MOYSÉS ROMERO BORGES OLIVEIRA EDUCAÇÃO ESTÉTICA E FOTOGRAFIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM NÍVEL DO ENSINO MÉDIO: A RELEVÂNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES DE ADORNO E FREIRE UNIVERSIDADE CIDADE SÃO PAULO SÃO PAULO 2011 2 MOYSÉS ROMERO BORGES OLIVEIRA EDUCAÇÃO ESTÉTICA E FOTOGRAFIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM NÍVEL DO ENSINO MÉDIO: A RELEVÂNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES DE ADORNO E FREIRE Dissertação apresentada para defesa da dissertação, como exigência parcial da obtenção do título de Mestre, no Programa de Mestrado em Educação, sob a orientação da Profa. Dra. Margaréte May Berkenbrock Rosito UNIVERSIDADE CIDADE SÃO PAULO SÃO PAULO 2011 3 Ficha elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID O48e Oliveira, Moysés Romero Borges. Educação estética e fotografia na formação de professores em nível do ensino médio: a relevância das contribuições de Adorno e Freire / Moysés Romero Borges Oliveira --- São Paulo, 2011. 143p. ; anexos Bibliografia Dissertação (Mestrado) - Universidade Cidade de São Paulo. Orientadora Profa. Dra. Margaréte May Berkenbrock Rosito. 1. Formação de professor. 2. Educação estética. I. Rosito, Margaréte May Berkenbrock. II. Titulo. CDD 371.1 4 _________________________ _________________________ _________________________ Comissão Julgadora 5 DEDICATÓRIA A Deus Aos meus familiares Aos meus professores Aos meus amigos Ao Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs. 6 AGRADECIMENTOS Ao Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, especialmente, à Comunidade Religiosa de São Paulo e de São Carlos, cujo apoio foi fundamental no processo de elaboração dessa dissertação. Á orientadora deste trabalho, Profa. Dra. Margaréte May Berkenbrock-Rosito, pela dedicação. Aos Membros da Banca Examinadora, Profa. Dra. Mary Rangel e Prof. Dr. Julio Gomes Almeida, pelo cuidado, pela sensibilidade e pelas contribuições necessárias à finalização do trabalho. Aos professores do Programa Mestrado em Educação, da Universidade da Cidade de São Paulo – UNICID: Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto, Profa. Dra. Edileine Vieira M. da Silva, Profa. Dra. Célia Maria Haas, Prof. Dr. Júlio Gomes de Almeida, Prof. Dr. Jair Militão da Silva, Prof. Dr. João Gualberto de C. Meneses, Prof. Dr. Potiguara Acácio Pereira, pela competência e seriedade. Ao Irmão Clóvis Trezzi, que me ajudou neste processo. À Prof. Dra. Tereza Telles, por seu trabalho de revisão. A todos os colegas que estiveram comigo neste processo em sala de aula e nos grupos de pesquisa. 7 RESUMO O presente trabalho apresenta um estudo sobre a possibilidade de educação estética, a partir do projeto “Fotografar a Escola”, um processo educativo que considera a arte fotográfica como um fenômeno desencadeador da experiência formativa. Elege-se, como problema, o sentido e o significado da fotografia produzida pelas alunas no processo de formação de professores, do Curso de Magistério na modalidade do Ensino Médio. A pergunta-norteadora é: É possível, através das lentes fotográficas, o desencadeamento da experiência formativa? A hipótese deste estudo vincula-se à percepção de que a estética é uma experiência formativa, no processo de emancipação e autonomia do sujeito. O referencial teórico adotado, em Freire e Adorno, fundamentam a hipótese. O grande desafio, na obra de Adorno, é a percepção da Educação e da Arte, como modos de rompimento com a alienação decorrente da indústria cultural, visando a emancipação do individuo. Em Freire, o desafio associa-se à percepção da estética como forma de justiça entre os homens, à autonomia do sujeito. Os objetivos deste trabalho são: compreender a experiência formativa através das imagens - as fotografias – e das palavras - o texto; compreender a influência da massificação, imposta pela indústria cultural, na formação das alunas; analisar o referencial da trajetória que essas alunas têm. A análise documental é o procedimento adotado para a coleta de dados. Adota-se o enfoque hermenêutico, na perspectiva de Gadamer, para analisar e interpretar os dados. O material analisado e interpretado são as fotografias e os relatos autobiográficos, tratados neste estudo, como a documentação produzida pelas alunas do Curso de Magistério na modalidade do Ensino Médio. Nesse sentido, a fotografia é adotada, neste estudo, em dois níveis: como método de pesquisa e como linguagem no processo de formação de professores. Os resultados associam-se à percepção de que a utilização da fotografia é relevante como fenômeno de construção da trajetória formativa do aluno. Ainda, a experiência com a fotografia é um elemento transformador, de reconhecimento da identidade do professor, como resistência à estética da indústria cultural, caminhando em direção à recriação da autonomia e da emancipação, oriundas da narrativa da própria história. PALAVRAS-CHAVE: Formação docente; Narrativa; Educação Estética. 8 ABSTRACT This paper presents a study about the possibility of an aesthetical education from the project “To take a School through photographical eyes, an educational process that regards photography as an initiate of the Formative Experience. It was elected as a problem: The meaning and the significance of photography produced by the students who are in the teacher’s formation process – high school. A guiding question has been established: Is it possible through the camera lens to initiate the formative experience? Our hypothesis is linked to the perception that aesthetic is a Formative Experience in the emancipation and autonomy process of the individual. The big challenge in the Adorno’s work is Education and Art as a way that breaks with the alienation, as consequence from the cultural industry, in Freire the aesthetic is a form of justice among men. The adopted theoretical framework, in Freire and Adorno, is related to the presence of art aiming the individual’s educational freedom, humanization, autonomy and emancipation. The research’s aims are 1) to understand the formative experience through images in the pictures and through words in the text; 2) to comprehend the influence of the mass imposed by the cultural industry in the students’ formation and 3) to analyze the reference of the student’s trajectory. The documental analysis is the procedure adopted for data collection. Theoretically speaking, the research is based on the hermeneutic approach, bearing on mind Gadamer’s perspective, to analyze and to interpret the collected data. The analyzed material, which means the photographs and autobiographical reports, this study treated as documents produced by students from the teaching method in high school. In this sense, the photograph is taken - in this study – at two levels: as a research method and as the language in the teachers’ education process. The results present photograph as the construction of the formative history of students, a transforming element of the teacher’s gaze, as recognition of their identity and appreciation of their choices, such as resistance to the aesthetic of cultural industry and recreation of autonomy and emancipation as a result of the narrative of their history. KEYWORDS: TEACHER TRAINING, NARRATIVE, AESTHETIC EDUCATION 9 SUMÁRIO LISTA DE QUADROS ……………………………………………………… LISTA DE FIGURAS ……………………………………………………….. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………… 1 UM PERCURSO SINGULAR: O SENTIDO DAS EXPERIÊNCIAS FORMADORAS ...................................................................................... 1.1. Os episódios autobiográficos: o encontro com a arte.................. 1.2. Central do Brasil: o desencadeamento de uma experiência formativa ............................................................................................. 1.3 Experiência formativa: um processo oriundo da própria história . 1.4 A compreensão das experiências formadoras ............................. 2 A EDUCAÇÃO ESTÉTICA: UM CAMINHO PARA A HUMANIZAÇÃO ........................................................................................................ 2.1 A construção da identidade no mundo contemporâneo ............... 2.2 A educação libertadora na contemporaneidade............................ 2.3 A presença da arte nos caminhos da educação libertadora. ....... 2.4 O papel da escola na busca do sentido da educação estética .... 2.4.1 O papel da arte no processo de formação de professores.. 3 A FOTOGRAFIA AUTOBIOGRÁFICA: UM PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CURSO DE MAGISTÉRIO ...... 3.1 Cenário Escolar: a pedagogia estética lassalista ......................... 3.2 Fotografia na escola: um caminho para o autoconhecimento ..... 3.3 O entendimento dos discursos autobiográficos: uma abordagem hermenêutica....................................................................................... 3.4 Imagem, narrativa e formação docente ........................................ 3.4.1 A formação docente: uma decorrência da reflexão sobre as imagens ................................................................................... 3.4.2 A construção da própria trajetória formativa e as imagens das fotografias ............................................................................. 3.4.3 A fotografia: um elemento transformador do olhar do professor ...................................................................................... 3.4.4 A fotografia como reconhecimento da própria identidade... 3.4.5 Valorização das próprias escolhas ..................................... 3.4.6 A indústria cultural e a resistência à estética ...................... 3.4.7 A fotografia autobiográfica: a experiência formativa e a recriação da autonomia e da emancipação.................................. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... REFERÊNCIAS ...................................................................................... ANEXOS.................................................................................................. 10 11 12 18 18 23 29 30 43 43 56 62 68 75 78 78 82 90 100 104 107 112 114 117 120 123 126 131 143 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Linha da Vida – Momentos Charneiras .......................................... 23 11 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01: Projeto Álbum de Fotografia .............................................. 104 FIGURA 02: A Mesa do professor, por Adriana ..................................... 105 FIGURA 03: A quadra, por Leonice ....................................................... 105 FIGURA 04: A Sala de Aula, por Magna ............................................... 105 FIGURA 05: Professor Apaixonado, por Sheila .................................... 