JOÃO PAULO SOUZA QUARESMA
Avaliação de gramíneas do gênero Cynodon submetidas a doses de
nitrogênio
Cuiabá – MT
2009
JOÃO PAULO SOUZA QUARESMA
Avaliação de gramíneas do gênero Cynodon submetidas a doses de
nitrogênio
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciência Animal da Universidade
Federal de Mato Grosso para obtenção do título
de Mestre em Ciência Animal
Área de Concentração: Forragicultura e Pastagens
Orientador: Prof. Dr. Roberto Giolo de Almeida
Co-Orientador: Prof. Dr. Joadil Gonçalves de
Abreu
Cuiabá – MT
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
FICHA CATALOGRÁFICA
Q1a
Quaresma, João Paulo Souza
Avaliação de gramíneas do gênero Cynodon
submetidas a doses de nitrogênio / João Paulo Souza
Quaresma. – 2009.
81p. : il. ; 30 cm.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de
Mato Grosso, Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária, Pós-Graduação em Ciência Animal, Área
de Concentração: Forragicultura e Pastagens, 2009.
“Orientação: Prof. Dr. Roberto Giolo de Almeida”.
“Co-orientação: Prof. Dr. Joadil Gonçalves de
Abreu”.
1. Gramíneas forrageiras. 2. Forrageiras tropicais –
Fenação. 3. Pastagens – Agricultura. 4. Gramíneas forrageiras – Adubação nitrogenada. 5. Capins tropicais –
Ensilagem. 6. Capim Tifton 85. 7. Capim Estrela Africana. I. Título.
CDU – 633.2
Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente
Söhn – CRB-1/931
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
Aluno: João Paulo Souza Quaresma
Título: Avaliação de gramíneas do gênero Cynodon submetidas a doses de
nitrogênio
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Ciência Animal da Universidade Federal de Mato
Grosso para a obtenção do título de Mestre em Ciência
Animal
Aprovado em: 12 de março de 2009.
Banca Examinadora:
__________________________________________
Prof. D.Sc. Roberto Giolo de Almeida (Orientador)
Embrapa Gado de Corte
__________________________________________
Prof. D.Sc. Joadil Gonçalves de Abreu (Co-Orientador)
FAMEV/UFMT
__________________________________________
Prof. D.Sc. Luciano da Silva Cabral
FAMEV/UFMT
__________________________________________
Prof. D.Sc. Marco Antônio de Oliveira
SECITEC/Diamantino-MT
A Deus,
Pela benção da vida e presença constante ao meu lado,
OFEREÇO
Aos meus pais, Alvaniza e José, aos meus queridos
avós,
Maria
e
Manoel
(in
memorian),
pelo
amor
incondicional, apoio e incentivo.
A Joadil Gonçalves de Abrel e Roberto Giolo de
Almeida pela inestimável ajuda apoio e amizade.
A Sandra Rita Bartnik, a minha família e aos meus
amigos, por muitos motivos.
DEDICO
Do mesmo modo que o campo, por mais fértil que seja,
sem cultivo não pode dar frutos, assim é o espírito sem estudo.
Marco Túlio Cícero
AGRADECIMENTOS
A Universidade Federal de Mato Grosso e a Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária que fazem parte da minha vida acadêmica.
A Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural, pela
oportunidade e colaboração na realização deste trabalho.
A FAPEMAT pela bolsa concedida durante a realização do curso.
A Rosane Cláudia Rodrigues e Luciano da Silva Cabral pelos ensinamentos,
amizade, humildade e confiança depositada em mim.
Aos professores: João Caramori, Alexandre, Arlete, Flávio, Rosemary, Joanis e
Luciana pelos ensinamentos, sugestões e colaboração no meu aprendizado.
Aos mestrandos e amigos: André, Inácio, João Roberto, Daniel, Fábio e Rafael pelo
apoio quando eu mais precisei.
Aos alunos da graduação: Monik, Robinho, Ludmila, Tiago, Cabelo, Elizabeth
Cleverton, Fabiano e Rodolfo, porque sem vocês este trabalho não teria sido concluído.
A Douglas e Elaine, amigos da secretaria da Pós-Graduação que sempre me
ajudaram.
Aos amigos moradores da vila marinho: Luca (Luís Carlos), Gaúcho (Cassiano),
Douradinho (Ronaldo), Zé Rainha (Gilson), Roberto Jeferson (Daniel), Paulo Divino, Sr.
Marinho, Macaca, Elaine e Josy, pela companhia.
A todos os amigos e colegas de mestrado: Carla Heloísa, Leandro, Marcos,
Leonardo, Daniel Oliveira, Walter, Bruno, Ronaldo, Cassiano, Luca, Lorenzo, Vivian, Gilson,
Carla, Karla, Rafaela, Laura, Guto, Nelcino, Welton, Júnior, Danillo, Priscila, Flávia, Allison,
Marcelino, Antônio, Giselde, Patrícia, Priscila, Carol, Cláudio, Índia, Robson, Alicio,
Maurício, Crislaine, entre outros, pela amizade e apoio.
A todos que contribuíram de forma direta ou indireta, na realização deste trabalho
RESUMO
QUARESMA, J. P. S. Avaliação de gramíneas do gênero Cynodon submetidas a doses de
nitrogênio. 2009. 81 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal), Faculdade de Agronomia
e Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2009.
Objetivou-se avaliar a influência da adubação nitrogenada sobre a produção de forragem
verde e de feno dos capins Tifton 85 (Cynodon spp.) e Estrela Africana (Cynodon nlemfuensis
var. nlemfuensis) e as características de suas silagens após períodos de pré-emurchecimento.
Os experimentos foram conduzidos no Centro de Pesquisa da Empresa Matogrossense de
Pesquisa, Assistência e Extensão Rural S/A (EMPAER), localizado em Cáceres, MT. Foram
conduzidos dois experimentos buscando avaliar, separadamente, a produção e a composição
químico-bromatológica da forragem verde e do feno dos capins Tifton 85 e Estrela Africana,
quando submetidos a doses de nitrogênio. Os experimentos foram dispostos no delineamento
em blocos completos casualizados com cinco tratamentos (0, 60, 120, 180, 240 kg/ha de N) e
quatro repetições, em parcelas de 4,0 x 5,0 m. O período experimental teve início com o corte
de uniformização da forrageira, em 20/12/2007, finalizando em 18/04/2008. Foram realizados
quatro cortes a intervalos de 30 dias, na altura de 5 cm acima do nível do solo. As doses de N
foram parceladas em quatro aplicações, uma após cada corte, sob a forma de uréia, em
cobertura. No último corte, em cada parcela, foi retirada uma amostra adicional para se avaliar
a produção e a composição química do feno. Quanto à forragem verde do capim-tifton 85,
para cada kg/ha de N aplicado, observou-se aumento na produção de massa seca total de
22,67 kg/ha, na produção de massa seca de lâmina foliar verde de 11,37 kg/ha, na altura do
relvado de 0,052 cm, no teor de proteína bruta da forragem de 0,0095 unidade percentual
(u.p.), e diminuição no teor de FDN de 0,0142 u.p., sendo que o teor de FDA e a relação
lâmina foliar:pseudocolmo da forragem não foram afetados. Quanto ao feno do capim-tifton
85, para cada kg/ha de N aplicado, observou-se aumento na produção de massa seca total de
4,41 kg/ha e no teor de proteína bruta de 0,01135 u.p., sendo que o teor de FDA não foi
afetado, e que o menor teor de FDN (83,45%) foi obtido com 115 kg/ha de N. Para produção
de forragem verde do capim-tifton 85, observou-se diminuição acentuada na eficiência
agronômica de utilização do N a partir da dose estimada de 155 kg/ha de N. Quanto à
forragem verde do capim-estrela-africana, para cada kg/ha de N aplicado, observou-se
aumento na produção de massa seca total de 15,25 kg/ha, na produção de massa seca de
lâmina foliar verde de 2,84 kg/ha, na altura do relvado de 0,027 cm, no teor de proteína bruta
da forragem de 0,0073 u.p., e redução na relação lâmina foliar:pseudocolmo de 0,000571
unidade, sendo que os teores de FDN e de FDA da forragem não foram afetados. Quanto ao
feno do capim-estrela-africana, para cada kg/ha de N aplicado, observou-se aumento na
produção de massa seca total de 3,83 kg/ha e no teor de proteína bruta de 0,018 u.p.,
diminuição no teor de FDN de 0,026 u.p., sendo que o teor de FDA não foi afetado. Para
produção de forragem verde do capim-estrela-africana, observou-se diminuição acentuada na
eficiência agronômica de utilização do N a partir da dose estimada de 71 kg/ha de N. No
terceiro experimento, os capins foram cortados com 50 dias de rebrotação e permaneceram
ensilados por 55 dias, em silos experimentais com capacidade para 2,1 kg de forragem. O
delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com os tratamentos
dispostos em esquema fatorial 2x5, sendo dois capins (Estrela Africana e Tifton 85) e cinco
períodos de pré-emurchecimento da forragem (zero, 1, 2, 3 e 4 horas), com três repetições.
Para cada hora de pré-emurchecimento, com exposição ao sol, observou-se aumento no teor
de matéria seca da forragem de 1,70 u.p. e de 3,67 u.p., para o capim-tifton 85 e o capimestrela-africana, respectivamente. Para a silagem, observou-se,
para cada hora de pré-
emurchecimento, aumento no teor de matéria seca de 1,22 u.p. e de 3,45 u.p., para o capimtifton 85 e o capim-estrela-africana, respectivamente. O pré-emurchecimento não afetou o teor
de N-amoniacal da silagem do capim-tifton 85, mas para a silagem do capim-estrela-africana
houve redução de 1,66 u.p. para cada hora de pré-emurchecimento. A silagem do capim-tifton
85 apresentou maior recuperação de matéria seca, maior teor de FDN e menor teor de proteína
bruta do que a silagem do capim-estrela-africana.
Palavras-chave: Estrela Africana, feno, Tifton 85, silagem, valor nutritivo.
EVALUATION OF GRASSES OF THE GENUS CYNODON UNDER NITROGEN
LEVELS
SUMMARY
The objective was to evaluate the influence of nitrogen fertilization on the production of green
forage and hay of Tifton 85 bermudagrass (Cynodon spp.) and African stargrass (Cynodon
nlemfuensis var. nlemfuensis) and the characteristics of their silages after pre-wilting. The
experiments were conducted in the Research Center of Enterprise Research Matogrossense,
Assistance and Rural Extension S/A (EMPAER), located in Cáceres-MT. Two experiments
were conducted aiming to evaluate, separately, the production and chemical and chemical
composition of green forage of Tifton 85 bermudagrass and African stargrass, when subjected
to nitrogen levels. The experiments were arranged in randomized complete block design with
five treatments (0, 60, 120, 180, 240 kg/ha of N) and four replications in plots of 4.0 x 5.0 m.
The experimental period started with the uniform cutting of grass on 12/20/2007, ending on
04/18/2008. Four cuts were made at intervals of 30 days in the height of 5 cm above the
ground. The N rates were split in four applications, one after each cut in the form of urea, in
coverage. In the last cut in each plot, an additional sample was taken to evaluate the
production and chemical composition of hay. As the green forage of Tifton 85 bermudagrass
for each kg/ha of N applied, there was increase in production of total dry mass of 22.67 kg/ha,
the production of dry matter of leaf green 11.37 kg/ha, when the lawn of 0.052 cm in the
crude protein content of forage unit of 0.0095 percent (up) and decrease in NDF content of up
to 0.0142, while the content of ADF and the blade leaf:steam ratio of forage were not
affected. As for the hay of Tifton 85 bermudagrass for each kg/ha of N applied, there was
increase in production of total dry mass of 4.41 kg/ha and crude protein up to 0.01135, and
the content of ADF was not affected, and the lower content of NDF (83.45 %) was obtained
with 115 kg/ha of N. For production of green forage of Tifton 85 bermudagrass was observed
sharp decrease in the use of agronomic efficiency of N from the estimated dose of 155 kg/ha
of N. As the green forage of African stargrass, for each kg/ha of N applied, there was increase
in production of total dry mass of 15.25 kg/ha, the production of dry matter of leaf green, 2.84
kg/ha, when the lawn of 0.027 cm in the crude protein content of forage up to 0.0073, and
relative reduction in leaf:steam ratio unit of 0.000571, and the contents of NDF and ADF of
forage were not affected. As for the African stargrass, for each kg/ha of N applied, there was
increase in production of total dry mass of 3.83 kg/ha and crude protein content up to 0.018,
decreased the content of NDF up to 0.026, and the content of ADF was not affected. For
production of green forage of African stargrass, there was marked decrease in the use of
agronomic efficiency of N from the estimated dose of 71 kg/ha of N. In the third experiment,
the grasses were cut to 50 days of regrowth silages and remained for 55 days in experimental
silos with a capacity of 2.1 kg of forage. The experimental design was completely
randomized, with treatments arranged in 2 x 5 factorial scheme, two grasses (African stargrass
and Tifton 85 bermudagrass) and five periods of pre-wilting of forage (zero, 1, 2, 3 and 4
hours) with three replications. For each hour of pre-wilting, with exposure to the sun, there
was an increase in dry matter content of forage to 1.70 and 3.67 up for Tifton 85
bermudagrass and African stargrass, respectively. For silage, it was observed for each hour of
pre-wilting, increase in dry matter content from 1.22 up and 3.45 up for Tifton 85
bermudagrass and African stargrass, respectively. The pre-wilting did not affect the content of
ammonia-N of silage of Tifton 85 bermudagrass, but for the grass silage African stargrass up
decreased from 1.66 for each hour of pre-wilting. The silage of Tifton 85 bermudagrass had
higher recovery of dry matter, higher content of NDF and lower crude protein than the grass
silage African stargrass.
Keywords: African stargrass, hay, Tifton 85 bermudagrass, silage, nutritive value.
