CO 85: Compêndios para ensinar Matemática no ensino de primeiras letras na província do Espírito Santo Eduardo Vianna Gaudio SEDU/ES - Rede Doctum [email protected] RESUMO Neste texto temos como objetivo apresentar de forma catalográfica os compêndios didáticos utilizados o ensino de primeiras letras na província do espírito Santo durante o império brasileiro. Tivemos como questão de estudo na última década a identidade do ensino de matemática na referida província. Neste estudo, parte e continuação de meus estudos de doutoramento, tivemos como intenção afirmar que compêndios foram indicados, escolhidos, comprados e/ou doados, e utilizados nas escolas. Para construir este texto investigamos documentos originais da época, relatórios de província, jornais da época que circularam no Espírito Santo, além de estudos realizados por outros pesquisadores. O número de documentos pra construir este documento científico foi bastante restrito. Utilizando o método indiciário de Ginsburg registramos os indícios encontrados, cruzamos os dados e chegamos ao texto que busca responder as argumentações apresentadas. O sistema escolar primário estava personificado no lugar das escolas como fundamento da instrução, representado pelos professores, inspetores de ensino, e uma estrutura física que oportunizaria o processo de ensino. No Brasil, assim como nas nações européias, o livro texto também fazia parte deste universo escolar. Alguns poucos livros aparecem como material didático das escolas de primeiras letras. Como eles apareciam nos processos didáticos não podemos ter certeza, mas eles estavam disponíveis aos docentes e com utilização indicada pelas autoridades. Temos registros em finais da década de 1850 que haviam quatro compêndios aprovados para uso na escolas de primeiras letras: o método de Monteverde, o Cathecismo de Montepellier, o Thesouro de meninos, e a Arithimetica e gramática nacional do Sr. Suzano. Além destes encontramos indícios da Arithmetica para meninos escrita pelo professor Coruja. Constatamos a presença destes compêndios em fontes diversas. Mesmo com poucos avanços no processo educativo temos a convicção que a utilização de compêndios era uma constante, provavelmente no sentido de fornecer mais subsídios teóricos para docentes e discentes no processo de construção de saberes necessários aos “novos” cidadãos brasileiros. Palavas-chave: Ensino de matemática; Espírito Santo; Compêndios didáticos. Estudar a educação capixaba durante o período imperial brasileiro tem sido nossa rotina de pesquisador na última década. Investigar documentos de época, trabalhos científicos, textos históricos sobre o império brasileiro têm nos conduzido á uma tentativa de construir uma identidade educacional local. Sabemos que o Brasil, em seu período imperial, principalmente nas províncias onde não encontrava-se a sede do império, foi marcado por panoramas semelhantes em termos políticos, econômicos e sociais. Neste estudo buscamos documentar o ensino de primeiras letras a partir dos materiais utilizados neste, focando nos compêndios utilizados no ensino de matemática. Construir este texto foi como montar um quebra-cabeças a partir de fragmentos de pequenas informações sobre o ensino de matemática nas escolas de primeiras letras na província do Espírito Santo. Iniciamos apontando o caráter nacional do ensino da matemática a partir dos primórdios da instituição escola no Brasil, o que consideramos após a independência. A fim de constituir um povo civilizado, o projeto educativo era fundamento básico. “Como uma invenção imperial, em grande parte dos discursos a aprendizagem da leitura, da escrita, das contas, bem como a freqüência à escola se apresentava como fator condicional de edificação de uma nova sociedade”. (VEIGA, 2008, p. 502). Para construir esta nova sociedade