106 FIGURA 06: A Carteira, por Silmara ..................................................... 106 FIGURA 07: O Palco, por Silvia ............................................................. 106 12 INTRODUÇÃO Este estudo apresenta a reflexão sobre a utilização da fotografia, aliada aos estudos autobiográficos, como experiência formativa, contribuindo para a reflexão da estética, como teoria e prática de formação de professores. Trata-se de uma reflexão crítica sobre a experiência formativa e sobre as práticas escolares que visam à instauração de procedimentos pedagógicos em sua tridimensionalidade: ensinar, aprender e formar, que conduzam os alunos à autonomia, à emancipação e à liberdade. A compreensão do sentido de ser professor e das práticas pedagógicas, que abordam a caracterização da arte fora dos parâmetros da indústria cultural, instaura uma reflexão sobre a educação libertadora, cujo objetivo é a humanização do indivíduo. Esta humanização decorre de um processo educativo que considera o confronto com a própria vivência, por meio do processo da narrativa, estabelecendo-se a relação entre o indivíduo e o mundo, visando à compreensão da situação existencial da qual o indivíduo participa. Esta reflexão é concretizada, a partir da análise de material fotográfico produzido por alunas do Curso de Formação de Professores, na modalidade normal, em nível médio, de uma escola privada da Zona Leste da cidade de São Paulo. Analisaram-se, ainda, dados da própria vivência dessas alunas. Promoveu-se uma atividade voltada para a fotografia e para os relatos autobiográficos, elaborados pelas alunas. Elas selecionaram e fotografaram espaços da escola que marcaram e influenciaram, positivamente ou negativamente, a sua escolha de ser professora. No projeto realizado com as alunas, buscou-se a aproximação do olhar, do foco, com o objetivo metodológico de captar o arrebatamento e o entusiasmo dos sujeitos, nele, envolvidos. Investigou-se, assim, o motivo pelo qual elas escolheram o magistério e quais são os referenciais simbólicos ou estereótipos que se deram, por meio da experiência formativa. Compreende-se, neste estudo, que o componente estético da escola é esta vivência da experiência formativa. Por isso, a atitude de olhar a escola e refletir sobre as imagens vivenciadas, em um determinado momento histórico, é trazida e avaliada de forma materializada ao cotidiano. Neste processo, 13 instaura-se uma reflexão crítica das práticas escolares, por isso, a importância de reler estas imagens, pois, nelas, está contida uma linguagem do dito e do não dito. O momento da realização do projeto “Fotografar a Escola” é um exercício de modos de subjetivação, no processo de recuperação da experiência do concreto sensível. Há a recuperação das imagens da própria memória, para contar a experiência formativa, contemplando-a “como caracterização da arte fora dos parâmetros da indústria cultural” (ADORNO, 2000, p.24). O indivíduo passa a uma ação e sai da sombra para a luz, é a transição do indivíduo para o sujeito: “aprende pela via mediante da elaboração do processo formativo”. (ADORNO, 2000, p.24) Esta compreensão do processo formativo perpassa o processo de reelaborar a própria história, na qual a interpretação será algo novo, um dado que era despercebido vai brotar, vai ser iluminado, se tornará um foco para um novo conhecer. Ao conseguir focar a realidade, o sujeito torna-se mais consciente. A fotografia é uma ferramenta pouco utilizada na escola. A escolha desta modalidade de registro deve-se às possibilidades de resgate dos fatos significativos, que ela representa. Ela pode também captar, por meios dos diferentes olhares, o cenário escolar, por via das diversas dinâmicas dessa modalidade. Nos procedimentos vinculados à escolha dos locais a serem fotografados e aos relatos associados às fotografias, realiza-se a busca da compreensão da contribuição das imagens e das palavras nos processos de reconstrução da experiência formativa. No estudo, realizado com as alunas do Ensino Médio, apresentam-se as seguintes questões: Por que as alunas escolheram estas imagens como significativas para sua formação? Contar o significado das imagens fotografadas remete à construção de sua trajetória formativa? O registro fotográfico faz emergir o interesse para olhar seu modo de ser? 14 A fotografia permite o reconhecimento de sua identidade e a valorização de suas escolhas e formas de resistir à estética fomentada pela Indústria Cultural? Perceber o sentido e o significado de suas escolhas em seu contexto, através das lentes fotográficas, é uma possibilidade de experimentar e recriar a partir de sua própria história? Como formar professores que possam se encarregar da formação de sujeitos que sejam donos da própria palavra, autônomos e emancipados? Este estudo adéqua-se às necessidades do novo milênio. Nele, os dividendos das importantes descobertas e dos progressos científicos da humanidade exigem que a educação seja uma das prioridades na conjuntura mundial. Torna-se imprescindível que haja novas formas de ensinar, considerando-se que é necessário que se formem sujeitos autônomos, diante das ininterruptas transformações tecnológicas, científicas e sociais da contemporaneidade. Nesta atual conjuntura, espera-se que a escola forme um aluno que tenha aprendido a aprender; que tenha desenvolvido a competência de saber se relacionar em grupo, que saiba resolver problemas. O exercício da cidadania supõe um indivíduo que desenvolva a compreensão de si mesmo e a do outro. O conceito de emancipação, aqui utilizado, está vinculado à perspectiva de Adorno: o sujeito é um ser social, cuja autonomia será bem sucedida, caso haja um processo coletivo que crie condições para que os indivíduos, socialmente, sejam donos da própria palavra. Neste trabalho, recorre-se a Freire, nos aspectos relacionados à educação libertadora, cujo objetivo é a humanização do indivíduo. Esta humanização decorre de um processo educativo que considera a narrativa da experiência do sujeito-aluno. O confronto com a própria vivência ocorre no processo da narrativa, estabelecendo-se a relação entre o indivíduo e o mundo e propiciando a compreensão da situação existencial da qual o indivíduo participa. Na conjuntura da contemporaneidade, é necessário que a educação esteja voltada para a aprendizagem que afirme a dignidade humana. Assim, entende-se a educação como a contribuição para uma vivência solidária, em 15 busca da justiça e da ética que possam envolver a sociedade, a política, a economia e a cultura neste compromisso coletivo. A hipótese deste estudo vincula-se à percepção de que a estética é uma Experiência Formativa no processo de emancipação e autonomia do sujeito. O grande desafio na obra de Adorno é a Educação e a Arte, como modos de rompimento com a alienação decorrente da indústria cultural. A análise documental é o procedimento adotado para a coleta de dados. Adota-se o enfoque hermenêutico, na perspectiva de Gadamer, para analisar e interpretar dos dados. O material a ser analisado e interpretado são as fotografias e os relatos autobiográficos, tratados neste estudo, como documentação produzida pelas alunas do curso no qual a pesquisa foi realizada. Nesse sentido, a fotografia é adotada, neste estudo, em dois níveis: como método de pesquisa e como linguagem no processo de formação de professores. A compreensão das imagens - as fotografias – e das palavras - o texto tem, como propósito, analisar, em que medida, as questões da massificação imposta pela indústria cultural interferem na formação das alunas, em questão, e qual é o referencial da trajetória que essas alunas têm. O olhar hermenêutico fundamenta a compreensão, na perspectiva de Gadamer. Adota-se o conceito de círculo de compreensão, de Gadamer, o qual por sua vez, baseia-se em Heidegger. O círculo de compreensão consiste em interpretar, rompendo com os preconceitos e pré-compreensões, que o intérprete, no caso o pesquisador, tem ao deparar-se com seu objeto de estudo. O desvelar dos sentidos e significados do texto narrativo e da imagem fotográfica é posto à prova. Evidencia-se a primeira possibilidade de desvelar os pré-juizos e pré-conceitos do pesquisador para, no momento seguinte, estabelecer uma coerente compreensão. O círculo abre espaço para um constante reprojetar, porque a interpretação inicia-se com conceitos prévios e, no decorrer do trabalho e do tempo, tais conceitos são, geralmente, substituídos por outros mais adequados, surgindo outras lentes de compreensão. Isto significa que o círculo não é fechado, mais sim, dinâmico, interage com o sujeito. Em outras palavras, a existência de diversos horizontes possibilita a variação dos métodos, na busca de alcançar os objetivos. O pesquisador que 16 tem horizontes múltiplos pode ter uma acessão universal mais elevada, o que possibilita alcançar novos horizontes. Toda e qualquer primeira interpretação para o pesquisador tende a acontecer, a partir dos conceitos preexistentes do indivíduo. É neste arriscar-se que o interprete percebe que só se tem a compreensão, por meio do contexto, fazendo da interpretação um possível conhecimento, por via da linguagem e da natureza. Isto é, o interprete tem que estar atento e respeitar a alteridade do texto e do contexto que produziu. Esta dissertação estrutura-se da seguinte maneira: No primeiro capítulo, aborda-se o percurso de vida do autor e a narrativa de suas experiências em duas áreas de atuação: a acadêmica e a formadora. O autor analisa o filme Central do Brasil, buscando a compreensão do processo formativo da personagem “Dora”. Fundamenta-se a experiência formadora nos autores: Adorno, Josso, Freire, Larossa e Maturana, para melhor compreender o Método da Fotografia Autobiográfica, como sendo um meio de levar os alunos a resgatar, na consciência, a sua experiência formadora. Sendo assim, este trajeto só acontece quando se rompe com os preconceitos e fundamentalismos de certos mecanismos que impedem a autocrítica dos sujeitos envolvidos no processo e, para isto, é usada a hermenêutica em Gadamer. No segundo capítulo, há indagações sobre as marcas da atual educação brasileira, na qual existem mecanismos de manipulação cultural, que impedem a formação de sujeitos plenos e conscientes. Aqui, utilizam-se os fundamentos teóricos de Adorno, visando à compreensão do processo de manipulação, de massificação e de semiformação, que caracteriza a sociedade e que é uma decorrência da instauração dessa indústria cultural. Em Hall (1998) busca-se compreender a crise da identidade na pósmodernidade. O autor afirma que a descentração do sujeito tem, como consequência, a crise da identidade. As práticas pedagógicas, voltadas para a humanização do homem, suscitam questionamentos cujas respostas poderiam estar na reflexão sobre o entrelaçamento entre a denúncia da existência da educação bancaria, em Freire, e da semiformação, em Adorno. A abordagem da arte pode ser considerada uma medida para resgatar a experiência 17 formativa. Tal abordagem pode tornar o sujeito autocrítico, considerando a sua relação consigo mesmo, com o mundo e com o outro. No terceiro capítulo, apresenta-se uma experiência bem sucedida, que envolve a utilização de fotografias e de autobiografias. A análise desses documentos ocorre por meio da hermenêutica. O objetivo dessa prática pedagógica volta-se para a compreensão da experiência formativa, por via das vivências das alunas do Curso Normal, em nível de modalidade média. 