Entrevista com Diretor Paulo Roberto para o Jornal da CBN no dia 18 de fevereiro.
Sardenberg: A Petrobras está importando gasolina desde quando?
Paulo Roberto: Desde outubro do ano passado, houve um aumento substancial da
demanda de gasolina em relação ao etanol em função do aumento do preço Os
consumidores de carro flex, olhando o preço na bomba, fizeram a opção pela gasolina e
hoje em praticamente todos os estados, à exceção de Mato Grosso, é mais compensador
abastecer com gasolina do que com etanol. Suspendemos as exportações de gasolina. E
para garantir o abastecimento, importamos alguns volumes de gasolina. Somos tradicionais
exportadores de gasolina. No ano passado as exportações ficaram numa faixa de 50 – 60
mil barris por dia. Agora, neste inicio de ano o Governo autorizou a redução do etanol na
gasolina que tinha 25% e agora tem 20%. Então, foram duas consequências: a redução do
etanol na gasolima e o aumento do preço. Na realidade teríamos até condições de produzir
mais gasolina no Brasil, mas para isso, seria preciso reduzir a produção de diesel e de nafta
petroquímica. Do ponto de vista do balanço econômico, ficou bastante claro para nós que
era muito mais interessante importar a gasolina do que aumentar a importação de nafta e de
diesel.
Sardenberg: A nafta também é importada?
Hoje importamos em torno de 30% de toda nafta que é consumida. O diesel continuaremos
importando até entrarem em produção as novas refinarias de Pernambuco, Maranhão e
Ceará. Com isso vamos ser autossuficientes em derivados em geral.
Sardenberg: Essas novas refinarias estão atrasadas né?
Eu não diria que estão atrasadas não. Para a refinaria de Pernambuco nós tivemos que fazer,
em alguns casos, três vezes a mesma licitação, dentro do conceito que não vamos construir
as novas refinarias a qualquer preço. Então essa é a decisão que está postergando a entrada
em operação das novas refinarias.
Sardenberg: Mas tem também o embargo do TCU...
Mas este embargo estamos discutindo paripasso, todas as informações estão sendo
prestadas. Tivemos alguns problemas e impasses com relação a esse assunto, mas a
Petrobras sempre aberta para forncecer informações. A questão básica se refere aos
critérios que são diferentes. Na questão da terraplanagem, que é o principal ponto que está
sendo discutido, o TCU leva em conta construção de rodovias, que é muito diferente de
uma refinaria, em termos de peso e de carga e de composição técnica de especificação de
solo. São, portanto, valores são diferentes.
Sardenberg: Quando entram em operação as novas refinarias?
A de Pernambuco, estamos trabalhando para que entre em operação em 2012. A do
Maranhão no primeiro semestre 2013 e a do Ceará no segundo semestre de 2013. Hoje
somos autossuficientes em petróleo, isso ficou bastante claro na balança de pagamentos de
2009. Em derivados, ainda não atingimos a autosuficiência. Precisamos importar diesel e
nafta petroquímica e, às vezes, combustível de aviação e GLP, dependendo da sazonalidade
do mercado. Com essas refinarias o Brasil vai fse tornar autossuficiente em derivados.
Sardenberg: E com relação ao etanol? Qual é o papel da Petrobras no mercado de
etanol?
A Petrobras criou a Petrobras Biocombustível, que já está operando três unidades de
biodiesel. Recentemente compramos 50% de uma planta de etanol no Centro-Oeste. A
intenção da Petrobras é ter uma participação significativa na parte dos biocombustíveis,
dentro do conceito que cada vez mais seremos uma empresa de energia e não apenas uma
empresa de petróleo e gás.
Sardenberg: Na avaliação da Petrobras, que participa ativamente deste mercado,
quando é que cai o preço do etanol?
Essa é uma pergunta que você tem que fazer para os usineiros, e não pra Petrobras, porque
estamos entrando no mercado agora, mas tudo leva a crer que... Com a entrada da safra
agora em março – abril,a tendência é que tenha uma redução do preço em relação ao que o
mercado está projetando. Então com teremos uma retomada dos carros com combustível
etanol.
No ano passado, em relação aos combustíveis líquidos, tivemos um decréscimo, já que
algumas importações são feitas por terceiros que não entram em nossos números. O
decréscimo em relação ao ano de 2008 foi de 1,2% e estamos prevendo, neste ano um
aumento do PIB de 5,4%, levando em conta um possível aumento da demanda de derivados
líquidos em torno de 2,5% a 3%. Podemos afirmar que a demanda de combustíveis tem
uma elasticidade menor que o PIB no âmbito de líquidos. Em alguns momentos alguns
derivados aumentam e outros que têm uma redução em relação ao PIB, mas em media a
demanda fica um pouco abaixo do PIB. Por exemplo, os derivados da Petroquímica
normalmente são bem superior ao PIB, o diesel depende muito da geração das
termoelétricas, como aconteceu no ano de 2008, mas normalmente fica abaixo. Podemos
inferir que se tivermos essa relação em torno de 3%, possivelmente teremos uma balança
equilibrada. Por outro lado, lembro que a balança comercial da Petrobras em 2009 foi
favorável, no âmbito dos líquidos, em 2,8 bilhões de dólares e que podemos considerar
como um valor excepcional. Acredito que se o PIB ficar acima dos 5% com um
crescimento nos derivados líquidos acima de 3%, a balança ficará equilibrada
positivamente. Existe outro fator muito importante: teremos um crescimento da produção
do petróleo no ano de 2010. E neste ano ainda não estaremos entrando com novas
refinarias, portanto, teremos um aumento substancial da exportação do petróleo e essa
exportação também acabará influenciando na balança de pagamentos.
Sardenberg: E o pré-sal, quando começa a produzir?
Já estamos produzindo na área do pré-sal, no Campo de Tupi desde o primeiro de maio de
2009 com um poço que produz 15 mil barris por dia e no mar do Espírito Santo, no Campo
de Jubarte, também em um poço com cerca de 10 mil barris/dia. No final do ano de 2010
entra em operação o projeto piloto do Campo de Tupi para produzir 100 mil barris. Com o
crescimento ao longo dos anos a previsão é chegar ao ano de 2020 com a parte da Petrobras
em torno de 1.900.000 barris por dia apenas na área do pré-sal. A produção atual, sem
considerar o gás, encontra-se na faixa de dois milhões. Podemos observar que quase
dobraremos a produção no ano de 2020.
Sardenberg: Hoje o Brasil produz e consome 2 milhões de barris por dia? Quando
chegar em 2020 vai produzir mais e consumir mais também não é?
Sim, mas a projeção no mercado é menor que a projeção da produção e isso leva à
necessidade de ter novas refinarias para não exportarmos um volume muito grande de
petróleo, cujo valor é menor do que se exportarmos derivados. O importante é gerar
emprego no Brasil, agregar valor e gerar receitas. Para o ano de 2020 a produção de
petróleo e gás será de 5,7 milhões de barris por dia. Se for considerado apenas o petróleo, a
produção será de 4,5 milhões de barris. A demanda deverá ficar entre 3 e 3,5 milhões de
barris diários. Teremos, portanto, um saldo 600 mil a 1 milhão de barris – que poderá variar
dependendo do mercado – a serem exportados em 2020.
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transcrição da entrevista na íntegra.