era preciso que os cidadãos possuíssem alguns conteúdos acadêmicos, e estes deveriam ser aprendidos na escola. Na província do Espírito Santo, pelo menos no “Regime interno das escolas: para se observar provisioramente” constituído a partir do Regulamento de 1848, também elaborado e assinado por Coutto Ferraz o ensino de matemática se estendia ao simplorismo acadêmico constituído a partir das discussões políticas do início do período imperial, como podemos apreciar em um treco do já citado documento, publicado no Jornal Correio da Victória de 28 de outubro de 1849. [...] Na 3ª sala estão em 1º banco os que estudão a grammatica nacional, e a aritmética mercantil em 1as operações: no 2º banco os que estudão a grammatica, proporções arithmeticas e geométricas: no 3º banco os que continuão nestes mesmos exercícios e com especialidade na syntaxe, orthografia, elementos de geographia, e historia. Victoria 28 de outubro de 1849. – O director, Luiz da Silva Alves d’ Azambujo Susano (CORREIO DA VICTÓRIA, 1849, p.2-3). No caso do ensino da matemática, nas escolas de primeira classe o ensino ia além da aritmética básica, incluindo aplicações práticas desta, proporções e geometria prática. Ressaltamos que estas escolas, estavam estabelecidas em lugares de população mais volumosa, consequentemente regiões mais urbanizadas. Naquelas onde o grupo de alunos em estado de aprender estiver na faixa de 20 alunos, as de segunda classe, o ensino deveria se restringir às quatro operações de aritmética de forma teórica e prática. 2 No Orçamento das despezas necessário para a escola da 2ª cadeira de instrucção primaria da Victoria, regida pelo professor José Ortiz, podemos observar que mesmo na capital o ensino deveria se limitar à aritmética, como segue: 1 Meza com gavetas para o professor 3 Cadeiras para o professor e visitas 1 Quadro de madeira para exercicios arithmeticos Giz, pennas, tinta e papel; talha e caneca 12$000 15$000 8$000 16$000 51$000 Victoria 9 de abril de 1861. Dr. José Ortiz, Professor da 2ª cadeira (ESPÍRITO SANTO, 1861, APENSO, p.6). Não observamos neste nenhum indício da utilização de compêndios, mas declaradamente existia a solicitação de material para prática de aritmética. O sistema escolar primário estava personificado no lugar das escolas como fundamento da instrução, representado pelos professores, inspetores de ensino, e uma estrutura física que oportunizaria o processo de ensino. No Brasil, assim como nas nações europeias, o livro texto também fazia parte deste universo escolar. No caso da matemática, de acordo com Valente (1999, p. 128): Os primeiros autores de livros didáticos destinados às nascentes escolas de primeiras letras e liceus orientam-se, como se viu, por Bézout e por Lacroix. Simples é a explicação: mestres que foram da Academia de Marinha onde Bézout era o autor adotado; ou professores da Academia Militar, onde dominavam as obras de Lacroix, natural era que sofressem, para a escrita de seus textos didáticos, a influência desses autores. Concluímos que, pela simplicidade, ou não complexibilidade, do ensino primário, devidas diversas questões as quais realizamos antecipadamente, estes livros não devem ter chegado à escola primária. E se chegaram não foram utilizados, ou até mesmo rejeitados devido seu grau de complexibilidade. No relatório de João dos Santos Neves, diretor da instrução pública do Espírito Santo, anexo ao relatório governamental de 25 de maio de 1859, encontramos indícios do que acabamos de comentar. Arithmetica se pretende ensinar em taes escolas, por um compendio d’ensino secundário, Besout! [...] o ensino primário n’esta província está abaixo de zero, é um ensino negativo, que sem dar nada, ou dando pouco, gasta, e estraga muito. Além de outras rasões [...] e falta de compêndios appropriados [...