UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU – ESPECIALIZAÇÃO EM LÍNGUA E LITERATURA COM ÊNFASE NOS GÊNEROS DO DISCURSO KARINA REBELO RODRIGUES O CÂNONE LITERÁRIO E O ENSINO DE LITERATURA: COMO SE DÁ ESSA RELAÇÃO? CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009. KARINA REBELO RODRIGUES O CÂNONE LITERÁRIO E O ENSINO DE LITERATURA: COMO SE DÁ ESSA RELAÇÃO? Monografia apresentada ao curso de PósGraduação Latu Sensu – Especialização em Língua e Literatura com Ênfase nos Gêneros do Discurso UNESC, com o objetivo da obtenção do título de especialista, sob a orientação do Prof°. Drº .Celdon Fritzen. CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009. 3 “É no exercício da leitura e da escritura dos textos literários que se desvela a arbitrariedade das regras impostas pelos discursos padronizados da sociedade letrada e se constrói um modo próprio de se fazer dono da linguagem que, sendo minha, é também de todos.” Rildo Cosson RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo analisar e refletir acerca do papel assumido pelo cânone literário mediante as inovações que vem ocorrendo no âmbito social e educacional bem como a importância da literatura diante de todo esse processo. Para tal procuramos apresentar de forma sintetizada uma retrospectiva histórica acerca do ensino de literatura, bem como refletir sobre os discursos e propostas apresentados pelas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006), e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC, 1997, 1998, 1999), além de ponderarmos as posições de alguns autores sobre o tema em estudo. Após essas reflexões, foi realizada uma pesquisa de campo com 06 professores de literatura de escolas públicas e particulares dos Municípios de Lauro Müller e Urussanga. A opção pela realização da pesquisa de campo se deu porque essa nos pareceu a forma mais apropriada de estudarmos a prática pedagógica dos educadores, bem como o modo com que autores e obras canônicas vêm sendo discutidos em sala de aula mediante o surgimento de uma nova gama de obras literárias contemporâneas. A análise do corpus mostrou que o ensino de literatura vem, realmente, sofrendo modificações, mas que, contudo, o cânone literário ainda está se mantendo vivo nas escolas. Evidenciou-se também que o pouquíssimo tempo destinado às aulas tem levado a maioria dos professores a trabalhar apenas com fragmentos e resumos de textos, comprometendo a formação literária dos alunos. E, finalmente, que maior do que a preocupação com o “apagamento” do cânone literário frente às novas tendências literárias – caso que está em evidência neste trabalho - é a preocupação com a falta de interesse dos alunos pela leitura, pois a maioria deles lê porque são obrigados e não porque reconhecem importância no significado desse ato. Palavras-chave: Ensino de Literatura; Leitura; Cânone Literário; Literatura Contemporânea. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 5 2 REFENCIAL TEÓRICO ....................................................................................... 7 2.1 O Ensino de Literatura: uma retrospectiva histórica .................................... 7 2.1.1 O que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) acerca do ensino de literatura ............................................................................................. 10 2.1.2 O que dizem as orientações curriculares .............................................. 13 2.2 O cânone e as novas tendências literárias .................................................. 18 2.3 Os autores clássicos e os novos autores: há lugar para ambos? ............ 24 3 TRAJETÓRIA DA PESQUISA ........................................................................... 27 3.1 Justificando o tipo de Pesquisa ................................................................... 27 3.2 O cenário de realização e modo como à pesquisa foi realizada ................ 28 3.3 Quem são os entrevistados .......................................................................... 29 4 ANALISANDO OS RESULTADOS OBTIDOS NAS ENTREVISAS .................. 31 4.1 Procedimentos de análise ............................................................................. 31 4.2 O professor e sua concepção de literatura.................................................. 32 4.3 O professor e as mudanças no mundo literário .......................................... 36 4.4 O cânone literário na voz dos professores .................................................. 38 4.5 Como autores e obras canônicas vêm sendo abordados em sala de aula40 4.6 O “apagamento” do cânone: que fatores têm contribuído para esse fenômeno? ............................................................................................................ 45 5 CONCLUSÃO..................................................................................................... 48 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 52 APÊNDICE ............................................................................................................... 54 5 1 INTRODUÇÃO Na leitura e na escritura do texto literário encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim sem renúncia da minha própria identidade. No exercício da leitura podemos ser os outros, podemos viver como os outros, podemos romper os limites do tempo e do espaço de nossa experiência e, ainda assim, sermos nós mesmos. (COSSON, 2006, p. 17) O ensino de Literatura vem sendo atualmente alvo de grandes discussões, principalmente no que se refere ao cânone literário e o seu papel na formação de leitores, visto que na era da pós-modernidade aquela literatura que por séculos ocupou um papel de destaque na sociedade, aos poucos, está perdendo seu lugar e tornando-se, na opinião de alguns, “menos importante”, como bem nos lembra Perrone-Moisés (2003, p. 177). Porém, tão importante quanto falarmos das modificações pelas quais o ensino de literatura e paralelo a ele, o cânone literário vem passando ao longo da história educacional, é discutirmos aqui sobre a importância da leitura, não apenas no processo ensino-aprendizagem, mas também na formação do aluno enquanto ser crítico e atuante na sociedade na qual está inserido. Para tal basta analisarmos as palavras de Cosson, citadas na epígrafe acima, pois vista sob esse prisma, a leitura e, consequêntemente a literatura, se torna um componente fundamental para a formação intelectual, crítica e social do aluno. Pacheco (2004, p. 213) também afirma que “trabalhar a literatura na escola, mais do que transmitir conteúdos, usar um texto como pretexto ou para descansar das atividades sérias, é explorar inúmeras possibilidades de compreender a realidade e de produzir conhecimento através da arte da linguagem, dialógica por natureza”. Como podemos perceber, a literatura se mostra indispensável no contexto educacional, o que não impede, porém, de questionarmos a forma com que a mesma vem sendo abordada em sala de aula. E um dos questionamentos bastante pertinentes com relação a essa questão diz respeito ao cânone literário que, ora, figura entre os professores como detentor de verdades absolutas; ora como ultrapassado, arcaico. Paralelo a esses dois “extremos”, vimos surgir ainda novos autores com 6 textos mais atuais e uma linguagem mais acessível ao aluno. O que não significa dizer que todos eles tenham incutido, em suas obras, características que permitam ao aluno desenvolver com criticidade sua visão acerca da literatura. Porém, vale lembrar que essas mudanças não se impuseram por acaso. Por esse caminho, perpassa uma série de acontecimentos que nos leva a, inclusive, refletir e a analisar a prática pedagógica dos professores frente ao surgimento das novas tendências. Acontecimentos como as críticas a que os cânones literários foram submetidos, os avanços tecnológicos, a acelerada difusão de livros cujo interesse não está nem um pouco vinculado ao desejo de ingressar no cânone, dentre tantos outros fatores que vimos surgir a cada dia que passa. Por essas razões, a presente pesquisa tem o objetivo de trazer à tona uma reflexão acerca da importância da Literatura frente às mudanças que vem ocorrendo freqüentemente não apenas no âmbito educacional, mas também social e, concomitantemente, sobre o papel que o cânone tem assumido mediante todas essas inovações. Desta forma, será apresentado, primeiramente, uma retrospectiva histórica dando enfoque aos principais fatores relacionados à trajetória percorrida pelo ensino de Literatura no país a fim de compreendermos com mais precisão, como já mencionamos, as mudanças e metamorfoses pelas quais o ensino literário passou ao longo dos anos. Posteriormente, apresentaremos a visão dos PCNs e das Orientações Curriculares para o ensino médio com relação à temática em estudo, pois são documentos que servem de base para a elaboração do plano de ensino dos professores, além de terem sido compostos visando a ampliar as discussões relacionadas ao processo ensino-aprendizagem dos alunos. Em seguida, será apresentada a trajetória e a metodologia da pesquisa de campo realizada com professores de Língua Portuguesa e Literatura, a fim de verificar como se dá a prática pedagógica dos educadores, bem como a forma com que autores e obras canônicas vêm sendo abordados em sala de aula frente ao surgimento de autores e obras contemporâneas. No capítulo subsequente, teremos então a análise dos resultados obtidos na pesquisa de campo realizada com os professores e, finalmente, serão apresentadas as considerações finais fazendo um paralelo entre a fala dos mesmos e a visão dos autores e documentos que serviram de subsidio para a presente pesquisa. 7 2 2.1 REFENCIAL TEÓRICO O Ensino de Literatura: uma retrospectiva histórica Falar sobre o cânone literário requer, primeiramente, que façamos algumas considerações acerca do ensino de Literatura e a forma com que ele vem se desenrolando ao longo da história educacional brasileira. Sabe-se que o ensino literário teve seu início nos primeiros colégios fundados pelos padres Jesuítas quando vieram para o Brasil com o propósito de catequizar os índios. Por volta do ano de 1553 o sistema escolar passou a ser dividido em dois níveis: o de “instrução preliminar” que se resumia nas aulas de ler, escrever e contar e o de instrução colegial, que por sua vez direcionava-se para o ensino da Religião e das Letras. Foi nesse ano também que o colégio dos jesuítas, localizado na Bahia, iniciou o seu curso de Letras. Porém, diante do cenário cultural vivenciado na época, onde predominavam os interesses dos senhores de terra e dos comerciantes, tais estudos em nada contribuíam “para melhorar a produção econômica de uma sociedade, cujo interesse era apenas empenhado na empresa agrícola e mercantil” (MALARD, 1985, p.8). Desta forma tinha-se, então, uma política descomprometida com o saber e dependente da cultura alheia, pois além de importar os estilos em moda na Europa, como afirma ZILBERMAN (1988, p. 48) “apresentava desde a restrição à importância do livro, a ausência de livrarias e a proibição de qualquer tipo de imprensa até a depauperação das escolas e a adoção de uma metodologia de leitura ineficiente e retrógrada”. A prova disso é o fato de os poucos estudos a que eram submetidos os alunos da época limitarem-se aos clássicos gregos e latinos, cuja história, linguagem e contexto em nada se assemelhavam aos nossos. Há de se ressaltar também que os escravos negros que foram trazidos para o Brasil sofriam com o mesmo problema, pois se até a população branca era prejudicada por todos esses impasses, e tinha dificuldade para alfabetizar-se, os negros, então, eram mantidos alheios ao conhecimento, em total estágio de ignorância. No século XVIII, com a expulsão dos jesuítas e o surgimento de novos 8 colégios, outros conteúdos e matérias foram incorporados ao ensino e, consequentemente, os cursos de Letras, de acordo com MALARD (1985, p.9) “enriqueceram-se com a introdução de línguas modernas, ofuscando o brilho do grego e do latim. Carreando o estudo do francês e do inglês, por exemplo, seguiu o ensino das literaturas respectivas”. Todavia, a Literatura brasileira só passou a fazer parte do currículo dos colégios, após a reforma educacional de Benjamin Constant (1889) que acompanhou a transição da Monarquia para a República, o fim da escravidão, o início do trabalho assalariado e a industrialização. O principal objetivo dessa reforma era propiciar aos alunos a gratuidade da educação primária, o que aumentava a demanda escolar, bem como modificar o ensino de modo que este pudesse se transformar em formador de novos alunos para os cursos superiores. Contudo, os estudos de Literatura resumiam-se no uso de “manuais de retórica” e, como afirma MALARD (1985, p.8), eram dados aos estudantes, para memorização pequenas biografias e listagens das obras dos escritores, às vezes acompanhadas de meia dúzia de linhas críticas. Raramente o professor exigia leituras que não fossem pequenos trechos, constantes de uma antologia adotada como livro didático. É importante ressaltar que devido à falta de recursos financeiros, durante muito tempo, somente aqueles que possuíam um poder aquisitivo satisfatório é que tinham acesso à educação e consequentemente às obras literárias. Até porque não existia uma rede pública educacional que atendesse à demanda apenas as escolas particulares, cujo objetivo era mais voltado para o lucro do que para o ensino, conseguiam se expandir. Apesar desse atribulado histórico nem por isso a Literatura deixou de ser vista à frente das demais disciplinas e como afirmam as Orientações Curriculares (2006, p.51) “era tão valorizada que chegou mesmo a ser tomada como sinal distintivo de cultura”. Somente após a revolução de 30, conseguiu-se ampliar a rede pública educacional, através da criação do Ministério da Educação e Saúde; porém a rede particular também cresceu e, com o passar dos tempos, passou a ser vista como detentora de uma educação de maior qualidade. De lá pra cá, a escola tem sido a principal propagadora das obras literárias e assim - motivada e beneficiada pela reforma educacional da década de 70, que aumentou de 5 para 8 anos a faixa de escolaridade obrigatória – passou a ter um público maior de leitores para as obras 9 que haviam em circulação no mercado Contudo, isso não garantiu um trabalho de qualidade e uma concepção de leitura que viesse alcançar e satisfazer seu público alvo, mas acabava por solidificar ainda mais a elitização educacional. Isto porque “de um lado predominava a concepção de uma leitura enquanto exemplaridade: lêem-se nomes consagrados pela crítica e história da literatura porque são modelos a serem seguidos [...] De outro lado, contudo, o livro que é portador deste modelo de leitura permanece fora do alcance de seu virtual destinatário” (ZILBERMAN, 1998, p.50). Diante desse problema e motivada por uma expansão e uma metamorfose do panorama cultural do país, ao final da década de 70, foi diagnosticada uma crise de leitura, pois, embora como vimos, tenha aumentado o público alvo de leitores, paradoxalmente constata-se o decréscimo de seu interesse pelos livros. Frente a esse contexto somos levados a nos questionar: alguma coisa mudou nesse percurso? Diríamos que essa crise parece se agravar a cada dia que passa e está, sem dúvida, intimamente ligada as transformações ocorridas no âmbito social, visto que a sociedade capitalista pós-moderna exige retornos imediatos, e como bem nos lembra Perrone-Moisés (2003, p.178): “Leitura exige tempo, atenção, concentração, luxos ou esforços que não condizem com a vida cotidiana atual”. Somado a isso, poderíamos dizer que o nível de leitura por parte dos brasileiros continua sendo muito baixo e fatores como “a elevada taxa de analfabetismo, o reduzido poder aquisitivo, a ausência de uma política cultural contínua e eficiente, a influência cada vez maior dos meios audiovisuais de comunicação de massa” (ZILBERMAN, 1988, p.9), contribuíram e continuam contribuindo até hoje para agravar, a cada dia que passa essa situação. Podemos dizer também que o ensino de Literatura que deveria ser visto e trabalhado como um dos principais componentes na formação dos alunos, ainda está muito longe de contribuir para a propagação de leitores literários levando-os a, não apenas ler textos, mas apropriarem-se deles de forma crítica, sendo capazes de desenvolverem baseados em suas leituras, habilidades de escrita e compreensão textual. 