, a controvérsia a respeito das vantagens desse, ou daquele tratamento permanece sem aparente solução, por falta de um número suficiente de estudos empíricos que produzam construtos-chave que corroborem essa ou aquela teoria. 35 “In fact, learning a new word seems to require that it be momentarily ‘isolated from its context’ “. (Prince, 1996, p.489). 36 “Although some recent evidence indicates the possibility of some unattended learning, this appears limited in scope and relevance for SLA. There is no doubt that attended learning is far superior, and for all practical purposes, attention is necessary for all aspects of L2 learning.” (Schmidt, 2001, p.3) 38 Dessa forma, quanto à dicotomia abordagem direta ou indireta, é nosso pensamento que um tratamento combinado concilia aspectos desejáveis tanto de uma como de outra, seja o incremento de exposição à língua-alvo, seja a atenção consciente por parte do aprendiz. Vale ressaltar que, no cenário da realidade brasileira, especialmente no segmento público, mas igualmente no privado, essa exposição se dá de modo descontinuado e em quantidade de tempo insuficiente para que se possa contar, exclusivamente, com aprendizado incidental, mesmo se considerarmos a inegável validade desse procedimento. Assim sendo, acreditamos ser indispensável a adoção de um tratamento direto, com foco específico no aprendizado de palavras novas, mesmo que complementado por práticas implícitas. Nossa avaliação parece respaldada por dados recentes, mapeados em diversos contextos de ensino de inglês no Estado de São Paulo (Rodrigues, 2007, 2001), que sinalizam um expressivo descompasso entre o dizer e o fazer de alunos e professores: se, por um lado, reconhecem o papel relevante do léxico, por outro, os primeiros não se empenham em um estudo com enfoque definido, direcionado para o aprendizado do vocabulário em contexto significativo, e os segundos não aplicam atividades específicas, em número suficiente e com a amplitude necessária, para que o processo se dê de modo constante e bem sucedido. Segundo os estudos citados, de um modo geral, os professores se restringem a fazer uso de paráfrases e de tradução e, na verdade, ainda priorizam o tradicional foco na gramática. No conjunto, esses fatores parecem concorrer para o mau aproveitamento dos processos instrucionais, resultado que não surpreende se partirmos da premissa de que o encontro repetido com as palavras novas é essencial, especialmente, no contexto de LE (Laufer e Osimo, 1991; Nation, 2001). Nesse cenário, o uso intencional do dicionário, a ferramenta mais comum no contexto em estudo (Rodrigues, 2007), poderia concorrer, positivamente, para um reforço da exposição ao novo item lexical, mas seu uso é feito de modo inapropriado, de um modo geral, por falta de instrução adequada (Gattolin, 2007). A ausência de orientação concorre para que o aluno, ao invés de buscar a compreensão do significado de modo amplo e contextualizado, procure uma tradução pareada (LE=LM), baseada em um conceito de mera equivalência lexical. Dessa forma, despreza as diferentes possibilidades de uso, expressões idiomáticas, coocorrências e colocações, que enriqueceriam, de modo significativo, seu nível de compreensão da palavra nova. Apesar de diversos pesquisadores contestarem a validade do uso do dicionário, estudos empíricos, como o de Silva e Souza (2002), indicam que sua utilização, bem orientada, pode torná-lo uma ferramenta efetiva e adequada, contribuindo, especialmente, para a formação de aprendizes autônomos. 39 Parece-nos, entretanto, que aquém de um consenso referente a procedimentos pedagógicos, a raiz da questão reside em estabelecer parâmetros claros sobre como se dá e evolui o processo de aquisição vocabular. A noção básica, mais usualmente postulada na literatura, apoia-se na ideia da existência de um contínuo que pode ter seu início em nenhum conhecimento e se estende indefinidamente, já que não há limites para o uso criativo do que se pode fazer com palavras. Waring (2002, p. 1) explica que “Uma das visões mais comumente aceitas a respeito de aquisição de vocabulário, é de que ocorra ao longo de um contínuo de desenvolvimento.”37, processo que ilustra como se vê: Menos conhecimento (less knowledge) Mais conhecimento (more knowledge) Essa noção foi ampliada para o conceito de vocabulário receptivo e produtivo, situados nas extremidades desse contínuo, ao longo do qual o aprendiz desenvolve sua proficiência lexical. Melka (1997, p.100) tem uma visão semelhante e defende que “A distância entre conhecimento receptivo e produtivo de uma palavra é uma linha, ‘um contínuo de conhecimento’.”38 Os termos vieram substituir a dicotomia ativo/passivo, nomenclatura até então amplamente utilizada na literatura. Gattolin e Scaramucci (2007) consideram a nova terminologia preferível, por delinear, de modo mais claro, o processo evolutivo, segundo o qual o aprendizado se dá de modo gradativo, ao longo de diferentes estágios de conhecimento. Para as autoras (ibid, p. 10): “[...] conhecer uma palavra para uso produtivo pressupõe conhecê-la melhor do que apenas para uso receptivo e, nesse sentido, pode ser vista como um contínuo, ou sequência de desenvolvimento.” Entretanto, em função da dificuldade para delinear fronteiras entre o vocabulário que é apenas reconhecido, seja em contextos verbais, ou escritos, e o léxico utilizado de forma produtiva, as pesquisadoras sugerem que: “Uma melhor alternativa seria conceber o conhecimento de vocabulário como um contínuo de níveis, ou graus de familiaridade com palavras [...].” (ibid, p.11). É esse conceito de familiaridade crescente que passamos a advogar, por entender que melhor espelha um processo de evolução continuada, gradual e cumulativa, sedimentado em encontros repetidos com esse novo item lexical, em diferentes contextos e com variadas 37 38 “One of the most commonly accepted views of vocabulary acquisition is that it occurs along a continuum of development.” (Waring, 2002, p.1). “The distance between receptive and productive word knowledge is a line, ‘a continuum of knowledge’.” (Melka, 1997, p. 99). 40 funções gramaticais, procedimento mais facilmente aplicável no tratamento combinado _ implícito/explícito _ que defendemos como mais efetivo. A referência a conhecimento vocabular nos remete ao estágio seguinte, relacionado à explicitação de um modelo avaliativo. Vários métodos têm sido utilizados, mas a pesquisa na área de avaliação do léxico se revela escassa, diferentemente do que vem ocorrendo no tocante a investigações que enfocam o processo ensino/aprendizado (Scaramucci, 1995, p.69). Uma revisão da literatura ilustra que a proposta mais comum é a combinação da palavra avaliada a sinônimos, definições ou traduções. Esses procedimentos se restringem a considerar o aspecto da extensão (size ou breadth) desse léxico, sem contemplar sua profundidade, ou dimensão qualitativa (depth), limitação que autores recentes vêm buscando superar. Com a finalidade de acompanhar a evolução histórica dos paradigmas sugeridos, comentamos, a seguir, alguns desses modelos. Um dos primeiros construtos propostos surgiu com Dale (1965), em um trabalho voltado para a avaliação do falante nativo. O autor sugere quatro estágios de familiaridade com uma palavra: 1- Reconhecer que é uma palavra, sem, no entanto, saber o seu significado. 2- Saber colocar vagamente a palavra em seu contexto. 3- Conhecer o significado exato da palavra. 4- Ser capaz de distinguir palavras que são relacionadas em significado e/ou forma.39 Embora seja positivo que o modelo conceba conhecimento lexical como um contínuo de desenvolvimento, Scaramucci (1995, p. 74) avalia que o autor não esclarece sobre a evolução de um estágio a outro, nem explicita o que define como “conhecimento exato.” Posteriormente, com inspiração no conceito de competência comunicativa proposto por Hymes (1966, 1972) _ vide 2.1 neste estudo_ Richards (1976) ampliou o escopo dos elementos considerados e elencou um amplo conjunto de aspectos para se avaliar o conhecimento ideal de falantes nativos. A abrangência da proposta, ao envolver componentes não só linguísticos, mas, também, psico e sociolinguísticos, estabeleceu na literatura o que se define como um conceito “rico” de conhecimento de vocabulário. No campo de LE, o modelo passou a ser utilizado para se estabelecer a extensão e a qualidade da competência lexical a se esperar dos aprendizes. Para Gattolin (1995, p.31), o primeiro item avalia a dimensão quantitativa (size/breadth) do conhecimento, ao passo que os outros medem a profundidade (width): 39 ‘I know there is such a word bit, I don’t know what it means’. ‘I know a vague contextual placing of the word’; ‘I have pinned the word down’. ‘I know other words related in form and/or meaning.’ (Dale, 1965, p.898) 41 1- Deve-se considerar que o conhecimento lexical, mesmo na idade adulta, continua a se expandir, indefinidamente, ao passo que ocorre pequeno desenvolvimento da sintaxe. 2- É preciso saber a probabilidade de se encontrar uma determinada palavra na fala, ou na escrita, tanto no aspecto da frequência, quanto no que diz respeito à sua colocabilidade (relações sintagmáticas: por exemplo, a palavra macio se coloca com cabelo, pele, tecido e outras.). 3- É necessário se conhecer as limitações para o uso de uma palavra, segundo suas diferentes funções e situações (tipos de registro). 4- Cabe conhecer o comportamento sintático da palavra: suas propriedades gramaticais e estruturais. 5- É importante conhecer suas formas subjacentes, derivações e flexões. 6- É necessário se conhecer a rede de associações que pode ser feita a partir daquela palavra com outras (relações paradigmáticas: por exemplo, a palavra roda está associada à bicicleta, moto, carroça, a carro e a outras.). 7- Há que se conhecer seu valor semântico (sentido denotativo). 8- Cabe conhecer diferentes significados associados à palavra (sentido conotativo). Apesar do avanço que o modelo representou, pesquisadores têm destacado a ausência de orientações sobre como levar o aprendiz de LE a desenvolver sua competência lexical, de modo tão abrangente (Schmitt e Meara, 1997; Schmitt, 1998). O próprio Richards reconhece as limitações do esquema e destaca que o objetivo “[...] é sugerir que ao prepararmos materiais instrucionais tenhamos como ponto de partida um conceito rico de vocabulário.” (op.cit. p.118).40 Para Scaramucci (1995), a conceituação ampliou de modo significativo a base teórica até então considerada, mas a pesquisadora destaca a ausência de uma dimensão de uso: Embora um conceito rico de vocabulário tenha sido usado, muitas vezes, na literatura, para caracterizar a competência lexical do falante nativo, observa- se que ele é ainda um conceito ‘estático’, na medida em que não faz referência à uma dimensão ou habilidade/capacidade de uso.” (Scaramucci, ibid, p. 79) A autora observa, ainda, que a despeito do modelo haver aberto novas perspectivas, os resultados não se fizeram sentir por falta de investigações sistemáticas. Os estudos até agora realizados com base na proposta de Richards têm se restringido a medir a extensão de 40 “[...] it is to suggest that in preparing teaching materials we begin with a rich concept of vocabulary.” (RICHARDS, 1976, p. 118) 42 conhecimento de falantes nativos e se revelam especialmente escassos no contexto do aprendiz brasileiro de LE (Scaramucci, ibid, p. 77). Em 1990, em sua tese de doutorado, Michael Scott sugere um modelo qualitativo, e não quantitativo, referente ao significado. O autor defende a existência de três condições para se conhecer uma palavra: que se conheça o seu conceito, que se reconheça o que a palavra não é (ambos os aspectos relativos à denotação) e que se saiba com que outras palavras, ou conceitos, ela pode se relacionar, nos níveis paradigmático e sintagmático, condição essa relacionada tanto ao aspecto denotativo, quanto ao conotativo. Se no caso de Dale (op. cit.) se esbarra na dificuldade de conceituar o que vem a ser conhecimento exato, a avaliação de Scott parece impossibilitar a quantificação da competência vocabular, já que o potencial de diferentes empregos conotativos de uma palavra não tem limites definíveis (Scaramucci, 1995, p. 74). Na mesma época, em uma de suas muitas pesquisas na área do léxico, Nation (1990) apresentou sua primeira proposta de avaliação, um modelo dividido em oito categorias, assim estruturadas: 1- Conhecer a forma oral da palavra. 2- Conhecer a forma escrita da palavra. 3- Conhecer o comportamento gramatical da palavra. 4- Conhecer o comportamento da palavra quanto à sua colocação na frase. 5- Conhecer a frequência de uso da palavra. 6- Conhecer o uso adequado da palavra. 7- Conhecer o conceito subjacente ao significado da palavra. 8- Conhecer com que outras palavras essa palavra se relaciona. Para Schmitt e McCarthy (1998, p.4), a proposta de Nation auxilia na visão sobre o conceito do que seja conhecimento de uma palavra, já que cobre de forma abrangente todos os elementos envolvidos no processo, além da dimensão do significado. Em contrapartida, avaliam que o autor não indica como esse conhecimento se dá, como evolui de um estágio a outro, ou, ainda, se e como o conhecimento de um aspecto pode afetar o outro. Posteriormente, o construto de Nation foi aperfeiçoado quando o autor incluiu uma dimensão receptiva e outra produtiva, em um abrangente modelo composto por dezoito perguntas que se referem à forma, ao significado e ao uso da palavra (Nation, 2001, p.27). No trabalho, o pesquisador define conhecimento do vocabulário, em seu aspecto receptivo como o reconhecimento da forma da palavra e seu significado, ao passo que o conhecimento produtivo 43 implica a seleção e a representação adequada das palavras (ibid, p. 24-5).41 O referido modelo se encontra no Quadro 1, e sua versão no original inglês está em Anexo 1 deste estudo. QUADRO 1: Modelo de avaliação de conhecimento de vocabulário. (Nation, 2001, p. 27) R: Como soa essa palavra? FALADA FORMA P: Como se pronuncia essa palavra? R: Com o que se parece essa palavra? ESCRITA P: Como se escreve/soletra essa palavra? R: Que partes dessa palavra podem ser reconhecidas? PARTES DA PALAVRA P: Que partes da palavra são necessárias para se expressar o significado? R: Que significado a forma dessa palavra indica? FORMA E SIGNIFICADO P: Que forma da palavra pode ser usada para expressar esse significado? SIGNIFICADO R: O que está incluído no seu conceito? CONCEITO E REFERENTES P: A que itens esse conceito pode se referir? R: Em que outras palavras essa palavra nos faz pensar? ASSOCIAÇÕES P: Que outras palavras poderíamos utilizar no lugar dessa? FUNCÕES GRAMMATICAIS USO R: Em que padrões essa palavra ocorre? P: Em que padrões devemos usar essa palavra? R: Que palavras ou tipos de palavras ocorrem com essa? COLOCAÇÕES P: Que palavras ou tipos de palavras devemos usar com essa? R: Onde, quando e com que frequência poderíamos encontrar RESTRIÇÕES DE essa palavra? USO Registro e frequência P: Onde, quando e com que frequência usaríamos essa palavra? Nos últimos anos, o modelo que tem sido mais utilizado (às vezes com algumas variações), e que pode ser encontrado em diversas investigações, é o (VKS), Vocabulary 41 “Essentially receptive vocabulary use involves perceiving the form of a word while listening or reading and retrieving its meaning. Productive vocabulary use involves wanting to express a meaning through speaking or writing and retrieving and producing the appropriate spoken or written word form.” (NATION, 2001, p24-5). 44 Knowledge Scale, proposto em Paribakht e Wesche (1997) e Wesche e Paribakht (1996), dividido em cinco categorias de autoavaliação: QUADRO 2: VKS Escala de Elicitação (Paribakht e Wesche, 1997, p. 180) 1- Eu não me lembro de haver visto esta palavra antes. 2- Eu me lembro de haver visto esta palavra antes, mas eu não sei o que ela significa. 3- Eu já vi esta palavra e eu acho que ela significa ............. (sinônimo ou tradução). 4- Eu conheço esta palavra. Ela significa ................ (sinônimo ou tradução). 5- Eu consigo usar esta palavra em uma frase: ................................. (Escreva uma frase) Os autores em pauta se propõem a oferecer “[...] um instrumento prático, para ser utilizado em estudos a respeito do reconhecimento inicial, e do uso de palavras novas.”42. Para Zilles (2007, p. 103) e Melka (1997, p. 98), embora o teste não seja perfeito, tem o mérito de abranger diferentes estágios, iniciando no total desconhecimento e chegando a um nível que pode ser descrito como produtivo. O modelo se complementa por meio do instrumento de interpretação “Categorias de Escore VKS”, descrito no Quadro 3. Vale destacar a ausência de linearidade, já que uma mesma categoria pode levar a mais de uma avaliação, característica que reflete o processo de aquisição lexical como um fenômeno interativo, que se desenvolve ao longo de estágios e demanda a continuada exposição do aprendiz ao vocabulário. QUADRO 3: Categorias de escore VKS - Significados dos escores (Paribakht e Wesche 1997, p. 181) Categorias autorrelatadas Possíveis escores Significados dos escores I • 1 A palavra não é familiar. II • 2 A palavra é familiar, mas seu significado não é conhecido. III • 3 Um sinônimo, ou uma tradução correta, é fornecido. IV • 4 A palavra é utilizada com adequação semântica em uma frase. V • 5 A palavra é utilizada com adequação semântica e gramatical em uma frase. 42 “[...] a practical instrument for use in studies of the initial recognition and use of new words” (Wesche; Paribakht, 1996, p. 29). 45 A concepção de que o conhecimento de vocabulário ocorre de forma progressiva continua a se refletir em propostas mais recentes: Henriksen (1999) propõe que o processo ocorre através de três dimensões: i) do conhecimento parcial das palavras ao conhecimento preciso, ii) do conhecimento superficial ao profundo; iii) do conhecimento receptivo ao produtivo. Com base nessa concepção, Leffa (2000a, p.34) sugere analisar o desenvolvimento lexical de um aprendiz de LE por meio de três dimensões simplificadas, que define como quantidade, profundidade e produtividade. Em cada uma, o conhecimento se dá de forma evolutiva: (1) Quantidade: segundo o autor, vai de um patamar mínimo de competência linguística de 1000 palavras, a um nível que permite a leitura, irrestrita, de textos em L2, estabelecido em torno de 5000 palavras. (2) Profundidade: parte do simples reconhecimento do item lexical, até o pleno conhecimento de suas coocorrências, passando pelo domínio de sinônimos e antônimos. (3) Produtividade: vai do conhecimento receptivo ao produtivo, com a adequada competência do aprendiz, para fazer uso da palavra em linguagem oral, ou escrita. Diferentemente de outros pesquisadores, o autor faz menção a um processo interativo entre as diferentes dimensões e define de que forma o fenômeno se dá: Essas dimensões também interagem entre si, alimentando-se mutuamente. Assim, à medida que cresce o número de palavras conhecidas, aquelas que já eram conhecidas, tornam-se mais profundamente conhecidas e o vocabulário receptivo, com o uso constante, pode também se tornar produtivo. (Leffa, ibid.) Os modelos aqui expostos não esgotam as propostas encontradas na literatura, mas ilustram o conjunto de sugestões que têm sido elencadas, para o dimensionamento de competência/conhecimento lexical, medidas essas que afetam, diretamente, os processos instrucionais e a criação de materiais (para uma discussão aprofundada do tema avaliação do vocabulário, vide Scaramucci, 1995). Embora reconheçamos que o conceito de conhecimento de uma palavra pode ser analisado sob diversas perspectivas teóricas, sugerimos que se opte por uma definição que englobe um espectro amplo, incluindo os níveis sintático, morfológico, semântico e discursivopragmático, como proposto por Scaramucci (ibid.) e Gatollin e Scaramucci (2007). Nossa escolha se dá por reconhecermos que limitar esse conceito seria ignorar os variados fatores _ contextuais, intralinguísticos, cognitivos e psicológicos _ que interagem de modo dinâmico e 46 continuado, para que o sujeito aja como construtor ativo do significado, fazendo uso criativo e adequado do acervo lexical à sua disposição. Seguimos, portanto, a proposta de Scaramucci (2007) que em referência ao modelo de Richards (op.cit.) sugere sua complementação por meio da inclusão de um nível discursivo/pragmático: [...] ao qual adiciono um nível discursivo/pragmático, incorporando à dimensão linguística também uma dimensão de uso, ou cognitiva, em vez de considerá-la separadamente, levando em conta a interação entre elas. (Scaramucci, 2007, p. 75). Ao comparar propostas diversas, para instrução do vocabulário e variados conceitos de competência lexical, assim como modelos distintos, para o seu dimensionamento e avaliação, este capítulo teve como objetivo explorar questões especialmente caras à nossa investigação. Em continuidade, passamos a abordar o tema da colocabilidade entre palavras, um desdobramento que acreditamos de especial pertinência para a temática em foco. 2.3- COMPETÊNCIA COLOCACIONAL: EM BUSCA DE UM CONSENSO Todas as línguas, de um modo geral, possuem frases e construções fixas, não necessariamente idiomáticas. Em inglês, essa constatação é particularmente verdadeira, talvez pelo fato de que a maioria das palavras abarca diversos significados, alguns bastante diferentes, outros, apenas, tenuamente distintos. Na literatura, esses grupos de palavras recebem variadas denominações, entre essas, colocações, termo que usaremos doravante. O estudo da colocabilidade entre palavras pode se desenvolver a partir de uma abordagem estatística, ou fraseológica. A primeira aborda a distribuição numérica da coocorrência de itens lexicais, em um determinado contexto, como em Sinclair (2003, 1997). Este tipo de levantamento está, preferencialmente, relacionado à Linguística de Corpus, disciplina que se tornou fortemente associada ao uso de computadores, conforme visto em 2.1 neste trabalho. A segunda vertente, a fraseologia, tem seu foco voltado para o estudo dos diferentes tipos de combinação entre palavras, sua tipificação e convencionalidade, como em Cowie (1998) e Howarth (1998). Os estudos fraseológicos têm se popularizado de forma crescente e o termo vem sendo utilizado em diversas áreas acadêmicas. Contudo, Howarth (ibid, p. 24) destaca que seu uso ainda não foi totalmente reconhecido no campo da Linguística Aplicada, nem seu escopo de atuação claramente compreendido. Para o autor, essa dificuldade se deve ao fato de que as investigações têm ocorrido de modo disperso, pelo olhar independente de diferentes disciplinas, sem que haja uma abordagem integrada. 47 Segundo Wray (2002, p.7), as primeiras observações registradas, a respeito de um possível grau de constância entre palavras, remonta a meados do século XIX, quando John Hughlings Jackson (1835-1911), neurologista britânico, pesquisou pacientes afásicos e sua aparente capacidade para produzir segmentos linguísticos fixos, como textos religiosos, expressões de cumprimento e rimas, habilidade que não demonstravam na produção de unidades novas da fala. O conceito de colocabilidade e o termo colocação foram introduzidos por John Rupert Firth (1890-1960), em seu trabalho Modes of Meaning de 1957, no qual defende que parte do significado de uma palavra está ligado a outras que a acompanham (Tagnin, 1999, p.26; Wanner, 2004, p.96). Embora o linguista inglês tenha influenciado sua geração e cunhado a frase: “Você deve julgar uma palavra por sua companhia.”43, sua contribuição, nessa área, foi negligenciada por várias décadas. Esse aparente desinteresse pode ter se originado da ausência de uma definição clara, por parte de Firth, que se limita a ilustrar o conceito com exemplos, mas, do mesmo modo, pode se dever às restrições práticas, à época, para a realização de estudos textuais (Berry-Roghe, 1972, p. 103). Desde então, diversos pesquisadores têm buscado conceituar o fenômeno da coocorrência, à luz de modernas teorias da Linguística Aplicada, e o estudo ganhou mais espaço com a crescente facilidade que os recursos de informática trouxeram para a busca de palavras em seu ambiente. Halliday, que foi aluno de Firth, recolocou a questão em pauta (1966)44 e seus estudos em sociosemiótica (1978)45 tiveram um grande impacto, para a noção de como e por que realizamos determinadas escolhas discursivas. Para Halliday, o fenômeno da colocação é um elemento crucial para a análise do léxico, uma vez que traz informações probabilísticas importantes para o linguista, cujo interesse _ segundo o autor _ não está apenas no que sabemos sobre a língua, mas, igualmente, no que fazemos com e através dela. O enfoque no aspecto da combinação entre palavras foi, do mesmo modo, privilegiado por Saussure (1916-1966), que se referiu ao sequenciamento de elementos que dispensam análise individual e passam a funcionar como unidades integradas de significação. À época, essa abordagem foi temporariamente abandonada, sob a influência do conceito de competência gramatical de Chomsky (1965), e retomada, quando novas teorias, baseadas na competência comunicativa de Hymes (1972), passaram a ser o mote das pesquisas na área. No cenário atual, em oposição ao antigo enfoque descontextualizado, que deu origem às listas de vocabulário, advoga-se que o significado de uma palavra nova deve ser aprendido em 43 “You shall judge a word by the company it keeps”. Cf. FIRTH, John Rupert. Modes of Meaning: Papers in Linguistics 1934-1951. London: Oxford University Press. 1957. Pp. 190-215. 44 HALLIDAY, Michael A. K. Lexis as a Linguistic Level. In: BAZELL, Charles Ernest; et al. (Eds.). In Memory of J.R. Firth. London: Longman.1966. 45 HALLIDAY, Michael A. K. Language as Social Semiotic. London: Edward Arnold. 1978. 48 seu contexto. A esse aspecto, alguns autores têm se referido como “ambiente/equilíbrio ecológico”, como em Sardinha (2000a, p. 51), para quem “colocação é um tipo de padronização do léxico que diz respeito à associação entre palavras.” (ibid, p. 49). Essa percepção de conjunto facilitaria seu reconhecimento e lembrança, quando há necessidade de recuperá-las na memória, já que “palavras tendem a ter uma estrutura altamente colocacional” (Souza, 2004, p.20). É certo que uma palavra isolada não deve ser vista como uma unidade vazia de conteúdo, pois carrega em si um significado intrínseco, moldado por suas participações em textos anteriores. Entretanto, ao mesmo tempo em que transmite sentidos previamente adquiridos, recebe de um diferente contexto um renovado potencial de significação que emana do novo ambiente e nele se completa. Esse processo interativo é contemplado em Leffa, (2000a, p. 24): [...] a palavra não só assume o significado imposto pelo texto, mas também determina seu significado. [...] Na verdade, o que se tem entre o texto e a palavra é um processo de interação baseado em algumas regras fundamentais, onde o texto, não necessariamente dá um significado à palavra, mas privilegia um de seus possíveis traços semânticos. (Leffa, 2000a, p. 24) Nesse continuado movimento de troca, o significado exato, de qualquer item lexical, é determinado pelo contexto em que se encontra, ou seja, pelas palavras que o cercam e com as quais combina. Um aluno que, inadvertidamente, use a expressão “a great accident”, considerando que “great” pode ser (entre outras opções) “grande, enorme, imenso”, para significar um “grande acidente” _ no sentido de grave, sério_ não forma um texto preciso: deveria usar “dreadful, major, serious, terrible”46. Ou seja, “great” não se coloca com “accident’ nesse contexto. A habilidade nessa delicada combinação é uma das competências mais difíceis de adquirir, principalmente nos aspectos produtivos da escrita e da fala, e um dos mais expressivos indicadores de proficiência por parte do aprendiz de LE. (Leffa, ibid, p.17). Como resultado da falta de uniformidade nas investigações, é possível se encontrar uma ampla variedade terminológica, para rotular duas, ou mais palavras que são produzidas em sequência, sem (grande) esforço por parte do usuário. Para Weinert (1995, p. 182), as diferentes nomenclaturas _fórmula, língua pré-fabricada, língua para pronto uso, pedaços, unidades multivocabulares, expressões fixas, ou semifixas, e outras (formula, pre-fabricated language, ready-made language, chunks, multi-word units, fixed/semi-fixed units)_ referem-se, essencialmente, ao mesmo fenômeno. 46 Sugestões: OXFORD Collocations Dictionary for Students of English. New York: Oxford University Press. 2002, p.3. 49 Schmitt e Underwood (2004), por exemplo, adotam a expressão “sequências formulaicas” (formulaic sequences) para rotular sequenciamentos que podem variar profundamente, de simples expressões para preencher o discurso (fillers), como “kind of”, ou exercer funções, “I’m sorry”, até provérbios, “Barking dogs seldom bite”, passando por colocações, “make a mistake”, e expressões idiomáticas, “to pull someone’s leg”. Boers (2006, p.257) assume posição semelhante e nomeia, indistintamente, colocações e expressões idiomáticas, como “formulaic sequences”, sob o argumento de que ambas pertencem à categoria de “expressões multivocabulares padronizadas” (standardized multiword expressions) da língua (ibid, p. 246). Sardinha (2000b, p. 50-1) opta por “chunks”, termo que traduz como “porções”. Para o autor, a denominação engloba de forma efetiva diversos padrões de colocabilidade léxicogramaticais, além de ser uma nomenclatura amplamente utilizada e reconhecida na área de ensino/aprendizado de LE. Assim como há divergências a respeito da nomenclatura mais apropriada, a natureza complexa e, ao mesmo tempo, fugidia, da combinalidade entre palavras dá origem a uma variedade de percepções teóricas. Wray (2002, p.9), por exemplo, acredita que nenhuma conceituação conseguiu, até o momento, descrever, de modo amplo e indiscutível, a essência do fenômeno da coorrência, que define de forma abrangente como: [...] uma sequência, contínua ou não, de palavras ou outros elementos, que é, ou aparenta ser, pré-fabricada: ou seja, armazenada e recobrada da memória em sua totalidade no momento em que é utilizada, ao invés de estar sujeita à produção, ou à análise pelo sistema gramatical da língua.47 (Wray, 2002, p. 9) Outros autores, entretanto, mantêm uma postura crítica a respeito dessa generalização, já que o grau de estabilidade entre as palavras pode ser percebido de forma distinta, por diferentes indivíduos. Essa diferença de percepção é visível especialmente se contrastarmos aprendizes de LE que tendem a perceber unidades lexicais, palavra por palavra, com falantes nativos, para quem as fórmulas transmitem, mais facilmente, um todo de significado (Boers, op.cit., p. 247). Para Howarth (1998, p. 25), a questão da colocabilidade se trata de um fenômeno que, examinado atentamente, revela-se muito mais complexo e diversificado do que, à primeira vista, pode se supor. O linguista argumenta que uma excessiva flexibilidade, no uso indistinto da terminologia, pode induzir a perigosos equívocos de conceituação e sugere que as 47 “[...] a sequence, continuous or discontinuous, of words or other elements, which is, or appears to be, prefabricated: that is, stored and retrieved whole from memory at the time of use, rather than being subject to generation or analysis by the language grammar.” (Wray, 2002, p. 9) 50 expressões “linguagem formulaica”, ou “fórmulas”, não sejam usadas como termos guardachuva que englobem, em uma única categoria, todo tipo de combinações. O autor argumenta: A sugestão de que ‘linguagem formulaica’, em oposição à língua gerada segundo regras, é uma categoria única, que abarca todas as características significativas de combinações de palavras, pode levar a uma impressão equivocada. Na falta de critérios formais para a identificação e categorização não está claro se ‘linguagem formulaica’ inclui ‘pedaços pré-fabricados’ tais como colocações e expressões idiomáticas. 48 (Howarth, 1998, p.25). A partir da análise das principais definições encontradas na literatura, Partington (1998, p. 15-16) as classifica segundo três critérios, ou enfoques distintos: i) Enfoque textual: nesse caso, o fenômeno é definido com base na linearidade da língua, pois decorre da existência de um item lexical junto a outro em um texto. Essa é a posição em Sinclair (1991, p.170)49: “Colocação é a ocorrência de duas ou mais palavras, distantes um pequeno espaço de texto umas da outras.” Hoey (2005, p.3) acusa a definição de ser um conceito bastante limitado que, a seu ver, não reflete a abordagem feita pelo próprio Sinclair e propõe o termo “coocorrência lexical” (lexical coocurrence), para se referir à ideia de proximidade física entre palavras. ii) Enfoque psicológico, ou associativo: a definição se apoia na intuição linguística do falante, que, por meio de exposição, desenvolve a capacidade de escolher coorrências usuais na língua, habilidade a que Firth (1957) se refere como “expectancies” (Partington, op.cit., p.16). Esse é o enfoque adotado por Aitchinson (2003, p.91) para quem: “Aprende-se o significado de uma palavra, provavelmente, ao se notar as palavras que vêm juntas.” 50 O mesmo tratamento ocorre em Leech, (1974, p. 20) 51: “O sentido colocacional consiste das associações que uma palavra faz, por conta dos sentidos das outras palavras, que tendem a ocorrer em seu ambiente”. (iii) Enfoque estatístico: essa abordagem é a preferida por aqueles que transitam na área da Linguística de Corpus, como em Moon (1998, p. 26): “O fenômeno da colocação denota coorrências que se repetem de forma frequente, ou são estatisticamente significativas, haja, ou 48 “It may give a misleading impression to suggest that 'formulaic language' is a single category, to be contrasted with language generated by rule, and encompassing all significant features of word combinations. In the absence of formal criteria for identification and categorization it is not clear whether 'formulaic language' includes such 'prefabricated chunks' as collocations and idioms.” (Howarth, 1998, p. 25) 49 “Collocation is the occurrence of two or more words within a short space of each other in a text.” (Sinclair, 1991, p.170). 50 “Word-meaning is probably learned by noting the words which come alongside”. (Aitchinson, 2003, p. 91) 51 “Collocational meaning consists of the associations a word acquires on account of the meanings of words which tend to occur in its environment.” (Leech, 1974, p. 20). 51 não, laços semânticos especiais entre os itens colocacionais.”52. Igualmente em Hoey (1991, p. 6), para quem “Colocação tem sido o nome dado à relação que um item lexical tem com itens que aparecem com maior probabilidade do que o mero acaso em seu contexto (textual)” 53 . Posteriormente, Hoey (2005, p. 4) avaliou o conceito unicamente estatístico como limitado e insatisfatório, por não esclarecer sobre o fenômeno em si, ou o seu propósito, e passou a definir colocação como “[...] uma propriedade do léxico mental de um indivíduo” 54. A variedade de critérios se origina da falta de regras que expliquem o mecanismo da colocabilidade. Benson (1989, p. 4) destaca a imprevisibilidade do fenômeno e defende que: “Colocações deveriam ser definidas não apenas como ‘combinações recorrentes de palavras’, mas como ‘combinações arbitrárias recorrentes de palavras.”55 (itálico nosso). Na interpretação de Wanner (2004. p. 98), uma colocação é uma combinação de itens lexicais, de natureza binária e lexicalmente restrita, não regida por regras universais de restrição semântica. O autor ilustra a natureza idiossincrática do conceito, com a colocação inglesa usual para significar um chá forte, com muita cafeína: “strong tea” e não “*powerful tea”, embora ambos os adjetivos (strong/powerful) possam ser traduzidos como “forte”. Tagnin (1989, p. 82), para quem colocabilidade é “o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressão numa dada língua”, combina os critérios citados por Partington (op.cit.) e define colocações como “uma combinação lexical recorrente, não idiomática, coesa, cujos constituintes são contextualmente restritos e de coocorrência arbitrária.” (Tagnin, 1999. p. 41). Em obra posterior (2002, p.193-4), a autora distingue entre fórmulas ou colocações, as quais define como “palavras que coocorrem em freqüência maior do que caso se tratasse de uma combinação aleatória” e expressões idiomáticas, que conceitua como “[...] expressão cujo significado total não corresponde à soma dos significados individuais de seus componentes.” Essa distinção é, igualmente, defendida por Bahns (1993, p. 57), que avalia colocações como palavras que refletem seu significado intrínseco, frequentemente utilizadas juntas, de forma natural, com diferentes graus de ligação e peso psicológico, como, por exemplo, “fly a kite” (soltar pipa). Já, expressões idiomáticas são conceituadas como relativamente imutáveis, cuja tradução não reflete os significados distintos de seus componentes, como a expressão “to be on cloud nine”, que significa “estar muito feliz”, e nada tem a ver com a tradução literal, algo como “*estar na nuvem nove”. 52 “Collocation typically denotes frequently repeated or statiscally significant co-occurrences, whether or not there are any special semantic bonds between collocating items.” 53 “Collocation has been the name given to the relationship a lexical item has with items that appear with greater than random possibility in its (textual) context.” (Hoey, 1991, p. 6-7). 54 “[...] a property of the individual’s mental lexicon.” Hoey (2005, p. 4) 55 “Collocations should be defined not just as ‘recurrent word combinations’, but as ‘arbitrary recurrent word combinations’” (Benson,1989, p. 4) 52 Encerrando o debate sobre o tema da definição, considerando as leituras realizadas e levando em conta nossa visão conceitual sobre o fenômeno, tomamos colocações como o resultado da maneira como as palavras se combinam em uma língua, de forma recorrente e arbitrária, de modo a produzir um texto que soe natural, ou seja, que não cause estranheza ao falante nativo. Entendemos, contudo, que essa combinalidade pode ocorrer em diferentes graus de coesão, como mostramos adiante. O uso da tecnologia aprofundou a discussão acerca do melhor caminho a se adotar para a análise e a classificação de coorrências. Para Sinclair (2001), a falta de um critério consensual deve ser solucionada, através do levantamento de corpora, baseado em medidas estatísticas, que espelhem a frequência de uso, processo que, como já foi abordado, tem sido imensamente facilitado pela popularização do computador. Howarth (1998, p.26) reconhece a contribuição da informática, mas faz importantes restrições a uma abordagem meramente quantitativa que, a seu ver, não considera as sutis gradações de significado e os aspectos psicológicos envolvidos na questão da colocabilidade. O pesquisador argumenta que esse tipo de análise não leva em conta o fator da competência e destaca que processos que se baseiam unicamente na frequência correm o risco de apontar uma relevância, equivocada, de combinações altamente transparentes (que exemplifica com have children), frequentes, apenas, em função do tópico específico da amostra analisada. Em contrapartida, o pesquisador defende a necessidade de um sistema de categorização após o estabelecimento de características distintas. Para tal, acredita ser preciso uma análise criteriosa, que considere a existência de tipos fraseológicos diversos. Essa categorização tipificaria os itens lexicais combinados segundo características intrínsecas à sua própria natureza, considerando-se a observação de diferenças entre a produção de nativos e não nativos. Howarth (ibid, p.27) cria uma proposta de classificação hierárquica de segmentos fraseológicos que leva em conta a forma interna das combinações, sua função externa, especialidade semântica, restrições sintáticas e o maior ou menor grau de comutabilidade dos elementos lexicais envolvidos (Howarth, ibid). A proposta se encontra no Quadro 4, e o modelo original em inglês pode ser visto em Anexo 2 neste trabalho. 53 QUADRO 4: Categorias Fraseológicas (Howarth, 1998, p. 27) Combinações de palavras expressões funcionais não idiomáticas idiomáticas unidades compostas compostos gramaticais não idiomáticos idiomáticos compostos lexicais não idiomáticos idiomáticos Para o pesquisador, as expressões funcionais são identificadas levando-se em consideração o papel que exercem no discurso, ao passo que as unidades compostas exercem uma função sintática na frase, ou oração em que se inserem, e podem ser subdivididas nas categorias gramatical e lexical. As colocações lexicais se constituem de duas classes de palavras: verbo + substantivo, ou adjetivo + substantivo. Já aquelas formadas por: preposição + substantivo, ou adjetivo + preposição se inserem na categoria de colocações gramaticais. A subdivisão que categoriza as sequências como idiomáticas, ou não idiomáticas, configura-se, segundo a proposta do autor em pauta, em um contínuo de estabilidade, conforme ilustrado no Quadro 5: QUADRO 5: Contínuo colocacional (Howarth, 1998, p. 28) combinações livres Compostos lexicais: blow a trumpet verbo + subst. Compostos gramaticais: preposição under the table + subst. combinações restritas blow a fuse under attack idiomas figurativos blow your own trumpet under the microscope idiomas puros blow the gaff under the weather 54 Seguindo a conceituação sugerida por Howarth (ibid. p.28), as combinações livres, localizadas em um dos extremos do contínuo, consistem de elementos usados em seu sentido literal, e aceitam livre substituição. As restritas apresentam um dos componentes usados em sentido figurativo e têm uso mais limitado, como o nome sugere. O autor propõe sua subdivisão em três categorias, na medida em que houver uma variação, tanto no desvio do significado literal, quanto no grau de constância: as mais literais e menos fixas fazem limite com as combinações livres, ao passo que as mais estáveis, menos sujeitas à tradução literal e à comutabilidade, localizam-se na fronteira com os idiomas. Idiomas figurativos têm um sentido metafórico e uma interpretação literal, ao passo que idiomas puros se encontram no extremo oposto das combinações livres. Esses são os mais opacos, pois não se pode deduzir seu significado, considerando-se o sentido isolado de seus componentes, os quais não aceitam permuta. Embora defenda a necessidade de uma tipificação, Howarth reconhece que dificuldades importantes estão envolvidas na aplicação das conceituações propostas. Não se pode delimitar, com segurança, a divisão entre uma e outra categoria, já que o critério de comunicabilidade é significativamente sujeito a interpretações pessoais e componentes psicológicos (Nesselhauf, 2003, p.224). O posicionamento de uma colocação pode, ainda, alterar-se, adquirindo um maior, ou menor grau de convencionalidade. Essa transformação ocorre, quando, ao ser reiteradas vezes utilizada por uma comunidade linguística, a expressão se consagra pelo uso, ou o movimento contrário pode ocorrer, quando a combinação perde força e deixa de fazer parte do elenco de itens convencionais da língua. Essa instabilidade é ilustrada em Louro (2001, p. 24), pela expressão “vaca louca” (mad cow): Essa colocação foi cunhada com a intenção de nomear popularmente a doença cujo nome científico em português é Encefalopatia Espongiforme Bovina [...]. A comunidade em geral adotou esse nome popular, e pode-se dizer que mad cow e vaca louca já são colocações fixas, consagradas ou convencionais. Louro (2001, p. 24) Em um movimento oposto ao caso exemplificado por Louro, igualmente em português, a expressão “o samba do crioulo doido” foi, durante um período, muito usada para indicar confusão, falta de clareza. Hoje, já não é mais reconhecida pelas novas gerações, pois sua origem _ um samba popular da década de 60 _ perdeu-se na memória do povo56. O mesmo ocorreu com a expressão inglesa, “to rain cats and dogs”, que surgiu na era medieval, quando gatos e cachorros se empoleiravam nas vigas dos tetos e de lá pulavam, quando chovia muito. 56 “O Samba do Crioulo Doido”. Letra de Sérgio Porto, conhecido como Stanislaw Ponte Preta, e gravado pelo Quarteto em Cy em 1968. Exemplo a critério desta autora. 55 Hoje, é mais usual que se diga “It’s pouring!”, para se fazer menção à chuva forte. Ou seja, o todo de significado pode, eventualmente, tornar-se mais ou menos claro, em função da própria natureza dinâmica da linguagem verbal. A despeito da reconhecida dificuldade em se estabelecer um critério consistente de tipificação, a proposta de um construto evolutivo reflete a busca por um modelo de análise, aplicável aos diferentes níveis do fenômeno colocacional, e tem sido sugerida por outros autores. Benson, Benson e Ilson (1997) distinguem três diferentes graus de coesão: no menos acentuado estão as combinações livres, quando as palavras podem ser encontradas separadamente, combinadas com diversas outras, e não se constituem em itens lexicais. Nesse caso, a gramaticalidade é a única restrição à diversidade de combinações. Por exemplo, na expressão “buy + a car” (comprar um carro), é possível usar o verbo “buy” associado a diversos outros complementos (a house, a dress, a book, presents), assim como muitos outros verbos (sell, have, look at, love) podem se unir ao substantivo “car”. No extremo oposto, encontram-se as expressões idiomáticas, totalmente fixas, e que não espelham o significado das palavras individualmente, como por exemplo, “to pull one’s leg”, que literalmente significaria “puxar a perna de alguém”, mas cujo sentido real é “implicar com alguém”. Entre esses extremos se situam as colocações propriamente ditas. Embora os autores não mencionem as subdivisões tipificadas em Howarth (op.cit.), há, necessariamente, um aspecto gradativo no grau de coesão entre os componentes desse grande grupo. Sugerimos o modelo que se encontra no Quadro 6, com exemplos a nosso critério, como ilustração da proposta de categorização de Benson, Benson e Ilson (op.cit): QUADRO 6: Contínuo de colocabilidade (Benson, Benson e Ilson, 1997, p. 34) ―――X―――――――――X―――――――――――X――― ↓ Colocações livres take a book see a boy ↓ ↓ Colocações Expressões idiomáticas do a favour make a visit kick the bucket take up a course As colocações, localizadas no meio do contínuo, são os itens que acreditamos apresentar maior dificuldade para o aprendiz, por não serem totalmente livres nem, tampouco, completamente fixos. São sequências que funcionam segundo uma relação de parceria que 56 permite a combinação com outras palavras. É comum que os alunos se ressintam, por exemplo, da falta de regras que regulem o uso dos verbos “do” e “make”, ambos traduzidos como “fazer”: como ilustrado, diz-se “make a visit” (fazer uma visita), mas “do a favour” (fazer um favor). Para isso, embora possa se tentar uma certa padronização de conceitos, não há regras a seguir, é preciso que o aluno memorize, praticamente, caso a caso. As expressões idiomáticas equivalem aos “idiomas puros “de Howarth (op.cit.), por apresentarem um alto grau de opacidade no seu sentido: “kick the bucket” não quer dizer “chutar o balde”, como a tradução literal pode levar a crer, mas “abandonar, desistir, deixar de lado possíveis consequências ruins”, e “take up a course” não significa “apanhar, pegar um curso”, mas “frequentá-lo”. Sinclair (1997, p.109-10) menciona essa gradação com os termos, princípio da livre escolha e princípio idiomático. O primeiro determina que a parceria entre as palavras ocorre a partir de uma possibilidade quase ilimitada de escolhas por parte do usuário, restritas apenas pelas regras da gramaticalidade da língua. O segundo diz respeito à construção textual, iniciando-se pelo uso de unidades idiomáticas pré-fabricadas que, embora pareçam analisáveis em elementos distintos, constituem um todo de significado. Para o autor, ambos os princípios se articulam e se alternam, de forma dinâmica, no processo de construção de um texto coerente e coeso. Lewis (1996, p.93; 1997, p.8) propõe uma abordagem semelhante de gradação e classifica o fenômeno de coocorrência segundo um espectro que abrange três categorias distintas: colocações livres, colocações relativamente fixas, que permitem um número limitado de combinações e as totalmente fixas, unidades lexicais consagradas e que, por não permitirem alteração em seus sequenciamentos, configuram-se como expressões idiomáticas. Para o autor, unidades muito fortes, como “drug addict” (viciado em drogas), podem ser, até mesmo, consideradas palavras compostas (Lewis, 1997, p. 31). Considerando a conveniência de uma tipificação, quanto ao grau de constância e comutabilidade das colocações, adotamos o conceito sugerido por Howarth (op.cit.), para a categorização das combinações selecionadas neste estudo (ver 5.4 neste trabalho). No que tange à sua classificação, seguimos o modelo adotado em Tagnin (2002, p.195 e 1998, p.41-2) e Wanner (2004, p.98-9). Segundo o critério proposto, as colocações são formadas por dois itens lexicais denominados de base _ geralmente um substantivo, é aquele que determina, tem caráter autônomo e possui maior valor semântico _ e colocado, a unidade determinada, que acrescenta características semânticas ao valor da base e cuja categoria gramatical dá nome à colocação. Dessa forma, é possível montar os seguintes grupos: 57 a- substantivo+substantivo= colocação nominal (fire alarm) b- substantivo+adjetivo= colocação adjetiva (historic event) c- substantivo+verbo= colocação verbal (catch a cold) d- adjetivo + advérbio / verbo + advérbio= colocação adverbial (wickedly funny / blankly gaze) e- adjetivo + preposição = colocação preposicional (similar to) Em take a walk, por exemplo, a base é walk e o colocado é take, portanto, esta é uma colocação verbal, categoria das unidades usadas nesta pesquisa, à exceção de um dos itens que se insere na categoria das colocações adjetivas, como a ser visto adiante. A despeito das diferentes definições e nomenclaturas propostas, conforme abordado, a noção de coorrência entre unidades lexicais e o termo colocação ganharam, definitivamente, visibilidade nos estudos da área. Do mesmo modo, parece haver um significativo consenso, sobre a conveniência de tratamentos instrucionais que orientem o ensino e o aprendizado de vocabulário a partir da noção de colocabilidade, de forma a promover o desenvolvimento de uma aptidão específica. Essa habilidade recebeu uma terminologia particular e uma nova dimensão com os estudos de Hill (1999) e Celce-Murcia (2001) que cunharam, respectivamente, as expressões competência colocacional e competência formulaica, para se referir à necessidade de uma proficiência no tocante à combinação de palavras. A necessidade desse tipo de competência para o aprendiz de LE parece clara: “A observação de padrões é tida como de suma importância no ensino de língua estrangeira, pois a sensação de ‘naturalidade’ na fala ou na escrita depende em grande parte do emprego de padrões.” (Sardinha, 2000b, p. 51). Wray (2006b) é de opinião que esses componentes que se colocam juntos são previsíveis na forma e, aparentemente, armazenados na memória em porções, fixas ou semifixas. A autora defende que, ao fazer uso dessas pequenas unidades lexicais pré-fabricadas, o aprendiz concilia seu conhecimento de estruturas gramaticais com a construção de novos textos, permitindo um processo comunicativo, ao mesmo tempo, fluente e idiomático. Uma possível relação entre competência colocacional e fluência é, igualmente, vislumbrada por outros autores: Louro (2001, p. 61), por exemplo, acredita que “...conhecer e usar as colocações resulta em fluência na comunicação.” e Hill (op.cit., p.5) defende que a naturalidade e a velocidade da fala de falantes nativos se devem, em grande parte, ao conhecimento de porções fixas da língua, entre essas, as colocações: “quando não conhecem as colocações, que expressam, exatamente, o que querem dizer, os alunos criam enunciados mais longos que aumentam a probabilidade de novos erros.”57. O aspecto idiomático da língua 57 “When students do not know the collocations which express precisely what they want to say they create longer utterances which increase the likelihood of further errors.” (Hill, 1999, p. 5). 