[ o uso adoptado n’esta província de só haver aula uma vez ao dia (ESPÍRITO SANTO, 1859, p. 6). 3 Os compêndios chegavam às escolas por meio da presidência, que: Tanto em Portugal, como no Brasil, os livros passavam por uma análise; os aprovados eram indicados para utilização nas escolas. Registravam-se, nessas determinações, não apenas a preocupação com a qualidade dos manuais, mas também uma forma de assegurar um maior controle sobre os conteúdos e práticas escolares (ZUIN, 2007, p.202-203). As comissões, e ou a quem de direito examinava os livros a serem adotados na escola elegiam critérios para esta escolha. Segundo Galvão (2005, 2010, p.8) estes deveriam atender às necessidades básicas da população. O livro devia servir ao professor como guia na instrução. Cabia ao mesmo a função de organizar o processo educativo em torno do que se tinha como conhecimento nos livros e o que se desejava como conhecimento que os alunos deveriam saber a partir dos processos educativos. Em nosso texto não temos a intencionalidade de realizar análise de livros didáticos, mas apresentar de forma catalográfica os compêndios que possivelmente foram utilizados no ensino de matemática nas escolas de primeiras letras do Espírito Santo. Até a segunda metade do século XIX, a produção nacional de livros didáticos era praticamente inexistente. A maioria dos livros utilizados nas escolas eram portugueses. Gonçalves Dias inspecionou escolas públicas de diversas províncias do Norte e Nordeste do país e em seu relatório sobre a inspeção, redigido em 1852, indica a utilização de compêndios portugueses. Com poucas exceções, somente a partir da segunda metade dos Oitocentos, a produção de manuais escolares, assinados por autores brasileiros, passou a fazer parte do cenário educacional, indo ao encontro da tendência nacionalista já instaurada em uma época de expansão educação no país (ZUIN, 2007, p. 203). Um dos compêndios utilizados na província do Espírito Santo era o “Método facílimo para aprender a ler e escrever tanto a letra redonda como a manuscrita no mais curto espaço de tempo” que segundo (ZUIN, 2007, p. 145) também era utilizado em outras províncias no Brasil, e este era consagrado no território português. Apesar de não ser um livro somente de matemática, este [...] pode ser considerado o mais utilizado pelos estudantes das escolas primárias portuguesas. Embora este seja um livro introdutório para a infância, além de leitura e escrita, seu objetivo principal, traz informações sobre algarismos hindu-arábicos e romanos, tabuada de multiplicação e “uma noção clara sobre o systema métrico decimal, adoptado para as novas medidas de 4 Portugal”, bem como “dinheiro português legal”. O texto é composto de perguntas, que vão conduzir o leitor a se aprofundar no tema (ZUIN, 2007, p. 145). Segundo Zuin (2007), este manual sofreu inúmeras reimpressões, com novas edições e modificações, com uma quantidade grande de volumes impressos e distribuídos por Portugal e Brasil. Nas transcrições que seguem de documentos manuscritos apreciamos a presença do compêndio de Monteverde nas escolas primárias do Espírito Santo. Iniciamos com o inventário dos objetos existentes na escola feminina de primeiras letras da Vila de Viana, feito pela professora Maria da Penha Pereira de Jesus e Silva, em 09 de julho de 1868: Relação dos objectos que existem na escola de 1as letras de sexo feminino da Vila de Vianna. 11 Onze cathecismos 6 Seis cartas do methodo de Monteverde [...] Victoria 9 de Julho de 1868 Maria da Penha Pereira de Jesus e Silva (ESPÍRITO SANTO, 1870-1877, p.191). Uma solicitação do compêndio de Monteverde, à diretoria, pelo professor de primeiras letras da Vila da Serra, em 19 de novembro de 1868. Inspectoria da Instrucção publica do Município da Serra Ilmo. Sr. Transmito a V. Sª a pedido que faz o Professor de primeiras letras da Villa da Serra Manoel Francisco Duarte do Nascimento sobre Compêndios Monteverdi e o mais que do mesmo pedido consta afim de V. Sª dar as providencias. Deus Guarde a V. Sª Villa da Serra 19 de Novembro de 1868 Ilmo. Sr. Capitão José Marcellino Pereira de Vasconcellos Director Geral das Aulas Publicas da Província do Espírito Santo (ESPÍRITO SANTO, 1870-1877, p. 55). 