10 2.1.1 O que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) acerca do ensino de literatura Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) foram elaborados com base no trabalho pedagógico e nas colaborações de vários educadores brasileiros, com o objetivo de ampliar as discussões tangentes ao processo ensino-aprendizagem, de forma que viessem envolver escolas, pais, governo e sociedade na busca de uma educação de maior qualidade porque diante do novo cenário sócio-cultural vivenciado no final da década de 90, quando eram suscitadas a cada dia que passava novas exigências do mercado de trabalho, a escola se via obrigada a fornecer subsídios que pudessem “garantir” a permanência dos alunos na sala de aula, bem como tentar munir o professor de sugestões para melhorar o seu trabalho enquanto educador e formador de cidadãos aptos para saber lidar com tais exigências. É importante ressaltar, primeiramente, que os PCN apóiam-se em normas legais, mais especificamente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei Federal n º 9.394, de 20/12/96, bem como se reafirmam através do Plano Decenal de Educação, à luz da constituição de 1998, que por sua vez aponta para a “necessidade e a obrigação do Estado de elaborar parâmetros claros, no campo curricular, capazes de orientar o ensino fundamental de forma a adequá-lo aos ideais democráticos e à busca da melhoria da qualidade do ensino nas escolas brasileiras” (BRASIL, 1998, p. 49). Desta forma, faz-se necessário discutirmos aqui um pouco acerca da maneira com que os estudos voltados às “áreas de linguagem” são abordados dentro dos PCN, mais especificamente com relação ao que diz respeito aos aspectos literários, de forma a tentar analisar e ponderar as contribuições apontadas por esse documento, embora seu objetivo, segundo seus organizadores, seja apenas ajudar o educador a preparar seus alunos para atuarem com criticidade dentro deste universo. Porém, antes de falarmos com mais precisão acerca deste tema, faz-se necessário sabermos que os PCN apresentam-se em três grupos: os do primeiro e segundo ciclo do Ensino Fundamental editados em 1997; os do terceiro e quarto ciclo de Ensino Fundamental, em 1998 e os de Ensino médio (PCNEM), editados em 1999. Focalizados, estes, como já vimos, na obtenção de um ensino de maior 11 qualidade, os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam a linguagem ou o domínio eficaz da língua como um dos principais ingredientes para a obtenção de uma plena participação social, visto que “é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento.” (BRASIL, 1997, p 21) Como podemos perceber, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a linguagem é o leme ou o instrumento que conduz a educação a um degrau mais amplo, mais sócio-político. É por meio dela que o indivíduo consegue se comunicar, transformar a sua realidade, ao passo que por ela é transformado. Em síntese, “pela linguagem se expressam idéias, pensamento e intenções, se estabelecem relações interpessoais anteriormente inexistentes e se influencia o outro, alterando suas representações da realidade e da sociedade e o rumo de suas (re)ações” (BRASIL, 1998, p. 20). Ao lermos os PCN podemos observar ainda que para se alcançar os objetivos ali propostos, a leitura e a produção textual são primordiais, uma vez que estão intimamente ligadas ao processo ensino-aprendizagem. Não uma leitura “decodificativa”, mas uma leitura capaz de perceber o que está escrito nas entrelinhas; uma leitura de um cidadão letrado e não apenas alfabetizado: “É preciso superar algumas concepções sobre o aprendizado inicial da leitura. A principal delas é a de que ler é simplesmente decodificar, converter letras em sons, sendo a compreensão consequência natural dessa ação” (BRASIL, 1997, p.42). Podemos afirmar ainda que “um leitor competente é capaz de ler as entrelinhas, identificando, a partir do que está escrito, elementos implícitos, estabelecendo relações entre texto e seus conhecimentos prévios ou entre o texto e outros textos já lidos” (BRASIL, 1998, p 70). Em outras palavras diríamos que não basta o aluno saber ler o que lhe está posto, é necessário que ele compreenda essa leitura e dela possa extrair significado e experiência para a sua vida. Cabe ressaltar, porém, que junto aos mais diversos tipos de texto a serem trabalhados, lidos e interpretados pelos alunos, perpassam os literários, foco central do nosso trabalho, cuja importância de papel e objetivos de ensino não devem, de acordo com os PCN (1997 3 1998) estar centrados na sua história, como geralmente costuma acontecer nas escolas, mas sim “em desenvolver e sistematizar a linguagem interiorizada pelo aluno, incentivando a verbalização da mesma e o domínio de outras utilizadas em diferentes esferas sociais” (BRASIL, 2000, p. 18). 12 Analisando os PCN do primeiro e do segundo ciclo do Ensino Fundamental, iremos perceber ainda que embora não se tenha deixado claro que tipo de textos devem ser trabalhados, ou ainda quais podem ser considerados literários ou não, de maneira alguma fica descartada a importância da literatura, uma vez que os textos que fazem parte deste universo como bem nos lembram os PCN, Constituem uma forma peculiar de representação e estilo em que predominam a força criativa da imaginação e a intenção estética. [...] Como representação – um modo particular de dar forma às experiências humanas, - o texto literário não está limitado a critérios de observação fatual (ao que ocorre e ao que se testemunha), nem as categorias e relações que constituem os padrões dos modos de ver a realidade e, menos ainda, às famílias de noções/conceitos com que se pretende descrever e explicar diferentes planos da realidade (o discurso científico). (BRASIL, 1998, p.26) Desta forma, como podemos perceber, apesar de algumas limitações apresentadas por esses documentos, eles não deixam de mencionar - o que mostra a sua preocupação com o ensino de Literatura - a importância de se trabalhar dentro do ensino de Língua Portuguesa, a leitura de “contos, novela, romance, poema, textos dramáticos...” (BRASIL, 1998, p. 54), gêneros que compõem o ensino de Literatura e muito contribuem para ampliar o conhecimento do aluno com relação às obras literárias e sua formação. No que se refere ao PCNEM, elaborado, como já vimos, para nortear a prática pedagógica dos professores do ensino médio, percebe-se claramente, além da preocupação de dar enfoque à linguagem tal qual os PCN do Ensino Fundamental, uma preocupação com a ação de investigar e levar em consideração as experiências trazidas pelos educandos por meio da comunicação. “O diagnóstico sensato daquilo que o aluno sabe e do que não sabe deverá ser o principio das ações, entretanto as finalidades devem visar a um saber linguístico amplo, tendo a comunicação como base da ação” (PCN Ensino Médio, Parte II, 2000, p. 17). Contudo, seria importante frisar que embora encontremos dentro do PCNEM menção a questões relevantes, como por exemplo, a demasiada importância dada à história da literatura, bem como ao próprio conceito e a exemplificação do que seria ou não um texto literário, não vimos um aprofundamento nessas questões de forma a esclarecer as dúvidas dos professores com relação a tais assuntos. Isso nos leva a um paradoxo visto que, ao mesmo tempo em que se 13 afirma que os textos literários devem ser considerados importantes ingredientes na formação dos educandos como pessoas críticas e ativas dentro da sociedade, não vemos subsídios que possam contribuir para a garantia de um trabalho de qualidade que venha atender às exigências educacionais propostas pelos documentos que regem a nossa educação. Tentando encontrar uma saída para esses problemas, o MEC publica em 2002 um documento complementar ao PCNEM, o PCN+. Contudo como afirma NETO (2008, p. 30), se “nos PCNEM (1999) o ensino de história de literatura deveria ocupar um papel secundário, enfatizando-se a formação de leitores de literatura; entretanto, nos PCN+ o enfoque era outro”. Isto porque como afirma NETO, neste último se percebe claramente a relevância que se dá à história da literatura. Entender as manifestações do imaginário coletivo e suas expressões na forma de linguagens é compreender seu processo de construção, no qual intervêm não só o trabalho individual, mas uma emergência social historicamente datada. O estudo dos estilos de época, por exemplo, em interface com os estilos individuais, adquire sentido nessa perspectiva: a de que o homem busca respostas – inclusive a perguntas latentes ou explicitas nos conflitos sociais e pessoais em que está imerso. (BRASIL, 2002, p.52) No que se refere ao cânone literário os problemas também se evidenciam, uma vez que nos PCNEM vimos uma critica à falta de discussão de tal questão, enquanto que os PCN+, embora proponham a leitura dos clássicos, não apresentam em momento algum uma discussão eficaz acerca do porquê de tais leituras no ensino médio. Como consequência desses impasses o professor se encontra muitas vezes perdido, sem saber que direção tomar, de que forma elaborar as suas aulas de literatura, que textos trabalhar e qual a verdadeira importância de trabalhá-los; e foi na tentativa de ampliar essas discussões que surgiram as Orientações Curriculares, com um enfoque maior às questões literárias e que, a nosso ver, ajudam a compreender melhor essas questões. E isto é o que discutiremos no próximo item deste capítulo. 2.1.2 O que dizem as orientações curriculares O discurso literário decorre, diferentemente dos outros, de um modo de 14 construção que vai além das elaborações linguísticas usuais, porque de todos os modos discursivos é o menos pragmático, o que menos visa a aplicações práticas. Uma de suas marcas é sua condição limítrofe, que outros denominam transgressão, que garante ao participante do jogo da leitura literária o exercício da liberdade, e que pode levar a limites extremos as possibilidades da língua. (MEC, 2006, p.49) Levando em consideração a epígrafe acima e, conscientes de que a Literatura, ou o discurso literário vai além do que está posto nas entrelinhas e que este “fenômeno” nem sempre é observado pelos alunos e discutido pelos professores, tecer-se-á neste item, algumas considerações e/ou reflexões acerca desses e de outros problemas, pelos quais a educação literária vem passando, bem como as sugestões apontadas pelas Orientações Curriculares (2006) para o processo ensino-aprendizagem dos alunos, mais especificamente os do Ensino Médio, e que, a nosso ver, ajudam a fundamentar a pesquisa proposta neste trabalho. Primeiramente, seria importante frisarmos que as Orientações Curriculares é um documento organizado pela Secretaria de Educação Básica, por intermédio do Departamento de Política do Ensino Médio com a intenção de apresentar um conjunto de reflexões que oriente a prática docente dos nossos educadores. De acordo com os organizadores desse documento, esta proposta foi desenvolvida levando em consideração as necessidades verificadas ao longo do percurso educacional e que, há muito, vinham sendo discutidas em debates com gestores, educadores e pesquisadores universitários. Desta forma, partindo do pressuposto de que esse material seja utilizado pelos professores e levando em consideração a finalidade para a qual foi elaborado, acreditamos que as discussões apresentadas por esse documento, como ora acabamos de afirmar, serão de extrema relevância para tentarmos entender as mudanças às quais o ensino literário e, paralelo a ele o cânone literário, vem sofrendo ao longo da história. Como já vimos no capítulo anterior, a Literatura por muito tempo esteve à frente das demais disciplinas devido ao fato de que quem tinha acesso às obras literárias eram exatamente os membros da elite, cujo poder aquisitivo lhes permitia comprar os livros e frequentar os bancos escolares, e também porque tais obras serviam como uma espécie de porta voz cultural, ditando as modas e os costumes importados da cultura européia. Porém, como nos lembram as Orientações Curriculares (p. 52), “num piscar de olhos as mudanças se impuseram”. Isto porque 15 devido aos avanços ocorridos no âmbito social, fruto do desenvolvimento desenfreado das tecnologias, das inovações da mídia e das exigências de retornos cada vez mais rápidos da sociedade capitalista, aquela Literatura que requer tempo, dedicação e paciência, acabou por ficar à margem da sociedade em geral. Somado a esses fatores, seria importante ressaltar que apesar da democratização educacional ocorrida, como já vimos, no final da década de 70, o ensino de Literatura não logrou êxito. Isso porque, como afirma ZILBERMAN (1998, p. 51), “a distância entre o eventual leitor e o livro nunca deixou de alargar-se, por mais que crescesse o número de estudantes e de publicações do país”. Esse fenômeno paradoxal perpetuava-se porque a maioria da população continuava tendo baixo poder aquisitivo e o preço dos livros mantinha-se muito alto. Há de se ressaltar também, que devido ao alto índice de analfabetismo parece natural que poucas pessoas apresentassem interesse em consumir livros. Desta forma, com o objetivo de erradicar o analfabetismo e ampliar a venda de livros, criou-se o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). Contudo esse projeto não logrou êxito, pois como nos lembra ZILBERMAN (1998, p. 50), “a maior parte das pessoas não aumentou seu poder aquisitivo, nem o livro baixou de preço”, o que de certa forma abriu espaço para o aparecimento do livro didático, haja vista que ele era um livro mais barato e poderia ser usado durante o ano todo. Contudo ao invés de o aluno ter acesso a obras completas, passava a conhecer apenas fragmentos de textos. Atrelado a esses fatores vimos então, o descompasso entre as expectativas dos novos leitores e o papel assumido pela escola nessa época. Papel esse que estava mais voltado para a função de alfabetizar os alunos, ensinando-lhes a ler e a escrever, do que em levá-los ao conhecimento amplo e eficaz da leitura. As preocupações do professor voltam-se agora para as estratégias didáticas e para a escolha de textos que pudessem auxiliá-lo na elaboração e aplicação de suas aulas. Diante desse novo quadro, as Orientações Curriculares (p. 52) trazem à tona uma pergunta que nos parece ser muito pertinente à discussão: “Porque ainda a Literatura no Ensino Médio se seu estudo não incide diretamente sobre nenhum dos postulados desse mundo hipermoderno?”