58 produzida por nativos é, ainda, destacado por Howarth (1998, p. 24) para quem “a competência linguística do falante nativo tem um amplo e significativo componente fraseológico.”58 Para Porto (1998), as falhas da abordagem estrutural, que não encontrou um meio de permitir a utilização criativa das regras gramaticais, e as limitações da abordagem comunicativa, que disponibiliza um vasto repertório sem tornar o aprendiz gramaticalmente competente, podem ser solucionadas por um equilíbrio a ser alcançado com o uso de sequências formulaicas, termo que aqui utilizamos, de modo abrangente, como em Schmitt e Underwood (op.cit.), e Boers (op.cit.). Para a autora, esses “blocos” de sentido, incluindo aspectos estruturais, como voz passiva e orações condicionais, permitem ao aprendiz maior fluência, mesmo nos níveis iniciantes, contribuindo para a sensação prazerosa de competência linguística, ao facilitar a progressiva sofisticação de recursos fraseológicos. Nosso estudo se apoia, expressivamente, na visão de Michael Lewis (1993, 1997), que preconiza a percepção, a memorização e a produção da língua-alvo, através de unidades lexicais em blocos significativos, consagrados pelo uso, sem necessidade de sua decomposição. Uma sensibilidade para o processo da fala em blocos pode ajudar o aprendiz de diversas maneiras: ao identificar unidades para a aprendizagem, ao relacionar o vocabulário à gramática, ao processar a língua que escutam, planejar e produzir a língua fluentemente eles mesmos”. 59 (Lewis, 1997, p. 158) Pensar a língua, a partir desse enfoque, significa priorizar o papel das unidades lexicais, principalmente daquelas que acontecem em sequência, como é o caso das colocações. Vale ressaltar que o pesquisador não inovou, ao propor que o vocabulário seja percebido, ensinado e adquirido em blocos de significado: ao apresentar sua proposta (The Lexical Approach, 1993), Lewis faz menção a vários autores que já haviam escrito sobre o assunto, entre eles Bahns (1993), McCarthy (1990), Nattinger e DeCarrico (1992) e Pawley e Syder (1983). Seu grande mérito, acreditamos, encontra-se na maneira como combinou teoria e prática, sistematizando e estruturando a dimensão do vocabulário no ensino de LE. Nesse contexto, subscrevemo-nos à proposta de Lewis (1997, 1993), por colocar o léxico em evidência e destacar a necessidade de que o aprendiz tenha sua atenção despertada para a idiomacidade da língua-alvo, aprendendo “a dizer como se diz”. Essa convencionalidade está profundamente relacionada à questão da coocorrência entre palavras, assunto que, devido à ampla diversidade de fontes na literatura, foi, sucintamente, condensado nesta seção. 58 59 “Native speaker linguistic competence has a large and significant phraseological component.” (Howarth, 1998, p. 29). “Sensitivity to chunking in spoken discourse helps learners in many ways: identifying units for learning, relating vocabulary to grammar, processing language they are listening to, planning and producing language fluently themselves.” (Lewis, 1997, p.158). 59 2.4- CONSIDERAÇÕES FINAIS No âmbito de língua materna, o aprendizado de palavras novas é, em geral, o único aspecto que, após certo estágio de proficiência, pode continuar, indefinidamente, a ser aperfeiçoado (Scaramucci, 1997). Essa constatação dimensiona a profunda complexidade que caracteriza o processo de aquisição de vocabulário em LE. Seguimos Leffa (2000a, p.19), quando o autor avalia que “a língua não é só léxico, mas o léxico é o elemento que melhor a caracteriza e a distingue das outras.”. Contudo, apesar de o senso comum, a tradição e a literatura valorizarem o conhecimento de um vocabulário rico e criativo, tanto para usuários nativos como não nativos, o ensino do léxico tem sido, em geral, estigmatizado como subproduto de tratamentos que priorizam a gramática, ou outras habilidades linguísticas. Notadamente, aspectos relativos à estrutura do fenômeno linguístico são mais visíveis e suscetíveis à análise e à observação, do que fatores pertinentes à área de vocabulário. Essa peculiaridade explicaria, na concepção de Farghal e Obiedat (1995), a preferência da maioria dos linguistas por enfoques estruturais. Na visão dos pesquisadores, contudo, a fronteira entre sintaxe e léxico é muito mais sutil e menos relevante do que, a princípio, se acredita. Dessa forma, sugerem a existência de um contínuo dinâmico, que vai da linguagem pré-construída, moldada por padrões sintáticos, a um extremo oposto, onde o vocabulário leva a língua a modelos totalmente originais e o sentido potencial se realiza a partir do contexto. Parece-nos que essa fluidez entre léxico e gramática estabelece uma posição conciliatória que reflete, de modo realista, a contínua interação entre ambas as dimensões linguísticas. Como visto, no que tange a procedimentos, a ênfase tem recaído em abordagens implícitas, especialmente por meio da prática de leitura. Se, por um lado, a validade desse enfoque pedagógico é inegável, pois procedimentos instrucionais têm um limite para o que podem cobrir, por outro, parece crucial que haja intenção consciente, por parte do aprendiz, de aprender palavras novas (Leffa, 2000a; Laufer e Hill, 2000; Souza, 2004 e 2007; Souza e Braga, 2007), fator desconsiderado no tratamento indireto. Para Leffa (op.cit., p. 35-6): Para haver aprendizagem é necessário um esforço de atenção, não só para o significado da palavra mas também para a sua forma. [...] A aprendizagem incidental não é inteiramente ‘incidental’ e, para ser bem sucedida, depende de vários fatores, nem sempre presentes nas tarefas executadas pelos aprendizes. (Leffa, 2000a. p. 35-6) Em consequência, advogamos que uma abordagem indireta tem se provado insatisfatória, na medida em que há limites, para o que se pode esperar de técnicas fundamentadas em aprendizado incidental, particularmente no que diz respeito a colocações e expressões idiomáticas (Arnauld; Savignon, 2003). É nossa posição que, embora reconheçamos 60 a validade de leituras extensivas para o aprimoramento do vocabulário, esse tratamento apresenta importantes restrições quanto ao seu efeito, dentre elas a dificuldade em se aferir, adequadamente, os resultados do processo. Vale igualmente considerar que, diferentemente do que ocorre no caso de LM, a aquisição de LE se inicia com a apresentação direta de palavras novas e “[...] é só mais tarde, quando o aluno já possui um vocabulário de cerca de 3.000 a 5.000 palavras, que o processo de aprendizagem incidental tem início.” Leffa (2000a, p. 35). A despeito da trajetória irregular que a questão lexical tem trilhado, delineia-se, indiscutivelmente, um consenso a respeito de sua importância no processo de aquisição. Creditamos a Lewis (1993, 1997) uma contribuição definitiva para essa mudança, ao salientar a necessidade do foco em blocos significativos da língua. A Abordagem Lexical minimiza o papel da criação por parte do usuário, já que sua criatividade estaria em conectar esses blocos de unidades lexicais consagradas pelo uso. Lewis (1997, p.32) justifica, ressaltando que “a conscientização lexical constantemente nos lembra de que somos menos criativos em nosso uso da língua do que gostamos de pensar.” 60 Independentemente de filigranas teóricas, o que nossa pesquisa se propõe a realizar é buscar opções que sirvam de instrumento efetivo para o professor, ampliando a gama de recursos que possam facilitar e aperfeiçoar o processo de ensino/aprendizado. A maioria dos estudos tem priorizado analisar a extensão do léxico adquirido pelos alunos e enfoca, portanto, o produto. Embora reconhecendo a relevância, inequívoca, desse tipo de investigação, acreditamos ser igualmente necessário que se considere o processo, ou seja, é preciso avaliar que resultados esse ou aquele procedimento metodológico, empregado em sala de aula, pode surtir ou favorecer. Como fruto de nossa vivência pessoal e resultado das leituras realizadas para esta investigação, defendemos um tratamento intencional, continuado e sistematizado, para o ensino e o aprendizado do vocabulário, com foco especial no aspecto da coocorrência entre palavras. Em conjunção com outros procedimentos, acreditamos que o uso de recursos, com amparo na multimodalidade, pode ser um valioso instrumento para os profissionais da área. É esse o tópico do próximo segmento, onde buscamos analisar o fenômeno da multimodalidade, sua dimensão no mundo atual e possíveis implicações para o cenário de aquisição de língua estrangeira. 60 “Lexical awareness constantly reminds us that we are less creative in our language use than we like to think.”(Lewis, 1997, p. 32) 61 CAPÍTULO 3 - MULTIMODALIDADE: UM CONCEITO E SEUS DESDOBRAMENTOS Os ambientes pedagógicos de aprendizes de L2 _ incluindo ambientes digitais e a sala de aula _ são sistemas complexos. Ao ignorar o papel da visualidade não linguística desses ambientes, professores de língua e pesquisadores podem estar desconsiderando um elemento essencial no processo de aprendizado cultural e linguístico. (Petrie, 2005, p. 98)61 Já em 1985, Pinker abordava, em Visual Cognition, a necessidade de analisar os processos cognitivos envolvidos na leitura e compreensão de insumos visuais e destacava a dificuldade de se representar, por meio de um construto teórico, a complexidade envolvida nessas operações. De lá para cá, observa-se uma atenção crescente em relação ao tema, até chegarmos a Kress e Van Leeuwen, pesquisadores que, definitivamente, colocaram o assunto em foco. Kress e Van Leeuwen (2006; 2001) abordam a representação visual, como produto da sociedade e da comunidade em que esta se insere, ou seja, a imagem é percebida pelos autores, como fruto dos valores e princípios de um determinado grupo cultural. Em consequência, propõem que sua análise leve em conta as variáveis e especificidades culturais e ideológicas da sociedade que gerou aquela representação, meio onde circula e é consumida. Dessa forma, se a expressão social da imagem e sua crescente presença no mundo atual são inegáveis, acreditamos pertinente que professores e pesquisadores de aquisição de linguagem se voltem para a maneira como as representações imagem e prosa linear interagem e dialogam em ambientes específicos. A esse processo interativo entre elementos visuais e textuais Johns (op.cit.) se refere como VTI _ Verbal Textual Interaction. O conceito foi proposto no relato de um estudo de caso aplicado a uma aluna de Economia, que analisou a interação entre texto linear e gráficos, texto linear e figuras, e texto linear e desenhos. A participante revelou clara preferência pelas 61 The learning environments of second language learners _including digital and classroom _ are intricate systems. By ignoring the role of the nonlinguistic visuality of these environments, language teachers and researchers may be disregarding an essential element in culture and language learning. (Petrie, 2005, p. 98) 62 representações visuais, justificando que tinha “preguiça” em relação ao segmento em prosa. Quando solicitada para desenvolver um trabalho com elementos visuais e texto escrito, começou pelos gráficos e, só então, passou à parte escrita, alegando que o segundo deveria explicar o primeiro, indicando perceber os elementos imagéticos como os mais relevantes, condutores do significado. Baseada na investigação, a autora recomenda a inclusão de gráficos, mapas, plantas, desenhos técnicos e outras representações de natureza visual em cursos de língua inglesa, para fins acadêmicos (EAP) voltados para profissionais que frequentemente lidam com esse tipo de dados. Em função desses e de outros relatos, a partir da constatação de que a linguagem visual se tornou inerente às expressões culturais, Kress (2000, p.339), Royce (2002, p.201) e Stein (2000, p.335) defendem a utilização de recursos multimodais, ou recursos de multimídia, na sala de aula. Há diferentes percepções sobre o que seja multimídia: para alguns o conceito se refere, exclusivamente, à informação recebida via tela de computador, com o uso de imagem, textos, som via autofalantes, gráficos e animação. Para outros, apresentações ao vivo de um palestrante, ou artista que conjuguem texto falado, imagens, ou música podem ser consideradas multimediáticas e, nesse caso, um simples programa de televisão se inclui nessa categoria, na medida em que combina som e imagem com a finalidade de transmitir uma mensagem única. Essa perspectiva é inerente à própria origem etimológica da palavra, formada pela justaposição de multi + media (plural de medium), ou seja, múltiplos meios e, apenas posteriormente, o suporte informático se associou ao conceito. Desde o início da década de 60, o termo tem sido utilizado em contextos variados, por meio de expressões diversas, tais como: apresentação de multimídia, software educativo de multimídia, pacote multimídia, sistemas multimídia, computador multimídia, entre outros. A palavra também tem sido usada por editoras para designar obras publicadas em suporte ótico, como DVDs e CD-ROMs, que conjugam texto, som, imagem, vídeo e/ou música e proporcionam alguma forma de interação com o conteúdo proposto. A diversidade não se restringe à ideia veiculada pelo termo, mas se reflete, igualmente, na grafia e na pronúncia. Nesse âmbito, encontramos tanto os termos multimédia, como multimídia, o primeiro mais utilizado em português de Portugal e o segundo mais usual na versão brasileira, segundo Carvalho (2002), especialista em Tecnologia Educativa. Para a autora, o conceito atrelado à palavra se encontra em constante evolução, resultado das contínuas mudanças tecnológicas presenciadas nas últimas décadas (ibid, p. 245). A despeito dos diversos contextos e variadas nomenclaturas, a crescente importância da ideia deu origem, em 1995, à criação de um grupo voltado especialmente para o tema, o 63 SIGMM (Special Interest Group on MultiMedia). Para os integrantes, Multimídia diz respeito a um campo interdisciplinar não limitado, que engloba múltiplas áreas, como as ciências da computação, a engenharia, a educação, a comunicação, a gestão e as artes. No contexto nacional, pesquisamos o uso do termo multimídia em cursos universitários e politécnicos e o encontramos associado a três grandes áreas: Comunicação, Arte e Informática, com a finalidade de nomear estudos voltados tanto para o processo criativo, quanto para o conhecimento puramente técnico. De forma geral, o vocábulo se encontra associado aos sistemas que comportam mais de um tipo de medium e permitem combinar novos formatos de suporte audiovisual com vista à comunicação. Mais recentemente, a acepção da palavra costuma estar ligada à noção de interatividade que permite ao usuário controlar o acesso e o manuseio da informação, para adequá-los ao seu próprio ritmo e necessidade. Na Enciclopédia Britânica Digital, por exemplo, é possível se encontrar a definição de “Multimídia Interativa” (Interactive Multimedia) como o sistema eletrônico que permite ao usuário controlar, combinar e manipular diferentes tipos de mídia.62 Para fins do presente trabalho, tomamos a definição cunhada por Mayer (2006, p.2): “Defino multimídia como a apresentação de material que faz uso tanto de palavras como de gravuras”63. Na acepção do autor, “palavras” incluem todo material verbal, apresentado oralmente, ou por escrito, e “gravuras” são material pictórico, tanto na forma estática, encontrada em gráficos, fotos, ou mapas, como, também, animação, ou vídeo. O pesquisador avalia o termo como muito abrangente e o aborda segundo três perspectivas distintas: (i) os meios, no tocante a aparelhos utilizados para apresentar a mensagem, como a tela do computador, gravadores de vídeo e de áudio, ou projetores; (ii) os modos de apresentação, isto é, os formatos utilizados para se apresentar a mensagem: texto, imagem, animação, som; (iii) os sentidos implicados na recepção do texto multimediático, isto é, o receptor deve ter dois, ou mais sentidos envolvidos na descodificação da mensagem. Mayer (ibid) chama, ainda, a atenção para o fato de que, em língua inglesa, a palavra “multimedia” pode ser um substantivo, ou um adjetivo. No primeiro caso, refere-se à tecnologia propriamente dita, empregada para apresentação do material. Quando utilizada na função de adjetivo, empresta qualidade a conceitos, tais como: aprendizado através de recursos de multimídia (multimedia learning) e apresentação, ou mensagem instrucional, veiculada através de multimídia (multimedia instructional presentation/message). 62 63 Disponível em: http://info.eb.com/. “I define multimedia as the presentation of material using both words and pictures.” Mayer (2001, p. 2) 64 Ao longo deste trabalho, utilizaremos a palavra “multimídia”, na função de substantivo, para nos referirmos aos suportes tecnológicos que envolvam a conjunção de duas, ou mais linguagens (palavras, imagem, música). Quando na função de adjetivo, optamos por “multimediático(a)”, ou a locução adjetiva “de multimídia”. Por exemplo, “recursos multimediáticos”, ou “recursos de multimídia”. Ao mencionarmos essa variedade de instrumentos, no cenário de aquisição de LE, referimo-nos a filmes, vídeos, comerciais e programas de televisão dos quais professores e pesquisadores se utilizam, com o objetivo de facilitar, acelerar e/ou aperfeiçoar o processo de aprendizado da língua-alvo. Reconhecemos, contudo, que, de acordo com a definição aqui adotada, uma apresentação encenada por alunos, por meio de dança, em forma teatral, ou musical, atende aos parâmetros aqui pontuados, apenas limitamos o escopo do nosso enfoque. Em decorrência do exposto, tomamos o conceito de multimodalidade segundo Kope e Kalantzis (2003, p.5), para quem o termo se refere à capacidade de um texto de reunir várias linguagens além da linguagem verbal: “o significado se constrói de forma crescentemente multimodal _ em que os modos escritos de linguagem são uma parte e parcela de padrões do significado de natureza visual, espacial e de áudio.”64 De acordo com Lemke (2002a), multimodalidade diz respeito ao processo comunicativo que pode ser dividido em diferentes unidades, quais sejam: fala, gesto, pintura, escrita, desenho e outras. Cada elemento funciona de modo autônomo, com liberdade para se cotejar de diversas maneiras, gerando novas combinações e significados que irão se transformar em um construto semiótico. Para o autor: A especificidade e a precisão que são possíveis com um texto-imagem são imensamente maiores do que é possível com o texto, ou a imagem isolados. [...] Nenhum texto é uma imagem. Nenhum texto tem, exatamente, o mesmo conjunto de recursos de significados que toda e qualquer imagem. Nenhuma imagem ou representação visual significa de modo completo e, unicamente, os mesmos modos que um determinado texto pode significar. É essa incomensurabilidade essencial que permite que significados genuinamente novos se realizem a partir da combinação de multimodalidades. (Lemke, 2002a, p.303)65 Esse amalgamento de linguagens, a que Lemke se refere, resulta em um todo de significação de particular complexidade, com desdobramentos _ ainda não plenamente 64 “Meaning is made in ways that are increasingly multimodal _ in which written-linguistic modes of meaning are part and parcel of visual, audio and spatial patterns of meaning.” (Kope e Kalantzis (2003, p.5) 65 The specificity and precision which is possible with an image-text is vastly greater than what is possible with text alone or with image alone. […] No text is an image. No text has the exact same set of meaning-affordances as any image. No image or visual representation means in all and only the same ways that some text can mean. It is this essential incommensurability that enables genuine new meanings to be made from the combinations of modalities. (Lemke, 2002a, p.303) 65 analisados, ou compreendidos _, para a sociedade em geral e, a nosso ver, de forma particular para o segmento educacional. Passamos a abordar as implicações que essa conjunção de sentidos acarreta para o sujeito inserido em uma comunidade discursiva, que compartilha e negocia significado por meio dessa linguagem constituída, ela própria, pelo uso de uma coletividade. 3.1- MULTIMODALIDADE E LETRAMENTO Segundo Wenger (1998, p. 266), aprendemos a falar uma língua, quando nela imersos, porque estamos concentrados na experiência de sentido, mais do que na mecânica do aprendizado.66 Por conseguinte, a autora avalia que programas de televisão e de rádio, revistas e livros _ como produtos do meio cultural em que se inserem _ são fontes virtualmente inesgotáveis para o aprendizado de um idioma, pois permitem, de modo especialmente enriquecedor, a prática da construção desse sentido multifacetado de que nos cercamos. Entretanto, embora as salas de aula sejam espaços multimediáticos por excelência, onde a linguagem escrita é, de fato, somente um dos tipos de texto que atuam para a construção do significado, o processo de integração e associação entre elementos semióticos coexistentes tem sido pouco apreciado, e a linguagem visual restrita a um papel coadjuvante. Linguistas, pesquisadores e professores de línguas têm se debruçado, preferencialmente, sobre o texto linear da linguagem escrita, dedicando pouco espaço e atenção no que se refere a letramento visual, tomando-se como letramento o sentido adotado por Kern (2000, p. 39) que define o conceito como a aquisição de um conjunto dinâmico de processos da língua em uso, para a construção de sentido em contextos sociais específicos. Contudo, nos últimos anos, vem tomando corpo a noção de que, em uma sociedade cada vez mais voltada para a imagem, torna-se essencial que se entenda de modo mais abrangente e acurado, o papel que a mesma desempenha nesse processo, quando mecanismos cognitivos atuam para a compreensão e a retenção de dados e informações. Com essa motivação, em 1994, a UNESCO e a União Europeia patrocinaram um amplo estudo desenvolvido pela IALS (International Adult Literacy Survey), visando a levantar dados sobre a importância do letramento visual em adultos. O estudo aborda três categorias de textos: o texto em prosa, o texto documental _ que diz respeito à informação veiculada através de gráficos _ e o texto quantitativo que envolve operações matemáticas. Os resultados da pesquisa indicam que o letramento de documentos – dito visual – é tão importante, quanto os outros, 66 “We learn to speak a language so successfully by immersion in part because we are focused on the experience of meaning rather than on the mechanics of learning.” (Wenger, 1998, p. 266) 66 mas, surpreendentemente, adultos europeus e norte-americanos obtiveram taxas de sucesso consideradas inexpressivas, abaixo de 25%. Apenas os suecos obtiveram percentuais na faixa dos 35%, o que assinala uma dificuldade significativa no processamento da informação visual (Johns, 1998). Assim sendo, cabe perguntar como atua e interage a dinâmica da multimodalidade nos variados textos presentes no cenário pedagógico, e cujo sentido final resulta de uma multiplicidade de linguagens. No caso de livros e materiais didáticos, as imagens estão ali só para atrair a atenção do leitor? Embelezar? Agradar? Será que desempenham um papel efetivo e/ou específico no processo de comunicação e construção do significado? Será que apenas repetem o que o texto escrito transmite, exercem um papel complementar ou desempenham uma função única, que lhes é peculiar e intransferível, e que não pode ser atribuída ao texto escrito ou falado? No caso de vídeos, filmes, comerciais e atividades pedagógicas como apresentações musicais, teatrais, dramatizações, como interpretar o papel dos elementos semióticos que acompanham a linguagem verbal, falada ou escrita? Qual o peso das ações, cores, ângulos, olhares, efeitos de luz, linguagem corporal e outros? Para tentar responder a essas indagações, tomamos Norris (2004a, p.101), para quem a língua falada está entrelaçada a um complexo conjunto de ações, verbais e não verbais. A autora acredita que caso a fala seja estudada dissociada desse contexto há o risco de que seu sentido seja interpretado de modo distorcido e/ou incompleto: “estudar trocas verbais sem estudar as ações não-verbais e o cenário, na verdade distorce a interpretação de muito da interação que está ocorrendo face a face.”67 Podemos, portanto, concluir que não há fronteiras perfeitamente definidas entre as diferentes camadas envolvidas no ato comunicativo. Seus componentes se sobrepõem e se afastam em um processo ativo de troca, em que significados são substituídos e cedidos em uma dinâmica continuada: “Ao se examinar os modos de comunicação, percebe-se que estes se encontram entrelaçados, não são facilmente separados, estão interligados e frequentemente são interdependentes” (ibid, p. 102)68. Levada à sala de aula, a constatação acarreta a necessidade de que o professor aborde os processos instrucionais de forma abrangente, considerando a dinâmica que se estabelece entre diferentes elementos comunicativos, por meio de trocas e superposições. Dessa forma, é preciso que se atente para o fato de que aprendizes diferentes não dedicam a mesma atenção, 67 “Studying the verbal exchanges without studying the nonverbal actions and the setting, actually distort interpretation of many of the ongoing face-to-face interaction.” (Norris, 2004a, p.101). 68 “When viewing modes of communication, it becomes apparent that they are intricately interwoven, they are not easily separable, and they are interlinked and often interdependent.” (Norris, 2004a, p. 102) 67 nem têm o mesmo nível de consciência, em relação às múltiplas ações que interagem no processo comunicativo. Nesse sentido, Norris (ibid) sugere um arcabouço teórico de multimodalidade para que se analise o contexto discursivo a partir dessa multiplicidade de (inter)ações. Em função de um estudo em que utilizou gravações de vídeo, a pesquisadora se deu conta de que a análise da fala de forma isolada era altamente comprometida quando não considerados os elementos não verbais que serviam de cenário à produção oral. De forma a tornar esses componentes visíveis e analisáveis, desenvolveu um construto em que difere ações de nível macro (high level), de ações de nível micro (low level). As primeiras são aquelas às quais o ator social (social actor) dedica grande atenção, compostas de várias ações de baixo nível (low level), ou baixa atenção (low attention), constituindo-se o conjunto em um todo de alta complexidade que converge para o sentido final. No caso de uma conversa, por exemplo, considerada uma ação de alto nível, o todo de significado se constrói a partir da interação de outras diversas ações de baixo nível, como a linguagem corporal, o tom de voz, os olhares, o gestual. A proposta visa a permitir e facilitar a percepção e a análise dos diferentes elementos que coparticipam do ato comunicativo como partes integrantes do contexto. Embora tenha se restringido ao campo das interações verbais, a autora menciona a propriedade de uma gramática e de um dicionário de termos que se apliquem à investigação e análise dos diversos modos de representação comunicativa, assim como acontece com a linguagem escrita (Norris, 2004b, p.12). A avaliação da autora encontra resposta no trabalho de Kress e Van Leeuwen (2006; 2001) que igualmente advogam a necessidade de um arcabouço teórico para a investigação do texto multimodal, e para o qual conceberam a Gramática do Design Visual. Acreditando que o modelo em questão oferece um instrumento seguro para a investigação a que nos propomos, voltaremos ao tema no capítulo subsequente, onde reservamos uma seção para a apresentação e discussão do sistema como concebido pelos autores. Direcionando sua temática à sala de aula, Kress (2000) se surpreende com o fato de que a maioria dos professores de inglês como L2, ou LE, restrinja-se a utilizar textos, como se a língua escrita fosse o único meio para a transmissão de significados. O autor destaca a necessidade de que a imagem seja explorada como meio de comunicação, tanto pelo linguista como, especialmente, pelo professor. Em seus argumentos, menciona uma pesquisa realizada com alunos de ciências que utilizaram desenhos para reportar observações feitas com microscópios. Nessa oportunidade, Kress (ibid) avalia que as imagens produzidas pelos alunos foram essenciais à condução do estudo e observa que, caso estivessem restritos à escrita, não 68 poderiam descrever suas experiências de modo tão claro e inequívoco como os desenhos permitiram. Para o pesquisador (ibid) a grande diferença entre os dois meios de comunicação é que a imagem é espacial e não sequencial, ao passo que a escrita é temporal e sequencial. Kress (ibid) reconhece que cada meio tem suas próprias características, potencialidades e limitações, mas defende que a língua verbal não seja vista como condutora única do significado e alerta para que o papel exercido pela imagem não seja ignorado por profissionais da linguagem. Na esteira do crescente interesse pelo papel da dimensão visual no cenário pedagógico, refletido nos estudos a que nos reportamos, Martins (2002) relata um trabalho de compreensão de leitura, realizado ao longo de dois anos, com estudantes brasileiros do ensino fundamental. A autora declara que houve casos em que as ilustrações conduziram todo o processo de compreensão, por parte dos participantes, que chegaram a ignorar o texto escrito. O leitor, nesse caso, demonstra acreditar que a imagem contém a força necessária para a compreensão do significado, tornando-se de menor importância a leitura do texto verbal. A pesquisadora observou, ainda, um acentuado engajamento afetivo, cognitivo e estético, em relação ao recurso visual, e os resultados da pesquisa assinalaram que seu uso influenciou a memorização dos alunos de modo positivo. Os estudos e debates teóricos mencionados parecem sinalizar que um conceito abrangente de letramento reflete um processo de aquisição de conhecimento ancorado na pluralidade de representações da informação. Esse mecanismo se verifica internamente em cada aprendiz, é pessoal e intransferível e responsável pela construção de sentido, a partir das linguagens que esse sujeito seleciona e organiza de modo coerente, integrando-as a conhecimento prévio já armazenado (Mayer, 2006). Ou seja, passamos a nos referir a um processo de multiletramento, como mencionado na Introdução desta pesquisa. Elemento determinante dessa nova realidade, a acentuada inserção de tecnologias na construção do indivíduo como ser social, torna irrecusável o convite para que nos debrucemos sobre os resultados dessa conjunção de linguagens. Para Levine e Scollon (2004, p. 1), o aspecto mais relevante, no que tange à tecnologia e à comunicação, é como esses recursos agem sobre o próprio discurso dos indivíduos e o intrincado sistema de ações e interações sociais, descrito pelos autores como um fenômeno multimodal por natureza. Concluímos se fazer necessário integrar uma nova abordagem à prática curricular, com o uso informado de diferentes media, de forma que tanto educandos quanto educadores estejam habilitados a transitar com segurança nessa nova sociedade, denominada por Carvalho (2002, p. 264) de “Sociedade da Informação”. 69 É nesse cenário que se alicerça o conceito de multiletramento aqui sugerido, conceito para o qual esperamos despertar um olhar crítico sob o enfoque das novas demandas pedagógicas que se fazem sentir. Acreditando haver esclarecido nossa visão a respeito dessa temática, assim como haver justificado sua relevância no contexto educacional, passamos a discorrer sobre a Teoria Cognitiva de Aprendizado de Multimídia, como concebida por Richards Mayer. 3.2- A TEORIA COGNITIVA DE APRENDIZADO DE MULTIMÍDIA Vale ressaltar que para este estudo, como mencionado, adotamos a definição do termo “multimídia”, segundo Mayer: Defino multimídia como sendo a apresentação de material que faz uso tanto de palavras quanto de imagens. Por palavras, quero dizer que o material é apresentado em forma verbal, tais como texto impresso ou falado. Por imagens, quero dizer que o material é apresentado na forma pictórica, tais como recursos gráficos estáticos, incluindo ilustrações, gráficos, fotos ou mapas ou pelo uso de gráficos dinâmicos, incluindo animação ou vídeo. (Mayer, 2006, p. 2) 69 Richard Mayer (2006; 2005) e seus seguidores desenvolveram uma série de pesquisas, a respeito de processos cognitivos em aprendizagem mediada por materiais de multimídia, conforme o conceito mencionado. A partir desses estudos, o autor elaborou uma teoria cognitiva de processamento da informação, em ambientes de multimídia, que denomina “Teoria Cognitiva de Aprendizado Multimídia” (Cognitive Theory of Multimedia Learning). Segundo Mayer, a dinâmica de construção do conhecimento se dá através de processos cognitivos de seleção e de organização, através dos quais o aprendiz se engaja, com o objetivo de construir sentido a partir da pluralidade de mensagens a que está exposto. Embora esses estudos enfoquem a compreensão e o aprendizado de temas científicos (fenômenos metereológicos, mecânica, leis da física, entre outros), sua abrangência permite a aplicação dos mesmos princípios em qualquer ambiente pedagógico. No caso específico de instrução de LE, o uso de materiais de multimídia permite a reapresentação dos insumos linguísticos através de diferentes mídia, de forma complementar e integrada, o que exige o uso de diferentes campos de atenção e, por conseguinte, favorece a aquisição (Danan, 2004). 69 “I define multimedia as the presentation of material using both words and pictures. By words, I mean that the material is presented in verbal form, such as using printed or spoken text. By pictures, I mean that the material is presented in pictorial form, such as using static graphics, including illustrations, graphs, photos, or maps, or using dynamic graphics, including animation or video.” (Mayer, 2006, p. 2) 70 A teoria de Mayer se baseia na Teoria Gerativa _Generative Theory_ de Wittrock (1989) e na Teoria da Codificação Dupla _Dual Code Theory_ de Paivio (1986), além de buscar respaldo nos pressupostos aditivo e multiplicativo postulados por Clark e Craig (1992). Por sua vez, Mayer (2006) assinala três hipóteses centrais que devem ser consideradas para a apreciação de uma teoria cognitiva que se aplique à utilização de recursos de multimídia na aprendizagem, assim como ao próprio processo de elaboração desses meios: (i) a existência de um canal dual, (ii) uma capacidade limitada de processamento da memória humana; (iii) a necessidade de um processamento cognitivo ativo. Wittrock (op.cit.) entende que o aprendizado se dá de modo efetivo, quando o aprendiz constrói conhecimento, através da seleção e da organização de informações relevantes, de forma coerente e, em uma segunda etapa, integra a representação recém-construída a informações prévias já armazenadas em sua memória. A teoria da Codificação Dual, ou Codificação Dupla, desenvolvida por Paivio (op.cit.) propõe a existência de dois subsistemas cognitivos: o primeiro especializado na representação e no processamento da linguagem não verbal _ que o autor denomina sistema imagético (imagery system) _ inclui de fato outras modalidades sensoriais além da visual, e o segundo especializado na representação e no processamento da linguagem verbal, é designado por sistema verbal (verbal system), inclui textos impressos ou falados.70 A proposta foi posteriormente revisitada em Clark e Paivio (1991), quando, por meio de uma série de estudos sintetizados em Paivio (1991), os pesquisadores constataram que os sujeitos relembravam mais facilmente substantivos concretos do que abstratos. Esses resultados foram generalizados e se passou a considerar que a utilização de texto e imagem facilitava o aprendizado. Na análise dos resultados, os autores concluíram que os dois sistemas de representação, considerados separadamente, permitiam que as palavras elicitassem imagens e que os objetos elicitassem nomes. Isso implicava que efeitos das imagens fossem adicionados a uma base verbal e que o código verbal das imagens, por semelhança, adicionasse um segundo código a uma base não verbal. Deste modo, assumia-se que as representações verbais e pictóricas geradas internamente funcionavam como códigos suplementares, para recuperar itens da memória. Nessa perspectiva, os dois sistemas, verbal e não verbal, funcionam de forma independente, mas produzem conexões referenciais entre si, assim como conexões associativas entre as representações em cada sistema. Os registros mentais são ativados diretamente por estímulos externos (verbais ou não verbais) e indiretamente por conexões referenciais e 70 “The most general assumption in dual coding theory is that there are two classes of phenomena handled cognitively by separate subsystems, one specialized for the representation and processing of information concerning nonverbal objects and events, the other specialized for dealing with language.” (Paivio, 1986, p. 53). 71 associativas, dessa forma, compreende-se que assuntos armazenados nos dois sistemas sejam mais facilmente recuperados na memória do que aqueles registrados em um único. Em 1992, Clark e Craig se reportam a estudos sobre memória, realizados por Paivio e outros pesquisadores na década de 60 e acrescentam o pressuposto aditivo, segundo o qual dois ou mais media, se usados adequadamente, contribuem para uma melhor retenção da informação do que um só medium. Isto é, os benefícios dos media na aprendizagem são aditivos, somamse. Segundo o pressuposto multiplicativo, as vantagens da utilização de vários media são superiores à soma de cada um dos media constituintes. A proposta veio reforçar o pressuposto da conveniência da utilização de recursos multimediáticos em ambientes instrucionais. De acordo com Souza (2007, 2006), há um longo histórico de estudos, na área da psicologia cognitiva, a respeito do processamento de informação em canais separados, mas, atualmente, o conceito está mais intimamente ligado à Teoria da Codificação Dupla, a principal base do modelo gerativo de aprendizagem multimídia proposto por Richard Mayer (2006)71, cujo sistema de processamento da informação inclui a memória sensorial, a memória de trabalho e a memória de longo prazo, proposta que se encontra ilustrada no Quadro 7: QUADRO 7: Teoria Cognitiva de Aprendizado Multimídia DUAL-CHANNEL ASSUMPTION OF MULTIMEDIA LEARNING Multimedia Presentation Sensory Memory Working Memory selecting words Words Ears Pictures Eyes selecting pictures Sounds Images organizing words organizing images Long-term Memory Verbal Model Pictorial Model Prior knowledge Fonte: Mayer, 2006, p. 47 A figura ilustra as condições cognitivas para a construção do conhecimento em ambiente de multimídia. Os blocos em azul mostram o caminho percorrido pelos insumos que nos chegam através da audição (narração, sons) e que são armazenados por um curto período de tempo na memória sensorial auditiva. A partir da ilustração, verifica-se que, a seguir, há um 71 A proposta de Mayer foi apresentada em 2001, usamos a referência de 2006, porque essa é a data da edição por nós consultada (8ªed.), constante em nossa bibliografia. 72 processo seletivo (selecting words), que elimina eventuais excessos de informação, assunto sobre o qual nos deteremos adiante. No próximo estágio, na memória de trabalho, o aprendiz organiza (organizing words) esse novo material que, ao final do processo, torna-se seu modelo mental verbal _ verbal model. A memória de trabalho é utilizada para o armazenamento temporário e a manipulação do conhecimento em estado de consciência ativa (Mayer, ibid, p. 44). Paralelamente, destacamos, com a cor amarela, o trajeto dos insumos que nos chegam pelo canal visual (ilustrações, animação, vídeo, ou texto escrito na tela). A informação é temporariamente armazenada na memória sensorial visual, sofre, na sequência, um processo de seleção (selecting pictures) e organização (organizing pictures), resultando no modelo de representação mental pictórico ou visual _ pictorial model. Em seu modelo de cognição, Mayer contempla diferentes conceitos de entendimento e avaliação acerca de como os dois canais atuam. Podemos acompanhar, pela ilustração, que o plano da memória de trabalho se encontra dividido em um bloco à direita e em outro à esquerda. O bloco à esquerda atende a uma abordagem que privilegia a modalidade sensorial (sensory-modality approach) da representação e enfoca o início do processo, avaliando se as mensagens são processadas pelo aprendiz, através do canal auditivo, ou visual. Esse enfoque _ segundo destaca Mayer _ está em acordo com os trabalhos de Baddeley (1986), que distingue entre um plano de visão espacial e o plano da articulação fonológica. No bloco à direita, o autor contempla a abordagem no que tange ao modo de apresentação (presentation-mode approach) que enfoca se o estímulo é verbal (seja através de linguagem oral, ou escrita), ou não-verbal (gravuras, animação, vídeo, sons de fundo). Segundo esse conceito, um canal processa material verbal enquanto o outro lida com material pictórico e sons não verbais, e está em acordo com o modelo de distinção entre sistemas verbais e não verbais defendido por Paivio (1986). Esses conceitos distintos se refletem, especialmente, no entendimento sobre um dos aspectos mais polêmicos ligados a aprendizado com materiais de multimídia: como se dá o processamento de palavras impressas sobre tela e o processamento de sons de fundo e música, quando se faz uso, apenas, da melodia, sem inclusão da letra. Para melhor tentarmos compreender as duas abordagens, elaboramos uma análise comparativa ilustrada no Quadro 8: 73 QUADRO 8: Comparando as Teorias de Baddeley e Paivio Abordagem Conceito Texto sobre tela Sons de fundo e música Modalidade Sensorial (Baddeley) Enfoca se as representações são visuais, ou auditivas, se são processadas pelos olhos, ou pelos ouvidos. O insumo é inicialmente processado pelo canal visual. O insumo é processado pelo canal auditivo. Modo de Apresentação (Paivio) Enfoca a distinção entre representações verbais (orais, ou escritas) e não verbais. O insumo é inicialmente processado pelo canal verbal. O insumo é processado pelo canal não verbal. Fonte: Baddeley (1986) e Paivio (1986) As setas que ligam sons (sounds) e imagens (images), no primeiro bloco da memória de trabalho, indicam o processo de associação que ocorre entre os canais auditivo e visual. Quando, por exemplo, ao ouvir a palavra “praia”, o aprendiz associa o insumo sonoro à sua configuração mental visual de uma praia. Do mesmo modo, ao receber um estímulo visual, o aprendiz pode associá-lo a uma representação sonora: ao ver a imagem de um cachorro, o aluno mentalmente ouve a palavra “cachorro”. A última etapa se refere à integração dos modelos verbal e visual entre si, acrescidos ao conhecimento prévio armazenado na memória de longo prazo. A memória de longo prazo corresponde ao armazenamento de todo o conhecimento construído anteriormente pelo aprendiz. Ao contrário da memória de trabalho, a memória de longo prazo tem capacidade para armazenar grande volume de informações durante um longo período de tempo. Contudo, para que o indivíduo faça uso produtivo desse material, é preciso trazê-lo para a memória de trabalho de modo a integrar conhecimento armazenado a conhecimento novo. O modelo de Mayer conceitua um aprendiz que atua como agente do próprio processo de construção do conhecimento. Esse sujeito desenvolve, ativamente, representações mentais, na tentativa de construir significados, a partir de novas experiências e informações e, nesse processo, seleciona, organiza e conecta conhecimento novo, que lhe chega através dos canais verbal e visual, integrando-o ao conhecimento prévio, já armazenado em sua memória de trabalho. Embora Mayer não defina, de modo mais preciso, o conceito e o escopo desse conhecimento prévio a que se refere (Souza, 2006, p. 160-1), assumimos, por princípio, uma conceituação abrangente para a habilidade em questão. Baseando-se nessa teoria cognitiva, Mayer e um grupo de colegas pesquisadores desenvolveram sete princípios, para norteamento e orientação da criação de materiais multimediáticos, que combinem de modo eficiente as diferentes mídias. Esses são os seguintes: 74 1- O Princípio de Multimídia (Multimedia Principle). 2- O Princípio de Contiguidade Espacial (Spatial Contiguity Principle). 3- O Princípio de Contiguidade Temporal (Temporal Contiguity Principle). 4- O Princípio da Coerência (Coherence Principle). 5- O Princípio da Modalidade (Modality Principle). 6- O Princípio da Redundância (Redundancy Principle). 7- O Princípio das Diferenças Individuais (Individual Differences Principle). Nas subseções seguintes, passamos a discorrer sobre cada um dos princípios à luz dos preceitos defendidos pelo autor em pauta. 3.2.1- O Princípio de Multimídia Esse princípio postula que os aprendizes aprendem melhor, quando a apresentação do tópico em questão se faz em dois, ou mais formatos distintos, ou seja, quando se utilizam palavras e figuras conjuntamente, em lugar de apenas palavras ou, somente, figuras. Por “palavras” e “figuras”, seguimos a definição do pesquisador (Mayer, op.cit., p.64): “por palavras, refiro-me a texto escrito ou falado [...] por figuras, refiro-me a qualquer forma, estática ou dinâmica, de gráficos, mapas, fotos, ilustrações, animação e vídeo.” 72 Ainda quanto ao uso dos termos empregados pelo autor, “aprender melhor” exprime ganhos significativos nos processos de retenção e compreensão dos insumos, no que diz respeito à qualidade e não à quantidade desse aprendizado. O racional teórico que dá suporte a esse princípio se refere ao modelo cognitivo de aprendizado de multimídia, que afirma que palavras e figuras privilegiam dois diferentes sistemas de representação do conhecimento: um canal verbal e um canal visual. As duas modalidades são qualitativamente distintas, pois, ao usarmos palavras, lançamos mão de unidades discretas, apresentadas em sequência linear, ao passo que, ao utilizarmos figuras, reproduzimos imagens ligadas a nossas experiências visuais. Quando ambas são apresentadas, ocorre a construção de um modelo verbal e de outro pictórico, com os quais o aprendiz tem a oportunidade de construir representações mentais mais elaboradas e estabelecer conexões que ampliem sua compreensão, já que essa conjunção oferece uma variedade maior de pistas, de natureza linguística e extralinguística. Ao postular 72 “By words, I mean printed or spoken text; […]. By pictures, I mean any form of static or dynamic graphic, including photos, graphs, charts, illustrations, video, and animation […]. (Mayer, 2006, p. 64) 75 que o aprendizado é beneficiado pelo uso de dois ou mais modos de apresentação, o princípio fundamenta o uso de recursos multimodais para o aprendizado de LE. 3.2.2- O Princípio da Contiguidade Segundo o Princípio da Contiguidade, o processo de aprendizado é mais efetivo, quando palavras e figuras, ou animação e narração, que estão correlacionadas, são apresentadas uma próxima a outra. A apresentação simultânea, argumenta o autor, facilita a construção de ligações referenciais entre os diferentes modos de representação, visual e verbal, e, por conseguinte, a compreensão. O conceito parte da capacidade limitada de retenção de cada canal receptor _ o visual/pictórico e o verbal/auditivo _ e se baseia na noção de que a economia de espaço e de tempo minimiza os efeitos desse obstáculo. Em consequência, no que tange a materiais de multimídia, as apresentações simultâneas são mais eficientes do que as sucessivas, já que a conjunção de insumos estimula o processamento cognitivo, sua seleção e consequente retenção. Esse princípio se divide em contiguidade espacial e contiguidade temporal. 3.2.2.1- O Princípio da Contiguidade Espacial Esse princípio diz respeito à proximidade de palavras e imagens, ou seja, é quando palavras e imagens correspondentes estão próximas em vez de afastadas. A disposição simultânea de palavras e gravuras evita que o aprendiz tenha que fazer uso de recursos cognitivos para buscar, visualmente, seja em uma página de livro, ou em uma tela, os elementos das diferentes linguagens o que dificultaria sua retenção na memória. O fato de poderem processar os estímulos ao mesmo tempo facilita o aprendizado de modo significativo. 3.2.2.2- O Princípio da Contiguidade Temporal O Princípio da Contiguidade Temporal postula que o aprendizado é melhor quando narração oral e animação ocorrem simultaneamente, ao invés de sucessivamente. Quando os trechos correspondentes a representações verbais e visuais ocorrem ao mesmo tempo, é mais provável que o aprendiz seja capaz de construir conexões mentais entre ambas e gravá-las em sua memória de trabalho. Esse processo se torna mais difícil se o insumo sonoro e o visual ocorrerem em separado. 76 3.2.3- O Princípio da Coerência Esse princípio postula que se consegue um melhor aprendizado, quando há uma economia no material, de modo que informações irrelevantes não interfiram, negativamente, no processamento das mensagens que realmente importam. Esse material extra, mesmo que atraente, compete por atenção, desviando o foco do aprendiz, e exige recursos cognitivos que sobrecarregam o processo de aprendizagem. Segundo o conceito desse princípio, um material multimodal deve ser curto e objetivo, de modo a permitir a construção de uma representação mental coerente, baseada, apenas, nos elementos-chave do conteúdo a ser elaborado pelo aprendiz. Para o autor, aprende-se mais, quando se apresenta menos. 3.2.4- O Princípio da Modalidade O princípio estabelece que o aluno aprende, de modo mais efetivo, a partir de animação e narração oral, do que de animação e texto escrito, isto é, o resultado é mais eficiente quando se alia animação a texto verbal-auditivo. Para Mayer, quando imagens e palavras são apresentadas como insumos a serem processados pelo mesmo canal, no caso o canal visual, ocorre uma sobrecarga de informações que pode afetar, negativamente, o processo. Quando se trata, porém, de imagens e texto sonoro, as diferentes linguagens são processadas em canais distintos – visual e verbal/auditivo – o que facilita a retenção. O princípio reafirma o que é estabelecido pelo princípio da contiguidade temporal, no que concerne à ocorrência de estímulos verbais /sonoros e imagem de forma simultânea e, igualmente, reforma o princípio da Coerência, ao postular uma economia de estímulos. 