Lista de Figuras
Capítulo 1:
Figura 1 - Precipitação pluviométrica (A) e temperatura média mensal (B) durante o período
experimental em Cáceres, MT..................................................................................................38
Figura 2 - Produção de massa seca (PMS, kg/ha) do capim-tifton 85 em função de doses de N
(kg/ha) (acumulado de quatro cortes)......................................................................................41
Figura 3 - Produção de massa seca de lâminas foliares (PMSLF, kg/ha) do capim-tifton 85 em
função de doses de N (kg/ha) (acumulado de quatro cortes)....................................................42
Figura 4 - Eficiência de utilização do N (kg de MS/kg de N) para o capim-tifton 85, em
função de doses de N (kg/ha)....................................................................................................43
Figura 5 - Altura do relvado do capim-tifton 85 em função de doses de N (kg/ha) (média de
quatro cortes).............................................................................................................................44
Figura 6 - Teor de proteína bruta (PB, %) do capim-tifton 85 em função de doses de N (kg/ha)
(média de três cortes)................................................................................................................45
Figura 7 - Teor de FDN (%) do capim-tifton 85 em função de doses de N (kg/ha) (média de
três cortes).................................................................................................................................46
Figura 8 - Produção de massa seca do feno (PMSF, kg/ha/corte) de capim-tifton 85 em função
de doses de N (kg/ha)................................................................................................................47
Figura 9 - Teor de proteína bruta (PB, %) do feno de capim-tifton 85 em função de doses de N
(kg/ha).......................................................................................................................................48
Figura 10 - Teor de FDN (%) do feno de capim-tifton 85 em função de doses de N
(kg/ha).......................................................................................................................................49
Capítulo 2:
Figura 11 - Precipitação pluviométrica (A) e temperatura média mensal (B) durante o período
experimental em Cáceres, MT..................................................................................................56
Figura 12 - Produção de massa seca (PMS, kg/ha) do capim-estrela-africana em função de
doses de N (kg/ha) (acumulado de quatro cortes)....................................................................59
Figura 13 - Produção de massa seca de lâminas foliares (PMSLF, kg/ha) do capim-estrelaafricana em função de doses de N (kg/ha) (acumulado de quatro cortes)................................60
Figura 14 - Eficiência de utilização do N (kg de MS/kg de N) para o capim-estrela-africana,
em função de doses de N (kg/ha)..............................................................................................61
Figura 15 - Relação lâmina foliar:pseudocolmo do capim-estrela-africana em função de doses
de N (kg/ha) (média de quatro cortes)......................................................................................62
.
Figura 16 - Altura do relvado de capim-estrela-africana em função de doses de N (kg/ha)
(média de três cortes)................................................................................................................62
Figura 17 - Teor de proteína bruta (PB, %) do capim-estrela-africana em função de doses de N
(kg/ha) (média de três cortes)....................................................................................................63
Figura 18 - Produção de massa seca do feno (PMSF, kg/ha/corte) de capim-estrela-africana
em função de doses de N aplicadas (kg/ha)..............................................................................65
Figura 19 - Teor de proteína bruta (PB, %) do feno de capim-estrela-africana em função de
doses de N (kg/ha).....................................................................................................................65
Figura 20 - Teor de FDN (%) do feno de capim-estrela-africana em função de doses de N
(kg/ha).......................................................................................................................................66
Lista de tabelas
Capítulo 3:
Tabela 1 - Recuperação de matéria seca (RMS), teor de proteína bruta (PB) e teor de fibra em
detergente neutro (FDN) da silagem dos capins Tifton 85 e Estrela Africana (média de cinco
períodos de pré-emurchecimento).............................................................................................75
Tabela 2 - Teor de matéria seca (%) dos capins Tifton 85 e Estrela Africana, no momento da
ensilagem, em função de períodos de pré-emurchecimento.....................................................77
Tabela 3 - Teor de matéria seca (%) da silagem dos capins Tifton 85 e Estrela Africana em
função de períodos de pré-emurchecimento.............................................................................78
Tabela 4 - Teor de N-amoniacal (N-NH3%/N-Total) da silagem dos capins Tifton 85 e Estrela
Africana, em função de períodos de pré-emurchecimento.......................................................79
SUMÁRIO
Página
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................13
2. REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................................15
2.1 Forrageiras do gênero Cynodon...................................................................................15
2.2 Influência da adubação nitrogenada na produtividade de forrageiras tropicais.....18
2.3 Fenação de forrageiras tropicais...................................................................................22
2.4 Ensilagem de capins tropicais........................................................................................24
2.5 Referências.......................................................................................................................28
3. Capítulo 1: PRODUÇÃO DE FORRAGEM E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO
CAPIM-TIFTON
85
(Cynodon
spp.)
SUBMETIDO
A
DOSES
DE
NITROGÊNIO........................................................................................................................34
3.1 Introdução.......................................................................................................................36
3.2 Material e Métodos........................................................................................................37
3.3 Resultados e Discussão...................................................................................................40
3.5 Referências......................................................................................................................49
4. Capítulo 2: PRODUÇÃO DE FORRAGEM E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO
CAPIM-ESTRELA-AFRICANA (Cynodon nlemfuensis var. nlemfuensis) SUBMETIDO
A DOSES DE NITROGÊNIO................................................................................................52
4.1 Introdução.......................................................................................................................54
4.2 Material e Métodos........................................................................................................55
4.3 Resultados e Discussão...................................................................................................58
4.5 Referências......................................................................................................................67
5. Capítulo 3: RECUPERAÇÃO DE MATÉRIA SECA E COMPOSIÇÃO QUÍMICA
DE SILAGENS DE GRAMÍNEAS DO GÊNERO Cynodon SUBMETIDAS A
PERÍODOS DE PRÉ-EMURCHECIMENTO....................................................................69
5.1 Introdução.......................................................................................................................70
5.2 Material e Métodos........................................................................................................72
3.3 Resultados e Discussão...................................................................................................74
5.5 Referências......................................................................................................................80
13
1. INTRODUÇÃO
A alimentação é um dos principais fatores do sistema de produção de ruminantes,
portanto, ao priorizar eficiência, o atendimento às exigências nutricionais dos animais assume
importância fundamental e, por isso, tem sido alvo de várias pesquisas. No Brasil, para a
produção de ruminantes, a principal e mais econômica fonte de nutrientes é constituída por
gramíneas forrageiras perenes, que possibilita a produção de carne, leite e derivados, a um
custo competitivo no mercado mundial.
Existem vários gêneros de gramíneas com elevado potencial produtivo, passíveis de
serem explorados pelo setor pecuário. Isso, em princípio, causa certa acomodação nos
produtores, uma vez que, se ocorrer um insucesso, tem-se a possibilidade de substituir a
forrageira por outra.
A visão de que é possível trocar uma espécie forrageira por outra, devido a insucesso
pontual, muitas vezes ocasionado pela falta de conhecimento ou aplicação da tecnologia, pode
gerar descrédito por uma tecnologia (planta forrageira) que foi avaliada criteriosamente,
durante muitos anos até o seu lançamento (VALLE e SOUZA, 1995).
Um desafio ao aumento da produtividade e sustentabilidade da atividade pecuária é a
limitação de fertilidade e topografia dos solos destinados à produção pecuária no Brasil, além
dos períodos secos do ano que limitam o crescimento das forrageiras tropicais. Enquanto no
período seco do ano, a exigência nutricional para produção animal deixa de ser atendida, a
baixa fertilidade natural dos solos e o manejo inadequado resultam na degradação das
pastagens, afetando diretamente a sustentabilidade do sistema de produção.
Várias são as causas relacionadas ao processo de degradação, sendo que entre os
mais importantes, está a redução da fertilidade do solo devido à exportação de nutrientes, na
forma de produto animal, perdidos por lixiviação, erosão e ausência de prática de reposição,
resultando em contínuo empobrecimento do solo, o que afeta a produção e a persistência da
forrageira (KICHEL et al., 1997). Dessa maneira, a reposição e a manutenção da fertilidade
do solo constituem premissas básicas para assegurar a perenidade de pastagens produtivas.
Com isto, profissionais e produtores têm procurado alternativas para intensificar os sistemas
de produção animal baseados em pastagens, com a necessidade de melhorar o manejo do
sistema solo-planta-animal segundo uma abordagem sistêmica (MARTHA JR. e VILELA,
2002).
A baixa disponibilidade de nitrogênio para as plantas é um dos principais fatores
limitantes à produtividade das plantas forrageiras, resultando em processo evolutivo de perda
14
do vigor e queda acentuada na capacidade de suporte e na produção por animal (WERNER,
1994).
Desta forma, a adubação das pastagens, principalmente a nitrogenada, é um dos
fatores mais importantes na determinação do nível de produção de forragem por área. Em
condições normais de disponibilidade dos demais nutrientes, o nitrogênio influencia, de
maneira marcante, o crescimento e o desenvolvimento das gramíneas forrageiras, com
incrementos em várias características que influenciam a produção e a composição química
(MONTEIRO, 1996; CECATO et al., 2000).
A distribuição irregular da produção forrageira durante o ano é outro fator que tem
limitado a produção animal em regiões tropicais. A produção se concentra na época quente e
chuvosa do ano, implicando em prejuízos econômicos para a atividade. Desta forma, a
pecuária intensiva requer o uso de estratégias de forrageamento a fim de atender ao
requerimento animal e sustentar os níveis de produção durante todo o ano (EUCLIDES,
2000).
Os processos de fenação e de ensilagem de forrageiras tropicais, no período das
águas, são alternativas para minimizar o problema da estacionalidade de produção e qualidade
das plantas forrageiras, permitindo que o excedente produzido em pastagens ou em áreas
exclusivas de cultivo possa ser armazenado e utilizado na alimentação dos animais em épocas
de escassez, constituindo-se em uma importante fonte de volumoso, além de se caracterizar
como uma oportunidade de diversificação de renda na propriedade agrícola.
A Região Centro-Oeste e, especificamente, o Estado de Mato Grosso, possui
características edafoclimáticas diferenciadas, ocorrendo uma lacuna no conhecimento sobre o
comportamento de gramíneas forrageiras e o uso de determinadas estratégias de produção e de
conservação de volumosos (CABRAL, 2008). Desta forma, objetivou-se avaliar a produção e
a composição bromatológica da forragem verde e do feno dos capins Estrela Africana
(Cynodon nlemfuensis var. nlemfuensis) e Tifton 85 (Cynodon spp.), submetidos a doses de
nitrogênio, bem como a recuperação de matéria seca e a composição bromatológica de suas
silagens, submetidas a períodos de pré-emurchecimento.
15
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Forrageiras do gênero Cynodon
As gramas bermuda [Cynodon dactylon (L.) Pers.] e estrela (Cynodon nlemfuensis
Vanderyst) constituem os dois grupos de gramíneas forrageiras mais importantes do gênero
Cynodon. O grupo “bermuda” é composto por espécies rizomatosas, enquanto o grupo
“estrela” é formado por espécies robustas, não rizomatosas, nativas da África Oriental
(SOLLENBERGER, 2008).
O continente africano é o centro de origem da grande maioria das espécies de
gramíneas forrageiras tropicais cultivadas, da mesma forma, as forrageiras do gênero
Cynodon não representam uma exceção. Estas forrageiras possuem seu centro de origem na
porção leste da África Tropical, de regiões (Quênia, Tanzânia, Uganda e Angola) de baixas
latitudes (10° N a 18° S), e apresentam ciclo fotossintético C4 (PEDREIRA et al., 1998).
Segundo Corsi e Martha Jr. (1998), estas espécies apresentam características típicas de plantas
com grande desenvolvimento vegetativo durante o verão e crescimento reduzido no período
seco do ano.
Segundo Pedreira et al. (1998), gramíneas do gênero Cynodon se desenvolvem do
paralelo 35° N a 35° S, evidenciando seu comportamento cosmopolita. Mas nos EUA,
cultivares comerciais das gramas bermudas e estrelas são recomendadas para latitudes mais
baixas, 28° N e 25° N, respectivamente.
No entanto, segundo Corsi e Martha Jr. (1998), estas recomendações se referem
somente aos extremos de temperatura que permitem a sobrevivência da planta, não sendo
referência ao efeito da temperatura e do fotoperíodo sobre a estacionalidade de produção das
espécies e/ou cultivares do gênero Cynodon. De acordo com Corsi (1994), o efeito da
temperatura, para um mesmo fotoperíodo, é mais pronunciado do que o efeito de diferentes
fotoperíodos, para uma mesma temperatura.
Por ser um país de clima predominantemente tropical, o Brasil apresenta um grande
potencial para produção de forragem com o uso de gramíneas do gênero Cynodon. Entretanto,
são insuficientes as informações sobre o comportamento e o manejo desse gênero, nas
diversas condições edafoclimáticas brasileiras. Decorrente desta situação, é freqüente a
utilização de cultivares não adaptadas às condições edafoclimáticas de cultivo, com o plantio
das forrageiras em solos de baixa fertilidade, não corrigidos e/ou com ausência de reposição
de nutrientes (ATHAYDE et al., 2007). Desta forma, com o manejo inadequado, os
16
resultados, geralmente, são insatisfatórios, colaborando para que haja aversão por parte dos
produtores por novas tecnologias disponibilizadas pelos órgãos de pesquisa e extensão.
Grande parte das informações geradas por pesquisas com gramíneas do gênero
Cynodon, foi obtida em experimentos conduzidos no sudeste dos EUA e, posteriormente, em
Cuba e em Porto Rico. Os resultados obtidos com essas forrageiras demonstraram elevado
potencial produtivo, com alto teor protéico e alta digestibilidade da forragem.
Os trabalhos com gramíneas do gênero Cynodon foram iniciados na década de 1940,
com a realização de seleções fenotípicas, conduzidas pelo Dr. Glenn W. Burton, pesquisador
da Coastal Plain Experiment Station, em Tifton, Geórgia, EUA. Foram identificadas plantas
com características desejáveis e introduzidas em programas de cruzamento, buscando-se
cultivares mais produtivas (DA SILVA et al., 1998). Estas gramíneas, antes vistas como
plantas invasoras e agressivas, tiveram seu interesse, como planta forrageira, despertado após
a descoberta da cultivar Coastal, em 1943 (VILELA e ALVIM, 1998). A partir daí, foram
geradas novos cultivares de Cynodon spp., por meio da hibridização intra e interespecífica,
adaptadas às regiões tropicais e subtropicais. Contudo, a maioria das novas cultivares não
produz sementes viáveis, de forma que o estabelecimento é obtido por meio do uso de
material vegetativo, como mudas enraizadas, pedaços de colmo (estacas), estolões e rizomas
(RODRIGUES et al., 1998).
Segundo Vilela e Alvim (1998), as principais características dos híbridos são:
respondem muito bem à adubação nitrogenada, alcançam altas produtividades, possuem
melhor qualidade e maior tolerância ao frio que linhagens comuns.
No Brasil, não existe registro de onde e como o gênero Cynodon foi introduzido, mas
acredita-se que tenha sido por produtores buscando avaliar o seu comportamento em
condições brasileiras (VILELA e ALVIM, 1998). Vários trabalhos foram conduzidos no país,
visando avaliar o comportamento, bem como o uso de estratégias de manejo mais apropriadas
para estas forrageiras (ALVIM et al., 1996; CARNEVALLI et al., 1998; MOREIRA et al.
2001a; OLIVEIRA, 2002; RANDÜZ, 2005).
Vilela et al. (1996), em trabalho conduzido em Coronel Pacheco, MG, com vacas da
raça Holandesa, suplementadas com 2,6 kg de MS de concentrado, pastejando Coastcross,
com o uso de irrigação e adubação de 350 kg/ha de N, observaram produção média de 16,6
kg/dia, que corresponde a 4.600 kg de leite em 280 dias de lactação. Os autores concluíram
que a produção de leite em pasto de Coastcross, na região sudeste, é uma atividade viável e
com boa relação benefício/custo, comparativamente ao sistema confinado.
17
Corrêa (2000), em ensaios de pastejo utilizando novilhos em lotação rotacionada
recebendo duas doses de N (200 e 300 kg/ha de N), observou ganhos de peso variando de 803
a 935 e de 900 a 1.040 kg/ha para pastagens dos capins Tanzânia e Coastcross,
respectivamente.
