Trabalho, Ciência e Cultura
Texto originariamente produzido pela equipe elaboradora da ementa de Sociologia e
adaptado para estudo.
Elaboradores:
Maria Aparecida Costa
Marcelino Marques
Maria da Penha Santos
Assessoramento: Professora Sandra Vicentin (Departamento de Sociologia da UFES)
Adaptação: Cássia Olinda Nunes
A necessidade de formação de cidadãos e a busca cada vez mais urgente de formar jovens
para compreender a sociedade contemporânea tornam a escola lugar fundamental para se
discutir as questões fundadoras desse tempo histórico em que se vive, não só no Brasil,
mas no mundo. Para que essa discussão se dê de forma a conceber a escola como esse
lugar, estamos propondo um currículo centrado em um eixo fundamentado em três
categorias, que são: Trabalho, Ciência e Cultura, considerados como conceitos
fundamentais para possibilitar reflexões e experiências em sala de aula.
Trabalho
O projeto de uma escolaridade voltado para os pressupostos contemporâneos deve ter como
compromisso, fundamentalmente, analisar a categoria trabalho enquanto fator organizador
e constituidor da identidade do estudante. É preciso compreender o trabalho historicamente,
pois o homem vem buscando intervir na natureza de forma cada vez mais eficaz,
aumentando a sua capacidade de transformá-la, não só garantindo sua sobrevivência, mas
também produzindo excedente, com o objetivo de acumulação, no qual o trabalho torna
mercadoria. Outra dimensão relevante na análise da categoria trabalho, na atual conjuntura,
deve contemplar questões referentes à conservação do meio ambiente.
Não se deve esquecer que a escola, frente às atuais mudanças no mundo do trabalho,
cumpre também o papel de preparar/formar o jovem que seja capaz de compreender a
importância das tecnologias. Ter uma profissão é ou não importante para o mundo de hoje?
Sabemos que compreender as transformações no mundo do trabalho significa analisar o
novo perfil de qualificação que o mercado tem exigido. Não é uma questão de justificar a
desigualdade social como fruto dos diversos níveis de qualificação. É uma questão de
apontar como a sociedade tem sido constituída, do ponto de vista econômico, e de que
forma somos coagidos a nos adaptar e como podemos transformar essa realidade.
Nessa perspectiva, o estudo envolvendo o mundo do trabalho, considerado nas suas
relações, deve levar em conta: a visão cotidiana sobre a sua organização, as concepções
sócio/históricas sobre a divisão do trabalho, uma reinterpretação da organização do
trabalho no Brasil, considerando
o trabalho urbano e rural. Só essa forma permitirá
considerações a respeito desse complexo mundo enquanto instância fundamental na
organização social. A partir de interpretações que levem em conta esses parâmetros, será
possível
refletir sobre questionamentos como: quais as perspectivas de organização
futura? Como o jovem de hoje tem sido inserido no mundo do trabalho? Como criar uma
sociedade onde o trabalho passa a ser um fator de integração social e não de exclusão?
Outrossim, cabe ressaltar que essas reflexões permitirão uma formação de cidadãos
conscientes e com capacidade de analisar as contradições entre trabalho, ócio e lazer,
identificando a tendência ao desaparecimento do emprego, enquanto o trabalho permanece
como essencial na vida dos indivíduos. Dessa analise resultará uma compreensão sobre
algumas questões fundadoras da nova ordem mundial, tais como: a crise do emprego, que é
o nó górdio da sociedade pós-industrial, que tem constituído novas relações de trabalho,
a mobilidade social que ele proporciona, resultante de ocupações originárias do
reordenamento da mão de obra, dando origem a profissões diferenciadas, que podem ser
mais ou menos valorizadas. Dessa forma, a escola, como lugar de produção de
conhecimento, portanto como lugar que participa da constitutividade da cidadania, deve
ser, também, lugar de o aluno
perceber a importância da educação em sua vida
profissional.