3.2.5- O Princípio da Redundância Esse princípio advoga que o aluno retém as informações de modo mais efetivo, quando uma determinada informação é apresentada através do uso de animação, acompanhada de narração oral, aprendendo melhor do que quando, além da animação, inclui-se narração oral e texto escrito. Para o autor, quando imagens e palavras são apresentadas visualmente, sobrecarrega-se o canal visual, criando-se uma poluição que afeta o processamento e o armazenamento das informações. Esse princípio reafirma o que já foi estabelecido pelos princípios da modalidade e da coerência, contudo, o autor ressalva que, embora o princípio da redundância estabeleça parâmetros preferenciais, para a criação de materiais de multimídia, o conceito não implica o total banimento de recursos que, eventualmente, conjuguem estímulo 77 sonoro à imagem simultânea do mesmo texto. Para Mayer (op.cit., p. 159), há situações, como no caso da ausência de ilustrações, ou quando a apresentação se dá em ritmo lento, em que a superposição de texto sonoro e visual pode funcionar adequadamente. 3.2.6- O Princípio das Diferenças Individuais Esse princípio se volta para a investigação do perfil de aprendiz que mais e melhor se beneficia com o uso de materiais de multimídia, desenvolvidos segundo os princípios sobre os quais discorremos. Para Mayer, o efeito da utilização de materiais de multimídia, bem elaborados, beneficia de modo mais contundente aprendizes com baixo nível de conhecimento prévio, em relação ao assunto em questão, do que aqueles com muito conhecimento anterior. Do mesmo modo, o resultado é mais efetivo para os que possuem alta capacidade espacial, do que para aqueles que apresentam baixa capacidade espacial. O pesquisador ressalva que aprendizes com alto nível de conhecimento já adquirido conseguem usar sua bagagem de saber e, igualmente, engajar-se em processamentos cognitivos efetivos para compensar eventuais falhas na apresentação, ao passo que aqueles com baixo nível de conhecimento têm uma menor capacidade para fazê-lo. Desse modo, os últimos, quando expostos a recursos deficientes, não conseguem compensar as falhas do material. Por outro lado, no caso de recursos de boa qualidade, isto é, que contemplem as orientações propostas pelo autor, embora ambos aprendam, o ganho mais expressivo ocorre com indivíduos de conhecimento prévio mais reduzido. São eles os mais beneficiados, pois a estrutura dos recursos não exige que recorram a processos cognitivos mais elaborados e permite que possam se concentrar na construção e na interação das representações verbais e pictóricas e sua consequente compreensão e retenção na memória de trabalho. No que tange ao outro quesito, tanto aprendizes que possuem alta capacidade espacial, como aqueles que se ressentem dela, encontram dificuldades no processamento de materiais mal organizados. Entretanto, quando se faz uso de produtos bem elaborados, os primeiros têm a habilidade cognitiva de integrar, mentalmente, representações verbais e visuais de modo mais efetivo. Diferentemente, aprendizes com baixa capacidade espacial precisam dedicar mais esforço cognitivo o que, em consequência, acarreta maior dificuldade no processamento e integração de representações visuais e verbais. 78 3.2.7- Considerações finais sobre a Teoria Cognitiva de Aprendizado de Multimídia Se os cinco primeiros princípios, postulados por Richards Mayer e seus seguidores, enfocam parâmetros que concernem à criação de materiais multimediáticos, o princípio das diferenças individuais aborda o outro lado da questão: aqueles para quem esse material é produzido. Esse preceito nos é especialmente caro, pois o espaço da sala de aula é, em sua essência, um cenário em que as individualidades, de forma frequente, se sobrepõem aos pressupostos e conceitos mais estáveis. É virtualmente impossível que se garanta um resultado uniforme na aplicação de qualquer recurso instrucional, por mais verificado e testado, mesmo quando amparado em sólidas bases teóricas. Parece-nos, contudo, que, em seu conjunto, a teoria de Mayer oferece um todo coerente e consistente para a produção de materiais que conjuguem diversas modalidades e, do mesmo modo, serve de orientação e inspiração ao processo decisório pertinente às práticas pedagógicas. Os preceitos sobre os quais nos detivemos formam um dos fios condutores do nosso estudo. Voltaremos ao tema, quando da análise dos resultados desta investigação, para que melhor situemos as escolhas feitas em relação ao material de vídeo de que fizemos uso. Na próxima seção, discorremos brevemente sobre filmes como instrumentos multimediáticos por excelência e procuramos analisar seu papel no contexto pedagógico. 3.3- CINEMA E CINEMA NA SALA DE AULA Já em 1922, Thomas Edison antecipava o incalculável potencial da utilização de filmes nas mais diversas áreas do campo educacional: O filme cinematográfico está destinado a revolucionar nosso sistema educacional e, em alguns anos, irá substituir em grande parte, se não inteiramente, o uso de livros texto. É possível se ensinar todas as especialidades do conhecimento humano com o filme cinematográfico. (Thomas Edison) 73 Ao conjugar diferentes mídias _ imagem, som e texto _ filmes são, por excelência, um exemplo de como instrumentos multimediáticos podem ser utilizados em cenário instrucional de LE, assim como programas de televisão, desenhos animados e comerciais. 73 “The motion picture is destined to revolutionize our educational system, and in a few years it will supplant largely, if not entirely, the use of text books. It is possible to teach every branch of human knowledge with the motion picture.” Canal informal: citação obtida em seminário da Cultura Inglesa, escola de idiomas para o ensino de inglês, ocorrido em 02/02/2006 no Hotel Othon, Rio de Janeiro, R.J. 79 A adequação desses recursos ao contexto em foco se explica por meio da essência multifacetada, inerente ao processo de construção do significado, através do qual diversas linguagens se conjugam no plano de expressão, visando à formação de um sentido singular. Vale expor que como “plano de expressão” adotamos o conceito de Hernandes e Trotta (2005) que o definem como a manifestação sensível de um texto, resultado de tudo aquilo que captamos através dos nossos sentidos. Já, para “texto”, seguimos a definição da semiótica francesa que conceitua o termo como o todo de significado que se constrói a partir do entrelaçamento de diversos fios condutores do sentido, sejam esses linguagem verbal, gestual, sonora, visual, ou qualquer outro elemento que concorra para o estabelecimento de significação (Lopes e Hernandes, 2005). Essa unicidade decorre do diálogo entre a pluralidade de linguagens à nossa disposição, sejam essas recursos linguísticos, pictóricos, gestuais, musicais, ou coreográficos, potencialmente abundantes em películas cinematográficas. A despeito de um grande número de estudos já haver sinalizado a propriedade de filmes como recursos pedagógicos, buscamos aqui, em especial, uma maior valorização de tratamentos que combinem multimodalidade com uma abordagem que conjugue, de forma integrada, instrução implícita e explícita para o ensino e a aprendizagem de vocabulário em LE (vide 2.2). Nesse interesse, passamos a uma breve apreciação do cinema, arte de comunicação de massa por excelência, seguindo-se uma análise do texto fílmico em ambiente instrucional. 3.3.1- Cinema, cultura e realidade Para abordarmos esse tema, em harmonia com o enfoque desta investigação, faz-se necessário mencionar a Semiótica da Cultura74, ramo da Semiótica que estuda o cinema. A Semiótica da Cultura é uma disciplina teórica dos estudos russos, que surgiu na Universidade de Tártu, na Estônia, nos anos 60, e que se dedica ao: [...] estudo das formas culturais – simbólicas – de superação da realidade biossocial, denominada ‘primeira realidade’ por meio dos mecanismos da chamada ‘segunda realidade’, da cultura, que se codifica a partir de raízes básicas como o imaginário, o sonho, as atividades lúdicas e a produção criativa do homem. (Britto, 2006, p. 2-3) Os termos primeira realidade e segunda realidade, citados em Britto, foram cunhados pelo semioticista checo Ivan Bystrina75 e adotados pela disciplina, para a conceituação de 74 Para uma discussão abrangente sobre Semiótica, ver o Capítulo 4 neste trabalho. Cf: BYSTRINA, Ivan. Tópicos de Semiótica da Cultura. Trad. Norval Baitello Jr. e Sônia Castino. São Paulo: PUC-S.P. 1995. 75 80 diferentes planos da vida humana. A primeira proposição abarca não apenas as dimensões biológica e social da vida, nas quais a comunicação se realiza pela ação dos códigos biológicos e dos códigos sociais, como, igualmente, todos os elementos relacionados à nossa sobrevivência. A segunda, também chamada de realidade da cultura, acrescenta um componente psíquico ao plano anterior e é uma forma de superação da esfera biossocial. Formada por textos culturais, que se codificam a partir do imaginário, do lúdico e da arte, a segunda realidade é o ambiente em que se constrói o mundo da fantasia: os ritos, os mitos, as invenções, as criações imaginárias, enfim, toda a produção simbólica do ser humano, fruto do sonho e do emocional. É nesse patamar que se encontram os textos que Bystrina (ibid) classifica como imaginativos/criativos: textos culturais, essenciais para a sobrevivência psíquica do homem, universo no qual, naturalmente, insere-se o cinema . Embora seja difícil se traçar, com exatidão, a história das raízes do cinema, a data de 28 de dezembro de 1895 costuma ser citada como um marco nessa trajetória. Foi nesse dia que, no Salão Grand Café, em Paris, os irmãos Auguste e Louis Lumière fizeram uma apresentação pública, paga, do produto de seu invento, ao qual chamaram “cinematógrafo”. O filme exibido foi L'Arrivée d'un Train à La Ciotat e, embora os irmãos não tenham reivindicado o feito para si, a data se consagrou como o nascimento da sétima arte, como a conhecemos hoje. O cinematógrafo, aparelho que filmava, revelava e projetava, em uma tela, imagens imóveis sucessivas, captadas em curtos intervalos de tempo, foi inventado como resultado de inúmeros experimentos anteriores. Ao serem projetadas a uma velocidade de vinte e quatro quadros por segundo, as imagens causavam a ilusão de movimento, devido à sua fixação na retina do observador76. Em um primeiro momento, a invenção dos Lumière se destinava a fins puramente científicos e não se acreditava no potencial criativo/lúdico do invento. Entretanto, não demorou para que a realização de filmes de ficção, fizesse do cinema uma das formas de representação que mais afetou a organização cultural da humanidade. Nascido como a arte do real, o cinema migrou para a esfera da ficção porque supre uma necessidade psíquica do homem pelo imaginário e pelo fantasioso (Britto, op.cit.), ao mesmo tempo em que desencadeia no receptor um vigoroso desejo de participação (Metz, 2006, p. 16). No texto fílmico, o todo de significado se constrói, não somente a partir da subjetividade daqueles envolvidos em sua confecção, mas, sobretudo, por ser fruto da significação que se dá, de modo particular e individual, em cada espectador. Para Morin (1997, p. 134), o cinema responde à “necessidade de fugirmos a nós próprios, isto é, de nos perdermos algures, de esquecermos os nossos limites, de melhor participarmos do mundo [...] para nos 76 Informações disponíveis em http://www.webcine.com.br/historia.htm. Acesso em: 27 fevereiro 2009. 81 reencontrarmos”. É nesse espaço que se encontram e interagem o sujeito “que fala” _ o autor _ e o “que escuta” _ o público, alçado à posição de coautor, por meio do fenômeno de fruição da obra artística. Essa capacidade de funcionar, como um catalizador de emoções, interpretações e leituras faz do texto filme um complexo objeto de estudo, para a psicologia, a sociologia, a antropologia e a semiótica de um modo geral. Uma das principais propriedades do cinema é sua capacidade para criar uma ilusão de realidade, através da qual o verossímil é transfigurado, de modo a permitir a experiência estética, que pode conflitar, ou não, com o próprio modelo de realidade do fruidor. As imagens buscam, de fato, despertar o receptor para perceber aquilo que não é exposto, mas que se constrói, a partir da cumplicidade e da pluralidade de olhares sobre a obra projetada. Para Metz (op.cit., p.25), seja qual for o acontecimento narrado na tela: “[...] o espectador torna-se sua testemunha e participa nele. É por isso que, mesmo tendo consciência do caráter irreal do que se desenrola diante de si, o espectador vive-o emocionalmente como um acontecimento real”. A avaliação do autor ilustra o conceito de que se o público não pode agir diretamente sobre a obra, a ausência de participação prática se compensa em uma intensa participação interior, nos planos psíquico e afetivo. O espectador exerce mecanismos de projeção e identificação, atribuindo sentidos, projetando desejos, aspirações, anseios e medos, participando da obra segundo sua própria subjetividade. Esse filtro pessoal potencializa os significados, livremente interpretados por cada indivíduo, o qual desenha sobre as criaturas da tela uma realidade que provém de si próprio (Morin, op.cit., p. 117). A multíplice possibilidade de interpretações está diretamente relacionada à segunda realidade de que falamos: as diversas camadas significativas que se sobrepõem umas às outras, e a atribuição de novos significados enriquecem a narrativa fílmica, uma vez que intensificam e multiplicam a profundidade do texto criativo, multifacetado por sua própria natureza. A presença real de movimento oferecida pelo cinema, representação comumente percebida como sinônimo de vida, trouxe consigo elementos de realidade, sem romper, contudo, com a magia do imaginário. Metz (op.cit., p. 27) acredita que o texto cinematográfico alcançou um ponto ideal de equilíbrio entre realidade e ficção, ao conciliar imagens (a fantasia) e animação (o real) e sustenta: “em verdade, há um ponto optimum representado pelo cinema, aquém e além do qual a impressão de realidade produzida pela ficção tende a diminuir.” É essa mistura de fantasia e vida real que permite, de forma peculiar, um profundo envolvimento afetivo, perceptivo e intelectual, por parte do receptor, fenômeno que nos atrai de maneira singular. Some-se a essa particularidade o fato de que a área de conhecimento de que aqui tratamos é uma especialidade que afeta a psique do ser humano, como nenhuma outra: aprender uma língua estrangeira toca nossos receios, inseguranças e autoconceitos de modo 82 único. Por esse motivo, empregar, no contexto pedagógico, um instrumento tão poderoso _ nos planos cognitivo e afetivo _ como o texto fílmico, parece-nos particularmente instigante. É essa conjunção de fatores, densos e significativos, que nos leva a acreditar na privilegiada pertinência deste estudo que busca conciliar aspectos notadamente desafiadores. Conscientes de que, pelo exposto, apenas tangenciamos a profundidade do tema, passamos, no próximo segmento, a abordar o filme como texto visual sincrético, segundo elenco de conceitos postulados pela Semiótica. 3.3.2- O filme como texto sincrético O cinema fala-nos; fala-nos através de várias vozes que formam contrapontos extremamente complexos. Fala -nos e quer que o compreendamos. (Lotman, Yuri 1978, p. 181).77 Chama-se sincrético a todo texto caracterizado por uma complexidade especial, resultado da “simultaneidade e hibridismo dos meios que participam da construção de seu discurso.” (Monteiro, 2005, p.43). A semiótica sincrética considera que há um todo de sentido a ser analisado, em que os elementos que participam de modo simultâneo da construção desse discurso se fundem para a geração de um só e apenas um significado (Hernandes e Trotta, 2005). Por conseguinte, não se trata da mera soma de partes isoladas, pois, na realidade, verifica-se a “invasão” de uma linguagem sobre a outra: essa empresta valores àquela, em uma continuada relação de interação, sobreposição e amalgamento, processo através do qual a articulação de diferentes linguagens leva à produção de sentido. Incluindo-se nessa categoria, por excelência, o filme é um texto sincrético que resulta do entrelaçamento de diferentes fios condutores, originando um veículo de grande complexidade, em função do hibridismo que lhe é característico. Considerando-se o filme sonoro, avaliamos que o mesmo combina, de diversas maneiras e, em diferentes graus de incidência, variadas categorias de texto: na categoria visual ocorrem imagens múltiplas em movimento e textos escritos, sejam as legendas que traduzem, ou reproduzem a fala, como aqueles que, eventualmente, surgem na tela, tais como placas, cartazes, nomes de rua, prédios, cartas e outros, com o objetivo de economia narrativa. No campo auditivo, além da fala dos personagens, encontram-se a música da trilha sonora e os ruídos incorporados à trama, assim como tiros, passos, gritos, campainhas e outros do tipo. A esses textos semióticos explícitos se incorporam outros, implícitos, como o roteiro, a montagem, o cenário, o vestuário, a iluminação, o enquadramento e a movimentação das câmeras. A expressividade obtida por 77 LOTMAN, Yuri, 1978, p. 181. 83 meio da conjunção dessas variadas unidades se organiza, portanto, não em termos de sequencialidade, mas de simultaneidade, pois o sentido gerado é fruto da sobreposição e da acumulação de elementos que se articulam ao mesmo tempo. Essas categorias são combinadas, em diferentes graus de incidência, e sua decodificação é afetada _ entre outros fatores _ pelo que Cardoso e Mauad (1997, p.143) chamam de “contrato tácito” entre enunciador e enunciatário78: a historicidade das convenções, fator variável no tempo. Um filme, por exemplo, que retrate a Segunda Guerra Mundial em um momento mais próximo ao ocorrido, terá sua leitura diretamente afetada pela percepção de pessoas marcadas pelos eventos retratados. O mesmo filme, 50 anos depois, tem sua leitura e decodificação inseridas em um cenário muito diverso, inclusive no que tange ao aspecto dos recursos tecnológicos, o que, certamente, acarretará percepções distintas daquelas de sua primeira exibição. Para Lotman (1978, p. 60), o sincretismo da linguagem cinematográfica se organiza em duas vertentes: a primeira se baseia na manutenção de elementos da experiência cotidiana e se propõe a tratar o cinema como pura representação da realidade, ao passo que a segunda se sustenta na transgressão da expectativa, surpreendendo o espectador com o rompimento do conhecido. O filme, sendo obra aberta, privilegia a segunda tendência, quando, por meio de elementos inesperados, frustra a perspectiva do fruidor e abre um amplo leque de possibilidades interpretativas, que se impõem como eixo condutor da análise do texto sincrético. Metz (op.cit.) destaca que há uma ideia, geralmente aceita, de que um filme nos conta uma história, a despeito de seus outros diversos possíveis usos. Ir ao cinema, ou assistir a um filme na privacidade de nossas casas é, primordialmente, acompanhar essa história, daí a natureza intrinsecamente narrativa da obra cinematográfica. Para Morin (op.cit., p.100), a leitura dessa narração se dá de forma nem sempre linear, nem sempre lógica. A múltipla dimensionalidade desse texto se origina da composição de imagens que codificam mensagens e permitem que tornemos o discurso fílmico um veículo, para o qual canalizamos nossos desejos e temores latentes. Para o autor (ibid, p. 196), “sendo o campo estético do cinema o mais amplo, tolera o maior número possível de formas e interpretações artísticas, e permite, idealmente, as mais ricas obras possíveis.” Essa complexidade de efeitos se deve à própria natureza do cinema: um filme se constitui de uma sucessão de planos, ou tomadas, que se encadeiam e se organizam em uma determinada sequência. Um plano isolado não apresenta significação, mas, ao ser confrontado com outros, surge um sentido que gera a narrativa. Essas tomadas, no entanto, estão sujeitas à 78 Enunciador é quem comunica e enunciatário é quem recebe e interpreta a comunicação. Segundo Matte (2005, p. 78): “O enunciado é o texto. Enunciador e enunciatário são respectivamente as figuras de sujeito-fonte e sujeitoalvo da enunciação, entre os quais o enunciado é o objeto.” 84 criação de diversos efeitos de sentido, a partir da iluminação, das perspectivas de câmera com diferentes focos, ângulos, velocidade e outros fatores, que criam toda espécie de contraste (Carmo Jr., 2005). A costura de um filme, através da montagem e da edição, é que imprime este ou aquele ritmo e dinâmica ao texto final. Para Lotman (op.cit., p.111), “a montagem de planos diferentes ativa a articulação semântica e faz dela o principal veículo de significação”. Segundo uma máxima da semiótica, o sentido nasce da diferença e essas diferenças são utilizadas por quem produz o texto, para criar efeitos de sentido, recurso abundantemente utilizado na criação do texto fílmico. Como, aqui, restringimo-nos ao filme sonoro, a relação entre imagens e palavras se destaca como a mais observável. No sentido semiótico, uma pergunta se coloca como essencial, para que entendamos essa complexa coocorrência entre dois textos explícitos: seria essa uma relação igualitária, ou hierarquizada, em uma observância hierárquica de dominância/subordinação? Esse padrão é variável ou invariável? Para essa avaliação, Cardoso e Mauad (op.cit, p. 414) propõem a consideração de três situações distintas possíveis: 1- A linguagem atua como semiose-guia e tem função distintiva em relação à imagem, que funciona como conotadora (elemento onde estão as convenções e restrições). 2- A imagem funciona como semiose-guia e tem função distintiva em relação à linguagem que, nesse caso, atua como elemento conotador. Um exemplo seriam os filmes publicitários e pornográficos. 3- Na terceira hipótese, imagem e palavra estariam em uma situação de equilíbrio, sendo impossível definir qual funciona como semiose-guia e qual atua como elemento conotador. Imagens e palavras fariam parte indistinta desse todo. Não sendo possível distinguir funções distintas, teríamos uma unidade global, embora heterogênea, de conteúdo. Os autores em pauta destacam a necessidade de um modelo teórico-metodológico prático, para a identificação dos princípios de organização do texto sincrético. Esse conjunto de ferramentas possibilitaria, igualmente, a descrição e a apreensão isentas dos componentes que se articulam e participam da construção do discurso. Não obstante a inegável dose de subjetividade inerente à análise de qualquer peça estética, para Farias (2005, p.258), “é possível aprender como interpretar um texto, de forma que esse processo não seja entendido como um dom ou uma questão de sensibilidade, mas como um ato inteligível, para o qual a semiótica apresenta suas hipóteses.” Para isso, a disciplina sugere o recorte em unidades mínimas analisáveis, a fim de que se possa estudar, de forma criteriosa, as relações entre os elementos, no âmbito do discurso sincrético, notadamente, as dinâmicas observáveis entre imagem e linguagem verbal. Essa proposta se ampara no fato de que, como explicita Mancini: 85 A semiótica parte do pressuposto de que os textos possuem uma lógica subjacente geral. Isso quer dizer que, independentemente das características que individualizam um texto, há esquemas de organização comuns a todos eles.(Mancini, 2005, p.28). Esse sistema de análise, disponibilizado pela semiótica, tem se revelado um aparato consistente e operativo, para a melhor compreensão dos processos de sincretização dos meios audiovisuais, particularmente por permitir o afastamento do olhar pessoal do analista, que se atém, de modo imparcial, aos preceitos teóricos estabelecidos para a análise. A proposta se ampara na ideia de que a segmentação metodológica permite a “desconstrução” do todo, para que se possa entendê-lo, percorrendo-se um caminho inverso ao do mecanismo de criação. Como define Discini (2005, p.263), “o sentido dos enunciados virá à luz por meio da observação dessa rede de relações estabelecidas nos textos, da qual se depreende um modo próprio de dizer”. Segundo Mancini (op.cit., p. 27), o empecilho para a aplicação desse elenco de conceitos tem sido o reduzido número de obras que explicitam a aplicação prática dos pressupostos teóricos, já amplamente estabelecidos e aceitos. Essa lacuna vem, mais recentemente, sendo preenchida por trabalhos que buscam reduzir a distância entre teoria e prática, dentre os quais citamos aquele do qual o próprio texto de Mancini faz parte, a coletânea de estudos e análises organizados por Lopes e Hernandes (2005) e que ilustram, em variadas áreas de produção cultural, o emprego efetivo desse quadro teórico. Outro aspecto concorrente para o sincretismo do texto cinematográfico diz respeito ao fenômeno da intertextualidade. O termo foi introduzido pela filósofa búlgaro-francesa, estudiosa de semiótica, Júlia Kristeva, em 197479, e pode ser definido como a “infinita possibilidade de troca de sentidos entre a obra e os espectadores.” (Garcia, 2000, p.31). Como resultado da presença de intertextos, o desenrolar da narrativa se constrói, não apenas através dos elementos presentes naquela peça, mas, vale-se, igualmente, da memória do espectador e estabelece, por meio de outras obras e referências, já conhecidas, um diálogo intertextual que perpassa o discurso fílmico e participa da construção do sentido final. Ligada ao “conhecimento de mundo”, a intertextualidade atua como uma superposição de textos, que concorrem para o todo de significado: é na convergência, ou na divergência de mensagens que irá se constituir o conjunto narrativo. Embora a tecnologia crie uma excepcional facilidade para o jogo intertextual do cinema, Ceia (2005) lembra que a sobreposição de textos não é privilégio da arte cinematográfica, mas, sim, intrínseca à produção cultural da humanidade: 79 Cf: KRISTEVA, Júlia. A História da Linguagem. São Paulo: Edições 70. 1974. 336 p. 86 [...] pode-se afirmar que a intertextualidade é inerente à produção humana. O homem sempre lança mão do que já foi feito em seu processo de produção simbólica. Falar em autonomia de um texto é, a rigor, improcedente, uma vez que ele se caracteriza por ser um “momento” que se privilegia entre um início e um final escolhidos. (Ceia, 2005)80 O movimento de intertextualização _ como um procedimento para a construção de sentidos _ acentua a capacidade do cinema, para retratar as representações que uma cultura faz da realidade e aguça seu caráter de obra aberta, que não se esgota em uma única apresentação, porquanto, cada vez que se toma contato com o texto, novos significados podem ser gerados. O entrelaçamento dos diversos fios condutores que sustentam a narrativa fílmica possibilita um precioso e singular enriquecimento daquilo que o artista pode dizer por meio de sua criação: mesmo quando concluído, cada texto se constitui em uma proposta de significação que não está inteiramente construída, visto que se destina ao olhar e à contínua recriação do público. A despeito dessa inegável complexidade, o modo filme tem se revelado um recurso de irrefutável qualidade e propriedade, para uso no contexto pedagógico, tema sobre o qual discorremos no próximo segmento. 3.3.3- O filme como recurso pedagógico O cinema, com sua imensa gama de ferramentas tecnológicas, para encenar e narrar histórias, proporciona ao indivíduo uma nova maneira de perceber o mundo e, em consequência, estabelecer uma forma peculiar de compreensão e conhecimento sobre realidades outras que não a sua própria. Por esse motivo, o texto fílmico é um recurso notadamente poderoso e sedutor no cenário pedagógico, visto que seu potencial, para reunir diversas realidades, em um mesmo contexto, permite preparar o aluno para compreendê-las e respeitá-las, como diferentes, porém possíveis. Duarte (2006, p.17) avalia que “ver filmes é uma prática social tão importante, do ponto de vista da formação cultural e educacional das pessoas, quanto a leitura de obras literárias, filosóficas, sociológicas e tantas mais.” No campo de aquisição de LE, filmes autênticos81 têm se revelado grandes aliados: ao servirem de veículo sociocultural, para insumo linguístico, descortinam a oportunidade de se aprender, por meio de um olhar muito mais acurado e abrangente, sobre o novo universo da 80 CEIA, Carlos. E-Dicionário de Termos Literários. Disponível em: http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/index.htm. Acesso em: 07 março 2009. 81 Esclarecemos que tomamos o termo “autêntico” na acepção de Garza (1991, p. 241): “[...] the term ‘authentic’ refers to materials that are originally produced in a given language for a native-speaking audience of that language, and not for learners of the language as a foreign language.” / “[...] o termo ‘autêntico’ se refere a materiais que são, originalmente, produzidos em uma dada língua, para uma audiência de falantes nativos dessa mesma língua, e, não para aprendizes da mesma, na qualidade de língua estrangeira.” 87 língua-alvo. Como uma mostra produzida sem manipulações com fins didáticos, a projeção dessa modalidade de filmes possibilita a reflexão, o conhecimento da cultura dos falantes nativos e pode facilitar a consequente produção escrita, ou oral, contextualizada. Para Wood (1999, p. 97): Especialmente no que diz respeito à linguagem oculta dos filmes de vídeo, isto é, a linguagem que se pode evocar através do som, da imagem, da idéia e da emoção, esse fato pode ser um grande estímulo para a produção linguística. 82 (Wood, 1999, p. 97). O julgamento do autor elucida que a multimodalidade, presente na narração fílmica, é fator decisivo, para o todo de significado que se constrói a partir do diálogo com o receptoraprendiz. Obras que não foram produzidas, visando ao uso didático, mas à fruição estética, são peças culturais e, como tal, podem atuar como canais fidedignos que levem ao educando aspectos de uma nova realidade. Um vigoroso leque de argumentos, a favor do uso de filmes em sala de aula, tem sido defendido por diversos pesquisadores. Para Almeida (2005, p.48), o uso do cinema confere ao sistema educacional um caráter participativo, porquanto, ao inserir o indivíduo em seu contexto sociocultural, ultrapassa a mera repetição de conhecimento, o que, na visão do autor, as instituições escolares, frequentemente, limitam-se a fazer, sem que contribuam, da forma desejada, para a construção de sujeitos inseridos no discurso de seu tempo. Para Napolitano (2005, p.28), embora seja possível vislumbrar, pelo menos, três perspectivas pelas quais o cinema pode ser explorado no ambiente didático _ conteúdo, linguagem e técnica _ o recurso não tem sido usado com a frequência e a abrangência desejáveis. O pesquisador acredita que cinema, cultura e educação podem estabelecer um diálogo proveitoso e defende que: Trabalhar com o cinema na sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura, ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte. (Napolitano, ibid, p. 11-2) Por esse motivo, defende que essa conjunção de fatores confere à peça fílmica qualidades decisivas, para que funcione como recurso instrucional poderoso e eficiente. No contexto específico de aquisição de LE, citamos os trabalhos de Donley (2000), Holden (2000), Kerner (2008), King (2002) e Stempleski (2000), entre vários outros, como estudos que têm se debruçado sobre a pertinência e os procedimentos, para a utilização de filmes como instrumento pedagógico. Como resultado das leituras realizadas para esta 82 “Especially in terms of the hidden language of video movies, that is to say, the language they can evoke through sound, picture, idea and emotion, this fact can be a great stimulus for language generation.” (Wood, 1999. p.97) 88 pesquisa, selecionamos os seguintes argumentos, em favor do emprego de vídeos para o ensino e o aprendizado de LE: → funcionam como um poderoso estímulo dos sentidos, notadamente dos sistemas de percepção visual e auditivo; → podem facilitar a aquisição de vocabulário, o aperfeiçoamento da pronúncia, a capacidade de compreensão oral e a fluência do educando; → oferecem um elenco variado e significativo de pistas visuais e paralinguísticas; → são um recurso poderoso e atraente para o contato com a cultura dos falantes da língua-alvo e atuam como instrumento contundente para a conscientização de diferenças culturais; → podem servir de fonte para que o aprendiz desenvolva roteiros para a negociação do significado e eventos comunicativos; → facilitam a inferência do significado de palavras desconhecidas; → promovem o envolvimento cognitivo e afetivo, reduzindo possíveis barreiras emocionais para a aquisição linguística; → despertam elevados níveis de atenção, concentração e envolvimento; → facilitam a retenção dos insumos; → o caráter social e inclusivo do texto fílmico pode problematizar diferenças culturais de forma positiva, de modo a gerar a apreensão de diversidades socioculturais. Um dos aspectos mais abordados e defendidos, no âmbito dessa literatura, é que o uso de filmes de vídeo pode funcionar como um antídoto eficaz para o desinteresse, a apatia e o baixo rendimento escolar. Contudo, apesar de indicadores sólidos, a respeito do efeito positivo que a projeção de vídeos desperta sobre a falta de empenho e de motivação dos alunos, o assunto é muito mais complexo do que nos cabe avaliar e merece análises que fogem ao escopo deste trabalho. É nossa crença, no entanto, que compete ao professor ampliar a dimensão do filme a que o aluno assiste na sala de aula: cumpre ao educador contribuir para que seu aprendiz ultrapasse a mera fruição do prazer estético, incentivando-o, para que seja um espectador mais crítico e criando condições de tal modo que o conteúdo e a linguagem da obra se tornem uma fonte de saber e aprendizado, segundo as propostas e os objetivos estabelecidos. Para tanto, alguns cuidados se fazem necessários, a fim de se garantir um bom resultado, no caso da adoção de textos fílmicos em atividades pedagógicas. Dentre uma variada gama de procedimentos sugeridos, selecionamos os que se seguem: → a escolha criteriosa do filme, no que concerne ao seu conteúdo, levando-se em conta a faixa etária dos alunos, seu nível de proficiência linguística e realidade cultural; → a delimitação clara de objetivos didáticos para a utilização do filme / segmento; 89 → a escolha do modo de projeção mais adequado _ o filme todo de uma só vez, o filme todo, porém, apresentado em partes, apenas um, ou alguns segmentos do todo _ de acordo com o contexto educacional, os educandos e os propósitos pedagógicos; → atenção para que se evitem obras com excesso de gírias, palavreado impróprio, modalidades fonéticas de “sotaques” que dificultem, excessivamente, a compreensão, funcionando como desestímulo ao aprendiz; → o preparo de atividades, para serem realizadas antes, durante e após a projeção; → fazer uso, ou não, de legendas intralinguísticas (closed-captions), em função dos objetivos estabelecidos. Quanto ao último aspecto, vale destacar que a literatura disponibiliza farto material que advoga a favor do uso de legendas, seja em LM, ou na língua alvo (Garza, 1991; Koolstra e Beentjes, 1999; Markham, 2001), como há, igualmente, autores que colocam importantes restrições à sua utilização (Blakely, 1984; Danan, 2004; Taylor, 2005). Para King (2002, p. 216-7), o resultado das pesquisas, até então, pendem favoravelmente para o uso das mesmas. Contudo, há de se avaliar que, se os objetivos se voltam para o desenvolvimento de inferência contextual, compreensão oral, ou fluência, corre-se o risco de que o aprendiz dedique mais atenção, do que o desejável à mera leitura das legendas e canalize um esforço excessivo para sua visualização e entendimento, desviando-se do propósito original. Acreditamos, portanto, que a opção se deva fazer após análise criteriosa dos objetivos pedagógicos estabelecidos. Importa, ainda, considerar que o emprego continuado do recurso pode “viciar” o aprendiz, que passa a temer o desafio da compreensão sem o apoio visual da fala escrita. Para concluir, ressaltamos que, em nosso entendimento, competências e habilidades que giram em torno do ensino e aprendizado da linguagem verbal _ escrita e falada _ devem se manter no eixo do trabalho escolar. Apesar disso, não podemos esquecer que, de modo cada vez mais acentuado e complexo, outras linguagens perpassam e contaminam, para o bem e para o mal, o significado da palavra em sua acepção mais imediata. A despeito dos relevantes pontos que se possam levantar a favor do uso de filmes de vídeo, para aquisição de LE, destacamos que, nesta investigação, referimo-nos à sua utilização em sala de aula, em ambiente controlável, sob a supervisão e a orientação do professor. É nosso pensamento que, especialmente para aprendizes com níveis iniciante e médio de proficiência, a interferência do professor se torna essencial. O emprego de filmes, para fins de aprendizado, pode se revelar extremamente frustrante e inócuo, quando o aprendiz o faz por conta própria: a seleção do texto pode não se mostrar adequada e a maneira como é explorado pode estar equivocada (Curtis, 2001). Cabe ao professor trazer a multiplicidade de sentidos que o texto filme proporciona, de forma efetiva e 90 pertinente às necessidades do aluno. Essa avaliação permite que o processo de articulação, entre se adquirir uma língua estrangeira e se refletir sobre o que isso significa, em termos de aprendizado social, possa se dar segundo a individualidade de cada um, seus objetivos e realidade sociocultural. Encerrando este capítulo, passamos às reflexões finais, considerando-se o tema da multimodalidade, filmes e sala de aula. 3.4- CONSIDERAÇÕES FINAIS As Figuras de número 1, 2 e 3 sintetizam nossa visão a respeito dos conceitos sobre os quais discorremos neste capítulo. O caminho percorrido pela multimodalidade é claramente ilustrado pelas páginas de jornal que, como se vê, de forma crescente, cedem espaço à comunicação visual, para além do texto escrito. FIGURA 1: Jornal do Brasil 1949 FIGURA 2: Jornal do Brasil 1986 FIGURA 3: Jornal do Brasil 2005 91 Entretanto, discorrer sobre o tema da multimodalidade não é apenas falar em modos de comunicação através de ilustrações, formas e sons. A pluralidade de modos se faz presente, igualmente, na linguagem verbal, como asseguram Kress e Van Leeuwen: Linguagem, por exemplo, é um modo semiótico porque pode se materializar em fala ou escrita, e a escrita é um modo semiótico também, porque pode se materializar como gravação em uma pedra, como caligrafia em um certificado, como impressão em papel brilhante, e todos esses meios adicionam uma camada a mais de significado. (Kress e Van Leeuwen, 2001, p. 47). 83 Desse modo, todo texto pode ser multimodal, mesmo que apenas em forma de texto escrito. Silva G. (2008, p.5) pondera que, a despeito da crescente utilização de modernos recursos tecnológicos, até mesmo o simples destaque de títulos, o uso de diferentes tipos de letras, em tamanhos e cores diversos, torna qualquer peça escrita um meio multimediático. Avaliamos, por conseguinte, ser indispensável uma tomada de consciência, por parte de todos aqueles que transitam no meio acadêmico-pedagógico, a respeito da necessidade de dotarmos nossos alunos de uma competência de multiletramento. Ao criarmos ambientes e adotar práticas condizentes e coerentes com o mundo em que vivemos _ um mundo de palavras, imagens e sons _ temos como objetivo prover esse aprendiz de instrumentos que possam ajudá-lo a desenvolver estratégias para ler e compreender textos multimodais. Entretanto, embora se reconheça que, há muito, recursos como filmes, músicas e figuras, entre outros, são uma constante em salas de aula de LE, faz-se necessário destacar a questão levantada por Dias (2005. p.33): se cabe ao professor preparar aulas apropriadas ao desenvolvimento de uma competência multimediática, de que forma esse profissional alcançará, ele próprio, a necessária condição de multiletramento? A autora questiona se a formação desse professor o prepara para a utilização de recursos multimodais, quando o próprio texto acadêmico raramente faz uso da imagem. Para Silva G. (op. cit., p. 10): “Sem literatura nem disciplina específica que tratem dos recursos multimodais, o trabalho do professor na tentativa de desenvolver nos alunos a competência comunicativa multimodal torna-se instintivo, fraco, pouco produtivo e pouco eficaz.” Por conseguinte, acreditamos que se coloca a necessidade de qualificar os próprios profissionais de linguagem, por meio de leituras suplementares e prática adequada, para que o uso de recursos de multimídia, na instrução de LE, faça-se de maneira condizente com os objetivos e a individualidade daqueles para quem trabalhamos. 83 “Language, for instance, is a semiotic mode because it can be realized either as speech or as writing, and writing is a semiotic mode too, because it can be realized as engraving in stone, as calligraphy on certificates, as print on glossy paper, and all these media add a further layer of signification.” (Kress e Van Leeuwen, 2001, p. 47) 92 Em continuidade, abordamos, no próximo capítulo, a temática da Semiótica, disciplina que se revela indispensável ao estudo da multimodalidade e, em consequência, imprescindível para esta investigação. 93 CAPÍTULO 4 - A SEMIÓTICA DAS IMAGENS A pintura é poesia muda; a poesia, pintura cega. (Leonardo da Vinci)84 O primeiro segmento deste capítulo tem por objetivo discorrer, brevemente, sobre a disciplina, hoje conhecida como “Semiótica”. A seguir, abordamos a teoria da Semiótica Social, como em Kress e Van Leeuwen (2006, 2001), proposta que dá suporte à análise das imagens focalizadas neste trabalho. Encerramos com as considerações finais sobre a temática. 4.1- O QUE VEM A SER SEMIÓTICA? Etimologicamente, o nome semiótica deriva da raiz grega semeîon, signo, e sema, sinal. Semiótica é, portanto, a ciência dos signos. Para Santaellla (1983, p. 2), "Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e de sentido." Assim considerado, avaliamos que a investigação semiótica abrange, potencialmente, todas as áreas do conhecimento envolvidas com linguagem, ou com sistemas de significação. Segundo Prates (2000, p.31), sua principal utilidade é “possibilitar a descrição e análise da dimensão representativa (estruturação sígnica) de objetos, processos ou fenômenos em categorias ou classes organizadas”. Para Fidalgo (1999), Semiótica é “uma ciência recente para uma temática antiga”. O autor esclarece que o termo já era utilizado pelos gregos em estudos diagnósticos de medicina, e a origem de investigações a respeito dos signos se confunde com a da própria filosofia, quando dos primeiros estudos de Platão sobre linguagem. Na era medieval, os estudos semióticos aconteceram no âmbito dos chamados estudos escolásticos, desenvolvidos nas universidades, e abrangiam teologia, filosofia, gramática, retórica e dialética e foi no início do 84 Reza a lenda que, um dia, um poeta, vangloriando a sua arte sobre a pintura, teria dito: a pintura não passa de poesia... mas é uma "poesia muda". Ao que Leonardo da Vinci teria respondido: “Se a pintura é ‘poesia muda’ então a arte do poeta é ‘pintura cega’". Canal informal: XI BRAZ-TESOL. CE. 11-15 de julho de 2008. 94 século XVII que se propôs que a disciplina passasse a investigar o conhecimento humano de forma abrangente (Nöth, 2005, p. 19). Em 1690, o filósofo inglês John Locke (1632-1704) postulou uma doutrina dos signos com o nome Semeiotiké, entretanto, foi somente no século XIX que símbolos e imagens se tornaram as noções centrais da Semiótica e, apenas em 1964, Thomas Sebeok publicou uma coletânea chamada Approaches to Semiotics, dando à palavra a forma plural que, no inglês, caracteriza a denominação de uma ciência (Prates, op.cit.). Hoje, a despeito da existência de diferentes correntes e abordagens para o estudo da disciplina, todas as "semióticas" se voltam à investigação de signos e/ou à sua significação. Essa variedade foi construída à medida que as investigações divergiam em seus pressupostos e priorizavam diferentes focos de atenção, o que faz com que se diferenciem a partir de sua concepção e delimitação de campo de estudo (Santaella, op.cit). O maior rival terminológico de Semiótica tem sido Semiologia. Se ambos os termos designam duas grandes correntes no campo do estudo dos signos, seus seguidores disputam definições e distinções conceituais. Os semioticistas, em sua maioria de origem anglo-saxônica e seguidores de Charles Pierce (sobre quem falaremos adiante), definem Semiótica como a ciência geral dos signos enquanto que Semiologia, de abrangência mais restrita, seria unicamente a ciência dos signos, criados pelos homens, especialmente os textuais. O termo Semiologia foi forjado por Ferdinand de Saussure (sobre quem nos deteremos à frente), que o utilizou para designar a disciplina que “estuda os sistemas de sinais no seio da vida social” (Fidalgo, op.cit.). Para os semiologistas, geralmente de países românicos, Semiologia é “a teoria geral, a metalíngua que trata dos aspectos semióticos comuns a todos os sistemas semióticos” (Nöth, op.cit., p.24). Fidalgo (op.cit.) faz uma ampla avaliação da trajetória percorrida pelos estudiosos da área, suas contendas e proposições, e avalia que, para que se estabeleçam definições, faz-se necessário delimitar o(s) objeto(s) de estudo de cada doutrina. Para o autor em questão, a Semiótica, que tem nos signos seu tradicional objeto de estudo, rompe com a linguística do signo, na década de 60, e passa a ser considerada como “ciência da significação”. Ainda segundo Fidalgo, esse conceito estende o campo de pesquisa da disciplina, ao englobar os níveis semânticos da textualidade e do enunciado, em que o primeiro diz respeito ao texto propriamente dito, e o segundo abarca a subjetividade, a intencionalidade e a interação. A contenda foi oficialmente encerrada quando, em 1969, a Associação Internacional de Semiótica adotou Semiótica como “termo geral do território de investigações nas tradições da semiologia e da semiótica geral que designa um sistema de signos com estruturas hierárquicas”, 95 ao passo que Semiologia é “a metalíngua desses sistemas” (Nöth, op.cit., p. 26). Entretanto, diferentes trabalhos continuam a apresentar novas definições para as duas disciplinas. Se para alguns estudiosos a Semiótica é um dos campos da linguística, para outros ocorre o inverso. Definindo uma posição a respeito da nomenclatura aqui utilizada, tomamos Semiótica como o termo canônico que designa toda e qualquer manifestação da linguagem e Semiologia, como aquele empregado para se referir ao estudo de linguagens particulares, como a ciência da linguagem verbal, conforme detalharemos adiante. Seguimos, portanto, o conceito de Deely (1990, p. 23), para quem: “A semiótica forma um todo do qual a semiologia é uma parte”. A fim de melhor compreender a origem dessas diferentes vertentes, precisamos abordar aqueles considerados seus principais precursores e cujos trabalhos paralelos conferiram à Semiótica autonomia e “status” de ciência: o americano Charles Sanders Peirce (1839-1914), cientista, matemático, lógico, historiador e filósofo, e o linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913). Embora suas abordagens estejam na raiz da divergência terminológica, ambos comungavam o conceito de que a comunicação e o pensamento se fundamentam no emprego de signos (Santaella, 2004, p. 15). Cronologicamente, devemos iniciar por Pierce, para quem linguagem e pensamento são processos de interpretação do signo. Pierce ampliou a concepção já existente de signo para uma relação triádica: o representante (representamen), que se refere à forma que o signo apresenta, o objeto denotado, aquilo a que o signo se refere e o interpretante, o sentido que o signo tem. Para o cientista, esses elementos se encontram unidos por uma relação de convencionalidade, enquanto linguagem e pensamento são processos de interpretação desse signo. Nessa concepção, “Signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele.” (Santaella, 1983, p.58). A Teoria Geral dos Signos, concebida por Pierce, dá origem à corrente semiótica, enquanto, paralelamente, surge a Semiologia, amparada no Curso de Linguística Geral de Saussure 85 e continuada por estudiosos como Louis Hjelmslev e Roland Barthes. Se a Semiótica se apresenta como uma “filosofia científica da linguagem” (Santaella, ibid, p. 28) em todas as suas formas de expressão, a Semiologia é, inicialmente, proposta por Saussure como um ramo da Psicologia Social, “englobando a própria linguística como um de seus ramos” (Nöth, 1995, p.19). Opondo-se à linha Peirceana, a chamada Semiótica Estruturalista, Semiologia, ou, ainda, Linguística Saussureana, tem como foco de estudo signos verbais/linguísticos. Suas ideias estão no livro de publicação póstuma, Tratado de Linguística 85 Cf: SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral de Saussure. São Paulo, S. P.: Cultrix. 20ª ed. 2002. 