18 1 UM PERCURSO SINGULAR: O SENTIDO DAS EXPERIÊNCIAS FORMADORAS Descreve-se, neste capítulo, o processo do percurso individual do autor deste trabalho, construído no coletivo, o que possibilitou a sua transformação em documento. Trata-se da história da trajetória pessoal e profissional. É um processo metodológico e epistemológico, desenvolvido por BerkenbrockRosito, concretizado dentro da abordagem da pesquisa (Auto) Biográfica. Durante os encontros do grupo de pesquisa, esse documento foi elaborado por meio da narrativa escrita, pictórica e oral, proporcionando o encontro com a autoria de ser docente e pesquisador, que culmina na elaboração da Colcha de Retalhos. Esse processo de reflexão sobre a trajetória do autor deste trabalho levou-o a eleger a fotografia e a autobiografia, como tema de pesquisa, assim como o conduziu à compreensão da experiência formativa em Adorno, articulando-a à estética, em Freire, e aos diálogos com Josso, Freire, Larossa e Maturana. Buscando a compreensão da experiência formativa, por meio da fotografia autobiográfica, recorre-se à hermenêutica, como recurso que possibilitará o entendimento de diversas possibilidades de ler, compreender e perceber o mundo. A hermenêutica é um recurso de suma importância para que se possa recuperar o sentido da experiência formativa relatada nas fotografias. 1.1 Os episódios autobiográficos: o encontro com a arte. A narrativa escrita é produzida por meio de duas estratégias. A primeira estratégia trata da narrativa biográfica, considerando as experiências do Ensino Superior. O trabalho consiste no resgate de três cenas marcantes, no período referente ao Ensino Superior. Descrevem-se as cenas e analisa-se a própria formação, através dos seguintes questionamentos: Como foi a sua relação com as disciplinas no Ensino Superior? Foi de autoria ou submissão? Como foi a 19 sua relação com o professor? Foi de autoria ou submissão? Que aluno você foi? A segunda estratégia é a narrativa da História de Vida, propriamente dita, onde há a elaboração do “Quadro da linha da Vida”, buscando “os momentos divisores de água”, inspirados nos “momentos charneiras” (Josso, 2002), que são os acontecimentos da vida, que causam transformações e divisões na vida do indivíduo. Tais acontecimentos formam e modificam os seres humanos. O Quadro da Vida tem como objetivo, fazer o mapeamento dos momentos “divisores de água”, buscando, no percurso de vida da pessoa, os espaços e tempos, nos quais ocorreram acontecimentos que provocaram uma transformação de referenciais de vida, uma mudança profunda, no modo de pensar e agir do indivíduo. Esse quadro da linha da vida consiste em ter foco nas categorias de espaço e tempo: vida familiar, escolar/acadêmica, profissional, pessoas, professores, livros, filmes, relações amorosas, deslocamento geográfico. A minha vivência, como estudante universitário, foi de questionamento e de reflexões importantíssimas. Tive a oportunidade de posicionar-me diante da realidade, de fazer questionamentos, especialmente, por pertencer a um núcleo familiar que partilhava desse processo de aprendizado. A família proporcionou-me a possibilidade de enxergar o mundo escolar como um processo de aquisição de informações necessárias para a formação de um sujeito cidadão. A narrativa de minha experiência acadêmica, na Universidade Católica de Brasília – UCB, no curso de Filosofia, entre 2001 e 2004, manifesta a existência de um período repleto de muitas descobertas e de quebras de paradigmas. As primeiras imagens que me vêm à memória são a fisionomia arquitetônica e o ambiente da própria universidade Era um local bem organizado, com salas aconchegantes. Havia algumas características bastante peculiares, como por exemplo, a porta da sala de aula ficava no fundo da sala, para não atrapalhar a concentração do aluno e nem a do professor. Outro aspecto relevante era a exuberância da área verde, contribuindo para o bemestar daqueles que por ali transitavam. Havia um teatro ao ar livre como os da Grécia Antiga. Ainda mais, as aulas não eram em uma sala permanente, 20 muitas vezes, as aulas aconteciam em outros blocos e/ou outras salas do mesmo bloco. Também poderíamos escolher em qual curso desejaríamos cursar determinadas disciplinas, dando-nos a oportunidade de escolher a turma com a qual iríamos estudar. Este pormenor foi marcante; permitiu que o meu contato com a educação fosse mais agradável, pois este ambiente proporcionava a sensação de liberdade e evitava a monotonia tão comum nos ensinos fundamental e médio. A segunda passagem a ser destacada associa-se às aulas do professor da disciplina Filosofia Estética. Essas aulas foram relevantes na minha formação acadêmica, pois esse professor acompanhava os seus alunos individualmente, sempre buscando, antes de tudo, despertar, nos alunos, o compromisso com as leituras direcionadas à elaboração dos trabalhos. Destaco uma característica de sua metodologia que, até hoje, me inspira como educador: se um aluno tivesse uma nova ideia e pretendesse utilizá-la em um trabalho, poderia contar com a disponibilidade de tempo do professor para discutir a pertinência dessa nova ideia. Eu e alguns colegas usufruímos dessa disponibilidade. Ele colaborava com observações relevantes. Os alunos, eventualmente, se sentiam constrangidos com as idas e vindas do mesmo trabalho, mas o professor manifestava prazer em poder colaborar com o estudante. Na devolutiva dos trabalhos, ele tinha a preocupação de, primeiramente, devolver os exercícios corrigidos e avaliados daqueles que não o tinham procurado antecipadamente. Percebiam-se as notas mais baixas. Os trabalhos dos alunos que tinham sido acompanhados pelo professor, geralmente, estavam repletos de anotações, mas as notas eram melhores. Recebemos a justificativa: era possível avaliar o progresso do aluno, no processo de elaboração do trabalho, a partir das próprias anotações do professor. Comparando-se os rascunhos com o resultado final, era óbvia a percepção do avanço do aluno. O professor avaliava o processo de construção de conhecimento... Este professor de Filosofia da Estética procurava interagir com o aluno visando à (re) construção do saber. Um olhar para as obras de arte e uma leitura sobre o pensamento dos autores/filósofos contribuíam para a aprendizagem. Os alunos vinculavam essas reflexões às experiências reais, 21 vivenciadas por eles. Seus imaginários eram despertados. Ocorria uma experiência autoformadora, porque a aprendizagem era parte integrante daquilo que foi vivido pelo aluno. As lembranças, os sentimentos, as pessoas, os lugares, as imagens estão armazenados em um depósito, na minha memória. São imprescindíveis, no processo da busca de mim mesmo, por meio de minha história. São valiosos, nos aspectos concernentes à valorização da minha história, e são imprescindíveis naquilo que se refere à percepção de passagens, na minha biografia, que contribuíram para o aprimoramento da minha índole, do meu modo de ser. Rememorando o meu passado, (re) vivenciando as experiências que permaneceram na memória, recriando-as por meio de imagens mentais, retomo o meu caminho, na tentativa de dar sentido à minha prática no magistério. A presença marcante desse professor possibilitou-me a oportunidade de, por meio da experiência em sala de aula, como aluno universitário, revisitar o meu contato com a arte, de senti-la e percebê-la de forma real e concreta, propiciando e despertando sentimentos e questionamentos da realidade. Esta é uma nova forma de perceber a arte que, quando livre de quaisquer vínculos com a realidade, possibilita a construção de um relacionamento livre e apaixonado. A terceira passagem a ser rememorada está também no mesmo cenário universitário. Uma professora da instituição superior apresentou-me a obra do filósofo Theodoro Adorno, “Educação e emancipação”. Este livro, já no primeiro contato, pareceu-me especial. A percepção da educação como uma estrutura vinculada a um sistema opressor não era muito óbvia para mim. Talvez eu pudesse apreender esta situação, mas de forma mais ingênua e superficial. Por meio da leitura desta obra de Adorno, caiu o véu da semiformação, da qual eu era vítima. Embora eu fosse dotado de um olhar de apreciador de arte, como música, cinema, museus, certamente, o meu senso crítico deixava muito a desejar. A elaboração do passado e a teoria crítica da análise da realidade concreta do sujeito demonstram que a recordação de fatos vivenciados, no 22 passado, possibilita a compreensão de questões que estavam esquecidas, reprimidas e mal entendidas. Isto propicia a criação de um círculo vicioso, no qual as atitudes e os hábitos são repetidos de forma massificante, de forma que alguns fatos ofuscam os outros. Agora, a leitura da realidade é desvendada, por meio de meu próprio olhar, de forma mais clara. A vivência que tive com o conhecimento foi de descoberta. Gostava muito de discutir as ideias com os professores e colegas de sala de aula e de ver outras possibilidades. Participava intensamente das discussões em sala de aula, fazia perguntas. Cabe salientar que esse fato impulsionava-me a apresentar um bom desempenho acadêmico. Esse desejo fazia-me sentir sujeito e não objeto da aprendizagem. O papel de vitima não me cabia. Assim, busco compreender a experiência formativa como um processo cujo sentido é o desvelamento de “mim mesmo”, como profissional e como pessoa, revelando a historicidade das experiências formadoras que habitam os seres. Maturana e Varela (1995, p.26) dizem que: “a libertação do ser humano está no encontro profundo de sua natureza consciente consigo mesma”. Por isso, busca-se em Nóvoa focar olhares nas experiências, que foram significativas e marcantes, dando “um sentido no quadro de suas histórias de vida” (1992, p.25). A biografia educativa, no contexto da Universidade, possibilitou-me perceber o movimento circular de construção e reconstrução, ressignificando o meu olhar neste percurso de aprendizagem, tanto pessoal como profissional, fazendo com que haja uma interligação da autoconsciência com a experiência formativa. Segundo Josso (2002: p.08), “[...] a consciência nasce quando interpretamos um objeto com o nosso sentido autobiográfico, a nossa identidade e a nossa capacidade de anteciparmos o que há de vir”. A segunda estratégia, “O quadro da Linha da Vida”, possibilita-me observar o meu itinerário, de onde pude extrair os momentos charneiras ocorridos, dentro e fora da escola e da academia. A relação tempo e espaço levou-me a identificar a arte, no meu percurso, como a minha própria experiência formativa. 