. Diríamos que não é tão simples encontrarmos resposta para tal pergunta, mas, de acordo com as Orientações, a solução para esta incógnita pode estar no próprio conceito de Literatura, já que sua importância não se resume apenas ao processo ensino-aprendizagem, mas também 16 na contribuição dada à formação do aluno como ser crítico e atuante na sociedade, pois o ensino de literatura visa, sobretudo, “o aprimoramento de educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” (LDBEN n° 9.394/96; Art. 35; Inciso III, 1996) Contudo, segundo as Orientações Curriculares, para que tais objetivos possam ser alcançados, faz-se necessário que alguns problemas que ainda estão presentes no ensino de literatura, e têm trazido grandes prejuízos para a educação, sejam superados. O primeiro deles diz respeito à descontinuidade do ensino de literatura no que se refere à transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio, descontinuidade esta que tem acarretado numa série de prejuízos e levado a grande maioria dos alunos a perderem o estímulo e o gosto pela leitura. De maneira geral, verifica-se que no Ensino Fundamental há uma predileção por uma literatura mais heterogênea abrangendo desde livros infanto-juvenis até àqueles que fazem parte da literatura canônica sem grandes cobranças ou preocupações. “Parte-se, assim, do principio de que os jovens no ensino fundamental, lêem literatura à sua maneira e de acordo com as possibilidades que lhes são oferecidas” (BRASIL, 2006. p.62) Entretanto, ao ingressarem no Ensino Médio “pressupõe-se” que os alunos já dominem um repertório significativo e pleno de leitura de textos literários, levando a um declínio essa leitura mais prazerosa e dando, aos poucos, lugar à história da literatura e seus estilos. Constata-se de maneira geral na passagem do Ensino Fundamental para o Ensino Médio um declínio da experiência de leitura de textos ficcionais, seja de livros de literatura infantil, seja alguns poucos autores representativos da literatura brasileira selecionados que aos poucos cede lugar a história da Literatura e seus estilos. (MEC, 2006. p. 63) Outro problema, também apontado pelas Orientações, refere-se ao fato de que não devemos sobrecarregar os alunos com informações sobre épocas, estilos e características literárias. O que não significa dizer que tais conhecimentos não sejam importantes, mas que não devem ser o foco do ensino de Literatura e sim, “uma espécie de aprofundamento do estudo literário, devendo, pois, ficar reservado para a última etapa do ensino médio ou para os que pretendem continuar os estudos especializados”. (BRASIL, 2006, p. 77). Cabe ressaltar, ainda, que o mau uso dos livros didáticos tem sido outro grande contribuinte para a decadência do 17 ensino de literatura, pois ao invés de servirem apenas como uma das referências - já que a sua maioria apresenta apenas fragmentos de obras, poemas – acabam por serem usados pelos professores como o único material didático-pedagógico, não permitindo ao aluno ampliar suas experiências literárias por meio da leitura de outras obras. O livro didático (...) pode constituir elemento de apoio para que se proceda o processo de escolha das obras que serão lidas, mas de forma alguma poderá ser o único. Os professores devem contar com outras estratégias orientadoras dos procedimentos, guiando-se, por exemplo, por sua própria formação como leitor de obras de referência das literaturas em língua portuguesa, selecionando aquelas cuja leitura deseja partilhar com os alunos. (BRASIL, 2006. p. 64-65) Além de contribuir para ampliar as experiências literárias, é necessário que o professor tenha consciência de que cada texto possui uma dimensão dialógica, fruto da pluralidade de idéias contidas nas entrelinhas de cada obra, e que precisa ser levada em consideração. Baseado na experiência literária de cada leitor, o professor será capaz de extrair diversificados tipos de conhecimentos e interpretações que, com certeza, surgirão em cada discussão. É primordial, também, que o professor selecione os textos que deseja trabalhar, tendo sempre em mente o leitor que ele, enquanto educador deve tentar formar; e este processo, de acordo com as Orientações Curriculares, “percorre o arco que vai do leitor vítima ao leitor critico” (p.69), ou seja, aquele leitor que simplesmente decodifica o que lê, aceitando passivamente o que lhe está posto, àquele que dele se apropria, transformando esse momento de troca de experiência em contribuição para o aprimoramento de sua própria visão de mundo. Esse processo de “aprimoramento da leitura” é o que chamamos dentro da literatura de Letramento Literário e este se resume num dos principais objetivos a serem alcançados pelos educadores comprometidos com o processo educacional: “compreender esforços no sentido de dotar o educando da capacidade de se apropriar da leitura, tendo dela a experiência literária” (BRASIL, 2006, p.55) Ou seja, levá-lo ao real contato com o texto e suas particularidades linguísticas, pois somente assim ele será capaz de ampliar seus horizontes e se transformar em um leitor letrado e capaz de escolher suas próprias leituras. Contudo, embora os professores reconheçam a importância desse processo, nem sempre os métodos utilizados por eles para esse fim vão ao encontro 18 de uma proposta de qualidade, pois, na maioria das vezes, resumem-se apenas no uso de best-sellers consagrados pela mídia, ou então somente em textos de autores canônicos, e o que é pior, sempre ou quase sempre com a finalidade de realizar atividades de metaleitura, isto é, “a de estudos do texto (ainda que sua leitura não tenha ocorrido), aspectos da história literária, características de estilo, etc. deixando em segundo plano a leitura do texto literário, substituindo-o por simulacros (...) ou simplesmente ignorando-o” (BRASIL, 2006, p. 70). Diante de todas essas dificuldades apresentadas pelas Orientações Curriculares nos deparamos com o problema do cânone literário, visto que há uma preocupação tanto em relação ao espaço ocupado por tais obras dentro das aulas de literatura de alguns professores, quanto com o seu apagamento e o surgimento de outras obras que ainda não se consagraram dentro deste universo, mas que vêm se destacando e se tornando as mais novas opções. E de acordo com o documento, para que seja feito um bom trabalho, é necessário que se mantenha um equilíbrio, entre o “novo” e o “velho”, privilegiando sempre como base os conteúdos relacionados à literatura brasileira. Pensando que se deve privilegiar como conteúdo de base no ensino médio, a Literatura brasileira, porém não só com obras da tradição literária, mas incluindo outras contemporâneas significativas. (BRASIL, p. 73) Paralelo a esse labirinto de questionamentos no qual o ensino de literatura está inserido, perpassa o foco central da nossa proposta de estudo, que trata da relação estabelecida entre o cânone literário e o ensino de literatura, frente ao surgimento das novas tendências literárias. O que nos leva a pensar na necessidade de a escola assegurar ao aluno um espaço propício para a “troca literária”, que vai desde o compartilhar das experiências de leituras vivenciadas ao longo do percurso, até a disponibilidade de um acervo bibliográfico que permita ao aluno o contato tanto com obras clássicas quanto com obras mais modernas, pois isto contribuirá para o seu aprimoramento enquanto leitor, conforme veremos nos próximos itens desse capítulo. 2.2 O cânone e as novas tendências literárias Muitas foram as mudanças que ocorreram no âmbito educacional e, 19 consequentemente dentro do universo literário, que vem “obrigando” o professor a estar atento e a munir-se de recursos que lhe permitam lidar com essas transformações de maneira crítica e consciente. Tais mudanças, como vimos no primeiro item deste capítulo, são bastante pertinentes ao estudo da temática deste trabalho, visto que por elas também perpassa a questão dos clássicos frente ao surgimento de novas tendências literárias. Porém, antes de falarmos com mais precisão sobre elas, seria importante lembrarmos primeiramente o conceito de cânone. O cânone literário ou o também denominado “clássico” ou “obra-prima” é em síntese, um conjunto de autores e obras “consideradas representativas para uma determinada nação ou idioma” (COSSON, 2006, p.32). Para NETO (2008, P.44) os clássicos são “uma relação (corpus) de obras e autores social e institucionalmente ‘universais’ e ‘verdadeiros’, transmitindo os valores humanos e características ideais de um texto, por isso, dignos de repasse de geração a geração”. Em outras palavras, diríamos que os cânones literários apresentam características que os legitimam e os fazem transcender as barreiras do tempo e do espaço, e por essa razão são tidos por muitos como verdadeiros modelos a serem seguidos. É importante frisar, porém, que o que define uma obra como canônica ou não, não depende apenas dela, mas das instituições que a evidenciam. De acordo com Perrone-Moisés (2003, p.190), a escola, por exemplo, tem sido um dos grandes suportes para a consagração e/ou para a manutenção dessas obras, pois, “já que a literatura implica a existência de leitores, sua soberania, como arte da linguagem e atividade desprovida de valor próprio depende muito de sua manutenção nos currículos escolares”. O livro didático também tem sido um outro grande contribuinte para esta propagação, isto porque ele tem servido de suporte para tais autores e obras, e tem o “poder” de determinar o que o professor deverá trabalhar em sala de aula. Bom ou mal, os livros didáticos, como afirma FIDELIS (2009, p.1), reconstituem a historiografia literária, destacam os principais autores e suas principais obras, organizam o material crítico sobre períodos literários e seus principais representantes. Portanto, os livros didáticos possuem uma força informadora, capaz de direcionar o que se lerá na escola, pois representam ao professor, sob nova organização, autores e obras representativas de certo fazer literário. 20 Outro fator importante a ser levantado é que o cânone “nunca foi uma entidade imóvel e intocável” (Perrone-Moisés, p.197), o que nos leva a afirmar que tanto novas obras podem agregar-se à lista dos clássicos, como também, dependendo das inovações e da crítica literária, deixarem de figurar entre eles. FIDELIS também afirma que, ao lado desses autores ‘inquestionáveis’ aparecem autores que ora figuram, ora não figuram em certos momentos no cânone literário e, portanto, movimentam-se na órbita desse núcleo relativamente estável. No entanto, não se pode compreender o cânone como fixo, fechado e pronto. As obras vão e vem a depender dos mecanismos utilizados no momento da escolha. (2009, p. 03) O que se tem percebido, no entanto, é que o cânone com o passar do tempo passou a ser visto de maneira diferente, pois aquele que outrora parecia incólume às novas críticas passa a ser ameaçado, como vimos, pelas novas exigências da sociedade capitalista e suas preocupações nada estéticas. Dada essa situação, seria importante trazermos à tona três fatores que muito tem contribuído para este apagamento e, consequentemente, para o surgimento das novas tendências que aos poucos vem ganhando e garantindo seu espaço no universo educacional. O primeiro deles diz respeito às discussões levantadas acerca do discurso preconceituoso muitas vezes incutido nas obras canônicas, “de início pela critica feminista e depois por outras correntes teórico-críticas que colocam sob suspeita a representatividade das obras selecionadas, denunciando preconceitos de gênero, classe e etnia, dentre outros aspectos, na formação do cânone” (COSSON, 2006, p. 33). Além dessa questão, temos ainda o fato de a maioria dessas obras apresentarem uma linguagem às vezes desusada, por isso de difícil entendimento, e uma temática que muitas vezes nada tem a ver com a sociedade moderna na qual estamos inseridos. Isso tudo acaba distanciando o aluno desse tipo de leitura, fazendo-o optar por textos mais atuais e com uma linguagem de entendimento mais fácil, ou então o afastando por completo do mundo da leitura. Duarte e Werneck (2009, p.1), afirmam que, Diante dessa realidade, percebe-se que não há interação entre o aluno e o texto literário. Por não entender que se trata de uma linguagem artisticamente trabalhada e não compreender seu vocabulário, que muitas vezes é de outro século, o aluno cria um distanciamento em relação à 21 Literatura e acaba aceitando a interpretação do professor sem promover um diálogo com o texto. E o terceiro ponto, também bastante pertinente, refere-se à acelerada difusão de livros cujo objetivo não é ingressar no cânone, mas estar na lista dos mais vendidos, restringindo dessa forma a escrita literária ao uso da mídia e/ou das mais variadas formas de publicidade. Os novos escritores não estão nem um pouco interessados em ingressar futuramente no cânone, interessa-lhes ter seus livros rapidamente publicados, traduzidos em línguas hegemônicas, adaptados para o cinema e a televisão; para conseguir esses objetivos, não é necessário um longo assentimento, basta figurar na lista dos mais vendidos. (Perrone-Moisés, 2003, p. 176) Paralela a essa discussão, vimos surgir a questão da escolarização do cânone, cujo objetivo se distancia do ponto de vista estético para ater-se a questões meramente escolares e porque não dizer, pedagógicas, emergindo dessa forma o que Paulino (2004, p. 54) chamou de “relações polêmicas entre cânones literários e cânones escolares”. Em síntese, o que se percebe na verdade, é não apenas uma escolarização, mas uma escolarização deformadora dos clássicos no momento de escolher que obras e autores serão trabalhados pelos alunos. Paulino cita como exemplo dessa problemática a escolha de alguns textos de Machado de Assis, visto que muitos professores, na tentativa de aproximar o aluno do referido autor, acabam deixando de ponderar também o valor da obra, e optando por textos que apresentam características mais próximas do gosto dos alunos. É o caso, por exemplo, de Cinco Histórias do Bruxo do Cosme Velho, que embora, como lembra Paulino, tenha recebido o prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil de melhor projeto editorial em 1995, é considerado