280 p. 96 Geral, organizado com base nas anotações dos alunos de Saussure, feitas durante suas aulas. A obra traz a teoria do signo linguístico, resultante da combinação entre um significante (o componente sonoro) e um significado (o conceito). Na visão de Saussure, a língua é um sistema de signos arbitrários, frutos de convenção, cujo significado muda “de acordo com o contexto e regras da língua” (Sturken e Cartwright, 2001, p. 28). Para Saussure, um signo linguístico não é “um elo entre uma coisa e um nome, mas entre um conceito _significado _ e uma imagem acústica _ significante.” (Sturken e Cartwright, ibid). Na concepção saussureana, não há signos motivados (baseados em uma relação causa-efeito), mas apenas os relativamente motivados, e os arbitrários, em que não há motivação. A partir desse conceito, o linguista defende a necessidade de se conceber uma ciência que estude a função dos sinais no seio da vida social, envolvendo parte da psicologia geral e social (Santaella, 2004). Para Fidalgo (1999), o grande mérito de Saussure foi haver aberto caminho para a linguística como a conhecemos hoje. A negação dos signos, como objeto da Semiótica, dá origem à chamada escola francesa, quando Algirdas Julien Greimas (1917-1992) desenvolve a teoria semiótica da Narrativa do Discurso (Fidalgo, ibid.). A teoria de Greimas tem como objeto de estudo o sentido, em todas as suas formas de manifestação discursiva, e propõe a desconstrução do texto, para que se compreenda a relação entre as unidades que o compõem. Essa teoria amplia o conceito do que venha a ser texto, definido como “qualquer objeto que signifique” (Lopes e Hernandes, 2005, p. 9) e propõe uma dicotomia, composta por um plano de conteúdo, em que o texto diz o que diz, e por um plano de expressão, que é a parte material que sustenta os conteúdos (Hernandes e Trota, 2005). Outra contribuição da vertente francesa foi a criação de um modelo global de análise conhecido como percurso gerativo de sentido. Esse modelo se propõe a fornecer um elenco de conceitos que opere como instrumento de trabalho isento, aplicado à análise e à investigação de qualquer forma de manifestação discursiva, permitindo que a interpretação de um texto seja um ato inteligível, baseado na observação, e não uma questão de sensibilidade pessoal (Farias, 2005, p.258). A Semiótica Greimasiana teria, portanto, contribuído, expressivamente, para que a disciplina se tornasse um efetivo instrumento de análise do processo de construção do significado. Outra vertente que julgamos conveniente mencionar é a chamada Semiótica da Cultura (SC), a qual possui diversas correntes de estudo. A mais conhecida, de origem russa, é a chamada Escola de Tártu-Moscou (ETM). Seus pesquisadores entendem a cultura, não como memória genética, mas, sim, como um sistema formado por uma coleção de textos, cuja função é armazenar, processar e transferir informação (Nöth, 2005, p.48). Essa vertente tem como proposta descrever e demarcar os elementos inerentes às diferentes expressões desses textos, que os grupos sociais acumulam e transmitem por meio de manifestações, tais como, religião, 97 arte e leis. Para esses estudiosos, esse conjunto compõe um “contínuo semiótico”, sobre o qual se estrutura o mecanismo das relações cotidianas e a dinâmica da vida em sociedade (Nöth, ibid.). Esse grupo tem seus expoentes em Roman Jakobson e Mikhail Bakhtin. Jakobson foi quem se empenhou no “estudo da língua como fenômeno da comunicação” (Nöth, ibid, p. 32) e se destacou como o semioticista da linguística e da poética. Já Bakhtin foi o teórico dos gêneros literários. Tinha preocupação com a natureza da linguagem, literária ou não, e percebia, tanto o homem, como a linguagem, em uma perspectiva integrada à totalidade histórica e social. Considerou que o fato linguístico não pode ser entendido apenas como uma realidade física, mas deve estar inserido na esfera social, para que se torne um fato de linguagem (Santaella, 1983). Considerando-se o conjunto de contribuições aos estudos semióticos, aqui sucintamente exposto, tomamos os signos como elementos portadores de sentido, inseridos em um sistema estruturado, de maneira parcialmente análoga aos elementos transmissores de significado em uma língua. Em consequência, se a Semiótica é, basicamente, a ciência dos signos, conceituamos a disciplina como instrumento essencial, para que melhor se compreenda como as pessoas interpretam mensagens, interagem, pensam e comunicam emoções e pensamentos. Em meio à diversidade de conceitos e acepções encontrados, definimos Semiótica, de modo abrangente, como uma ciência da comunicação e como uma teoria geral do sentido que apresenta vocação interdisciplinar, o que propicia seu trânsito nas áreas da Epistemologia, Ciências Sociais, Psicanálise e Psicologia. A disciplina proporciona uma metodologia, para o estudo do processo de construção do sentido, assim como para a análise do conteúdo e das relações entre conteúdo e expressão nos mais variados tipos de texto. Deriva dessa vocação instrumental, a avaliação de Lopes e Hernandes (2005, p. 8) que a conceituam como “um vasto canteiro de obras sobre as relações entre significante e significado.” Considerando-se que esta pesquisa tem como objeto de estudo o uso instrucional de filmes de vídeo, linguagem visual que faz uso da noção de signo para produzir significado, contemplamos a inclusão dessa breve abordagem sobre as bases históricas que concorreram para o atual perfil da Semiótica como disciplina autônoma com objeto de estudo próprio, a saber, “o sentido, em todas as suas formas de manifestação discursiva.”, (ibid, p.7). Havendo definido nossa posição, passamos a enfocar a teoria da Semiótica Social de Gunther Kress e Theo Van Leeuwen, que dá relevante suporte ao presente trabalho. 98 4.2- A GRAMÁTICA DO DESIGN VISUAL Este segmento tem por objetivo delinear a Gramática do Design Visual (2006, 2001) de Kress e Van Leeuwen, cujos pressupostos foram utilizados para a análise das imagens apresentadas no escopo desta investigação. Reforçamos que, como mencionado na Introdução deste estudo, as imagens que ilustram as análises que se seguem foram selecionadas a critério desta autora, em consonância com os conceitos em pauta. No segmento anterior, conceituamos Semiótica como um instrumento para “o estudo sistemático, abrangente e coerente, do fenômeno da comunicação como um todo.” (Hodge e Kress, 1988, p.1)86. Avaliamos que, como tal, a disciplina oferece meios para a descrição e a análise dos processos e estruturas, através dos quais o significado se constrói. Nosso juízo se confirma em Mancini (2005, p.29), para quem: Ao identificar elementos comuns aos textos, a semiótica cria um elenco de conceitos que podem ser aplicados a qualquer texto e, dessa forma, permite que se faça uma análise mais isenta de gostos pessoais, mais focada em como o texto está construindo aquilo que diz. (Mancini, 2005, p. 29) Nesse universo, a Semiótica Social é um campo da Semiótica que investiga esse processo de construção, em um determinado contexto sociocultural, e procura explicá-lo como prática social. A disciplina busca expandir os conceitos de Saussure (vide 4.1) ao explorar as implicações dos processos sociais nos códigos de comunicação. O aspecto crucial dessa abordagem reside no fato de que sistemas semióticos e seus significados são lapidados a partir das relações de poder de um determinado grupo social sobre outro(s), relações essas que estão em frequente mudança (Hodge e Kress, op.cit.). Nessa linha, definimos Semiótica Social como o estudo das dimensões sociais do significado, assim como do poder que processos de significação e de interpretação exercem na formação dos indivíduos e de seus grupos sociais. A disciplina pode abarcar a análise e a observação sobre como as pessoas constroem e interpretam o significado, de que modo sistemas semióticos são formados a partir de interesses sociais e ideológicos, e como eles se adaptam às mudanças sociais. Para Hodge e Kress (op.cit., p.2): “A Semiótica Social atribui poder ao significado, ao invés de significado ao poder.”87 Se a Semiótica Estruturalista de Saussure enfoca, prioritariamente, o que chamou de “langue”, explicada como “o sistema abstrato de sinais e convenções que dão base a atos 86 “A systematic, comprehensive and coherent study of communications phenomena, as a whole.” (Hodge e Kress, 1988, p.1) 87 “Social Semiotics attributes power to meaning instead of meaning to power.” (Hodge e Kress, 1999, p.2) 99 individuais da fala.”88 (O’Sullivan et al., 1994, p.166), a abordagem da Semiótica Social leva em conta a “parole” que conceitua a língua como atividade social dinâmica, inserida em um determinado contexto de tempo e espaço, “... uma declaração individual que é a realização particular do potencial da langue.”89 (O’Sullivan ibid.). Esse enfoque privilegia o modo pelo qual a criatividade individual, circunstâncias históricas e identidades sociais podem influenciar e alterar os padrões de uso (Hodge e Kress, op.cit.). Nessa visão, signos não são códigos fixos, mas recursos à disposição de indivíduos sociais que os selecionam e adaptam segundo suas necessidades, intenções e o contexto sociocultural em que atuam. Nesse aspecto, a disciplina compartilha os conceitos e interesses da pragmática e da sociolinguística e se aproxima da análise do discurso do linguista e teórico Michael Halliday, que trouxe o termo “Semiótica Social” para o campo da Linguística, quando intitulou seu livro “Language as Social Semiotic” (1978)90. Nesse trabalho, o autor argumenta contra a tradicional separação entre linguagem e sociedade e propõe uma abordagem mais ampla para o estudo da linguística na língua escrita (Neves, 1997). Para Halliday, as línguas se desenvolvem como “sistemas potenciais de significado”91 (Halliday, 1978, p.39), ou recursos, dos quais fazemos uso em um determinado contexto social. Para analisar o funcionamento desse sistema, tendo como base a língua inglesa, o linguista criou o modelo que denominou Gramática Sistêmico-Funcional: sistêmico, porque percebe a gramática como um sistema de escolhas potenciais, motivadas de forma não arbitrária, e funcional, porque foca no significado e no propósito do ato comunicativo, buscando explicar as implicações dessas escolhas. Para Halliday, as opções disponibilizadas por esse sistema léxico-gramatical relacionam os propósitos e intenções de falantes e escritores com as formas concretas existentes na língua. A teoria concebe a linguagem como um sistema de significados e leva em conta a competência comunicativa do indivíduo, definida como a maneira como esse indivíduo “codifica e decodifica expressões de maneira interacionalmente satisfatória” (Neves, op.cit, p.15). Ou seja, essa abordagem funcional privilegia o caráter instrumental da linguagem em uma situação comunicativa, ao mesmo tempo em que coloca o usuário como ator-criador das estruturas linguísticas de que faz uso. Segundo Neves (op.cit., p.73): 88 “The abstract system of signs and conventions underlying individual acts of speaking.” (O’Sullivan et al., 1994, p.166). 89 “[...] an individual utterance that is a particular realization of the potential of langue.” (O’Sullivan et al., 1994, p.127). 90 HALLIDAY, Michael A. K. Language as Social Semiotic: The Social Interpretation of Language and Meaning. London: Edward Arnold. 1978. 256 p. 91 “potential systems of meaning” (Halliday, 1978, p.39). 100 A questão fundamental, na gramática funcional de Halliday, é o modo como os significados são expressos, o que coloca as formas de uma língua como meios para um fim, não como um fim em si mesmas. Quando diz que a língua é um sistema semântico, Halliday não se refere, apenas, ao significado das palavras, mas a todo o sistema de significados da língua. (Neves, 1997, p.73) A consideração da autora avalia que o principal objetivo da Gramática Funcional não é o da análise da gramática per se _ como, a princípio se pode imaginar. Sua razão de ser é, prioritariamente, a compreensão de como essa gramática produz estruturas que permitam à língua funcionar como meio/instrumento efetivo para a produção e a troca de significados. Nessa apreciação, a abordagem Hallidiana investiga as funções sociais da língua e estabelece “metafunções”, que são suas manifestações de uso. Essas funções se realizam de modo simultâneo e se encontram organizadas, segundo os diferentes propósitos do ato comunicativo, interagindo na construção do texto e conferindo-lhe um caráter multifuncional. São elas: (i) metafunção ideacional: é a função dos significados. É por meio dessa função que o usuário representa suas experiências de mundo, tanto aquelas relativas à sua própria consciência, percepção, e cognição, quanto às do mundo externo. É a função que se realiza no sistema gramatical, diz respeito à sintaxe, à organização das palavras no texto, através do que codifica a representação do mundo; (ii) metafunção interpessoal: é a função das relações humanas. Diz respeito aos papéis sociais exercidos pela linguagem e às estratégias de afastamento/aproximação entre falantes, ou leitor/autor. É a função que se realiza no sistema da modalidade e codifica as relações entre os participantes; (iii) metafunção textual: visa a conectar essas ideias e interações em textos significativos, tornando-os relevantes em seu contexto. Estabelece a coesão entre uma frase e outra e confere encadeamento às frases, permitindo ao usuário construir textos como unidades operacionais. É a função que se realiza no sistema da informação e codifica a mensagem. Para Halliday, o foco deve estar na investigação sobre como a língua é usada, a que objetivos serve e, caso sejamos capazes de alcançá-los, de que forma fazê-lo. Nessa visão, os níveis sintático, semântico e pragmático se encontram inter-relacionados tanto em seus aspectos extra, como intralinguísticos, e as regras gramaticais são concebidas, sob a ótica de seu uso comunicativo, e não como padrões rígidos de aplicação. Com base nos pressupostos estabelecidos por Halliday e, a partir dos conceitos da Semiótica Social, alicerçados em sociedade e significado, Kress e Van Leeuwen (2006, 2001) propõem uma teoria de gramática visual para a análise de imagens. Os pesquisadores concebem a imagem como um sistema complexo, estruturado segundo propósitos semânticos, passíveis de 101 serem identificados. Acreditam que essa linguagem visual dialoga com o sistema de linguagem verbal e que a gramática, mais do que reger a língua e criar regras formais, permite a construção de uma imagem mental da realidade, proporcionando recursos para interpretar e dar sentido às experiências e interações sociais que vivemos (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.1). Para os autores, o significado está atrelado à cultura, de modo muito mais determinante do que a escolha por esse ou por aquele modo semiótico de expressão, e sofre os efeitos de todo um processo histórico, no qual fatores sócio-culturais se encontram inseridos (Kress e Van Leeuwen, ibid). Dessa maneira, ao nos alinharmos a Kress e a Van Leeuwen, tomamos a linguagem visual como um sistema de representação simbólica, profundamente influenciado por princípios que regem possibilidades de representação e de significação em uma dada cultura. Nesse cenário, abrimos espaço para problematizar, não só a própria linguagem visual, mas, igualmente, o que está envolvido em sua leitura, percebida, não como produto, mas, como construção de sentido. Nesse processo, estão envolvidos a intencionalidade do autor, a materialidade do texto, o contexto social e as possibilidades de ressignificação a partir do próprio leitor/receptor. Ao mesmo tempo em que sofre as consequências do contexto social em que interage, o indivíduo atua sobre ele, conferindo novos usos e contornos a esse sistema semiótico do qual faz uso. Nesse cenário, avalia-se que: O texto não existe, semioticamente, a não ser que tenha uma audiência, a qual deve inserir o texto em algum tipo de relação social, assim como atribuir uma relação do texto com o mundo.92 (Hodge e Kress, 1988, p.60). Para Iser (1997, p.15), o texto é “um potencial de efeitos que se atualiza no processo de leitura.”, e é nesse processo semiótico que se negocia e se constrói o significado, a partir da interação entre o emissário, o receptor e o mundo. Esse processo não se dá, por imposição de um autor onipotente e absoluto, mas como fruto de um contexto histórico e sociocultural, no qual o indivíduo se insere, e com o qual interage (Hodge e Kress, op.cit., p.12). É a partir do somatório desses conceitos que a Gramática do Design Visual se evidencia como instrumento para a leitura de textos visuais semióticos,. Além de fazer uso dos termos e classificações de Halliday, Kress e Van Leeuwen criam outros, alguns dos quais têm recebido diferentes traduções na língua portuguesa. Após a leitura de variados trabalhos, adotamos a seguinte terminologia: 92 “The text doesn’t exist, semiotically, unless it has an audience, which must set the text in some kind of social relationship, as well as attributing a relationship of text to the world.” (Hodge e Kress, 1991, p.60). 102 A metafunção ideacional de Halliday é chamada de “função representacional” por Kress e Van Leeuwen. É aquela que codifica a representação do mundo em nós e ao nosso redor. É responsável pelas estruturas que constroem, visualmente, as experiências e circunstâncias em que se encontram os participantes envolvidos, sejam esses pessoas, objetos, ou lugares (Kress e Van Leeuwen, 2006), são “as estruturas visuais capazes de conceber modos de representar o mundo”93 (Kress e Van Leeuwen, ibid, p.47). Se, na linguagem, essas estruturas se apoiam na sintaxe _ por sua vez fundamentada na sequência das palavras _ na imagem, porém, a sintaxe se constrói a começar da relação espacial entre os elementos representados (Kress e Van Leeuwen, ibid). Para os autores há dois padrões de representação: representações narrativas, quando os participantes realizam ações, e representações conceituais em que os participantes não estão envolvidos em ações. As categorias e seus desdobramentos serão minuciados adiante. A metafunção interpessoal Hallidiana é denominada de “função interativa”. Refere-se à maneira como agimos uns sobres os outros, descrevendo as relações entre quem vê e o que é visto. Segundo os linguistas em tela, os recursos disponíveis na imagem criam uma relação através de si mesma entre o autor da imagem e o receptor (Kress e Van Leeuwen, ibid., p. 48). A metafunção textual da gramática de Halliday recebeu o nome de “função composicional” no trabalho de Kress e Van Leeuwen. Diz respeito à estrutura e aos modos de organização do texto, na maneira como o significado textual codifica a mensagem. Está diretamente ligada à distribuição de valor da informação entre os elementos que compõem a imagem e criam um texto coerente e coeso, tanto internamente, quanto em relação ao meio externo em que foi produzido (Kress e Van Leeuwen, ibid). Para Unsworth (2001, p. 18), o modelo desenvolvido pelos pesquisadores em foco vem atender à crescente percepção sobre a necessidade de uma metalinguagem a serviço do conceito de multiletramento como aqui proposto: Professores estão em busca de um arcabouço prático e coerente para o trabalho escolar, que consolide aspectos fundamentais da pedagogia de letramento tradicional e que, igualmente, englobe as competências de multiletramento de que as crianças irão precisar para negociar no novo milênio. (Unsworth, 2001, p. 4)94 Acreditamos que, a despeito de certa dificuldade de consenso para as traduções da nomenclatura utilizada, a proposta de Kress e Van Leeuwen apresenta a praticidade e a 93 “...the visual structures that can realize ways of representing the world.” (Kress e Van Leeuwen, ibid, p.47). “Teachers are looking for a coherent and practical framework for classroom work, which consolidates fundamental aspects of traditional literacy pedagogy and also encompasses the multiliteracies competencies that children will need to negotiate in the new millennium.” (Unsworth, 2001, p. 4) 94 103 coerência abordadas por Unsworth (ibid). Para sua melhor compreensão e sistematização, o Quadro 9 ilustra uma tentativa, por parte desta autora, de organização do esquema de análise sugerido. Em seguimento, passamos a discorrer sobre as referidas categorias. QUADRO 9: Categorias da Gramática do Design Visual FUNÇÃO REPRESENTACIONAL ►Representações Narrativas Processos * Processos de Ação → Transacional → Não-Transacional → Bidirecional → Eventos * Processos Reacionais → Transacional → Não-Transacional * Processos Mentais e Verbais * Processos de Conversão Circunstâncias * Locativas ou Cenário * De Meio ou Instrumento * De Acompanhamento FUNÇÃO INTERATIVA FUNÇÃO COMPOSICIONAL ►Olhar ►Valor da Informação * Demanda * Oferta * Novo e Dado * Ideal e Real * Centro e Margem ►Distância Social ►Saliência * Pública * Impessoal * Social * Íntima e pessoal * Saliência máxima ►Perspectiva ►Enquadramento * Objetiva * Subjetiva * Conexão máxima → Dimensão do Envolvimento ▲ ▼ * Saliência mínima ▲ ▼ * Desconexão máxima » Ângulo horizontal frontal » Ângulo horizontal oblíquo ►Representações Conceituais → Dimensão do Poder * Processos de Classificação * Processos Analíticos * Processos Simbólicos » Ângulo ao nível do olhar » Ângulo superior » Ângulo inferior → Atributivo → Sugestivo 104 4.2.1- Função Representacional A função representacional se divide, como ilustrado, em duas categorias: Representações Narrativas e Representações Conceituais. A primeira expressa relações que os participantes estabelecem entre si quando engajados em eventos e ações, processos de mudança e arranjos espaciais. A segunda representa os participantes, em termos de sua essência, classe, estrutura, ou significado (Kress e Van Leeuwen, 2006). As Representações Narrativas abarcam Processos de Ação, Processos Reacionais, Mentais e Verbais e de Conversão, como, igualmente, Circunstâncias de lugar, meio e acompanhamento. Na dimensão das Representações Conceituais, encontram-se os Processos de Classificação, Analíticos e Simbólicos. As próximas seções discorrem sobre as categorias da Função Representacional. 4.2.1.1- Representações Narrativas Representações narrativas se subdividem em Processos e Circunstâncias. Segundo o dimensionamento desenvolvido pelos pesquisadores, os Processos se caracterizam, prioritariamente, pela presença de um vetor, equivalente ao verbo de ação na sintaxe. Os vetores são representados por instrumentos, pessoas, ou mesmo, apenas por parte de seus corpos e partem do Ator, o participante ativo do processo, que realiza uma ação para, ou por alguém. Os diferentes tipos de Processo _ de Ação, Reacional, Mental e Verbal, ou de Conversão _ variam, em função da dinâmica estabelecida pelo tipo de vetor, e pelo número e tipo de participantes envolvidos no evento. Nos Processos de Ação (ou Acionais), o vetor parte de um ator que pode ser ele mesmo, o próprio vetor. O Ator costuma ser o participante mais destacado da composição visual, em função de seu tamanho, localização, ou contraste, criado por elementos, tais como: cor, foco, ou “saliência psicológica”_ “psycological salience” (Kress e Van Leeuwen, op.cit., p.63). Os Processos de Ação podem se subdividir em: * Não-Transacional- existe apenas um participante que, geralmente, é o Ator. A ação não tem uma Meta (Goal), não está voltada, ou dirigida a nenhum outro participante da composição. Na sintaxe equivale aos verbos intransitivos. * Transacional- ilustra dois participantes, em que um é o Ator (participante ativo) e o outro a Meta (participante passivo), ligados pelo vetor. Equivale, na linguagem verbal, ao verbo transitivo. 105 Na Figura 4, por exemplo, o participante caminha. A ação não está voltada para outro elemento da composição (Meta), pelo menos, não que se possa ver. A cena poderia ser expressa como: Mulher caminha. Já, na Figura 595, há um nítido vetor entre a Virgem Maria que funciona como Ator, ao passo que Santo Antônio, ao estender os braços e receber o Menino Jesus, é objeto dessa ação e funciona como Meta. Ou seja, verbalmente poderia equivaler a: A Virgem Maria entrega o Menino Jesus a Santo Antônio. FIGURA 4: Processo de Ação Não Transacional FIGURA 5: Processo de Ação Transacional * Bidirecional- nessa categoria, Ator e Meta alternam papéis, hora funcionando como aquele que age, ora como aquele que recebe a ação. Essa relação pode ser simultânea, ou subsequente. Nessa categoria, os autores denominam os participantes que exercem um duplo papel não mais de “Atores”, mas de “Interactors”, que sugerimos traduzir como “Interagentes”. A Figura 6 ilustra um exemplo de narrativa de Ação bidirecional: ambos os participantes funcionam como Ator e Meta ao se abraçarem e agirem um sobre o outro de forma recíproca. Um verbo reflexivo exprimiria o texto visual: Crianças se abraçam. 95 “La Virgen entregando el niño a S. Antonio”. Juan Correa, 1561. 106 FIGURA 6: Processo de Ação Bidirecional * Eventos- são os Processos em que apenas a Meta _o objetivo da ação_ encontra-se ilustrado. Algo está acontecendo, mas não se pode ver quem, ou o quê está agindo. Nessa categoria, também se inclui a composição na qual se vê, apenas, uma pequena parte do Ator, como suas mãos ou pés, permitindo que este continue anônimo. A Figura 7 ilustra esse tipo de narrativa: sabe-se que existe uma ação em andamento (o preparo de um prato), mas o Ator permanece anônimo, já que somente suas mãos podem ser, parcialmente, vistas. Um verbo na voz passiva pode ilustrar a cena: Pica-se a carne. / A carne é picada. FIGURA 7: Processo de Evento 107 Os Processos Reacionais se realizam através do vetor formado a partir da direção do olhar de um ou mais participantes. Nesse caso, Kress e Van Leeuwen substituem os termos Ator e Meta, por Reator/Reagente (Reacter)96 e Fenômeno (Phenomenon). O Reator, necessariamente humano ou um animal humanizado, é o participante ativo, aquele cujo olhar cria a “linha do olhar” (eyeline) e é capaz de reforçar o significado desse olhar por meio de expressão facial. O Fenômeno pode ser o participante passivo, alvo desse olhar, ou o conjunto formado pela proposição visual, a própria estrutura transacional em si. Como nos processos de Ação, Processos Reacionais podem se subdividir em transacional, no caso de haver dois participantes, e não-transacional, quando há apenas um participante que é o Reagente, ou Reator (Reacter) que dirige o olhar a algo, ou a alguém que não podemos ver. Nesse caso, “é deixado para o observador imaginar o que ele ou ela está pensando, ou para que está olhando, e isso pode criar um poderoso senso de empatia, ou identificação com os participantes representados” (Kress e Van Leeuwen, op.cit., p.68) 97 , daí ser um recurso usual na área da propaganda. O Processo Reacional Transacional é ilustrado na Figura 8: a linha do olhar amoroso da mãe direciona o processo de recepção do espectador, que se completa e reforça no conjunto formado pelos sorrisos _ apenas entrevisto no rosto da criança (Fenômeno) e aberto na expressão materna. FIGURA 8: Processo Reacional Transacional 96 A tradução de “Reacter” por Reator, ou Reagente é uma proposta desta autora. As fontes consultadas de autores nacionais mantêm o termo no original inglês. 97 “It is left to the viewer to imagine what he or she is thinking about or looking at, and this can create a powerful sense of empathy or identification with the represented participants.” (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.68) 108 A Figura 9 ilustra um Processo Reacional Não Transacional: a propaganda de um produto de beleza reforça seu apelo por meio do olhar convidativo da modelo. Nesse caso, a mensagem se dirige de forma direta ao espectador, sem a presença de um outro alvo para a linha do olhar que não aquele do receptor da imagem. A sugestão de encantamento e sedução é sublinhada pelos ângulos inclinados do rosto e do ombro e pelo meio sorriso. FIGURA 9: Processo Reacional Não Transacional A Figura 10 ilustra uma combinação dos Processos de Ação e Reacional, do tipo transacional: a mulher se encontra no papel de Ator e o rapaz atua como Meta, quando ela estende o braço na direção dele e o toca. A imagem poderia ser transcodificada em linguagem verbal por _ A moça toca o rapaz. Ao mesmo tempo, a mensagem é reforçada pela linha do olhar que ela dirige a ele, colocando-a no papel de Reator. Entretanto, como ela também é alvo do olhar do rapaz, ocorre uma sobreposição de funções e ela passa a ser Fenômeno. Já o rapaz se enquadra somente no Processo Reacional, acumulando, da mesma forma, os papéis de Reator e Fenômeno, pois tanto é participante ativo ao olhar para a moça como é elemento passivo ao ser alvo do seu olhar. Todo o conjunto visual composto pelos olhares recíprocos, e fortemente reforçado pelo vetor formado pelo braço estendido que liga os participantes, compõe um Fenômeno da estrutura reacional transacional. A mensagem visual dos olhares se encontra, ainda, reforçada pela boca da moça, que parece falar, e pelas expressões faciais de ambos, que aparentam denotar afeto e conexão emocional entre o par. 109 FIGURA 10: Processos Acional e Reacional Processos Mentais e Verbais são aqueles que fazem uso da mediação de balões de fala e de pensamento, comuns não só em histórias em quadrinhos, mas, igualmente usuais, em livros didáticos. Os recursos funcionam como vetores< ao conectar o participante ao conteúdo verbal. Os autores usam a nomenclatura Sayer e Senser para se referir aos participantes dos Processo Verbal e Mental, respectivamente, e Enunciado (Utterance) para o rotular o contéudo dos balões, como ilustrado na Figura 11. FIGURA 11: Processo Verbal: Sayer/ Utterance 110 Os Processos de Conversão dizem respeito a estruturas em cadeia, nas quais um participante funciona como Meta (Goal), em relação à ação de um Ator e como Ator em relação a outra. Esse participante é denominado pelos autores de Revesador (Relay), usando-se tradução adotada por alguns pesquisadores que constam de nossas referências. Essa estrutura narrativa é bastante frequente na ilustração de processos da natureza. Na Figura 12, por exemplo, a nuvem que se forma, a partir da ação dos agentes poluidores (Atores), passa de Meta (Goal) dessa ação a Revesador (Relay) ao cair em forma de chuva ácida, sobre a floresta e o lago, ilustrados na composição, já que, nesse momento passa a ter um papel ativo. FIGURA 12: Processo de Conversão Ainda no que diz respeito às Representações Narrativas, Kress e Van Leeuwen mencionam o papel de participantes secundários, que denominam de “Circunstâncias”, classificando-as em três categorias: * As Circunstâncias Locativas relacionam os participantes a um elemento específico que os autores chamam de “Cenário” (Setting). Essa circunstância demanda que se crie um contraste entre primeiro e segundo planos, efeito que pode ser produzido por meio de diversos recursos: i) os participantes se sobressaem em primeiro plano, consequentemente reduzindo o destaque do que se encontra em segundo plano; ii) o cenário é mostrado em menos detalhes, menos cores, ou com foco reduzido, no caso de fotos; 111 ii) o cenário se perde ao fundo, efeito geralmente criado pelo uso de uma cor única; iv) o cenário é mais escuro ou mais claro do que os participantes em primeiro plano. A curiosa foto da Figura 13 ilustra uma situação em que os participantes claramente se destacam em primeiro plano. O Cenário, embora se perceba a existência de um texto que pode ser relevante no contexto em que os participantes se encontram, está fora de foco e, à exceção das letras brancas difusas, há o predomínio de uma cor única. Esses fatores retiram qualquer significado que o segundo plano pudesse ter no conjunto visual e ressaltam os elementos à frente. FIGURA 13: Circunstância Locativa: Cenário * As Circunstâncias de Meio ou Instrumento se referem às ferramentas utilizadas para a execução da ação nos Processos de Ação, na hipótese de não se estabelecer um vetor definido entre o instrumento e o usuário. Assim, o instrumento pode ser, ele mesmo, o vetor da ação. * As Circunstâncias de Acompanhamento fazem menção a participantes que não estão ligados uns aos outros por meio de vetor, mas, ainda assim, compõem um conjunto significativo baseado no fato de estarem um na companhia do outro. A categoria pode ser ilustrada pela gravura da Figura 14, na qual se comunica uma noção de “família de tigres”, a despeito da ausência de vetores. 112 FIGURA 14: Circunstância de Acompanhamento 4.2.1.2- Representações Conceituais O segundo grupo de estruturas pertencentes à Função Representacional é formado pelas Representações Conceituais, que expressam uma categoria, classe, ou estrutura à qual os participantes pertencem. Nesse caso, não estão envolvidos em ações, mas “são”, ou ”significam algo” e, por conseguinte, não há a presença de vetores, mas se estabelece um processo classificacional, ou analítico. Essa dimensão está subdividida, conforme ilustrado no Quadro 9, em Processos de Classificação, Processos Analíticos e Processos Simbólicos. * Processos de Classificação – os participantes se relacionam, segundo uma determinada taxonomia, um tipo de relação que obedece a uma regra específica, na qual “[...] pelo menos um grupo de participantes desempenha o papel de Subordinados, em relação a pelo menos um outro participante, o Superordinado”98 (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.79). Essa relação hierárquica se estabelece a partir do próprio ordenamento das imagens e nem sempre reflete um critério natural, mas o julgamento feito por um elemento externo que considerou os participantes ilustrados como pertencentes à mesma classe. Na Figura 15, os elementos ilustrados fazem parte de uma categoria mais abrangente: espátulas de cozinha. Sua estruturação visual, lado a lado de forma alternada, e a harmonia de cores sugerem uma equivalência de valor entre os elementos, sem que um prevaleça sobre os outros. 98 “[...] at least one set of participants will play the role of Subordinates with respect to at least one other participant, the Superordinate.” (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.79). 113 FIGURA 15: Processo de Classificação * Processos Analíticos - os participantes se encontram interligados, não através de ações, mas por meio de uma estrutura que relaciona as partes ao todo 99. Nessa categoria, o Transportador (Carrier) é o todo e as partes são chamadas de Atributos Possessivos (Possessive Attributes). Essa classe de processos se encontra intrinsecamente associada a um critério seletivo, pois alguns atributos, ou características, são selecionados como representativos de um conceito, em detrimento de outros que são descartados. Um exemplo claro de processo analítico é o modo como os mapas são organizados: os estados do Brasil funcionam como Atributos Possessivos de um todo _ Brasil _ que é o Transportador desses atributos. Na Figura 16 a pirâmide alimentar para diabéticos atua como Transportador, e os alimentos ilustrados são os Atributos Possessivos. A escolha dos alimentos inseridos na gravura é fruto de uma seleção, processo que caracteriza os Processos Analíticos. FIGURA 16: Processo Analítico 99 “Analytical processes relate participants in terms of a part-whole structure.” (Kress e Van Leeuwen, 2006, p. 87) 114 * Processos Simbólicos –“ [...] dizem respeito ao que um participante significa ou é.”100 Subdividem-se em processos Simbólicos Atributivos e Sugestivos (Attributive / Suggestive). O primeiro possui dois participantes: o Transportador (Carrier), cujo significado, ou identidade é estabelecido na relação, e o Atributo Simbólico (Symbolic Attribute), que representa o significado, ou identidade, propriamente ditos, desse Transportador. Esse papel pode ser desempenhado pelo Atributo, ao ser destacado em função de sua posição no conjunto, através de efeitos de iluminação, tamanho exagerado, ou, ainda, por estarem associados a determinados valores por mera convenção, como é o caso da ilustração da Figura 17: o uniforme e o chapéu de mestre cuca são Atributos que conferem ao homem sua qualidade de chefe de cozinha. Já o segundo tipo de Processo Simbólico _ o Sugestivo _ tem apenas um participante, o Transportador (Carrier), que traz em si próprio as qualidades que lhe conferem identidade. Nesse caso, o processo deixa de ser analítico, porque nesse tipo de imagem os detalhes não têm papel relevante, o que prevalece é o que chamam de humor (mood), ou atmosfera (atmosphere) (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.106). O significado e a identidade derivam das qualidades do próprio Transportador. Esse efeito é atingido através do uso das cores, que podem se matizar, o foco pode ser suavizado, ou os participantes e silhuetas podem se encontrar apenas sugeridos. Na Figura 18, os tons escolhidos para a composição conferem uma qualidade outonal à imagem, cujos detalhes se perdem e são menos importantes do que a impressão geral, criada pelo fundo meio fora de foco, as plantas que parecem secas e o vigor das tonalidades utilizadas. FIGURA 17: Processo Simbólico Atributivo FIGURA 18: Processo Simbólico Sugestivo 100 “Symbolic processes are about what a participant means or is. “ (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.105) 115 4.2.2- Função Interativa Kress e Van Leeuwen (op.cit.) avaliam que a linguagem visual envolve dois grupos distintos de participantes: os participantes representados _ os elementos que fazem parte da imagem, sejam estes pessoas, lugares ou coisas _ e os participantes interativos, traduzidos pela figura do produtor e do espectador da imagem os quais se comunicam por meio da mesma. Se na Função Representacional os pesquisadores discorrem sobre os tipos de relação possíveis entre os elementos representados, nessa analisam a interação entre aqueles que se comunicam por intermédio da linguagem visual. Para os autores, Participantes interativos são, portanto, pessoas reais que produzem e interpretam imagens no contexto das instituições sociais, que, em diferentes graus e de diferentes maneiras, regulam o que pode ser “dito” com imagens, como deve ser dito, e de que modo deve ser interpretado. (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.114)101 Frequentemente, não há uma relação face a face entre o produtor e o observador, como pode ocorrer quando se tira uma foto, e os participantes envolvidos têm a possibilidade de comentar e trocar ideias sobre a imagem obtida. À exceção desse caso, o que costuma ocorrer é um afastamento físico entre autor e receptor. Além da distância espacial e/ou temporal, essa recepção pode se dar em um contexto sociocultural totalmente diverso daquele que embasou o processo de criação, e o único elemento de ligação entre esses participantes e contextos distintos é a própria imagem e seus elementos. No âmbito da dimensão interativa, distinguem três tipos de relações: i) As relações que se estabelecem entre os participantes representados; ii) as relações entre participantes representados e participantes interativos; iii) as relações entre os participantes interativos, ou seja, o que fazem ao outro, ou pelo outro, por intermédio dessa imagem. Para analisar esse processo, os autores sugerem que a dinâmica da interação se dá através de três categorias distintas inerentes à linguagem visual: Olhar (Gaze), Distância Social (Social Distance) e Perspectiva (Perspective), também traduzida por Ponto de Vista em algumas fontes. Esses aspectos, representativos das relações e interações sociais, são abordados nos próximos segmentos. 101 “Interactive participants are therefore real people who produce and make sense of images in the context of social institutions which, to different degrees and in different ways, regulate what may be “said” with images, how it should be said, and how it should be interpreted.” (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.114) 116 4.2.2.1- Olhar No âmbito da Função Interativa, a dimensão que os pesquisadores denominam de “Contato” (Contact) está relacionada ao olhar do participante da imagem que pode estar diretamente voltado para os olhos do observador, ou não. No primeiro caso, forma-se um vetor, a partir da linha do olhar (eyeline) do participante representado, conectando-o ao observador, categoria chamada pelos autores de “Demanda” (Demand), também traduzida como “Interpelação” em algumas fontes. Nesse caso, o observador é convidado a estabelecer uma relação direta com o participante. A qualidade dessa interação vai depender de fatores, como a expressão facial, os gestos, as intenções e as emoções transmitidas por meio desse olhar e de outros fatores que compõem o conjunto visual. Olhares de Demanda são muito utilizados em propaganda e anúncios, quando se deseja que o observador seja diretamente estimulado a agir. Na Figura 19, o olhar sentido e magoado da criança estimula uma empatia com a sua tristeza, sentimos vontade de consolá-la e somos convidados a reagir a esses sentimentos. No que toca à Perspectiva, aspecto em que nos deteremos adiante, o ângulo levemente inferior em que a participante se encontra, em relação ao espectador, confere a este uma posição de superioridade: eu, observador, detenho o poder e posso mudar a situação em que a participante se encontra. A mulher, ilustrada na Figura 20, no anúncio contra o uso de peles de animais, tem um olhar inquisidor, que cobra uma atitude e uma postura a respeito da questão. O vetor criado por esse olhar se soma àquele estabelecido pelo braço erguido, que segura o animal morto, criando um vetor de ligação direta entre o espectador, o corpo do animal e a mulher. O ângulo levemente oblíquo da sua cabeça acentua um efeito interpelativo, assim como o seu braço direito inerte, estendido ao lado do corpo, posição reforçada pelas linhas retas e soltas do vestido de cor única, elementos que sublinham o sentimento de indiferença que a imagem deseja combater. 117 FIGURA 19: Olhar de Demanda I FIGURA 20: Olhar de Demanda II A Figura 21 ilustra o Olhar que não se dirige diretamente para quem vê. O observador se transforma em uma plateia “invisível”: pode se entregar à contemplação sem se sentir convidado a reagir, o que cria conforto psicológico e distanciamento emocional. A esse tipo de olhar os autores chamam de “Oferta” (Offer). Filmes para a televisão, ou para o cinema se utilizam, basicamente, desse tipo de olhar, motivo pelo qual, nessa situação, costumamos nos sentir mais à vontade para observar o que se desenrola na tela, sem que experimentemos uma situação de desconforto perante imagens que, em contextos mais diretos _ como no caso de olhares de Demanda _ poderiam criar um sentimento de interpelação mais invasiva. No caso desse afastamento criado pelo não confrontamento de olhares, os autores em tela avaliam que: [...] aqui uma barreira real ou imaginária é erguida entre os participantes representados e os espectadores, um sentido de desengajamento, no qual o espectador deve ter a ilusão de que os participantes representados não sabem que estão sendo vistos e estes devem fingir que não estão sendo observados. (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.120) 102 102 “... here a real or imaginary barrier is erected between the represented participants and the viewers, a sense of disengagement, in which the viewer must have the illusion that the represented participants do not know they are being looked at, and in which the represented participants must pretend that they are not being watched.” (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.120) 118 Nesse caso, como bem destacam, a sensação é de desengajamento, resultado muito diferente do sentimento interpelativo despertado pelo Olhar de Demanda, que estabelece um contato, ainda que imaginário, entre observado e observador. FIGURA 21: Olhar de Oferta 4.2.2.2- Distância Social A segunda dimensão a influenciar as relações entre produtor e receptor diz respeito ao enquadre da imagem, elemento responsável pela impressão de distância que se cria. O participante pode ser mostrado mais, ou menos próximo, o que estabelece um sentimento de maior, ou menor intimidade entre representado(s) e observador. Entretanto, considerando-se que, de um modo geral, estes nem ao menos se conhecem e não há como se ter controle sobre as impressão despertadas pelo texto visual, os autores ressalvam o aspecto irreal dessa relação: A relação entre os participantes humanos representados nas imagens e o observador é, mais uma vez, uma relação imaginária. As pessoas são retratadas como se fossem amigas, ou como se fossem estranhos. (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.126).103 Nessa categoria, os pesquisadores dividem as possíveis dimensões de efeito como Distância Pública (Public Distance), Distância Impessoal (Far Social Distance), Distância Social (Far Personal Distance) e, por fim, Distância Íntima Pessoal (Close Personal Distance). As classificações podem ser comparadas aos comportamentos que ocorrem nas relações sociais do dia a dia, quando, seguindo valores culturais, usamos um código corporal, impondo 103 “The relation between the human participants represented in images and the viewer is once again an imaginary relation. People are portrayed as though they are friends, or as though they are strangers.” (Kress e Van Leeuwen, 2006, p.126) 119 maior, ou menor distância entre nós e aqueles com quem interagimos, como parte da mensagem que está sendo trocada. Ao contrário da dimensão anterior (Olhar), os sistemas de Distância podem se aplicar ao meio ambiente e aos objetos ilustrados, estabelecendo relações não só entre o espectador e o participante, como entre os próprios participantes ou o participante e os outros elementos visuais representados. Retornando à ilustração da Figura 19, a próximidade física entre quem tirou a foto e a menina acentua a impressão de empatia e interação que, provavelmente, o fotógrafo quis criar. Já na Figura 20, o fato de a mulher aparecer de corpo inteiro, em um ângulo levemente superior ao observador, cria um certo afastamento, apesar do vetor formado pelo olhar funcionar como fator de aproximação. Se, por um lado, somos chamados a simpatizar com a causa que a modelo defende, por outro, há um certo distanciamento entre a nossa realidade e o ativismo engajador que a imagem nos propõe, sentimento facilitado pelo enquadramento escolhido. 4.2.2.3- Perspectiva A terceira dimensão a agir na Função Interativa se refere à Perspectiva (Perspective) ou Ponto de Vista. Ao compor uma imagem, escolhemos um determinado ângulo e essa escolha abre a possibilidade de expressarmos pontos de vista, não apenas em função de convicções, ou preferências pessoais, mas a partir de atitudes socialmente determinadas. Nessa dimensão, a cultura ocidental apresenta dois tipos de imagem: objetivas e subjetivas. Imagens objetivas costumam ocorrer no caso de mapas, diagramas e gráficos. Essas composições não apresentam nenhuma perpectiva em especial, mostram aquilo que o produtor da imagem acredita ser tudo o que há para ser mostrado e não levam em conta o observador. Diferentemente, imagens subjetivas são construídas se levando em conta o receptor e sua reação ao texto visual. Contudo, na verdade, essa perspectiva se estabelece a partir do ponto de vista do produtor, visão essa que passa a se impor, igualmente, a participantes retratados e interativos, o que estabelece uma certa simetria nas relações criador-retratado e observadorretratado. Algumas opções afetam essa perspectiva: a escolha entre um ângulo frontal, ou oblíquo, determina maior, ou menor envolvimento. Se frontal significa que “sou parte desse mundo retratado e estou envolvido”, oblíquo corresponde a “não pertenço a esse mundo e olho sem envolvimento.” Um ângulo na linha dos olhos desperta um sentimento de igualdade entre os participantes. Por outro lado, a escolha entre um ângulo superior, ou inferior estabelece relações de poder: se o participante retratado se encontra em um ângulo superior ao do observador, confere-se maior poder ao primeiro, ao passo que, se a composição está em um 120 ângulo inferior o observador detém o poder. Na Figura 22, a foto de um grupo de imigrantes presos foi tirada de um ângulo oblíquo e o fotógrafo se encontra em uma posicão superior. As perspectivas escolhidas codificam uma relação de distanciamento emocional e de poder por parte do observador. O fato de os participantes estarem de costas reforça a sensação de que pertencem a um mundo distinto, posicionamento que, ao mesmo tempo, transmite um sentimento de vulnerabilidade. É como se os observássemos sem que, em momento algum, fôssemos tocados por sua situação, ou nos sentíssemos convidados a um envolvimento pessoal. FIGURA 22: Perspectiva subjetiva de afastamento Em contrapartida, a mesma temática _ imigrantes _ é codificada sob outra perspectiva na Figura 23: o ângulo é frontal, há vetores formados a partir dos olhares dos retratados com o olhar do espectador e não há uma imposição de poder de uma, ou de outra parte, em função do ângulo horizontal no nível do olhar, perspectiva que convida o observador a uma empatia com os participantes. 121 FIGURA 23: Perspectiva subjetiva de aproximação Figura 18: Perspectiva subjetiva de aproximação Figura 14: Perspectiva subjetiva de aproximação Kress e Van Leeuwen (op.cit.) destacam que a codificação veiculada pelas escolhas daquele que produz a imagem se, por um lado, limitam a percepção do observador, não necessariamente criam uma concordância com esse ponto de vista. A partir da compreensão das mensagens codificadas, fica a critério do receptor se identificar, ou não com elas. Outros elementos que também afetam a codificação dos processos de interação entre criador e receptor da imagem visual são a cor, a contextualização, a representação, a profundidade, a iluminação e a luminosidade, categorias que não receberam denominações específicas e que podem ter maior ou menor peso no conjunto da recepção. 4.2.3- Função Composicional A Função Composicional diz respeito à capacidade que todo modo semiótico possui, para formar textos complexos, que apresentem coerência, tanto na composição das estruturas internas, quanto em relação ao contexto externo em que foram produzidos (Neves, 1997). Nesse processo, diferentes arranjos expressam o modo como os elementos representacionais e interativos se integram e atuam na construção dos significados textuais. Kress e Van Leeuwen (2006, p.177) consideram a existência de três sistemas através dos quais os elementos composicionais se relacionam e integram os elementos codificados pelas Funções Representacional e Interativa: Valor de Informação (Information Value), Saliência (Salience) e Enquadramento (Framing). 122 4.2.3.1- Valor de Informação O Valor de Informação se refere ao posicionamento dos participantes retratados no conjunto da imagem. A partir desse arranjo, os mesmos interagem, afetando e sendo afetados em seus valores, assim como também atuam sobre a interação com o receptor por meio de significados intrínsecos relativos às diferentes áreas da composição visual. Nessa categoria, Kress e Leeuwen (2006) destacam os seguintes elementos: 4.2.3.1.1- Esquerda e Direita: Novo e Dado Para os pesquisadores, em uma sociedade ocidental, em que a leitura ocorre da esquerda para a direita, se a composição se faz sobre um eixo vertical, os elementos à esquerda são aqueles considerados como valor ou informação já assimilados pelo observador e os denominam “Dado” (Given). Aqueles, porém, posicionados à direita, transmitem o novo, o desconhecido a ser incorporado pelo receptor, elemento a que chamam de “Novo” (New). Na Figura 24, a foto à esquerda ilustra a Torre de Spinnaker (Spinnaker Tower) na cidade inglesa de Portsmouth. A torre é um marco local e não apresenta nenhuma informação nova para os leitores, ao contrário do anúncio veiculado na porção direita da página, que informa sobre um evento a ocorrer na prefeitura, destinado à organização de um plano de ação sobre a qualidade do ar na cidade. FIGURA 24: Esquerda e Direita: Novo e Dado 123 4.2.3.1.2- Parte superior e parte inferior: Ideal e Real Se o arranjo da composição se faz sobre um eixo horizontal, confere-se à parte superior da composição um apelo emocional maior, é onde a essência idealizada da informação se concentra, a porção da imagem que Jewitt (2004, p.148) conceitua como “mais ideologicamente saliente”104. A esse espaço Kress e Van Leewuen chamam de “Ideal” (Ideal). A parte inferior da imagem é denominada de “Real” (Real). Nessa área se localiza a informação de caráter mais prático, mais concreto e específico, e cujo significado está subordinado àquele da parte superior. Essa oposição de valor também ocorre, quando a composição inclui texto escrito e imagem, como se vê na Figura 25. No exemplo, as ilustrações, no pé da capa de um livro de geografia, estão a reboque do título (Por que a Geografia importa) e das informações _ subtítulo e nome do autor _ localizadas na parte superior. FIGURA 25: Parte superior e parte inferior: Ideal e Real 4.2.3.1.3- Centro e Margem Uma composição visual pode também estar estruturada a partir dos conceitos de Centro e Margem. Nesse caso, o elemento colocado no centro é percebido como o núcleo da informação à qual os outros estão, de algum modo, subordinados. Esse conceito de semiótica 104 “[...] the ideologically most salient part.” (Jewitt, 2004, p. 148) 124 visual, segundo Kress e Van Leeuwen, é especialmente comum nas sociedades asiáticas onde é mais acentuada a noção de hierarquia. Na Figura 26, a ideia de subalternidade é enfatizada pelo uso de setas que funcionam como vetores, os quais sublinham o papel central da informação colocada ao centro da composição. FIGURA 26: Centro e Margem Os conceitos de Valor da Informação, categorizados em Novo e Dado, Ideal e Real e Centro e Margem podem ser combinados como ilustrado no Quadro 10, e se encontram aplicados na análise da Figura 27, ilustração de uma capa da revista Veja (16/02/2005). QUADRO 10: As dimensões do espaço visual 105 MARGEM IDEAL DADO MARGEM IDEAL NOVO CENTRO MARGEM REAL DADO 105 MARGEM REAL NOVO “[...] the dimensions of visual space [...]” (Kress, Van Leeuwen, 2000, p. 208) 125 Na Figura 27, ao centro da composição, destaca-se a pintura de uma mulher simbolizando libertação e coragem, valores que sintetizam a mensagem resultante da superposição dos textos visual e textual. Focalizando-se o arranjo em suas partes superior e inferior, o nome da revista, assim como a bandeira, situam-se na parte superior _ Ideal _ onde, segundo os conceitos apresentados, encontram-se as informações de maior peso no significado textual. Nessa área, o vetor formado pelo braço erguido reforça a ideia de triunfo, tendo de um lado o nome da revista e de outro a bandeira do país que é apresentado como vitorioso: “A Coréia fez [...]”