Em trabalho conduzido em Coronel Pacheco, MG, Favoreto et al. (2008) avaliaram
um sistema de produção com capim-estrela-africana recebendo aplicação de 200 kg/ha de N
sob lotação rotacionada, descanso de 30 dias e pastejo de três dias realizado por vacas leiteiras
recebendo 2 kg de concentrado. Os autores observaram teores de proteína bruta (PB), fibra em
detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) de 13,95%; 69,34% e 33,36%,
respectivamente, e produção de leite por vaca de 11,7 kg/dia.
Mais recentemente, novas cultivares de Cynodon têm despertado interesse, com
destaque para o Tifton 85. Trata-se de um híbrido F1 interespecífico entre o Tifton 68 (C.
nlemfuensis) e uma introdução aparentemente de C. dactylon, proveniente da África do Sul,
denominado de PI 290884 (PEDREIRA e MELLO, 2001). Seu nome é uma homenagem à
cidade onde foi desenvolvido, Tifton (Estado da Geórgia, Estados Unidos), e ao ano em que
foi plantado pela primeira vez, no campo, em 1985 (BURTON, 2001).
Segundo Burton et al. (1993), o capim-tifton 85 é caracterizado como uma gramínea
de porte alto, folhas longas, com colmos mais espessos e cor mais escura do que os outros
híbridos de bermuda. A presença de rizomas o torna mais resistente ao frio e ao período seco,
possui maior relação lâmina foliar:pseudocolmo que o capim-tifton 68, resultando em uma
forrageira com melhor qualidade. Hill et al. (1998) afirmaram que, apesar do capim-tifton 85
possuir teores mais elevados de FDN, comparativamente a outras espécies forrageiras, a
digestibilidade desta forrageira é alta. Segundo os autores, existe uma maior ocorrência de
ligações tipo éter envolvendo ácido ferrúlico em forragem da cultivar Coastal do que em
Tifton 85, conseqüentemente, a digestibilidade da fibra na forragem de Tifton 85 parece ser
favorecida devido a menores impedimentos físicos à ação dos microrganismos do rúmen.
Resultados experimentais reunidos por Hill et al. (2001), permitem inferir que o
capim-tifton 85 pode ser utilizado com vantagens em sistemas de produção de leite. Os
autores afirmam que, apesar da menor produção de leite, comparativamente a dietas
compostas por silagem de milho ou feno de alfafa, a dieta a base de pasto de capim-tifton 85,
ou de forragem conservada na forma de feno, ou de silagem pré-emurchecida, pode reduzir o
custo de produção de leite e, com isso, aumentar a rentabilidade da atividade leiteira.
Em trabalho conduzido por Moreira et al. (2001b), não foram observadas diferenças
nos teores de matéria seca, FDN, FDA e de nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA)
18
de sete cultivares de Cynodon avaliadas. Os autores relataram, ainda, que os teores de lignina
variaram de 5,1% (Tifton 85) a 7,3% (Florakirk e Estrela Africana). Observaram, também,
teores de proteína bruta variando de 10,4% (Estrela Africana) a 13,6% (Tifton 85). Já os
teores de nitrogênio associado à fração de FDN variaram de 2,9% (Tifton 68) a 5,4% (Tifton
85), e os teores de NIDA, de 2,3% (Tifton 68) a 3,1% (Florona e Florakirk), evidenciando
pequena proporção de nitrogênio ligado à parede celular.
Poli et al. (2008), avaliando sistemas de produção de cordeiros para corte em Pinhais,
PR, concluíram que a terminação de cordeiros não desmamados em pastos de Tifton 85 é uma
boa alternativa de produção, pois os animais terminados em confinamento alcançaram peso de
abate de 32 kg com 94 dias, enquanto que na pastagem de Tifton 85 o peso de abate foi
alcançado com 101 dias e com menor custo com alimentação.
O capim-tifton 85 foi um híbrido desenvolvido para se adaptar às condições de clima
subtropical, mas segundo Sinclair et al. (2004), o aumento na densidade de fluxo de fótons
pode favorecer o desenvolvimento da planta, revelando grande potencial da forrageira para os
sistemas de produção em condições tropicais. A cultivar Tifton 85 teve grande aceitação no
Brasil; atualmente, acredita-se que existam mais de 100.000 ha de pastagens do capim no país
(HILL et al., 2001).
No entanto, a maioria dos resultados com o gênero Cynodon foi obtida de ensaios
conduzidos nas regiões Sudeste e Sul do país, haven do desconhecimento científico sobre o
comportamento destes híbridos quando cultivados nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil,
caracterizadas por temperaturas elevadas, alta precipitação e maior radiação solar, bem como
seu desempenho em relação a cultivares em uso a mais tempo e, possivelmente, melhor
adaptadas a estas condições.
2.2 Influência da adubação nitrogenada na produtividade de forrageiras tropicais
O manejo adequado da pastagem envolve a sustentabilidade da mesma e o balanço
de nutrientes para suficiente produção de matéria seca (forragem) e posterior alimentação dos
animais. Os elementos químicos presentes no sistema solo-planta-animal desempenham
funções vitais para o normal funcionamento desse sistema.
A produção forrageira é o resultado dos processos de crescimento e
desenvolvimento, sendo que estes podem ter suas eficiências substancialmente melhoradas
com o uso de fertilizantes, sobretudo o nitrogênio (N), por seu efeito positivo no fluxo de
biomassa (DURU e DUCROCQ, 2000).
19
O N é o elemento mineral mais abundante nas plantas, pois é constituinte de
aminoácidos, enzimas, coenzimas, clorofilas, ácidos nucléicos, nucleotídeos e outros
compostos importantes no metabolismo celular (MARENCO e LOPES, 2005). É o nutriente
que influencia mais diretamente o crescimento e desenvolvimento das forrageiras tropicais
como, perfilhamento, alongamento de folhas e colmos, elevando a produção de matéria seca
das mesmas (HERLING et al., 1991; WERNER, 1994; NABINGER e PONTES, 2001).
Em trabalho com adubação nitrogenada desenvolvido por Volenec e Nelson (1983),
foi observado influência do nutriente na síntese celular, pois com elevados níveis de N
ocorreram incrementos de 90% no número de células epidérmicas expandidas por dia,
resultando na elevação de 89% na taxa de alongamento foliar. Os processos de absorção,
partição e reciclagem de N parecem influenciar grandemente no fluxo de carbono para os
meristemas apicais após o corte ou desfolhação, evidenciando a importância do nutriente na
recuperação da área foliar (GASTAL et al., 1992).
Resultados de recentes trabalhos evidenciam que componentes nitrogenados de
reserva, encontrados em tecidos vegetativos, são também importantes para tolerância à
desfolhação e a períodos de estresse nutricional, constituindo uma fonte alternativa quando a
absorção mineral passa a ser reduzida. Aminoácidos e proteínas específicas são depositados
nas raízes e bases do colmo e são degradados após a desfolhação (VOLENEC et al., 1996).
Espécies que utilizam o ciclo fotossintético C3 de redução do carbono possuem
menor eficiência na fixação do carbono que espécies que fixam CO2 pelo ciclo C4, o grupo ao
qual pertencem as gramíneas forrageiras tropicais. Esta maior capacidade de fixação tem sido
explicada pela reduzida fotorrespiração, especializada anatomia de folhas e vias bioquímicas
que diferem as plantas C4 das C3. A evolução das plantas C4 em condições ambientais onde o
N é limitado tem sido a hipótese aceita para explicar a maior eficiência destas plantas no uso
do nutriente (biomassa produzida por unidade de N na planta) do que as espécies C3.
Resultados obtidos por Brown (1978) demonstram menor investimento relativo do N nas
enzimas de carboxilação fotossintética, caracterizando a adaptação destas plantas durante a
evolução, em condições onde esse nutriente é limitado.
O N tem um ciclo muito dinâmico no sistema solo-planta-animal, ocorrendo perdas
através da retirada de produtos animais (carne e leite), biomassa vegetal (feno, silagem),
erosão, desnitrificação, volatilização de amônia e lixiviação de nitrato. O N prontamente
-
disponível às plantas é representado pelo nitrogênio mineral, nas formas de nitrato (NO3 ) e
amônio (NH4+), os quais representam apenas de 1% a 2% do N total no solo. Estas duas
20
formas de N mineral são produzidas a partir da mineralização do N orgânico, sendo ambas as
formas extremamente dinâmicas no solo (VALE et al., 1993).
Diferentemente dos outros nutrientes essenciais, o N tem sua disponibilidade
regulada por componentes bióticos. A quebra das ligações C-N e a mineralização do N de
forma a estar disponível para a absorção pelas plantas é muito dispendiosa para os
microrganismos do solo, em termos de energia e enzimas. A composição química dos
resíduos das plantas tem um papel fundamental no controle da decomposição da matéria
orgânica e no balanço entre mineralização e imobilização do N (WEDIN, 1996).
A disponibilidade de nutrientes nas pastagens é influenciada, grandemente, pela
finalidade de utilização e manejo de produção. Quando a forragem produzida é utilizada para
produção de feno e/ou silagem e a utilização desses alimentos é feita em outros locais que não
o da pastagem em uso, ocorre grande exportação de nutrientes do sistema, devido à ausência
de reciclagem (MONTEIRO e WERNER, 1997). Nos produtos animais, a exportação de
nutrientes é pequena, e estimada como sendo ao redor de 42 e 12 kg/ha/ano de N em
produções de 8.000 kg/ha/ano de leite e de 500 kg/ha/ano de peso vivo, respectivamente
(HUMPHREYS, 1991). No entanto, a reciclagem do N no sistema é comprometida pela
distribuição desuniforme e pelas altas perdas ocorridas nas dejeções dos animais em pastejo
(CORSI e MARTHA JR., 1997).
A aplicação de fertilizantes nitrogenados em pastagens resulta em incrementos na
produção animal devido a um duplo efeito. A taxa fotossintética das folhas é elevada,
resultando em elevação no acúmulo de matéria seca, com maior proporção de folhas, e vigor
de rebrota, implicando em maior freqüência de utilização e capacidade de suporte da
pastagem. Da mesma forma, a aplicação de fertilizantes nitrogenados ocasiona alterações na
composição químico-bromatológica, como aumento no teor de proteína bruta, com
conseqüente aumento na taxa de passagem da forragem e maior consumo pelo animal, quando
a colheita da forrageira é feita em momento oportuno (GOMIDE, 1989). Além destes
aspectos, Monteiro e Werner (1997) afirmaram que o emprego de fertilizantes favorece a
reciclagem de nutrientes, na medida em que as partes das plantas não consumidas pelos
animais forem depositadas no solo e decompostas.
Ao aplicarem doses de 0; 45; 90 e 135 mg de N/kg de solo, em Latossolo VermelhoEscuro, Braga et al. (2000) observaram que a elevação das doses de N aumentaram a taxa de
alongamento de folhas, aparecimento foliar, número de folhas vivas por perfilho e o teor de
proteína bruta do capim-tifton 85.
21
Rocha et al. (2000) observaram efeito linear no acúmulo de massa seca do capimtifton 85 após três cortes, de 0,77986 t de MS/kg de N aplicado, quando foram aplicadas
doses de 0, 100, 200 e 400 kg/ha de N, em Latossolo Vermelho Distrófico.
Monteiro (1998) observou que a aplicação do nutriente está associada a incrementos
em produtividade, sendo o efeito potencial da adubação nitrogenada alcançado quando outros
fatores do meio como, radiação solar, disponibilidades hídrica e de outros nutrientes,
satisfazem as exigências para o pleno desenvolvimento das plantas.
Alvim et al. (2003) conduziram trabalho em Coronel Pacheco, MG, com o objetivo
de avaliar o potencial forrageiro sob condições de pastejo, das cultivares Florona, Florico e
Florakirk, utilizando como padrão de comparação o capim-estrela-africana, sob dois níveis de
N:K2O, 250:200 e 500:400 kg/ha/ano, parcelados em cinco doses. Observaram que o maior
nível de N:K2O não aumentou a produção de forragem e não elevou os teores de proteína
bruta e a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS). Entre as forrageiras avaliadas,
observou-se maior produtividade para a cultivar Florakirk, seguida pelas demais, em ordem
decrescente, Florona, Estrela Africana e Florico. Os autores indicaram a primeira cultivar para
sistemas de manejo sob corte, devido a maior parte da produção se concentrar no período das
águas, e a segunda e terceira para produção de leite em pasto.
Em alguns trabalhos têm sido demonstrada a influência da adubação nitrogenada no
teor de proteína bruta em forrageiras do gênero Cynodon (ALVIM et al., 1996; ALVIM et al.,
1998; BRAGA et al., 2000; ROCHA et al., 2000). Alvim et al. (1999), ao avaliarem o capimtifton 85 submetido a diferentes níveis de adubação nitrogenada (zero, 100, 200, 400 e 600
kg/ha/ano) e intervalos entre cortes, observaram efeito linear da adubação em todos os
intervalos avaliados, alcançando uma produção anual de 4,64; 6,53 e 5,88 kg de PB/kg de N,
para os intervalos de corte de 4, 6 e 8 semanas, respectivamente.
Menegatti et al. (1999) avaliaram os capins Coastcross, Tifton 85 e Tifton 68 com ou
sem a aplicação de 400 kg/ha de N, e observaram incrementos na produção de matéria seca e
nos teores de proteína bruta, redução nos teores de FDN, mas não registraram alteração nos
teores de FDA e nos valores de DIVMS, com o aumento das doses de N.
No entanto, Alvim e Botrel (2001) não observaram diferenças na lotação e na
produção de leite quando se aplicou 250 e 400 kg/ha/ano de N em Coastcross, indicando que a
aplicação de N pode estar associada a maiores perdas em doses elevadas e com menor
eficiência de colheita da forragem pelos animais, gerando um excedente de biomassa de baixa
qualidade e que não é colhida pelos animais em pastejo.
22
Desta forma, fica subentendido que, apesar de elevadas doses de N poderem
proporcionar maiores incrementos na produção de matéria seca, nem sempre estão
correlacionadas com a posterior produção animal devido, principalmente, a diminuição da
eficiência de utilização do N e transformação da forragem em produto animal, ocasionando
efeito antieconômico à atividade.
2.3 Fenação de forrageiras tropicais
Os sistemas de produção animal baseados em pastagens torna a atividade pecuária
mais econômica, pois a colheita da forragem é feita pelo próprio animal. No entanto, o
período seco e de temperaturas mais baixas do ano é um desafio para estes sistemas de
produção, resultando em distribuição irregular da produção durante o ano, refletindo na
economicidade da atividade pecuária. Desta forma, tem sido crescente a busca por processos
de conservação de forragens, com a finalidade de garantir o fornecimento constante de
volumoso aos animais durante o ano (BONATO, 2004).
De acordo com Costa (1989), o processo de fenação é uma das soluções ao problema
da estacionalidade das plantas forrageiras, permitindo que o excedente, produzido em
pastagens ou em áreas exclusivas de cultivo, possa ser armazenado e empregado na
alimentação dos animais, em épocas de escassez, constituindo-se em uma importante fonte de
alimento, além de se caracterizar como uma oportunidade de atividade econômica.