23 Quadro Linha da Vida – Momentos Charneiras CATEGORIAS DE ESPAÇO E TEMPO Vida Familiar Férias em Itamaracá com os pais, primos, tios, tias, avós - 1986 Renovação dos meus votos religiosos - 2001 Falecimento da minha avó paterna 2008 Olimpíadas Internas da escola - 1989 Congressos Marianos 1987 Defesa da Monografia de Filosofia -2004 Entrada no Postulado -1997 Professor Clóvis Matemática –1989 Filmes: Sociedade dos poetas mortos Trabalho na Biblioteca 2001 Professora M. Filosofia Moderna – 2003 Filme: Central do Brasil Gestor Escolar2008 Professor L.C. – Filosofia da Estética – 2004 Filme: Marx e May Fortaleza - 1994 São Paulo - 1997 Vida escolar Acadêmica Vida Profissional Professores que Influenciaram e Filmes Deslocamento Geográfico João Pessoa -1984 1.2 Central do Brasil: o desencadeamento de uma experiência formativa Neste quadro, elejo o filme Central do Brasil como desencadeador da autoria, como pesquisador e profissional. Tive um insight, durante o Seminário Temático: “Educação estética e formação de professores”, ministrado pela Profa. Dra. Margaréte May Berkenbrock Rosito, no Mestrado em Educação, em uma aula, na qual refletíamos sobre a formação do professor, numa perspectiva estética. A cena que veio à tona foi extraída do filme Central do Brasil, com direção de Walter Salles, de 1998, que teve como protagonista a atriz Fernanda Montenegro (Dora); e outros artistas consagrados como: Marília Pêra 24 (Irene), Vinícius de Oliveira (Josué), Othon Bastos, (César), Sonia Lira (Ana), Otávio Augusto (Pedrão), Stella Freitas (Yolanda), Matheus Nachtergaele (Isaías), Caio Junqueira (Moises). A cena desvela a tomada de consciência da professora Dora, interpretada pela atriz Fernanda Montenegro. Refleti sobre a personagem Dora - uma professora que atuou no cenário escolar, por algum motivo não esclarecido no filme. Ela se tornou uma pessoa com baixa autoestima, frustrada, amarga e individualista. Interpreto que a professora Dora não teve nem oportunidade e nem força de vontade para mudar o seu papel social, na sua práxis como agente de transformação, social, cultural, política e econômica. Esta oportunidade talvez não tenha sido proporcionada a ela pelo gestor ou pelo coordenador pedagógico. Ambos, provavelmente, não lhe ofereceram uma formação continuada, que desenvolvesse as posturas crítica e reflexiva da história. Supõe-se que ela não teve força de vontade, para oportunizar momentos de debates, de criação e de elaboração de projetos educacionais. Ou como diz Nóvoa “cada um formar a si próprio”. (NÓVOA, 2001, p.15) Sabe-se que a escola, desde a sua origem, tem tido desafios para concretizar o seu ideal, que seria proporcionar e defender o direito do ser humano. Ela seria responsável pela correção das injustiças, das desigualdades, da exclusão social e de tantas outras situações sociais inadequadas. Assim sendo, a ação pedagógica não se dá separada da vida. Então, Dora compreendia essa função, mas faltava algo que fizesse com que ela mudasse e acreditasse no papel escolar e na sua profissão/ vocação de ser professora. Para compreender melhor a Dora, é importante recordar a personagem. O filme começa com a professora, aposentada, chegando à Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, arrumando o seu cantinho: o seu birô, a sua cadeira, e as pessoas chegando, analfabetas, com inocência, cheias de esperanças, de emoções e de sentimentos. As pessoas acreditavam que ela, como uma educadora e, portanto, conhecedora das palavras, iria escrever as cartas, com honestidade, respeitando as solicitações das pessoas que necessitavam de seus serviços. No final, tais pessoas pagavam a ela uma quantia de R$ 2,00 (dois reais), para arcar com as despesas relativas à postagem da carta. 25 Na sucessão desses episódios, é possível que se perceba a imagem, com que o professor é apreendido na sociedade: reconhecem-no como alguém confiável e competente, portanto, capaz de formar cidadãos atuantes. Essas pessoas simples que aparecem no filme, nordestinos, na maioria das vezes, são pessoas que não tiveram oportunidades de frequentar uma escola. Aqui o diretor, Walter Salles, mostra muito bem a situação social do Brasil, um país que tem uma desigualdade muito grande, caracterizado pela exploração social. Essas pessoas saem da sua terra natal, para conseguir uma posição social melhor, muitas vezes, na busca da própria sobrevivência. Nessa condição, encontra-se a mãe de Josué, Ana, que, de acordo com o que se pode perceber, é uma guerreira por poder sobreviver no Rio de Janeiro, um grande centro urbano, que oferece aos seus habitantes, uma vida bastante difícil. Ana conseguira educar Josué, seu filho, de forma satisfatória. Em um encontro entre Dora e Josué, na Central do Brasil, inicia-se a saga entre os dois protagonistas: Josué (9 anos) e Dora (50 e poucos anos). A partir desse encontro, inicia-se a redenção de Dora. Devido à descoberta do afeto, há o rompimento com sua existência viciada. A relação entre Dora e Josué tem início quando a mãe de Josué é atropelada por um ônibus; ela chama Josué para ficar perto dela ao atravessar a rua. A única pessoa que ele conhece é Dora e, a partir daí, estes encontros se tornarão mais frequentes. Dora, num certo momento, se sensibiliza com o menino que dorme no chão da Estação Central do Brasil. A professora Dora convence Josué a ir ao seu apartamento no subúrbio do Rio de Janeiro. Lá, ele conhece Irene que é a única pessoa com quem Dora tem uma relação de confiança, talvez por ela também ser uma professora aposentada. Irene é, ao contrario de Dora, uma pessoa que acredita na possibilidade de mudança, nos valores morais e éticos, na justiça, é extrovertida e comunicativa e acredita nas pessoas. No convívio com Dora, Josué percebe que ela zomba das cartas e das pessoas simples. Ela não se conscientizara de que essas pessoas eram indivíduos esperançosos e confiantes. Ela trai a confiança de seus clientes, quando rasga ou deixa as cartas na gaveta, chamada de “purgatório” por Irene. 26 No desenrolar do filme, fica claro que o “sonho 1” de Dora é uma televisão grande e de controle remoto. Ela não tem dinheiro para comprar uma. Recebe uma proposta do Pedrão, que é um tipo de “Xerife” na Estação Central do Brasil. Pedrão recebia uma contribuição dos transeuntes da estação, em troca de garantir-lhes a segurança. Sabendo que Dora estava cuidando do Josué, ele a engana dizendo que conhece uma ONG que cuida de crianças. Ele garantia que, por meio dessa ONG, as crianças encontrariam famílias que as adotassem, inclusive, famílias estrangeiras, que pagariam a Dora, quando ela lhes cedesse o menino. Conforme o combinado, Dora leva Josué para o local, deixa o menino no suposto abrigo – ONG. Recebendo o dinheiro, ela compra a sua televisão, o seu sonho de consumo, a sua felicidade, conforme é imposto pela Indústria Cultural. Quando Irene descobre o que Dora fez, desaprova a sua atitude. Responsabiliza a amiga por tráfico de crianças para famílias estrangeiras. Argumenta, perguntando a Dora se ela não lia jornais e revistas e se não assistia à televisão. Em decorrência dessa discussão, Dora toma consciência dos próprios equívocos e vai ao local onde deixara Josué. Ao entrar no apartamento, arranca-o da cama e pega um táxi até a rodoviária, com o propósito de levar Josué ao seu pai, Jesus. Este é o sonho do menino, desde o início do filme. O importante aqui é analisar a questão “multifocal” da Dora como uma professora que rompe um paradigma existencial. Neste processo, ela vai se dando conta da sua própria história de vida, das suas lembranças. Isto fará com que ela reflita sobre suas próprias frustrações. Ao viajar de caminhão até Bom Jesus do Norte com Bené – motorista do caminhão -, Dora, que antes tinha uma postura masculina, não se arrumava como uma mulher, vai descobrindo o campo da sexualidade e se dando conta da sua feminilidade. Constata-se este fenômeno nas alegações de Josué que afirma que considerara Dora mais bonita, quando ela usa batom. No decorrer dessa viagem, a professora Dora vai se transformando e se 1 Um dos sonhos, este é o de consumo, que é imposto pela mídia. 27 aceitando como sujeito reflexivo da sua própria história, ou seja, aqui a experiência formativa vai ocorrendo, até ela se libertar de uma experiência massificada. Neste processo, a viagem era também uma viagem pelo mundo interno de ambos, ou seja, de Josué e de Dora. Neste contato diário, surge um relacionamento de afeto e de confiança. Isto fará com que os dois personagens do filme possam compartilhar as suas expectativas, as suas histórias de vida, ou seja, vão se dando conta da sua miséria. Conforme Adorno (2000), este é o processo da experiência formativa, pois é por meio da elaboração do passado que o sujeito consegue atingir a experiência formativa. No filme, pode-se entender que há uma experiência multifocal no processo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, estético, ou seja, há, concomitantemente, um relacionamento próximo e distante da realidade. Neste processo da experiência material (real) que vai ao encontro da experiência histórica, acontece a experiência do sensível concreto, que é a sensibilidade o momento estético, que conscientiza o sujeito da sua percepção de outra realidade, propiciando ao sujeito, a possibilidade de negar 2 a experiência passada para concretizar a experiência formativa, tornando-se um sujeito reflexivo. Challob (1983) afirma que a tomada de consciência se faz: Partir da própria prática, teorizar sobre ela para regressar à prática; partir do concreto, realiza o processo de abstração, para voltar ao concreto; partir da vida, da ação, refletir sobre ela, para novamente voltar à ação, - aqui está a lógica do processo do conhecimento. Outra não pode ser a lógica do processo educativo (CHALLOB, 1983, p.37). Voltando ao filme, quando chegam à cidade do Bom Jesus do Norte, eles percebem que não têm dinheiro, então Josué descobre uma forma para consegui-lo. Numa cena, ele comunica a uma mulher que Dora é uma escrevedora de cartas. Ele anuncia em voz alta: “Olha a carta! Quem quer 2 O negar – significa o sujeito se libertar das experiências negativas, que reproduz a massificação, a barbárie, a semiformação. 