Tribuna para reitores Rector’s Forum Tribuna para reitores Rector’s Forum A LÍNGUA PODE SER SINÓNIMO DE EMANCIPAÇÃO SOCIAL CORRESPONDENTE ESPECIAL Nuno Pereira Reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), criada apenas há quatro anos com uma vocação estratégica lusófona bem relevante, Nilma Lino Gomes aposta na expansão da Língua portuguesa enquanto Língua científica, considerando que ao ser reconhecida pela China como Língua estratégica deverá ser também um elo cultural de relacionamento com este país. O desafio que detecta agora é o de perspectivar como é que essa relação deverá estabelecer-se no plano académico, como pode actualizar-se a relação do conhecimento para além do intercâmbio económico. Para Nilma Gomes a AULP, criando vias de mobilidade e comunicação, agendando questões comuns, tem um papel importante na articulação do ensino lusófono, na plataforma de uma Língua comum que, de circulação académica, deverá exponenciar-se a Língua científica. O que destaca da AULP e dos encontros que esta associação promove? Qual a importância da Língua portuguesa na relação entre os países que a falam e a China? portuguesa ocupe mais espaço. Então temos de trabalhar a ideia da Língua portuguesa como uma Língua científica. A própria existência da AULP já mostra a sua importância. É muito desafiador criar uma associação com o objectivo de articular as instituições de ensino superior dos países de Língua portuguesa, públicas e privadas. A relação entre a China e os países lusófonos diz respeito a um momento que vivemos — sabemos como a China cresceu, tornando-se uma potência em vários aspectos. Pensar como é que essa relação pode estabelecer-se no plano académico é também um grande desafio. Como é que nos podemos relacionar para lá da economia, trazendo por exemplo a dimensão do conhecimento? Da mobilidade? Da integração? Como é que esse diálogo pode ser feito, entendendo que a China e, em particular, a região de Macau, é um espaço onde o Português é considerado língua estratégica. E onde há acções para que a Língua Pode explicar com mais detalhe? Essa importância tem crescido? www.unilab.edu.br Sim. Os encontros juntam cada vez mais universidades, que vão compreendendo a importância da associação e do seu papel. Tudo o que a AULP tem construído desde a sua fundação é marcante. Permite que as instituições de ensino superior do chamado de espaço lusófono se aproximem cada vez mais, criando estratégias de mobilidade e comunicação, assim como a discussão de problemas em comum. Significa que quanto mais países conseguirmos abarcar com os falantes do Português, ampliando também o seu ensino, mais forte pode ficar a Língua portuguesa. Não só como Língua científica mas também como elo cultural. Principalmente se pensarmos a Língua portuguesa como espaço de emancipação e de como a relação entre os países que a falam e a China pode acontecer. É uma relação desafiadora, apresenta limites, mas se tivermos a visão emancipadora da sociedade, de transformação social, podemos tirar novas lições dessa relação. E a internacionalização das instituições? É outro ponto relevante da AULP: a discussão mais estratégica da internacionalização e do que significa no espaço lusófono. A associação tem sido um pólo articulador desse processo e, além disso, dá visibilidade às universidades, pondo-as em contacto umas com as outras. 28 N ú m e r o N o v e J u n h o N i n t h I s s u e J u n e 29 Tribuna para reitores Rector’s Forum Tribuna para reitores Rector’s Forum Pensar o Português como língua científica é pô-lo a rivalizar com o Inglês? Não, de forma alguma. Não se trata de rivalidade, mas sim de valorização da Língua portuguesa, uma das Línguas mais faladas no Mundo e mais utilizadas na Internet. Já que tem essa força, pode ser pensada como Língua científica. Língua é relação de poder, por isso também pode ser sinónimo de emancipação social. Macau tem sido uma plataforma eficaz para aproximar os países de Língua portuguesa da China? É a primeira vez que venho a Macau e foi também uma oportunidade de saber mais sobre a sua história. Pelo que vi, tem potencial para fazer a Língua portuguesa afirmar-se. Isto desde que os planos que nos apresentaram se tornem efectivos, para que se sinta em Macau, de facto, o Português como uma língua de circulação. Neste aspecto há dois eixos. Uma coisa é uma língua de circulação académica, pensando também no desdobramento do Português como língua científica. Outra é a vida quotidiana, o Português que vemos na rua, que lemos nos cartazes, sendo acessível à população local e, sobretudo, ao grande número de turistas. Que avaliação faz do ensino superior no Brasil? Nos últimos 12 anos, o ensino superior brasileiro, sobretudo público, passou por grandes mudanças, com ampliação do número de universidades. No plano das universidades federais — a rede da qual faço parte —, há uma política muito interessante, a interiorização. Ou seja, construir universidades públicas federais no interior do país, em regiões onde tínhamos (e ainda temos) jovens que saíram do ensino secundário 30 N ú m e r o N o v e J u n h o N i n t h I s s u e J u n e prontos para entrar no ensino superior e não podiam gozar esse direito, porque as universidades não existiam no seu espaço geográfico. Também temos melhorado os critérios de qualidade do ensino, onde há um grande desafio: a democratização do acesso do ensino superior público. A entrada de estudantes pobres, indígenas, negros, jovens do campo... eram grupos sub-representados e agora começam a surgir nas universidades. E nós, juntamente com o desafio do acesso, temos de garantir a sua permanência com qualidade. Na UNILAB já se procura o intercâmbio de estudantes com instituições de ensino da China? Ainda não. A nossa universidade é muito nova, só tem quatro anos. Foi criada para fazer a integração com os países da CPLP, em especial os africanos. Daí o seu nome: Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Temos estudantes da África de Língua portuguesa, de Timor e do Brasil, convivendo no mesmo espaço. A universidade foi criada já como um projecto de internacionalização, de relações internacionais com África. Poderá haver colaboração com instituições de ensino da China, nomeadamente de Macau? Sim, temos potencial para isso. Também pretendemos abarcar as regiões onde se fala Português e, por isso, Macau está incluído. • 31