Retirando-se a água da forragem, ela pode ser armazenada por maior tempo, sem
comprometimento da qualidade. Desta forma, a fenação é um processo de conservação, no
qual a ação deletéria de microrganismos é inibida por meio da desidratação da forragem,
buscando-se manter suas características nutritivas próximas às originais (MICKENHAGEN,
1996). Normalmente, no momento do corte, a forragem possui 85% de umidade e, para atingir
o ponto de feno, a umidade deverá estar entre 12 e 15% (HADDAD e CASTRO, 1998).
Várias plantas forrageiras já foram utilizadas ao longo do desenvolvimento do
processo de fenação. Segundo Da Silva et al. (1998), dentre as forrageiras mais bem
adaptadas à produção de feno, as do gênero Cynodon se destacam, devido a alta relação
lâmina foliar:pseudocolmo, o que facilita a perda de umidade, além de maior valor nutritivo.
Para produção de feno com boa qualidade é necessário o corte da forragem no momento
adequado, promover rápido processo de secagem, em dias sem ocorrência de chuvas. A
forrageira deve estar isenta de plantas invasoras, fungos e doenças e proveniente de solo bem
23
adubado. Sendo a cor verde, maciez ao tato e excelente aroma, características indicativas de
um feno de boa qualidade (MICKENHAGEN, 1996).
Variações climáticas, principalmente da temperatura durante a estação de
crescimento, podem causar alterações na qualidade da forragem. Os valores mais baixos de
digestibilidade das espécies de clima tropical podem ser atribuídos aos efeitos das
temperaturas mais elevadas, que promovem rápido desenvolvimento das plantas, diminuindo
a relação lâmina foliar:pseudocolmo, aumentando os teores de constituintes da parede celular
(WILSON et al., 1983).
Ao avaliarem o capim-coastcross para fenação, aos 42, 56, 70 e 84 dias de rebrota,
Ferrari Jr. e Rodrigues (1993) observaram valores de 53; 42; 41 e 37% de folhas nas plantas
colhidas, respectivamente. Indicando que a maturidade da forrageira no momento do corte
também é um fator que exerce grande influência no valor nutritivo e perda de umidade,
devido ao aumento da proporção de colmos na forragem. Em um estudo desenvolvido para se
avaliar o valor nutritivo de fenos, Moreira et al. (2001a) encontraram para o feno de capimcoastcross, teores de proteína bruta e de FDN, de 10,5% e de 76,0%, respectivamente.
Durante a secagem e em decorrência da atividade respiratória, que resulta em
decréscimo nos conteúdos de carboidratos solúveis, as concentrações de proteína bruta, FDN,
FDA e de lignina podem aumentar em termos proporcionais, uma vez que os resultados são
expressos em percentagem (REIS et al., 2001).
A perda do valor protéico, devido ao processo de fenação, é de ordem de apenas
2,5%, todavia, o efeito do aquecimento no processo de desidratação, sobre a proteína do feno,
pode alterar a disponibilidade desta no aparelho digestivo do ruminante (ROCHA e
EVANGELISTA, 1991).
Além destes aspectos, a fertilidade do solo exerce grande influência sobre a produção
e o valor nutritivo de forrageiras destinadas à fenação. A absorção de nutrientes do solo é
favorecida, quando existe disponibilidade adequada destes no solo, aumentando a
produtividade e a sustentabilidade da planta forrageira, favorecendo a ocorrência de altos
teores de elementos químicos aos animais (REIS et al., 2001).
Em trabalho conduzido por Alvim et al. (1996), observou-se que a aplicação de doses
de 0, 250, 500 e 750 kg/ha de N aumentaram os teores de proteína bruta do feno de
Coastcross colhido em seis freqüências de corte (2, 3, 4, 5, 6 e 7 semanas), sem haver
alterações nos teores de FDN, demonstrando efeito benéfico da adubação nitrogenada na
produtividade e valor nutritivo.
24
É de suma importância a produção de forragem de alta qualidade para a confecção de
feno de elevado valor nutritivo durante o verão, resultando em eficiente utilização deste
recurso forrageiro para suprir as deficiências quantitativas e qualitativas observadas durante o
período seco.
2.4 Ensilagem de capins tropicais
Como as chuvas são intensas no período de verão, a produção de silagem pré-secada
associada à produção de feno é considerada, atualmente, uma ferramenta indispensável para
viabilizar os sistemas de produção de forragens conservadas nas condições tropicais. A
possibilidade de produção de silagem, além de feno, tem sido uma alternativa para reduzir as
perdas por chuvas durante a fenação, num período em que a produção de forragem é
favorecida pelas condições ambientais. A produção de silagem pré-seca, associada à produção
de feno, maximiza a colheita da forragem por hectare e reduz o custo fixo do feno produzido
ao longo do ano (CASTRO, 2002).
A ensilagem é a técnica de conservação de volumosos mais utilizada no Brasil, sendo
que e o que mais influencia para isso é o uso de máquinas mais simples, com custo mais
baixo, em comparação à fenação (REIS e MOREIRA, 2001).
Com a adoção da ensilagem no manejo do campo de feno, evita-se o acúmulo de
forragem envelhecida, melhora a flexibilidade no uso da forrageira e aumenta a quantidade de
alimento volumoso de boa qualidade para ser fornecido ao rebanho na época seca. Caso
contrário, a forragem passada do ponto, presente no campo de feno, tem que ser cortada e
retirada da área, sendo jogada fora na maioria das vezes (EVANGELISTA et al., 2000).
Não são recentes os estudos sobre produção de silagens de capins no Brasil, no
entanto, só recentemente esta tecnologia vem ganhando espaço no país, principalmente, com a
procura por formulação de dietas de baixo custo para uso em confinamentos. Corrêa et al.
(2000) apontam como vantagens da silagem de capim: elevada produção de matéria seca,
perenidade da cultura, podendo ser realizados vários cortes por ano, maior flexibilidade na
colheita, baixos riscos de perdas e menor custo por kg de matéria seca, comparativamente às
culturas anuais como o milho.
Outro fato que tem contribuído para a utilização dos capins para a produção de
silagens é a disponibilidade, no mercado, de máquinas mais eficientes para a colheita e
ensilagem do material, favorecendo o rendimento da operação e a qualidade do alimento
conservado (CORRÊA et al., 2000; BALSALOBRE et al., 2001).
25
A ensilagem é um processo de conservação de forragem que tem como objetivo
preservar forragem de alto valor nutritivo o mais próximo possível do material original. O
princípio da ensilagem, como conservação de forragem, está baseado na ação de
microorganismos anaeróbios produzindo ácido láctico, que por ser um ácido forte, reduz o pH
e inibe o crescimento de microorganismos indesejáveis, bem como a atividade endógena de
enzimas catalíticas, conservando o alimento (MUCK e SHINNES, 2001).
A planta de milho, tradicionalmente, tem sido a forrageira mais utilizada para a
produção de silagem, devido à sua composição bromatológica preencher os requisitos para
confecção de uma boa silagem, como teor de matéria seca entre 30% a 35%, teor de 15% de
carboidratos solúveis na matéria original e baixo poder-tampão em diminuir o pH,
proporcionando uma boa fermentação microbiana (NUSSIO et al., 2001).
As forrageiras tropicais apresentam características limitantes a sua conservação,
como alto poder-tampão, baixo teor de carboidratos solúveis e baixo teor de matéria seca no
momento da colheita, em estágios de crescimento em que as forrageiras apresentam bom
valor nutritivo, colocando em risco o processo de conservação por meio da ensilagem, devido
às possibilidades de surgirem fermentações secundárias, as quais são indesejáveis
(EVANGELISTA et al., 2004).
Devido aos baixos teores de carboidratos solúveis, na ensilagem de forrageiras
tropicais não ocorre, facilmente, a redução do pH para valores em torno de 3,7 a 4,2 que,
segundo McDonald et al. (1991), é ideal em uma silagem de qualidade satisfatória, para que
ocorra inibição da atividade enzimática e de microorganismos indesejáveis.
As bactérias anaeróbias do gênero Clostridium têm efeito pronunciado na qualidade
da silagem, se os valores de pH não são suficientemente baixos. Este grupo, estritamente
anaeróbio, fermenta açúcares, ácido láctico e aminoácidos, produzindo ácido butírico e
aminas. Este tipo de fermentação representa significativa perda quantitativa e qualitativa de
matéria seca, caracterizando silagens de cor escura e odor fétido; esses produtos da
fermentação reduzem a palatabilidade das silagens, decrescendo o consumo de matéria seca e,
conseqüentemente, o desempenho animal (REIS e MOREIRA, 2001).
Os microrganismos do gênero Clostridium têm sua máxima eficiência em ambientes
com elevada atividade de água, elevado pH (>5,0) e temperatura. Desta forma, estratégias no
manejo de produção que reduzam o teor de umidade e favoreçam a rápida queda do pH
devem ser buscadas para evitar os efeitos negativos da ação dessas bactérias na massa
ensilada (MARTHA JR. et al., 2002).
26
McDonald et al. (1991) indicaram que a técnica do pré-emurchecimento possibilita a
ensilagem de plantas forrageiras colhidas com baixo teor de matéria seca, em um processo
simples, em que as fermentações indesejáveis no silo são facilmente controladas pela
diminuição da atividade de água ou elevação da pressão osmótica. Para uma silagem de boa
qualidade, Monteiro (1999) afirmou que a elevação no teor de matéria seca para 35 a 40%
seria determinante.
A utilização de equipamentos mais modernos, associados ao pré-emurchecimento da
forragem, podem favorecer uma maior eficiência no processo da ensilagem, reduzindo perdas
no processo e custos de produção. Castro (2002), ao avaliar as perdas no processo de
ensilagem de Tifton 85, colhido com umidade original (25% de MS) e submetido ao préemurchecimento para atingir teores de matéria seca de 34, 45, 55 e 65%, utilizando colhedora
automotriz com segadora de rolos com facas, provida de condicionamento mecânico e
repicagem, observaram que as perdas na colheita foram reduzidas de 6% para 3% com a
elevação do teor de matéria seca da planta.
Pedreira et al. (2001) observaram maior quantidade de N-amoniacal em forragem de
Tifton 85 ensilada sem pré-emurchecimento e sem a adição de polpa cítrica, provavelmente,
devido à maior proteólise proveniente da atividade das enzimas da planta ou mesmo
produzidas pelos clostrídios. Menores valores de pH e de N-amoniacal com a adição de polpa
cítrica foram observados, provavelmente, em função da redução na atividade de clostrídios,
ocorrendo, da mesma forma, redução nos teores de proteína bruta, FDN e FDA, com a adição
da polpa cítrica na silagem, devido a baixa concentração destes compostos na polpa cítrica,
ocasionando o efeito de diluição.
Vilela et al. (2001) submeteram o capim-elefante a diferentes períodos de préemurchecimento (0, 6 e 12 horas) e observaram redução diretamente proporcional no Namoniacal da silagem. Entretanto, o pré-emurchecimento também pode reduzir o teor de
carboidratos solúveis em função da maior atividade respiratória.
O tempo de secagem do material no campo é dependente das condições climáticas da
região, principalmente, intensidade de radiação solar, velocidade do vento, umidade relativa
do ar e temperatura. Desta forma, a prática do pré-emurchecimento é uma atividade que pode
apresentar riscos. O aumento excessivo do teor de matéria seca pode dificultar a compactação
da massa de forragem no silo e ocasionar redução na fermentação, pela diminuição da
concentração de carboidratos solúveis, ocasionada pelo emurchecimento prolongado
(EVANGELISTA et al., 2004).
27
Castro et al. (2006) verificaram na ensilagem do capim-tifton 85 (Cynodon spp.), que
teores de matéria seca superiores a 45%, promovidos pelo pré-emurchecimento, levaram à
restrição no crescimento de microrganismos e, conseqüentemente, redução na fermentação.
Segundo Van Soest (1994), silagens com elevados teores de matéria seca estão
sujeitas à elevação da temperatura da massa ensilada, predispondo à ocorrência de reações
não enzimáticas entre os carboidratos solúveis e grupos aminas dos aminoácidos (reação de
Maillard). Desse modo, o aquecimento em silagens promove diminuição acentuada na
digestibilidade da proteína, em decorrência de aumentos nos teores de NIDA, que é
considerada como indisponível para o animal (SNIFFEN et al., 1992).
Foi observado por Castro et al. (2006b) que na ensilagem do capim-tifton 85, com
cinco teores de matéria seca (25, 35, 45, 55 e 65%), houve aumento do nitrogênio indigestível
em detergente neutro (NIDN) conforme aumentou o tempo de pré-emurchecimento. No
entanto, não ocorreram alterações na fração NIDA, evidenciando que o pré-emurchecimento
reduziu a proteólise, devido à menor concentração de água, reduzindo a atividade enzimática.
Andrade et al. (2001), ao avaliarem o valor nutritivo do capim-coastcross conservado
nas formas de feno, silagem e silagem submetida a pré-emurchecimento, observaram que o
teor de matéria seca da silagem e da silagem emurchecida após a abertura do silo aos 28, 35,
42 e 49 dias foi de 30,8; 27,9; 31,7 e 35,7% e de 49,8; 48,2; 50,9 e 51,2%, respectivamente.
Os autores observaram que o consumo de nutrientes digestíveis totais da silagem emurchecida
foi superior ao do feno e da silagem sem emurchecimento.
Corrêa et al. (2000) observaram que as silagens de capim-tanzânia e de capimcoastcross (Cynodon dactylon) com teor de matéria seca de 20% e sem aditivos, produziram
pouco efluente em silos de superfície, e indicaram que um teor de matéria seca de 25% na
forragem a ser ensilada seria suficiente para produzir uma silagem de boa qualidade, sendo
este teor facilmente alcançado em capim-coastcross, que apresenta boa qualidade de forragem
e teor de matéria seca mais elevada do que o capim-tanzânia, ocasionando uma melhor
fermentação.
Desta forma, ainda restam dúvidas quanto às interferências na qualidade da silagem
em decorrência da prática do pré-emurchecimento, para forrageiras do gênero Cynodon, o que
justifica a realização do presente trabalho.
Os artigos a seguir foram formatados de acordo com as normas de publicação da
Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, editada pela Universidade Federal da Bahia.
28
2.5. REFERÊNCIAS
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34
CAPÍTULO I
Produção de forragem e composição química do capim-tifton 85 (Cynodon spp.)
submetido a doses de nitrogênio
Forage production and chemical composition of Tifton 85 bermudagrass (Cynodon
spp.) subjected to nitrogen levels
RESUMO
O experimento foi conduzido em Cáceres, MT, com o objetivo de avaliar o efeito de
doses de nitrogênio sobre a produção de forragem e a composição química do capimtifton 85 (Cynodon spp.). Utilizou-se o delineamento em blocos completos casualizados
com cinco tratamentos (0, 60, 120, 180 e 240 kg/ha de N) e quatro repetições, em
parcelas de 4,0 x 5,0 m. Foram realizados quatro cortes a intervalos de 30 dias, na altura
de 5 cm do nível do solo, sendo as doses de N parceladas em quatro aplicações após
cada corte, sob a forma de uréia, em cobertura. No último corte, retirou-se uma amostra
adicional por parcela, para se avaliar a produtividade e a composição química do feno.