. O nome da publicação destaca-se, ainda, pelo tamanho das letras em relação aos outros textos verbais, e pela cor vermelha. Em contrapartida, o título e o subtítulo referentes à reportagem de capa se acham subordinados à força da imagem central, explicando-a sem, contudo, se sobrepôr. Se a análise se fizer a partir do eixo vertical, percebemos que a informação a ser destacada se encontra à direita _ Novo _ ao passo que os elementos posicionados à esquerda, Dado, estão escuros e um tanto desfocados, denotando sua pouca relevância no contexto. Igualmente no setor visual de maior significação _o hemisfério direito _ visualizam-se alguns lápis inseridos à imagem original, sublinhando a mensagem comunicativa do texto. Percebe-se, igualmente, uma hierarquia entre os diferentes textos verbais localizados na parte do Novo, formalizada pelas cores, tamanhos e diferentes tipos utilizados de fonte gráfica. O conjunto da interpretação, entretanto, depende, pelo menos em parte, de fatores culturais: a capa da revista, embora a bandeira original _ francesa _ tenha sido substituída pela da Coreia do Sul, reproduz o famoso quadro “A Liberdade Guiando o Povo”(La Liberté Guidant le Peuple), do pintor francês Ferdinand Delacroix, de 1830, em exposição no museu do Louvre, na cidade de Paris. A leitura pode ficar comprometida, ou pelo menos se enfraquece, se o receptor não reconhecer que a composição se fez a partir dessa obra, e não identificar o objetivo de se vincular Educação à Liberdade. O papel decisivo desempenhado pela dimensão cultural é destacado por Sturken e Cartwright (2001, p.25), quando as autoras argumentam que os significados da imagem não se encontram somente em seus elementos, mas “são adquiridos quando esses elementos são consumidos, vistos e interpretados.”106, conceito claramente ilustrado pela imagem em questão. 106 “[…] are acquired when they are consumed, viewed, and interpreted.” (Sturken, Cartwright, 2001, p. 25) 126 FIGURA 27: Interpretando as dimensões do espaço visual 4.2.3.2- Saliência O termo Saliência (Salience), usado por Kress e Van Leeuwen, conceitua o modo como os participantes da composição definem o caminho da leitura a partir do estabelecimento de uma hierarquia de relevância. Em um texto oral, por exemplo, o falante pode destacar um elemento do discurso, em relação a outros, a partir do ordenamento das palavras, entonação ou modulação de voz. No texto visual, essa maior ou menor importância se constrói em função do papel que cada elemento desempenha na imagem, determinado pelo seu tamanho, pela iluminação que recebe e pelo contraste em relação aos outros participantes, formalizado por meio da nitidez, intensidade de cor, brilho, perspectiva e outros recursos que salientam um aspecto em detrimento de outro. Na Figura 28, o elemento “bola de futebol” se sobrepõe hierarquicamente sobre os jogadores que são os outros componentes do texto visual. Dentre esses, o que se encontra em primeiro plano, além de ocupar um maior espaço no conjunto, destaca-se por estar usando um uniforme de cor vermelha. O jogador logo atrás perde em importância por ter parte do seu corpo encoberto e, igualmente, por usar um uniforme de cor branca, de menor apelo visual. Há um terceiro jogador ao fundo, assim como outra bola. Ambos os elementos têm sua relevância significativamente reduzida, por se encontrarem fora de foco, assim como o fundo da composição. 127 FIGURA 28: Saliência 4.2.3.3- Enquadramento O conceito de Enquadramento se refere à presença, ou à ausência de recursos, tais como: linhas, espaços, descontinuidades de forma, ou cor, que conectam, ou desconectam os elementos da imagem, acarretando significados de integração e continuidade, ou de separação e estranheza. Na foto da Figura 29, embora os dois participantes ocupem espaços relativamente semelhantes, um à direita e o outro à esquerda, há uma descontinuidade entre os elementos, porque o da direita está à frente do outro, criando uma percepção de maior importância para o primeiro, em relação àquele em segundo plano. Uma certa falta de foco, na imagem do homem à esquerda, acentua a importância do outro e o vetor criado pela mão em posição de continência parece, na verdade, estar voltada para o que está à frente, destacando-o. Observa-se, igualmente, um jogo de cores: o preto do cabelo do homem à direita faz um conjunto com sua roupa que, ao mesmo tempo, cria uma linha de separação, entre ele próprio e o participante ao fundo, divisão que é acentuada por uma linha, quase em 90º, criada pelo ombro. O preto, no quepe do participante à esquerda, estabelece um elo com o elemento do primeiro plano, mas, paralelamente, as cores do seu uniforme e da própria pele, como que se confundem com as cores do fundo, dissolvendo sua relevância no todo da composição textual. 128 FIGURA 29: Enquadramento Figura 18: Saliência e Enquadramento No âmbito da Função Interativa, o participante à direita tem um Olhar de Demanda: olha à frente e revela uma expressão altiva e determinada, enquanto o olhar do outro se perde, na área escura sob a aba do quepe, impossibilitando um vetor no nível dos olhos com o observador. O contraste reforça o fato de que a comunicação entre participante retratado e participante interativo se faz através do homem à direita, ao passo que o outro se distancia. Todos esses elementos composicionais, ao mesmo tempo em que criam uma coesão interna entre os componentes da imagem, estabelecem uma interação com o observador, ao construir a informação de que o homem à frente está em uma posição de autoridade e espera que esse fato seja reconhecido pelo espectador. Os óculos acentuam a noção de barreira entre retratado e observador, impedindo uma maior aproximação emocional. 4.3- CONSIDERAÇÕES FINAIS Quando observamos uma imagem, tentamos, na realidade, interpretá-la e entendê-la, à luz de valores, ideologias e conceitos culturais que embasam e sustentam essa compreensão. Sendo assim, a realidade que percebemos é relativa, já que é construída a partir de interpretação subjetiva, forjada no meio sociocultural de que fazemos parte e fruto de nossa própria individualidade. Para Chandler (2006, p.14), “O significado não nos é ‘transmitido’: nós o criamos de forma ativa, segundo uma complexa interação de códigos e convenções, dos quais, 129 normalmente, não nos damos conta.”107 Nesse processo de criação de significado, utilizamos recursos da Semiótica (Sturken e Cartwright, 2005, p.21) e buscamos relações, não só entre os elementos dessa imagem como, do mesmo modo, entre a imagem e nós mesmos. Dessa forma, ao focalizar os pressupostos da Gramática do Design Visual de Kress e Van Leeuwen (2006), é nosso objetivo refletir sobre o intricado conjunto de fatores que interagem e se sobrepõem na construção do texto semiótico. Trata-se, como se quer demonstrar, de uma reconfiguração das práticas de leitura. Na medida em que novos modos de sentido concorrem para a compreensão final, torna-se de crucial relevância, para o contexto pedagógico, que se estabeleça a noção de multiletramento proposta por Cope e Kalantis (2005), essencial à formação de sujeitos preparados para uma nova realidade, onde o elemento visual exerce papel de crescente importância. Para Unsworth (2001, p.9), faz-se necessário desenvolver nos aprendizes de hoje conhecimento sobre como os diferentes modos comunicativos se moldam e interagem para a construção do significado: A fim de se tornar participantes ativos nas diversas formas de letramento que têm surgido, os alunos precisam compreender como os recursos da língua, da imagem e da retórica digital podem ser empregados de forma independente e interativa de modo a construir diferentes tipos de significado. Isso significa desenvolver conhecimento sobre sistemas linguísticos, visuais e digitais, formadores de sentido. Esse tipo de conhecimento sobre como significados se constroem exige uma meta-linguagem _ linguagem para descrever a língua, imagens e interações intermodais construtoras do significado. (Unsworth, 2001, p. 9)108 É para a formação desse conhecimento e dessa metalinguagem que o construto teórico da Gramática do Design Visual pode contribuir. Ao dar destaque à questão, esperamos haver concorrido para um continuado foco de interesse e atenção para o assunto. No próximo capítulo, abordamos os aspectos metodológicos, incluindo as hipóteses norteadoras deste estudo, o cenário em que os sujeitos participantes se inserem e os instrumentos e procedimentos adotados para esta investigação. 107 “[…] meaning is not ‘transmitted’ to us - we actively create it accordingly to a complex interplay of codes, or conventions of which we are normally unaware.” (Chandler, 2006, p.14). 108 “In order to become effective participants in emerging multiliteracies, students need to understand how the resources of language, image and digital rhetorics can be deployed independently and interactively to construct different kinds of meanings. This means developing knowledge about linguistic, visual and digital meaningmaking systems. This kind of knowledge about how meanings are made requires meta-language – language for describing language, images and meaning-making intermodal interactions. “ (Unsworth, 2001, p. 9) 130 CAPÍTULO 5 - ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA A despeito das diferenças nas abordagens de pesquisa, devemos reconhecer que os objetivos fundamentais da pesquisa educacional de linguística aplicada tem sido para todos, no sentido pragmático e ético, alcançar o bem-estar social dos aprendizes. (Chaudron, 2000, p. 5)109 Nos segmentos anteriores, buscamos construir um alicerce teórico que norteasse esta investigação. O presente capítulo tem como objetivo apresentar suas bases metodológicas. Na primeira subseção, apontamos as hipóteses que nortearam nosso estudo. No segmento seguinte, tipificamos a pesquisa, abordando os conceitos que caracterizam os procedimentos adotados. A seguir, descrevemos o cenário em que se deu a intervenção pedagógica e os sujeitos que dela participaram. Encerramos, delineando os instrumentos e os procedimentos utilizados no contexto investigativo deste estudo. 5.1- HIPÓTESES NORTEADORAS DA PESQUISA Na raiz deste projeto, encontra-se a preocupação com a coexistência de diferentes dimensões da linguagem, especialmente a visual e a verbal, na concepção de um novo conceito de texto. Estendemos nosso cuidado às eventuais implicações que o crescente papel assumido pela imagem, em todos os setores do tecido social, pode acarretar para o contexto instrucional de LE. Estudos recentes (Petrie, 2003, 2005; Royce, 2002; Unsworth, 2001) têm discutido a pertinência do uso de textos multimediáticos como recursos pedagógicos, sejam eles livros didáticos, filmes, programas de televisão ou a tela do computador. Conciliando a temática com 109 “Regardless of the differences in research approaches, we must all recognize that the primary goals of educational applied linguistic research have been for all, in the pragmatic, ethical sense, to achieve the social wellbeing of learners.” (Chaudron, 2000, p. 5) 131 a questão do vocabulário, é nosso propósito investigar a utilização de imagens em filmes de vídeo para ensino e aprendizado de colocações, no contexto da sala de aula de inglês, como língua estrangeira. Pretendemos levantar dados que permitam a avaliação de um possível favorecimento/facilitação desse processo, a partir do emprego de segmentos de vídeos, apresentados como recursos de instrução. Para o desenvolvimento do trabalho, partimos das seguintes hipóteses: (i) A coocorrência de elementos visuais e verbais conjuga fatores semióticos, pertinentes a cada um dos sistemas, de forma a criar um texto multimodal coerente e coeso, que apresenta um potencial fortalecido, no que toca à construção e à leitura de significados. (ii) A incorporação de elementos não linguísticos, no caso a imagem de vídeos, utilizada como suporte para a língua falada, pode afetar, positivamente, os processos cognitivos na compreensão e no aprendizado do léxico. Nesse contexto, entendemos como positivo o efeito de qualquer recurso instrucional que leve o aprendiz a compreender, aprender, ou reter novas informações pertinentes à língua alvo. (iii) A linguagem visual, ancorada no conceito de multimodalidade, como no caso de filmes, utilizada como recurso pedagógico, pode interessar e motivar os aprendizes, ou seja, o trabalho com imagens em sala de aula pode ser um efetivo aliado no processo instrucional. Essas hipóteses são fruto, não apenas de nossas inquietações e convicções pessoais, mas das leituras realizadas para este estudo e se refletem diretamente nos três objetivos traçados para esta pesquisa. Já explicitados em 1.2, reiteramos: (i) pesquisar os significados veiculados pelo texto visual e a possível inter-relação entre os sistemas semióticos visual e verbal, que coocorrem para a realização de um texto multimodal coeso e coerente; (ii) investigar a utilização de filmes de vídeo, como recurso pedagógico e levantar dados que forneçam subsídios sobre a propriedade de seu uso como instrumento de ensino/aprendizagem; (iii) levantar dados sobre a percepção do aprendiz, a respeito da utilização de filmes como recurso instrucional e seus próprios processos cognitivos. Os instrumentos desenvolvidos para esta investigação, assim como os procedimentos adotados, pautaram-se pelas hipóteses aqui levantadas. Como será detalhado adiante, procuramos levar em consideração as limitações práticas a que os professores de línguas estão constantemente sujeitos _ restrição de tempo, de recursos, falta de autonomia, falta de interesse por parte dos educandos, ementas rigorosas. 132 Prosseguimos com o delineamento do tipo de pesquisa em que esta investigação se enquadra, segundo os paradigmas adotados. 5.2- A PESQUISA E SUA TIPIFICAÇÃO A pesquisa voltada para os fenômenos observáveis em sala de aula, segundo parâmetros modernos, iniciou-se na década de 50. A temática se originou na necessidade de instrumentos confiáveis, que embasassem os comentários e as avaliações de mentores e supervisores de professores em formação, interessados em uma melhor sistematização. O campo de investigação se revelou tão complexo e abrangente que o objetivo inicial se perdeu. Dessa forma, teóricos e estudiosos passaram a voltar sua atenção para a gama de fatores que podem afetar, de um ou outro modo, o processo instrucional e, em consequência, a aprendizagem (Allwright e Bailey, 2004, p.6). Desde então, diferentes escolhas metodológicas têm sido utilizadas. Embora muitos pesquisadores tenham feito uso da combinação de diversos tratamentos, sem a adoção de procedimentos específicos, Chaudron (1995, p. 13) destaca quatro abordagens, como as mais usuais: a análise psicométrica, a análise interacional, a análise discursiva e a etnográfica. Vamos nos ater à primeira, a mais tradicional das quatro, por acreditar que esta investigação se situa dentro dos conceitos que a definem e orientam. Na área educacional, um estudo psicométrico envolve a análise e a comparação dos efeitos de um método, abordagem, ou programa instrucional específico, sobre a produção dos aprendizes110. Essa avaliação é realizada através de testes de proficiência padronizados e é, portanto, um método que analisa resultados, sendo largamente utilizado na comparação de tratamentos para o ensino de LE (Chaudron, ibid, p. 28). No contexto da pesquisa psicométrica, no que tange ao levantamento e à análise dos dados, podem ser adotados os métodos quantitativo, ou qualitativo, ou ambas as dimensões, de modo conjugado. Segundo Chaudron (ibid, p.15-6), o paradigma da análise qualitativa está centrado na observação e na avaliação, segundo critérios subjetivos, e enfoca o processo em si. Utiliza a descrição de comportamentos, a classificação de processos e as generalizações de cunho subjetivo. Ainda segundo o autor em foco, o paradigma da análise quantitativa se baseia em dados objetivos controlados e está voltado para o produto. Envolve a quantificação numérica, a 110 Adotamos a distinção feita por Brown, que define “abordagem” como um conjunto de suposições (assumptions) relacionadas à natureza da língua e ao processo de ensino e aprendizagem. “Método” é um plano abrangente, que sistematiza a apresentação da língua-alvo segundo uma abordagem específica. (Brown, 1994, p. 48) 133 análise e a inferência estatística. Por ter o foco nos resultados da produção do aprendiz, a abordagem psicométrica é a mais direta, e está, por excelência, ligada à análise quantitativa. Chaudron (2000, p.7) destaca, entretanto, que pesquisas de natureza distinta podem percorrer caminhos e perseguir objetivos similares e sugere um esboço comparativo entre as duas abordagens, proposta que resumimos no Quadro 11. O arcabouço original se encontra em Anexo 4 neste trabalho: QUADRO 11: Comparação entre os paradigmas quantitativo e qualitativo (Chaudron, 2000, p. 7) Observação e coleta de dados Natureza dos dados Métodos Qualitativos Utilizam-se processos em preferência a instrumentos: observação livre, observação de participantes, entrevistas abertas, triangulação entre observação e informação e análise de documentos, entre outros. São aqueles que surgem naturalmente no contexto observado, especialmente quando relativos ao comportamento humano e padrões sócio-culturais. Os dados são analisados no seu conjunto, de preferência segundo a interpretação dos próprios sujeitos. Uso e O pesquisador não tem por objetivo desenvolvimento comprovar teorias ou hipóteses, mas a de teoria observação per se dos sujeitos, de forma não pré-concebida, embora leve em conta a necessária objetividade no processo investigativo. Métodos Quantitativos A utilização de instrumentos se faz mediante planejamento prévio, segue uma ordem préestabelecida e um critério de categorização. Entre outros, constam da aplicação de testes, escalas, ou observação de comportamento, segundo categorizações estabelecidas. Dizem respeito a habilidades, conhecimento, desempenho, produção e outros. São interpretados a partir do modelo teórico adotado, ou hipóteses levantadas pelo pesquisador. O pesquisador elabora um esboço, com a finalidade de comprovar, ou não, um determinado aspecto de um arcabouço teórico que serve de fio condutor à pesquisa. Embora se reconheça a presença inevitável da subjetividade do investigador, essa deve estar subordinada à teoria prevalente. Vale destacar que o emprego dos termos qualitativo e quantitativo, no campo de análises, tem sido alvo de intermináveis debates. Para Reichardt e Cook (1979), a discussão tem sua origem na dicotomia entre os paradigmas metodológicos aos quais os tratamentos estão associados. Na prática, o método quantitativo acompanha o paradigma positivista, que, por sua vez, traz em seu arcabouço uma visão particular de mundo, de caráter hipotético-dedutivo, voltada, de forma objetiva, para o produto. Em contrapartida, o método qualitativo surge na 134 esteira do paradigma exploratório-interpretativista, que postula uma visão de mundo holística e dedutivista, com foco subjetivo no processo. Essa visão rígida tem sido criticada, porque a adoção de um ou outro método significaria, em consequência, a concordância a priori com este ou aquele conjunto de atributos. Mesmo com tradição na pesquisa quantitativa, Reichardt e Cook (ibid) avaliam: Chegou o momento de parar de construir muros entre os métodos e começar a construir pontes. Talvez esteja até mesmo na hora de ir além da linguagem dialética de métodos qualitativos e quantitativos. (Reichardt e Cook, 1979, p. 27)111 Essa postura crítica tem se revelado uma tendência entre outros autores: LarsenFreeman e Long (1991, p. 12) propõem a existência de um contínuo, sobre o qual os métodos se distribuem, com o posicionamento dos paradigmas quantitativo/qualitativo em seus extremos. Essa abordagem permite a escolha por procedimentos mistos de coleta (quantitativo/qualitativo) e de análise de dados (interpretativo/estatístico). Para Neves J. (1996, p.103), não é correto se afirmar que os referidos procedimentos se oponham entre si, pois, embora difiram quanto à forma e ênfase que lhes é peculiar, as análises são mutuamente dependentes e complementares, ao permitir que o pesquisador concilie abordagens de cunho racional e intuitivo e faça uso de técnicas interpretativas para traduzir e expressar indicadores numéricos. Na verdade, o autor percebe que as diferenças entre os dois tratamentos podem ser usadas a favor do trabalho investigativo: “As diferenças entre os dois métodos devem ser empregadas pelo pesquisador em benefício do estudo, isto é, a seu favor. Nessa medida; combinar métodos distintos pode contribuir para o enriquecimento da análise.” (ibid, p. 104). Allwright e Bailey (op.cit., p.65-67) consideram um equívoco se tomar os termos como simples alternativas, para procedimentos objetivos e subjetivos e acreditam enganosa a avaliação de que métodos quantitativos sejam preferíveis, porque análises qualitativas estariam essencialmente comprometidas por visões pessoais. Segundo os autores, se, no campo das ciências exatas e da biomédica o uso de análises objetivas é indispensável, na área educacional, longe de serem excludentes entre si, ambos os procedimentos podem ser aplicados e combinados, tanto ao longo do levantamento de dados, como quando de sua análise. Eisner (1997, p.52) acredita que os fatos puros e simples não são suficientes, pois não falam por si mesmos e precisam do filtro da interpretação do pesquisador para ganhar vida própria. Para o autor “uma vez que o que sabemos sobre o mundo é um produto da combinação 111 “It is now time to stop building walls between the methods and start building bridges. Perhaps it is even time to go beyond dialetic language of qualitative and quantitative methods.” (Reichardt e Cook, 1979, p. 27) 135 da nossa vida subjetiva e um mundo objetivo postulado, estes mundos não podem ser separados.” 112. (ibid, p.33). Levando-se em conta os julgamentos apresentados, avaliamos que a estrutura desta investigação, categorizada como uma pesquisa psicométrica, transita no contínuo de que nos falam Larsen-Freeman e Long (op.cit.), ou seja, aos dados numéricos estatísticos sobre os quais se fundamenta, vêm se somar a interpretação subjetiva da pesquisadora e dos próprios sujeitos investigados. Como detalhado a seguir, nosso estudo se organiza em duas fases distintas: a primeira, com foco no produto, visa a levantar o resultado estatístico do uso de segmentos de vídeos sobre a compreensão do significado de dez itens lexicais, inseridos na categoria das colocações em língua inglesa (ver 2.3 neste trabalho). A segunda fase consta da aplicação de um questionário, respondido pelos alunos após o trabalho com os referidos vídeos. Embora as respostas sejam computadas objetivamente, com base nos dados numéricos obtidos, sua análise é de cunho interpretativista e reflete uma visão subjetiva por parte dos informantes, a respeito de suas crenças e de seu próprio processo cognitivo. Do mesmo modo, esta pesquisadora faz uso de sua percepção pessoal, a fim de analisar e interpretar as informações levantadas por meio das supracitadas intervenções. Esse amalgamento entre a objetividade numérica e a informação, respaldada na avaliação pessoal oferece novas perspectivas para a interpretação dos resultados e ilustra a noção de complementaridade dos métodos quantitativo e qualitativo. Nossa posição se encontra refletida na avaliação de Larsen-Freeman e Long (1991, p.14): [...] o que é importante para pesquisadores não é a escolha de paradigmas a priori, ou até mesmo de metodologias, mas sim ser claro quanto ao propósito do estudo e adequar esse propósito aos atributos que sejam melhores para a sua execução. Em outras, palavras, a metodologia deve ser determinada pela questão de pesquisa. (Larsen-Freeman e Long 1991, p. 14)113 Desse modo, a combinação de procedimentos com foco, tanto no produto, como no processo, coloca-se a serviço dos propósitos aqui traçados, visando à melhor execução dos nossos objetivos, como sugerido pelos autores. Havendo delineado as dimensões metodológicas desta investigação, passamos a discorrer sobre seu contexto e quem foram os nossos informantes. 112 “Since what we know about the world is a product of the transaction of our subjective life and a postulated objective world, these worlds cannot be separated.”(Eisner, 1998, p. 52). 113 “[...] what is important for researchers is not the choice of a priori paradigms or even methodologies, but rather to be clear on what the purpose of the study is and to match that purpose with the attributes most likely to accomplish it. Put another way, the methodological design should be determined by the research question.” (Larsen-Freeman, 1991, p. 14) 136 5.3- O CENÁRIO DA PESQUISA Esta pesquisa foi realizada em uma instituição particular, na cidade de Niterói, mais precisamente em uma escola de idiomas, no primeiro semestre de 2008. A referida instituição ministra, exclusivamente, o ensino de língua inglesa, como língua estrangeira, para falantes de português como língua materna. Tomaram parte na investigação um total de 100 (cem) sujeitos aprendizes, alunos de seis turmas de quatro professores distintos, sendo que as atividades foram integralmente aplicadas pela própria pesquisadora, a pedido dela própria. O detalhamento do perfil da referida instituição e de seus diferentes cursos se encontra em Anexo 3 neste trabalho. 5.4- OS SUJEITOS PARTICIPANTES Os sujeitos que participaram desta investigação cursavam, à época, o Basic 4, equivalente ao nível pré-intermediário do segmento básico, que se estende por seis semestres escolares de Basic 1 a Basic 6. Segundo as informações institucionais, o Curso Básico tem como objetivo desenvolver a compreensão e a expressão orais, a escrita e a leitura em língua alvo, habilitando o aluno a se comunicar em inglês, em diversas situações da atualidade e do dia a dia, a entender cartas, e-mails, trechos de livros, revistas em geral e a escrever textos para a comunicação cotidiana. As aulas, com duração de uma hora e quinze minutos, duas vezes na semana, em grupos de dez a vinte alunos, são ministradas em salas equipadas com recursos de multimídia e quadro branco interativo. O perfil dos sujeitos é de alunos com idade média entre 11 e 14 anos, estudantes do nível fundamental, ou médio em suas escolas regulares. Esses indivíduos, em geral, procuram um curso de idiomas, visando ao aperfeiçoamento acadêmico, ou a uma maior facilidade de comunicação, quando em viagens ao exterior. À exceção de alunos que, eventualmente, usufruam de um sistema de bolsa escolar, regularmente promovido pela instituição, a maioria dos aprendizes se origina das classes média e média alta, são indivíduos com alto nível de expectativa, em relação à qualidade dos serviços educacionais prestados e estão perfeitamente familiarizados com o uso de tecnologia no ambiente escolar. Os livros didáticos utilizados no curso Basic _ livro texto e de atividades _ são criados por um departamento acadêmico da instituição em foco, a respeito do que damos informações detalhadas em 10.3. O livro do professor delineia o perfil do material, explicando que: → o conteúdo se baseia em princípios e técnicas, em conformidade com uma visão do fenômeno linguístico como meio de comunicação; 137 → a abordagem do material busca criar um ambiente emocional livre de ansiedade, que permita ao aprendiz desenvolver um senso próprio de realização; → cada livro a ser utilizado em um semestre se compõe de um conjunto de 25 lições, organizadas em cinco unidades distintas, segundo tópicos considerados pertinentes e relevantes, no contexto cultural de alunos brasileiros que desejam aprender inglês como LE; → no que tange ao vocabulário, privilegia-se o aprendizado de “blocos de significado” (chunks) e expressões fixas, em oposição a palavras isoladas, segundo um critério de relevância que obedece aos interesses da faixa etária em questão; → os pontos gramaticais selecionados priorizam as necessidades e áreas de dificuldade específicas, de falantes de português como LM; → os aspectos fonológicos visam à inteligibilidade, e os elementos focalizados seguem o mesmo critério, visando a priorizar aspectos que apresentam especial dificuldade para o aluno brasileiro; → o material vem acompanhado de um CD-ROM, com atividades interativas, para aperfeiçoamento de vocabulário e pronúncia, e outras visando, especialmente, ao desenvolvimento de compreensão oral. Quanto aos princípios pedagógicos que serviram de norteamento à criação do material, citados no manual do professor, destacam-se: » a língua é um meio de comunicação; » o aprendizado não ocorre de forma linear; » o desenvolvimento das quatro habilidades deve se dar de modo combinado; » o aprendiz deve tomar parte ativa no processo de aquisição; » o uso apropriado de L1 é um poderoso instrumento no processo de ensino e aprendizagem; » o vocabulário é um instrumento essencial no processo de construção do significado. Na instituição em pauta, ao concluir o Basic 3, semestre anterior àquele dos nossos informantes, os alunos costumam ser orientados a fazer o exame “Flyers”, como certificado de competência linguística. Em consequência, o perfil acadêmico dos nossos sujeitos pode ser delineado de forma mais precisa a partir da descrição do nível de proficiência do aprendiz que se encontra apto a prestar o referido exame. O exame “Flyers” é um dos testes de proficiência voltados especificamente para aprendizes entre 7 e 12 anos de idade oferecidos pela Cambridge University ESOL Examinations, braço da Universidade de Cambridge. Esses exames se organizam em três níveis distintos _ Starters, Movers e Flyers _ e são chamados de Young Learners English Test (YLE). 138 Essas avaliações, além de aferir o aspecto linguístico, têm como objetivo apresentar aos jovens candidatos uma impressão positiva dos certificados internacionais, assim como incentivar e encorajar a continuidade do aprendizado da língua inglesa. O aluno apto ao “Flyers” se enquadra no nível A2, em uma escala de seis patamares de proficiência, segundo os critérios da University of Cambridge ESOL Examinations114. O Quadro 12 ilustra o conhecimento linguístico esperado para esse aprendiz. QUADRO 12: Perfil de proficiência do aprendiz apto a prestar o exame “Flyers” Compreensão oral e fala Leitura Escrita Expressar opiniões e solicitações simples, no âmbito familiar e de trabalho, comunicar preferências, gostos pessoais e expressar opiniões, através de concordâncias e discordâncias simples. Compreender informações simples e diretas, como em cardápios de restaurante, rótulos, placas, relatórios e manuais simples, em sua própria área de conhecimento, apreender o sentido geral de textos em livros e artigos, desde que tenha tempo suficiente para leitura cuidadosa. Completar formulários, cartas, e-mails, cartões e mensagens pessoais, redigir mensagens simples de solicitação, de caráter profissional, narrativas e textos descritivos curtos e simples. Em consequência, de acordo com os parâmetros estabelecidos pela instituição que serviu de cenário à nossa pesquisa, podemos considerar ser esse o nível de proficiência linguística dos nossos informantes, estágio que consideramos apropriado para os nossos objetivos. Entretanto, esse conhecimento pode apenas ser teorizado, pois é preciso levar em conta que esses alunos costumam ter perfis diferenciados. De um modo geral, nesse nível, é possível que sejam encontrados três diferentes históricos acadêmicos entre os alunos da mesma turma, a saber: i) aqueles que ingressaram no primeiro segmento do curso Básico _ Basic 1 _ sem nenhum conhecimento da língua (real begginers). ii) aprendizes que fizeram dois anos de curso infantil (segmento delineado em 10.3) e foram automaticamente aprovados para o terceiro semestre _ Basic 3_ sem passar pelos dois módulos anteriores do curso Básico. iii) alunos egressos de outras instituições que são admitidos através de prova de nivelamento e podem, inclusive, estar cursando seu primeiro semestre na instituição. Quanto aos últimos, vale explicitar que os testes de nivelamento que encaminham candidatos externos são aplicados por professores que conhecem a estrutura da escola, de 114 As informações aqui prestadas, no que concerne aos exames de Cambridge, podem ser encontradas no endereço eletrônico. < http://www.cambridgeesol.org/ >. Acesso em: 15 março 2009. 139 maneira que possam avaliar, com segurança, o nível mais adequado à proficiência do pretendente, levando em conta seus pontos fortes, deficiências e objetivos. Segundo os moldes adotados, o aluno que se encontra na faixa etária pertinente e que informe alguma experiência no trato do idioma que aponte para os primeiros módulos do curso básico, tem seu conhecimento avaliado por meio de um teste escrito e outro oral, assim estruturados: » Teste de leitura e redação: o candidato é avaliado em sua capacidade de compreensão dos pontos principais de textos simples e no tocante à redação de mensagens curtas (de 20 a 50 palavras). » Teste de conhecimento gramatical: o candidato é avaliado em seu conhecimento sobre as estruturas gramaticais básicas da língua inglesa: verbo to be, verbos principais no presente simples, no passado simples e no presente contínuo, o uso de preposições básicas do inglês, o uso de alguns modais em suas acepções mais simples: can e must. » Teste de conhecimento lexical: o uso e o reconhecimento de expressões de cumprimento e apresentação, expressões utilizadas para compras simples e interações em sala de aula, vocabulário relativo à família, cores, meses do ano, dias da semana e números até 1000. »Teste de compreensão oral: o candidato é avaliado em sua habilidade de entendimento e expressão de informações objetivas e específicas, a partir de perguntas realizadas pelo entrevistador sobre temas básicos e pessoais, como rotina diária, interesses, família e amigos, entre outros. Essas perguntas incluem perguntas de Sim/Não (Yes/No questions), assim como perguntas iniciadas por pronomes interrogativos simples (Wh- questions), do tipo: “Onde”, “Quando”, “Qual” e “Quem” (Where/When/What/Who). A partir dos resultados nas avaliações descritas, o candidato é encaminhado para o módulo mais adequado à sua competência linguística, tendo em vista que um conteúdo excessivamente simples, ou penoso poderia desestimular o aprendiz. Temendo-se maiores transtornos, para os professores que conosco cooperaram e considerando-se o expressivo número de turmas participantes, não foi aplicado nenhum instrumento para que se detectasse o histórico pessoal dos alunos informantes, entretanto, acreditamos que as mesmas incluam todos os casos citados. Essa variedade de históricos acadêmicos acarreta diferenças expressivas no nível de proficiência, no mesmo grupo, mesmo sem se levar em conta que fatores individuais, por si sós, afetam de modo decisivo a maior ou menor retenção do léxico. A fim de minimizar eventuais diferenças de proficiência entre os participantes, avaliouse que seria conveniente aguardar que os aprendizes já tivessem mais de 50% do semestre 140 letivo concluído. Dessa forma, seria mais garantido assegurar que se enquadrassem no perfil delineado para os candidatos do exame de proficiência Flyers, escolhido como parâmetro de conhecimento linguístico para nossos sujeitos. Assim sendo, as atividades de intervenção aplicadas no escopo deste estudo ocorreram no período de maio a junho de 2008. Asseguramo-nos de que os sujeitos soubessem de que se tratava de uma pesquisa acadêmica, bem como de que participassem das atividades de forma voluntária. Contudo, não foram informados sobre o objetivo do estudo, para evitar qualquer predisposição que pudesse afetar os resultados. A seguir, delineamos os instrumentos e procedimentos utilizados. 5.5 - INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA Como mencionado anteriormente, a literatura revisada para este estudo sinaliza que a imensa maioria dos trabalhos empíricos, na área de vocabulário em LE, volta-se, de forma específica, para a prática da leitura. De acordo com Al-Seghayer (2001, p. 208), nesse campo, o primeiro estudo a conciliar compreensão de textos escritos e o uso de imagens foi a investigação que Omaggio realizou em 1979 115, quando a autora pesquisou o efeito de figuras no desenvolvimento de habilidades de leitura. A investigação, realizada com aprendizes de francês como segunda língua, produziu resultados amplamente favoráveis ao uso das ilustrações, no que pode ser visto como um prenúncio sobre o papel da multimodalidade no campo de ensino/aprendizado de LE. Fugindo à linha prevalente, Neuman e Koskinen (1992) realizaram um estudo comparativo sobre aquisição de vocabulário em três situações distintas: por meio de áudio, de leitura e áudio conjugados e por intermédio de televisão, com o uso de legendas intralinguísticas. Esse último se mostrou mais eficaz no processo de compreensão e retenção de palavras novas do que os outros, fato que os autores atribuíram à apresentação do léxico via modos distintos: imagem, áudio e texto escrito. Partindo do consenso a respeito da vantagem do uso de materiais com texto visual sobre aqueles sem imagem (imagery), Al-Seghayer (op.cit.) aprofundou a questão e investigou os efeitos do uso de imagem estática, em oposição à imagem em movimento, no aprendizado de itens lexicais desconhecidos. O autor usou como instrumentos definição do léxico e fotos e definição do léxico e segmentos de vídeos. A análise dos dados produzidos por trinta 115 Cf: OMAGGIO, Alice. Picture and second language comprehension: Do they help? Foreign Language Annals, v.12, n.2, p.107-16. 1979. 141 aprendizes de inglês, como L2, revelou que o uso de vídeos resultou em um aprendizado mais efetivo do que no caso das definições com as fotos (ibid, p. 225). Para o pesquisador, os resultados sugerem que os vídeos facilitaram a construção de imagens mentais que permitissem a compreensão e a memorização do vocabulário, além de haver facilitado a concentração porque despertaram a curiosidade dos sujeitos. O autor ressalva, contudo, que o reduzido número de participantes restringe o escopo dos resultados em foco. Na medida em que novas tecnologias assumem um papel preponderante (e irreversível) no ambiente instrucional, trabalhos como os de Petrie (2005), Royce (2002) e Unsworth (2001) abordam, de modo geral, o texto multimodal no ambiente pedagógico e o conceito de multiletramento que defendemos. Na esteira da temática “tecnologia e sala de aula”, o crescente interesse a respeito da intermediação do computador deu origem ao campo de estudos hoje rotulado como CALL (Computer Assisted Language Learning), temática em que transitam Egbert e Hanson-Smith (1999), Egbert e Petrie (2005), Levy (1997) e Marcuschi (2001), entre outros. Entretanto, ainda assim, a tendência de investigações que focalizam o ensino/aprendizado de leitura em LE, agora via computador _ sugerimos Lomicka (1998) e Davis e Lyman-Hager (1997) para esse assunto _ continua a prevalecer sobre pesquisas que enfoquem, não só os recursos multimediáticos propriamente ditos e sua composição, como, igualmente, os processos cognitivos envolvidos na recepção dos instrumentos de multimídia, ou, ainda, que áreas de aquisição seu uso favorece. Em consequência, optamos por utilizar instrumentos e procedimentos de pesquisa que nos permitissem investigar o texto multimodal e suas características, assim como os processos cognitivos do aprendiz. Nossa escolha, considerando-se o tripé léxico-multimodalidadecolocações, tem por objetivo minimizar o que parece ser uma lacuna na área em que transitamos, já que os efeitos da utilização de recursos de multimídia sobre aquisição lexical têm sido pouco explorados na literatura (Al-Seghayer, op. cit., p. 205). No processo de escolha das metodologias, consideramos a grande quantidade de estudos já existentes que sugerem dados irrefutáveis a respeito do papel efetivo de ilustrações, gravuras, gráficos, mapas e outros, no processo de aquisição de LE (Jones, 2004). Ou seja, nesse contexto, o uso de imagens estáticas parece indiscutivelmente contribuir, de forma positiva para o processo de aprendizado/aquisição. Assim sendo, como se vê no Quadro 13, os instrumentos aqui aplicados objetivam permitir análises que venham se somar ao atual cenário de pesquisas da área em foco. 142 QUADRO 13: Instrumentos de pesquisa e análises decorrentes INSTRUMENTOS DE PESQUISA Segmentos de vídeo e atividade de conhecimento lexical ANÁLISES DECORRENTES A composição de elementos do texto multimodal e fatores que possam contribuir para a construção do significado. Efeitos do uso de um texto multimodal com imagem em movimento sobre o conhecimento lexical do aprendiz. Questionário de reflexão pessoal Percepção pessoal do aprendiz sobre processos cognitivos individuais durante a exposição ao texto multimodal. Percepção pessoal do aprendiz sobre o uso de filmes como recurso de instrução. Em sequência, retomamos as questões de pesquisa, referências delineadas em 1.2 neste estudo, a fim de analisar como nossas indagações justificam as escolhas do caminho metodológico adotado: 1) De acordo com a Gramática do Design Visual, de Kress e Van Leeuwen (2006), que elementos o filme, na qualidade de instrumento multimodal, oferece para seu aproveitamento pedagógico na sala de aula de inglês como LE? 2) Em que medida, e de que forma, a coocorrência de imagens e língua falada, presente em filmes, pode favorecer o ensino e o aprendizado do léxico em língua estrangeira? 3) O aprendiz percebe o uso de filmes em sala de aula como recurso pedagógico, ou esse se destaca à sua atenção por seu valor de entretenimento? Os vídeos foram utilizados visando à elucidação da primeira e da segunda perguntas. No primeiro caso, fizemos uso de conceitos da Gramática do Design Visual (ibid) para a análise das imagens que, em conjunto com a produção verbal em foco, compõem o texto multimodal utilizado como instrumento de intervenção. Com vistas à segunda indagação, complementamos a mostra de vídeos com uma atividade de conhecimento lexical utilizada antes e após sua exibição, conduta a ser detalhada no próximo segmento. Nessa fase, acreditamos criar condições para que os dados numéricos viessem a ilustrar eventuais alterações no processo cognitivo de compreensão do vocabulário, como resultado da exposição ao recurso multimediático utilizado. O questionário de reflexão pessoal foi delineado visando ao levantamento de dados que respondessem à terceira questão: era nosso objetivo permitir ao aprendiz expressar sua visão 143 pessoal sobre o uso de filmes na sala de aula, assim como refletir sobre seu próprio processo cognitivo. Acreditamos que as informações levantadas, por meio da percepção subjetiva dos informantes, funcionem como um complemento esclarecedor aos resultados estatísticos da primeira fase. Para o desenvolvimento das referidas atividades considera-se que: • A leitura de um texto multimediático ocorre como resultado da construção de um significado único. • Há necessidade da adoção de práticas pedagógicas que colaborem para a formação de indivíduos multiletrados. • A relevância do aprendizado de vocabulário no processo de aquisição de LE justifica um tratamento direto e sistemático no contexto instrucional. • É preciso desenvolver no aprendiz de inglês como LE o conhecimento da noção de colocabilidade entre palavras. • O aprendizado é resultado de um processo de construção do conhecimento. • É pertinente que aprendizes de LE tenham sua atenção despertada para o potencial pedagógico de filmes autênticos. • Faz-se necessário preparar professores e criadores de material para melhor compreender e lidar com a questão da multimodalidade no contexto pedagógico. Acreditando haver justificado os caminhos metodológicos aqui adotados, passamos à explicitação dos recursos de intervenção. 5.5.1 Os segmentos de vídeos Para Baltova (1999, p.41), o uso de vídeos autênticos, através dos quais o aprendiz é exposto à língua alvo falada de forma natural, não adaptada, ou facilitada para um determinado nível de proficiência, é um recurso extremamente eficiente, mesmo quando o conteúdo apresenta um desafio tão grande para o aluno que esse se sinta forçado a assistir ao material diversas vezes. Secules, Herron e Tomasello (1992, p.480) acreditam que o uso de filmes na sala de aula corresponde à percepção de linguistas, criadores de material e professores, a respeito da necessidade de expor o aprendiz a situações que se assemelhem, ou reproduzam o mundo real. Os autores avaliam que: 144 O vídeo permite aos aprendizes de segunda língua testemunhar a dinâmica da interação quando observam falantes nativos em cenários autênticos, falando e usando diferentes sotaques, registros e sinais paralinguísticos (por exemplo, postura e gestos). Secules, Herron e Tomasello (1992, p. 480)116 No contexto desta pesquisa, em função dos cuidados tomados na seleção dos itens lexicais e referidas imagens, assistimos, ao longo de mais de cem horas, a cerca de oitenta horas do seriado “Friends”, com o objetivo de selecionar dez itens lexicais, que se incluíssem na categoria “colocações”, conforme conceitos estabelecidos no segmento 2.3. “Friends” é um sitcom (situation comedy: uma comédia de situações do cotidiano), que alcançou grande sucesso e que esteve no ar, na televisão americana, de setembro de 1994 a maio de 2004. A série foi televisionada ao longo de dez temporadas e recebeu quase oitenta prêmios, incluindo Prêmios Emmy de Melhor Comédia. Todos os episódios destacam o cunho humorístico de histórias que giram em torno das experiências de vida de seis amigos que moram em Nova York, no bairro de Greenwich Village. A escolha levou em consideração os seguintes aspectos: * a série, embora tenha alcançado enorme sucesso, não é mais televisionada com regularidade, apenas um canal de TV a cabo apresenta reprises ocasionais. A despeito de mesmo alunos mais jovens, em geral, saberem do que se trata, perguntados, a maioria afirmou não haver assistido aos episódios, o que dificultaria a possibilidade de que os segmentos utilizados fossem previamente conhecidos pelos informantes; * a linguagem utilizada pelos personagens é ágil e contemporânea, dentro dos padrões desejáveis de conformidade com a norma gramatical vigente da língua inglesa. O léxico é adequado ao convívio social, com poucas gírias e sem palavras de baixo calão; * os personagens vividos pelos atores da série não apresentam sotaques distintivos ou dialetos que pudessem agregar um fator de dificuldade extra (Sherman, 2003, p. 16), não desejável no estudo em questão; * as situações dão destaque ao humor, o que torna os segmentos mais prazerosos para a audiência, mesmo se considerando a curta duração de cada trecho selecionado; * em se tratando de uma série, os personagens centrais dos vídeos exibidos são, em sua maioria, os mesmos. Essa reduzida variedade de rostos desperta um sentimento de familiaridade do espectador com o contexto e facilita que seu foco de atenção se volte para o desenrolar da ação em pauta. * a série apresenta enredos simples, por meio de episódios leves, ágeis, expressivos de valores culturais de falantes da língua-alvo; 116 “Video permits second langue learners to witness the dynamics of interaction as they observe native speakers in authentic settings speaking and using different accents, registers, and paralinguistic cues (e.g.: posture, gestures.). (Secules, Herron and Tomasello, 1992, p. 480) 145 * os personagens fazem uso de linguagem categorizada por Kress e Van Leeuwen (2006, p.129), como “linguagem dos íntimos” (language of intimates): para os pesquisadores, essa modalidade de comunicação se caracteriza pelo uso de expressões familiares, apenas aos membros do grupo, assim como o emprego recorrente de recursos, como expressões faciais, entonações de voz e olhares carregados de significado, que completam e, às vezes, chegam inclusive a substituir a fala. Os autores avaliam que essa linguagem cria fortes vínculos emocionais entre os participantes, sentimento que, ponderamos, pode, por extensão, afetar favoravelmente os elos afetivos entre observados e observadores, no caso, os sujeitos da pesquisa. Para Dondis (1973, p. xi), “O modo visual é todo um conjunto de dados que pode ser utilizado, assim como a língua, para a composição e a compreensão de mensagens em muitos níveis de utilidade.”117 Sendo assim, procuramos avaliar os elementos envolvidos nas imagens selecionadas de forma abrangente. Destacamos as seguintes características composicionais: » sua duração varia de um minuto e quarenta e nove segundos (o mais longo) a dezessete segundos (o mais curto), com duração média de cerca de 50 segundos; » as cenas ilustram situações do cotidiano, facilmente reconhecíveis pelos informantes; » a imagem é considerada clara o suficiente para que possa servir de pista visual para o aprendiz; » as imagens da ação em foco ocorrem em concomitância com a verbalização do item lexical equivalente, ou em estreita relação temporal. Segundo Sherman (2003, p. 15), uma conexão acentuada entre ação e fala facilita a utilização de vídeos como instrumento pedagógico; » os segmentos aqui utilizados atendem à prescrição de King (2002, p. 514) para quem o mais importante aspecto, no uso de filmes, como recurso de instrução, é que apresentem alto nível de inteligibilidade. Para a autora, essa qualidade é alcançada por meio do equilíbrio entre linguagem falada e um elevado número de pistas visuais, além de outros aspectos, como clareza no que toca ao sotaque dos falantes e à velocidade da fala; » as cenas escolhidas apresentam o que Norris (2004, p. 103-4) conceitua como alta densidade modal (high modal density), termo cunhado pela autora, para se referir à coorrência de diversos elementos comunicativos que interagem e concorrem para a construção do significado final, tais como cores, luz, posicionamento, linguagem corporal e outros. 