28 mandar a carta para casa, mensagem pro Santo, só paga um real”; “e dois se quer que a gente bota no correio”. Ao chegar ao hotel, Josué tira as cartas do saco plástico e começa a colocar as cartas no cesto de lixo. Dora, ao perceber o que estava acontecendo diz: “não... não faça isso”. E Josué exclama: “tem que rasgar primeiro, né?” Dora diz: “Depois eu vejo o que faço, ta”? No outro dia, pela manhã, Dora vê uma agência de correios e toma a decisão de ir até lá. Josué se espanta, ao ver a sua transformação. Esta atitude de Dora desvela o processo reflexivo, vivenciado por ela, no decorrer da viagem com o menino. Suas atitudes recentes demonstram que ela tomou consciência da sua história de vida, vivenciando uma experiência formativa. Enfim, a sua autobiografia vai sendo escrita ao entrar no ônibus: “Josué, faz muito tempo que eu não mando uma carta para alguém, agora estou mandando está carta para você. Você tem razão. Seu pai ainda vai aparecer. Com certeza... ele é tudo aquilo que você diz que ele é. Eu me lembro do meu pai me levando na locomotiva que ele dirigia. Ele me deixou, e eu era apenas uma menininha, acionar o apito do trem durante toda a viagem. Quando você estiver no seu caminhão enorme... lembre-se de que eu fui a primeira que o ajudou a pôr as mãos num volante. Também vai ser melhor para você ficar aí com seus irmãos. Você merece muito mais do que eu tenho para te dar. No dia que quiser lembrar de mim dá uma olhada no retrato... que a gente tirou junto. Eu digo isto porque tenho medo que um dia, você também me esqueça. Tenho saudade do meu pai. Tenho saudade de tudo. Dora”. Ela tira uma fotografia em que aparece com Josué junto de uma imagem do padre Cícero, finalizando assim o filme. Dora recupera a memória histórica, por meio da imagem, do espaço e do tempo da sua infância, presentes na fotografia. Acontecimentos, no decorrer de sua existência, fizeram que com que negasse sua História de Vida. Ao resgatá-la, liberta-se, para construir um trajeto consciente de suas escolhas. É possível vincular este episódio às palavras de Adorno sobre a indústria cultural: ela fez com que a imagem, o espaço e o tempo se apagassem na sociedade. Na realidade, como na ficção, a máquina fotográfica registra, na maioria das vezes, os momentos marcantes, trazendo personagens significativos como pais, avós, amigos, focando rostos expressivos. Ao olhar a fotografia, o 29 indivíduo passa a perceber a importância do registro de determinados momentos. Por meio da fotografia, há o deslocamento para outras épocas, outras situações vividas. O indivíduo transporta-se para o passado e, concomitantemente, resgata, as memórias afetivas. 1.3 Experiência formativa: um processo oriundo da própria história Toda fotografia evoca lembranças e, ao narrá-las, por meio de textos, significados são acrescentados. O sujeito experimenta o momento do concreto sensível e este momento é forte, possibilitando, nesta ligação, um rompimento de um estado passivo. Isto ocorre, devido ao fato de que as lembranças vêm à tona, ecoando dentro do sujeito, tornando-as ativas, em movimento, na dinâmica e vibração de toda uma carga de experiências vividas. Experiências essas que são importantes e significativas, pelas quais o cenário escolar com os seus atores, muitas vezes, passa sem dar a devida importância, tornando-se neutra de participação, impossibilitando de enxergar a formação num todo. Com o estímulo do tema do filme, surgiu a ideia de se desenvolver um projeto com Fotografias. Além disso, ocorreu um fato com um aluno do 7º ano do ensino fundamental II, que incentivou a realização desse projeto: A professora pediu ao aluno que fosse ao almoxarifado/mecanografia pegar a atividade de classe. Então ele perguntou a professora: - é onde se encontra o “homem verde”? A professora ficou espantada, porque não sabia quem era o homem verde. Dizia com firmeza o aluno: - Há um homem verde na escola, todos os dias, eu o vejo na entrada. A professora pediu que o aluno lhe mostrasse o “homem verde”, ao qual ele se referira. Ele a levou para o hall de entrada. No balcão onde fica a recepcionista da escola, há uma imagem do Santo Fundador do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs: a imagem de São João Batista de La Salle – este era o “homem verde”. O filme, somado a este relato, trouxe-me a inquietação a respeito do referencial que este aluno tem da escola: o “homem verde”. É nesta imagem, que ele concentra algumas relações de pertencimento à escola, um valor em si, símbolo dito do não dito. 30 Nasce o Projeto: “Fotografar a Escola” com as alunas do curso de Formação de Professores na Modalidade Normal, em nível do Ensino Médio, de tal maneira que elas, fotografando a escola, pudessem buscar, na sua história, elementos que foram mais marcantes, constituintes de sua experiência formativa. O processo envolve o resgate da experiência de vida, que pode ser boa ou ruim, para valorizá-la. Isso permite criar um espaço de respeito, compreensão mutua, e até mesmo, dar um novo enfoque, um novo horizonte. O uso da fotografia pode romper com o sistema de formação da Educação Bancária, que não se volta para a pessoa e sua história. Este sistema nega o processo de experiência formativa, quando se preocupa com uma formação de reprodução, dificultando um olhar para perceber novas perspectivas sobre o processo educativo e formativo, buscando a emancipação e a autonomia. 1.4 A compreensão das experiências formadoras A experiência formativa, na perspectiva de Adorno, como foco para se pensar a formação de professores, por meio da narrativa autobiográfica, aponta para a possibilidade de compreensão da própria história do sujeito. A questão da experiência formativa, para Adorno, relaciona-se com a relação com a razão e verdade. Neste movimento, nega-se a razão para afirmá-la, dando assim um novo olhar para a realidade. A experiência é dialética, por estar ligada às questões, aos processos, à realidade, de verdade de experiências, que nada mais seria para Adorno do que a própria razão. “Trata-se de advertir a razão contra si mesma em nome de si mesma”. (ADORNO, 2000, p. 20). Para Adorno, o primeiro passo em direção à emancipação do sujeito da indústria cultural é elaborar o passado, para compreender a realidade com um novo olhar. Afirma-nos Adorno que o indivíduo se emancipa, quando o conhecimento é fruto de uma reflexão, diante de informações recebidas pela indústria cultural, ou seja, há uma interpretação, uma análise do fato, para assim, o sujeito posicionar-se. A narrativa é um procedimento através do qual o sujeito pode olhar para a realidade, que a Indústria Cultural descaracterizou como verdade. “Não se 31 pode mais narrar; os passos que a forma do romance exige a narração” (ADORNO, 1980, p.269); com essa premissa, o autor denuncia o declínio de não poder mais narrar a vida, como sendo uma arte, e acrescenta: Desintegrou-se a identidade da experiência - a vida articulada e contínua em si mesma - que só a postura do narrador permite. [...] Narrar algo significa, na verdade, ter algo especial a dizer e justamente isso é impedido pelo mundo administrado pela estandartização e pela mesmidade (ADORNO, 1980, p.269). Maar (2000) descreve a dinâmica que fundamenta a teoria de Adorno, que são dois grandes processos: primeiro, é o Momento Materialista e o segundo, o Momento Histórico. Neste segundo momento, o indivíduo é levado a experimentar o Concreto Sensível, que pode ser descrito pela metáfora de luz e sombra. Aqui o indivíduo vai se abrindo para o novo, para uma compreensão sem estar influenciado por nada; é um momento único, interpretativo, é o descobrimento de “um novo mundo”; é algo deslumbrante para, por fim, atingir o que é o desejável, isto é a experiência formativa. É compreendida a teoria crítica também como a filosofia da história, que oferece ao homem uma reflexão da própria história, tendo como objetivo a comparação da razão ocidental e do mito, onde se percebe a crise do Iluminismo: “o próprio mito é já a razão e a razão volta a ser mitologia.” (MAAR, 2000, p.74) Em conseqüência disso, se o homem não for capaz de enxergar o que está à sua volta, os acontecimentos, as relações conflitivas, o domínio das elites nos meios de comunicação, nas propagandas, nos jornais, nas telenovelas, nos esportes e outros mecanismos, quando são usadas imagens fortes, poderão ser induzidos a uma má compreensão da realidade e, com isso, a capacidade de julgar e de condenar fica nula no homem, levando-o a um julgamento precipitado, sem nenhuma reflexão crítica. Esquecer o passado é difícil, mas o homem tem que buscar reelaborá-lo, de forma que a sombra do terror, da culpa e da violência que, muitas vezes, marca a história do próprio homem, possam ser compreendidos de forma a ser possível ressignificá-los. Além disso, é fundamental saber que qualquer experiência traz marcas de quem está narrando, por isso, Adorno busca 32 possibilitar, por meio dos seus saberes, condições para o povo de seu país – a Alemanha. Adorno (2000, p. 29), ao se reportar ao povo alemão afirma que “o nazismo sobrevive, e continuamos sem saber se o faz apenas como fantasma daquilo que foi tão monstruoso a ponto de não sucumbir à própria morte [...]”. O povo alemão está preso ao passado e por isso eles assumem uma culpa coletiva, que não é deles. O ponto negativo disso é o risco de reproduzir tudo de novo, por isso Adorno pretendeu com essa teoria criticar a forma política, social, econômica e educacional, que ao invés de conduzir o conhecimento para a libertação, simplesmente fez com que o sentimento de culpa, a compreensão da própria história se tornassem fatores de escravidão. O sujeito só pode ter uma crítica da própria história quando se referir ao passado, no presente, sem nenhuma culpa e, para isso, recorre-se à educação estética. Por isso, entende-se que a ideologia reduz a possibilidade de emancipação das pessoas e a educação é um fator primordial para essa reelaboração do passado. Adorno, na sua conclusão, afirma que o passado: Só está plenamente elaborado no instante que estiverem plenamente eliminadas as causas do que passou. O encantamento do passado pôde manter-se até hoje unicamente porque continuam existindo as suas causas. (ADORNO, 2000, p, 49) Por isso, Adorno prioriza uma reflexão do passado para poder criticar as formas de repressão e levar “o povo alemão” a uma reflexão mais profunda sobre sua própria história. Assim, pode-se motivar os indivíduos a terem coragem de romper com fatos passados que os impeçam de ter uma vida mais autêntica. Por produção do conhecimento, entende-se tudo aquilo que o sujeito produz no campo do conhecimento. Por ela, o sujeito tende a tornar-se autônomo do próprio saber. Como Adorno sugere uma libertação do passado e, consequentemente, propõe uma educação crítica dos fatos que a indústria cultural manipula, gerando uma crise de