Quanto à forragem verde do capim-tifton 85, observou-se, para cada kg/ha de N
aplicado, aumento na produção de massa seca total de 22,67 kg/ha, na produção de
lâmina foliar verde de 11,37 kg/ha, na altura do relvado de 0,052 cm e no teor de
proteína bruta da forragem de 0,00955 unidade percentual (u.p.), e diminuição no teor
de FDN de 0,0142 u.p. Para a produção de feno do capim-tifton 85, observou-se, para
cada kg/ha de N aplicado, aumento na produção de massa seca de 4,41 kg/ha e no teor
de proteína bruta de 0,01135 u.p. e, para FDN, foi observado teor mínimo de 83,45%
35
com a dose estimada de 115 kg/ha de N. Ocorreu diminuição acentuada da eficiência
agronômica de utilização do N a partir da dose estimada de 155 kg/ha de N.
Palavras-chave: eficiência de uso do N, feno, forragem verde, valor nutritivo.
SUMMARY
The experiment was conducted in Cáceres-MT, to evaluate the effect of nitrogen rates
on the production of forage and chemical composition of Tifton 85 bermudagrass
(Cynodon spp.). Using the a randomized complete block design with five treatments (0,
60, 120, 180 and 240 kg/ha of N) and four replications in plots of 4.0 x 5.0 m. Four cuts
were made at intervals of 30 days, at 5 cm from ground level, and the N rates in four
split applications after each cut in the form of urea, in coverage. In the last cut pulled up
an additional sample per plot, to evaluate the productivity and chemical composition of
hay. As the green forage of Tifton 85 bermudagrass was observed for each kg/ha of N
applied, increase the production of total dry mass of 22.67 kg/ha, the production of
green leaf of 11.37 kg/ha, when the lawn of 0.052 cm and the crude protein content of
forage unit of 0.00955 percent (up) and decrease in NDF content of up to 0.0142 for the
production of hay of Tifton 85 bermudagrass was observed for each kg/ha of N applied,
increase the production of dry mass of 4.41 kg/ha and crude protein content of 0.01135
up and for NDF, was observed minimum of 83.45 % with the estimated dose of 115
kg/ha of N. There was sharp decline in the use of agronomic efficiency of N from the
estimated dose of 155 kg/ha of N.
Keywords: efficiency of use of N, hay, green forage, nutritive value.
36
INTRODUÇÃO
Na região tropical e subtropical, as gramíneas do gênero Cynodon são
reconhecidas como recurso forrageiro valioso e de grande versatilidade para uma vasta
gama de empreendimentos pecuários (CORSI & MARTHA JÚNIOR, 1998).
A hibridização intra e interespecífica em Cynodon sp. possibilitou o
desenvolvimento de híbridos que apresentam boas respostas à fertilização nitrogenada e
de melhor qualidade do que linhagens de bermuda comum. Em ensaios conduzidos nos
Estados Unidos, a cultivar Tifton 85 (Cynodon spp.) apresentou elevado potencial de
produção de forragem de alta digestibilidade (HILL et al., 1993).
A adubação nitrogenada determina o ritmo de crescimento e interfere na
qualidade da forragem produzida pelas gramíneas forrageiras. No entanto, para evitar
perdas e aumentar a eficiência de utilização do N pelas gramíneas e, conseqüentemente,
na produção animal, torna-se necessário estabelecer a dose adequada (MONTEIRO,
1996).
Segundo Martha Jr. et al. (2004), a resposta média de forrageiras tropicais ao N
aplicado (kg de MS/kg de N) estava próxima a 30:1, com uma amplitude de 15 a 45:1.
Conforme discutido por Costa et al. (2006), a dinâmica do N no ambiente é
muito complexa e diferenciada em relação aos outros nutrientes, possuindo grande
mobilidade no solo, além de sofrer inúmeras transformações mediadas por
microrganismos, passando por formas gasosas passíveis de serem perdidas por
volatilização. Assim, parte do N aplicado à pastagem é perdida do sistema, o que reduz
a eficiência de seu uso.
A partir de uma perspectiva sustentável, a adubação nitrogenada pode evitar o
processo de degradação das pastagens, garantindo maior persistência e produtividade às
37
forrageiras. No entanto, sua utilização tem se tornado uma prática proibitiva em vários
sistemas de produção pecuária devido aos elevados custos dos fertilizantes nitrogenados
(SOLLENBERGER, 2008).
Neste contexto, justificam-se estudos que viabilizem o manejo adequado da
adubação nitrogenada para as diferentes espécies forrageiras em sistemas de produção
regionais. Com isso, objetivou-se avaliar a produção e a composição química da
forragem verde e do feno de capim-tifton 85 (Cynodon spp.) submetido a doses de N, na
região Centro-Sul de Mato-Grosso.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na área do Centro de Pesquisa da Empresa
Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER), em Cáceres,
MT, situado a 16º09‟02” Sul e 57º38‟07” Oeste, e altitude de 157 m. O clima no
município, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw, ou seja, clima tropical,
megatérmico, caracterizado por duas estações bem definidas: seca (abril a outubro) e
chuvosa (novembro a março). Os dados de precipitação e de temperatura, durante o
período experimental, foram registrados na estação meteorológica do Instituto Nacional
de Meteorologia (INMET), de Cáceres, MT, e são apresentados na Figura 1.
Na área experimental, o capim-tifton 85 (Cynodon spp.) já havia sido
implantado, e estava sendo manejado como área demonstrativa. Em novembro de 2007,
realizou-se uma análise de solo para caracterização físico-química da camada de 0-20
cm de profundidade, com os seguintes resultados: pH em água = 6,1; pH em CaCl2 =
5,1; V = 59%; H+Al = 2,3 cmolc/dm3; Ca = 2,8 cmolc/dm3; Mg = 0,4 cmolc/dm3; CTC a
38
pH 7,0 = 5,65 cmolc/dm3; K = 58 mg/dm3; P (Mehlich 1) = 20,8 mg/dm3; matéria
orgânica = 27 g/dm3; argila = 120 g/kg; silte = 100 g/kg; areia = 780 g/kg.
Em dezembro de 2007, realizou-se o corte de uniformização do capim, na área
experimental, a 5,0 cm do nível do solo e, em seguida, foram aplicados 30 kg/ha de
P2O5. Durante o período experimental foram aplicados 20 kg/ha de K2O, após cada
corte, totalizando 80 kg/ha de K2O.
Figura 1. Precipitação pluviométrica (A) e temperatura média mensal (B) durante o
período experimental em Cáceres, MT.
A área foi dividida em parcelas de 4,0 x 5,0 m, sendo utilizada como área útil a
porção central de 6 m2. As parcelas foram instaladas seguindo o delineamento
experimental de blocos completos casualizados com cinco tratamentos e quatro
repetições.
39
Os tratamentos foram constituídos de cinco doses de N (0; 60; 120; 180 e 240
kg/ha), divididas em quatro aplicações, uma após cada corte, sob a forma de uréia, em
cobertura.
Foram realizados quatro cortes da forragem, em intervalos de 30 dias, que
ocorreram em 19/01/2008, 18/02/2008, 19/03/2008 e 18/04/2008. Nas respectivas datas,
antes do corte da forragem, foi efetuada a avaliação da altura das plantas, medindo-se do
nível do solo até a inflexão da última folha, em cinco pontos representativos de cada
parcela.
Os cortes do capim foram efetuados na altura de 5,0 cm do nível do solo,
usando-se cutelo, e colhendo-se a forragem presente em um quadro de 0,5 x 0,5 m,
sendo uma amostra destinada à avaliação da produtividade de forragem e outra para
avaliação dos componentes da forragem e valor nutritivo.
A massa de forragem foi pesada em balança tipo dinamômetro, imediatamente
após o corte, sendo, em seguida, colocada em sacos de papel para posterior avaliação
em laboratório. A segunda amostra era separada nas frações lâmina foliar, pseudocolmo
e material morto.
Para a determinação dos teores de matéria seca (MS) foi realizada uma présecagem das amostras, em estufa de circulação forçada de ar, em temperatura de 55 a
60º C por 72 horas. Em seguida, foi realizada a moagem do material em moinho de
facas com peneira de 1 mm de diâmetro. Posteriormente, foram tomadas amostras (3g)
deste material, as quais foram levadas à estufa a 105 ºC por oito horas (AOAC, 1990).
Os resultados de produção de forragem e os das análises bromatológicas foram
corrigidos para base seca.
40
A eficiência de utilização do N para o capim-tifton 85 (kg de MS/kg de N) foi
estimada pelo modelo da dupla inversão, com o uso da transformação de LineweaverBurk, de acordo com metodologia descrita por Fernandes et al. (2007).
Para as análises bromatológicas, foram considerados os três últimos cortes
realizados. A determinação dos teores de proteína bruta (PB) foi realizada de acordo
com AOAC (1990), enquanto os teores de fibra em detergente neutro (FDN) e de fibra
em detergente ácido (FDA) foram determinados segundo metodologia descrita por Van
Soest et al. (1991).
No último corte, realizado em 18/04/2008, cortou-se uma amostra adicional por
parcela, deixando-se a forragem secar a campo até o ponto de feno, para avaliar,
posteriormente, o rendimento de feno e suas características bromatológicas.
Utilizou-se o seguinte modelo matemático:
ŷij = m + ti + Bj + eij
Onde:
ŷij: valor observado no tratamento i (i = 1,..., 5) no bloco j (j = 1, ..., 4);
m: constante inerente a todas as observações;
ti: efeito i-ésima dose de N;
bj: efeito do Bloco j;
eij: erro experimental associado à observação ŷij.
Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão, ao nível de
5% de probabilidade, utilizando-se o aplicativo estatístico SAEG versão 5.0 (UFV,
1995).
41
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Características da forragem verde
Não houve efeito das doses de N no teor de matéria seca da forragem verde
(P>0,05), obtendo-se valor médio de 21,18%.
A aplicação de N aumentou linearmente a produção de massa seca total
(P<0,05), sendo estimado rendimento de 22,67 kg/ha de MS/kg de N aplicado. Em
relação ao tratamento sem adubação, houve um acréscimo de 86,45% na produção de
massa seca de forragem quando se aplicou 240 kg/ha de N (Figura 2).
Figura 2. Produção de massa seca total (PMS, kg/ha) do capim-tifton 85 em função de
doses de N (kg/ha) (acumulado de quatro cortes).
Vilela & Alvim (1998) obtiveram resultados de produções de massa seca do
capim-tifton 85 variando de 1,9 a 17,8 t/ha de MS, na época das águas, para as doses de
0 e 600 kg/ha de N, respectivamente. Em trabalho conduzido em Juiz de Fora, MG,
Alvim et al. (1999), aplicando doses de zero, 100, 200, 400 e 600 kg/ha de N, no capimtifton 85, durante o período chuvoso, com cortes realizados a cada quatro semanas,
observaram rendimento de MS de 19,2 kg/ha de MS/kg de N. Cecato et al. (2001),
avaliando o capim-tifton 85 em quatro cortes a cada 35 dias no verão, em Maringá, PR,
42
encontraram produção acumulada de 7.464 kg/ha de MS, sem adubação nitrogenada, e
de 14.255 kg/ha de MS, quando recebeu 400 kg/ha de N na forma de uréia em
cobertura.
A produção de massa seca de lâmina foliar aumentou linearmente (P<0,05)
com a aplicação de N, com um rendimento de 11,37 kg de MS/kg de N aplicado (Figura
3).
Em avaliação conduzida por dois anos em Araçatuba, SP, Soares Filho et al.
(2002) observaram, para o capim-tifton 85 recebendo 200 kg/ha/ano de N e cortes a
cada 35 dias nas águas e 45 dias na seca, produção de lâmina foliar de 6.670 kg/ha de
MS no período das águas, com acúmulo anual de 7.510 kg/ha de MS.
Figura 3. Produção de massa seca de lâmina foliar (PMSLF, kg/ha) do capim-tifton 85
em função de doses de N (kg/ha) (acumulado de quatro cortes).
Comparando-se os dados de produtividade deste experimento com resultados
obtidos nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, verifica-se grande potencial de produção
desta forrageira no Estado de Mato Grosso, mesmo com menores quantidades aplicadas
de N. Segundo Sinclair et al. (2004), o aumento na intensidade luminosa pode favorecer
43
o desenvolvimento da cultivar Tifton 85, revelando grande potencial desta forrageira em
condições tropicais. No entanto, há que se destacar a alta fertilidade do solo na área
experimental, demonstrando elevados teores de matéria orgânica e disponibilidade de
fósforo, além das condições climáticas regionais favoráveis, durante a condução do
experimento.
Na Figura 4, pode-se observar a diminuição da eficiência de utilização do N
para o capim-tifton 85. A partir da dose estimada de 155 kg/ha de N, que corresponde a
80% da produção máxima de massa seca do capim-tifton 85, a resposta da forrageira em
termos de produção de biomassa torna-se muito baixa, não se justificado a adubação
nitrogenada em termos bio-econômicos.
Ŷ = 125,03 – 0,1753 X
R2 = 0,70
Figura 4. Eficiência de utilização do N (kg de MS/kg de N) para o capim-tifton 85, em
função de doses de N (kg/ha).
Não houve influência das doses de N na relação lâmina foliar:pseudocolmo da
forragem (P>0,05), com valor médio de 1,09, demonstrando maior participação de
lâminas foliares na forragem.
44
Da mesma forma, Bueno (2006) não observou efeito de níveis de N na relação
lâmina foliar:pseudocolmo das forrageiras Florico e Coastcross, obtendo valor médio de
0,8. Comportamento diferente foi observado para os capins Marandu e Xaraés, que
tiveram aumento nessa variável. Segundo o autor, a maior capacidade das braquiárias de
aumentar o tamanho das folhas seria um dos fatores responsáveis por essa resposta à
adubação nitrogenada.
A adubação nitrogenada aumentou linearmente (P<0,05) a altura do relvado
(Figura 5), ocorrendo valores estimados variando de 36,85 a 49,40 cm, para as doses de
0 e 240 kg/ha de N, respectivamente, observando-se um incremento de 0,052 cm para
cada kg/ha de N aplicado.
Figura 5. Altura do relvado do capim-tifton 85 em função de doses de N (kg/ha) (média
de 4 cortes).
A adubação nitrogenada promoveu aumento linear (P<0,05) no teor de proteína
bruta do capim-tifton 85 (Figura 6), ocorrendo acréscimo de 0,0095 unidade percentual
(u.p.) para cada kg/ha de N aplicado.
45
Os resultados obtidos foram superiores aos observados por Menegatti et al.
(2002), que obtiveram aumento de 0,0073 u.p. no teor de proteína bruta do capim-tifton
85 para cada kg de N aplicado.