5 Uma solicitação do professor Manuel Francisco Duarte do Nascimento, à inspetoria, de compêndios para alunos carentes, dentre esses o Monte Verde, em 18 de setembro de 1868. Ilmo Sr. Inspector Existindo alguns alumnos em minha aula, os quereres por seus mesmos problemas não podem comprar compêndios para poderem assim continuar a instrucção necessária, vou portanto rogar á V.Sª que exija da Directoria Geral alguns compendio intitulados Monte Verde, Historia pátria, Catecismo do Cônego D. Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro por serem aquelles os compêndios adoptados pela Directoria Geral e approvados por sua Exª o Sr. Vice Presidente da Província do Espírito Santo em 5 de Outubro do anno passado. Deus Guarde a V. Sª Serra 18 de Novembro de 1868 Ilmo Sr João Ribeiro Pinto Cardoso Inspector da Instrucção Publica Manoel Francisco Duarte do Nascimento Professor de 1as letras (ESPÍRITO SANTO, 1870-1877, p. 50). E, finalmente a declaração no jornal Correio da Victória, de 13 de agosto de 1857, na seção “Instrução Pública”, dos compêndios aprovados para uso no ensino primário. Destacamos o método de Monteverde, o Cathecismo de Montepellier, o Thesouro de meninos, e a Arithimética e gramática nacional do Sr. Suzano, quatro compêndios de ensinar matemática utilizados no Espírito Santo. Instrucção publica – Para o ensino primário desta província, sob proposta do director das escolas, acabão de ser aprovados os seguintes compêndios: Methodo facílimo para aprender a ler, por Monteverde. Cathecismo de Montepellier, nova edição, da que acompanha princípios de orthografia, arithimetica, e geografia. Thesouro de meninos. Arithmetica e gramática nacional do Sr. Suzano (CORREIO DA VICTORIA, 1857, p. 2). 6 Observarmos o ofício, de sete de novembro de 1859, da remessa de livros da presidência para a diretoria de instrução pública envolvendo compêndios que destacamos em nossa pesquisa, inclusive o Tesouro de Meninos. Palácio da Província do Espírito Santo 7 de Novembro de 1859 – Manda Vossa Mercê receba na Secretaria da Província novos volumes das obras elementares encomendadas para serem distribuídas pelos Inspectores da instrucção publica da Província conforme o disposto no § 2º do artigo das instrucções de 5 deste mez sendo o preço que devo aguardar o constante da nota que junta lhe envio = Deus guarde a Vossa Mercê = Pedro Leão Vellozo = N. Director da instrucção publica. Tesouro de meninos ..................2$000 Cathecismo ............................... 1$280 Methodo facilimo ....................... 1$000 Grammatica Suzano .................. $800 Taboada ...................................... $ (ESPÍRITO SANTO, 1855-1862, p. 98). Ainda destacamos a presença do mesmo compêndio na relação de objetos das escolas de segunda cadeira de instrução primária de Vitória presentes no relatório de Dr. José Ortiz, professor de 2ª cadeira, elaborado em nove de abril de 1861, em anexo ao relatório governamental de Costa Pereira Júnior ,de 23 de maio de 1861. RELAÇÃO DE MOVEIS E OUTROS OBJECTOS, PERTENCENTES ÁS ESCOLAS DA 2ª CADEIRA DE INSTRUCÇÃO PRIMARIA DA VICTORIA [...] 8 Ditos de Montpellier. 5 Iris clássicos. 12 Methodos facillimos de Monteverde. 3 Thesouros. 4 Grammaticas. 10 taboadas. [...] 