por especialistas um dos piores textos do autor (p. 54). Como podemos perceber, nem sempre as escolhas feitas pelas escolas vêm ao encontro do que deveria ser o ensino de literatura, pois não basta escolher, seja dentro do universo canônico ou fora dele, os autores que serão trabalhados. É necessário que se analise também o valor das obras para que não venhamos, como afirmamos anteriormente, delimitar e/ou distorcer a visão do aluno com relação ao autor e sua criação. Outro exemplo de escolarização do cânone, e que tem logrado êxito nas 22 escolas, são as chamadas adaptações dos textos clássicos, cujo objetivo é, em suma, unir duas opiniões que até então parecem ser antagônicas: cânone e gosto pela leitura. Adaptar clássicos, então, de acordo com Lopes (2008) seria o mesmo que simplificar as obras canônicas ajustando-as por meio da paráfrase, com a finalidade de facilitar a leitura; e esta parece ter sido, segundo o autor, a solução ao problema, pois o cânone, o clássico parece afastar o adolescente da importante leitura por esta se apresentar “chata”, morosa, de vocabulário rebuscado; com a adaptação, o mesmo adolescente pode contatar personagens e conflitos referenciais para a cultura letrada do Ocidente sem, com isso, correr o risco de rejeitar um grande nome. (p. 1) Cabe ressaltar que por estarem muitas vezes amparados pelos projetos do Ministério da Educação, esses livros têm induzido e levado professores a abrirem mão das obras originais para trabalhar apenas com essas adaptações facilitando, inclusive o seu trabalho de aproximar o aluno dos autores clássicos. Contudo, vimos surgir aqui grandes questionamentos: será que essas adaptações não põem em risco a autenticidade dessas obras? Será que elas contribuem para ampliar a visão do aluno leitor com relação às obras literárias seduzindo-os à leitura de textos originais? Ou será que ao invés de contribuir para esse avanço acabam por “viciar” o aluno nesse tipo de leitura? E ainda, até que ponto elas se equiparam as originais? Lopes (2008) em sua análise da adaptação feita por Ana Maria Machado da peça “A Midsummer Night’s Dream” (Sonho de uma noite de Verão) de Shakespeare conclui que embora a mesma tenha correspondido às expectativas dos educadores e também do MEC, visto que figurou três vezes na lista do programa de incentivo à leitura na escola, a obra, infelizmente abole a oportunidade do aluno contatar a arte dramática shakespeariana e apreciar seu lirismo, com o quanto o gênero exige para ser apreciado, seja com uma entrega, uma ponderação,acuidade a ser desenvolvida. Versões facilitadas, com o filtro de cuidadosos esclarecimentos, impossibilitam mesmo a interpretação, fundamento da lida literária. O tom é persecutório, mas parece que se nega aos leitores em formação a pergunta sobre real e imaginário, a natureza do teatro com a sua criação, como encontramos no Dream de Shakespeare; em censura ora comercial ora pedagógica, impedem que se chegue plenamente à comédia por pressuporem dificuldades em demasia, ou má vontade, nos leitores em formação. Se precisar ler, opta-se pelo mais fácil. (p. 9) Esta conclusão a que chegou Lopes nos leva a repensarmos a forma com que estamos trabalhando a literatura em sala de aula, e mais que isso: que os 23 conflitos e as dúvidas não se resumem apenas a Cânone X Cultura de Massa. O leque é bem maior e requer do professor uma olhar crítico para que não se venha ter uma visão delimitada acerca das obras literárias e sua importância no processo ensino-aprendizagem. Já no que se refere à “ascensão” dos textos e dos autores contemporâneos, diríamos que não há como negar que embora alguns professores insistam em acreditar na essencialidade inquestionável do cânone, as novas tendências literárias têm logrado êxito e se tornado, na opinião de muitos, grandes aliadas nas aulas de literatura, pois como afirma Cosson (2006, p. 33), no caso dessas obras “prevalece não só a abundância de textos que as editoras fazem chegar às mãos dos professores para ‘avaliação’, como também a aparente facilidade de leitura desses livros, uma vez que tratam de temas e utilizam linguagem que pertencem ao horizonte de seus potenciais leitores”. Contudo, seria importante abrirmos um parêntese para falarmos um pouco acerca da Cultura Popular, que embora esteja intimamente ligada e por vezes comparada a obras fora do contexto canônico por terem um profundo vínculo com a oralidade, elas também estão presentes em obras de autores consagrados como, por exemplo, João Guimarães Rosa, Manoel de Barros, José Candido de Carvalho, dentre outros, cujo diferencial são exatamente os traços populares nelas presentes. Porém, seria pertinente lembrarmos primeiramente que de acordo com Azevedo (2009, p. 1), existem “pelo menos dois modelos culturais: o popular e tradicional e o oficial, moderno e escolarizado. O primeiro seria enraizado, por exemplo, na valorização de sistemas hierárquicos assim como a cultura oral e suas implicações. O segundo, na valorização do individualismo assim como na cultura escrita e suas implicações”. Podemos acrescentar ainda que o modelo oficial é mais marcado pelos traços da modernidade e contém, na sua grande maioria, uma complexidade excessiva que requer, muitas vezes, uma releitura para que se possa interpretar o que está escrito; além como já vimos, da valorização da voz singular do artista. Já no popular, como afirma Azevedo (2008, p.8), o homem vê a si mesmo como uma pessoa integrante de uma complexa teia de relações humanas e consaguíneas, tanto sociais quanto místicas, o que implica a valorização da família, do contexto em que se vive, da vizinhança, de grupos de interesses comuns, da religiosidade... 24 Como podemos perceber, mais uma vez estamos diante de um fenômeno oscilando entre as obras canônicas e as obras da cultura de massa, haja vista que não apenas os autores modernos, mas também os autores clássicos fazem uso desse recurso (oralidade) para aproximar o leitor do texto e com ele se identificar. Desta forma, como ambos os recursos estão inseridos no ensino de literatura devem, sem dúvida, ser levados em consideração no momento do professor elaborar as suas aulas, pois, como afirma Azevedo (2009, p. 16) “conhecer e reconhecer as diferenças entre a cultura oficial e a cultura popular, aceitando que ambas, e não apenas a oficial, sejam relevantes, é uma questão de autoconhecimento social, pode ampliar nossa visão de mundo e permitir que a gente consiga pensar melhor sobre nossa sociedade, sobre nossa arte, sobre nossa literatura, sobre nossa educação e sobre nós mesmos.”. 2.3 Os autores clássicos e os novos autores: há lugar para ambos? Como vimos nos itens anteriores, a questão do cânone frente às novas tendências literárias tem levantado uma série de discussões, pois embora alguns professores ainda prefiram trabalhar apenas com obras e autores clássicos, há aqueles que optam por textos mais modernos, cuja linguagem e conteúdo parecem estar mais acessíveis e próximos a realidade dos alunos. Diante desse quadro surge então uma grande preocupação, posto que estamos frente a, no mínimo, dois universos disputando o mesmo espaço: de um lado autores e obras consagrados, do outro, autores e obras “típicos da cultura de massa”. E junto deles a grande preocupação: que posicionamento tomar? Ou, que caminho seguir? Seria importante abrirmos um parêntese aqui para dizermos que o cânone é sim, importante para o ensino de literatura, pois embora apresente na sua grande maioria uma linguagem desusada, e traga muitas vezes incutido em seu discurso algum tipo de preconceito, também guarda, como afirma Cosson (2006, p. 34) “parte da nossa cultura e não há maneira de se atingir a maturidade de leitor sem dialogar com essa herança, seja para recusá-la, seja para ampliá-la”. Fritzen (2008, p. 10) também afirma que “desconhecer a herança literária é por em perigo o nosso futuro”; isso porque é baseado nessas contribuições trazidas pelos textos e autores 25 canônicos que a literatura se consolida e nos dá embasamento teórico para poder julgar com criticidade as novas tendências. Porém, vale questionar aqui a forma com que temos feito o cânone chegar até o nosso aluno, pois como já vimos anteriormente, nem sempre o método da adaptação pode ser o mais eficaz, pois não basta levarmos o nosso aluno ao conhecimento de determinado autor ou obra canônica, é necessário que o aluno conheça as particularidades de escrita desse autor, os recursos por ele utilizado, e a profundidade daquilo que escreve. Essas adaptações podem sim, ser um dos recursos, mas não podem ser o único. É importante ponderar também o valor da obra escolhida pelo professor visto que as nossas escolhas podem conduzir o aluno muitas vezes à formação de uma visão deturpada do autor em estudo. Desta forma, diríamos que não basta escolher o autor, é necessário saber selecionar também a obra. Não basta trabalharmos o cânone, é necessário escolhermos dentro das suas obras aquelas mais relevantes e representativas para a literatura. Contudo, não podemos, de maneira alguma, ignorarmos os textos escritos pelos autores contemporâneos, nem os textos ligados à cultura de massa, pois além de apresentarem uma linguagem mais acessível e temas mais atuais, têm, de acordo com as Orientações Curriculares (p. 56, 57), “importância das mais acentuadas, seja por transgredir, por denunciar, enfim, por serem significativos dentro de determinado contexto (...)”. Diante de tais impasses somos levados a nos questionar se o professor tem consciência de que tanto o cânone quanto os que ainda não figuram nessa lista são importantes para o ensino de literatura e, mais do que isso, é importante verificar se o professor está olhando a literatura como um quesito importante na formação do ser humano. Cosson (2006, p.17) também afirma que: Na leitura e na escritura do texto literário encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. E mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim, sem renúncia da minha própria identidade. No exercício da literatura, podemos ser outros, podemos viver como os outros, podemos romper os limites do tempo e do espaço de nossa experiência e, ainda, assim, sermos nós mesmos. Porém, para que isso seja possível, é necessário que tenhamos consciência da relevância que as obras literárias têm para a nossa formação, posto 26 que a literatura está inserida em todo o contexto social e tem, como afirma Malard (1985, p. 112), “a sociedade como matéria-prima e a língua como instrumento imprescindível”. Finalmente, seria importante lembrar que para nós educadores é essencial que saibamos qual o verdadeiro papel da leitura literária na escola e para isso gostaríamos de transcrever aqui a fala de Cosson (2006), que a nosso ver resume de maneira precisa, o que ora acabamos de afirmar: Na escola, a leitura literária tem a função de nos ajudar a ler melhor, não apenas porque possibilita a criação do hábito de leitura ou porque seja prazerosa, mas sim, e, sobretudo, porque nos fornece, como nenhum outro tipo de leitura faz, os instrumentos necessários para conhecer e articular com proficiência o mundo feito linguagem. (p. 30) 27 3 3.1 TRAJETÓRIA DA PESQUISA Justificando o tipo de Pesquisa Tendo em vista o problema impulsionador desta pesquisa – a relação estabelecida entre o cânone literário e o ensino de Literatura frente aos avanços da sociedade pós-moderna e do surgimento de novos autores – nos preocupamos em encontrar uma metodologia que nos permitisse uma aproximação maior da prática pedagógica de um dos principais responsáveis, não apenas pela formação de leitores, como também pela propagação de tais obras: o professor de Literatura. Desta forma, a pesquisa de campo nos pareceu o método mais plausível para a obtenção de possíveis respostas à problemática em questão, haja vista que às opiniões com relação às obras clássicas, assim como as contemporâneas, divergem, nos permitindo refletir e ponderar as diferentes opiniões. Isso se dá porque temos professores que acreditam que as obras atuais, por possuírem uma linguagem mais acessível e temas mais contemporâneos, exercem papel importante na formação de leitores aproximando-os do universo literário. Em contrapartida há aqueles que não trabalham com essas obras porque as julgam superficiais e com certa “pobreza” de linguagem. E, há ainda os que tentam conciliar obras canônicas e contemporâneas permitindo ao aluno conhecer os dois universos. Nesta pesquisa foi utilizado como instrumento de investigação a coleta de dados por meio de entrevistas individuais, tendo por base um questionário semiestruturado. Cabe ressaltar que foram entrevistados seis (06) professores de Literatura, sendo que cinco (05) eram da rede pública estadual e um (01) da rede particular. Ressaltamos, ainda, que as questões foram elaboradas de forma que pudéssemos obter desde a identificação e formação do professor até sua concepção de cânone e de ensino de Literatura, bem como a sua visão com relação às obras contemporâneas e a forma com que vem discorrendo sua prática pedagógica. 28 3.2 O cenário de realização e modo como à pesquisa foi realizada A princípio, havíamos nos proposto a realizar as entrevistas apenas com professores das escolas do município de Lauro Müller. Contudo, como o número de professores de Literatura era muito pequeno e acrescido ao fato de que nem todos eles se mostraram favoráveis à realização da entrevista, incluímos também dois (02) professores do município de Urussanga, o que nos permitiu ampliar o nosso leque de discussões. Desta forma, o cenário de realização da pesquisa dividiu-se em duas (02) escolas da rede pública estadual do município de Lauro Müller, aqui denominadas de escola A e de escola B, sendo que esta se localiza num distrito do município e aquela na região central, uma (01) escola da rede pública estadual do município de Urussanga, denominada de escola C, uma (01) da rede particular, também do mesmo município, denominada de escola D, ambas localizadas na região central. Cabe ressaltar que na escola A foram entrevistados três (03) professores e que, o professor da escola B fez um paralelo entre esta escola e outra em que ele trabalha localizada no município de Treviso, dando inclusive maior destaque. A essa última denominaremos de escola E. Para que pudéssemos realizar a entrevista, entramos em contato com as escolas, mais especificamente com as Assistentes de Educação, e por telefone agendamos um horário para conversar com os entrevistados de forma que não viéssemos interferir nos horários de aula dos mesmos. Ressaltamos, ainda, que das seis entrevistas, apenas uma foi realizada na casa do professor, em virtude do horário disponível; as demais foram todas nas escolas. Nessa ocasiões, primeiramente esclarecemos o objetivo da entrevista, bem como a maneira com que a mesma seria realizada. Em seguida, foi entregue a cada um dos professores uma autorização para que suas falas pudessem ser utilizadas na pesquisa. Cada gravação teve aproximadamente de 10 a 15 minutos de duração. Assim, tomando por base as perguntas previamente elaboradas, que por sua vez encontram-se anexo, iniciamos a entrevista. Contudo, vale destacar que algumas questões foram compactadas e, em algumas entrevistas, outras perguntas surgiram em virtude da necessidade e da fala do entrevistado. Finalizando este tópico, vale ressaltar que, apesar da ansiedade dos professores, especialmente dos mais novos com relação ao fato de suas falas estarem sendo gravadas, todos eles 29 se mostraram muito satisfeitos em participar da entrevista, acreditando ser esta também uma forma de repensar e/ou de compartilhar a sua prática pedagógica. 