Figura 6. Teor de proteína bruta (PB, %) do capim-tifton 85 em função de doses de N
(kg/ha) (média de três cortes).
Quanto ao teor de FDN da forragem, observou-se redução linear (P<0,05) de
0,0143 u.p. para cada kg/ha de N aplicado (Figura 7). Os resultados obtidos neste
trabalho estão em concordância com resultados encontrados em gramíneas do gênero
Cynodon (Rocha et al., 2001; Corrêa et al., 2006). Cecato et al. (2001), em trabalho
conduzido em Iguatemi, PR, encontraram efeito da adubação nitrogenada na redução do
teor de FDN em gramíneas do gênero Cynodon recebendo doses de 0 e 400 kg/ha de N,
apenas no primeiro corte, sendo que nos demais, os valores se mantiveram similares .
Os teores de FDN encontrados no presente trabalho, de modo geral, podem ser
considerados elevados, com médias estimadas variando de 79,56 a 82,99%. Bueno
(2006) e Soares Filho et al. (2002) observaram maiores teores de FDN em forrageiras
do gênero Cynodon em comparação às do gênero Brachiaria. Entretanto, Hill et al.
46
(1998) afirmaram que, apesar do capim-tifton 85 possuir altos teores de FDN, a
digestibilidade da forragem é elevada.
Figura 7. Teor de fibra em detergente neutro (FDN, %) do capim-tifton 85 em função
de doses de N (kg/ha) (média de três cortes).
O teor de FDA da forragem não foi influenciado pelas doses de N (P>0,05),
obtendo-se teor médio de 44,37%.
Da mesma forma, Cecato et al. (2001) não encontraram diferenças no teor de
FDA do capim-tifton 85 adubado com 400 kg/ha de N e sem aplicação do nutriente.
Soares Filho et al. (2002) observaram variação estacional nos teores de FDA,
encontrando teores de 42,3%, no período das águas, e de 38,7%, no período seco.
Características do feno
O teor de matéria seca do feno de Tifton 85 não variou (P>0,05) com as doses
de N aplicadas, obtendo-se valor médio de 86,86%. Haddad & Castro (1998) apontam
que a estabilidade de desidratação de fenos de boa qualidade é alcançada com teor de
umidade entre 12 e 18 %.
47
Houve aumento linear na produção de massa seca do feno de Tifton 85 com o
aumento das doses de N (P<0,05) (Figura 8), com a produção estimada variando de
1.464,15 kg/ha/corte, sem aplicação de N, para 2.522,85 kg/ha/corte, com aplicação de
240 kg/ha de N, obtendo-se um rendimento de 4,41 kg/ha de MS/corte para cada kg/ha
de N aplicado. Os resultados indicam a importância da adubação nitrogenada para
forrageiras utilizadas para corte, em que ocorre grande exportação de nutrientes da área.
Figura 8. Produção de massa seca do feno (PMSF, kg/ha/corte) de Tifton 85 em função
de doses de N (kg/ha).
A elevação nas doses de N resultou em aumento linear (P<0,05) de 0,01135
u.p. no teor de proteína bruta do feno, para cada kg/ha de N aplicado (Figura 9). Esses
valores foram inferiores aos obtidos por Ataíde Jr. et al. (2000), que observaram teor de
proteína bruta de 17,54% em feno de capim-tifton 85 com 28 dias de crescimento e
submetido a 75 kg/ha/corte de N. No entanto, baixos teores de proteína bruta em feno de
capim-tifton 85 foram obtidos por Gonçalves (2001), com valor de 8,08%, em intervalo
de corte de 42 dias. Jobim et al. (2001) encontraram teores de proteína bruta de 5,06;
5,09 e 5,25% para feno das cultivares Tifton 44, Tifton 85 e Coastcross,
respectivamente, cortados com 45 dias de crescimento.
48
Figura 9. Teor de proteína bruta (PB, %) do feno de capim-tifton 85 em função de
doses de N (kg/ha).
O teor de FDN do feno do capim-tifton 85 apresentou resposta quadrática aos
níveis de N aplicados (P<0,05). O teor mínimo estimado de FDN, de 83,45%, foi obtido
com a dose de 115 kg/ha de N (Figura 10).
Ataíde Jr. et al. (2000) encontraram em feno da mesma forrageira, teor de FDN
de 82,19%, valor próximo aos encontrados no presente trabalho. Interferência da
maturidade da forrageira no momento do corte sobre o teor de FDN foi observada por
Ribeiro et al. (2001) que encontraram em feno de capim-tifton 85, cortado em diferentes
idades, valores de FDN de 78,8 a 81,3%, quando o período de crescimento do capim
aumentou de 28 para 56 dias. No entanto, como demonstrado neste trabalho, a adubação
nitrogenada pode, em determinadas doses, afetar positivamente ou negativamente os
teores de FDN do feno, devido, possivelmente, a interações deste componente com a
maturidade das plantas e desses com o processo de secagem.
49
Figura 10. Teor de FDN (%) do feno de capim-tifton 85 em função de doses de N
(kg/ha).
O teor de FDA do feno de capim-tifton 85 não foi influenciado pelas doses de
N aplicadas (P>0,05), obtendo-se valor médio de 44,58%.
O aumento das doses de N promoveu aumento na produção de massa seca e
melhoria na composição química da forragem verde e do feno do capim-tifton 85. No
entanto, a eficiência bio-econômica para produção de forragem verde diminui,
acentuadamente, a partir da dose estimada de 155 kg/ha de N.
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52
CAPÍTULO II
Produção de forragem e composição química do capim-estrela-africana (Cynodon
nlemfuensis var. nlemfuensis) submetido a doses de nitrogênio
Forage production and chemical composition of African stargrass (Cynodon
nlemfuensis var. nlemfuensis) subjected to nitrogen levels
RESUMO
O experimento foi conduzido em Cáceres, MT, com o objetivo de avaliar o efeito de
doses de nitrogênio sobre a produção de forragem e a composição química do capimestrela-africana (Cynodon nlemfuensis var. nlemfuensis). Utilizou-se o delineamento em
blocos completos casualizados com cinco tratamentos (0, 60, 120, 180 e 240 kg/ha de
N) e quatro repetições, em parcelas de 4,0x5,0 m. Foram realizados quatro cortes a
intervalos de 30 dias, na altura de 5 cm do nível do solo, sendo as doses de N parceladas
em quatro aplicações após cada corte, sob a forma de uréia, em cobertura. No último
corte, retirou-se uma amostra adicional por parcela, para se avaliar a produtividade e a
composição química do feno. Quanto à forragem verde do capim-estrela-africana,
observou-se, para cada kg/ha de N aplicado, aumento na produção de massa seca total
de 15,25 kg/ha, na produção de massa seca de lâmina foliar de 2,84 kg/ha, na altura do
relvado de 0,027 cm e no teor de proteína bruta de 0,0073 unidade percentual (u.p.), e
diminuição na relação lâmina foliar:pseudocolmo de 0,000571. Para a produção de feno
do capim-estrela-africana, observou-se, para cada kg/ha de N aplicado, aumento na
produção de massa seca de 3,83 kg/ha e no teor de proteína bruta de 0,018 u.p., e
53
diminuição no teor de FDN de 0,0257 u.p. Ocorreu diminuição acentuada da eficiência
agronômica de utilização do N a partir da dose estimada de 71 kg/ha de N.
Palavras-chave: eficiência de uso do N, feno, forragem verde, valor nutritivo.
SUMMARY
The experiment was conducted in Cáceres-MT, to evaluate the effect of nitrogen rates
on the production of forage and chemical composition of African stargrass (Cynodon
nlemfuensis var. nlemfuensis). Using the A randomized complete block design with five
treatments (0, 60, 120, 180 and 240 kg/ha of N) and four replications in plots of 4.0 x
5.0 m. Four cuts were made at intervals of 30 days, at 5 cm from ground level, and the
N rates in four split applications after each cut in the form of urea, in coverage. In the
last cut pulled up an additional sample per plot, to evaluate the productivity and
chemical composition of hay. As the green forage of African stargrass was observed for
each kg/ha of N applied, increase the production of total dry mass of 15.25 kg/ha, the
production of leaf dry mass of 2.84 kg/ha, when the lawn of 0.027 cm and the crude
protein percentage of 0.0073 unit (up) and decrease in relative leaf:steam ratio of
0.000571. For the production of the African stargrass was observed for each kg/ha of N
applied, increase the production of dry mass of 3.83 kg/ha and crude protein content up
to 0.018, and decreased the NDF content of up to 0.0257 There was sharp decline in the
use of agronomic efficiency of N from the estimated dose of 71 kg/ha of N.
Keywords: efficiency of use of N, hay, green forage, nutritive value.
54
INTRODUÇÃO
O Brasil, devido ao predominante clima tropical, possui grande potencial para
produção de forragem, sendo que o uso de forrageiras de maior qualidade e o manejo da
fertilidade do solo são premissas básicas na busca por maiores índices de produtividade.
Desta forma, as forrageiras do gênero Cynodon têm se mostrado uma opção
interessante, devido ao potencial produtivo e à qualidade da forragem, tanto para uso em
pastejo direto ou como forragem conservada (Vilela & Alvim, 1998).
As espécies de Cynodon são adaptadas a vários tipos de solos, porém, são
exigentes quanto à fertilidade, principalmente, em sistemas de produção intensivos
(Pedreira et al., 1998).
Segundo Monteiro (1996), a adubação nitrogenada determina o ritmo de
crescimento, além de interferir na qualidade da forragem; assim, o correto manejo da
adubação nitrogenada é necessário para evitar perdas e aumentar a eficiência de
utilização do N pela forrageira.
No entanto, a complexa dinâmica do N no ambiente, em relação aos outros
nutrientes, torna a adubação nitrogenada uma prática de grande exigência técnica, pois
apesar de doses elevadas de N favorecerem grande acúmulo de matéria seca, nem
sempre representam benefícios econômicos para o sistema de produção, devido
principalmente, ao alto custo do fertilizante e baixo efeito residual (Costa et al., 2006).
Neste contexto, objetivou-se avaliar a produção e a composição química da
forragem verde e do feno do capim-estrela-africana (Cynodon nlemfuensis var.
nlemfuensis) submetido a doses de nitrogênio, na região Centro-Sul de Mato Grosso.
55
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na área do Centro de Pesquisa da Empresa
Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER), em Cáceres,
MT, situado a 16º09‟02” Sul e 57º38‟07” Oeste, e altitude de 157 m. O clima no
município, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw, ou seja, clima tropical,
megatérmico, caracterizado por duas estações bem definidas: seca (abril a outubro) e
chuvosa (novembro a março). Os dados de precipitação e de temperatura, durante o
período experimental, foram registrados na estação meteorológica do Instituto Nacional
de Meteorologia (INMET), de Cáceres, MT, e são apresentados na Figura 11.
Na área experimental, o capim-estrela-africana (Cynodon nlemfuensis var.
nlemfuensis) já havia sido implantado, e estava sendo manejado como área
demonstrativa. Em novembro de 2007, realizou-se uma análise de solo para
caracterização físico-química da camada de 0-20 cm de profundidade, com os seguintes
resultados: pH em água = 6,1; pH em CaCl2 = 5,1; V = 59%; H+Al = 2,3 cmolc/dm3; Ca
= 2,8 cmolc/dm3; Mg = 0,4 cmolc/dm3; CTC a pH 7,0 = 5,65 cmolc/dm3; K = 58
mg/dm3; P (Mehlich 1) = 20,8 mg/dm3; matéria orgânica = 27 g/dm3; argila = 120 g/kg;
silte = 100 g/kg; areia = 780 g/kg.
Em dezembro de 2007, realizou-se o corte de uniformização do capim, na área
experimental, a 5,0 cm do nível do solo e, em seguida, foram aplicados 30 kg/ha de
P2O5. Durante o período experimental foram aplicados 20 kg/ha de K2O, após cada
corte, totalizando 80 kg/ha de K2O.
56
Figura 11. Precipitação pluviométrica (A) e temperatura média mensal (B) durante o
período experimental em Cáceres, MT.
A área foi dividida em parcelas de 4,0 x 5,0 m, sendo utilizada como área útil a
porção central de 6 m2. As parcelas foram instaladas seguindo o delineamento
experimental de blocos completos casualizados com cinco tratamentos e quatro
repetições.
Os tratamentos foram constituídos de cinco doses de N (0; 60; 120; 180 e 240
kg/ha), divididas em quatro aplicações, uma após cada corte, sob a forma de uréia, em
cobertura.
Foram realizados quatro cortes da forragem, em intervalos de 30 dias, que
ocorreram em 19/01/2008, 18/02/2008, 19/03/2008 e 18/04/2008. Nas respectivas datas,
antes do corte da forragem, foi efetuada a avaliação da altura das plantas, medindo-se do
57
nível do solo até a inflexão da última folha, em cinco pontos representativos de cada
parcela.
Os cortes do capim foram efetuados na altura de 5,0 cm do nível do solo,
usando-se cutelo, e colhendo-se a forragem presente em um quadro de 0,5 x 0,5 m,
sendo uma amostra destinada à avaliação da produtividade de forragem e outra para
avaliação dos componentes da forragem e valor nutritivo.
A massa de forragem foi pesada em balança tipo dinamômetro, imediatamente
após o corte, sendo, em seguida, colocada em sacos de papel para posterior avaliação
em laboratório. A segunda amostra era separada nas frações lâmina foliar, pseudocolmo
e material morto.
Para a determinação dos teores de matéria seca (MS) foi realizada uma présecagem das amostras, em estufa de circulação forçada de ar, em temperatura de 55 a
60º C por 72 horas. Em seguida, foi realizada a moagem do material em moinho de
facas com peneira de 1 mm de diâmetro. Posteriormente, foram tomadas amostras (3g)
deste material, as quais foram levadas à estufa a 105 ºC por oito horas (AOAC, 1990).
Os resultados de produção de forragem e os das análises bromatológicas foram
corrigidos para base seca.
A eficiência de utilização do N para o capim-estrela-africana (kg de MS/kg de
N), foi estimada pelo modelo da dupla inversão, com o uso da transformação de
Lineweaver-Burk, de acordo com metodologia descrita por Fernandes et al. (2007).
Para as análises bromatológicas, foram considerados os três últimos cortes
realizados. A determinação dos teores de proteína bruta (PB) foi realizada de acordo
com AOAC (1990), enquanto os teores de fibra em detergente neutro (FDN) e de fibra
58
em detergente ácido (FDA) foram determinados segundo metodologia descrita por Van
Soest et al. (1991).
No último corte, realizado em 18/04/2008, cortou-se uma amostra adicional por
parcela, deixando-se a forragem secar a campo até o ponto de feno, para avaliar,
posteriormente, o rendimento de feno e suas características bromatológicas.
Utilizou-se o seguinte modelo matemático:
ŷij = m + ti + Bj + eij
Onde:
ŷij: valor observado no tratamento i (i = 1,..., 5) no bloco j (j = 1, ..., 4);
m: constante inerente a todas as observações;
ti: efeito i-ésima dose de N;
bj: efeito do Bloco j;
eij: erro experimental associado à observação ŷij.
Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão, ao nível de
5% de probabilidade, utilizando-se o aplicativo estatístico SAEG versão 5.0 (UFV,
1995).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Características da forragem verde
Não houve efeito dos níveis de N sobre o teor de matéria seca do capimestrela-africana (P>0,05), obtendo-se valor médio de 26,31%.
A produção de massa seca total foi influenciada pelas doses de N (P<0,05),
observando-se aumento de 15,25 kg/ha para cada kg/ha de N aplicado (Figura 12).
59
Alvim et al. (2003), avaliando o capim-estrela-africana sob pastejo por
novilhas holandesas, em Coronel Pacheco, MG, no período das águas, observaram
produção de 11.512 kg/ha de MS, quando a forrageira recebeu 250:200 kg/ha de
N:K2O, e de 12.582 kg/ha de MS, com 500:400 kg/ha de N:K2O, alcançando aumento
de 9,2% na produção de MS, e demonstrando baixa resposta desta forrageira a níveis
muito elevados de N.
Figura 12. Produção de massa seca total (PMS, kg/ha) do capim-estrela-africana em
função de doses de N (kg/ha) (acumulado de quatro cortes).
A produção de massa seca de lâminas foliares verdes aumentou linearmente
(P<0,05) com a aplicação de N, a uma taxa de 2,84 kg de MS/kg de N (Figura 13).
Em trabalho conduzido em Araçatuba, SP, Soares Filho et al. (2002) avaliaram
as forrageiras Florico e Florona, cultivares de capim-estrela selecionadas mais
recentemente, recebendo 200 kg/ha/ano de N e submetidas a cortes a cada 35 dias, nas
águas, e a cada 45 dias, na seca. Os autores observaram valores de massa seca de lâmina
foliar de 4.350 kg/ha e de 5.030 kg/ha, no período das águas, com acúmulo anual de
5.110 kg/ha e de 5670 kg/ha para as forrageiras Florico e Florona, respectivamente.
60
Figura 13. Produção de massa seca de lâmina foliar (PMSLF, kg/ha) do capim estrelaafricana em função de doses de N (kg/ha) (acumulado de quatro cortes).
Na Figura 14, pode-se observar a diminuição da eficiência de utilização do N
para o capim-estrela-africana. A partir da dose estimada de 71 kg/ha de N, que
corresponde a 80% da produção máxima de massa seca total do capim-estrela-africana,
a queda na eficiência de utilização do N foi mais pronunciada, sendo um indicativo para
tomada de decisão para adubação nitrogenada nestas condições.
Moreira & Siqueira (2006) ressaltaram que ocorre grande competição entre as
plantas e a população microbiana do solo, além de várias transformações do N,
mediadas por microrganismos, o que direta e indiretamente determinará a relação de
equilíbrio entre as formas orgânicas e inorgânicas, notadamente de NO3- e NH4+, formas
essas absorvidas pelas plantas.
61
Ŷ = 242,24 – 0,7402 X
R2 = 0,70
Figura 14. Eficiência de utilização do N (kg de MS/kg de N) para o capim-estrelaafricana, em função das doses de N (kg/ha) aplicadas.
Houve redução linear (P<0,05) da relação lâmina foliar:pseudocolmo com o
aumento dos níveis de N (Figura 15), a uma taxa de 0,000571 unidade para cada kg/ha
de N aplicado.
Do mesmo modo, em trabalho conduzido em Iguatemi, PR, Cecato et al.
(2001) observaram maior proporção de colmos quando forrageiras do gênero Cynodon
foram adubadas com 400 kg/ha de N, em relação às não adubadas. No entanto, Alvim et
al. (2003) não observaram interferência da adubação com N e K na relação lâmina
foliar:pseudocolmo, obtendo valor médio de 0,9 na época das chuvas e de 0,8 na época
seca, em trabalho conduzido em Coronel Pacheco, MG.
62
Figura 15. Relação lâmina foliar:pseudocolmo do capim-estrela-africana em função de
doses de N (kg/ha) (média de 4 cortes).
A adubação nitrogenada influenciou na altura do relvado (P<0,05), com
aumento de 0,027162 cm para cada kg/ha de N aplicado (Figura 16), sendo estimados
valores de 44,05 cm e de 50,57 cm, nas doses de 0 e 240 kg/ha de N, respectivamente.
Figura 16. Altura do relvado de capim-estrela-africana em função de doses de N
(kg/ha) (média de quatro cortes).
O teor de proteína bruta da forragem aumentou linearmente (P<0,05) com a
aplicação das doses de N (Figura 17), sendo estimados valores de 10,84% sem a
63
aplicação de N, e de 12,60% com a aplicação de 240 kg/ha de N, ou seja, aumento de
0,007354 u.p. para cada kg/ha de N aplicado.
Resultado semelhante foi obtido por Alvim et al. (2003), que observaram
aumento no teor de proteína bruta do capim-estrela-africana, de 9,1% para 11,3%,
quando se elevou a adubação de 250 para 500 kg/ha/ano de N, respectivamente.
Figura 17. Teor de proteína bruta (PB, %) do capim-estrela-africana em função de
doses de N (kg/ha).
Não houve efeito dos níveis de N sobre os teores de FDN e de FDA da
forragem do capim-estrela-africana (P>0,05), observando-se teores médios de 78,00% e
de 43,01%, respectivamente.
Em plantas recebendo níveis crescentes de N, os resultados encontrados para
teores de FDN e de FDA têm sido variáveis. Alvim et al. (1996) não observaram
alterações nos teores de FDN no capim-coastcross submetido a níveis de até 750 kg/ha
de N. Já Cecato et al. (2001), avaliando cinco cultivares do gênero Cynodon, entre eles
Estrela Roxa e Estrela Porto Rico, sem aplicação de N e recebendo 400 kg/ha de N,
observaram efeito do N na redução dos teores de FDN e de FDA, apenas no primeiro
64
corte. Em trabalho conduzido por Dias et al. (2000), com aplicação de doses de 0, 100,
200 e 400 kg/ha/ano de N, observou-se redução linear no teor de FDN do capimcoastcross, da ordem de 0,0051 u.p./kg de N aplicado.
Segundo Calixto Júnior et al. (2007), vários fatores interferem nos teores de
FDN e FDA, como a espécie forrageira, dose de nitrogênio aplicado, intervalo de
aplicação do fertilizante e, principalmente, a maturidade da forrageira avaliada.
Características do feno
A adubação nitrogenada não afetou o teor de matéria seca do feno produzido
(P>0,05), sendo obtido um teor médio de 88,24%. Segundo Haddad & Castro (1998), o
ponto de feno é atingido quanto a umidade da forragem encontra-se entre 12 e 18% e o
material alcança a estabilidade de desidratação.
Houve aumento linear na produção de massa seca (P<0,05) em função das
doses de N (Figura 18). Observou-se aumento de 3,83 kg/ha/corte para cada kg/ha de N
aplicado, comportamento similar ao apresentado na produção de forragem verde. Desta
forma, fica evidenciado a importância da adubação nitrogenada para se alcançar níveis
de produtividade elevados em forrageiras manejadas sob corte, onde ocorre alta
extração de nutrientes.
Também, houve aumento linear no teor de proteína bruta do feno (P<0,05) em
função das doses de N (Figura 19). Observou-se aumento de 0,018 u.p. para cada kg/ha
de N aplicado, estimando-se valores de 12,79% e de 17,12 %, com a aplicação de 0 e
240 kg/ha de N, respectivamente.
65
Figura 18. Produção de massa seca do feno (PMSF, kg/ha/corte) de capim-estrelaafricana em função de doses de N (kg/ha).
Mesmo comportamento foi observado por Alvim et al. (1996) em feno de
Coastcross colhido com quatro semanas de crescimento no período das chuvas, com
teor de proteína bruta variando de 13,5%, sem aplicação de N, para 19,1%, quando se
aplicou 750 kg/ha de N. Este comportamento também foi observado por Calixto Júnior
et al. (2007), com o teor de proteína bruta do feno de capim-estrela aumentando de 7,4%
para 8,5%, quando se elevou de 50 para 100 kg/ha de N, respectivamente.
Figura 19. Teor de proteína bruta (PB, %) do feno de capim-estrela-africana em função
de doses de N (kg/ha).
66
Para o teor de FDN do feno, observou-se redução linear (P<0,05) da ordem de
0,025721 u.p. para cada kg/ha de N aplicado (Figura 20). Os teores estimados variaram
de 85,81% a 79,64%, para as doses de 0 e 240 kg/ha de N, respectivamente,
representando decréscimo de 7,20%. Efeito contrário foi observado Calixto Júnior et al.
(2007), que encontraram teores de FDN de 81,7% e de 83,5% em feno de capim-estrela
adubado com 50 e 100 kg/ha de N, respectivamente.
Figura 20. Teor de FDN (%) do feno de capim-estrela-africana em função de doses de
N (kg/ha).
Em relação ao teor de FDA do feno, não houve efeito das doses de N (P>0,05),
apresentando valor médio de 43,73%. Comportamento semelhante foi encontrado por
Calixto Júnior et al. (2007), que não observaram diferenças nos teores de FDA no feno
de capim-estrela submetido a doses de 50 e 100 kg/ha de N, com teor médio de 42,35%.
O aumento das doses de N influenciou positivamente a produção e a
composição química da forragem verde e do feno do capim-estrela-africana. No entanto,
a eficiência de uso do N sofreu queda acentuada a partir da dose estimada de 71 kg/ha
de N, indicando uma baixa resposta desta forrageira à adubação nitrogenada, fato
67
limitante para sua utilização em sistemas de produção com nível tecnológico mais
elevado.
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69
CAPÍTULO III
Recuperação de matéria seca e composição química de silagens de gramíneas do
gênero Cynodon submetidas a períodos de pré-emurchecimento
Recovery of dry matter and chemical composition of grass silages of the genus Cynodon
undergone periods of pre-wilting
RESUMO
Objetivou-se avaliar o efeito de períodos de pré-emurchecimento dos capins Estrela
Africana (Cynodon nlemfuensis var. nlemfuensis) e Tifton 85 (Cynodon spp.) sobre
algumas características de suas silagens. Utilizou-se delineamento inteiramente
casualizado com dez tratamentos e três repetições. Os tratamentos foram dispostos em
esquema fatorial 2 x 5, sendo dois capins (Estrela Africana e Tifton 85) e cinco períodos
de pré-emurchecimento da forragem (0, 1, 2, 3 e 4 h). Os capins foram cortados aos 50
dias de rebrotação e permaneceram ensilados por 55 dias em silos experimentais. O préemurchecimento promoveu aumento no teor de matéria seca da forragem cortada e da
silagem dos capins Tifton 85 e Estrela Africana. Houve diminuição nos teores de Namoniacal (N-NH3/N-total) da silagem do capim-estrela-africana, a uma taxa de 1,66
unidade percentual por hora de pré-emurchecimento, mas não houve alteração nessa
variável da silagem do capim-tifton 85. A silagem do capim-tifton 85 apresentou maior
recuperação de matéria seca, maior teor de FDN e menor teor de proteína bruta do que a
silagem do capim-estrela-africana. O pH e o teor de FDA das silagens não foram
influenciados pelo pré-emurchecimento.
70
Palavras-chave: Estrela Africana, N-amoniacal, pH, teor de matéria seca, Tifton 85.
SUMMARY
The objective was to evaluate the effect of periods of pre-wilting grasses of the African
stargrass (Cynodon nlemfuensis var. nlemfuensis) and Tifton 85 bermudagrass
(Cynodon spp.) on some characteristics of their silages. We used a randomized design
with ten treatments and three replications. Treatments were arranged in 2 x 5 factorial
scheme, two grasses (Africa stargrass and Tifton 85) and five periods of pre-wilting of
forage (0, 1, 2, 3 and 4 h). The grasses were cut to 50 days of regrowth silages and
remained for 55 days in experimental silos. The pre-wilting increased the dry matter
content of herbage cut for silage and Tifton 85 bermudagrass and African stargrass.
Decrease in the levels of N-ammonia (N-NH3/N-total) of grass silage of African
stargrass at a rate of 1.66 percent per unit time of pre-wilting, but no change in the
variable silage of Tifton 85 bermudagrass. The silage of Tifton 85 bermudagrass had
higher recovery of dry matter, higher content of NDF and lower crude protein than the
grass silage African stargrass. The pH and content of the FDA silages were not affected
by pre-wilting.
Keywords: African Star, N-ammonia, pH, dry matter content, Tifton 85.
INTRODUÇÃO
A ensilagem de capins tropicais tem se tornado uma alternativa às culturas
tradicionais, como o milho e o sorgo, devido ao fato de serem culturas perenes,
apresentarem menor exigência de tratos culturais, de fertilidade do solo e
71
proporcionarem maior número de cortes, que podem estar associados à rotina do manejo
das pastagens empregado na propriedade. Segundo Evangelista et al. (2000), as espécies
do gênero Cynodon se destacam como opção na produção de silagem, em função de
serem forrageiras que se adaptam ao clima tropical e subtropical, com alto potencial
produtivo, elevado valor nutritivo e excelente aceitabilidade pelos animais.
Conforme Pereira & Reis (2001), a qualidade da silagem irá depender do teor
de água, carboidratos solúveis e de sua capacidade tamponante à queda do pH. Desta
forma, a produção de silagem de capins tropicais tem sido um desafio, em virtude
dessas forrageiras apresentarem baixas concentrações de carboidratos solúveis, como
substrato fermentescível, baixo conteúdo de matéria seca e elevado poder tampão. Essas
características colocam em risco o processo de conservação por meio da ensilagem, por
favorecer a ocorrência de fermentações secundárias, resultando em maiores perdas de
matéria seca (VILELA, 1998).
A remoção parcial de água da planta, por meio do pré-emurchecimento ou présecagem, pode ser uma opção interessante, por proporcionar condições ideais para o
crescimento de bactérias lácticas (PEREIRA & REIS, 2001).
Entretanto, os resultados obtidos por meio do pré-emurchecimento têm sido
conflitantes. Andrade et al. (2001), ao avaliarem a conservação do capim-coastcross sob
a forma de silagem pré-emurchecida, observaram maiores conteúdos de nutrientes
digestíveis
totais
(NDT)
e
maior
consumo
voluntário
de
matéria
seca,
comparativamente à forragem conservada na forma de feno ou silagem sem préemurchecimento. Porém, a desidratação excessiva da forragem a ser ensilada, pode
diminuir a qualidade da silagem, quando ocorre aquecimento do material, provocando a
72
formação de compostos indigestíveis como nitrogênio insolúvel em detergente ácido
(NIDA), devido à reação de Maillard (EVANGELISTA et al., 2004).
