Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders
Formação de Professores: um diálogo com Rousseau e
Foucault
Eixo temático 2: Formação de Professores e Cultura Digital
Vicentina Oliveira Santos Lima1
A grande importância do pensamento de Rousseau na figura do Emílio e do
pensamento de Foucault a respeito do professor com Função - Educador contribuem
para a formação de professores no trabalho com a criança e o fazer em sala de aula. Os
grandes desafios da educação moderna requerem novas pesquisas sobre a prática do
professor em especial o professor da educação infantil. As possíveis contribuições que
esses pensadores trouxeram para a formação de professores na atualidade podem
resultar em uma atenção especial à criança em seu desenvolvimento e no processo
ensino-aprendizagem. O movimento Escola Nova como exemplo valoriza as relações
construtivas da infância em seu relacionamento com a natureza de forma a desenvolver
os sentidos, assim como o constante repensar da prática educativa do professor.
Na primeira aproximação, cujos resultados são apresentados neste texto, foram
examinadas obras de Rousseau e Foucault, que escreveram trabalhos especialmente
dedicados ao tema. Do primeiro, temos o “Emílio ou da Educação” e, do segundo,
Foucault e Função - Educador. O pensamento de Foucault interpretado por Carvalho
(2010) no qual Foucault propõe a discussão sobre a função-educador na perspectiva do
déficit pedagógico e a formação subjetiva. O estudo tem como pressuposto a grande
importância do pensamento de Rousseau na figura do preceptor do Emílio e do
professor da educação moderna e as possíveis contribuições que esse pensador do
século XVIII pode ter dado aos pensadores educacionais nos séculos XIX e XX. Nesse
sentido, ao relacionar os princípios pedagógicos de Rousseau e os saberes necessários à
formação do educador de Foucault, observam-se alguns pontos em comum. A
1
Mestranda do Programa- de Pós –Graduação em Educação -Mestrado da Universidade de UberabaUniube- [email protected].
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preocupação com a criança e sua educação natural, o respeito ao seu desenvolvimento
no pensamento de Rousseau, a preocupação com o sujeito e suas particularidades, em
sua singularidade e subjetivação no pensamento de Foucault coloca o aluno em lugar de
centralidade na relação professor aluno como sujeito livre e autônomo em seu processo
de aprendizagem, ao mesmo tempo em que nos permite analisar que o professor precisa
perceber esse sujeito de acordo com as suas necessidades. O pensamento pedagógico de
ambos os autores, apresenta-se relevante para pensarmos as relações ensinoaprendizagem delineando vínculo com a práxis educativa na atualidade, pertinente a
qualquer contexto ou nível de ensino na concepção da formação humana por meio da
realização pessoal.
Pesquisadores como Batista (2010), Cunha (1996), Bertran (2013), entre outros
estudiosos da obra de Rousseau são demarcadores desse artigo. O pensamento de
Foucault aqui representado por Carvalho (2010) e Veiga-Neto (2007). Rousseau foi um
típico filósofo do XVIII, e Foucault do século XX. Rousseau defendia a educação como
uma forma de tornar o homem livre, preparado para viver em sociedade, enquanto que
Foucault considerava que havia uma sociedade constituída nos moldes da modernidade
com mudanças já concretizadas e mudanças em andamento, uma sociedade que
massacra e aliena o sujeito. Foucault problematiza as relações de forças no interior do
Estado capitalista e a função de educador e a sujeição e experiências de subjetividades
ativas na formação humana.
O marco teórico dessa pesquisa encontra base fundante na teoria críticodialética, de acordo com Gamboa (2008) é capaz de atribuir um status específico e um
valor diferenciado à educação na relação com a sociedade, de tal maneira que,
dependendo da conjuntura, a educação pode ser um agente transformador da sociedade.
Ao mesmo tempo em que a sociedade determina os processos educativos, também é
dinamizada pelas ações educativas “libertadoras” ou “transformadoras”. Tais ações
serão tanto mais transformadoras quanto melhor articuladas estejam com outras ações
provenientes de outras formas de organizações sociais (movimentos da sociedade civil,
organizações de classes, partidos políticos etc.), constituindo, dessa forma, uma
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conjuntura favorável às transformações à medida que as correlações de forças apontem
para a mesma direção.