3.3 Quem são os entrevistados Como frisamos anteriormente, devido ao número reduzido de escolas de Ensino Médio, e consequêntemente de Professores de Literatura no Município de Lauro Müller, realizamos a entrevista com três professores de uma mesma Unidade Escolar (Escola A) que aqui denominaremos de professores 01, 02, 03, um que trabalha nas escolas B e F, o qual denominaremos de professor 04, e dois professores do município de Urussanga: um (01) da escola C, denominado de professor 05, e um da escola D que denominaremos de professor 06. Dos seis professores entrevistados, cinco são mulheres e, excetuando o professor F, por trabalhar na rede particular, os demais são todos ACTs (Admitidos em Caráter Temporário), pois as professoras titulares das disciplinas encontram-se: ou afastadas para exercer função gratificada, ou estão de licença para tratamento de saúde. E temos ainda o caso do professor E, que atua também como ACT, porém em Vaga Excedente. Iniciemos, então, a descrição dos professores, ressaltando que todos eles possuem graduação em Letras e, desta forma, mencionaremos apenas a formação de pós-graduação. Professor 01: A professora atua há sete anos no magistério e trabalha na escola A (rede pública estadual) com alunos de Ensino Médio, mas também leciona em outra escola da rede pública com alunos de Ensino Fundamental. Fez sua graduação pela UNESC e possui Pós-graduação em Inglês. Professor 02: Atua no magistério há dez anos e trabalha há apenas um ano na escola A (rede pública estadual). Formou-se no Curso de Letras (Português/Inglês) em 2003 e fez a complementação em Espanhol em 2008 na UNESC. Fez sua Pós-graduação em Linguística Aplicada no Ensino de Língua e Literatura e cursou as disciplina do mestrado, porém não defendeu a Dissertação. Professor 03: Leciona há quatro anos no magistério público estadual, porém trabalha com Literatura no Ensino Médio na escola A, há quatro meses. Formou-se na UNESC e fez sua Pós-graduação em Interdisciplinaridade pela 30 FUCAP no ano de 2007. Professor 04: O professor está lecionando há dois anos no Magistério público estadual, e trabalha com literatura em duas escolas de municípios diferentes: Lauro Müller e Treviso. Formou-se pela UNESC e fez sua Pós-graduação em Interdisciplinaridade pela FUCAP no ano de 2007. Professor 05: Essa professora atua há nove anos e trabalha na escola C a cinco anos com alunos de Ensino Médio. Formou-se pela UNESC e fez sua PósGraduação em Literatura Brasileira. Professor 06: A professora atua há quatorze anos no magistério e trabalha atualmente apenas em escolas da rede particular, três num total. Todas em municípios diferentes: Urussanga, Araranguá e Criciúma. Fez sua Pós-graduação em Língua Portuguesa no Rio de Janeiro no ano de 2000. 31 4 4.1 ANALISANDO OS RESULTADOS OBTIDOS NAS ENTREVISAS Procedimentos de análise Como frisamos anteriormente, o foco central da nossa proposta de estudo é analisar a relação estabelecida entre o cânone literário e o ensino de literatura frente ao surgimento das novas tendências literárias, tomando por base os estudos realizados por alguns autores e, em seguida, relacionando com os resultados obtidos na pesquisa de campo feita com os professores de Literatura. Dessa forma, para que o nosso objetivo fosse alcançado, como já afirmamos anteriormente, utilizamos durante a pesquisa um questionário semi-estruturado e selecionamos da fala de cada entrevistado somente os itens que julgamos importantes para o trabalho, ou seja, que estão significativamente relacionados com a problemática da nossa pesquisa. Ressaltamos, também, que por se tratar de uma pesquisa acadêmica pensamos que seria mais conveniente editar as falas das entrevistas de acordo com a norma culta da língua portuguesa, não por desrespeito à fala coloquial, mas para evitar qualquer tipo de preconceito com relação às palavras proferidas pelos professores tornando-as mais sóbrias ao extrair os traços de informalidade, tão comuns na entrevista oral. Relembramos ainda que as entrevistas foram realizadas entre os meses de agosto e setembro de 2008 e foram gravadas em um celular, devidamente autorizadas, com um tempo médio de duração de quinze minutos. Por questão de anonimato, a identidade dos professores será preservada assim como as escolas nas quais eles trabalham. No que se refere às questões utilizadas durante as entrevistas lembramos que estão anexas, e objetivam responder a cinco blocos maiores, conforme veremos posteriormente: 1- O professor e sua concepção de literatura; 2- O professor e as mudanças no mundo literário; 3-Como autores e obras canônicas vêm sendo abordados em sala de aula; 4- O “apagamento” do cânone: que fatores têm contribuído para esse fenômeno?; 5- O cânone literário na voz dos professores. 32 4.2 O professor e sua concepção de literatura Antes de falarmos com mais precisão acerca das mudanças que vem ocorrendo dentro do ensino literário, conforme nos propomos neste trabalho, seria importante frisarmos que a Literatura ainda continua sendo vista pelos professores falo aqui daqueles os quais entrevistei – como uma das formas de preparar o aluno para atuar na sociedade com criticidade e visão de mundo. Tal pensamento traz à tona as palavras de Silva (2009): “(...) a leitura constitui, além de instrumento e/ou prática, uma ‘forma de ser e de existir’. Isto porque o seu compromisso fundamental, conforme a expectativa da sociedade se volta para a (re) produção do conhecimento e para preparação educacional das novas gerações” (p. 23). Compactuam do mesmo pensamento e acreditam na importância da Literatura os professores entrevistados. Contudo seria importante analisarmos a fala de cada um deles de modo a verificarmos a que eles atribuem essa importância, ou seja: a Literatura é importante por que e para que? Inicialmente, apresentaremos e analisaremos as concepções dos próprios professores com relação à função e a importância do ensino de literatura durante o ensino médio: (...) Que ela é importante é, isso não tem o que questionar. (...) E está mais ligada (...) a interpretação textual, que é pedido mais pra gente trabalhar, até em função de vestibulares, de concursos, porque se vós não souberdes interpretar tu não vai bem a nenhuma das provas, então a gente trabalha a literatura, lógico, porque eles têm que saber que foi uma época, que foi marcante. Tem que saber. Mas eu acho que para o curso (...) é fundamental trabalhar mais essa parte de interpretação, não só a gramática pura, mas a interpretação dentro da gramática. (...) (PROESSOR 01) Analisando a opinião do professor 01 iremos perceber que ele não deixa claro qual a verdadeira finalidade do ensino de Literatura, mas acredita que uma das principais funções dos textos literários é “desenvolver” a interpretação textual. Contudo seria importante relembrar que trabalhar Literatura é muito mais do que restringir os textos a exercícios de interpretação, uma vez que a leitura por si só atrelada ao processo de formação de leitores é que deve ser o foco central de ensino literário. Outro fator também relevante na fala do professor, e que também está 33 associado à questão da interpretação textual, refere-se à preocupação em “preparar” os alunos para o tão temido vestibular. E esse vem sendo um dos grandes problemas que os professores também têm enfrentado no que se refere ao cânone literário, conforme veremos nos itens posteriores. Quanto ao professor 02 podemos observar que ele vê a literatura como uma das formas de apresentar aos alunos os diversos tipos de linguagem existentes, e mais do que isso de mostrar que a língua está em constante evolução. Contudo me pareceu meio confusa a sua colocação final, pois não fica claro a idéia de modelo a que ele se refere nem tão pouco conseguiremos saber se ao falar em “gêneros diversos” ele está se referindo aos gêneros textuais ou aos gêneros literários. Eu acho muito importante porque a função da Literatura é você apresentar a linguagem - as várias linguagens- e mostrar que a língua é viva e vai se modificando com o tempo. É mostrar o quanto que ela é bela. Então, eu acho muito importante o ensino da literatura, porque também apresenta um estímulo e, os nossos alunos são carentes de modelos, então quanto mais você apresentar gêneros diversos, melhor vai ser pra eles descobrirem no que eles são melhores. (PROFESSOR 02) Já o professor 03, por exemplo, ao ser questionado se ele acreditava na importância do ensino de literatura apesar de todas as alterações que vêem ocorrendo neste mundo pós-moderno, respondeu da seguinte maneira: Eu creio que sim, porque (...) por mais que as coisas tenham se modernizado, a literatura ainda existe, ela está presente no nosso dia-a-dia. Ela não aconteceu só lá na época do Machado quando a gente nem era nascido, ela acontece hoje ainda. A Literatura é uma coisa muito abrangente e as pessoas ainda não tem essa consciência. Elas pensam que Literatura é só Machado de Assis, é só aquele poema tal, aquele livro tal. A Literatura é tudo, é nossa vida, é uma noticia, é um texto, é uma redação que você faz em sala de aula. É tudo. A Literatura é atual; ela não pode ser considerada uma coisa tão antiga. (PROFESSOR 03) Concordamos com o fato de que realmente a literatura continua acontecendo e se renovando a cada dia que passa. Entretanto seria importante frisarmos que ela se mantém viva até hoje não apenas porque novos autores e obras estão ganhando seu espaço, mas sim porque obras como as de Machado de Machado de Assis, Aluisio de Azevedo, Guimarães Rosa, dentre tantos outros, não se perderam no tempo, mas continuam despertando o interesse de muitos leitores e críticos literários. 34 O professor 04, por sua vez, acredita na importância da literatura como forma de contribuir na formação de um aluno crítico, reflexivo. Esse realmente é um dos objetivos do ensino de literatura, contudo trabalhá-la significa, dentre todos os outros objetivos já mencionados aqui, “criar” no aluno o gosto e o interesse pela leitura, levando-o a desenvolver a capacidade de entender, raciocinar e transformar suas leituras em verdadeiras aliadas no momento da produção textual. “O ensino de Literatura é importante. É importante pra exercer a criticidade no aluno, pra ele se tornar um ser reflexivo, pra ele saber e estar ciente das coisas que estão acontecendo no mundo” (PROFESSOR 04). Por fim temos a opinião dos professores 05 e 06 em que se vê uma preocupação mais voltada para a questão pedagógica: interpretação e análise de textos atrelados à visão do autor e do contexto histórico. Com certeza. É cultura, é interpretação, é análise. Eu trabalho muito com análise de textos, poemas e, eu os faço verem porque que o autor chegou naquele determinado ponto. Isso faz com que eles consigam ler outros textos e também consigam ver o que há por detrás dos outros textos normais. (PROFESSOR 05) Com certeza é muito importante, porque a gente vai ensinar o aluno a enxergar as realidades dentro do livro; qual é a sua base, a sua teoria, então quando ele vai lendo a história ele vai entendo melhor o que você quer dizer; a tendência literária; entendendo melhor a visão do autor. É muito importante a aula de literatura. (PROFESSOR 06) Como podemos perceber muitos foram os argumentos apresentados para justificar a importância do ensino de literatura, porém nenhum dos entrevistados vê a leitura como uma forma de explorar a realidade e produzir conhecimento por meio dela mesma. É evidente que a Literatura no ensino médio tem o fundamental papel como afirma Guedes (1942, p. 85), de “inserção da leitura do aluno na história fornecendo-lhe os elementos teóricos básicos com que avaliar suas leituras”. Contudo para que esse objetivo seja alcançado é necessário que primeiramente o aluno tenha desenvolvido o hábito e o gosto pela leitura e que a veja como uma verdadeira fonte de conhecimento e prazer. Porém, dizer que os professores acreditam na importância do ensino de literatura não significa dizer, segundo os nossos entrevistados, que os alunos também possuem a mesma opinião, pois de acordo com os educadores, eles lêem porque são obrigados e porque as leituras serão cobradas posteriormente em provas ou trabalhos, principalmente no que se refere aos clássicos literários. Com 35 relação a este fator nos chamou muita atenção a fala do professor 01, quando em suas palavras ele afirmou: “são poucos os alunos que gostam de ler. (...) A gente tem muita resistência, tanto que na primeira vez que eu propus dar um livro pra eles lerem, teve um que me chamou de retardada. Disse que eu tava louca”. No que diz respeito ao fato de os alunos lerem porque são cobrados podemos observar a fala dos professores a seguir: “Eles fazem (as leituras) porque eu cobro (...). Porque eu faço prova”. PROFESSOR 05 “(...) a gente tem que se esforçar porque por vontade deles tem que ser através de uma cobrança de nota, porque por livre e espontânea vontade eles não lêem”. PROFESSOR 01 “Eu percebo que quando a gente os impõe lêem, mas eu observo que poucos gostam de ler”. PROFESSOR 02 Essa opinião do aluno apresentada pelos professores que participaram das entrevistas com relação à leitura nos faz repensar não apenas na nossa prática enquanto professor, mas também no processo educacional num todo, pois um aluno que chega ao Ensino Médio pensando dessa forma, não deve, com certeza ter tido durante seu percurso escolar um real contato com a leitura, haja vista que desde os primeiros anos, deve o professor, como afirmam os documentos norteadores da educação, como os PCN e a Proposta Curricular, por exemplo, tentar desenvolver no aluno o gosto e o interesse pela leitura. Em contrapartida, apesar da falta de aceitação de alguns, há alunos que, na opinião dos professores, demonstram interesse por todos os tipos de leitura e obras, sejam elas canônicas ou contemporâneas, conforme podemos verificar na fala do professor 04: Geralmente os meus alunos lá (estava falando da escola F) quando eu solicito pra eles lerem as obras, a maioria tem uma boa aceitação e eles lêem. E muitos dos meus alunos lá de Treviso, eles tem muito contato com a leitura, não sei se é porque é interior. Eu acho que é a distração deles; eles têm muito contato. Eles gostam bastante. Como podemos perceber o gosto pela leitura é algo que não se adquire só no Ensino Médio. Os alunos que chegam a essa fase com uma bagagem significativa de leituras, têm facilidade de interpretar, discutir, e, o que é mais importante: lêem porque gostam, não porque são obrigados. Consoante a esse 36 dado, se pararmos para analisar o ensino de literatura nas escolas veremos que algumas coisas já mudaram. Como, por exemplo, a idéia de que trabalhar Literatura é trabalhar apenas as escolas literárias e seus principais autores e obra. O que não significa dizer que isso não venha sendo discutido pelos professores (veremos isso com mais precisão no item 4.5 deste capítulo), mas que, conforme pudemos observar nas suas falas com relação à importância da Literatura, já se tem uma visão mais ampla acerca do ensino literário nas escolas. 