informações, pois, muitos dos fatos ocorridos são transmitidos superficialmente ou retomados, de acordo com sua aparência. Por isso, a produção de conhecimento é de fundamental 33 importância para que o sujeito tenha uma assimilação concreta da própria realidade. Adorno visa à educação como meio de ajudar o homem a ser agente do próprio conhecimento. A formação da independência do homem diante da indústria cultural é relatada pelo autor através da influência do Marxismo, rompendo com a alienação trabalhista, ou seja, o homem só tem valor pelo que produz e não pela forma de julgar a sua própria história. Portanto, a filosofia da história assim esboçada é, com efeito, uma desmontagem da mitologia da modernidade burguesa: a razão não é só o referente da análise, mas o seu objeto, com razão entrando em conflito com ela mesma no coração da história. (ASSOUN, 1991, p. 84) Horkheimer e Adorno procuram entender o motivo pelo qual a humanidade decaía na barbárie, levando à autodestruição da razão. Na tentativa de sair do conflito e erguer a razão é que os filósofos da Escola de Frankfurt vão propor uma nova teoria do conhecimento feita pela análise de uma filosofia da história. A teoria do conhecimento crítico irá combater em nome da razão o reducionismo positivista, que vem idealizar com uma falsa consciência a autonomia do trabalho cientifico, através do qual, à medida que o sujeito está preso ao mecanismo do trabalho alienador, do mesmo dependerá para sobreviver e a condição para o aprendizado será limitada. Mas, do modo que Adorno enxerga a educação, o indivíduo terá todas as condições necessárias para emergir de uma consciência crítica da própria realidade, para se chegar ao entendimento crítico e libertador. Adorno apresenta dois problemas importantes para chegar a um resultado sobre o conhecimento: o Conhecimento da “Doxa” e da “Episteme”. Concorda que o problema social está vinculado à formação do senso comum (Doxa). Toda formação do conhecimento ocorre, por meio dos relatos de jornais, na opinião pública, nas telenovelas, enfim, sempre mostra distorcidamente os fatos. Portanto, a formação do conhecimento (episteme) só se dá em pequenos grupos, ou seja, nos grupos pequenos que conseguem sair das 34 amarras que o sistema capitalista oferece. Uns são pessoas que possuem visão pura da realidade e outros são aqueles manipuladores que lutam pela alienação da sociedade. De acordo com Adorno, esta reflexão tem por base: A íntima vinculação entre a questão educacional e formativa e a reflexão teórica, filosófica e política constitui a manifestação mais direta do núcleo temático essencial ao conjunto da Escola de Frankfurt. (ADORNO, 2000. p.14-15) É por meio deste conhecimento epistêmico que o indivíduo rompe com a alienação produzida pela indústria cultural, pois a reprodução do conhecimento está vinculada à reflexão filosófica. E para isto, é necessária uma auto-reflexão, para que as produções de novos conhecimentos possam sugerir um meio de emancipação do indivíduo nesta sociedade que se deixa manipular pela indústria cultural. Benjamin diz que a experiência é a “fonte a que recorrem todos os narradores” (1994, p.198). A experiência não é somente um fato pessoal, como também o coletivo, sendo algo muito mais profundo por envolver o ser-nomundo e com–o-outro, envolvendo questões culturais, afetivas, espirituais, relacionais, de aprendizagem, de vivências. Isto ocorre, porque sem a experiência é impossível comunicá-la, expressá-la, transmiti-la. Em Freire, o sentido de experiência é compreendido como a realidade concreta com a qual o sujeito se depara para confrontar com a compreensão de mundo, ou seja, é compreender a situação existencial da pessoa humana, a do oprimido. Neste sentido, o oprimido, ao se deparar com esta situação de opressão, torna-se refém de uma realidade de massificação e a possibilidade de tornar-se consciente da sua realidade é anulada pelo sistema opressor. Com isto, a experiência formativa dessa pessoa só pode acontecer, quando houver uma educação que propicie uma autonomia, havendo uma participação democrática na sociedade. Freire (1997), no livro “A pedagogia da autonomia”, apresenta sua reflexão sobre a prática pedagógica progressista e a conservadora. É na progressista que se dá a verdadeira experiência que despertará nos discentes a curiosidade para poderem questionar, buscar, entender, solucionar os 35 problemas sociais, políticos, culturais, educacionais, enfim, o discente deixará de ser um mero receptor neutro, para ser o atuante da própria história. Quando o docente rompe com alguns dados da sua prática, assume também a sua condição de formando; “assume-se como sujeito também da produção do saber”. Sendo assim, Freire continua o seu pensamento, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (1997, p.25). São nestes dois verbos - produzir e construir que a experiência formativa inicia, por via da curiosidade do docente. Ora, com este novo sentido de olhar para a educação como uma mão dupla de ensinar e formar, podemos então fazer um esquema para situar-nos neste processo da experiência. Quem: Ensina ................Produz Aprendizagem Logo: (Re)Forma ..........Constrói Freire (1997, p.25) dizia que o verbo ensinar “é um verbo transitivo relativo. Verbo que pede um objeto direto – alguma coisa – e um objeto indireto – a alguém”. Com isto, percebe-se que a questão da formação está no sujeito e no objeto, na dialética da experiência. Por isso, Freire e Adorno têm em comum a ideia da formação (Kurt) como sendo uma questão ética e estética. Então, para pensar em educação, hoje em dia, é necessário saber relacionar as dimensões - ética e estética, como possibilidade de construção de um novo saber, por via da experiência formadora dos novos sujeitos críticos. Freire (1997) apresenta estes saberes dando-nos um precioso presente de uma valia importantíssima para a práxis escolar. A formação do sujeitoprofessor só se concretiza, quando o mesmo processar novos saberes como aprendiz, ou seja, ao ensinar o saber, o professor tem que conseguir processálo, interpretá-lo, reinventá-lo, recriá-lo e transformá-lo em novos conhecimentos, dando-lhe uma visão e um horizonte crítico do mesmo. Por meios das leituras dos escritos de Freire (1997, 2000, 2001), percebe-se que esses saberes só podem ser construídos, na medida em que 36 haja propostas educacionais que visem a uma educação ampla, completa e crítica, dinamizando as potencialidades e tornando-as aceitas pelos professores comprometidos. Sendo assim, a pedagogia progressiva, que é precursora de uma nova visão de mundo, supera as questões fragmentadas e tecnicistas do ensino, aspectos constituintes de ordem bancária. É nesta ação proposta pela pedagogia progressiva que o professor é desafiado no seu cotidiano. “A passagem para um novo paradigma não é abrupta e nem radical. É um processo que vai crescendo, se construído e se legitimando” (BEHRENS, 2005, p.26) O foco da pedagogia progressiva na visão de Freire é fazer com que as relações entre o corpo docente e discente possam ser discutidas, levando assim, por meio da discussão, a levantar questões para dar respostas aos problemas que atingem os valores, aspectos da práxis pedagógica na educação básica. Cunha ajuda-nos a compreender essa relação entre professor e aluno em relação de uma educação libertadora: “O relacionamento entre educador e educando não se fixa pelas intenções ou palavras, mas pelas estruturas de exercício do diálogo, da comunicação, da tomada e execução de decisões. (1983. p.22). Freire também, ao propor este modelo de pedagogia progressiva, pontua a questão do fator social que, por sua vez, Adorno (2000) também observa a mesma questão e faz a sua crítica social, juntamente com Horkheimer. Ao analisarmos os autores Adorno, Freire e Horkheimer, percebe-se que há uma linha entrelaçada entre eles. Ao analisar a obra de Adorno, Educação e emancipação (2000), é importante antes de tudo compreender as críticas que ele faz à indústria cultural. Porque, para ele, esta é a responsável por prejudicar a aptidão, a competência da capacidade humana de agir com autonomia. Assim sendo, para Adorno a crise da educação é, na realidade, a crise da formação cultural da sociedade capitalista como um todo, que massifica, cria a semiformação (Halbbildung), impedindo a autorreflexão. “A semiformação constitui o resultado de um processo sistemático de dominação da formação cultural pelos mecanismos político-econômico” (SCHMIEDKOWARZIK, 1984,p. 114) 37 Há convergências entre Freire e Adorno, quando ambos percebem que a educação se distanciou de seu objetivo central, que é promover o domínio pleno do conhecimento e a capacidade de reflexão. Isto é fazer com que o educando e o educador possam experienciar, na sua formação (Bildung), novos saberes, possibilitando recriar, reinventar conhecimentos a partir da curiosidade de interpretar o mundo. Quando o dominador assume o poder, as classes menos favorecidas continuam sendo dominadas. De acordo com Freire, a educação bancária contribui para isso, pois nela os professores não se tornam agentes de transformação, e sim, são fantoches, marionetes dessa classe que controla o conhecimento. Em Adorno, a classe dominante assumiu um mecanismo para iludir, persuadir, enganar, as pessoas para uma falsa formação, por via da indústria cultural. Com isto, é evidente que ambos os autores vêm denunciar a forma pela qual a educação se torna refém de um grupo de sujeitos que, por meio do mecanismo de construção da heteronomia (ou seja, a sujeição do individuo à vontade de terceiros), torna o indivíduo igual ao coletivo, perdendo sua individualidade. Sob essa ótica, o indivíduo anula a capacidade de pensar e agir por conta própria e também tem reduzida sua capacidade de ser solidário e respeitar o próximo, que são duas vertentes éticas e estéticas. Na opinião de Adorno, apenas a alienação poderia explicar uma situação tão grave e existencial como a barbárie presente na sociedade; Adorno parte do fato real como o holocausto e os campos de concentração como símbolos, imagens, máximos da selvageria humana. Bandeira (2011), fazendo uma leitura da obra de Zuin, “Indústria Cultural e Educação: O novo canto das sereias”, afirma que: O escravo-trabalhador aos poucos vai adquirindo consciência de que é a sua subjetividade que é objetivada na imanência do produto gerado, a auto-consciência do escravo provém do auto reconhecimento da sua perpetuação particular, que transcende a si própria e representa a permanência do gênero humano no produto do seu trabalho ( BANDEIRA, 2011, p.5 acessado 10/02/11) Conforme este entendimento, percebe-se que, por meio do trabalho, o sujeito tem a possibilidade de formar-se. Com isso, a experiência formativa, apresentada entre Adorno e Freire, aponta