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RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO GRAU SUPERIOR: a discussão didáticopedagógica
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Luiz Carlos dos Santos
Quanto mais analisarmos as relações educadoreducandos [...] em qualquer de seus níveis, parece que
mais nos podemos convencer de que estas relações
apresentam um caráter especial e marcante. Nesta
relação, o educador aparece como seu indiscutível
agente, como seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é
“encher” os educandos dos conteúdos de sua narração.
(FREIRE, 2005, p. 65)
INTRODUÇÃO
Neste artigo de revisão, retoma-se a uma das questões que muito têm causado
polêmicas no campo do ensino superior: a relação professor-aluno. Isso por conta de que
muitos estão na condição de professor sem ter a formação didático-pedagógica. São
profissionais de várias áreas - médico, odontólogo, engenheiro, arquiteto, advogado,
administrador, contador, economista etc.
Cabe, de pronto, registrar que a culpa não é deles. Afinal, a legislação vigente não
exige que estes profissionais de áreas eminentemente técnicas, possuam formação para o
magistério superior - basta o certificado de especialista para ingressar na docência superior,
principalmente nas Instituições privadas. O fato é que há uma premente necessidade de
capacitação didático-pedagógica daqueles profissionais técnicos, mas que estão atuando
enquanto professor.
Numa demonstração de inconformismo com essa realidade, Demo (2004, p. 12)
enfatiza que
Os alunos não comparecem para participar do processo de reconstrução do
conhecimento, mas literalmente escutar aulas, tomar nota, memorizar e regurgitar
nas provas. Em entidades privadas a pressão é ainda maior: muitos alunos dizem
cara do professor que é pago para dar aula e que o aluno quer aula e ser aprovado.
Precisamos entender urgentemente o quanto isto é procedimento imbecilizante, fútil
e inútil. Não se trata de acabar com a aula, mas de colocá-la no seu lugar; é didática
auxiliar, supletiva, da ordem de informação e motivação. Aula não implica
necessariamente aprendizagem [...] confundiu-se, totalmente, aula com
aprendizagem.
Nos relatórios de auto avaliação, exigência legal, uma das reclamações quase que
constante é a falta do domínio didático-pedagógico dos professores. Portanto, as Instituições
de Educação Superior (Faculdades, Centros Universitários e Universidades) precisam
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repensar a sua missão quanto à formação de seus alunos. Necessitam repensar de que forma
está se dando a relação professor-aluno no interior da sala de aula. E quão é importante se
refletir sobre essa relação. A propósito, assevera Rangel (2005, p. 85):
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[...] quanto melhor, mais clara, mais “didática”, mais explícita, mais objetiva e mais
orientadora for a comunicação, mais efetiva será a metodologia, ou seja, existe uma
relação direta entre qualidade da comunicação e resultado do processo
metodológico.
Ressalte-se que a produção do conhecimento, sendo uma das finalidades das
Instituições de Educação Superior (IES), é dinamizada por meio do processo de ensinoaprendizagem que, como tal, se realiza em situação social, pois tanto a informação eo
conhecimento são construídos socialmente, como os processos metodológicos são
estabelecidos na relação dialógica entre os sujeitos envolventes do conhecimento: o professor
e o aluno.
Na contemporaneidade, a educação valoriza-se três tipos de saber: o saber dizer
relacionado à aprendizagem de conceitos, informações, o saber fazer relacionado à
aprendizagem de procedimentos e o saber conviver relacionado à aprendizagem de valores,
normas e atitudes. Esta última aprendizagem tem sua relevância, tendo em vista a função do
desafio que é o de se conviver com as diferenças na sociedade.