A pesquisa bibliográfica possibilitou a apreensão do conhecimento através das
obras dos autores pesquisados, e a partir de uma reflexão crítica a elaboração de uma
síntese norteadora de uma nova visão de mundo.
Rousseau defendia uma boa educação tendo a criança como sujeito central em
condição de aprender, o sujeito sobre o qual se deve agir, a partir da sua obra “Emílio”
ou da Educação vai contestar a estrutura política, religiosa e pedagógica através de um
novo olhar sobre a criança que irá resultar em um ser humano, educado para viver em
uma sociedade democrática. A parte sistemática de sua observação teve como método
teórico o empirismo, inspirado no naturalismo da educação.
Para Rousseau, o importante é não forçar a criança, em seu desenvolvimento
natural, respeitando as suas necessidades ao mesmo tempo estimulando suas
potencialidades. Na concepção de Rousseau a relação do preceptor com o pupilo a ação
pedagógica está fundamentada em uma base que realça o papel da educação na
formação da criança até que se torne adulto preparado para a convivência coletiva.
Já Michel Foucault (1926-1984) contribui para a formação de professores no
entendimento das relações entre a escola e a sociedade, entre a pedagogia e a
subjetivação moderna, entre os dispositivos disciplinares e as configurações atuais do
controle e da soberania. O professor ao adotar um pensamento crítico em sua prática
docente deverá ultrapassar o limite da racionalidade que está posta ao tratar o sujeito
como um produto resultante de sociedade, buscar adotar uma prática que ultrapasse a
ideologia reinante de um sujeito massificado.
Para a formação de professores, as obras pesquisadas constituem uma base
teórica para a compreensão da infância no cuidado que a criança requer em seu processo
de aprendizagem para que se torne um sujeito adulto capaz de se defender das
armadilhas que descaracterizam o sujeito em função de uma maioria dominadora, cujos
interesses são determinados conforme os aspectos políticos, econômicos e sociais.
O professor é também refém dessas mesmas armadilhas, na medida em que ele
reproduz através de uma relação de poder o controle que lhe é outorgado na função que
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desempenha em sala de aula. Poder esse que emana da função autocrática que ele
desempenha creditado pelo Estado, sempre em uma relação de poder que consiste no
que ensina e no que aprende.
Na função de educador o professor poderá inovar, e romper com essa relação de
poder, ao se colocar na condição de educador que aprende com o educando, para que
essa relação de poder seja mais democrática, mais justa e privilegie o sujeito com sendo
o próprio ator de processo de aprendizagem.
Ao entrelaçar os pensamentos de Rousseau e Foucault, é possível considerar que
o ponto mais importante é que a criança deverá ter uma atenção especial, ou seja, a
educação deve se iniciar na infância pautada em princípios éticos e morais para que se
ela torne um adulto equilibrado, capaz de dirigir a própria vida. Então, quando adulto,
estará preparado para a vida em sociedade sem se deixar manipular pelas forças
externas consideradas por Foucault como sendo heterogêneas, e que exercem um
controle na maneira de ser do indivíduo.
Para além da função de professor ou de preceptor, a formação humana passa
pela educação transformação do sujeito em pleno cidadão, ativo e participante na vida
em uma sociedade democrática.
Palavras –chave : Pensamento Pedagógico; Naturalismo; Formação de
Professores; Rousseau; Foucault.
Referências
BATISTA, Gustavo Araújo. O Naturalismo e o contratualismo em John Locke em
Jean-Jacques Rousseau. Curitiba: CRV, 2010.
BOBBIO, N. Estado, Governo, Sociedade: Para uma teoria geral da política. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1987.
CARVALHO, A. F. Foucault e a Função - Educador. Sujeição e Experiências de
Subjetividades Ativas na Formação Humana. Ijuí: Unijuí, 2010.
CUNHA, L. A. Sociedade, Estado e educação. Notas sobre Rousseau, Bonald e SaintSimon. Revista Brasileira de Educação, n.1, 1996.
FACHIN, O. Fundamentos de Metodologia. Saraiva, São Paulo, 2006.
Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders
GAMBOA, S. S. Pesquisa em educação: métodos e epistemologologias. Chapecó:
Argos, 2008.
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. Tradução Roberto Leal Ferreira. São Paulo:
Martins Fontes, 2004. 3ª ed.
VEIGA-NETO, A. Foucault & a Educação. Belo horizonte, Autêntica, 2007. 2ª ed.
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