para a possibilidade da autonomia 38 do sujeito, quando o mesmo rompe com a alienação, dando suporte para a formação (Bildung); e o sujeito deixa de ser ingênuo, para tornar-se construtor de novos saberes. A crítica destes dois autores à educação e à formação de profissionais qualificados está na avaliação do papel social da escola. Na compreensão de Adorno (2000), o cenário escolar se transformou em simples instrumento a serviço da indústria cultural, que visa ao ensino como uma simples mercadoria pedagógica, em prol da semiformação (Halbbildung). Com a perda dos valores éticos e estéticos pela educação bancária (Freire) e pela manipulação da indústria cultural (Adorno), anula-se o desenvolvimento da autorreflexão e da autonomia humana. É gerada, na sociedade, uma escola de massa que tem como interesse instalar e cultuar a massificação, chegando ao núcleo de que isso gera a deformação da consciência, criando na sociedade a semiformação (Halbbildung). A compreensão da leitura realizada por Adorno de que a sociedade é refém da má formação de professores pode ser feita a partir do fato de que o sujeito não consegue raciocinar e nem ter consciência de que é dominado pela comercialização e banalização dos bens culturais. Isto é um fenômeno batizado posteriormente por Adorno e Max Horkheimer de "semiformação”, no livro “A Dialética do Esclarecimento”, escrito nos anos 1947. Este fenômeno é o responsável por prejudicar a capacidade humana de agir com liberdade moral, intelectual e com autonomia. Sair deste mecanismo de dominação e dar passos que possibilitem assumir a pedagogia progressiva é, na verdade, fazer com que a formação de professores tenha a função de promover a vontade de buscar o domínio pleno do conhecimento e a capacidade de reflexão, rompendo com uma educação bancária que busca fazer com que os alunos absorvam somente alguns trechos, ideias, palavras necessárias para responder os exercícios e de onde o professor só espera essas respostas. A educação, mesmo sendo considerada como ideal, está condicionada a uma realidade e não se compromete no seu propósito de ser. O caminho para a superação disso é a formação, que contemple o sentido de humanização, de um indivíduo com conhecimentos científicos, humanos e artísticos, que despertem e provoquem a curiosidade, a crítica devido à capacidade de se 39 relacionar consigo mesmo e com o outro. Este indivíduo, a partir da visão sociológica, em Adorno, faz com que a escola seja considerada uma instituição apta a formar o sujeito, ou seja, aquele que não é dominado, é pleno de autonomia de pensamento e atua reflexivamente em todas as instâncias da vida social. Nesta ótica, a educação que visa à vivência da experiência formativa é uma formação de amplitude humanística, tendo como objetivo uma educação para a diferença, visando à possibilidade de que os sujeitos possam valorizar a dignidade e o respeito às diferenças. A contribuição de Cunha, ao resgatar o pensamento de Freire, nessa linha é a seguinte A dialética da educação está na utopia da igualdade e na desigualdade das utopias...A educação para a liberdade passa pela regulamentação, pela repressão à espontaneidade opressora dos oprimidos. Educar é tirar aos dominadores a possibilidade de oprimirem; retirar aos dominados a mamadeira pacificante e paternalista da tranqüilidade. (CUNHA, 1983,p.23-24). Josso (2004) propõe uma abordagem de formação na perspectiva do paradigma experiencial ao apresentar a visão de que a experiência é única e pessoal: Falar das próprias experiências formadoras é, pois, de certa maneira, contar sobre si mesmo a própria história, as suas qualidades pessoais e socioculturais, o valor que se atribui ao que é "vivido" na continuidade temporal do nosso ser psicossomático. [...] é também um modo de dizermos que, neste continuam temporal, algumas vivências têm uma intensidade particular que se impõe à nossa consciência e delas extrairemos as informações úteis às nossas transações conosco próprios e/ou com o nosso ambiente humano e natural. (JOSSO, 2004, p. 47) Para Josso, a vivência está relacionada aos fatos que são quotidianos. Estas vivências, não necessariamente, permanecem na memória do indivíduo, elas também não contribuem, necessariamente, para uma formação, voltada para a aprendizagem reflexiva. É importante frisar que toda experiência se dá por meio de uma vivência, isso quer dizer que o sujeito escolhe uma vivência na qual ele perceba que haja algum sentido, que traga um aprendizado; isto é, elege-se uma fonte de aprendizagem que ofereça instrumentos para a formação para a vida. 40 Afirma Josso (2004), que há uma distinção entre vivência e experiência. Todos têm uma vivência só se pode afirmar que se tem uma experiência, a partir da reflexão sobre a vivência, transformando-a em experiência. A reflexão do que foi vivenciado é sistematizada, ao estabelecer critérios para nomear o que se aprendeu com a experiência. Só se pode construir o saber quando houver perguntas às experiências, para entendê-las e percebê-las como parte integrante de nós mesmos. Conforme Josso (2004), a história de vida, a autobiografia, a pesquisaformação, que ocorrem, ao mesmo tempo, envolvem o indivíduo e comprometem outras pessoas e objetos. Quando o sujeito estiver disposto a percorrer, “o caminho para si”, ou seja, formar-se, deve ter a noção de que será uma viagem de experiência formativa e, no percurso, na trajetória, haverá mudança tanto no campo pessoal, quanto no processo em si. Isto acarretará uma nova consciência que não será fácil de percorrer, pois exigirá do sujeito uma disposição pessoal e uma abertura para o processo. O professor deve narrar a sua história, a partir de seu olhar sistemático, crítico e reflexivo. Em relação à sua escolha de ser um transformador de saberes, o professor, ao narrar, faz como uma ação de (re) pensar e dar novo sentido à sua história, percebendo que ela é parte integral de um período, de uma comunidade, integrando-se em um meio sócio cultural, que possibilita, assim, revelar-se e revelar os contextos nos quais ela se forma. Para Josso (2004), a experiência profissional e pessoal dos professores, prepara ordem e elabora saberes que ajudam no diálogo entre suas experiências profissionais e pessoais e nas teorias que proporcionam elementos e recursos para uma contextualização mais ampla das experiências de cada sujeito. Fica claro que as experiências profissionais e pessoais estão consonantes com as suas escolhas. A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da acção, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar os outros, 41 cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (LARROSA, 2002) Maturana, apresenta a ideia da “autopoiesis”, que significa criação de si, em grego. Para Maturana, o ser humano está constantemente em mudança, se autoproduzindo, se autocriando. Este processo de autocriação e de reação é definido por Maturana de conhecimento, pelo motivo de que os seres vivos têm que compreender os desafios impostos, para poderem inventar novas formas de ser, internamente. Conforme Maturana, este processo não é percebido como algo mecânico, ou seja, de fora para dentro. O processo é aberto, ele estimula, organiza e elabora, internamente e com autonomia, as relações entre as partes envolventes. Falar de ética e estética é falar de sentimentos subjetivos. Esses sentimentos nos direcionam a olhar o mundo e o que nos circunda de forma bela. Há os sentimentos que geram a vida como o amor, a bondade, a gratidão, que abordam a relação entre o eu e o outro. Já, no entanto, existem aqueles sentimentos que deixam os indivíduos descontentes, como a dor, a raiva, o medo, agressão, que impedem um convívio social. Sabe-se que as emoções são motores da ação de cada pessoa. Busca-se, em Maturana, a fundamentação da relação do professor humanista que, por sua prática pedagógica, valoriza a pessoa do estudante, pois, o seu olhar é direcionado para possibilitar um ensino para a vida, pelo motivo de que a sua energia é voltada para a vida, para o belo e para o bem. Maturana (2008) trata da biologia do amor que fundamenta a existência do homem. Sem o amor não existiria o ser humano. A estrutura do ser humano está baseada no amor, na afetividade e na intimidade. Conforme Maturana; Rezepka (2008, p. 27), “A biologia do amor é a dinâmica constitutiva do ser humano como ser social desde sua condição biológica e não desde sua condição cultural”. E mais: O amor como emoção, é o domínio das condutas relacionais através das quais surge o outro como legítimo outro em convivência com alguém. Como tal, o amor é a emoção que funda o social como âmbito da convivência no respeito por si mesmo e pelo outro. (MATURANA; REZEPKA, 2008, p.25) 42 Maturana e Freire defendem a ideia da amorosidade no cenário escolar, como forma construtiva da relação professor e aluno. “espaço educacional como espaço de convivência na biologia do amor deve ser vivido como espaço amoroso” ((MATURANA; REZEPKA, 2008, p.17) Boff (1999) apresenta um pensamento importante sobre este tema do amor, do sentimento, da responsabilidade para com o outro, que está voltada para a questão da ética. O que se opõe ao descuidado e ao desespero é o cuidado. Cuidar é mais do que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais do que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. (BOFF. 1999, p.33). Como diz Maturana (1998, p.31): ”Sem aceitação e respeito por si mesmo não se pode aceitar e respeitar o outro, e sem aceitar o outro como legítimo outro na convivência não há fenômeno social”. Adorno, Freire, Josso e Maturana, nas suas teorias, buscam por via da experiência formativa do sujeito, levar a uma consciência da plenitude do ser, tornar-se participante do processo de construção da própria formação de si no mundo, onde as experiências de vida, de profissão, do meio podem caminhar de mãos dadas. Neste recriar, a educação pode ser construída e, assim, há a possibilidade de uma educação que proporcione uma vivencia humanizante. Finalmente, há a força da ideologia que massifica o sujeito, impedindo-o de compreender a vivência (Josso) e a experiência, como atos de recriação e de ressignificação, através do ato da narração. A apropriação estética representa a fuga dessa ideologia. 43 2 A EDUCAÇÃO ESTÉTICA: UM CAMINHO PARA A HUMANIZAÇÃO Neste capítulo, visa-se à compreensão, no contexto da contemporaneidade, da construção da identidade dos sujeitos, para a reflexão sobre a Educação Estética, na perspectiva de Adorno e Freire, na formação de professores. A aproximação entre os autores diz respeito à compreensão dos mecanismos que impedem uma consciência crítica, à emancipação dos sujeitos históricos e às práticas pedagógicas, voltadas para a humanização do homem. 