No seio acadêmico, saber conviver é querer incluir e incluir-se na relação professor-
aluno, na relação professor-coordenador, na relação coordenador-alunos e na relação alunosalunos e entre esses sujeitos e a sociedade. É poder conviver com o jogo das diferenças
expressas na lógica da inclusão. O professor no grau superior tem uma proposta pedagógica,
os alunos têm outra, o coordenador pensa de outro modo ainda, e acima de todas essas
“confluências” existe a proposta pedagógica do ensino superior da instituição em que atuam
esses sujeitos. E aí? Como encontrar um denominador comum que expresse a missão desta
instituição? Como encontrar razão comum em tempos em que as pessoas têm direitos de
expressar seus pontos de vistas, seus pensamentos, seus interesses?
Portanto, há um desafio que demanda uma série de sentimentos, valores, atitudes e
habilidades. O professor nesta perspectiva deve se valer da tridimensionalidade da didática:
ter um domínio técnico da sua área de conhecimento, valorizar as características humanas de
sua prática e o processo de comunicação com qualidade. Já dizia Paulo Freire (2005, p. 96)
“sem diálogo não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação”.
Na relação professor-aluno na educação superior as possibilidades da comunicação na
dinamização da sala de aula das IES e de como esse processo atinge diretamente as opções
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metodológicas do professor devem ser objeto de estudo de forma continuada, já que nem
todas as áreas do conhecimento existem as licenciaturas.
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COMUNICAÇÃO, DOCÊNCIA SUPERIOR E PROCESSO METODOLÓGICO
Saliente-se que na educação superior, como também na educação básica, a
dinamização essencial e o essencial da dinamização da sala de aula estão intrinsecamente
dirigidas na relação insubstituível entre pessoas que se comunicam e comunicam o
conhecimento. Assim, para que o processo de ensino e aprendizagem aconteça, o fator
comunicação prescinde de fatores metodológicos - assumir-se enquanto um ser político
inserido no cenário de contradições sociais em que é permeada a sociedade vigente.
Cabe ao professor universitário a coordenação do processo ensino-aprendizagem. Ele
deve assumir-se no papel de sujeito histórico de transformação da realidade universitária,
articulando à realidade social mais ampla. Nunca é demais relembrar que este ser professor
não está pronto, mas em permanente construção. Como já alertava o filósofo Sócrates, um dos
grandes inimigos da verdade é arrogância daqueles que não reconhecem sua necessidade de
saber mais.
Nesse terreno das diferenças, no locus universitário tem-se: alunos com seus saberes e
experiências e os professores que, além dos saberes da própria experiência de vida, tem
também (ou deveria ter) o domínio do saber organizado e sistematizado, sob a forma
acadêmica e em virtude dela, na cultura e nas ciências. Desta forma, de acordo com Marques
(1995) confrontam-se, assim, em relação criadora, os saberes dos professores com a situação
problematizadora dos alunos, uma força ativa interrogante.
O DOCENTE COM O ALUNO E O ALUNO COM O DOCENTE
Acredita-se que essa é a principal necessidade que a relação professor-aluno deve ter,
ou seja, o professor não deve trabalhar para o aluno e nem o aluno abdicar dessa relação
inevitável é o “com”, isto é, o professor trabalha com os alunos e estes trabalham com o
professor.
Em outras palavras, o professor deve ver o aluno como um sujeito de aprendizagens,
pois o processo de ensino começa quando o professor aprende com o aluno, quando este
mesmo professor valoriza na sua prática de sala de aula aquilo no qual o aluno aprendeu, cuja
aprendizagem é permeada de interesses, experiência de vida e de posturas comportamentais,
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ideológicas e características pessoais que necessitam ser conhecidas, respeitadas e
valorizadas.
Se estabelecer na docência superior é buscar uma permanente autorreflexão da sua
práxis pedagógica. Frise-se que a docência competente somente configura-se na prática
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persistentemente inquirida pela reflexão pessoal e pelo discurso argumentativo na
comunidade da profissão de maneira a tornar-se práxis da vida. A ideia é que o professor na
lide universitária perceba que essa práxis somente se legitima se nela transversar o princípio
da pesquisa, ou seja, perceber a ligação profunda entre o saber pensar e a cidadania. A glória
do professor é o aluno que sabe pensar para melhor intervir (FEMO, 2004, p. 13).