Neste contexto, objetivou-se avaliar o efeito de períodos de préemurchecimento dos capins Estrela Africana (Cynodon nlemfuensis var. nlemfuensis) e
Tifton 85 (Cynodon spp.) sobre algumas características de suas silagens.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na área do Centro de Pesquisa da Empresa
Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER), em Cáceres,
MT, situado a 16º09‟02” Sul e 57º38‟07” Oeste, e a altitude de 157 m. O clima no
município, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw, ou seja, clima tropical,
megatérmico, caracterizando-se por duas estações bem definidas: seca (abril a
setembro) e chuvosa (novembro a março). O município apresenta precipitação anual
média de 1.348 mm, temperatura média anual de 25,2°C e umidade relativa média anual
de 80,4%.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com dez
tratamentos e três repetições. Os tratamentos foram dispostos em esquema fatorial 2x5,
sendo dois capins (Estrela Africana e Tifton 85) e cinco períodos de préemurchecimento da forragem (0, 1, 2, 3 e 4 h) após o corte.
Os capins Estrela Africana (Cynodon nlemfuensis var. nlemfuensis) e Tifton 85
(Cynodon spp.) foram cortados em 08/05/2008, aos 50 dias de rebrotação, sendo o corte
realizado a 5 cm do nível do solo. O corte foi efetuado às 11:00 e a forragem cortada
permaneceu no campo, espalhada uniformemente em pequenas camadas, em pleno sol,
de acordo com os períodos de pré-emurchecimento.
73
Os dados meteorológicos no dia do pré-emurchecimento e ensilagem da
forragem foram: precipitação pluviométrica: 0 mm; umidade relativa do ar: 75%;
temperatura média: 25,3 ºC; temperatura máxima: 33,7 ºC; temperatura mínima: 20 ºC;
velocidade média do vento: 2,1 m/s.
A forragem foi ensilada em silos experimentais, não sendo realizada a picagem
prévia do material. Como silos experimentais, utilizaram-se canos de PVC com 10 cm
de diâmetro e 50 cm de comprimento, com capacidade para, aproximadamente, 2,1 kg
de forragem (500 kg/m3). A compactação foi realizada com hastes de PVC e o
fechamento, com tampas de PVC dotadas de válvula tipo Bunsen, sendo as tampas
lacradas com fita adesiva.
Parte do material original foi amostrado no momento da ensilagem, para
posterior determinação da matéria seca, conforme AOAC (1990).
A abertura dos silos ocorreu aos 55 dias após a ensilagem. Na coleta das
amostras, foram desprezados os 5 cm da porção superior e inferior dos silos. Após esse
procedimento, a silagem foi homogeneizada e dividida em duas partes. A primeira parte
foi acondicionada em saco plástico e congelada para análise do teor de nitrogênio
amoniacal em relação ao nitrogênio total (N-NH3%/N-Total), segundo método descrito
por Nogueira et al. (2005). A outra parte da amostra foi encaminhada para pré-secagem,
para posterior determinação dos teores de matéria seca (MS) e de proteína bruta (PB),
conforme AOAC (1990), e dos teores de fibra em detergente neutro (FDN) e de fibra
em detergente ácido (FDA), conforme metodologias descritas por Van Soest et al.
(1991).
A avaliação do pH também foi realizada por ocasião da abertura dos silos
experimentais, utilizando-se 9 g de amostra em 60 mL de água destilada por 30
74
minutos, por meio de potenciômetro digital devidamente calibrado (SILVA &
QUEIROZ, 2002).
O índice de recuperação de matéria seca (RMS) foi obtido de acordo com
Jobim et al. (2007).
Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão, conforme
metodologia descrita por Banzato & Kronka (1992). Adotou-se o nível de probabilidade
de 5% e utilizou-se o aplicativo estatístico Sisvar versão 4.6.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O pH da silagem não foi influenciado pelas fontes de variação em estudo
(P>0,05), sendo obtido valor médio de 4,87.
Castro et al. (2006a) observaram elevação do pH da silagem de capim-tifton 85
com o aumento do teor de matéria seca da forragem ensilada, com valores de 5,2 e 6,3
para os teores de matéria seca de 25% e 65%, respectivamente. Resultado semelhante
foi observado por Evangelista et al. (2000) em silagem de capim-estrela-roxa, ou seja,
quando o teor de matéria seca na forragem ensilada aumentou de 26,3% a 41,8%, o pH
se elevou de 4,0 a 4,5. Ao contrário dos trabalhos citados, os teores de matéria seca das
forragens ensiladas podem não ter se elevado o suficiente para ocasionar diferenças
significativas nos valores de pH das silagens, no presente trabalho.
Conforme Vilela (1998), silagens de boa qualidade apresentam valor de pH
máximo de 4,2. No entanto, Jobim et al. (2007) apontam que silagens de forragens
emurchecidas, geralmente, apresentam valores de pH acima de 4,2. Isto se deve a menor
75
intensidade do processo de fermentação, indicando que estas silagens podem atingir
valores de estabilidade aeróbica com valores de pH mais elevados.
O teor de FDA das silagens, também, não foi influenciado pelas fontes de
variação em estudo (P>0,05), sendo obtido um valor médio de 45,70%. Resultados
semelhantes foram observados por Castro et al. (2006b), com silagem de capim-tifton
85, e por Evangelista et al. (2000), com silagem de capim-estrela-roxa.
As variáveis, recuperação de matéria seca e os teores de proteína bruta e de
FDN da silagem, não foram influenciadas pelo pré-emurchecimento e pela interação
espécie x pré-emurchecimento (P>0,05), entretanto, foram influenciadas pela espécie de
capim (P<0,05) (Tabela 1).
Tabela 1. Recuperação de matéria seca (RMS), teor de proteína bruta (PB) e teor de
fibra em detergente neutro (FDN) da silagem dos capins Tifton 85 e Estrela
Africana (média de cinco períodos de pré-emurchecimento)
Capim
RMS (%)
PB (%)
FDN (%)
Tifton 85
91,98 A
8,44 B
79,45 A
Estrela Africana
86,98 B
9,97 A
75,60 B
CV (%)
5,99
8,83
1,77
A>B, na coluna, pelo teste F (P<0,05).
A recuperação de matéria seca da silagem foi maior para o capim-tifton 85 em
relação ao capim-estrela-africana, indicando menores perdas durante o processo
fermentativo dessa silagem. A maior proporção de colmos na forragem do capimestrela-africana, observada no momento da ensilagem, aliado ao fato de não ter sido
realizada a picagem do material, pode ter favorecido uma menor densidade da massa
ensilada, aumentando as perdas da silagem desse capim. Segundo Nussio et al. (2002), a
redução no tamanho de partículas poderia favorecer o processo de fermentação da
massa vegetal no silo, pela compactação facilitada, maior superfície de contato do
76
substrato com os microrganismos e pela liberação de maior quantidade de conteúdo
celular.
A silagem do capim-estrela-africana apresentou teor de proteína bruta superior
(P<0,05) ao observado na silagem de capim-tifton 85 (Tabela 1). Na forragem a ser
ensilada, foi observado, no capim-tifton 85, maior proporção de material morto e
perfilhos reprodutivos, indicando maturidade fisiológica mais avançada neste capim,
contribuindo para os menores teores de proteína bruta observados. Evangelista et al.
(2000) também não observaram efeito do pré-emurchecimento sobre o conteúdo de
proteína bruta da silagem de capim-estrela-roxa, obtendo teor médio de 13,5%.
Observou-se maior teor de FDN na silagem de capim-tifton 85 (P<0,05), em
relação à silagem de capim-estrela-africana (Tabela 1). Da mesma forma que para os
teores de proteína bruta, a maturidade atingida pelo capim-tifton 85 pode ter
influenciado no maior teor de FDN da silagem desse capim. Castro et al. (2006b) e
Evangelista et al. (2004) avaliando silagens de capim-tifton 85 e de capim-marandu,
respectivamente, não observaram efeito de períodos de pré-emurchecimento sobre o
teor de FDN das silagens. Comportamento contrário foi observado por Evangelista et al.
(2000), que verificaram redução do teor de FDN da silagem com o aumento do teor de
matéria seca do capim-estrela-roxa.
Houve efeito da interação espécie x período de pré-emurchecimento (P<0,05)
para o teor de matéria seca da forragem, no momento da ensilagem. Com o aumento do
período de pré-emurchecimento ocorreu aumento linear no teor de matéria seca da
forragem dos capins Tifton 85 e Estrela Africana (Tabela 2). O capim-estrela-africana
apresentou maior taxa de secagem (3,67 unidades percentuais de matéria seca/h) em
comparação ao Tifton 85 (1,70 unidade percentual de matéria seca/h), observando-se
77
que em quatro horas de secagem, em pleno sol, o teor de matéria seca estimado do
capim-tifton 85 aumentou de 34,57% para 41,37%, enquanto no capim-estrela-africana,
o aumento no teor de matéria seca estimado, no mesmo período de secagem, foi de
29,13% para 43,82%.
Tabela 2. Teor de matéria seca (MS, %) dos capins Tifton 85 e Estrela Africana, no
momento da ensilagem, em função de períodos de pré-emurchecimento
Pré-emurchecimento (h)
Equação
Capim
de
0
1
2
3
4
regressão
Tifton 85
33,13 A 37,52 A 38,95 A 39,71 A
40,54 B
Linear1
Estrela Africana 30,39 B 32,41 B 33,83 B 41,57 A
44,18 A
Linear2
A>B, na coluna, pelo teste de Tukey (P<0,05)
1
Ŷ (MS, %) = 34,568667 + 1,699667** X (h) (R² = 0,85)
2
Ŷ (MS, %) = 29,126667 + 3,673667** X (h) (R² = 0,93).
Ao avaliar o teor de matéria seca dos capins dentro de cada período, observa-se
que o capim-tifton 85 apresentou resultado superior dentro dos períodos de préemurchecimento de 0, 1 e 2 h, igualando os teores com 3 h, sendo que com 4 h o teor de
matéria seca do capim-estrela-africana foi superior (Tabela 2). É importante destacar
que não houve revolvimento da massa de forragem durante a secagem. Durante o
processo de ensilagem foi observado, no capim-tifton 85, maior proporção de folhas e
de material morto, reforçando o maior teor de matéria seca em relação ao capim-estrelaafricana.
Segundo Muck & Schinnes (2001), forragens com teor de matéria seca entre 30
a 40%, no momento da ensilagem, minimizam o potencial para fermentação indesejável
e produção de efluentes, reduzindo as perdas durante o armazenamento. Neste trabalho,
o capim-tifton 85 não necessitaria de pré-emurchecimento, por apresentar, no momento
da ensilagem, teor mínimo estimado de matéria seca de 34,57%. Já para o capim-
78
estrela-africana, para atingir o teor mínimo estimado de 30% de matéria seca, no
momento da ensilagem, teria que ser submetido a um período de pré-emurchecimento
estimado de 0,23 h.
Houve efeito da interação espécie x período de pré-emurchecimento no teor de
matéria seca da silagem (P<0,05). O teor de matéria seca da silagem dos dois capins
apresentou aumento linear em função dos períodos de pré-emurchecimento (Tabela 3).
Tabela 3. Teor de matéria seca (MS, %) da silagem dos capins Tifton 85 e Estrela
Africana em função de períodos de pré-emurchecimento
Pré-emurchecimento (h)
Equação
Capim
de
0
1
2
3
4
regressão
Tifton 85
31,45 A 35,52 A 37,50 A 35,37 B
37,64 A
Linear1
Estrela Africana 28,56 A 28,86 B 34,52 A 40,01 A
40,25 A
Linear2
A>B, na coluna, pelo teste de Tukey (P<0,05)
1
Ŷ (MS, %) = 33,049333 + 1,222667** X (h) (R² = 0,60)
2
Ŷ (MS, %) = 27,536667 + 3,451333** X (h) (R² = 0,91).
Na silagem do capim-tifton 85, o teor de matéria seca aumentou em 1,22
unidade percentual (u.p.) para cada hora de pré-emurchecimento. Para a silagem do
capim-estrela-africana, ocorreu aumento no teor de matéria seca de 3,45 u.p. para cara
hora de pré-emurchecimento. A silagem do capim-estrela-africana apresentou menor
teor de matéria seca no período de pré-emurchecimento de 1 h, em relação à do capimtifton 85, e superou o teor de matéria seca da silagem de capim-tifton 85 no período de
pré-emurchecimento de 3 h, não diferindo nos demais períodos (Tabela3).
Houve efeito da interação espécie x período de pré-emurchecimento sobre o
teor de N-amoniacal (N-NH3%/N-Total) da silagem (P<0,05).
Para o capim-tifton 85, o teor de N-amoniacal da silagem não foi afetado
(P>0,05) pelos períodos de pré-emurchecimento, apresentando valor médio de 7,34%.
79
Para o capim-estrela-africana, houve redução no teor de N-amoniacal da silagem em
1,66 u.p. para cada hora de pré-emurchecimento (Tabela 4).
Tabela 4. Teor de N-amoniacal (N-NH3%/N-Total) da silagem dos capins Tifton 85 e
Estrela Africana, em função de períodos de pré-emurchecimento
Pré-emurchecimento (h)
Equação
Capim
de
0
1
2
3
4
regressão
Não
ajustada
Tifton 85
9,43 A
6,83 A
5,47 B
7,97 A
7,00 A
Estrela Africana 11,97 A 11,10 B
8,93 A
7,07 A
5,70 A
Linear1
A>B, na coluna, pelo teste de Tukey (P<0,05)
1
Ŷ (N-NH3%/N-Total) = 12,266667 - 1,656667** X (h) (R² = 0,99).
Entre os capins, não houve diferença (P>0,05) nos teores de N-amoniacal de
suas silagens, para os períodos de pré-emurchecimento de 0, 3 e 4 h.
O teor de N-amoniacal da silagem é um parâmetro indicativo da qualidade da
silagem, sendo que altos teores indicam maior intensidade de proteólise, principalmente,
pela degradação de aminoácidos por clostrídios, caracterizando silagens de baixa
qualidade (IGARASI, 2002). De acordo com Benacchio (1965), a silagem é considerada
de alta qualidade, quando os teores de N-amoniacal são inferiores a 10%; adequada,
com teores de 10 a 15%; aceitável, com teores de 15 a 20%; e insatisfatória, com teores
acima de 20%. Desta forma a silagem do capim-tifton 85 pode ser classificada como de
alta qualidade, em todos os períodos de pré-emurchecimento avaliados. A silagem do
capim-estrela-africana apresentou teores de N-amoniacal abaixo de 10% a partir do
período de pré-emurchecimento estimado de 1,37 h.
Castro et al. (2006a), também, observaram redução dos teores de N-amoniacal
da silagem do capim-tifton 85 com o aumento do teor de matéria seca do capim.
O aumento dos períodos de pré-emurchecimento promoveram acréscimos nos
teores de matéria seca da forragem e da silagem dos dois capins avaliados, sendo
80
observado efeito benéfico do pré-emurchecimento na redução do teor de N-amoniacal
da silagem do capim-estrela-africana. No entanto, não foi observado efeito do préemurchecimento sobre a recuperação de matéria seca, o pH e os teores de proteína
bruta, de FDN e de FDA das silagens, sendo necessárias novas pesquisas com a
ensilagem dessas forrageiras com teores de matéria seca mais baixos.
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JOÃO PAULO SOUZA QUARESMA