CIDADE Panfletagem sem fiscalização Embora irritados, alguns pedestres reconhecem que a atividade oferece trabalho aos desempregados, apesar da sujeira que causa à ruas e calçadas JOÃO PAULO COUTINHO Quem passa pelas ruas do centro da cidade dificilmente vai escapar do assédio dos panfleteiros, que oferecem papéis com propagandas de dentistas populares, cursos de inglês e informática, cartomantes e lojas de celulares. Para muitos pedestres, a abordagem é sinônimo de incômodo e irritação. Mas para os entregadores, o serviço é um bico que ajuda a suprir a renda familiar. O panfleteiro Almiro Fuzário, desempregado há cinco anos, há um mês entrega propaganda de dentistas na Avenida Doutor Lisboa. “As firmas anunciam que estão precisando e a gente vai lá procurar o emprego. Trabalho nas temporadas, das 9h às 17h, e chego a ganhar de R$ 12 a R$ 15 por dia. Esse dinheiro ajuda bastante nas despesas de casa” conta Almiro. A panfletagem nas ruas é uma prática que vem crescendo no município, de forma irregular. Isso porque, apesar de ser necessária uma autorização da Fiscalização Tributária da Prefeitura Municipal, conforme determina a Lei da Publicidade aprovada pelo Legislativo e sancionada pelo prefeito no ano de 2002, muitos comerciantes e prestadores de serviço desconhecem que é preciso obter uma licença e também assumir alguns deveres. “Há mais de três anos faço divulgação de meus serviços na cidade através de panfleto e nunca soube que precisava de licença para isso”, comentou um comerciante que preferiu não se identificar. Segundo o comerciante, ele tem uma equipe de três pessoas que distribuem os folhetos de seus trabalhos nos pontos centrais da cidade. No entanto, eles nunca foram abordados por nenhum tipo de fiscalização. 4 Panfletagem no centro: sujeita a autorização da Prefeitura População se diz solidária com entregadores A professora Jussara Rezende disse que o maior problema da panfletagem no passeio público é a sujeira que a atividade produz nas ruas do centro. “As pessoas pegam esses panfletos, mas depois de ler, jogam no chão”. Na opinião dela, o ideal seria que o município fizesse uma campanha de conscientização para que a população evitasse jogar lixo nas ruas. “Não sou contra o trabalho dessas pessoas, já que com tanto desemprego na cidade, bem ou mal, eles estão tirando um dinheirinho”, observou a professora. “Acredito que esse bico é uma forma de eles conseguirem um dinheiro a mais para a renda, mas os panfleteiros acabam abordando a gente de uma forma muito agressiva. Poucos são aqueles que abordam com educação e respeito”, reclama a vendedora Valéria Santos Cruz. Gilberto Pereira da Silva, que entrega panfletos há quatro meses, disse que nunca teve problemas com os pedestres. “Sempre respeito as pessoas. Não adianta ficar se jogando na frente das pessoas, você não pode obrigá-las a pegar” concluiu Gilberto, que consegue ganhar até R$ 200 por mês com panfletagem. O motorista José Antônio Rodrigues disse que sempre pega os panfletos que lhes são entregues nos semáforos. “É uma forma de ajudá-los a entregar mais rápido. É difícil para eles ficarem o dia todo debaixo desse sol e com esse calor. Se todo mundo pegar, eles podem ir embora mais cedo. Mas é importante lembrar que não adianta pegar o panfleto e jogar no chão ou na rua. Se for pra fazer isso, então não peguem”. “Acho que falta mais divulgação desses critérios”, comentou . O fiscal de receitas da Prefeitura Municipal, Dalmo Fraga, explicou que existe uma tabela de valores para cobrança de distribuição de publicidade impressa no município. “A pessoa que está interessada em fazer panfletagem deve procurar a Prefeitura e preencher um re- querimento pedindo autorização. Após a análise do pedido, nós fornecemos uma guia para que a pessoa vá a uma gráfica e faça a confecção do material”. Dalmo Fraga disse ainda que foi a todas as gráficas e protocolou junto a elas um ofício explicando a necessidade da autorização para a distribuição de panfletos nas ruas da cidade. “Todos os panfletos que são autorizados trazem em seu rodapé o número da autorização, a tiragem e o período de veiculação do material. Os comerciantes que descumprem essa lei podem ter seus panfletos apreendidos e pagar multa de 10 vezes o valor da taxa de autorização, que custa R$ 10 para 10 mil panfletos”, completou. PRIMEIRA PÁGINA, Novembro de 2005