Enfatize-se que a compreensão da docência e a necessidade de uma práxis pedagógica
somente terão legitimidade se fizer referência e articulação à aprendizagem dos alunos, por
isso que na relação professor-aluno é evidenciado muito mais o processo de aprendizagem dos
sujeitos cognoscentes (educador-educandos), transformando essa formação em expectativas
com aprender a conviver com outros. Tais habilidades que ultrapassam as exigências do
mercado de trabalho.
Um outro ponto para que haja produção de conhecimento entre esses sujeitos
cognoscentes está ligado na variável dialogicidade, ou seja, o professor não ensina senão na
medida em que os alunos aprendem. Não há docência sem discência, as duas se explicam e
seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem â condição de objeto, um
do outro. (FREIRE, 2002). Corroborando nessa discussão, Marques (1995, p. 39) entende que
“[...] não há de fato, docência, ela não é cumprida, sem a efetiva aprendizagem por parte dos
alunos; mais ainda, sem que por meio dela também o professor aprenda na relação dialogal
com o outro [...]”.
Então, quem ensina, prende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender, porém isto
só terá valor prático se o sujeito professor interiorizar um valor necessário à sua profissão: a
paixão pela educação do homem. Ver no aluno um sujeito em potencial, com capacidades de
transformar sua realidade social.
Assente-se que o docente universitário tem o talento de transformar os saberes dos
alunos em saberes ressignificados, pois segundo Fazenda (1994, p. 67) “[...] se estamos ou
queremos viver hoje na educação um momento de alteridade (como construção/produção de
conhecimento) é fundamental que o professor seja mestre, ou seja, aquele que sabe aprender
com os mais novos [...]”. O professor nunca sabe o que vai encontrar na sala de aula. Ele terá
um papel fundamental na relação com o aluno para poder desenvolver uma educação que
deseja problematizadora e libertadora. E na melhor nas suas opções metodológicas, o
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professor deve sempre lembrar que está formando pessoas para o mercado de trabalho e para
o mundo em permanente processo de transformação social, econômica, política e cultural.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto, a efetiva relação professor-aluno vai muito mais que o domínio do
instrumental didático-pedagógico (este, muitos não têm) porque são técnicos (profissionais de
várias áreas do conhecimento) - dominam o conteúdo específico, mais desconhecem as
diversas técnicas de ensino, a didática, a psicologia da aprendizagem, a questão da avaliação
nas suas diferentes acepções. Além disso, devem gestar cidadãos capazes de mudar a
sociedade em nome do bem comum, com qualidade formal, política e ética.
Ante o exposto, para o professor, nesse processo de construção de conhecimento e a
busca pela autonomia, é apontado duas rédeas estratégicas para a vida dos alunos: dar aulas e
formar profissionais para uma sociedade conservadora, burocrática e eficientista; ou formar
pessoas com habilidades para reconstruir conhecimentos com autonomia, em nome da e para
autonomia.
REFERÊNCIAS
DEMO, Pedro. Universidade, aprendizagem e avaliação: horizontes reconstrutivos. Porto
Alegre: Mediação, 2004.
FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 11. ed. Campinas, SP:
Papirus, 1994.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
_________. Pedagogia do Oprimido. 41 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
MARQUES, M. O. Escola, aprendizagem e docência: imaginário social e intencionalidade
política. In: VEIGA, I. A. Projeto Político Pedagógico da Escola: uma construção possível.
SP: Papirus, 1995.
RANGEL, M. Métodos de ensino para a aprendizagem e a dinamização das aulas.
Campinas, SP: Papirus, 2005.
SANTOS, Luiz Carlos dos. Tópicos sobre educação [...]. Salvador: Quarteto, 2007.
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