7 16 de janeiro de 1860 (ESPÍRITO SANTO, 1861, APENSO, p. 5). Outro livro que vai aparecer nos documentos por nós analisados é a “Arithmetica para meninos, contendo unicamente o que é indispensável e se pode ensinar nas escolas de primeiras letras”, escrita pelo professor Coruja. Inicialmente apreciemos os documentos observando que todos datam dos anos finais da década de 1860. O primeiro trata-se de um orçamento de material para a escola feminina da vila de Benevente. Orçamento dos objectos precisos para a aula de 1as letras do sexo feminino da Vila de Benevente [...] 12 vol – Arithmetica por Coruja a $500 6$000 [...] Benevente 18 de Setembro de 1868 A Professora interina Philomena Gomes da Silva Manso (ESPIRITO SANTO, 1870-1877, p. 267). O segundo documento trata-se de uma autorização do Diretor de Instrução pública, de envio de exemplares do Rio de Janeiro, para a província, de compêndios para serem distribuídos nas escolas da província, observamos que a quantidade de livros da Aritmética de Coruja quase o dobro da quantidade do livro, já referenciado neste capítulo, de Monteverde. N.° 6 7 – Palácio . 30 de setembro de 1868. Fica Vossa Mercê autorizado a mandar do Rio de Janeiro oitenta exemplares da obra Methodo-facillimo de Monteverde e cento e cincoenta ditos de Arithmetica de Coruja, para serem distribuídas pelas escolas publicas da província como solicita Vossa Mercê em officio de hontem datado, que fica assim respondido. – Deus guarde a Vossa Mercê. Luiz Antonio Frenandes Pinheiro – Sr. Diretor geral da Instrucção Publica (ESPIRITO SANTO, 1867-1871, p. 36-37). 8 O terceiro, e último documento trata-se do expediente do mês de janeiro de 1869 da Diretoria da instrução pública, publicado no jornal Correio da Victória, em oito de fevereiro de 1869, donde destacamos o dia 21, o comunicado de envio de compêndios par a aula de meninas da villa do Espírito Santo, a partir da queixa feita pela professora à presidência da província pela falta de material para sua respectiva aula. Directoria da Instrucção Publica Expediente do mêz de Janeiro de 1869 [...] Dia 21 – Ao inspector das escolas da villa do Espírito Santo remettendo 12 Cathecismos do Cônego Pinheiro, e 12 Arithmetica de Coruja para serem fornecidos a aula de meninas da mesma villa; e significando-lhe que da presidência se reclama a entrega da quantia necessária á respectiva professora para suprimento dos outros objectos constantes do orçamento que enviem com officio de 8 (CORREIO DA VICTORIA, 1869, p. 2). A obra didática “Aritmética para meninos, contendo unicamente o que é indispensável e se pode ensinar nas escolas de primeiras letras”. Publicada em 1852 este livro, escrito por um professor tinha destino próprio a escola de primeiras letras. Finalizando a reflexão sobre as obras, para ensino de matemática, que tivemos referência de uso nas escolas primárias retomamos uma questão já apontada neste texto: a construção de compêndios didáticos para as escolas brasileiras por autores brasileiros, como eram o Professor Coruja, e o cidadão Luiz da Silva Alves de Azambuja Suzano. Visualizamos, no documento que segue, a adoção e destinação de uso de seu livro “Arithmetica Mercantil” nas escolas, numa determinação da presidência para o diretor de instrução pública para que encaderne de distribua nas escolas 500 exemplares. Palácio da Província do Espírito Santo 5 de Fevereiro de 1861 = Tendo resolvido as adoptar para uso das escolas de 1 letras desta Província, o compendio de Arithmetica Mercantil composto pelo cidadão Luiz da Silva Alves de Azambuja Suzano assim o comunico a Vossa Mercê para sua inteligência, e para que receba do mesmo Suzano quinhentos exemplares do referido compendio, afim de que depois de encadernados, sejas distribuídos pelas mesmas escolas. = 9 Deus Guarde Vossa Mercê = Antonio Alves de Souza Carvalho = V. Director da instrucção publica (ESPIRITO SANTO, 1855-1862, p. 125). Acreditamos que este linho tenha sido impresso na própria província em estudo, mas