117 “The visual mode is a whole body of data which can be used, like language, for composing and understanding messages at many different levels of utility.” (Dondis, 1973, p. xi) 146 Acreditamos que, em função dos aspectos citados, nossa escolha se encontra em harmonia com o embasamento teórico que respalda este estudo, no tocante à composição do texto multimodal. Avaliamos, ainda, que o uso dos vídeos em questão concorreu para a criação de um ambiente favorável, para que esses alunos se sentissem envolvidos e motivados. Nesse aspecto, tomamos a definição de Crookes e Schmidt (1991, p. 480), para quem o aluno motivado é aquele que se engaja de modo produtivo nas tarefas de aprendizagem e assim se mantém, sem que se faça necessário um encorajamento contínuo. O Quadro 14 resume a ação das imagens e informa sua duração. A reprodução das cenas visualizadas, no momento da produção verbal em foco, encontram-se em Apêndice 4 neste trabalho. QUADRO 14: Os segmentos de vídeo e sua duração Ação visualizada Tempo 1-Na primeira cena, homem abre uma máquina de lavar roupas em uma lavanderia automática 1m e diz animado para a amiga: “Vamos lavar roupa!”. Na cena seguinte, a amiga olha desolada 49s para suas roupas manchadas e diz: “Eu não sei nem mesmo lavar roupas!”. 2- Homem discute com amigo e diz: “Deixe-me bater a porta!” e sai, batendo a porta com 22s gestual exagerado. Em seguida, outro homem que estava na sala faz o mesmo após apontar para a porta e indicá-la com uma expressão significativa sem, entretanto, verbalizar a ação. 3- Dois homens conversam de modo tenso enquanto um pica alho sobre uma tábua. O outro 43s pergunta o que ele está fazendo e ele responde incisivo: “Picando alho!” “Você não vai esmagá-lo?”, pergunta o primeiro. O segundo responde: “Você está tendo um caso e eu estou picando o alho!” 4- Homem fala ao telefone. Ele insiste que a pessoa do outro lado desligue: “Não, você 52s desliga!”. “Você também não desligou!” ele brinca. “Não, você desliga!” ele insiste, observado por uma mulher que, por fim, tira o telefone das suas mãos e o desliga, deixando o homem aturdido. 5- Na primeira cena, uma mulher se dirige a um homem, usando óculos de grau 1m2s exageradamente grandes e pergunta: “De quem são esses óculos?”. Na próxima cena, o dono dos óculos pergunta ao mesmo homem: “Você está usando os meus óculos?”. Esse, então, os tira do rosto e os entrega ao outro. 6- Homem chega com papéis na mão e diz à mulher: “Eu peguei os papéis do divórcio. Eu já 1m4s assinei tudo. Eu coloquei um X onde você tem que assinar.” Eles discutem e ele diz: “Vamos assinar os papéis!”. Ele os coloca sobre uma mesa e ela assina três folhas de papel com gestual exagerado. 7- Uma campainha soa insistentemente e um homem corre pela sala para atender, enquanto 17s grita em tom ameaçador: “Se vocês, garotos, tocarem minha campainha mais uma vez!...” e abre a porta se deparando com uma mulher. 147 8- Na beira da calçada, três amigos perguntam à moça que usa capacete de ciclista e segura 40s uma bicicleta: “Você sabe andar de bicicleta, não sabe?” Ela responde que sim, mas eles insistem: “Nós podemos ver você andar?”. Ela monta na bicicleta, pedala em um pequeno trecho e cai. 9- Três homens participam de um jogo de palavras. Um deles diz a um dos amigos: “Prenda a 45s respiração!” Ele o faz, inflando as bochechas. O primeiro esclarece: “Você tem que prender a respiração até responder à pergunta.” Ele acena concordando, mas parece sufocado enquanto os outros dois continuam a brincadeira, até ele soltar o ar de modo exagerado. 10- Dois amigos estão no cinema e um deles dorme. Quando acorda, o filme terminou. O outro 1m está zangado e o acusa: “Você dormiu!” Ele tenta se desculpar. Ao saírem ele aponta outro homem na plateia que dorme sentado e grita: “Ele dormiu!” Ele dormiu!” 5.5.2- O conteúdo lexical A autora escolheu assistir a todos os 240 capítulos que compõem as dez temporadas da série, a fim de ter uma visão ampla de seu campo de escolha. Itens lexicais que poderiam, potencialmente, ser utilizados eram assinalados para conferência posterior. Ao final, chegamos a dez expressões que comungam os seguintes aspectos: ■ O vocabulário selecionado é pronunciado com grau de clareza sonora, considerado adequado, para a compreensão auditiva por parte dos alunos. ■ Esse léxico é utilizado pelo falante, no mínimo, uma a, no máximo, três vezes durante a cena. ■ A fala de um personagem não se sobrepõe à outra, ocorrência que, nesse contexto, dificultaria a compreensão oral desnecessariamente (Sherman, op. cit., p. 18). ■ Ausência de fatores, como ironia ou sátira, que podem criar conflito entre a fala e a ação (ibid), o que desaconselharia seu uso nesse contexto. ■ A produção sonora do léxico em questão e a imagem que o ilustra acontecem dentro de uma margem de contiguidade temporal, breve o suficiente para que o aprendiz possa construir ligações referenciais entre os dois modos de representação: sonora e visual (Princípio de Contiguidade Temporal: Mayer, 2001: ver 3.2 neste estudo) ■ A verbalização das expressões não foi veiculada por meio de legendas, porque se considerou que poderiam funcionar como um fator de distração, já que desejávamos o foco na imagem em movimento (detalhamos o conceito no próximo segmento). ■ À exceção de um item, formado por verbo e adjetivo (fall asleep), todos os outros nove são compostos por verbo e substantivo: do laundry, slam the door, chop garlic, hang up the phone, wear glasses, sign a paper, ride a bike, ring one’s bell, hold one’s breath e fall asleep: lavar roupa, bater a porta, picar alho, desligar o telefone, usar óculos, assinar um documento, andar 148 de bicicleta, tocar a campainha, segurar a respiração e adormecer. À luz da tipologia sugerida por Haussman (1984) (ver 2.3 neste trabalho), são, portanto, colocações verbais _ no formato verbo + objeto _ formadas por um substantivo na base e um verbo, como termo colocado, à exceção de fall asleep, que se classifica como uma colocação adjetiva, já que seu colocado é um adjetivo. Considerando-se o contínuo proposto por Howarth (1998) (ver 2.3 neste trabalho) avaliamos que, em função do seu grau de comutabilidade, do laundry, wear glasses, hang up the phone, hold one’s breath e fall asleep recaem na categoria de colocações restritas, já que uma tradução, literal, dos elementos lexicais isolados não corresponde ao seu significado no todo. As colocações slam the door, chop garlic, sign papers, ride a bike e ring one’s bell se situam no grupo das combinações livres, por apresentarem um grau mais reduzido de rigidez em sua composição e exprimirem, em sua totalidade, a soma dos significados isolados: o verbo ride, por exemplo, aceita várias outras combinações, como com a bus, a train, a car e outras. Entretanto, apesar da aparente facilidade, vale ressaltar a conveniência do enfoque, mesmo sobre sequências, aparentemente, óbvias. Para Tagnin (2002 p.194) e Nesselhaulf (2003, p. 223-4), as colocações, por serem, em grande parte, composicionais, costumam ser de fácil compreensão e, justamente por isso, tendem a passar despercebidas. A falta de esforço consciente para sua memorização torna mais difícil que sejam buscadas na memória. Essa aparente clareza acarreta com que expressões, facilmente reconhecidas pelo aprendiz, não sejam espontaneamente utilizadas em sua produção oral, ou escrita. Nesselhauf (ibid, p. 238) destaca: “[...] é, sem dúvida, essencial que os aprendizes se deem conta de que um expressivo número dessas combinações, embora facilmente compreendidas, podem causar problemas em sua produção.”118. Em consequência, avaliamos que mesmo as colocações livres (como em Howarth, op.cit.), embora de fácil entendimento, nem sempre são corretamente produzidas, dificuldade que justifica seu enfoque sistemático no processo de instrução, e, por conseguinte, abona sua inclusão neste estudo. À semelhança de Howarth (op.cit.), Nesselhauf (op.cit., p. 225) distingue um contínuo de gradação no grupo das colocações. As “colocações livres” de Howarth são denominadas por Nesselhauf de “combinações” (como em Cowie, 1998). Àquelas a que Howarth denomina “colocações restritas”, a autora se refere como “colocações” propriamente ditas. Combinações livres são definidas como sequências baseadas em suas propriedades semânticas. Ou seja, no caso de chop garlic (picar alho), o verbo chop só pode se colocar com um substantivo que possua a propriedade semântica de significar algo que possa ser picado e, por sua vez, garlic 118 “[...] it is doubtless essential for learners to realize that a substantial number of those combinations that are easily understood can nevertheless cause problems in production.” (Nesselhaulf, 2003, p. 238) 149 não poderia combinar com um verbo que, semanticamente, não formasse uma sequência lógica, como, por exemplo, *read garlic. As “colocações” são definidas por Nesselhauf como coocorrências que envolvem um certo grau de arbitrariedade em seu sequenciamento. Assim, a colocação adjetiva fall asleep (fall significa, literalmente, cair) está sujeita a uma convenção da língua para significar “adormecer”. Para melhor visualização das variações de nomenclatura aqui mencionadas e sua aplicação aos itens lexicais selecionados, o Quadro 15 categoriza as colocações em foco, em conformidade com as terminologias e conceitos dos autores em pauta: QUADRO 15: Comparando categorias de colocações em Howarth e Nesselhauf Howarth Nesselhauf Colocações livres Combinações slam the door chop garlic sign papers ride a bike ring one’s bell slam the door chop garlic sign papers ride a bike ring one’s bell Colocações restritas Colocações do laundry wear glasses hang up the phone hold one’s breath fall asleep do laundry wear glasses hang up the phone hold one’s breath fall asleep Fonte: Howarth (1998) e Nesselhauf (2003) Queremos salientar que, no segmento acadêmico escolhido para esta investigação, alguns dos itens lexicais selecionados _ “ride a bike” e “wear glasses” _ já teriam sido apresentados ao aprendiz, considerando-se o programa curricular da instituição. Entretanto, conforme assinalado na seção anterior, esse conhecimento prévio pode apenas ser teorizado, em função da variedade de históricos e perfis acadêmicos dos sujeitos. Consideramos que a facilidade, eventual, que algumas colocações poderiam apresentar, permitiria que avaliássemos, com maior acuidade, o efeito do recurso de multimídia utilizado, facilitando a comparação entre os resultados de itens considerados mais fáceis e aqueles classificados como mais difíceis. Independentemente de um possível maior, ou menor grau de dificuldade, tomou-se o fenômeno da colocabilidade como indicador de coesão entre as palavras escolhidas, ou seja, embora “slam the door” permita a tradução literal, o verbo “slam” não se coloca com uma série de outros substantivos concretos: não se pode, por exemplo, “slam the car”*, ou “slam the 150 table”*. Ou, ainda, o substantivo “bike”, em “ride a bike”, não se coloca com “cook” ou “open”. Ou seja, a despeito da aparente transparência das expressões, há limitações semânticas que atendem ao conceito de colocabilidade, discutido em 2.3 neste estudo. A existência de um contínuo, para a análise de um maior, ou menor grau de independência entre unidades lexicais tem sido mencionada por diversos pesquisadores, dada a impossibilidade prática de estabelecer limites rígidos para a categorização do fenômeno. Nesselhauf (op.cit., p. 228-9) menciona a existência de dois grupos extremos de construção que vão de expressões cristalizadas, entre as quais não é possível nenhuma liberdade, a combinações absolutamente livres e até pouco previsíveis. Entre as extremidades, situam-se construções com diversos graus de rigidez e que podem estar mais próximos de um de outro extremo. Dessa forma, avaliamos que o conteúdo lexical selecionado para esta investigação, situa-se ao longo dessa escala, com diferentes graus de rigidez, conservando, contudo, a noção de construção do significado em “blocos” (chunks) que defendemos. 5.5.3- O conteúdo lexical em seu contexto visual Dado que o nosso estudo tem como foco o texto multimodal, cabe detalhar o conjunto de insumos formado pelas linguagens visual e sonora a que foram expostos os sujeitos, por meio dos vídeos aqui utilizados. As imagens selecionadas observam os princípios de Contiguidade Espacial e de Contiguidade Temporal, delineados por Mayer (2006), em sua concepção da Teoria de Aprendizado de Multimídia (em 3.2 neste estudo). Desse modo, os personagens verbalizam a unidade lexical em foco, de tal forma que palavra e imagem acontecem em uma tomada de cena única, em breves espaços temporais. Igualmente com inspiração nos pressupostos do pesquisador em pauta, optamos por fazer uso dos segmentos sem o uso de legendas intralinguísticas (closed-captions). De acordo com o Princípio da Coerência, postulado por Mayer (em 3.2.3 neste trabalho), consegue-se um melhor aprendizado, quando há uma economia no material, para que o aprendiz possa se concentrar no processamento das mensagens que realmente importam. Segundo o conceito, material extra, mesmo que atraente, compete por atenção e desvia o foco, ao exigir recursos cognitivos que sobrecarregam o processo de aprendizagem. Entretanto, vale destacar que se encontram, na literatura, estudos que advogam todo tipo de metodologia para o uso de filmes autênticos no contexto pedagógico de LE. Alguns autores defendem a utilização de legendas, seja na língua original, ou no idioma materno do aprendiz (Cunha, 2007; Danan, 2004; Taylor, 2005). Outros, diferentemente, sinalizam desvantagens no 151 procedimento (Mayer, 2006; Napolitano, 2008) e se colocam a favor da ausência de qualquer tipo de legenda. Sherman (2003, p. 16-7) avalia que o uso ou não de legendas, na língua alvo ou na língua materna do aprendiz, depende do objetivo e do contexto em que se dá a utilização do material. A autora reconhece que os olhos são mais poderosos do que os ouvidos119 e estima que, a não ser em casos muito específicos, as legendas sempre concorrem de forma desigual com a compreensão auditiva. Essa constatação pode ser comprovada, quando áudio e legenda são veiculados na própria LM do espectador e, este, mesmo sem precisar, tem o seu olhar atraído para a leitura do texto verbal veiculado na tela. King (2002, p.517) avalia prós e contras de cada caso e igualmente conclui que cada modalidade atende a propósitos distintos. Da mesma forma, é nossa opinião que o uso, ou não de legendas, intra ou extra linguísticas, deve ser decidido com base nos objetivos da prática pedagógica em aplicação. Para este estudo, consideramos que, quando expostos aos segmentos de vídeo em foco, os informantes já haviam visualizado o item lexical, durante o procedimento da atividade escrita, como a ser detalhado adiante. Entendemos, portanto, que seria mais pertinente que concentrassem sua atenção nos elementos-chave do recurso instrucional: imagem e verbalização do léxico. Nossa posição implica a aceitação dos conceitos de Baddeley (2007; 1992), para quem o processamento dos insumos se dá de forma sensorial, ou seja, através dos canais auditivo e visual, por força de sua apresentação, pictórica ou fonológica (ver 3.2 neste trabalho.). Dessa forma, nossa escolha se faz em consonância com os conceitos que estão na base da base da Teoria de Aprendizado de Multimídia, postulada por Mayer, levando-se em conta o contexto da pesquisa, o conjunto dos instrumentos utilizados e seus objetivos. Além do contexto visual, já descrito no Quadro 14, o Quadro 16 complementa a apresentação dos modos comunicativos que interagem, para a construção do texto multimediático: explicita as colocações selecionadas e sua produção verbal, além de trazer as informações sobre a temporada e o DVD em que o episódio se encontra, assim como a duração da cena. 119 “[...] we must recognize that the eye is more powerful than the ear [...].” ( Sherman, 2003, p. 16) 152 QUADRO 16: As colocações da intervenção e seu contexto visual COLOCAÇÃO 1 Do laundry a) Let’s do Temporada 1 laundry! DVD 1 Episódio 5 Slam the door 2 TEXTO SONORO Temporada 1 b) I can’t even do laundry! a) Let me slam the door! DVD 2 Episódio 5 3 Chop garlic a)Chopping Temporada 1 garlic! DVD 3 Episódio 1 b)I’m chopping the garlic! 4 Hang up the phone Temporada 2 DVD 1 Episódio 1 Wear glasses 5 Temporada 2 DVD 4 Episódio 3 IMAGEM Na primeira cena, homem abre uma máquina de lavar roupas numa lavanderia automática e diz animado para a amiga: “Vamos lavar roupa!”. Na segunda cena, a amiga olha desolada para suas roupas manchadas e diz: “Eu não sei nem mesmo lavar roupas!”. Homem discute com amigo e diz: “Deixe-me bater a porta!” e sai, batendo a porta com gestual exagerado. Em seguida, outro homem que estava na sala faz o mesmo, após apontar para a porta e indicá-la com uma expressão significativa sem, entretanto, verbalizar a ação. Dois homens conversam de modo tenso enquanto um pica alho sobre uma tábua. O outro pergunta o quê ele está fazendo e ele responde incisivo: “Picando alho!” “Você não vai esmagá-lo?”, pergunta o primeiro. O segundo responde: “Você está tendo um caso e eu estou picando o alho!” a)No, you hang Homem fala ao telefone. Ele insiste que a pessoa up! do outro lado desligue: “Não, você desliga!”, “Você também não desligou!” ele brinca. “Não, b) You didn’t você desliga!” ele continua, observado por uma hang up either! amiga que assistia à cena e que, por fim, tira o c)No, you hang telefone das mãos do homem e o desliga, deixando-o aturdido. up! a)Whose glasses are those? b)Are you wearing my Na primeira cena, mulher se dirige a homem usando óculos de grau exageradamente grandes e pergunta: “De quem são esses óculos?”. Na segunda, o dono dos óculos pergunta ao mesmo homem: “Você está usando os meus óculos?”. Ele os tira do rosto e entrega ao outro. Tempo 1m49s 22s 43s 52s 1m2s glasses? Sign a paper Temporada 6 6 DVD 1 Episódio 5 a) I’ve picked up the divorce papers. I’ve already signed everything. Homem chega com papéis na mão e diz à mulher: “Eu peguei os papéis do divórcio. Eu já assinei tudo.” e avisa: “Eu coloquei um X onde você tem que assinar.” Eles discutem e ele diz: “Vamos só assinar os papéis!”. Ele os coloca sobre uma mesa e ela assina três diferentes folhas de papel b) I’ve put an com gestual exagerado. X where you have to sign. 1m4s c) Let’s just signthe papers! 153 Ring the bell Temporada 6 7 Temporada 7 DVD 2 9 a) You do know how to ride a bike, don’t you? Na beira da calçada, três amigos perguntam à moça que usa capacete de ciclista e segura uma bela bicicleta: “Você sabe andar de bicicleta, não sabe?” Ela responde que sim, mas eles insistem: “Nós podemos ver você andar?”. Ela monta na bicicleta, pedala em um pequeno trecho e cai. Episódio 3 b) Can we see you ride it? Hold one’s breath a) Hold your breath! Temporada 8 DVD 4 Episódio 2 Fall asleep 10 Uma campainha soa insistentemente e um homem corre pela sala para atender, enquanto grita em tom ameaçador: “Se vocês, garotos, tocarem minha campainha mais uma vez!...” e abre a porta onde está uma mulher. DVD 3 Episódio 2 Ride a bike 8 a) If you kids ring my bell one more time! Temporada 8 DVD 4 Episódio 4 b)You gotta hold your breath until you answer the question. a)You fell asleep! b)He fell asleep! He fell asleep! Três homens participam de um jogo de palavras. Um deles diz a um dos amigos: “Prenda a respiração!” Ele o faz, inflando as bochechas. O primeiro esclarece: “Você tem que prender a respiração até responder à pergunta.” Ele acena concordando, mas parece sufocado, enquanto os outros dois continuam a brincadeira, até ele soltar o ar de modo exagerado. Dois amigos estão no cinema e um deles dorme. Quando acorda, o filme terminou. O outro está zangado e o acusa: “Você dormiu!” Ele tenta se desculpar. Ao saírem ele aponta outro homem na plateia que dorme sentado e grita: “Ele dormiu!” Ele dormiu!”. 17s 40s 45s 1m O próximo segmento discorre a respeito da estrutura e do formato das atividades de pesquisa e descreve a metodologia adotada para a sua aplicação. 5.5.4- A estrutura das atividades de intervenção e sua aplicação Como já mencionado, as atividades desenvolvidas para este estudo se compõem de duas etapas distintas: uma avaliação de conhecimento lexical, aplicada em duas etapas, e um questionário de perguntas fechadas. O questionário focaliza a percepção do aprendiz a respeito de processos cognitivos e afetivos relativos ao uso de filmes em sala de aula. Algumas questões enfocam o tema de modo geral e outras abordam, de forma específica, aspectos ligados à utilização dos vídeos na atividade de intervenção. A realização da atividade de conhecimento lexical precedeu a aplicação do questionário. Em cada turma, todo o procedimento levou, em média, trinta minutos, considerando-se os preparativos e as explicações necessárias. Os próximos segmentos explicitam o conteúdo dos referidos instrumentos e seu modo de aplicação. Todos os procedimentos foram conduzidos pela pesquisadora, de modo a se garantir uniformidade nas condutas adotadas. 154 5.5.4.1- A avaliação de conhecimento lexical A atividade de reconhecimento lexical foi elaborada por meio de frases simples, de forma intencional, de modo que o contexto verbal fosse pobre e limitado. Dessa forma, a não ser que o aprendiz soubesse com segurança o significado da expressão, a contextualização necessária à sua compreensão ficou delegada ao recurso visual. Pelo mesmo motivo, as três possibilidades de resposta sofreram variações mínimas em sua estrutura. Para sua aplicação, foi explicado aos alunos que receberiam uma folha com dez frases, onde se encontravam determinadas expressões destacadas. Para cada uma das frases encontrariam três possibilidades de significado em português. Deveriam assinalar a opção que acreditassem estar correta. Foi esclarecido que poderiam deixar a resposta em branco, em caso de dúvida, e que a atividade deveria ser feita individualmente, sem nenhuma possibilidade de comunicação entre os participantes. Encerrada essa etapa, os sujeitos assistiram a dez trechos de vídeos. Foi explicado que, em algum momento, ouviriam a expressão destacada nas frases e que deveriam, a partir das cenas, conferir a opção assinalada anteriormente. Teriam, nessa fase, a oportunidade de alterá-la, ou completá-la, caso avaliassem que haviam marcado uma opção incorreta, ou caso não houvessem assinalado nenhuma opção no primeiro momento. Para esse propósito, receberam canetas vermelhas e foi instruído que agissem como em um trabalho de autocorreção. Foi enfatizada a necessidade de que nada fosse apagado e de que toda e qualquer alteração fosse feita com a caneta vermelha, sempre de modo individual, sem compartilhamento de informações. Como já mencionado, os vídeos forma exibidos sem legendas e o processo não sofreu repetição. O Quadro 17 traz a atividade lexical aplicada. 155 QUADRO 17: Atividade de intervenção com as colocações utilizadas no estudo Leia as frases abaixo e assinale a opção correta de significado da expressão em negrito. Use seu conhecimento prévio e intuição linguística. 1- I usually do my laundry in the morning. a) Eu geralmente lavo a roupa de manhã b) Eu geralmente lavo a louça de manhã. c) Eu geralmente faço minhas tarefas de manhã. 2- He was tired and fell asleep. a) Ele estava cansado e saiu. b) Ele estava cansado e caiu no chão. c) Ele estava cansado e adormeceu. . 3- Don’t slam the door! a) Não tranque a porta! b) Não feche a porta! c) Não bata a porta! 4- I chop garlic on this table a) Eu descasco alho nessa mesa. b) Eu pico alho nessa mesa. c) Eu tempero alho nessa mesa. 5- Hang up the phone right now! a) Desligue o telefone imediatamente! b) Atenda ao telefone imediatamente! c) Me dê o telefone imediatamente! 6- I have to wear glasses to work. a) Eu tenho que usar copos para trabalhar. b) Eu tenho que usar óculos para trabalhar. c) Eu tenho que lavar copos no trabalho 7- You have to sign these papers. a) Você tem que escrever esses papéis. b) Você tem que ler esses papéis. c) Você tem que assinar esses documentos. 8- She always rings the bell. a) Ela sempre liga o alarme. b) Ela sempre toca a campainha. c) Ela sempre desliga a campainha. 9- I ride my bike after school. a) Eu guardo minha bicicleta depois da escola. b) Eu lavo minha bicicleta depois da escola. c) Eu ando na minha bicicleta depois da escola. 10- Hold your breath! a) Prenda sua respiração! b) Segure sua emoção! c) Solte sua respiração! 156 5.5.4.2- O questionário de reflexão pessoal É fato que nenhum questionário pode ser considerado um instrumento completo para o levantamento de informações e que podem, às vezes, de forma determinante, conduzir ou influenciar as respostas. Em consequência, seja qual for sua estrutura, alguns fatores precisam ser observados de modo a garantir sua efetividade e minimizar sua fragilidade empírica. De uma forma geral, questionários podem apresentar perguntas abertas, ou fechadas, ou, ainda, uma combinação de ambos os tipos. No caso de perguntas fechadas, as respostas podem se organizar em forma de múltipla escolha, ou por meio de disposição por ordem de preferência. Respostas a perguntas abertas são formuladas sem qualquer restrição, a critério do informante. No caso da formatação mista, uma opção aberta pode ser oferecida, para que se complemente a opção objetiva, ou se acrescentem dados que não foram considerados nas hipóteses nomeadas. Segundo Rea e Richard (2002, p.40), um questionário deve partir do delineamento do(s) objetivo(s) da pesquisa, assim como do perfil dos inquiridos. As perguntas devem ser claras, de modo a se evitar ambiguidade, e relevantes em função do objetivo em pauta. Para os autores (ibid, p. 45) a maior vantagem na adoção do formato de perguntas fechadas é que, além de maior clareza para o entrevistado, permite-se uma uniformidade de respostas, o que facilita a interpretação dos subsídios na fase de análise. Em contrapartida, respostas fechadas limitam as opções e podem deixar o informante inseguro, levando-o a assinalar qualquer alternativa, sem que a indicação reflita, necessariamente, a realidade. Além de uma possível inexatidão, respostas fechadas limitam o escopo de informações, por não permitir a livre expressão. Perguntas abertas, por sua vez, podem gerar informações repetitivas e irrelevantes, ocasionando a quase impossibilidade de levantamentos estatísticos, e acarretando um maior esforço interpretativo por parte do analista. Essa modalidade costuma, igualmente, exigir maior conhecimento por parte dos inquiridos sobre o assunto em pauta e melhor capacidade de entendimento e expressão. Ressalte-se, ainda, que as perguntas introdutórias devem ser de natureza básica e factual, estruturadas de forma a estimular o interesse do entrevistado, bem como relativamente fáceis de responder. As questões seguintes devem obedecer a uma sequência lógica e coerente, em relação às perguntas precedente e subsequente. Os conceitos aqui apresentados de forma concisa foram utilizados para a criação do questionário escolhido como instrumento complementar à nossa investigação. Avaliamos que o levantamento de dados seria mais preciso se usássemos o formato de perguntas fechadas, com respostas de múltipla escolha. Considerou-se que, como as informações solicitadas são de 157 caráter notadamente subjetivo, a preferência por respostas abertas poderia levar a uma interminável variedade de subsídios, comprometendo sua interpretação numérica e o posterior processo de análises. Ademais, seu uso exigiria um enfoque mais minucioso no levantamento e na interpretação das respostas, esforço que se considerou não condizente com o papel complementar que o instrumento preencheu em nosso estudo, cujo foco se concentra na intervenção lexical. Dado que questionários concisos são mais recomendáveis (Rea e Richard, ibid, p. 54), optamos por traçar seis questões com foco nos processos cognitivo e afetivo. O subsídio tem como objetivo fornecer pistas sobre como os sujeitos se sentem em relação ao uso do recurso multimediático em questão e de que forma vivenciaram o procedimento. A questão inicial introduz o tópico de forma abrangente, abordando o sentimento dos aprendizes a respeito do uso de filmes no ambiente instrucional. As quatro perguntas subsequentes focalizam sua percepção sobre os processos cognitivos envolvidos na exposição ao insumo multimediático. O questionário se encerra, retornando ao tema do primeiro item, com o objetivo de aquilatar se o procedimento afetou, de alguma forma, sua primeira avaliação. Embora reconheçamos que informações amplas e precisas sobre esse tipo de processos demandariam um instrumento muito mais elaborado e abrangente, acreditamos que um maior aprofundamento fugiria ao escopo deste estudo. Considere-se, ainda, que, com informação nas leituras realizadas, estamos conscientes de que qualquer formato apresenta vantagens e desvantagens e, portanto, cabe ao pesquisador utilizar sua capacidade de interpretação para minimizar potenciais distorções, ou limitações, esforço sobre o qual discorremos no capítulo de análises. O questionário utilizado, que pode ser visto no Quadro 18, foi respondido pelos sujeitos após a realização da atividade lexical como apresentado em 5.5.4.1. Solicitamos que respondessem de forma imediata, sem elaborar as respostas, que deveriam ser rigorosamente individuais. No caso de considerarem mais de uma resposta como verdadeira, pediu-se que assinalassem a situação mais frequente, ou mais próxima de sua realidade. No próximo capítulo, fazemos a análise do texto multimodal na qualidade dos segmentos de vídeo aqui utilizados, assim como dos dados estatísticos resultantes da aplicação das atividades de intervenção descritas. 158 QUADRO 18: Questionário de reflexão pessoal 1- Quando assisto a filmes na aula de inglês, a- eu acho que é para eu me divertir; b- eu acho que é para eu aprender alguma coisa; c- eu acho que é para eu aprender e me divertir ao mesmo tempo. 2- Antes de assistir aos vídeos, eu marquei a resposta da tradução, a- porque eu tinha certeza do significado; b- eu usei a frase para me ajudar a descobrir; c- eu “chutei” para não deixar em branco. 3- Durante os vídeos, a- eu prestei atenção primeiro à fala e depois à imagem; b- eu prestei atenção primeiro à imagem e depois à fala; c- eu prestei atenção à fala e à imagem ao mesmo tempo. 4- Nas questões em que eu alterei/completei a resposta com caneta vermelha, a- eu fiz isso por causa da fala no filme; b- eu fiz isso por causa da imagem no filme; c- eu fiz isso por causa da fala e da imagem juntas. 5- Quando eu corrigi meus erros, ou completei questões em branco, a- eu não me lembrei de ter visto antes as expressões que eu não conhecia; b- eu acho que eu já tinha visto algumas das expressões, mas eu não tenho certeza; c- eu me lembrei de que já tinha visto essas expressões antes. 6- Depois de ter feito essa atividade, a- eu acho que filmes sempre podem me ajudar a aprender vocabulário; b- eu acho que filmes podem me ajudar a aprender vocabulário apenas quando estou na aula; c- eu acho que filmes não podem me ajudar a aprender vocabulário. 159 CAPÍTULO 6 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS E INSTRUMENTOS A primeira subseção deste capítulo é dedicada à análise dos segmentos de vídeo aqui utilizados como instrumento de intervenção. Enfocamos os modos de comunicação, que atuam e interagem na construção do sentido, segundo o conceito de multimodalidade abordado. Temos como objetivo identificar os elementos semióticos que participam de sua composição, com a finalidade de traçar caminhos interpretativos, para a melhor compreensão dos resultados estatísticos gerados por esta pesquisa. Concluímos com a análise dos dados numéricos levantados, por meio da atividade de conhecimento de vocabulário e do questionário de reflexão pessoal. 6.1 ANÁLISE E COMPREENSÃO DOS SEGMENTOS DE VÍDEO Ao longo da última década, o conceito da multimodalidade tem exercido grande influência no estudo do sentido em textos complexos, formados a partir da multiplicidade de modos semióticos (Maier, 2009). Kress e Van Leeuwen (2001, 2006) aprofundaram a temática, ao demonstrar que a dinâmica de sua organização não se estabelece, unicamente, em função dessa coocorrência, mas como resultado direto do processo de interação e amalgamento que se estabelece entre as diversas camadas dos modos semióticos participantes. Considerando-se que um dos intuitos deste trabalho é investigar o papel que o texto multimodal pode exercer sobre o processo de aprendizado lexical em LE, passamos a analisar a composição dos segmentos descritos em 5.5.1, no que tange às funções da imagem, segundo os conceitos desenvolvidos em Kress e Van Leeuwen (2006) que serviram de norte a esta investigação. O arcabouço teórico proposto por Norris (2004a, 2004b), para a análise e a compreensão dos processos interativos inerentes aos papéis sociais, é utilizado de forma complementar em nossa análise. As cenas aqui ilustradas são aquelas que podem ser obtidas por meio do botão de pausa, no momento em que o item lexical em foco é verbalizado pelos participantes. Nesse instante, 160 ao insumo auditivo, soma-se o contexto visual em que o mesmo ocorre. Embora centremos nossa investigação nesse cenário, cada segmento é considerado, no todo, como contexto comunicativo do vocabulário em estudo. Para essa análise, vamos abordar os conceitos de cada função que nos parecem mais pertinentes, aplicando-os à cena em questão. Em alguns casos, (ver 5.5.1), foram utilizados dois momentos distintos que resultaram em duas cenas para o mesmo item vocabular. Todos os termos que foram utilizados no escopo da Gramática do Design Visual se acham grafados em letras maiúsculas. 6.1.1 SEGMENTO 1: “TO DO LAUNDRY” Na primeira cena, a leitura se faz a partir dos Participantes que ocupam a porção central do texto. O homem tem ligeiro destaque, por estar levemente à frente e ser maior, mas seu braço direito forma um vetor na direção da mulher que funciona como elemento inclusor da Participante na ação em curso. É igualmente do homem que parte o vetor formado pelo braço esquerdo. Ambos olham para o interior da máquina de lavar, Circunstância de Meio, ou Instrumento que, naquele momento, embora apenas parcialmente visível, tem sua posição hierarquizada como de relevância, por se encontrar em primeiro plano. Os olhares dos participantes os colocam na função de Reagentes, ao passo que a máquina de lavar se torna o Fenômeno, alvo desse olhar. O Processo Reacional (olhares como vetores: eyeline) e o vetor do braço reforçam a mensagem veiculada pela fala, produzida naquele instante: “Vamos lavar roupa!”, que é a Meta, ou “Goal” do Processo de Ação Transacional retratado. No plano da oralidade, o personagem acentua a mensagem, reforçando o tom de voz e pronunciando as palavras de modo destacado. Em segundo plano, duas pessoas, de costas, e com os rostos apenas entrevistos, incluem-se na categoria “Circunstância de Acompanhamento”, compondo a mensagem verbal que pode ser decodificada como “Pessoas lavam roupa em uma lavadora automática”. Sua visualização apenas parcial reafirma a centralidade dos Participantes em destaque, do mesmo modo como as cores escuras do cenário ao fundo contribuem para ressaltar as máquinas de lavar brancas. O todo da composição visual relaciona os Atores ao Cenário (Circunstância Locativa), “Lavadora Automática”, local de prestação de serviços muito popular nos Estados Unidos e que, em menor escala, também é conhecido em nosso país. A proximidade física dos personagens centrais (Distância Íntima e Pessoal) e desses com a própria máquina de lavar denota intimidade entre ambos e familiaridade com a situação e o Instrumento Circunstancial. No tocante à dimensão do envolvimento entre Participantes e 161 observador, o ângulo é horizontal frontal e os Participantes se encontram no nível do olhar, perspectiva que produz um sentimento de igualdade de poder e convida o espectador à aproximação e ao envolvimento emocional. No âmbito dos elementos composicionais, o homem ocupa o espaço da informação nova (Novo). Esse posicionamento pode estar relacionado ao fato de que, no episódio, ele se ofereceu para ajudar a amiga, ou seja, a presença dele representa a novidade. Outro fator a colaborar para a coerência do texto visual diz respeito ao posicionamento da máquina de lavar no espaço inferior (Real), reforçando-se o caráter de aspecto prático do Instrumento, cujo significado se subordina aos elementos que ocupam a parte superior da composição (Ideal). As máquinas formam, ainda, uma linha horizontal, em primeiro plano, arranjo que atua como fator de conexão entre os Participantes da cena, acentuando a coesão entre os elementos do texto. Na imagem seguinte, os Participantes desempenham a função de Reagentes, em um Processo Reacional Transacional, ao estabelecerem linhas do olhar, na direção da peça de roupa que ocupa a posição de Fenômeno no Processo em curso. Uma segunda mulher ocupa o espaço do Novo: representa a informação original, o desconhecido a ser incorporado pelo receptor. A que se encontra ao centro tem sua importância reforçada pela tampa da máquina que está aberta e destaca a centralidade da Participante na cena: nesse momento, a atenção do observador se volta para a reação dela, quando se dá conta de que sua roupa ficou manchada. Por sua vez, o homem, à esquerda, destaca-se por ser o mais alto dos três, proporção que realça seu papel na ação: é ele que segura a peça de roupa para a qual se voltam todos os olhares. A gradação de altura sugere uma hierarquia de poder entre os Participantes, sendo que o homem, o mais poderoso, está levemente voltado para a mulher ao centro, incluindo-a no Processo. Ao fundo, um homem dá as costas ao grupo. Seus braços estão levantados e ele segura uma peça de roupa, detalhe que reforça o significado da colocação em foco. Assim como na imagem anterior, a linha horizontal, estabelecida pelas máquinas em primeiro plano, contribui para a coesão entre os elementos do texto visual. Ao longo de toda a cena, as máquinas ocupam posição de relevância no contexto visual: além da cor branca se sobressair no cenário, quando o enfoque não as coloca em destaque no primeiro plano, aquelas posicionadas ao fundo mantêm a mensagem a respeito do local onde os Participantes se encontram: um local onde as pessoas lavam roupas _ do laundry. Em sua abordagem para o estudo dos processos de interação, Norris (2004b, p. 11) toma a ação como a unidade básica de análise do evento comunicativo e a conceitua como ação de nível macro (higher-level action), ou ação de nível micro (lower-level action). Ações de nível macro, como uma conversa entre amigos, demandam mais atenção dos participantes e são 162 compostas por uma diversidade de ações de nível micro, como a postura corporal, a movimentação, o espaço pessoal entre indivíduos (proxêmica), os olhares, os elementos em cena e sua disposição, música, ruídos de fundo e outros. Para a autora (2004a, p.103)120, “qualquer evento comunicativo consiste da interação que ocorre entre uma multiplicidade de modos de comunicação.” Na cena em questão, a produção verbal do item linguístico em foco é sublinhada pela linguagem corporal e pelos olhares dos participantes, que se voltam para a execução da ação de “lavar roupas”, além de se encontrarem fisicamente próximos às lavadoras. Para Norris (2004b, p. 19), a relação espacial entre os indivíduos, assim como o posicionamento entre esses e os objetos relevantes no contexto estão diretamente relacionados à ação, a ela se integrando, para significar modos comunicativos. Ao longo da cena no vídeo, há três momentos (não ilustrados) em que os personagens centrais se ocupam de colocar, ou retirar peças de roupa da lavadora, situações de alta densidade modal, na qualidade de ações ritualizadas que requerem atenção, como definido em Norris (2004a, p. 103), e que reforçam o sentido do léxico em teste. A mesma movimentação ocorre igualmente com os personagens ao fundo. Para a autora, objetos presentes no evento comunicativo, elementos a que se refere como “modos desincorporados” (disembodied modes_Norris, 2004b, p.14), estão vinculados a ações de densidade mais alta, denominadas, nesse caso, de “ações congeladas” (frozen actions_ Norris, 2004a, p. 103; ibid, 2004b, p.11). A nomenclatura visa a distinguir ações traduzidas pela presença de elementos inanimados daquelas que são fruto do processo de interação entre os atores sociais. Na imagem em análise, as máquinas de lavar cumprem esse papel, pois têm alta relevância no contexto visual e reafirmam o significado do item lexical em pauta. No que se refere ao nível de atenção dedicada pelos atores sociais ao evento comunicativo, Norris (2004a, p.112) sugere um contínuo em cujos extremos se situam “ações de primeiro plano” (foreground actions) e “ações de segundo plano” (background actions), construto que avalia a importância da ação em análise: quanto mais próxima do extremo de primeiro plano, mais relevante é a ação. A cena em foco mostra um alto nível de atenção dos participantes, no que concerne à ação em curso _ a lavagem de roupas _, o que nos permite qualificar o evento como uma ação de primeiro plano, de alta densidade modal. No plano da movimentação corporal, em diversos momentos, a gesticulação dos personagens chama a atenção do espectador para as lavadoras. 120 “Any communicative event consists of the interplay among a multiplicity of communicative modes.” (Norris, 2004a, p. 103) 163 Considerando-se os instrumentos teóricos disponibilizados, tanto por Kress e Van Leeuwen (op.cit.), como por Norris (op.cit; op.cit.), avaliamos que a cena em questão se constitui em um complexo de modos comunicativos que concorrem positivamente para a compreensão do item lexical em foco. FIGURA 30: Cena 1 _to do laundry / FIGURA 31: Cena 2 _to do laundry Linguagem corporal Olhar Linguagem sonora Disposição espacial Objetos inanimados 6.1.2 SEGMENTO 2: “TO SLAM THE DOOR” No patamar da Função Composicional, a primeira cena se apoia sobre um eixo vertical, em que os hemisférios esquerdo e direito são demarcados por meio da porta entreaberta. No 164 plano do Enquadramento, esse divisor funciona como uma barreira que coloca os Participantes em campos opostos, elemento ilustrativo do momento de discórdia entre os amigos. O homem que se encontra na porção esquerda (Dado) está de costas, o que acarreta um sentimento de desconexão emocional com o espectador. Essa posição é coerente com a história, pois ele havia beijado a mãe do amigo, infringindo um código de ética tácito, colocando-se em posição de ser julgado pelo público. Em contrapartida, embora o Participante ofendido se encontre em um plano ao fundo, o fato de estar voltado de frente o coloca em um posicionamento de maior interação e envolvimento com o observador. À direita, onde se veicula a informação nova (Novo), o Participante dirige seu olhar _ reforçado pela expressão facial _ para o homem de costas. Atuam, respectivamente, como Reagente e Fenômeno em um Processo Reacional Transacional. O braço que segura a porta _ Circunstância de Instrumento _ forma um vetor representativo do Processo Acional que irá ocorrer a seguir, codificado no plano da oralidade, quando o item verbal é falado com entonação de destaque: “Deixe-me bater a porta!”. A apreciação dos elementos composicionais pode, igualmente, ocorrer a partir da centralidade do Instrumento porta no conjunto visual. Essa interpretação subordina os outros subsídios da cena ao seu significado, análise que reforça a acepção do vocabulário em foco. No tocante à dimensão da Perspectiva, o enquadramento em ângulo horizontal frontal aproxima observado e observador, o qual é convidado a participar do mundo retratado e a ser parte dele, em termos de igualdade de poder. Na cena seguinte, embora a porta forme, do mesmo modo, um eixo vertical, o Participante se encontra no centro da imagem, concentrando o foco da ação. Esse realce é minimizado pelos seus braços e, em especial, pelo dedo indicador da mão esquerda que formam vetores apontando para a porta, destacando-a. Na categoria das Representações Narrativas, o Participante atua como Reagente de um Processo Reacional Não-Transacional, ou seja, é o elemento ativo, cujo olhar _ reforçado por meio da expressão facial _ dirige-se para um alvo que se encontra fora do nosso campo de visão e que podemos apenas adivinhar. O conjunto desses elementos reforça a ação em desenvolvimento: embora não haja verbalização, a não ser por um “Hum!”, a cena prenuncia o que virá a seguir, quando o homem sai, batendo a porta com estrondo. No tocante ao Enquadramento, as listas horizontais da camisa do Participante funcionam como elemento integrador entre as duas portas visualizadas, cujo significado textual se harmoniza pela mesma cor verde. Fazendo uso do construto proposto por Norris, o posicionamento dos indivíduos, em relação à porta, bem como a visualização de suas mãos na maçaneta a vinculam ao significado 165 da ação, o que facilitaria a compreensão do item lexical em teste (slam the door). No plano sonoro, o ruído do bater da porta, modo comunicativo que se dá por duas vezes, reforça igualmente o sentido do léxico. FIGURA 32: Cena 1 _ to slam the door Posicionamento FIGURA 33: Cena 2 _ to slam the door Ruído (efeito sonoro) Gestual 6.1.3: SEGMENTO 3: “TO CHOP GARLIC” A cena 1 abre em “close”, focalizando duas mãos que picam vários dentes de alho, sobre uma tábua de madeira. No plano das Representações Narrativas, a imagem caracteriza um Processo de Ação na categoria Evento, já que apenas a visão parcial do Ator _ suas mãos _ ilustra a Meta em questão: picar alho. Não há verbalização nesse primeiro momento, apenas o 166 barulho da faca (Circunstância de Instrumento) sobre a tábua. O som é levemente exagerado, sugerindo irritação por parte de quem corta. Os dentes de alho e as mãos ocupam a posição central da imagem (Centro) e concentram o significado do texto visual. O foco de luz sobre esses elementos confere Saliência aos mesmos, em relação aos outros componentes que se situam às margens. A próxima tomada se estrutura sobre um eixo vertical. No campo do Valor de Informação, o Participante à direita ocupa o espaço Novo, onde se transmite a informação a ser incorporada pelo receptor. Esse mesmo Participante, na dimensão dos Processos Reacionais, estabelece um vetor, criado pelo olhar e reforçado pela expressão facial, que o coloca na função de Reagente. O homem que está de costas e atua como “Fenômeno”, embora haja um ponto de luminosidade no alto da sua cabeça, tem sua expressividade diluída pela roupa preta que se confunde com a base do próprio cabelo e com o fundo da imagem. A composição reforça a dinâmica da história: no momento, o filho acusa o pai de estar tendo um caso amoroso. O fato de o pai estar de costas para o observador dificulta um envolvimento emocional com o espectador. A identificação se dá, mais facilmente, com aquele que se encontra de frente. O Reagente tem uma das mãos pousada sobre a tábua criando um vetor que aponta para os dentes de alho. É nesse trecho que se ouve a verbalização do item lexical em foco, quando o rapaz responde ao pai sobre o que está fazendo: “Picando alho.” E reforça: “Você está tendo um caso e eu estou picando alho!” Como o momento ilustrado é de litígio, os Participantes mantêm entre si uma Distância Social, afastamento que é reforçado pela mesa entre ambos. A faca na mão direita, uma Circunstância de Instrumento, aponta para o espectador e cria, simultaneamente, uma barreira entre os Participantes e um vetor de aproximação entre observador e observado. Embora na primeira cena não haja a verbalização do item lexical, o realce da ação, proporcionado pelo enquadre e pelo som peculiar da faca sobre a tábua, funciona como complementação para o segundo momento, quando os elementos ilustrativos da Meta em foco _ picar alho _ são realçados pela iluminação, assim como pelo vetor formado pela mão sobre a tábua. Na primeira tomada, o enquadramento em primeiro plano atua como um poderoso recurso de linguagem. Para Maier (2009, p.163) Uma tomada em close-up tem um significado avaliativo específico que lhe é inerente, porque convida o espectador a dar mais importância ao que é mostrado em detalhes na respectiva imagem, dessa forma enfatizando o papel significativo daquela imagem em uma determinada cena. (Maier, 2009, p. 163)121 121 A close-up shot has a certain inherent evaluative meaning because it invites the viewer to attach more importance to what is shown in detail in the respective image, thereby emphasizing the meaningful role of that image in a certain scene. (Maier, 2009, p. 163) 167 Na sequência, embora mantenha um diálogo com o pai, o indivíduo que pica alho parece dedicar mais atenção à tarefa do que à conversa. Dessa forma, a ação cujo significado está sendo avaliado (chop garlic) se situa como uma ação de primeiro plano (foreground action), segundo o contínuo proposto por Norris (2004a, p. 112), fazendo com que, apesar da simultaneidade de eventos comunicativos, esse se sobreponha ao outro, contribuindo para a compreensão do aprendiz. Embora a cena ilustrada na Figura 35 mostre os dois homens se encarando, o maior nível de atenção dedicado à ação de cortar alho é sublinhado, ao longo do episódio, pelo olhar do participante que, a despeito da conversa, converge, na maior parte do tempo, para a atividade em curso. Sua proximidade física com os objetos envolvidos no processo e, em especial, o manuseio da faca são aspectos de expressiva relevância comunicativa (ibid, p. 110)122. FIGURA 34: Cena 1 _ to chop garlic Enquadramento Manuseio do objeto Posição pessoal (proxêmica) Iluminação Ruído (efeito sonoro) 122 “The action of handling an object has important communicative implications” (Norris, 2004a, p. 94) 168 FIGURA 35: Cena 2 _ to chop garlic 6.1.4 SEGMENTO 4: “TO HANG UP THE TELEPHONE” Na imagem, um casal se encontra em primeiro plano, ao Centro, concentrando o núcleo da informação visual. No próprio Centro desse conjunto, vê-se um telefone. O posicionamento destacado do aparelho _ Circunstância de Instrumento _ estabelece uma hierarquia que vai definir o caminho da leitura textual, subordinando todos os outros itens à sua relevância e significado. Contribuindo para o ordenamento dos elementos, o braço direito dela, seus joelhos e o braço esquerdo dele formam vetores que apontam para o aparelho. Nesse instante, a Participante desliga o telefone, Meta de um Processo Acional Transacional. No âmbito dos Processos Reacionais, a mulher atua como Reagente ao criar uma linha de olhar na direção do rapaz. Esse acumula os papéis de Fenômeno, por ser alvo passivo do olhar dela, e Reagente, ao olhar para o telefone. Os vetores formados pelos olhares e pelas mãos de ambos formam todo um caminho para a leitura do texto que começa e termina no próprio telefone, ratificando-o como núcleo da informação. No tocante à dimensão Interativa, os Participantes mantêm uma Distância Íntima e Pessoal entre si, codificadora de seu relacionamento próximo. O ângulo horizontal frontal, no nível do olhar, é responsável por um sentimento de envolvimento e aproximação entre observador e observados, entre os quais se estabelece um equilíbrio de forças. A verbalização do item lexical ocorre, reiteradas vezes, imediatamente antes da cena visualizada na Figura 36. No momento da imagem analisada, ouve-se apenas o ruído do 169 aparelho sendo desligado, subsídio que serve de reforço para o sentido do vocabulário em foco. A composição cênica (layout) dos elementos em cena, o gestual do casal e as ações em curso se integram e convergem para o aparelho. Como ocorre no segmento anterior, o manuseio do objeto em questão _ aspecto que se desenrola ao longo de toda a cena _ sublinha a relevância do papel que o aparelho telefônico exerce no tocante à compreensão. A ação é igualmente destacada através do gestual: a maneira como a mulher pega o aparelho, desliga e o devolve, com certa brusquidão nos movimentos, são, da mesma forma, elementos de reforço que contribuem para o entendimento do léxico. FIGURA 36: Cena 1 _ to hang up the phone / FIGURA 37: cena 1 _ to ring the bell Linguagem corporal Centralização Posicionamento Manuseio do objeto Olhar Plano auditivo Composição espacial Ação congelada (frozen action) 6.1.5 SEGMENTO 5: “TO RING THE BELL” A imagem se constrói sobre um eixo vertical, formado pela porta entreaberta. O homem à esquerda ocupa o espaço da informação já assimilada _ Dado_, ao passo que a recém170 chegada se encontra na posição do desconhecido: Novo. A menor relevância do Participante masculino é reforçada pela cor escura da sua roupa que se confunde com o plano ao fundo. Em contrapartida, a função do Participante mulher pode ser analisada, a partir de sua centralidade no conjunto do texto visual. Esse posicionamento de destaque é acentuado pelo realce dos longos cabelos louros e de sua jaqueta vermelha, elementos que concentram maior luminosidade. O grau de Saliência é, igualmente, destacado por ela se encontrar entre a porta e o batente, enquadramento que funciona como uma moldura para a sua imagem. Na esfera da Função Interativa, os dois mantêm uma Distância Social entre si, delimitada pela linha da porta, distância que é minimizada pelo vetor criado pela mão do homem, apontando em direção à visitante. No tocante à Perspectiva, o ângulo horizontal frontal, no nível do olhar, estimula envolvimento e aproximação entre observador e observados, em igualdade de poder. A inclusão se faz de forma especial com a mulher, por ela estar de frente para o espectador, sentimento que se reduz em relação ao homem, retratado de costas, em um ângulo levemente oblíquo. Esse segmento apresenta uma diferença significativa em relação a todos os outros: a ação expressa pela colocação em teste _ tocar a campainha _ não é visualizada. A coocorrência de modos comunicativos se dá exclusivamente no plano auditivo, quando se ouve o som insistente da campainha e o Participante verbaliza o item lexical. Para Norris (2004b, p. 11), a porta aberta, enquanto a visitante aguarda do lado de fora, traduz uma ação congelada (frozen action) que vincula o elemento inanimado a ações de alta densidade modal, no caso tocar uma campainha e se esperar que alguém venha atender. No conceito da autora: Ações congeladas são, de um modo geral, ações de nível mais alto que foram realizadas por um indivíduo ou um grupo de pessoas em um momento anterior ao momento real da interação em curso que está sendo analisada. Essas ações se encontram congeladas nesses objetos materiais e são, por conseguinte, evidentes. (Norris, 2004b, p. 14)123 No vídeo, há um enfoque não visualizado na ilustração _ imediatamente posterior ao toque da campainha _ em que a mulher se encontra de costas para o espectador e o homem está ao lado da porta aberta, enquadramento que reafirma o elemento porta na qualidade de “ação congelada”. Ao modo comunicativo expresso por meio da visualização da mulher à porta, a autora se refere como layout que traduzimos como “composição”. A composição visual e o objeto porta remetem, nesse caso, à ação expressa pelo item lexical em teste. 