Enfim, é preciso fazer uma crítica sobre as relações de trabalho assalariado e, ao mesmo
tempo, apontar novas possibilidades, no sentido de diminuir o número de desempregados.
O mundo do trabalho constitui, então, um ponto fundamental para nortear a discussão sobre
as grandes questões da sociedade tecnológica pós-industrial. Essa discussão pode se dar na
perspectiva das diferentes formas de organização do trabalho, nas diferentes sociedades: a
relação social da escravidão, o trabalho servil na sociedade feudal e o trabalho assalariado
na sociedade capitalista, que trata com a questão, numa visão de mercadoria, a
exploração dos operários, a estratificação social e o status social produzido, de acordo com
a posição que o indivíduo ocupa na escala do mundo do trabalho.
Ciência
Partindo da visão do mundo do trabalho enquanto produção e enquanto intervenção
humana na natureza, a noção de ciência deve levar em conta a necessidade de se aproximar
o homem da natureza e como é possível essa relação, num sentido de harmonia e não de
destruição do natural em benefício do social. Nessa perspectiva, é importante a análise da
ciência enquanto mecanismo de desvendar o comportamento social, partindo do senso
comum e buscando, de fato, como ocorrem determinados comportamentos em grupo. Não
é uma questão de ciência incorporando tecnologias nem uma visão de competências ligadas
a um conjunto de tarefas. A ciência aqui deve cumprir o papel de contribuir para o homem
organizar o seu trabalho, gerando a sua própria cultura. Dessa forma, cumpre-se o objetivo
de fazer com que esse aluno chegue, ao final do ensino médio, mais capacitado para
analisar a realidade social e, portanto, transformá-la.
Pensar a ciência na perspectiva das relações com o trabalho e com a natureza requer
inseri-la no quadro das representações sociais, buscando comparar os diferentes discursos a
respeito da realidade, podendo considerar, primeiramente, da relação ciência com o senso
comum. Ao distinguir a ciência do pensamento tradicional e do senso comum é importante
trabalhar com o jovem aluno os elementos constitutivos que diferenciam estas concepções
sobre a realidade.
Outro recorte relevante é discutir a relação entre ciência e outras formas de conhecimento
da realidade como: mito, religião, arte, etc. Frente a isto faz se necessário refletir sobre: o
que é o conhecimento? Quais os parâmetros para delimitação do que é cientifico?
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Cultura
A noção de cultura é importante para se fazer a relativização da realidade social, o que
favorece a construção da cidadania. Seus elementos teóricos e metodológicos permitem
analisar as sociedades complexas, visando a compreender as identidades sociais. Por isso,
o estudo do outro constitui elemento essencial para se compreender a noção de cultura.
Portanto, a categoria cultura deve ser trabalhada de acordo com as identidades e
diversidades culturais existentes, analisando a produção de símbolos, as representações
criadas no social e qual o significado dado pelos indivíduos às diversas manifestações.
Levar em consideração a importância do estudo da ideologia e da alienação, vinculadas ao
mundo do trabalho, já que a categoria trabalho produz significado na cultura devido à sua
dimensão material.
Para compreender a produção da cultura, na perspectiva da sociedade capitalista
contemporânea, faz-se se necessário um olhar crítico para o poder de comunicação de
massa, destacando o papel e o poder da mídia, que ratifica a cultura do consumo. Outra
questão a ser observada diz respeito ao ponto fundador da cultura, que são as
manifestações culturais, situando a posição da elite, dos imigrantes, dos indígenas, das
minorias, etc., tornando o estudo dessa categoria essencial. Não se pode esquecer da
efervescência das manifestações multiculturais, destacadas na sociedade contemporânea.
Quanto à dimensão local, o debate sobre a cultura pode ser manifestado em discussões
sobre o: resgate da identidade e da cultura capixaba, assim como a contribuição dos vários
grupos étnicos que formam nossa sociedade e qual a influência deles na constituição de
nossa cultura. O que podemos chamar de povo capixaba? Quais são os grupos de
imigrantes que deram origem à sociedade capixaba?
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