não tivemos acesso a nenhum exemplar, e nem mesmo ao seu conteúdo. Mas gostaríamos de apontar que seu autor, segundo Cláudio (1912) assumiu inúmeros cargos públicos de expressão e poder na província do Espírito Santo, e “sua contribuição, porem nem por isso deve ser esquecida, principalmente na parte referente ao ensino publico que nelle teve um docente competentíssimo, convindo observar que por mais de 50 anos habitou o Espírito Santo, tendo deixado o berço ainda muito jovem (CLAUDIO, 1912, 2010, p. 141-142). O discurso de Affonso Cláudio, talvez nos conduz a pensar que a impressão do livro de aritmética adotado nas escolas públicas, escrito por Suzano, tenha sido impresso de forma não editorial, em gráfica comum, e encadernado aqui mesmo como nos aponta a correspondência supra descrita. Quanto à este livro não temos mais a declarar, deixamos ele para o fim de nossas considerações sobre os livros utilizados nas escolas públicas de primeiras letras do Espírito Santo por ser um livro de autoria de um cidadão erradicado nesta província, e que nela fez história. Acreditamos que o ensino primário de matemática na província do Espírito Santo tenha sido bastante incipiente por motivos aos quais já temos discutidos anteriormente: a falta de docentes qualificados, e/ou habilitados para a envergadura do cargo; as condições precárias das escolas primárias; materiais (dentre eles os livros) inadequados para tal nível de instrução; descaso da população com a instrução pública; dentre outros motivos. Mesmo com poucos avanços no processo educativo temos a convicção que a utilização de compêndios era uma constante, provavelmente no sentido de fornecer mais subsídios teóricos para docentes e discentes no processo de construção de saberes necessários aos “novos” cidadãos brasileiros. Referências CLAUDIO, Affonso. Historia da literatura espírito–santense: com um prólogo por Clovis Bevilaqua. Porto: Officinas do “Comercio do Porto”, 1912. Disponível em: http://www.ape.es.gov.br/index2.htm. Acesso em: 14 de out. de 2010. 10 CORREIO DA VICTÓRIA. A viagem do Exm. Sr. Presidente ao sul da província. Vitória: Typografia Capitaniense, 15 de agosto de 1857. CORREIO DA VICTÓRIA. Ao mesmo. Vitória: Typografia Capitaniense, de 07 de julho de 1849. CORREIO DA VICTÓRIA. Directoria da instrucção pública. Vitória: Typografia Capitaniense, de 8 de fevereiro de 1869. ESPÍRITO SANTO (Estado). Livro de minutas de ofícios expedidos à diversas autoridades. (manuscrito). Espírito Santo. Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Fundo Educação. Livro 90, 1870-1877. ESPÍRITO SANTO (Estado). Registro da correspondência com diversos funcionários da instrução pública de 1848 a 1855 (manuscrito). Espírito Santo. Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Fundo Governadoria, série 751 (livros). Livro 352, 1855-1862. ESPÍRITO SANTO (Estado). Registro da correspondência com diversos funcionários da instrução pública de 1848 a 1855 (manuscrito). Espírito Santo. Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Fundo Governadoria, série 751 (livros). Livro 353, 1862-1867. ESPÍRITO SANTO (Província). Presidente da Província. Relatorio do presidente da provincia do Espirito Santo, o bacharel Pedro Leão Velloso, na abertura da Assembléa Legislativa Provincial no dia 25 de maio de 1859. Vitctoria: Typografia Capitaniense de Pedro Antonio D'Azeredo, 1859. ESPÍRITO SANTO (Província). Presidente da Província. Relatório do Presidente da Província do Espírito Santo pelo presidente José Fernandes da Costa Pereira Junior. Vitctoria: Typografia Capitaniese de Pedro Antonio de D’Azeredo, 1861. VALENTE, Wagner Rodrigues. Uma história da matemática escolar no Brasil, 1730-1930. São Paulo: Amablume: FAPESP, 1999. VEIGA, Cynthia Greive. 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