123 Frozen actions are usually higher-level actions that were performed by an individual or a group of people at an earlier time than the real-time moment of the interaction that is being analyzed. These actions are frozen in the material objects themselves and are therefore evident. (Norris, 2004b, p. 14) 171 6.1.6 SEGMENTO 6: “TO WEAR GLASSES” A primeira cena articula seu valor de Informação sobre os eixos Dado _ a mulher _ e Novo _ o homem. Vetores formados pelos braços e mãos dele, e, até mesmo, pela mão dela que segura o copo apontam para os óculos que ele está usando, realçando o grau de Saliência do Instrumento. No âmbito narrativo, os Participantes estabelecem um Processo Reacional Transacional ao se olharem, desempenhando as funções de Reagente e Fenômeno de forma concomitante. Para Participantes que, como nesse caso, tanto criam vetores de olhar como são, simultaneamente, alvo do olhar de outro, Kress e Van Leeuwen (2006, p. 67) sugerem a denominação de Interagentes (Interactors), para descrever um Processo semelhante aos Processos de Ação Bidirecionais. Manteremos, contudo, em nossas análises, os termos e as apreciações relativas a Reagente e Fenômeno. No domínio da interação, os Participantes mantêm uma Distância Social entre si. O sentimento de aproximação emocional do espectador se dá de forma mais acentuada com o Participante masculino, por esse ocupar um ângulo menos oblíquo em relação ao observador. A segunda imagem exibe dois homens, em outra composição, com valores de Informação Novo e Dado, sempre ilustrando o homem que usa óculos, na posição da informação nova, a ser incorporada. O brilho metálico de um dos aros acarreta um relativo efeito de Saliência sobre o Instrumento, considerando-se a predominância de cores escuras na cena. A codificação da Distância entre eles se faz de modo ambíguo: ao passo que o Participante à esquerda mantém uma postura corporal de distanciamento e, até, de enfretamento, o outro tem seus braços levemente estendidos na direção do primeiro, traduzindo uma possível intenção de aproximação. O arranjo ilustra a dinâmica da história, em que o Participante à esquerda é sogro do mais jovem e não lhe dedica muita simpatia. No plano narrativo, há uma linha de olhar entre os Participantes, que acumulam as funções de Reagente e Fenômeno à semelhança da cena anterior. Recorrendo ao arcabouço teórico proposto por Norris (op. cit.; op. cit.), os diálogos que se desenrolam, respectivamente, entre o homem dos óculos e os outros dois personagens (Figuras 38 e 39) são ações de nível macro (higher-level action), compostas por uma série de outras de nível micro (lower-level action). Entre essas, o gestual e o manuseio dos óculos são modos comunicativos que se verificam ao longo de toda a duração do segmento em foco e dão destaque ao objeto. Logo no início da primeira cena, o homem traz os óculos em uma das mãos e os olha, manuseando-os como para verificar se são o que procurava. Na sequência, ao 172 responder à mulher, que quer saber a quem os óculos pertencem, faz um movimento ostensivo e os coloca no rosto de forma cuidadosa. Na segunda cena, o gestual inverso _ quando retira os óculos do rosto e os entrega ao outro indivíduo _ ocorre, igualmente, de forma destacada no contexto comunicativo. Ao receber os óculos, o outro homem os coloca no rosto, mas os retira em seguida, para limpá-los na barra da camisa. Avaliamos que os modos expressos pelo gestual e pelo manuseio do objeto em questão funcionam como fortes elementos de comunicação no contexto, para a compreensão do vocabulário em teste. FIGURA 38: Cena 1 _ to wear glasses / FIGURA 39: Cena 2 _ to wear glasses Proxêmica Gestual Manuseio do objeto Olhar 6.1.7 SEGMENTO 7: “TO HOLD ONE’S BREATH” A cena pode ser analisada a partir da posição central ocupada pelo homem que realiza a ação expressa pelo léxico em foco: o rapaz, que se destaca pela iluminação generosa sobre sua 173 camisa clara e calças vermelhas, prende a respiração. Seu braço e mão esquerda funcionam como um vetor que aponta para o próprio rosto de bochechas estufadas, assim como o braço e a mão do Participante à esquerda e os braços cruzados daquele que se encontra à direita formam um vetor na direção do homem ao Centro, acentuando sua Saliência na composição visual. O homem de pé, à esquerda, encontra-se em um nível mais alto em relação ao do meio. O destaque pode estar relacionado ao fato de que esse Participante é quem está no comando e dá as ordens ao amigo que prende a respiração. Diferentemente, aquele que se encontra à direita ocupa o nível mais baixo na composição visual. Na cena em curso, esse Participante se coloca como mero espectador e seu reduzido envolvimento na ação se traduz em um certo distanciamento físico dos outros. O posicionamento em primeiro plano do homem mais alto tem seu efeito reduzido por estar em um ângulo oblíquo, delegando-se ao Participante que infla as bochechas uma maior aproximação com o espectador. No plano narrativo, o Participante exerce a função de Fenômeno, em um Processo Reacional Transacional, ao ser alvo dos olhares dos Reagentes. Esse conjunto de fatores constrói um efeito de subalternidade de todos os elementos da cena, em relação ao núcleo da informação textual, núcleo esse codificado pelo Participante central e a ação em curso. No campo da oralidade, o inflar de bochechas é acompanhado por uma ruidosa inspiração, reforçando o significado do item de vocabulário enfocado. Para Norris, modos de comunicação à primeira vista subalternos, como olhar, postura e linguagem gestual podem exercer um papel de elemento superordinado (superordinate) em relação à linguagem verbal, ao qual, ou aos quais essa se encontra subordinada (ibid, 2004b, p. x). Na cena em questão, o sentido do item lexical em estudo (hold one’s breath) é verbalizado, apenas uma vez, de forma breve, sem destaque sonoro especial. O fio condutor para sua compreensão se apoia de forma mais contundente nos ruídos produzidos pelo indivíduo, quando prende a respiração e depois exala o ar de forma exagerada, no seu gestual, quando aponta as próprias bochechas, para chamar a atenção dos outros para o fato de que estava sem respirar e, finalmente, na sua expressão facial, com as bochechas infladas. O conjunto de modos de comunicação descritos se somam à verbalização do léxico, para compor um todo de alta densidade modal (ibid, p. 103), favorecendo a compreensão do vocabulário em estudo. 174 FIGURA 40: Cena 1 _ to hold one’s breath Gestual Ruídos (efeito sonoro) Expressão facial Proxêmica 6.1.8 SEGMENTO 8: “TO FALL ASLEEP” Ambas as cenas se desenvolvem no interior de uma sala de cinema, Circunstância Locativa que relaciona os Participantes a um elemento específico, no caso a baixa luminosidade. Esse elemento funciona como fator de coesão entre os dois segmentos, nos quais se destacam poucos pontos de iluminação. Na cena 2 que, no episódio, acontece, de fato, antes da primeira imagem ilustrada na Figura 41, ocorre um Processo Reacional Transacional: o Participante à esquerda se encontra na posição de Reagente, ao estabelecer uma linha de olhar na direção do Ator à direita, no papel de Fenômeno, alvo passivo desse olhar. Ambos se encontram no Centro da imagem, concentrando em si o núcleo da informação textual. As pessoas à volta atuam como Circunstâncias de Acompanhamento, compondo a significância do conjunto: pessoas assistem a filme, mas homem dorme. O destaque criado pela parte da camisa branca que se entrevê aponta para o rosto do Participante e realça o fato de que sua atenção está voltada para o homem adormecido ao lado, e não para a tela à frente, como acontece com os outros Participantes. O Processo poderia ser transcodificado em linguagem verbal como: “Homem olha para homem adormecido. Na segunda cena, o vetor formado pelo braço e pelo dedo em riste do Ator à direita estabelece um Processo Acional Transacional, no qual o homem adormecido é a Meta: homem aponta para homem adormecido. No âmbito da Função Composicional do texto, a luminosidade da camisa branca do Participante à esquerda ressalta seu rosto adormecido, acentuando a 175 Saliência da informação. O fato do Ator se encontrar de pé o coloca em uma posição de detentor do poder em relação ao outro Participante. Entre os dois, o corredor iluminado forma uma divisão, colocando-os em campos opostos. Na dimensão Reacional, o Ator desempenha a função de Reagente ao criar uma linha de olhar para algo, ou alguém fora da cena, estabelecendo um Processo Reacional Não Transacional: é deixado ao espectador imaginar o alvo desse olhar. Vale destacar que a cena se abre com os dois indivíduos na sala de cinema e, ao fundo, ouvem-se os acordes, sonoros e espalhafatosos, da música que assinala a conclusão do filme exibido. Ao mesmo tempo, um dos indivíduos olha de modo reprovativo o outro que dorme e abana a cabeça de forma eloquente. Nesse momento, as palmas das pessoas na plateia o acordam, elemento sonoro que igualmente funciona como destaque para a ação dormir. A música, as palmas, o olhar e o gestual com a cabeça são modos comunicativos que contribuem para que a atenção do espectador se volte para o fato de que o homem se encontrava adormecido, item lexical em pauta nesse segmento. FIGURA 41: Cena 1 _ to fall asleep / FIGURA 42: Cena 2 _ to fall asleep Gestual Iluminação Verbalização sonora Música de fundo Palmas Gestual com a cabeça Olhar de reprovação 176 6.1.9 SEGMENTO 9: “TO SIGN A PAPER” Na imagem ilustrada, o significado do léxico em foco se encontra sublinhado tanto no âmbito dos Processos Acionais, como na dimensão Reacional. No tocante à primeira categoria, o Ator mulher segura uma caneta e escreve sobre um papel que é a Meta da ação Transacional, possivelmente codificada por “Mulher escreve em papel”. Além de a própria caneta funcionar como um vetor, as mãos da mulher apontam na direção da Meta em curso. O Processo é realçado por um vetor adicional, formado pela mão do Ator homem que segura uma das folhas. Na esfera Reacional, ambos são Reagentes, em um Processo Transacional, ao estabelecer uma linha de olhar que coloca os papéis sobre a mesa na função de Fenômeno. Ou seja, os papéis são igualmente Meta da ação e alvo dos olhares dos Participantes. No patamar Composicional, o todo formado pelo casal e pela mesa à sua frente ocupa a parte central da imagem. O posicionamento dos papéis na parte inferior _ Real _ está relacionado ao fato de ser esse o espaço em que se localiza a informação de caráter mais prático e concreto. A postura corporal dos Participantes cria um elemento de Saliência que destaca o Processo de Ação em curso. Nesse conjunto, a luminosidade da roupa clara confere à mulher uma posição de destaque, em relação ao homem, na escala hierárquica da leitura do texto. No campo da Função Interativa, os Participantes são visualizados em ângulo frontal, convidando o espectador ao envolvimento e à participação. A Perspectiva, em um ângulo levemente inferior, confere ao observador certo grau de poder sobre os observados: essa construção pode ser fruto do fato de que o casal está assinando documentos relativos ao seu divórcio, decisão controvertida na trama da história, que permite ao espectador julgar sua propriedade, ou não. Em conformidade com o construto teórico proposto por Norris (2004b, p. 104), “[...] ações de nível mais alto podem ser teoricamente descritas como aquelas que ocorrem em primeiro plano, no que toca à atenção ou consciência do ator social.”124 Mas, ao mesmo tempo, a autora pondera que “atores sociais frequentemente se engajam em várias ações de forma simultânea, em diferentes níveis de consciência e/ou atenção.” 125(ibid, p. 102) No segmento em questão, o diálogo entre o casal abre a cena e canaliza sua atenção. 124 “[…] higher-level actions can be theorized as occurring in the foreground of a social actor’s awareness or attention”. (Norris, 2004b p. 104) 125 “Social actors are often engaged in various interactions simultaneously at different levels of awareness and/or attention.” (Norris, 2004b, p. 102) 177 Mas, em paralelo, passam à assinatura dos papéis, ação que envolve, igualmente, um elevado nível de consciência, situando-a em primeiro plano no evento comunicativo, ficando a interação verbal relegada a segundo plano. O foco de atenção do espectador acompanha o intrincado processo de interação entre as camadas de múltiplas ações que se desenrolam e transitam sobre o contínuo de primeiro-segundo plano (foreground-background continuum). O gestual exacerbado, quando o indivíduo retira as folhas de papel, na medida em que a mulher as assina, assim como os ruídos de fundo relativos ao gestual e ao deslizar da caneta sobre o papel são modos de comunicação que sublinham o significado do vocabulário em teste. A caneta se enquadra na posição de objeto que, atrelado ao conteúdo lexical em questão, atua como elemento de reforço. FIGURA 43: Cena 1 _ to sign a paper / FIGURA 44: Cena 1 _ to ride a bicycle Gestual Ruídos Linguagem corporal Composição visual Olhar Verbalização Linguagem corporal Gestual 178 6.1.10 SEGMENTO 10: “TO RIDE A BICYCLE” A cena se estrutura em um eixo vertical. Pode-se observar a construção de Processos de Ação e de Reação. No segmento à direita _ Novo _ encontra-se o elemento original de informação, a ser incorporado pelo receptor: mulher anda de bicicleta. A leitura textual é conduzida pelo destaque das cores alegres do capacete, da cestinha e da própria bicicleta, no conjunto predominantemente escuro, contraste que realça a posição hierárquica de relevância da ciclista. A Participante acumula os papéis de Ator e Reagente, pois dela parte uma linha de olhar em direção à bicicleta que se encontra na função de Meta, no campo acional, e de Fenômeno na dimensão Reacional. Na parte esquerda da imagem _Dado_ encontram-se as pessoas que observam a cena. Dessas, duas olham diretamente para a ciclista, ao passo que, um casal, à direita dos primeiros, estabelece um vetor de linha de olhar entre si. No momento em que a mulher sobe na bicicleta, entretanto, todos os quatro olham para a ciclista, nela concentrando-se o foco da atenção. No âmbito da Interação, os Participantes à esquerda conservam uma Distância Íntima e Pessoal entre si, consequência natural do relacionamento de amizade de que desfrutam. Em relação ao observador, a ciclista parece estar mais próxima, impressão que se acentua pela sensação de movimento, colocando-a em uma postura de maior intimidade com o espectador em comparação com os outros observados. Esse sentimento de distância e maior impessoalidade é acentuado pelo ângulo levemente oblíquo em que se encontram, assim como pela barreira visual criada pelos objetos de ferro à sua frente. O objeto bicicleta é o fio condutor do significado do léxico em questão e sua dimensão comunicativa é destacada, não apenas por meio das cores, como visto, no âmbito do modo comunicativo gestual, quando, no início do segmento, a ciclista pendura enfeites na bicicleta. No que toca à verbalização, um dos indivíduos dá destaque sonoro ao verbo “ride”, ao perguntar se a moça sabe andar de bicicleta. 6.1.11 CONSIDERAÇÕES FINAIS Para Van Leeuwen (2004, p. 7), “A coesão entre o verbal e o visual é geralmente reforçada por meio de alguma forma de unidade estilística entre a imagem, a tipografia e a composição visual.”126 Ao analisarmos as imagens de vídeo utilizadas neste trabalho, procuramos aplicar os arcabouços teóricos disponibilizados por Kress e Van Leeuwen (op. cit.) 126 “The cohesion between the verbal and the visual is usually enhanced by some form of stylistic unit between the image, the typography and the layout.” (Van Leeuwen, 2004, p. 7) 179 e Norris (op.cit.; op.cit.) visando a observar que unidades de comunicação atuam e interagem no referido recurso. É nosso propósito detectar e avaliar se e de que forma essas múltiplas camadas de linguagem podem facilitar a compreensão dos itens lexicais em estudo. Se a Gramática do Design Visual disponibiliza um complexo arcabouço teórico, para a análise do texto visual como um todo, os conceitos de Norris (op.cit.; op.cit.) propõem um modelo de análise do discurso que se apóia na multimodalidade e encompassa todo o cenário composto por uma pluralidade de (inter)ações, cujo significado ultrapassa o âmbito da interação verbal. Ou seja, a noção de contexto do discurso se expande, abordagem que pode contribuir para a compreensão dos elementos que atuam na recepção do texto multimodal. Embora a temática se revele atual, a necessidade de instrumentos que viabilizem um melhor entendimento sobre a dinâmica e a composição de textos resultantes da soma e da interação entre várias linguagens é defendida por profissionais da área há bastante tempo: Dondis, em 1973, argumentava: Existe uma sintaxe visual. Existem parâmetros para a construção de textos compostos. Existem elementos básicos que podem ser igualmente aprendidos e compreendidos por todos os alunos dos meios de comunicação visual, artistas e não artistas, e que, juntamente com técnicas de manipulação, podem ser usados para criar mensagens visuais claras. O conhecimento de todos esses fatores pode levar a uma melhor compreensão das mensagens visuais. (Dondis, 1973, p. 11)127 A existência de uma metalinguagem para essa melhor compreensão pode ser um instrumento para que, constantemente expostos a mensagens e apelos que se concretizam por meio da multimodalidade, não sejamos os receptores ingênuos de que nos fala Joly (2007, p. 10): Por um lado lemos as imagens de uma maneira que nos parece totalmente “natural”, que, aparentemente, não exige qualquer aprendizado e, por outro, temos a impressão de estar sofrendo de maneira mais inconsciente do que consciente a ciência de certos iniciados que conseguem nos “manipular”, afogando-nos com imagens em códigos secretos que zombam de nossa ingenuidade. (Joly, 2007, p. 10) Dessa forma, acreditamos que o uso efetivo de textos multimodais no contexto pedagógico, inicia-se, necessariamente, por uma melhor compreensão a respeito dos elementos que atuam em sua composição, para o que os construtos teóricos aqui aplicados podem contribuir. Quando expostos à linguagem multimediática, haja ou não o intuito consciente de 127 There is visual syntax. There are guidelines for constructing compositions. There are basic elements that can be learned and understood by all students of the visual media, artists and nonartists alike, and that, along with manipulative techniques, can be used to create clear visual messages. Knowledge of all these factors can lead to clearer comprehension of visual messages. (Dondis, 1973, p. 11) 180 compreendê-la, construímos um todo de significação. Acredita-se que materiais pedagógicos nessa categoria apresentam e reapresentam os insumos e, dessa forma, oferecem ao aprendiz contextos mais ricos, através de uma maior variedade e quantidade de pistas de natureza linguística e extralinguística, além de contribuir para um melhor índice de motivação por parte dos alunos (Souza, 2006, 2005). Para Kress e Van Leeuwen (op.cit.), mesmo ao interagir no processo de construção de um significado único, cada uma das linguagens, visual e verbal, possui modos de organização distintos. Uma sistematização teórica de estudo e análise, para essa interação, pode se revelar um instrumento eficaz, não só para o melhor entendimento do universo visual, como, igualmente, para a formação de educadores preparados para um novo conceito de multiletramento, tema a que nos reportamos anteriormente. Nessa perspectiva, reconhecemos a necessidade de propostas pedagógicas práticas e é nosso objetivo melhor informar o professor de LE, de tal forma que possa se valer dos processos ensejados pelo uso de materiais de multimídia de modo adequado e efetivo. Para tal, acreditamos que o processo de análise aqui desenvolvido possa contribuir. No próximo segmento, focalizamos os dados numéricos resultantes da aplicação das atividades de intervenção, buscando interpretar os subsídios estatísticos à luz dos pressupostos teóricos que nos orientam. 6.2- LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DE DESEMPENHO Este segmento se subdivide para a apresentação dos dados estatísticos resultantes da aplicação da atividade de conhecimento lexical e do questionário de reflexão pessoal. Cabe lembrar que a primeira avaliação enfoca as dez colocações selecionadas para esta intervenção, ao passo que o segundo instrumento se volta para a visão individual do aprendiz, acerca do seu próprio processo cognitivo e do uso de filmes no ambiente pedagógico. 6.2.1- Dados relativos ao teste de vocabulário: análise e discussão Após a aplicação da atividade de intervenção lexical, da maneira como explicitado em 5.5, procedeu-se à contagem dos resultados. Foram comparadas as marcações prévias feitas a lápis, ou com caneta azul, efetuadas durante a etapa pré-tratamento, com as eventuais alterações assinaladas pelos sujeitos com caneta vermelha, na fase pós-tratamento. Dessa análise 181 resultaram oito diferentes situações, entre as quais se distribuem os 1000 itens linguísticos em teste128. Os dados se encontram discriminados no Quadro 19 e são ilustrados no Gráfico 1: QUADRO 19: Resultado numérico da avaliação lexical, comparando-se as respostas assinaladas nas fases pré e pós-tratamento OCORRÊNCIAS DE CORREÇÃO/NÃO CORREÇÃO APÓS APLICAÇÃO DO TRATAMENTO RESULTADOS NUMÉRICOS 1-O aluno assinalou a resposta errada antes de assistir aos vídeos e a retificou 263/1000 CORRETAMENTE após a exibição. 2- O aluno assinalou a resposta errada antes de assistir aos vídeos e a retificou 7/1000 INCORRETAMENTE após a exibição. 3- O aluno assinalou a resposta errada antes de assistir aos vídeos e a MANTEVE. 32/1000 4- O aluno deixou a questão em branco antes de assistir aos vídeos e a retificou 33/1000 CORRETAMENTE após a exibição. 5- O aluno deixou a questão em branco antes de assistir aos vídeos e a retificou 2/1000 INCORRETAMENTE. 6- O aluno deixou a questão em branco antes de assistir aos vídeos e NÂO 5/1000 assinalou qualquer opção após a exibição. 7- O aluno assinalou a resposta correta antes de assistir aos vídeos e a retificou 0/1000 INCORRETAMENTE após a exibição. 8- O aluno assinalou a resposta correta antes de assistir aos vídeos e a manteve 658/1000 após a exibição. 128 Destacamos que a referência a 1000 itens linguísticos é resultado das 10 colocações testadas por meio da participação de 100 sujeitos. 182 GRÁFICO 1: Resultado numérico da avaliação lexical, comparando-se as respostas assinaladas nas fases pré e pós-tratamento 26% 1% 3% 66% 3% 0% 1% 0% errada/retificada certa errada/não retificou em branco/retificou errado correta/retifivou errado errada/retificada errada em branco/retificou certo em branco/não retificou correta/ manteve Visando a analisar como o uso do recurso multimodal poderia haver afetado a compreensão dos aprendizes, as oito categorias de resultados _ como tipificadas no Quadro 19_ foram reagrupadas em dois grandes blocos: * itens que faziam parte do conhecimento prévio do aprendiz, considerando-se, nesse conjunto, os acertos iniciais do aluno, confirmados, e não alterados pela exposição à imagem; * itens que não faziam parte do conhecimento prévio do informante, considerando-se como tal os que foram, a princípio, assinalados erradamente, ou deixados em branco. Os resultados numéricos se encontram no Quadro 20 e são ilustrados no Gráfico 2: QUADRO 20: Conhecimento prévio / não conhecimento prévio dos sujeitos, considerando-se os resultados na fase pós-tratamento Itens que FAZIAM parte do conhecimento Itens que NÃO FAZIAM parte do prévio do informante. conhecimento prévio do informante 658 itens lexicais 342 itens lexicais 183 GRÁFICO 2: Conhecimento prévio / Não conhecimento prévio dos sujeitos considerando-se os resultados na fase pós-tratamento Vale comentar que o número de colocações marcadas corretamente pelos aprendizes, na fase anterior à intervenção _ 658 _, superou nossas expectativas. Não obstante, julgamos que os 342 itens lexicais assinalados incorretamente, ou deixados em branco representam, em seu conjunto, um corpus significativo para a análise em curso, especialmente se considerarmos que ilustram a atuação de 100 informantes. Focalizamos, portanto, um novo universo, composto por esses 342 (trezentos e quarenta e dois) itens vocabulares, previamente desconhecidos pelos sujeitos, e passíveis de correção. Nesse contexto, interessa-nos averiguar aqueles que sofreram, ou não, processo de retificação após a mostra dos segmentos de vídeo. Com esse objetivo, fizemos uso das categorias e dos dados numéricos discriminados no Quadro 19, para reagrupar as 342 colocações desconhecidas, em duas ocorrências distintas, como assinalado no Quadro 21 e ilustrado no Gráfico 3: QUADRO 21: Resultados de correção e não correção sobre o léxico desconhecido, como efeito da exposição aos vídeos OCORRÊNCIAS RELATIVAS AO VOCABULÁRIO DESCONHECIDO 1 Questões corrigidas através da imagem: considerando-se como tal, RESULTADO NUMÉRICO 296/342 aquelas que foram, a princípio, assinaladas erradamente, ou foram deixadas em branco e que sofreram a correção esperada, após a exposição aos vídeos. 2 Questões não corrigidas através da imagem: considerando-se como tal, 46/342 aquelas que foram, a princípio, assinaladas incorretamente, ou foram deixadas em branco e que não sofreram a correção esperada, após a exposição aos vídeos. 184 GRÁFICO 3: Resultados de correção e não correção sobre o léxico desconhecido como efeito da exposição aos vídeos 13% 87% questões corrigidas pela imagem questões não corrigidas pela imagem Os dados aqui visualizados indicam que 87% dos itens desconhecidos pelos informantes foram corrigidos de forma adequada na fase pós-tratamento, em oposição a 13% que foram mantidos sem correção. A comparação nos permite observar uma expressiva superioridade do percentual de itens corrigidos sobre a quantidade de itens não corrigidos após a exposição aos vídeos. Dessa forma, acreditamos ser válido afirmar que os números sugerem um efeito positivo da utilização do recurso multimodal filme no processo de compreensão do léxico em ensino/aprendizagem de LE. Nesse caso, o pressuposto que inspirou e serviu de norteamento a esta investigação parece se confirmar, ou seja, como postulado em Mayer (2006, p.64), os alunos aprendem melhor, quando os insumos se apresentam em dois, ou mais formatos distintos, de modo a permitir que estabeleçam conexões referenciais que ampliem sua compreensão. Para o pesquisador, como visto em 3.2, essa conjunção de linguagens oferece uma maior variedade de pistas, de natureza linguística e extralinguística, o que beneficiaria o aprendizado. Acreditamos que a elevada superioridade do percentual de sujeitos que retificaram seus erros em acertos sobre o número daqueles que persistiram na incorreção, permite-nos confiar que, como endossado pelo pesquisador, o recurso de multimídia efetivamente contribuiu para que os informantes tivessem uma melhor compreensão do léxico desconhecido. 185 Essa impressão se confirma pelo prisma de uma avaliação estatística: a proporção de retificações (87%) difere com significância estatística (p< 0,05) da proporção de itens que foram deixados incorretos, ou em branco (13%). Aplicando-se o teste binomial129 o valor de p seria menor do que 0,0001 (p < 0,0001), resultado numérico que assinala a impossibilidade de que o desvio encontrado fosse mero fruto do acaso (Moore, e Mccabe, 2002). Por esse motivo, desconsiderou-se a conveniência de novos testes, já que os valores encontrados são estatisticamente significativos. Para uma visão global, considerando-se o universo prévio de 1000 itens de vocabulário, tomamos os dados anteriores e encontramos a proporção numérica ilustrada no Gráfico 4. GRÁFICO 4: Comparação dos resultados obtidos com os 1000 itens lexicais na fase póstratamento 65,80% 70% 60% s n50% e ti 0 0 040% 1 e r b o s30% m e g a t 20% n e c r o p10% 29,60% 4,60% 0% questões não corrigidas questões corrigidas questões que faziam parte do conhecimento Como demonstrado, desconsiderando-se o vocabulário já conhecido pelos aprendizes, o número de questões corrigidas é cerca de sete vezes maior do que o daquelas que não sofreram a correção esperada. Desse modo, reforçamos que, como preconizado por Mayer (op.cit.), os 129 O teste binomial é um teste exato de significância estatística dos desvios de uma distribuição teoricamente esperada em duas categorias. É particularmente útil em experimentos que apenas admitem duas alternativas como resposta, tais como certo ou errado, sim ou não, verdadeiro ou falso, positivo ou negativo, e assim por diante. (Campos, 2008) 186 subsídios numéricos sugerem que o tratamento utilizado funcionou como um aditivo ao processo de construção do conhecimento. O recurso de comunicação multimodal a que os sujeitos foram expostos é, como discutido ao longo deste estudo, resultado da soma e da interação da pluralidade de linguagens típicas da multimodalidade. Se Mayer (op.cit.) conceitua princípios, para a elaboração e o uso efetivos de instrumentos nessa categoria, Matthiessen (2007) aborda a dinâmica por meio da qual os diversos modos semióticos interagem. O autor (ibid, p. 1-3) avalia que o texto multimodal se constitui da complementação dos sistemas semióticos que atuam para a construção de um sentido único e propõe sua estratificação a partir de três perspectivas distintas: (i) vistos de cima, os sistemas semióticos se coordenam e se integram, para a formação do contexto do significado, como instrumentos musicais diversos que compõem uma só melodia; (ii) vistos de baixo, os sistemas semióticos diferem exatamente em função dos modos distintos que funcionam como recursos de expressão; (iii) analisados a partir do próprio plano de conteúdo, a terceira perspectiva se dá onde os recursos que concorrem para a construção do significado espelham a aparente contradição de que, sendo distintos entre si (visão de baixo), os diversos sistemas semióticos funcionam de modo unificado (visão de cima). O Quadro 22 reproduz o esquema como concebido pelo autor: QUADRO 22: A Página Multimodal (The Multimodal Page) seen “from above”: (unified context) CONTEXT CONTENT (meaning) seen “from below”: diversified modalities EXPRESSION (modalities) Fonte: Matthiessen, 2007, p. 3 187 A proposta parece corroborar que os modos de comunicação investigados em 6.1, neste estudo, convergem para a construção do significado que, no plano linguístico, é expresso pelas colocações aqui investigadas. A unicidade contextual de que nos fala o pesquisador deriva, em consequência, da complementaridade semiótica entre os recursos de expressão que geram um todo de sentido. Dessa forma, acreditamos poder afirmar que os construtos teóricos por nós debatidos (Kress e Van Leeuwen, 2006, 2001; Matthiessen, 2007; Mayer, 2006 e Norris, 2004a, 2004b) vêm respaldar o uso de textos multimodais, no ambiente instrucional, considerando-se que a riqueza de modos comunicativos, presentes na multimodalidade, pode atuar de forma favorável no cenário de instrução de ensino/aprendizado de LE. Em seguimento, visando a uma percepção mais detalhada sobre os resultados estatísticos desta investigação, passamos ao levantamento e à discussão dos dados referentes a cada colocação individualmente. 6.2.2 Análise individual dos dados referentes às colocações testadas O Quadro 23 discrimina os dados numéricos de correção e não correção de cada item lexical em estudo. As categorias avaliadas são aquelas que consideramos para a análise dos resultados da atividade de conhecimento lexical, como um todo, conforme explicitado no Quadro 19. Os índices se referem às cem ocorrências de cada item, considerando-se o número de sujeitos participantes. Ao enfocar cada colocação separadamente, é nosso objetivo avaliar uma possível relação entre a composição do texto multimodal, como analisado em 6.1, e a resposta dos aprendizes ao tratamento em questão. Os dados em azul destacam os resultados positivos da utilização do recurso de vídeo, ou seja, indicam os casos em que a exposição ao subsídio multimodal levou à escolha da opção semanticamente correta. 188 QUADRO 23: Resultados da exposição aos vídeos discriminados por item lexical Item lexical Acertou Errou e e corrigiu manteve Deixou em branco e corrigiu Errou e manteve o erro Errou e alterou de modo incorreto Deixou em branco e marcou errado Deixou em branco e manteve Acertou e alterou incorretamente do laundry 41/100 55/100 2/100 2/100 0/100 0/100 0/100 0/100 fall asleep 84/100 8/100 1/100 5/100 1/100 0/100 1/100 0/100 slam the door 67/100 22/100 2/100 8/100 1/100 0/100 0/100 0/100 chop garlic 41/100 37/100 14/100 3/100 1/100 2/100 2/100 0/100 hang up one’s phone 25/100 67/100 1/100 3/100 4/100 0/100 0/100 0/100 wear glasses 90/100 7/100 0/100 3/100 0/100 0/100 0/100 0/100 sign a paper 73/100 23/100 2/100 1/100 0/100 0/100 1/100 0/100 ring bell a 83/100 12/100 2/100 2/100 0/100 0/100 1/100 0/100 ride bike a 94/100 3/100 0/100 3/100 0/100 0/100 0/100 0/100 hold one’s breath 60/100 28/100 10/100 2/100 0/100 0/100 0/100 0/100 TOTAL 658/100 262/100 34/100 32/100 7/100 2/100 5/100 0/100 JÁ CONHECIA CORREÇÕES: 296 NÃO CORREÇÕES: 46 189 Os dados nos permitem traçar caminhos interpretativos, para que se analise a existência de fatores que possam haver concorrido, para uma maior, ou menor compreensão do significado do vocabulário em foco. Para tanto, organizamos os resultados, segundo os percentuais de correção, em ordem decrescente de retificação, como se vê no Quadro 24. Ressaltamos que a quantidade de erros, correções e não correções incidem sobre o total de 100 ocorrências, para cada item lexical, considerando-se o número de sujeitos participantes. QUADRO 24: Correção e não correção de erros, via imagem, por item lexical COLOCAÇÃO TOTAL DE CORREÇÃO NÃO CORREÇÃO PERCENTUAL DE ERROS VIA IMAGEM VIA IMAGEM CORREÇÃO do laundry 59/100 57/100 2/100 96.6% hold one’s breath 40/100 38/100 2/100 95% sign a paper 27/100 25/100 2/100 92.5% hang up the phone 75/100 68/100 7/100 90.6% chop garlic 59/100 51/100 8/100 86.4% ring the bell 17/100 14/100 3/100 82% slam the door 31/100 24/100 9/100 77% wear glasses 10/100 7/100 3/100 70% fall asleep 16/100 9/100 7/100 56.2% ride a bike 6/100 3/100 3/100 50% No caso dos quatro itens que sofreram índice de correção acima de noventa por cento _ do laundry, hold one’s breath, sign a paper e hang up the phone _ todos apresentam sua verbalização, pelo menos, duas vezes e todos, conforme detalhado em 6.1, primam pela riqueza de pistas visuais que podem haver concorrido para o resultado positivo. As imagens dos segmentos em questão têm em comum a presença abundante de vetores de ação e de reação (olhares) e de elementos de saliência que compõem um caminho de clara relevância hierárquica, para a leitura textual, com enfoque no vocabulário em teste. Os vídeos em questão contêm, igualmente, várias ações de nível mais alto (higher-level actions), como conceituado por Norris (op.cit.;op.cit.), ações de acentuada densidade modal e consequente expressividade 190 comunicativa. O tempo de exposição é em média de um minuto _ com exceção de “hold one’s breath” _ proporcionando aos informantes uma exposição significativa ao texto multimodal. No que diz respeito a “do laundry”, o vocabulário se aplica a duas cenas distintas, possibilitando ao aprendiz visualizar contextos multimodais diversos com enfoque no mesmo conteúdo lexical. No caso de “hold one’s breath”, chama-nos a atenção o fato de que o vocabulário ocorre em um contexto de excepcional contiguidade temporal: como a colocação é utilizada como comando, ao mesmo tempo em que um personagem a verbaliza, o outro executa a ação. Essa simultaneidade atende ao Princípio de Contiguidade Temporal defendido por Mayer (vide 3.2.2.2), que postula que a ocorrência concomitante dos insumos sonoro e visual facilita a construção de conexões mentais entre ambos, o que pode estimular o aprendizado. O índice de correção, igualmente expressivo para “chop garlic”, pode ser creditado à dupla verbalização do item, assim como ao destaque gerado pelo enquadramento em close, como observado em 6.1.3. Levando-se em conta a não visualização da ação em si, no caso da colocação “ring the bell” (ver 6.1.5), chama nossa atenção o fato de que a mesma obteve um nível expressivo de correção. Avaliamos que o significado se tornou claro o bastante por meio da transparência do próprio modo sonoro da campainha, cujo entendimento não depende de compreensão linguística. O mesmo pode haver ocorrido em relação a “slam the door”, considerando-se que a curta duração do segmento (22s) e a verbalização única do léxico não concorrem de forma favorável para o seu entendimento. No tocante aos três itens com a menor incidência de correção _ wear glasses, fall asleep e ride a bike _, avaliamos que as colocações apresentam um elevado número de acertos prévios, aspecto que reduz a significância da ausência de correção. Ainda assim, embora os percentuais de retificação estejam bem abaixo dos outros itens, mantiveram-se, em todos os casos, igual ou acima de cinquenta por cento. Cabe destacar a relação inversamente proporcional que se estabeleceu entre o percentual de acertos pré-intervenção de cada item lexical e os índices de correção posterior: com poucas variações, os percentuais se encontram em ordem proporcionalmente inversa, quanto menos os sujeitos acertaram na fase pré-exposição, maior é o índice de correção após a exibição da imagem. A comparação parece indicar que quanto menor o índice de conhecimento prévio do léxico, maior foi a correção proporcionada pelo texto multimodal, o que concorre para sublinhar a efetividade do tratamento utilizado. A avaliação se encontra de acordo com o Princípio das Diferenças Individuais de Mayer (op.cit.): segundo postula o autor, aprendizes com menor conhecimento no assunto abordado são aqueles que melhor se beneficiam de recursos de multimídia, avaliação que nossos resultados parecem corroborar (vide 3.2). 191 Vale observar que o nível de erros e acertos não corresponde a um maior, ou menor grau de dificuldade, no que tange à colocabilidade do vocabulário. Seguindo-se o critério de classificação de Howarth (1998) e Nesselhauf (2003) (vide Quadro 15), “wear glasses” e “fall asleep”, embora não se enquadrem no grupo de colocações livres, como em Howarth, ou de combinações, como em Nesselhauf _ teoricamente as mais fáceis para o aprendiz _, tiveram um alto percentual de acerto prévio: 90% e 84% respectivamente. Do mesmo modo, contrariando as expectativas, o item “chop garlic”, uma combinação/colocação livre, é a terceira que os sujeitos menos acertaram na fase pré-exposição (41%), mesmo nível de acerto apresentado por “do laundry”, um item colocacional de maior opacidade. Esse resultado parece indicar que o grau de dificuldade não se encontra, necessariamente, atrelado à medida de coesão entre os elementos da colocação, mas à familiaridade do aprendiz com o vocabulário, fruto de sua exposição ao léxico, como sugerido em Tagnin (2002) e Nesselhauf (2003). Essa impressão se alinha às questões previamente discutidas, no que concerne à necessidade de que mesmo as colocações com baixo grau de coesão entre seus elementos sejam sistematicamente focalizadas, a fim de garantir sua aquisição. Ilustrando as observações aqui delineadas, os Gráficos 5 e 6 aclaram os resultados estatísticos obtidos com cada colocação individualmente: GRÁFICO 5: As colocações e seus resultados individuais na fase pós-tratamento 192 GRÁFICO 6: As colocações: correção e não correção a partir da imagem Concluímos que os dados estatísticos coletados sugerem a confirmação das hipóteses formalizadas no Princípio de Multimídia (vide 3.2), postulado por Mayer (2006): a apresentação simultânea de dois diferentes sistemas de representação do conhecimento _ um canal verbal e um canal visual _ permite ao aprendiz a construção de representações mentais mais elaboradas e o estabelecimento de conexões que ampliam sua compreensão, já que esse encontro possibilita uma maior variedade de pistas, de natureza linguística e extralinguística. No próximo segmento, apresentamos e analisamos os dados que se referem à aplicação do questionário que complementou este estudo. 6.2.3 Dados relativos ao questionário de reflexão pessoal: análise e discussão Conforme mencionado em 5.5.4.2, o questionário foi apresentado aos informantes após a realização da atividade de vocabulário. Sua utilização visa a trazer subsídios complementares que possam informar a respeito dos processos cognitivos e afetivos envolvidos no uso de filmes, em sala de aula de inglês, como LE. O Quadro 25 apresenta os resultados percentuais coletados. 193 QUADRO 25: Resultados obtidos por meio do questionário de investigação 1- Quando assisto a filmes na aula de inglês, a- eu acho que é para b- eu acho que é para eu eu me divertir. 7% aprender alguma coisa. c- eu acho que é para eu aprender e me divertir ao mesmo tempo. 64% 29% 2- Antes de assistir aos vídeos eu marquei as respostas da tradução, a- porque eu tinha b-eu usei a frase para me ajudar c-eu “chutei” para não deixar em certeza do significado. a descobrir. branco. 48% 41% 11% 3- Durante os vídeos, a- eu prestei atenção b-eu prestei atenção primeiro à primeiro à fala e depois imagem e depois à fala. à imagem. 12% c-eu prestei atenção à fala e à imagem ao mesmo tempo. 25% 63% 4-Nas questões em que eu alterei/completei a resposta com a caneta vermelha, a-eu fiz isso por causa da fala no filme. b-eu fiz isso por causa da imagem no filme. c-eu fiz isso por causa da fala e da imagem juntas. 6% 32% 62% 5-Quando eu corrigi meus erros, ou completei questões em branco, a-eu não me lembrei de b-eu acho que já tinha visto ter visto antes as algumas das expressões, mas expressões que eu não não tenho certeza. conhecia. 28% c-eu me lembrei de que já tinha visto essas expressões antes. 16% 56% 6-Depois de ter feito essa atividade, a-eu acho que filmes b- eu acho que filmes podem c-eu acho que filmes não podem sempre podem me ajudar me ajudar a aprender me ajudar a aprender vocabulário. a aprender vocabulário. vocabulário apenas quando estou na aula. 28% 56% 16% 194 O primeiro dado que se destaca à nossa atenção, diz respeito à segunda pergunta: a despeito do índice de 66% de acertos prévios _ conforme exposto na seção anterior _ somente 48% dos participantes informaram ter certeza das respostas assinaladas. Considerando-se que essa convicção reflita, de fato, escolhas corretas, a defasagem não pode ser explicada pelo percentual de 11% de sujeitos que disseram haver “chutado”: mesmo que todas as tentativas houvessem resultado em acertos, ainda assim teríamos o total de 59% contra os 66% contabilizados. A diferença pode ser coberta por parte dos 41% que afirmam haver feito uso de inferência textual. Contudo, vale destacar a intencional carência de pistas, que pudessem auxiliar a compreensão do vocabulário em foco. Se não, vejamos alguns exemplos das questões aplicadas: 1- I usually do my laundry in the morning. a) Eu geralmente lavo a roupa de manhã b) Eu geralmente lavo a louça de manhã. c) Eu geralmente faço minhas tarefas de manhã Naturalmente, esperava-se que os aprendizes reconhecessem o verbo “do” como “fazer”, mas, caso não soubessem a colocação em seu todo, a expressão poderia significar quaisquer das opções. Os advérbios de frequência e de tempo que complementam a frase não oferecem qualquer informação relevante acerca do significado. 3- Don’t slam the door! a) Não tranque a porta! b) Não feche a porta! c) Não bata a porta! Na questão número 3, o sentido depende exclusivamente da acepção do verbo “slam”, já que a frase, na forma negativa do imperativo, não oferece qualquer outro recurso para que se deduza a tradução: todas as opções fazem sentido com o complemento “porta”. O mesmo se passa com a íntegra dos itens testados. Nesse caso, parece-nos possível concluir que muitos dos que afirmam haver utilizado “o contexto”, o fizeram apenas porque sabem ser esse o procedimento adequado, por hábito, ou crença pessoal e, embora acreditem que o tenham feito, escolheram a resposta movidos mais pela intuição, ou mesmo pela sorte, do que pela formatação textual em si. Levando-se em conta a diferença entre os percentuais de 66% de itens corretos e de 48% relativos àqueles que afirmam ter convicção da resposta, podemos conjecturar que 18% dos participantes se encontram nos níveis 2 ou 3, segundo o modelo para avaliação de 195 conhecimento _ (VKS) _ desenvolvido por Paribakht e Wesche (1997) (Quadro 2), ou seja, a despeito da resposta correta, não há uma proficiência efetiva que permita o uso produtivo das palavras-alvo. Pode-se, no máximo, depreender que a maioria dos acertos traduz um conhecimento passivo, ou circunstancial. Vale destacar que o indicativo de 66% se refere ao conjunto de 1000 itens lexicais, ao passo que os números coletados no questionário incidem sobre um todo de 100 sujeitos participantes da pesquisa. Ou seja, no caso da questão em foco, não necessariamente os 48 aprendizes que assinalaram estar certos de suas escolhas se reportam às 480 questões a que responderam. É possível imaginar que foram movidos pela impressão que se destacou em seu entendimento, o que resulta em dados especialmente capciosos para que se faça uma interpretação mais precisa. Parece-nos, portanto, que nosso foco deve se voltar não só para o percentual de respostas que foram corrigidas após a exibição do material de multimídia, como, igualmente, para os processos cognitivos, percebidos pelos aprendizes envolvidos nesse processo. Nesse aspecto, como mencionado, chama-nos a atenção o fato de que do total de significados previamente desconhecidos, 87% foram corrigidos, como resultado da exposição, números expressivamente significativos. Todavia, ao observarmos os dados assinalados no questionário, essa possível efetividade do meio multimodal parece não ser percebida em sua total potencialidade: os resultados assinalam que os informantes percebem o instrumento em questão, como fonte de aprendizado apenas quando inserido no contexto pedagógico. Esse entendimento se reflete nos resultados das perguntas de números 1 e 6: na primeira questão os sujeitos revelam uma clara associação (64%) do uso de filmes em ambiente instrucional a um objetivo pedagógico por parte do professor. Essa impressão se confirma, por meio dos resultados da sexta questão, que nos informa que 56% consideram que o veículo só atua como meio de aprendizado, quando inserido no ambiente da sala de aula. Esses dados nos levam a concluir que há espaço, para que os professores se dediquem a orientar e a motivar os alunos a fim de que estendam à sua vida particular as oportunidades de aperfeiçoar seu conhecimento, assistindo a filmes, legendados, ou não, segundo seu nível de proficiência e estratégias de aprendizado pessoais. A busca por um suporte de contexto, expressa por 41% na segunda pergunta, parece se confirmar na questão 3, na qual os sujeitos revelam, em expressiva maioria (63%), que prestaram atenção à fala e à imagem concomitantemente. Entre aqueles que priorizaram uma ou outra, a imagem prevalece (25%), sobre a fala (12%), destacando o inegável apelo da dimensão visual no processo cognitivo. Essa prevalência vem corroborar os pressupostos postulados por Kress (2010), Kress e Van Leeuwen (2006), Royce (2002) e Stein (2004, 2000), entre outros, 196 que advogam um novo e relevante papel para a linguagem visual no contexto pedagógico. Os dados desta questão são, do mesmo modo, compatíveis com as respostas da pergunta de número 4: com uma diferença de apenas um ponto percentual (62%), os sujeitos informam que, após assistirem aos vídeos, corrigiram/completaram suas respostas, fazendo uso da fala e da imagem de modo conjugado. Avaliamos que essas informações são coerentes com a Teoria Cognitiva de Aprendizado de Multimídia, advogada por Mayer (2006, 2005), detalhada em 3.2 neste trabalho. Como visto, Mayer advoga que, ao processarmos informações, através de insumos de multimídia, ocorre a integração dos modelos verbal e visual entre si, acrescidos ao conhecimento prévio, armazenado na memória de longo prazo. O postulado parece se confirmar por meio dos dados expressos nas perguntas de números 3 e 4, que deixam claro o processamento combinado da imagem e do insumo sonoro pelos sujeitos. A hipótese a respeito do papel da memória de longo prazo é ilustrada pelas respostas à questão 5: mais da metade dos participantes (56%) revelam haver se lembrado, quando da exposição, de encontros anteriores com as expressões-alvo. Esse dado, em particular, reafirma a relevância de variadas experiências com o mesmo item lexical, em diferentes contextos, até sua total aquisição, segundo a dimensão de conhecimento rico de vocabulário proposta por Scaramucci (1995, 2007) . Os resultados desta investigação, em especial o alto índice de correção efetiva após a utilização dos vídeos, parecem indicar a propriedade do modelo de Mayer (op.cit.; op.cit.). Nesse paradigma, atua um aprendiz que é agente do próprio processo de construção do conhecimento. Esse sujeito desenvolve, ativamente, representações mentais, na tentativa de fazer sentido de novas experiências e informações e, nesse processo, seleciona, organiza e conecta conhecimento novo, integrando-o a conhecimento prévio. Reafirmamos, portanto, nossa crença de que a utilização de recursos de multimídia, que conjuguem linguagem verbal e linguagem visual, pode significar ganhos expressivos nos processos de retenção e compreensão dos insumos, não só no que concerne à quantidade, como, igualmente, à qualidade desse aprendizado. No próximo capítulo tecemos as conclusões e considerações finais desta investigação. 