4.3 O professor e as mudanças no mundo literário Como viemos pontuando até aqui, o ensino de literatura vem sofrendo algumas modificações que por sua vez repercutem no processo de ensinoaprendizagem dos alunos. Modificações essas que estão intimamente ligadas ao surgimento de novas obras literárias que tem “caído no gosto” da grande maioria dos nossos estudantes e porque não dizer, de alguns professores também. Mediante tais mudanças, o professor está tendo que aprender a lidar com o surgimento e a grande aceitação dos alunos com relação a essas obras, pois são livros que apresentam temas mais modernos e uma linguagem muito mais acessível. Sem contar, é claro, com o fato de estarem “em alta” na mídia e figurarem entre a lista dos livros mais vendidos. Com relação a essa questão, e quando questionada a sua opinião com relação a tais obras, obtivemos dos professores entrevistados respostas variadas. Há por exemplo aqueles que acreditam que essas obras podem ajudar o aluno a desenvolver o gosto pela leitura e consequentemente se tornar um leitor de outros tipos de textos, inclusive os canônicos. Como é o caso da professora 06: Essa literatura contemporânea foi muito feliz porque resgatou o hábito da leitura. Teve um tempo que ficou meio morno. O aluno não lia, ele não se interessava, e essa literatura, que tem um assunto, de magia (Harry Porter), cativou muito. O Crepúsculo também tem essa coisa de vampiro e o adolescente gosta muito disso, e resgatou muito. Esse é um momento importante porque se ele pegar o hábito de leitura enquanto criança e mantiver na adolescência ele vai ler sempre, porque é um movimento... Eu acho que essa parte direcionada para o adolescente foi um ganho muito grande pra educação, porque cativou muito o hábito da leitura (...) assim fica até mais fácil pra tu cobrar uma literatura clássica porque eles já estão habituados com a leitura. 37 Os Professores 01, 03 e 04 também apresentam opiniões semelhantes, contudo nunca trabalharam com tais obras em suas aulas. Olha com os alunos eu não trabalhei ainda nenhuma vez, eu até acho interessante, acho uma nova versão, uma coisa diferente, mas (...) da experiência com os alunos eu não posso dizer porque eu não trabalhei ainda. Até porque a nossa biblioteca não dispõe tanto dessa nova literatura, então é difícil, (...) mas eu acho interessante, numa oportunidade que eu tiver eu vou trabalhar. (PROFESSOR 01) Eu acho que é interessante pra eles, mas eu nas minhas aulas não trabalho isso. Eu os vejo nos bastidores, no corredor, numa aula vaga. (...) Eu já observei que vários alunos fazem isso, (...) eu acho que a leitura é válida, num instante que tu lê um jornal, uma revista, (...)você está praticando. (...) Claro que é muito mais legal você estar praticando o exercício contendo o conhecimento de outras coisas, mas se não dá, eu acho que tudo é válido: ler é muito bom. (PROFESSOR 03) Eu trabalho geralmente com os clássicos, até pretendo trabalhar agora esses livros mais contemporâneos. A gente está vendo o modernismo, e no momento em que a gente vir as obras contemporâneas, eu pretendo trabalhar (...). (PROFESSOR 04) Já o professor 05 costuma, segundo ele, utilizar pelo menos uma dessas obras com as turmas de primeiro ano do Ensino Médio, pois essas leituras contribuem para uma aproximação do aluno com o universo da leitura e apresentam questões filosóficas importantes para serem discutidas; porém, apresentam suas limitações. Eu acho que essas obras que eu trabalhei com o primeiro ano eram mais filosóficas, eu diria que são mais pra realmente estimulá-los (...). As obras contemporâneas elas tão trabalhando muito o lado emocional e esquecem de desenvolver o caráter literário por si só. Eu até comento com eles que atualmente não se vê nenhuma mudança literária, não vê uma prosa diferente como tu vias em 1922 com Oswald de Andrade. Não vê nada diferente é sempre a mesma coisa. Finalmente, o Professor 02 afirmou em sua fala que encontra dificuldade em trabalhar os clássicos com seus alunos exatamente porque eles preferem as obras contemporâneas e obras de literaturas estrangeiras e ainda faz uma crítica aos livros de auto-ajuda. Olha, eu estou tendo bastante problema sim. Eu sugeri à leitura de alguns livros da nossa literatura, mas eles preferem literatura estrangeira, esses livros de agora: A Cabana (...) é o que eles lêem. (...) Eu quero que eles leiam, então eu acabei impondo que eles lessem alguns livros. E a gente vai discutir. 38 (...) Eu não tenho nada contra esses livros de auto-ajuda, quem gosta tudo bem. Eu não gosto. Por exemplo, eu li um livro do Cury, é a mesma receita, eu li aquele: Pais brilhantes, Professores Fascinantes, os outros são repetecos, então eu não vou perder o meu tempo lendo um negócio desse, eu já perdi. Como podemos perceber, nem sempre os professores compartilham da mesma opinião no que se refere às obras contemporâneas, mas todos eles já perceberam que elas estão dentro das escolas e estão ganhando espaço. Dessa forma cabe ao educador encontrar um meio de conciliar a leitura de tais livros com a de outras obras. Até porque dos seis (06) professores entrevistados, cinco (05) lêem ou já leram esse tipo de literatura. O que não podemos então é priorizar esse tipo de texto em detrimento de outros que são muito mais ricos em linguagem, conteúdo, criatividade, etc. e que fazem parte da história da nossa literatura, pois isso além de colocar em risco a nossa herança cultural, nos tornaria “pobre” de experiências literárias. 4.4 O cânone literário na voz dos professores Neste item da monografia nosso objetivo é mostrar a opinião dos professores com relação à importância, ou não, do cânone literário para o Ensino Médio, pois como vimos novas tendências literárias têm ganhado espaço dentro do ensino de Literatura, e isso tem posto muitas vezes em risco a soberania dos autores e obras canônicas. Dessa forma, seria interessante ressaltar que todos os entrevistados acreditam que é importante sim, apresentar, ler e discutir as obras canônicas com os alunos e, para isso, eles apresentaram os mais variados tipos de argumentos. Contudo, nem todos os professores deixaram claro qual a verdadeira finalidade e relevância de tais obras e de que forma elas podem contribuir na formação de leitores. O Professor 01, por exemplo, afirmou durante a entrevista: “Eu acho muito importante, a gente trabalha bastante. A escola tem recebido alguns exemplares. O ano passado recebeu o Dom Casmurro e recebeu Senhora; é um incentivo também do Estado e a gente trabalha. (...) E foram realmente clássicos, eu acho que todo mundo tem que ter uma noção, tem que saber o que é.” Já o Professor 06 foi um pouco mais além, ressaltando, inclusive, que 39 conhecer os clássicos significa ter argumentos para comparar e julgar as novas tendências e saber distinguir aquilo que tem valor literário daquilo que não tem: “Super importantes também. Porque se ele lê o clássico ele conhece a tendência; conhece o escritor com determinadas características da escola literária; as características pessoais, e pode comparar com a literatura que a gente tem hoje pra saber o que é bom e que não é”. O Professor 03 vê nas obras canônicas uma forma de conhecer e reviver o passado por meio da leitura; é uma forma de se manter informado acerca de tudo o que acontece e aconteceu no mundo. “(...) falando de grandes autores eu acho que tu vais ajudar mais ainda, porque você estará praticando a leitura e ao mesmo tempo você estará descobrindo um mundo diferente, sabendo de questões passadas, que Machado de Assis, querendo ou não, escrevia sobre coisas passadas que aconteceram naquela época em que ele vivia. (...) Através de um grande autor, de um grande livro, de uma grande obra, você pode saber o que aconteceu há tempos atrás, como as pessoas se comportavam. Fazendo a análise literária da obra, você consegue descobrir várias coisas. Eu acho que é muito interessante e os alunos precisam ter essa noção (...)”. Compactua da mesma opinião o Professor 04: “Acredito também que seja importante, eles também tem que saber. Eu sempre digo pra eles: Vocês têm que buscar os clássicos pra entender o presente. Tem que voltar ao passado pra procurar compreender o presente, (...). Pra saber por que o presente hoje está nessa situação.”. Analisando a fala dos professores 03 e 04, quando afirmam que trabalhar o cânone significa tentar “compreender o passado”, podemos trazer à tona as palavras de Neto (2008) acerca da preocupação com relação a essa mesma opinião apresentada por professores em sua pesquisa com relação às obras canônicas. Pois tal posição nos leva a pensar que não existam obras clássicas contemporâneas: (...) pensamos o que pode estar impregnado na concepção de clássicos pelos professores quando os determinam como sendo obras do passado. Será pelo motivo de uma obra contemporânea ainda não ter criado vinculo cultural por isso não mereça ser chamada de clássico? Que critérios seriam os estabelecidos para se distinguir um clássico de um não-clássico? Os critérios poderiam ser muitos, mas nunca objetivos e únicos, atendendo a princípios da era contemporânea, caracterizada por seu forte pragmatismo e fragmentação. (p. 91) 40 Porém o que mais chamou a nossa atenção foi à opinião do professore 02, pois ele questiona o fato de as bibliotecas escolares “privilegiarem” alguns clássicos em detrimento de outros, uma vez que as obras encontradas nas escolas são geralmente as mesmas, não há uma diversidade de textos para serem trabalhados com os alunos. São sempre as mesmas obras. (...) Eu gosto dos clássicos, mas eu acho que não há porquê você privilegiar alguns modelos e esquecer outros. Eu estou encontrando um problema agora que eu fui trabalhar com Alencar, com as minhas segundas séries da manhã, e a gente só encontra material sobre Iracema; sempre os mesmos. Então assim, Diva a gente não encontrou, As Minas de Prata, a gente não encontrou. Então eu que tenho que estar fornecendo esses outros livros pra eles. (...) o que acontece é que repete muito uma obra e desprivilegia as outras que são tão importantes quanto. Analisando a fala dos entrevistados, podemos perceber que embora muito já se tenha questionado acerca do espaço cada vez mais reduzido que o cânone literário vem ocupando nas escolas, no que se refere aos professores que participaram da pesquisa, podemos verificar que eles ainda continuam trabalhando as obras canônicas com seus alunos muito mais do que as obras contemporâneas. Uns porque acreditam na importância de trabalhar tais obras, outros porque são livros que geralmente caem nos vestibulares e os alunos, principalmente os do terceiro ano, precisam saber (conforme veremos no item posterior) e, outros ainda, pelo simples fato dessas obras fazerem parte da história literária e estarem no planejamento escolar. 4.5 Como autores e obras canônicas vêm sendo abordados em sala de aula Como vimos no item anterior os autores e as obras canônicas ainda ocupam um espaço significativo nas escolas e nas aulas dos professores os quais entrevistamos. Porém neste tópico apresentaremos a forma como esses clássicos vêm sendo discutidos em sala de aula: se por meio de leituras integrais, resumos, adaptações, etc. Com relação ao trabalho com obras integrais, pudemos observar que dos 06 professores entrevistados apenas 01 afirmou que trabalha somente com resumos em virtude do tempo, embora reconheça que os alunos perdem muito com esse tipo 41 de leitura: “Olha o que é possível fazer, infelizmente é o resumo, é você pegar um capítulo pra usar a linguagem, o estilo. Na íntegra, não tem como trabalhar. É bem difícil. E isso perde muito do trabalho. (...) Não é o ideal.”. (PROFESSOR 02) O professor 05, por exemplo, ao ser questionado se os alunos faziam as leituras integrais das obras ele simplesmente afirmou com a cabeça que sim e respondeu: “_ Porque eu faço prova”. Essa resposta deixa claro que para se conseguir o resultado esperado: a leitura integral, infelizmente precisa-se ter algum tipo de cobrança. Porém uma observação que não se pode deixar passar em branco, é que as obras trabalhadas por esse professor são selecionadas de um ano para o outro. Então ao pegar a lista dos materiais para o ano seguinte, os alunos já levam consigo o nome dos livros que deverão ler o que significa mais tempo para a realização da leitura. Quanto ao professor 01 utilizou como base para sua resposta o ano anterior em que a escola recebeu do Governo estadual, por intermédio da Gerencia Regional de Educação, 04 obras clássicas para serem distribuídas aos alunos. Desta vez, segundo ele, embora nem todos os alunos tenham lido todas as obras, uma, pelo menos deveria ser integral, pois seria cobrada em forma de seminário. Quando a gente recebeu essa coletânea, foram três livros, né, o outro foi um de poema do Cruz e Souza. Quando a gente recebeu esses livros, como eu tinha que trabalhar e o espaço de tempo era curto, Eu resolvi fazer assim: dividi a sala em três equipes e cada equipe pegou um livro daqueles para ler, porque eu queria que todos soubessem o conteúdo dos três livros até o final do ano e que desse tempo. Então a gente fez tipo um seminário e um grupo expôs o que tratava o seu livro, o outro grupo falou o que tratava o seu livro e assim todo mundo interagiu e (...) pode acompanhar a história dos três livros. (PROFESSOR 01) Já os demais professores colocaram que eles pedem aos alunos que leiam o livro na íntegra, mas têm consciência que nem sempre é o que eles geralmente fazem, e também admitem que às vezes se torna complicado, em virtude do tempo, conseguir discutir todas as obras de maneira completa. Geralmente é livro todo, só que esse é um trabalho que se torna complicado, pelo tempo, pelo intervalo que a gente tem entre uma aula e outra, então muitas vezes a gente acaba só fazendo em equipe. Dividindo equipe, (...) a equipe debate entre si pra depois apresentar para o grande grupo. (PROFESOR 03) “Eu peço pra eles lerem as obras integrais, os livros na biblioteca eu 42 procuro os livros integrais, porém tem aqueles alunos que procuram ler fragmentos” (PROFESSOR 04). “O que é pedido é a leitura integral, às vezes, claro que a gente sabe que eles vão acabar lendo o resumo, mas ao menos um contato com a obra eles tem. O pedido é integral, com certeza” (PROFESSOR 06). Observando a fala dos professores podemos perceber que na grande maioria dos casos tem prevalecido