197 CAPÍTULO 7 - CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS “Aquilo que você vê é uma importante parte daquilo que você conhece e o letramento visual pode nos auxiliar a ver o que vemos e a saber o que sabemos.” (Dondis, 1973, p. 19) 130 Este capítulo está subdivido em quatro seções. Na primeira, apresentamos considerações baseadas na análise dos dados e instrumentos, visando a responder, de forma objetiva, às perguntas definidas no Capítulo I desta investigação. Na segunda, apontamos as limitações deste estudo. No terceiro segmento, tecemos sugestões, considerando-se o escopo da temática multimodalidade e ensino/aprendizado de vocabulário no contexto da sala de aula de língua estrangeira. Para concluir, apreciamos as contribuições que este trabalho pode haver apresentado para os profissionais da área em questão. 7.1- RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS DE PESQUISA O conceito de letramento muda regularmente, à medida que novas tecnologias de informação e comunicação surgem e usuários visualizam novas formas de exploração dessas tecnologias. Fica cada vez mais claro que vivemos um período de rápida mudança tecnológica; tecnologias regularmente passam por um processo fundamental de mudança em quase todas as áreas. Esse fato é especialmente verdadeiro para as tecnologias do letramento. (Leu Jr.; Kinzer, 2004, p. 117)131 Pesquisadores são de opinião que, de modo geral, recursos multimediáticos proporcionam ambientes de aprendizagem atraentes e vantajosos, tanto para alunos como para 130 “What you see is a major part of what you know, and visual literacy can help us to see what we see and know what we know.” (Dondis, 1973, p. 19) 131 “Literacy is regularly changing as new technologies for information and communication continuously appear and as new envisionments for exploiting these technologies are continuously developed by users. It is becoming increasingly clear that we are in a period of rapid, technological change; technologies in nearly every field are undergoing fundamental change on a regular basis. This is especially true for the technologies of literacy.” (Leu Jr.; Kinzer, 2004, p. 117) 198 professores. No contexto de ensino/aquisição de LE, Baltova (1999, p. 36-7) defende que a utilização de uma ampla variedade de instrumentos como programas de televisão e vídeos autênticos tem se mostrado muito mais eficiente do que materiais de instrução frequentemente simplificados ou pouco naturais. Para a autora (ibid), os aprendizes podem e devem ser treinados a fazer uso das pistas contextuais tais como linguagem corporal, cenários, ações e expressões faciais, modos de comunicação que, por meio de suas características peculiares, podem facilitar o aprendizado da língua alvo. Para tanto, há necessidade de estudos empíricos que venham a orientar pesquisadores, professores e criadores de materiais a respeito da temática multimodalidade e ensino/aprendizado de LE. O presente estudo visa a contribuir para esse universo pedagógico, por meio dos conceitos e dados estatísticos aqui destacados e debatidos. Os procedimentos de pesquisa foram traçados a partir das seguintes indagações: 1) De acordo com a Gramática do Design Visual, de Kress e Van Leeuwen (2006), que elementos o filme, na qualidade de instrumento multimodal, oferece para seu aproveitamento pedagógico na sala de aula de inglês como LE? 2) Em que medida e de que forma a coocorrência de imagens e língua falada, presente em filmes, pode favorecer o ensino e o aprendizado do léxico em língua estrangeira? 3) O aprendiz percebe o uso de filmes, em sala de aula, como recurso pedagógico, ou esse se destaca à sua atenção por seu valor de entretenimento? No que concerne à primeira pergunta, a análise desenvolvida em 6.1 parece respaldar a avaliação de que o texto fílmico resulta da coorrência de modos de comunicação visual que atuam, interagem e significam, não de forma aleatória, mas em rica sintonia com os elementos verbais, de forma a compor um texto multimodal coerente. Canning-Wilson (2001, p. 2) argumenta que a multiplicidade sensorial, presente em textos visuais, atua de forma a facilitar a construção de modelos mentais que propiciam o aprendizado. Para a autora, recursos pedagógicos, amparados na imagem, podem, ainda, atuar como um poderoso elo de ligação entre o conteúdo aprendido em sala de aula e sua aplicação prática (ibid, p. 5). Em consequência, avaliamos que a riqueza de modos comunicativos que caracteriza o texto fílmico concorre para seu aproveitamento na sala de aula de LE, permitindo ao professor uma diversidade de abordagens pedagógicas para sua utilização. No que tange à segunda questão, Mayer e Sims (1994, p.390) propõem uma adaptação da Teoria Dual de Codificação de Paivio (op.cit.) e de Clark e Paivio (op.cit.) e defendem que o material que conjuga os modos visual e verbal se integra à memória de trabalho do aprendiz, gerando conexões que contribuem para o processo de aprendizagem. 199 Em decorrência, acreditamos que o texto que emerge do amalgamento de diferentes modos comunicativos oferece ao aprendiz uma pluralidade de caminhos para a compreensão dos significados. Investigando a efetividade de instrumentos multimodais, no ensino/aprendizado de ciências, Mayer e Anderson (1992, p. 450) concluem que a contiguidade temporal entre imagem e linguagem verbal funciona de modo positivo no contexto instrucional: “Alunos aprendem melhor quando as palavras e a imagem de uma explicação são apresentadas em contiguidade espacial ou temporal” 132 Para Plass et alli (1998, p.26), a aplicação da teoria de aprendizado de multimídia à dimensão do léxico sugere que o uso de dois sistemas distintos, um visual e outro verbal, funciona como um efeito aditivo nos processos cognitivos. Essa pluralidade de linguagens facilitaria a construção de conexões referenciais contribuindo para a inferência do significado e sua retenção na memória (ibid). A avaliação dos autores vem ao encontro dos expressivos percentuais que traduzem o efeito positivo das imagens de vídeo sobre a compreensão do vocabulário aqui investigado. No tocante à questão de número 3, as respostas ao questionário de reflexão pessoal sugerem que o aprendiz tende a perceber a utilização de filmes como recurso pedagógico, quando no contexto da sala de aula. A constatação destaca a necessidade de que professores de LE conscientizem seus alunos, para o potencial dos referidos instrumentos, de tal forma que estendam a prática à sua vida pessoal, segundo seus objetivos, estilos de aprendizagem e necessidades. Maior consciência a esse respeito concorre para que desenvolvam autonomia em relação a seu próprio processo de aprendizagem, aspecto, de modo geral, pouco valorizado. Para tanto, defendemos que a efetiva utilização de textos multimodais se inicia por professores visualmente letrados, segundo o conceito de competência comunicativa multimodal proposto por Royce (2002). Nessa perspectiva, buscar uma melhor compreensão dos elementos envolvidos na linguagem visual de instrumentos e tecnologia de imagem prepara professores e educadores, de um modo geral, para as mudanças que, inevitavelmente, vão continuar a acontecer. 7.2- LIMITAÇÕES DO ESTUDO Para que as conclusões aqui apresentadas possam ser mais bem interpretadas, cabe incluir, em nossas considerações finais, algumas limitações desta investigação. No que toca à metodologia de pesquisa, acreditamos que a ausência de um grupo de contraste, com o qual o 132 “Students learn best when the words and pictures of an explanation are presented contiguously in time or space.” (Mayer; Anderson, 1992, p. 450) 200 mesmo conteúdo fosse abordado, por meio de um tratamento distinto, não nos permitiu uma análise comparativa, que poderia se mostrar valiosa. Esse procedimento não foi adotado, porque, à época, deu-se preferência a um único grupo com um maior número de sujeitos. Outra limitação é o fato de não havermos realizado um pós-teste que investigasse a retenção do léxico em estudo. Tal decisão se deu em função do calendário escolar, do transtorno causado às turmas participantes e, principalmente, devido à dificuldade de se garantir a participação posterior dos mesmos alunos. Acreditamos, contudo, que uma avaliação subsequente poderia contribuir com dados que indicassem se, e até que ponto, os alunos haveriam incorporado os novos itens lexicais ao seu repertório. O expressivo conhecimento prévio dos sujeitos, que invalidou mais da metade dos 1000 itens lexicais testados, reduziu a abrangência da amostra, que seria mais significativa, caso a quantidade de colocações desconhecidas houvesse sido maior. Como comentado no capítulo anterior, o ocorrido pode sinalizar que o nível de proficiência dos informantes deveria ter sido mais baixo, ou o grau de dificuldade do vocabulário mais alto. No que diz respeito a instrumentos multimediáticos e nível de conhecimento, Mayer e Sims (op.cit., p. 400) avaliam que os primeiros são especialmente efetivos com aprendizes iniciantes. Para os pesquisadores, alunos com maior domínio, em um determinado assunto, já possuem representações mentais que podem tornar desnecessárias as pistas visuais, reduzindo sua significância. Assim sendo, esta intervenção talvez produzisse resultados ainda mais esclarecedores se nossos informantes cursassem um segmento anterior àquele por nós investigado. Poderíamos, ainda, haver optado por grupos menores, de níveis acadêmicos distintos, recorte que permitiria análises comparativas sobre a efetividade do recurso multimodal segundo o nível de proficiência. Para concluir, esta investigação produz dados restritos a itens lexicais concretamente visualizados por meio de ações, excluindo-se segmentos narrativos, descritivos, ou conceitos abstratos, limitação que reduz sobremaneira o contexto utilizado como recurso para inferências. Da mesma forma, o enfoque em colocações restringiu, significativamente, a seleção de imagens, especialmente se considerarmos a necessidade de contiguidade temporal entre os elementos sonoros e visuais. 7.3- SUGESTÕES Como amplamente discutido, um limitado repertório lexical pode ser um elemento complicador, no que tange à expressão linguística, considerando-se que o uso correto de palavras, tanto na dimensão semântica, quanto na pragmática, é o meio pelo qual interagimos 201 com o mundo que nos cerca. Nessa temática, a variável da coocorrência entre itens lexicais tem sido pouco pesquisada (Farghal e Obiedat, 1995, p. 318; Weinert, 1995, p. 180). Em consequência, consideramos a necessidade de estudos que investiguem a eficácia de diferentes abordagens pedagógicas, para o estudo de colocações, assim como o papel que essas unidades sequenciais exercem na proficiência do aprendiz. Cumpre destacar que, apesar de nossa posição a respeito do papel crucial desempenhado pelo léxico, não faz parte de nossos objetivos defender uma visão reducionista, que atribua ao conhecimento de vocabulário uma relação de causa e efeito no que tange ao processo de construção do significado. Nesse caso, um amplo e sólido conhecimento lexical possibilitaria, por si só, compreensão e expressão linguísticas efetivas e bem sucedidas, o que, sabemos, não é verdade. Vislumbramos, portanto, diversos rumos que a pesquisa, na área de multimodalidade e ensino/aprendizado de LE pode tomar, com vistas a investigar a pluralidade de modos comunicativos presentes no texto multimodal. Nesse cenário, percebemos a necessidade de pesquisas que analisem e comparem o efeito de instrumentos multimediáticos, em níveis distintos de proficiência, e, ainda, os modos e as condições de utilização que melhor favoreçam o potencial pedagógico dos referidos recursos. Outra dimensão que merece ser investigada diz respeito aos estilos de aprendizagem que melhor se beneficiam de materiais pedagógicos com amparo na multimodalidade, assim como que habilidades linguísticas se mostram mais adequadas à aplicação de tais materiais. No que toca a filmes, no contexto instrucional de LE, sugerimos algumas abordagens investigativas: 1- analisar a relação entre a trilha sonora do filme e o contexto imagético; 2- analisar as cores e os efeitos visuais do filme; 3- analisar a representação de personagens e cenas do filme por meio de mímica e linguagem corporal; 4- analisar interpretações pessoais a respeito de enfoques, enquadramentos e outros recursos visuais; 5- analisar a descrição oral, ou escrita ensejadas por determinadas cenas, com enfoque em modos de comunicação visual. Para finalizar, é nosso entendimento que processos instrucionais calcados no uso da imagem, seja ela em movimento, ou não, podem e devem ser mais explorados por professores e criadores de material. A crescente sofisticação tecnológica, ilustrada por recursos solidamente inseridos na sociedade, precisa ser absorvida no contexto pedagógico. Para tal, cabe formarmos educadores aptos a utilizar plenamente o potencial que esses instrumentos apresentam, para sua 202 inserção na sala de aula, processo que demanda uma crescente e continuada investigação por parte de pesquisadores da área. 7.4 – CONTRIBUIÇÕES É verdade que, muito antes de fazer uso da escrita, a humanidade já recorria a imagens para se expressar e o fenômeno das representações visuais deu origem a inúmeros estudos de natureza acadêmica, ou não. Da mesma forma, a linguagem corporal, a música e todos os modos através dos quais o ser humano se expressa e se comunica sempre foram alvo dessa ou daquela área do conhecimento. Para Kress (2010, p.5), o que distingue o movimento atual é a busca por um único campo teórico que abarque todas essas expressões, de tal forma que o significado seja percebido em sua unicidade, como resultado de um todo de múltiplos significados. Para o autor, essa necessidade é fruto das mudanças sociais, econômicas, culturais e tecnológicas por que tem passado o mundo. Nesse sentido, confiamos que este estudo venha a contribuir, para que a questão da multimodalidade seja inserida no contexto de ensino e aquisição de língua estrangeira. Acreditamos, ainda, que reflita nossa concepção no que concerne à propriedade de se vincular a teoria à prática, já que julgamos haver contribuições, tanto de uma natureza, quanto de outra. O foco no vocabulário foi o segmento por nós pinçado para a presente pesquisa, não apenas em função de crenças pessoais da autora, como, igualmente, devido à renovada atenção para o assunto. Ressalvamos, contudo, que advogamos a aplicabilidade de recursos multimodais para o ensino e aprendizado de outras competências na área de aquisição de LE. Em um estudo realizado por Petrie (2003, p. 140), a respeito da percepção de professores de inglês como L2, a pesquisadora constatou que gráficos, imagens, símbolos e textos visuais são, de um modo geral, percebidos como uma barreira à compreensão do aprendiz. Essa atitude se deve, aparentemente, ao fato de que os elementos visuais são percebidos como desconectados do texto linguístico, ao invés de integrados ao sentido final (ibid, p. 137). Destaca-se, por conseguinte, a necessidade de trabalhos que concorram para a informação de educadores capazes de perceber as ligações intertextuais entre as diversas linguagens que coocorrem para a formação de um sentido único. Dessa forma, ponderamos que a apresentação de conceitos, para a análise de textos multimodais e sua subsequente aplicação aos vídeos utilizados são procedimentos que concorrem para um olhar mais informado sobre a questão da multimodalidade. Assim sendo, acreditamos contribuir para a percepção da pluralidade e da relação de complementaridade 203 entre modos comunicativos que interagem, para a construção do significado, como destacado em Lemke (1998, p. 87): “O significado nunca se constrói unicamente por meio da língua. Sua construção é sempre um processo material, bem como uma prática social semiótica e, como tal, não pode ser adequadamente compreendida em termos de qualquer modalidade semiótica única, como a língua.” (Lemke, 1998, p. 87)133 Por conseguinte, avaliamos que as análises aqui desenvolvidas contribuem para a conceituação de abordagens pedagógicas fundamentadas na maneira como aprendizes de LE interagem com materiais multimodais, já que os procedimentos adotados oferecem subsídios práticos para sua utilização. Outra contribuição que acreditamos propiciar com o presente trabalho, relaciona-se ao enfoque em colocações. Embora reconheçamos as limitações do escopo deste estudo, a temática vem ao encontro da avaliação de Bonk (2000, p. 14), que aponta a carência de investigações que testem, de forma objetiva, a proficiência de aprendizes no que toca à sua competência colocacional. O autor considera que a falta de conhecimento referente ao fenômeno da colocabilidade resulta na ausência de naturalidade, tão comum entre alunos de língua estrangeira (ibid., p. 9). A relevância da temática é, igualmente, sinalizada por Carter (1998), para quem um dos motivos pelos quais os aprendizes de LE têm dificuldade em deixar os níveis iniciais de proficiência se deve ao receio de errar. Para o autor, o conhecimento de “pedaços” da línguaalvo é um meio, para que vençam a insegurança e se arrisquem mais, tanto na produção oral, quanto na língua escrita. Para concluir, julgamos que, não apenas por meio dos resultados empíricos gerados pelo tratamento de intervenção, mas, da mesma forma, através da ampla discussão que estabelecemos, no que alude às temáticas em pauta, vimos contribuir para o esclarecimento das questões aqui debatidas. Para Royce (2002, p. 198-201), tanto aprendizes como professores devem ser educados para descobrir o potencial de significado expresso por modos alternativos de comunicação, que não a linguagem linear, a fim de que desenvolvam a competência comunicativa multimodal a que fizemos menção ao longo deste estudo. Ressalvamos, contudo, que, se por um lado, a inserção da tecnologia na sala de aula se mostra especialmente auspiciosa, pela riqueza de caminhos que abre à criatividade de criadores de material e professores, há que se atentar para o risco de que essa tecnologia bem como os recursos por ela gerados se tornem o centro da atenção. Em outras palavras, cabe nos 133 “We never make meaning with language alone. Meaning-making is always a material process as well as a social semiotic practice; as such it cannot be adequately understood in terms of any one semiotic modality, such as language.” (Lemke, 1998, p. 87) 204 certificarmos de que o imenso potencial tecnológico esteja a serviço do processo ensino/aprendizagem e não o oposto. Para tal, é preciso melhor compreender e conhecer esse universo, seus benefícios, limitações e eventuais restrições, considerando-se os objetivos da sala de aula de LE. Faz-se igualmente indispensável que os profissionais da área compreendam que ao adotar instrumentos tecnológicos, como filmes e computadores, abrem as portas de suas salas de aula à linguagem visual que acompanha esses recursos (Petrie, 2003, p. 140) Embora os números levantados, por meio desta investigação, não sejam conclusivos a respeito das nossas questões, eles, certamente, sinalizam de modo favorável a respeito da nossa crença quanto ao uso de instrumentos multimodais na sala de aula de língua estrangeira. 205 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIJMER, Karin.; ALTENBERG, Bengt. (Eds.). English Corpus Linguistics: Studies in Honour of Jan Svartvik. London: Longman. 1991. 352 p. AITCHISON, Jean. Words in the Mind: An Introduction to the Mental Lexicon. Oxford: Blackwell. 3rd ed. 2003. 332 p. ALLWRIGHT, Richard; BAILEY, Katheleen M. Focus on the Language Classroom: An Introduction to Classroom Research for Language Teachers. Cambridge: Cambridge University Press. 10th ed. 2004. 276 p. 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Em seguida, outro homem que estava the door! na sala faz o mesmo após apontar para a porta e indicá-la com uma expressão significativa sem, entretanto, verbalizar a ação. Chop garlic a)Chopping Temporada 1 garlic! DVD 3 Episódio 1 b)I’m chopping the garlic! 4 Hang up the phone Temporada 2 DVD 1 Episódio 1 IMAGEM Dois homens conversam de modo tenso enquanto um pica alho sobre uma tábua. O outro pergunta o quê ele está fazendo e ele responde incisivo: “Picando alho!” “Você não vai esmagá-lo?”, pergunta o primeiro. O segundo responde: “Você está tendo um caso, e eu estou picando o alho!” a)No, you Homem fala ao telefone. Ele insiste que a pessoa hang up! do outro lado desligue: “Não, você desliga!”, “Você também não desligou!” ele brinca. “Não, b) You didn’t você desliga!” ele continua, observado por uma hang up amiga que assistia à cena e que, por fim, tira o either! telefone das mãos do homem e o desliga, c)No, you deixando-o aturdido. Tempo 1m49s 22s 43s 52s hang up! Wear glasses 5 Temporada 2 DVD 4 Episódio 3 a)Whose glasses are those? b)Are you wearing my Na primeira cena, mulher se dirige a homem usando óculos de grau exageradamente grandes e pergunta: “De quem são esses óculos?”. Na segunda, o dono dos óculos pergunta ao mesmo homem: “Você está usando os meus óculos?”. Ele os tira do rosto e entrega ao outro. 1m2s glasses? Sign a paper Temporada 6 6 DVD 1 Episódio 5 a) I’ve picked up the divorce papers. I’ve already signed everything. b) I’ve put an X where you Homem chega com papéis na mão e diz à mulher: “Eu peguei os papéis do divórcio. Eu já assinei tudo.” e avisa: “Eu coloquei um X onde você tem que assinar.” Eles discutem e ele diz: “Vamos só assinar os papéis!”. Ele os coloca sobre uma mesa e ela assina três diferentes folhas de papel com gestual exagerado. 1m4s 239 have to sign. c) Let’s just sign the papers! Ring the bell Temporada 6 7 DVD 3 a) If you kids ring my bell one more time! Uma campainha soa insistentemente e um homem corre pela sala para atender enquanto grita em tom ameaçador: “Se vocês, garotos, tocarem minha campainha mais uma vez!...” e abre a porta onde está uma mulher. a) You do know how to ride a bike, don’t you? Na beira da calçada, três amigos perguntam à uma moça, que usa capacete de ciclista e segura uma bela bicicleta: “Você sabe andar de bicicleta, não sabe?” Ela responde que sim, mas eles insistem: “Nós podemos ver você andar?”. Ela monta na bicicleta, pedala um pequeno trecho e cai. Episódio 2 Ride a bike 8 Temporada 7 DVD 2 9 Episódio 3 b) Can we see you ride it? Hold one’s breath a) Hold your breath! Temporada 8 b)You gotta hold your breath until you answer the question. DVD 4 Episódio 2 Fall asleep 10 Temporada 8 DVD 4 Episódio 4 a)You fell asleep! b)He fell asleep! He fell asleep! Três homens participam de um jogo de palavras. Um deles diz a um dos amigos: “Prenda a respiração!” Ele o faz, inflando as bochechas. O primeiro esclarece: “Você tem que prender a respiração até responder à pergunta.” Ele acena concordando, mas parece sufocado enquanto os outros dois continuam a brincadeira, até ele soltar o ar de modo exagerado. Dois amigos estão no cinema e um deles dorme. Quando acorda, o filme terminou. O outro está zangado e o acusa: “Você dormiu!” Ele tenta se desculpar. Ao saírem ele aponta outro homem na platéia que dorme sentado e grita: “Ele dormiu!” Ele dormiu!”. 17s 40s 45s 1m 240 APÊNDICE 2- ATIVIDADE DE INTERVENÇÃO LEXICAL Leia as frases abaixo e assinale a opção correta de significado da expressão em negrito. Use seu conhecimento prévio e intuição linguística. 1- I usually do my laundry in the morning. a) Eu geralmente lavo a roupa de manhã b) Eu geralmente lavo a louça de manhã. c) Eu geralmente faço minhas tarefas de manhã. 2- He was tired and fell asleep. a) Ele estava cansado e saiu. b) Ele estava cansado e caiu no chão. c) Ele estava cansado e adormeceu. . 3- Don’t slam the door! a) Não tranque a porta! b) Não feche a porta! c) Não bata a porta! 4- I chop garlic on this table a) Eu descasco alho nessa mesa. b) Eu pico alho nessa mesa. c) Eu tempero alho nessa mesa. 5- Hang up the phone right now! a) Desligue o telefone imediatamente! b) Atenda ao telefone imediatamente! c) Me dê o telefone imediatamente! 6- I have to wear glasses to work. a) Eu tenho que usar copos para trabalhar. b) Eu tenho que usar óculos para trabalhar. c) Eu tenho que lavar copos no trabalho 7- You have to sign these papers. a) Você tem que escrever esses papéis. b) Você tem que ler esses papéis. c) Você tem que assinar esses documentos. 8- She always rings the bell. a) Ela sempre liga o alarme. b) Ela sempre toca a campainha. c) Ela sempre desliga a campainha. 9- I ride my bike after school. a) Eu guardo minha bicicleta depois da escola. b) Eu lavo minha bicicleta depois da escola. c) Eu ando na minha bicicleta depois da escola. 10- Hold your breath! a) Prenda sua respiração! b) Segure sua emoção! c) Solte sua respiração! 241 APÊNDICE 3- QUESTIONÁRIO DE REFLEXÃO PESSOAL 1- Quando assisto a filmes na aula de inglês, d- eu acho que é para eu me divertir. e- eu acho que é para eu aprender alguma coisa. f- eu acho que é para eu aprender e me divertir ao mesmo tempo. 2- Antes de assistir aos vídeos, eu marquei a resposta da tradução, d- porque eu tinha certeza do significado. e- eu usei a frase para me ajudar a descobrir. f- eu “chutei” para não deixar em branco. 3- Durante os vídeos, d- eu prestei atenção primeiro à fala e depois à imagem. e- eu prestei atenção primeiro à imagem e depois à fala. f- eu prestei atenção à fala e à imagem ao mesmo tempo. 4- Nas questões em que eu alterei/completei a resposta com caneta vermelha, d- eu fiz isso por causa da fala no filme. e- eu fiz isso por causa da imagem no filme. f- eu fiz isso por causa da fala e da imagem juntas. 5- Quando eu corrigi meus erros, ou completei questões em branco, d- eu não me lembrei de ter visto antes as expressões que eu não conhecia. e- eu acho que eu já tinha visto algumas das expressões, mas eu não tenho certeza. f- eu me lembrei de que já tinha visto essas expressões antes. 6- Depois de ter feito essa atividade, d- eu acho que filmes sempre podem me ajudar a aprender vocabulário. e- eu acho que filmes podem me ajudar a aprender vocabulário apenas quando estou na aula. f- eu acho que filmes não podem me ajudar a aprender vocabulário. 242 ANEXOS ANEXO 1- MODELO DE AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTO DE VOCABULÁRIO R: What does this word sound like? SPOKEN FORM P: How is this word pronounced? R: What does this work look like? WRITTEN P: How is the word written and spelled? R: What parts are recognisable in this word? WORD PARTS P: What word parts are needed to express the meaning? R: What meaning does this word form signal? FORM AND MEANING MEANING P: What word form can be used to express this meaning? R: What is included in the concept? CONCEPT AND REFERENTS P: What items can the concept refer to? R: What other words does this make us think of? ASSOCIATIONS P: What other words could we use instead of this one? GRAMMATICAL FUNCTIONS USE R: In what patterns does the word occur? P: In what patterns must we use this word? R: What words or types of words occur with this one? COLLOCATIONS P: What words or types of words must we use with this one? CONSTRAINTS ON USE Register and frequency R: Where, when, and how often would we expect to meet this word? P: Where, when, and how often would we use this word? Fonte: Nation 2001, p. 27 243 ANEXO 2- CATEGORIAS FRASEOLÓGICAS DE HOWARTH FRASEOLOGICAL CATEGORIES WORD COMBINATIONS FUNCTIONAL EXPRESSIONS non-idiomatic idiomatic COMPOSITE UNITS grammatical composites non-idiomatic idiomatic lexical composites non-idiomatic idiomatic Fonte: Howarth, 1998, p. 27 244 ANEXO 3- O CENÁRIO DA PESQUISA: INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS A instituição que serviu de cenário a esta investigação existe no Brasil desde 1934 e conta, atualmente, com filiais nos estados do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, do Rio Grande do Sul, de Goiás e no Distrito Federal. Foi fundada com o objetivo de se tornar um centro de integração cultural entre a Grã-Bretanha e o Brasil e de oferecer serviços educacionais, tanto na área pedagógica quanto cultural, tendo como traço distintivo a língua inglesa e suas afinidades. A instituição é um centro autorizado para a realização dos exames internacionais de proficiência da Universidade de Cambridge ESOL, para os quais oferece cursos preparatórios, e, em parceria com agências de viagem e turismo, organiza programas de intercâmbio cultural para diversos países de língua inglesa. O conteúdo programático, assim como, os materiais e a abordagem pedagógica adotados partem de uma administração centralizada, que padroniza o planejamento e os procedimentos de sala de aula, assim como os instrumentos de avaliação a serem adotados em todas as filiais que, hoje, chegam a mais de trinta unidades. Desde 2003, a instituição conta com um departamento para a criação de materiais didáticos, utilizados na maioria dos cursos disponíveis, à exceção de alguns poucos casos em que são adotados livros de autores ingleses, dirigidos ao ensino do inglês como LE. Os materiais desenvolvidos pela própria instituição abrangem livros, acompanhados de CD e CD-ROM, delineados para atender às necessidades, específicas, de estudantes da língua inglesa cuja língua materna é o português. Esse diferencial resulta em um produto adequado às particularidades do tipo de aprendiz em questão. O departamento produz, igualmente, atividades de multimídia, adaptadas para a utilização em quadros brancos interativos. Esse instrumento permite ao professor navegar pela rede mundial de computadores, desenhar, escrever, trabalhar com um banco de imagens e sons e exibir vídeos. Os quadros passaram a ser utilizados em todas as unidades da rede a partir de janeiro de 2007, integrando um amplo programa de inserção tecnológica, que vem sendo implementado como parte de um planejamento, abrangente, de modernização e competitividade mercadológica. Esse processo se iniciou em 1998, com a implementação de um projeto-piloto de uso de tecnologia de informação, como recurso didático. Prosseguiu em 2001, quando foi lançado um sítio eletrônico, exclusivo para os alunos da rede, que funciona como ambiente pedagógico, complementar ao ensino em sala de aula, com exercícios e uma revista eletrônica. Esta se compõe de assuntos variados de cultura e lazer, além de atividades desenvolvidas para o aluno ampliar seus estudos onde estiver e no momento em que lhe for mais conveniente. Mais recentemente, em 2006, deu-se o lançamento de um conjunto de serviços online para alunos, ex-alunos e responsáveis: através de senhas individuais, os usuários têm acesso a históricos, 245 boletins, notas, frequência às aulas, áreas de entretenimento com músicas, jogos, notícias, vídeos e exercícios que complementam os procedimentos das aulas. A instituição mantém um programa de treinamento e aperfeiçoamento do corpo docente, assim como dos profissionais que atuam em outras áreas de atividade, que visa à padronização dos serviços e à manutenção de um elevado nível de qualidade profissional das equipes em todas as filiais. Os diferentes cursos oferecidos têm por objetivo atender às particularidades e perfis diferenciados, de vários segmentos de público, e se encontram assim estruturados: i) Crianças entre 4 e 6 anos podem iniciar o contato com o idioma ao ingressar no curso Zip’s Planet. Nesse segmento a escola dispõe de material específico para alunos que ainda não foram alfabetizados em língua portuguesa, sendo o foco voltado para a oralidade e, em especial, o despertar do interesse pelo inglês, através de desenhos, atividades musicais e dramatizações. A carga horária é de duas horas semanais, distribuídas em duas aulas de uma hora cada. O segmento completo é de seis semestres de duração. Desde esse nível, os alunos têm à sua disposição os recursos de multimídia mencionados anteriormente. ii) Se o iniciante tem 7 anos, e já foi alfabetizado em português, inicia seus estudos no curso Play in English, que, embora privilegie o lúdico e a prática oral, já lança mão de algumas atividades escritas na língua alvo, tais como aprender a escrever os primeiros números, nomes de animais, de cores e outros conceitos básicos. Além das questões linguísticas, esse curso destaca como objetivo conscientizar o jovem aprendiz sobre aspectos culturais de países de língua inglesa. A carga horária é de duas aulas semanais de uma hora, ao longo de dois módulos de um semestre escolar cada. Ambos o cursos, Zip’s Planet e Play in English, devido à particularidade da faixa etária do seu público, fazem uso de material diferenciado, com farta utilização de linguagem visual, atividades musicais, jogos, brincadeiras e dramatização, e as aulas são ministradas por professores com formação específica para trabalhar com crianças dessa idade. iii) Crianças maiores de 8 anos são encaminhadas para o curso Kids, com 2 semestres (não sequenciais) de duração, com duas aulas semanais de uma hora cada. Nesse segmento, embora o material e as atividades sejam caracterizados por seu aspecto lúdico e visualmente atraente para o público infantil, a parte escrita toma crescente importância no processo de aprendizado do novo idioma: a habilidade é trabalhada em atividades que estimulem o desenvolvimento cognitivo, por meio de seleção, ordenação, jogos, histórias e outros. Além da motivação para o aprendizado da língua inglesa, o curso tem como objetivo levar a criança a se familiarizar com o idioma. 246 iv) Para iniciantes de 9 a 10 anos, há o curso Junior, desenvolvido a partir de tópicos de interesse dessa faixa etária, com o objetivo de levar o aprendiz a fazer uso do inglês em situações cotidianas. Embora a ênfase se dê na prática oral, as quatro habilidades linguísticas são trabalhadas de forma equilibrada. O curso Junior tem quatro semestres de duração: nos dois primeiros módulos o aluno tem duas aulas semanais de uma hora cada, e nos dois últimos as aulas são de uma hora e quinze minutos. Ao concluir o Junior, o aluno tem o direito de se matricular no terceiro segmento do curso Básico (Basic III) sem passar pelos primeiro e segundo módulos. Discorremos sobre o curso Basic a seguir. v) O curso Basic, segmento onde se alocam os sujeitos desta pesquisa, está voltado para o aluno de 11 a 13 anos e se encontra estruturado em seis semestres. O curso tem como objetivo desenvolver a compreensão oral e escrita a fim de levar o aprendiz a compreender cartas, emails, trechos de livros, revistas em geral, escrever textos para a comunicação cotidiana e ser capaz de conversar em situações básicas do dia a dia, dentro do vocabulário adequado a essa faixa etária. O curso completo tem a duração de seis módulos semestrais, com duas aulas semanais de uma hora e quinze minutos. vi) Iniciantes de 14 a 17 anos são encaminhados para o curso Young Express. O curso tem como diferencial se propor a, de forma rápida e compacta, desenvolver a compreensão e a expressão orais, a escrita e a leitura em inglês, com ênfase na oralidade. O conteúdo visa a capacitar o aluno a se expressar em um amplo conjunto de situações do cotidiano, além de torná-lo familiarizado com vocabulário específico para o uso de computadores e Internet. O curso tem 3 anos de duração com duas aulas semanais de uma hora e trinta minutos cada, ou uma única aula de três horas aos sábados, de modo a atender àqueles que não têm como frequentar o curso durante a semana. vii) Iniciantes acima de 17 anos, são indicados para o Cultura Express: esse curso, embora faça uso do mesmo material que o Young Express e tenha a mesma duração, acontece em aulas noturnas, com público majoritariamente adulto. Dessa forma, permite-se ao professor adotar uma abordagem pedagógica e um tratamento pessoal diferenciado, assim como um sistema de avaliação distinto, medidas que tornam o curso apropriado a uma faixa etária mais madura. viii) No caso de não iniciantes entre 14 e 17 anos, o aluno será encaminhado para o curso mais adequado, segundo seus interesses, objetivos e o seu nível de proficiência. O conhecimento do candidato será aquilatado mediante testes de nivelamento que avaliem as quatro habilidades, testes esses aplicados por professores/coordenadores que tenham suficiente familiaridade com a instituição, a fim de que possam precisar o nível mais adequado à competência linguística do pretendente. A partir das informações que esse passe ao avaliador, o mesmo escolhe as provas, 247 utilizadas regularmente pela instituição, que possam delinear de forma acertada o nível de competência do futuro aluno. As opções, para esse caso, são os cursos Plus (nível intermediário, dividido em seis semestres _ de Plus I a Plus 6, ou Master (nível avançado, com duração de dois semestres). O curso Master se destina a alunos que tenham conhecimento adiantado de inglês, e tem como objetivo levar os alunos a alcançar um alto nível de domínio do idioma, de forma que sejam capazes de utilizar o inglês fluentemente em debates, apresentações e redação de textos formais. Esses cursos são considerados de extensão, e se voltam para aqueles que desejam aprimorar seus conhecimentos tanto no tocante tanto à língua escrita como na parte oral, com ênfase nas necessidades do dia a dia. Em ambos os segmentos, as duas aulas semanais têm duração de 1 hora e 30 minutos. iv) Acima de 17 anos, os não iniciantes têm à sua disposição os cursos Express Plus (nível pósintermediário) e Express Master (nível avançado), ambos com dois semestres letivos de duração, com duas aulas de uma hora e trinta minutos cada. No que tange ao conteúdo programático, os cursos Express Plus e Express Master equivalem aos cursos Plus e Master, respectivamente. Do mesmo modo como ocorre com o curso Cultura Express, são oferecidos à noite, e como sua carga horária semestral é maior do que a dos cursos para alunos adolescentes, são de mais curta duração, atendendo ao desejo, expresso pela maioria dos alunos desse segmento, de concluir sua formação em menos tempo. x) Para os alunos interessados, prioritariamente, no aperfeiçoamento da habilidade oral, a instituição oferece os cursos de conversação Conversation Express e Conversation Master. Ambos têm como objetivo aprimorar a fluência e a pronúncia, assim como expandir e sofisticar o vocabulário em diversas áreas. O primeiro se destina àqueles com conhecimento intermediário do idioma. O Conversation Master está voltado para os que já possuem conhecimento avançado da língua inglesa e desejam tanto sofisticar seus recursos linguísticos, como manter sua prática. Ambos os cursos são de um ano e oferecem duas aulas semanais de uma hora e trinta minutos cada, ou, em algumas unidades da rede, pode-se optar por apenas uma aula semanal de uma hora e trinta minutos. xi) Para aqueles que desejam prestar os exames de proficiência da Universidade de Cambridge ESOL, a instituição em pauta oferece cursos preparatórios específicos. Os referidos exames são prestados por candidatos em todo o mundo, e os certificados têm reconhecimento internacional. Os cursos preparatórios se estruturam de forma diferenciada, em função do exame para o qual estão voltados, como abaixo discriminamos: → KET (Key English Test) - Indicado para quem deseja comprovar conhecimento básico de inglês. Os candidatos são avaliados em sua capacidade de entendimento e comunicação em 248 situações do dia a dia, tais como: falar sobre sua família, amigos, trabalho e compras, entre outras. Para esse exame, existem cursos preparatórios de 1 hora e trinta minutos, uma vez por semana. → PET (Preliminary English Test) - Indicado para quem deseja comprovar conhecimento intermediário de inglês, necessário à comunicação diária, escrita e falada. Os candidatos são avaliados em sua capacidade de discutir temas relacionados a trabalho, escola/estudos, hobbies e de interagir em situações de viagens. Nesse caso, são oferecidos cursos com 1 ou 2 aulas semanais, com duração de 1 hora e 30 minutos. → FCE (First Certificate in English) - O FCE é indicado para quem possui conhecimento de inglês acima do nível intermediário. Durante o exame é preciso demonstrar competência nas quatro habilidades da língua: compreensão oral, leitura, redação e conversação. Os candidatos são avaliados em sua capacidade de entendimento de temas variados e de comunicação espontânea e fluente com falantes nativos da língua inglesa. Este exame é amplamente reconhecido nas áreas do comércio e da indústria, e por instituições de ensino em países de língua inglesa. É possível se optar por cursos com 1 ou 2 aulas semanais, com duração de 1 hora e 30 minutos. → CAE (Certificate in Advanced English) - Exame de nível avançado, para aqueles que usam o inglês para fins profissionais ou acadêmicos. Exige do candidato a capacidade de compreender e interpretar textos mais longos e elaborados, bem como de participar de conversas e debates sobre temas de maior complexidade. O CAE é reconhecido por um grande número de universidades em países de língua inglesa como prova de competência linguística, para os alunos que desejam ingressar em algum curso de graduação, ou pós-graduação. No Brasil, é aceito por diversas universidades como prova de competência linguística, para aqueles que desejam frequentar o curso de Complementação Pedagógica a fim de se tornarem professores de inglês nos níveis fundamental e médio. São oferecidos cursos preparatórios com 1 ou 2 aulas semanais, com duração de 1 hora e 30 minutos. → CPE (Certificate of Proficiency in English) - Exame reconhecido como prova de fluência no uso do inglês em nível avançado. Exige do candidato a capacidade de se expressar de maneira precisa, fluente e espontânea sobre temas complexos. Assim como no caso do CAE, é reconhecido por universidades e empresas em países de língua inglesa, como prova de competência linguística necessária para atuar nas áreas acadêmica e comercial e, no Brasil, é, da mesma forma que o CAE, aceito por diversas universidades para aqueles que querem 249 frequentar o curso de Complementação Pedagógica com o objetivo de se tornar professores de inglês nos níveis fundamental e médio. São oferecidos cursos com 2 aulas semanais, com duração de 1 hora e 30 minutos. A Universidade de Cambridge oferece, ainda, exames voltados, especificamente, para professores de língua inglesa como LE. Para os interessados, a instituição em tela disponibiliza, igualmente, cursos de preparação, a saber: → CELTA (Certificate in English Language Teaching to Adults) – É a qualificação da Universidade de Cambridge ESOL para pessoas com conhecimento avançado do idioma, mas com pouca, ou nenhuma experiência em ensino de língua inglesa. Para participar do curso, é necessário que o candidato tenha a certificação do CAE de Cambridge. O curso preparatório oferece qualificação em prática de ensino de inglês, bem como manejo de classe, para pessoas que já tenham alguma certificação, com ou sem experiência de ensino. → TKT (Teaching Knowledge Test) - É a qualificação da Universidade de Cambridge ESOL para professores de inglês. O TKT é recomendado tanto àqueles que desejam se tornar professores de inglês, quanto aos que já lecionam em escolas públicas e privadas, ou em institutos de idiomas, em qualquer momento da carreira. Para prestar o TKT é necessário que o candidato tenha, pelo menos, o equivalente ao nível de proficiência atestado pelo Preliminary English Test (PET) de Cambridge e que esteja familiarizado com os conceitos relacionados ao ensino do idioma. Não há pré-requisitos formais e não se exige do candidato qualquer outra certificação. O curso preparatório se compõe de um módulo, com duração aproximada de 4 meses e meio, com uma aula semanal de 2 horas de duração. De um modo geral, são esses os cursos disponibilizados pela instituição que serviu de cenário e esta pesquisa. Algumas alterações podem, certamente, ser encontradas de unidade para unidade, considerando-se particularidades regionais de cada filial. Além dos cursos citados, a instituição oferece outras duas modalidades de serviços instrucionais: → Serviços Corporativos (Corporate Services) - Constam de aulas, individuais ou em grupo, ministradas no local do trabalho do interessado, de forma que profissionais com dificuldade de horário, deslocamento, ou qualquer outro obstáculo que os impeça de se adequar aos cursos regulares oferecidos nas filiais, possa aprender ou aperfeiçoar seu inglês, com o foco específico em sua área de atuação profissional. → Convênio Educacional - Os interessados encontram, também, a possibilidade de firmar um convênio entre a instituição e escolas de ensino infantil, médio ou fundamental. Nessa 250 modalidade, professores da escola de idiomas prestam um pacote de serviços aos alunos das instituições conveniadas, sem que estes precisem se deslocar. No que concerne à política metodológica que serve de orientação à estrutura dos cursos mencionados, a instituição expressa sua opção pela Abordagem Comunicativa: as atividades têm como ênfase o desenvolvimento da habilidade de compreensão e expressão oral em situações do cotidiano, da forma como se espera do indivíduo na vida real. Ao mesmo tempo, são enfocadas as habilidades de compreensão e expressão escrita de forma que se alcance o desenvolvimento equilibrado das quatro habilidades, permitindo ao aprendiz fazer uso da língua alvo de forma irrestrita, tanto em contextos de oralidade como de língua escrita. As informações aqui detalhadas são fruto do material de divulgação institucional que se encontra amplamente disponível em folhetos e páginas da internet, assim como são resultado da experiência e conhecimento pessoal da autora, adquiridos ao longo de cinco anos de trabalho na referida escola de idiomas. O conteúdo aqui traçado delineia o perfil de uma instituição alinhada com seu tempo, em busca de soluções que se adéquem à cada vez mais sofisticada demanda e elevada expectativa daqueles que buscam o conhecimento da língua inglesa em um mundo altamente globalizado. Essas características de confiabilidade e competência serviram de respaldo ao desenvolvimento do nosso trabalho. 251 ANEXO 4 - QUADRO COMPARATIVO: ABORDAGENS QUANTITATIVA/QUALITATIVA QUALITATIVE METHODS (ETHNOGRAPHY) QUANTITATIVE METHODS OBSERVATION & COLLECTION OF DATA In data collection, ethnographic research (as the most typical and concrete example of qualitative research) doesn’t usually use “instruments,” rather “processes” that are supposedly free of bias and prior assumptions: free, prolonged observation, at times “participant observation,” open-ended interviews, “triangulation” of information and interpretation, “informant checking,” access to existing documents. The observations in quantitative research (whether tests, attitude scales of the subjects observed, behaviors categorized and counted according to instruments, etc.) usually are based on an observation scheme or descriptive categories that have been developed prior to the research. Moreover, these observations are made in a planned way, according to an order determined by the design of the research, and with categories that cannot be changed once the research is underway. NATURE OF DATA Ethnographic research considers those data most relevant which arise from the natural events in the research context. The topics of greatest interest for qualitative researchers are human behaviors and socio-cultural patterns and norms which underlie the behaviors. Data are viewed in a “holistic” fashion, without attempting to separate them into their components, and preferably following the interpretations of the people who are the object of the research (“emic” interpretations). Data tend to be limited by the type of observation that is planned, and according to the method of observation; depending on the design and the effects of a “treatment,” the data usually indicate stability or variability and development in events, attitudes, abilities, skills, knowledge, performance or production, etc., with respect to a language and its use. These are interpreted according to the theoretical model or hypotheses of the researcher, and not necessarily according to the views of the subjects involved (“etic” interpretation). USE AND DEVELOPMENT OF THEORY The qualitative researcher does not want to verify or prove theories; what she/he attempts is to observe without bias nor narrow perspectives. However, the researcher always takes account of the relevant theories regarding the context or topic under study, and normally will remain aware of her/his own assumptions during observation and interpretation. Proper methodology will include the appropriate degree of “objectivity.” In the end, the researcher will develop a “grounded” theory which helps to relate the observations to one another and to larger contexts, or she/he will attempt to revise and perfect the conceptual framework which was adopted at an earlier stage. In the most radical form of qualitative research (from the tradition of phenomenology), causal explanations are not sought, but only a better “understanding” of the phenomena. The researcher constructs a design to prove some aspect of a theoretical framework (forming hypotheses about the goals of the research), and the results tend to either confirm or disconfirm the hypotheses. Although it is recognized that the researcher’s subjectivity can influence interpretations, in order not to generalize beyond the research context, the design, which includes the means of sampling the subjects, should control the limits of conclusions to be drawn. Thus, a theoretical framework is slowly developed. Fonte: Research Methods:Qualitative and Quantitative (Chaudron, 2000, p. 7) 252