o trabalho com resumos e, mais uma vez cabenos questionar se realmente isso é o suficiente para que o aluno tenha um real contato com a obra, haja vista que a interpretação da mesma mediante esse tipo de metodologia fica completamente comprometida. No que se refere ao uso de adaptações de obras clássicas, podemos perceber que alguns dos professores ainda não têm muito claro a idéia do que seria uma adaptação textual, e no momento em que foram questionados, tivemos que explicar primeiramente o que seria uma adaptação para que assim eles pudessem nos responder se utilizam ou não esse tipo de texto. Esse fato pode ser comprovado através da analise da resposta dos professores 01, 02 e 03, que trabalham na mesma escola, porém apresentaram as seguintes colocações: “Não, e a nossa biblioteca nem dispõe desse tipo de leitura, só tem mesmo a clássica, a original mesmo” (PROFESSOR 01). Geralmente é o que nós temos. É a adaptação. Geralmente é o que vem para as escolas. Por exemplo, aquelas séries Reencontro, eles fazem adaptação, não é a obra mesmo. Só que perde aquilo que você quer apresentar, então... É o que a gente tem, mas eu procuro selecionar aquelas adaptações que respeitem a linguagem. (PROFESSOR 02) (...) Para ser bem sincera a gente não teve acesso. O Ensino Médio vai recebendo as coisas de uma forma mais lenta do que no Ensino Fundamental, (...) Eu geralmente trabalho com os originais, mesmo porque a gente não tem muito acesso ainda a isso. (PROFESSOR 03) Como, com base nas respostas apresentadas, não foi possível saber se as obras que existiam na biblioteca da escola eram adaptações ou não, conversamos com o professor responsável pela mesma, e que inclusive é professor de Língua Portuguesa e Literatura, o qual afirmou que as obras realmente são adaptações não textos originais. Além dessa contradição, podemos perceber ainda na resposta do professor 02, que apesar de ele trabalhar com esse tipo de obras, ele 43 tem consciência de que há uma perda muito grande com relação às características da linguagem própria de cada autor. Já os professores 04, 05 e 06 afirmaram com todas as letras que não trabalham com adaptações, apenas com obras originais, contudo não justificaram suas respostas. No que se refere ao uso do livro didático, podemos ressaltar que todos os professores utilizam esse material na elaboração e explanação de suas aulas, mas afirmaram que não se atem apenas ao livro, eles procuram outros recursos para complementar suas explicações, como: DVD, apostilas, músicas, filmes, etc. A gente segue a apostila que o colégio adota, quer dizer, que esse ano até nem tem mais tanto adotado, mas tem o livro didático, a gente segue e eu tenho também uns materiais de DVD que são muito bons, especiais falando de literatura, então eu costumo fazer uma leitura do que está no livro, colocar a minha posição, explicar conforme a gente sabe que aconteceu e depois terminar mostrando o DVD pra confirmar até o que eu já tinha comentado. (PROFESSOR 01) Aqui nós temos um livro didático, mas eles tem bem pouca atividade, ele não traz análise de texto, nada muito aprofundado. Dependendo do conteúdo eu ainda tenho os documentários muito bons; de vídeo. (PROFESSOR 05) Conforme pudemos perceber, todos os professores procuram de diversas maneiras alcançarem seus objetivos, cada um da sua maneira, com a sua metodologia de ensino. Porém teve um fator que nos chamou muito a atenção no momento da entrevista. A princípio nos pareceu que o antigo método de didatização da literatura tivesse ficado de lado, contudo, no momento que pedimos para que os professores falassem um pouco sobre sua prática de ensino, podemos verificar que alguns deles ainda trabalham a literatura separando-a em períodos, estilo, escolas literárias, etc. Primeiramente eu contextualizo, a gente faz um debate sobre as escolas literárias, aquilo que eu vou trabalhar, eu escolho e escola e trabalho. Depois a gente vai estudando alguns autores... Eu já tenho as obras que eu quero que leiam e geralmente os trabalhos que eles me apresentam é tudo por forma de seminários. Eles lêem os livros, eles têm que procurar as características da escola literária na obra, contar a história. (PROFESSOR 04) A gente trabalha a parte teórica, mesmo. Explica, por exemplo, cada escola literária, as suas tendências, de repente se houver uma possibilidade eu mostro um filme; (...) pra eles entenderem o contexto histórico, depois parte pra os autores. PROFESSOR 06 44 Cabe ressaltar também que em virtude do fato de que o professor tem apenas 03 aulas semanais para trabalhar gramática e literatura, realmente fica difícil de conseguir realizar um trabalho de qualidade e, acrescido a esse fator temos ainda, conforme já vimos anteriormente, a preocupação com o vestibular, e isso tem levado alguns professores a deixarem a leitura um pouco de lado para trabalhar com essas questões. (...) eu procuro fazer questões de vestibular que eu trago; coisas que caem também em vestibular. Eu costumo cobrar dessa forma porque eu acredito que a avaliação exatamente é meio complicado fazer porque é muito abrangente, é muita coisa e então eu costumo sempre trazer assim, questõezinhas de vestibular que eu pesquiso, às vezes com consulta, as vezes em dupla sem consulta, pra medir o que eles aprenderam. Às vezes eu cobro algumas questões dissertativas sobre o que eu expliquei. (PROFESSOR 01) Finalizando este tópico gostaríamos de trazer à tona a fala dos Professores 02 e 03, que procuraram responder de maneira mais subjetiva, e até, talvez como forma de desabafo, expuseram suas limitações e as dificuldades que encontram ao tentar levar o aluno à prática da leitura, não apenas das obras clássicas, mas de todo e qualquer tipo de leitura. Eu tento fazê-la de forma atrativa, eu tento passar o amor que eu tenho pra eles, mas o tempo não me permite e o público não tem muito interesse. Tem que pedir, pelo amor de Deus pra eles ouvirem, tu pegas às vezes um capítulo, eles tem que ler às vezes em casa porque se não eles não tem atenção. Eu não sei se de repente sou eu que não consigo desenvolver, tornar criativo, sabe, mas é difícil. E eu vejo também que tem que se mudar muito. (...) Eu acho que teria que ser isso sabe, mais tempo pra eles, eles teriam que ler, a gente teria que ter aquela leitura coletiva. (...) A gente não conseguiu mudar essa idéia de que o ensino de língua ele é inteiro, ele não é partido. Então eles pensam assim, que a gramática é importante, Literatura não é importante, eles não conseguem perceber que a gramática está ai e a escrita, que é o que eu pego bastante, porque eu trabalho com reescritura, então é mais difícil ainda, porque se não lê, não tem como escrever, finalizar o pensamento. (...) Não há a escrita sem a leitura; andam juntas e isso você pode procurar materiais, textos, artigos na Internet, vocês vão encontrar os dois juntos, um pressupõe o outro. (PROFESSOR 02) Eu acho que eu ainda estou numa fase de experimentação; eu ainda tenho pouca experiência na área, mas eu sou uma pessoa que eu não me contento com pouca coisa, eu sempre procuro alguma coisa diferente, (...) eu vejo o lado do aluno. (...) eu tento buscar artifícios, materiais didáticos que eu consiga despertar neles o gosto pela leitura, porque é muito difícil, hoje em dia os alunos tão muito... Ele não se interessa por nada, está demais. O ensino se a gente não der uma reviravolta, está muito complicado. (...) eu procuro coisas novas. (...) Eu procuro sempre despertar neles o gosto, tentar passar com uma linguagem mais fácil, de repente lá no livro didático está muito rebuscado, está muito complicado, eu tento passar 45 pra uma linguagem mais coloquial, (...) mais acessível, que eles consigam compreender melhor, sempre fazendo um link com a realidade (...). (PROFESSOR 03) Como podemos perceber, é bastante visível a insatisfação dos professores com relação ao ensino de literatura. Insatisfação essa que, segundo eles, está relacionada à falta de tempo para se dar uma boa aula; ao desinteresse dos alunos com relação à leitura e à vontade de aprender; a velha concepção e prática de fragmentação do conhecimento (gramática, interpretação, e com um espaço bem menos significativo: a literatura). Esses fatores com certeza têm influenciado muito na qualidade do ensino de literatura e posto em risco todo o processo de letramento literário e apropriação da leitura como forma de conhecimento e enriquecimento pessoal e profissional. 4.6 O “apagamento” do cânone: que fatores têm contribuído para esse fenômeno? Para falar sobre essa questão, gostaríamos primeiramente de ressaltar que, embora o cânone tenha sofrido certo “apagamento”, os professores, ainda continuam privilegiando o trabalho com as obras canônicas. O que significa dizer que esses autores ainda se mantêm vivos e atuantes nas escolas. Percebe-se, no entanto que o distanciamento acontece por parte dos alunos e, geralmente por dois motivos maiores: ou porque eles não gostam de ler (nenhum tipo de texto), ou porque preferem as obras contemporâneas em virtude da linguagem mais acessiva, e dos temas, que por sua vez estão mais ligados à atualidade. Conforme podemos verificar na fala do Professor 02 e 04: “Se essa adaptação altera a linguagem, (...) eles preferem porque linguagem está mais próxima deles” (PROFESSOR 02). “Geralmente eles têm preferência nos livros que são atuais, tanto pelo vocabulário; o contexto também é outro” (PROFESSOR 04). Contudo, há escolas, como é o caso da escola C, em que o professor encontra alunos que segundo ele preferem os clássicos, e afirma que justamente aqueles alunos que não gostam de ler é que acabam preferindo os livros mais atuais. 46 Eu tenho alunos que adoraram ler Macunaíma, ficaram apaixonados de ler a visão do autor, porque já tem uma visão a mais, justamente porque é um livro complicado; bem complicado, e tem gente que adorou. Como eu também tenho alunos que não gostam de ler, então preferem A Cabana porque é uma leitura bem mais fácil, bem mais rápida. Então varia muito. (PROFESSORA 05) Cabe abrir um parêntese aqui para comentar que, segundo essa mesma professora, em virtude do trabalho que ela vem realizando com a questão da leitura, hoje os alunos lêem muito mais do que na época em que ela começou a trabalhar nessa escola. Porém ficou no ar uma dúvida se isso realmente acontece porque os alunos desenvolveram o gosto pela leitura ou se pela forma com que ela avalia e cobra essas leituras: No primeiro ano aqui tu não tens noção o trabalho que era, dava vontade de chorar. Hoje eles compram livros; (...) Eles não tiram nem xerox. (...) Eles vão pra Internet compram em tantas pessoas, não pagam o frete e então eles discutem, eles vão atrás, eles querem saber. Até hoje eu falei de uma revista do ENEM e eles já perguntaram: – onde é que tem pra comprar, eu quero ver. Só porque eu sou assim (ela fez o símbolo da cruz). Eu sou a que mais reprova, a mais criticada, a que eles tem medo. Eu dei um trabalho extra-classe agora, eu disse que quem não quiser fazer não faz, mas eles vão fazer. Eles sabem que cada décimo é muito importante pra eles conquistarem. Eu faço eles valorizarem cada décimo. Só porque o processo levou muitos anos pra chegar aqui. (PROFESSOR 05) Outro caso que também nos chamou a atenção foi o da escola E, em que o professor afirmou que os alunos lêem os clássicos e gostam de ler tais obras, e também fez a seguinte comparação entre os alunos dessa escola e os da escola B, haja vista que ele atua nas duas escolas: Eu percebo assim: lá eles têm bastante contato com a leitura, os alunos são muito críticos, participativos, eles têm um olhar diferenciado para as coisas que acontecem no mundo, eles têm muito mais maturidade do que os alunos daqui. Eles têm facilidade pra interpretar textos, e aqui eles não têm. Até a maneira que eu trabalho lá e aqui é diferenciada porque os alunos daqui eles não tem o mesmo... É outra realidade, não é o mesmo desempenho, a nossa realidade aqui é outra. (...) eu acho que a diversão deles é estar lendo. A escola pra eles é um ambiente legal, eles se sentem bem na escola, eles não estão presente na escola só pra assistir a aula, todos os eventos que têm na escola os alunos estão presentes. É diferente. Como podemos perceber a leitura é um quesito essencial para o aprimoramento do educando e o torna muito mais crítico, participativo e atuante na sociedade. Casos como o dessa escola, mediante o depoimento dos demais professores, nos parece um tanto inusitado, raro (infelizmente). E, segundo o professor, talvez esse “fenômeno” acontece pelo fato de essa Unidade Escolar estar 47 localizada em um município do interior, com poucas opções de lazer, o que levaria esses alunos a se aproximarem mais do universo literário. Pode ser que realmente esse seja um dos motivos, mas pressupõe-se – embora esse fato só poderá ser comprovado mediante novas investigações - que esse resultado seja fruto de um trabalho desenvolvido ao longo dos anos e que, com certeza, teve inicio nas primeiras séries do Ensino Fundamental. Retomando a questão do apagamento do cânone frente ao surgimento de novas Literaturas, seria importante ressaltarmos, conforme já falamos anteriormente, que esse tipo de texto também tem despertado a curiosidade dos professores. A prova disso é que dos 06 professores entrevistados, 05 deles já leram ou lêem os livros contemporâneos que estão em alta na mídia, livros de autoajuda, de caráter religioso, etc. E essa prática segundo estudos e pesquisas realizadas, não se resume apenas aos professores que entrevistamos. De acordo com SILVA (2009) em uma pesquisa realizada com professores que participaram dos cursos “Ler para Aprender” da Faculdade de Educação Grupo ALLE - Alfabetização, Leitura e Escrita, de São Paulo, em 2004 e 2005 verificou-se que: Os textos religiosos aparecem em hierarquia superior aos textos de literatura, técnico-profissionais e enciclopédias, dando parecer que no âmbito do magistério paulista a fé está, atualmente, na frente da episteme. O fenômeno da espiritualidade mostrou-se intensamente e ostensivamente presente no rol dos hábitos de leitura de professores, permeando várias respostas analisadas. (p. 33) Finalizando a análise gostaríamos de salientar que tão preocupante quanto o “apagamento” do cânone - que de acordo com a fala dos professores que entrevistamos não se mostrou tão acentuado – é a falta de interesse dos alunos pela leitura. E isso acaba prejudicando muito o trabalho do professor do ensino médio que precisa dar conta de todo o conteúdo programático e trabalhar as obras literárias em tempo recorde. Gostaríamos de afirmar ainda que não devemos nos preocupar apenas em formar alunos leitores, mas que nós, enquanto professores também venhamos a ler mais, nos aprofundando mais neste universo, pois como afirma SILVA (2009), “O cerne do desenvolvimento da identidade de um professor é, sem dúvida, a leitura. (...) Professor, sujeito que lê, e leitura, conduta profissional, são termos indicotomizáveis – um nó que não se pode nem se deve desatar.”. 48 5 CONCLUSÃO A leitura é um exercício de generosidade; e aquilo que o escritor pede ao leitor não é a aplicação de uma liberdade abstrata, mas a doação de toda a sua pessoa, com suas paixões, suas prevenções, suas simpatias, seu temperamento sexual, sua escala de valores. Somente essa pessoa se entregará com generosidade; a liberdade atravessa de lado a lado e vem transformar as massas mais obscuras da sua sensibilidade. (Paul Sartre) Concluir um trabalho como este se torna de certa forma complicado, uma vez que em se tratando de pesquisa nada está acabado e há sempre uma porta aberta para que novos resultados e observações possam ser acrescentados. Contudo, analisando o objetivo que nos propusemos a alcançar no início desta pesquisa, podemos tecer algumas reflexões contrapondo as idéias e pensamentos dos autores, cujas teorias serviram de fundamentação teórica para este trabalho, com o resultado obtido nas entrevistas que realizamos com os professores. Antes, porém, gostaríamos de ressaltar que durante as conversas que tivemos com os entrevistados alguns pontos se mostraram negativos e de certa forma prejudiciais ao andamento da pesquisa. O maior dos nossos problemas refere-se ao tempo disponibilizado pelos educadores, pois excetuando uma das entrevistas, as demais falas tiveram que ser gravadas, como já comentamos anteriormente, nas escolas e durante as horas de atividades dos mesmos, pois todos eles lecionavam nos três períodos e a maioria em mais de uma Unidade Escolar. Esse imprevisto não nos permitiu, em alguns casos, aprofundar mais o diálogo, de modo que pudéssemos colher mais informações acerca do objeto de estudo e das questões pertinentes ao problema. Entretanto, apesar dos impasses que tivemos que enfrentar, esperamos que os resultados obtidos e as reflexões aqui levantadas possam agregar-se a outras pesquisas e principalmente contribuir para ampliar a visão dos professores acerca da importância da Literatura, e, consequentemente, das obras literárias no processo de ensino-aprendizagem. Há de se ressaltar ainda que, mais do que analisarmos as mudanças pelas quais o ensino de literatura e, paralelo a ele, o cânone literário, vem sofrendo ao longo da história, esses estudos nos permitiram, sobretudo, repensarmos nossa concepção acerca dessa questão e, principalmente sobre a importância que a leitura exerce na vida de professores e alunos. 49 Relembramos também que as considerações extraídas da pesquisa basearam-se principalmente em quatro grandes eixos: o professor e as mudanças no mundo literário; o cânone na voz dos professores; como autores e obras canônicas vêm sendo abordados em sala de aula; e o “apagamento” do cânone: que fatores têm contribuído para esse fenômeno? No que se refere ao primeiro item podemos dizer, com base nos resultados obtidos, que as mudanças no mundo literário vêm acontecendo gradativamente e seus reflexos aos poucos vem sendo observados pelos professores, que por sua vez estão tendo que encontrar alternativas, uns mais, outros menos, para adequarem-se a tais mudanças. Contudo, seria importante frisarmos que a maior de todas elas refere-se ao surgimento de novas tendências literárias do mundo pós-moderno, com suas preocupações nada estéticas, e que tem logrado êxito entre alunos e, porque não dizer, entre alguns professores também, pois como afirmou uma das entrevistadas, esses livros ajudaram a despertar em alguns alunos o interesse e o gosto pela leitura. Porém, há de se ressaltar, que apesar de tais tendências terem contribuído para aumentar o índice de leitores, nossas leituras não podem se limitar a esse nível de texto, pois para nos tornarmos pessoas críticas e capazes de distinguir aquilo que tem valor literário daquilo que não têm, precisamos conhecer além dessas obras, àquelas que fazem parte da nossa “herança cultural” e muito tem contribuído para a formação de leitores com experiência literária e criticidade para atuar na sociedade na qual estão inseridos. Quanto ao segundo item, diríamos que as obras canônicas, pelo menos na opinião dos educadores, ainda continuam tendo valor e importância no processo educacional dos alunos e, muito mais do que imaginávamos. Dizemos isso porque a maioria dos entrevistados faz parte de uma nova geração de professores, e como as mudanças se tornaram mais acentuadas nessas últimas décadas, pressupúnhamos que as obras contemporâneas que ainda não figuram na lista dos cânones, mas que estão em alta na mídia, estivessem mais presentes no planejamento de tais professores. Porém, analisando a forma com que tais obras vêm sendo abordadas em sala – terceiro item – percebemos que varia muito de professor para professor, mas são trabalhadas, basicamente, por meio de resumos (principalmente os apresentados nos livros didáticos), adaptações e às vezes por meio da leitura 50 integral da obra. Dentre esses itens, o mais usado pelos alunos, ainda é o resumo, porque é mais fácil para eles lerem, principalmente, porque o espaço de tempo destinado ao estudo literário é muito curto. Essa prática, em contrapartida, prejudica o aprimoramento da leitura e coloca em risco a experiência da leitura literária, base sobre a qual se constrói a formação de leitor desse gênero. No que se refere ao último item - o “apagamento” do cânone: que fatores têm contribuído para esse fenômeno? – constatou-se que as maiores responsáveis por esse “apagamento”, como vimos no item anterior, tem sido as obras contemporâneas ligadas à cultura de massa e adaptadas para o cinema e televisão, ou ainda os livros de autoajuda que tem batido recordes de venda. Entretanto, seria importante ressaltar que um dos principais problemas enfrentados pelos professores com relação ao trabalho com obras canônicas refere-se, segundo eles, exatamente a aceitação dos alunos pelas leituras de tais obras, pois a grande maioria deles lê apenas porque são obrigados, não por prazer. Esse fator tem nos preocupado muito, pois diante da política educacional na qual estamos inseridos, os alunos podem ser os mais prejudicados de toda essa história. Desta forma podemos dizer, que trabalhar a literatura durante o Ensino Médio tem sido um desafio para os professores não apenas porque mudanças vêm ocorrendo no mundo literário, mas também e, principalmente porque segundo eles, estão encontrando dificuldade em introduzir a leitura no cotidiano escolar dos alunos visando o verdadeiro letramento literário que permite ao aluno ampliar sua visão com base no que lê nas entrelinhas de cada texto. E um dos principais motivos desse impasse tem sido a falta de tempo para se trabalhar a leitura em sala de aula, pois como já vimos anteriormente, o professor tem apenas três aulas semanais para “dar conta” de todo o conteúdo programático, sem contar que, segundo eles, são poucos os alunos que chegam ao ensino médio tendo o hábito da leitura, o que dificulta ainda mais o trabalho dos mesmos. Apesar disso, pensamos que se faz necessário que o professor reconheça que ele só será capaz de ajudar a formar um aluno leitor se ele, acima de tudo for um professor leitor, e mais do que isso, que ele saiba que o aprendizado se dá através da troca de experiência, pois como afirma GUEDES (2006, p. 71) “Ensinar a ler, tarefa da escola, do professor, é promover um encontro de leituras: a do aluno produz um sentido; a do professor produz outro, e ambas são indispensáveis para que se dê o diálogo pedagógico (...)”. 51 Há de se acrescentar ainda que a realização desta monografia foi um desafio para nós, pois assim como os professores entrevistados, nós também fazemos parte do quadro do magistério e acompanhamos todas as angústias pelas quais os educadores vêm passando com relação ao processo de ensinoaprendizagem dos alunos e a tentativa - pelo menos da grande maioria deles - de realizar um trabalho eficaz que possa atender às necessidades escolares. Tal fator exigiu, em alguns momentos, maior cuidado para não assumirmos um posicionamento que viesse por em risco a credibilidade da pesquisa. Finalizando, gostaríamos de ressaltar que este é sem dúvida um campo muito amplo que nos permite alçar vôos cada vez mais altos em busca de novos aprendizados e respostas para as indagações que surgem todos os dias, principalmente no que se refere às questões ligadas à linguagem e, neste trabalho vimos apenas alguns pontos significativos com relação a essa temática. Contrapor a opinião dos alunos com a dos professores com relação à importância do cânone e consequentemente da leitura literária, por exemplo, nos parece bastante interessante; além é claro da possibilidade de ampliar o número de corpus da pesquisa com a finalidade de encontrar, quem sabe, outros resultados, ou então reforçar as conclusões nas quais chegamos mediante a análise feita com base nos resultados. 52 REFERÊNCIAS AZEVEDO, Ricardo. Cultura Popular, literatura e padrões culturais. [2009]. Disponível em: <http://www.ricardoazevedo.com.br/Artigo%20Cultura%20popular%20literatura%20e %20padr%C3%B5es%20Site.htm>. Acesso em 24 jun. 2009. BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. V 1. Linguagens Códigos e suas Tecnologias. Brasília. MEC/SED, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_01_internet.pdf>. Acesso em 24 jun. 2009. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. – Brasília. MEC/SEF, 1998. 174 p. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a 4ª) – Brasília. MEC/SEF, 1997. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclo do Ensino Fundamental – Brasília. MEC/SEF, 1997. ______. PCN Ensino Médio, Parte II. Brasília. MEC/SEF, 2000. ______. PCN+ Ensino Médio: Orientações Educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília. MEC/SEF, 2002. ______. PCNEM Ensino Médio: Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília. MEC/SEF, 1999. COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006. DUARTE, Márcia Nunes; WERNERCK, Leonor. A Literatura e o Ensino de Literatura para o Público Juvenil. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) FIDELIS, Ana Cláudia e Silva. Cânone Literário e Livro Didático: Mediações. 2005. Campinas. Anais... Campinas: Uncamp, 2005. Disponível em: <http://www.alb.com.br/anais15/Sem12/anafidelis.htm>. Acesso em 24 jun. 2009. FRITZEN, Celdon. O lugar do Cânone no Letramento Literário. GT: alfabetização, Leitura e Escrita. 2007. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT10-3679--Int.pdf>. Acesso em 15 dez. 2008. GUEDES, Paulo Coimbra. Uma nova identidade para uma nova tarefa. In GUEDES, Paulo Coimbra. A formação do professor de Português: que língua vamos ensinar? São Paulo: Parábola Editorial, 2006. 53 MALARD, Letícia. Ensino e Literatura no 2º grau: Problemas e perspectivas. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1985. NETO, Alaim Souza. Formação do Leitor e o Cânone Literário: relação entre as Orientações Curriculares e as práticas docentes. 2008. 115 f. Monografia (Pósgraduação stricto sensu em educação – PPGE) - Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Criciúma, SC, 2008. Disponível em: <http://www.bib.unesc.net/biblioteca/sumario/00003C/00003C91.pdf>. Acesso em 15 dez. 2008. PACHECO, Patrícia da Silva. A Linguagem Literária: Sua Especificidade e Seu Papel. In SANTOS, Maria Aparecida Paiva Soares dos. Democratizando a Leitura: pesquisas e práticas/ Aparecida Paiva...[et al.] (org.). – Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2004. PERRONE-MOISES, Leyla. A Modernidade em Ruínas. Altas Literaturas: escolha e valor na obra crítica de escritores modernos. 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São Paulo: Contexto, 1988. 54 APÊNDICE 55 Apêndice 1: Questionário para a realização da entrevista com os professores TIPO DE QUESTIONÁRIO – Semi-estruturado Elaboração: Karina Rebelo Rodrigues QUESTIONÁRIO DADOS DO ENTREVISTADO: Nome: ______________________________________________________________ Cidade: _____________________________________________________________ Unidade Escolar em que atua: ___________________________________________ Há quanto tempo está na função de professor: ______________________________ Formação do Entrevistado: _____________________________________________ Curso de Pós-Graduação: ______________________________________________ Curso de Mestrado? Onde? Quando? Em que?: _____________________________ ___________________________________________________________________ 1. Como você, enquanto professor definiria a função do ensino de literatura durante o ensino médio na escola? Você acredita na sua importância? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2. Nos dias de hoje, o que você pensa sobre a leitura dos clássicos literários no ensino de literatura durante o ensino médio? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3. Seus alunos ainda fazem este tipo de leitura? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4. As leituras são integrais ou apenas fragmentos? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5. E essa já é uma forma de avaliação? Ou tu tens outros métodos? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 56 6. Como você costuma selecionar as obras que serão trabalhadas com seus alunos? ___________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 7. Eles costumam participar dessa seleção? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 8. Nas suas seleções você utiliza adaptações de obras clássicas para levar o aluno ao conhecimento de algum autor canônico? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 9. Que tipo de materiais você utiliza para o exercício de sua função? Faz uso de livro didático? Utiliza apostilas? Filmes? Letras de música? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 10. Qual a sua opinião sobre os autores e as obras contemporâneas? Você já trabalhou com seus alunos? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 11. Que tipo de textos ou obras você costuma ler fora da escola: apenas clássicos ou faz uso de outros tipos de leitura? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 12. Em sua opinião, os alunos gostam de ler? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 13. O que eles costumam ler? Eles comentam sobre os tipos de leitura? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 14. Fale um pouco sobre sua prática de ensino de literatura na escola. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 57 Apêndice 2: Modelo de autorização assinada pelos professores AUTORIZAÇÃO para ENTREVISTA Eu, ________________________________________________________, concordo em participar da pesquisa proposta por Karina Rebelo Rodrigues sobre A relação entre o cânone literário e o ensino de literatura e sei que posso desistir de participar a qualquer momento, sem problema algum. Permito que usem na pesquisa e mantenham guardadas na UNESC as minhas falas como parte do acervo mantido pelo Programa de Pós-graduação em educação. Por ser verdade, firmo o presente. Criciúma, ________/________/________ _________________________________________ (Assinatura do Professor Entrevistado)