2.1 A construção da identidade no mundo contemporâneo Conforme Hall (1998), vive-se uma crise da identidade na Pósmodernidade. A ideia da Pós - modernidade como algo que vem, depois da modernidade, não significa a superação da modernidade, é uma reação contra a modernidade. O filósofo Lyotard foi um dos primeiros a fazer essa reflexão. O autor se refere à Pós-modernidade, como sendo um pseudônimo, pelo fato de que o termo moderno foca o “agora”, sendo assim, é impossível existir algo depois de “agora” como o termo “pós”. Vattimo diz que: O pós de pós-moderno indica, com efeito, uma despedida da modernidade, que, na medida em que quer fugir das suas lógicas de desenvolvimento, ou seja, sobretudo da idéia de ‘superação’ crítica em direção a uma nova fundamentação, busca precisamente o que Nietzsche e Heidegger procuraram em sua peculiar relação ‘crítica’ com o pensamento ocidental (VATTIMO, 1996, p. VII). A Modernidade surgiu no século XVIII, proporcionando às pessoas esperança, segurança, confiança no triunfo da razão técnica. É uma promessa que o progresso, por meio das leis naturais acima de todas as leis humanas, elevaria os homens à condição de igualdade e felicidade. A promessa não cumprida leva ao fracasso da modernidade, porém, isso não significa a sua extinção, emergiu uma cultura ou subcultura, denominada Pós-modernidade. 44 Baum (1993, p.13) acrescenta dois grandes impulsos da racionalidade iluminista. Primeira: “a razão instrumental que lida com a ciência e tecnologia e a razão subjuntiva ou razão prática”. A segunda que busca “lidar com o destino humano e a liberdade humana”. Daí, surge a ideia de liberdade de pensamento, que contribui para novas formas de mistificação trazidas pelo progresso das ciências e, consequentemente, acompanhadas pela tecnologia. A racionalidade do Iluminismo reduziu-se à pura razão instrumental. Baum (1992) refere-se à possível “morte da modernidade”. O sistema econômico mundial, aparelhado para manter e melhorar seu desempenho, já não tem um sujeito histórico. Nem pessoa, nem grupos de pessoas, nem, governos são capazes de assumir a responsabilidade por sua orientação. A economia tornou-se sem sujeito (BAUMAN, 1992.p.16). Vattino (2001, apud Lima, 2004, p.1) reitera que: a chamada "pós-modernidade" aparece como uma espécie de Renascimento dos ideais banidos e cassados por nossa modernidade racionalizadora. Esta modernidade teria terminado a partir do momento em que não podemos mais falar da história como algo de unitário e quando morre o mito do Progresso. É a emergência desses ideais que seria responsável por toda uma onda de comportamentos e de atitudes irracionais e desencantados em relação à política e pelo crescimento do ceticismo face aos valores fundamentais da modernidade. Estaríamos dando Adeus à modernidade, à Razão (Feyerabend) Quem acredita ainda que "todo real é racional e que todo real é racional"(Hegel)? Que esperança podemos depositar no projeto da Razão emancipada, quando sabemos que se financeiro submetido ao jogo cego do mercado? Como pode o homem ser feliz no interior da lógica do sistema, onde só tem valor o que funciona segundo previsões, onde seus desejos, suas paixões, necessidades e aspirações passam a ser racionalmente administrados e manipulados pela lógica da eficácia econômica que o reduz ao papel de simples consumidor. Hall (1998), ao fazer a analise da sociedade na contemporaneidade, aponta três concepções: o sujeito do Iluminismo; o sujeito sociológico, o sujeito pós-moderno. Essas concepções convivem entre si, no mesmo tempo e no mesmo espaço, e provocam um pensar e agir em fragmentos. Explica-se a crise de identidade da Pós-modernidade: “As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em 45 declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno” (HALL, 1998, p.7). De acordo com Hall, a crise de identidade, torna-se mais aguda pelo fato de a sociedade estar em estado constante de mudança. “Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado, a identificação não é automática, mas pode ser ganhada ou perdida.'' (HALL, 1998, 21) . Assim, “O próprio conceito [...] identidade, é demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na ciência social contemporânea para ser definitivamente posto à prova.'' (HALL, 1998, 8). Hall (1988, p.22) aponta aspectos que caracterizam a crise de identidade na Pós-modernidade: • A Modernidade e a Pós-Modernidade não cumpriram com as suas propostas e metas. A Pós-Modernidade inverteu o foco: em vez da claridade definitiva da luz da razão, anunciou a irracionalidade, pelo fato de que o homem não se tornou livre. Tornou-se preso às tiranias de todas as cores, ao invés da fraternidade e igualdade. A sociedade ficou à mercê da marginalidade e do totalitarismo, colonialismo, etnia, raça, classe, gênero, racismos. Os meios de comunicação impõem o consumo, de forma que a exploração do capital é reconhecida de forma lícita. • A Pós-Modernidade é considerada como sendo uma transeunte de ideias. Isto que dizer que as idéias são passageiras, mudam, conforme as circunstâncias, adéquam-se à realidade conforme a direção do vento. • Para os pós-modernos, o futuro não é levado em conta, o que importa é o presente. Aqui se percebe que o que há por detrás dessa ideia é o pensamento da indústria cultural, o consumismo, a exploração da mão de obra e do descartável. • O individualismo presente também é visto pela Pós-Modernidade, pelo fato de que induz o indivíduo a ser o que ele deseja ser. • Para eles, não existe redenção possível à história, não havendo nada que possa mudar a marcha da história. Levam assim, o indivíduo a 46 esquecer a história. O que conta é a realização pessoal, nesta dimensão, considerada positiva, quando o indivíduo desfruta o presente, a sua realidade aqui e agora, esquecendo-se da história e também da utopia e da esperança. • Enfim, a Pós-Modernidade, ao negar novamente todo o projeto e a história que foi construída pela humanidade, não somente joga fora as bases colocadas com tanto esforço, mas também anula as dimensões estética e ética, que se referem à valorização do humano, como sendo um ser em relação com o outro e com o mundo. A fragmentação da identidade do sujeito havia sido denunciada por Adorno. Aponta o autor que a fragmentação é decorrente das relações, das informações instáveis e descartáveis que a indústria cultural, a partir da razão instrumental, instituía um movimento histórico universal, transformando a cultura em mercadoria. Baum, diz: Por volta da virada do século Max Weber, seguido por outros intelectuais alemães, chegou acreditar que a tendência racionalizante da modernidade, a força cultural da razão instrumental, era tão avassaladora que acabaria sobrepujando todas as tendências contrárias na sociedade, produzindo uma sociedade inflexível, opressora, cientificamente programada, a “gaiola de ferro”(das eherne Gehäuse), acompanhada pelo declínio cultural e a morte de todos os sonhos verdadeiramentes humanos (BAUM, 1992,p.12) Baum (1992) assinala que: Os filósofos da Escola de Frankfurt [...] concordaram com Max Weber em que o poder crescente da razão instrumental estava desumanizando a sociedade, mas recusaram-se a fazer o coro com os pensadores que rejeitavam completamente a herança do Iluminismo. Enquanto herdeiros críticos da tradição marxista, os membros da Escola de Frankfurt defenderam apaixonadamente, como uma exigência da própria razão, a emancipação de todos os grupos humanos das estruturas de exclusão e desprezo e dos pesados fardos colocados sobre seus ombros (BAUM, 1992. p.12). Adorno, Horkheimer e outros filósofos da escola de Frankfurt, anunciaram que o Iluminismo se tornou uma resistência em oposição à emancipação humana. Em Adorno, a natureza da indústria cultural é uma 47 manifestação desse processo que se desenvolve pela transformação social, na passagem do século XIX para o XX. A finalidade desta indústria é assegurar a expansão das relações mercantis. Concisamente, os objetos produzidos por ela perdem o seu significado de criação artística e literária, assumindo forma a fim de atividades econômicas. A indústria cultural gira em torno da atividade de levar os bens de consumo a adquirirem o mercado. Ou seja, aquilo que é chamado de cultura torna-se símbolo de consumismo. Este incentivo de consumo se dá por via das propagandas, tornando os consumidores como objeto manipulável. “As mercadorias se transformam em imagens, no próprio conteúdo da mídia, passando a construir um só processo com ela, nos diversos contextos da vida em sociedade”. (RÜDIGER, 1999, p.17). Para entender a dominação, Adorno juntamente com Horkheimer vai buscar em Kant (1724-1804) o termo Aufklärung, Iluminismo que, no Brasil, ficou traduzido como Esclarecimento 3. Significa também colocar sobre a mesa, ou deixar evidente. Adorno e Horkheimer tiveram, como objetivo, explicar o mecanismo pelo qual a Aufklärung valorizou o homem e a razão. Para Kant, Aufklärung significa a saída do homem de sua menoridade, pela qual ele próprio é responsável. A menoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela de outro. Aufklärung tinha inicialmente uma proposta de levar o homem à emancipação e à autonomia. Mas, com a mistificação do mito, a racionalidade vai buscar a técnica para explicar a realidade e, com isto, a dominação dos burgueses sobre a técnica vai criar mecanismos que impedirão o homem de emancipar-se, surgindo assim a chamada Indústria Cultural. Adorno e Horkheimer (1985, p. 11) questionam a promessa da Aufklärung, que se baseava em um pensamento livre dos mitos e da superstição, onde a sociedade iria entrar em um estado de ouro, salvando-se, tirando-se, livrando-se do perigo, ou seja, da barbárie. Para eles, a ideia de 3 O termo "Esclarecimento" foi preferido ao termo "Iluminismo" para traduzir a palavra alemã Aufklärung. O termo tem sido adotado em traduções brasileiras, como na obra Dialética do Esclarecimento, traduzida por Guido Antonio de Almeida (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. 48 Aufklärung foi uma ilusão, recebendo por isso muitas críticas, especialmente de Adorno. De acordo com o pensamento da Aufklãrung, o homem era dominado pelo mito e, por essa razão, não era considerado esclarecido; a razão tinha então como objetivo desmitificar o mundo e colocar o homem na posição de senhor. A grande aspiração do Esclarecimento, Aufklärung, era esconder as interpretações “irracionais” dos mitos e dar outro sentido por meio do saber. Sendo que este saber é transformado em algo prático, pragmático, ou padronizado, pelo fato de que, para o Pós-Modernismo, é melhor viver sem ideias de que sacrificar a própria vida diante de ideias que nunca poderão ser atingidas. É no pensamento de Bacon (1561) que Adorno e Horkheimer vão buscar uma análise da racionalidade técnica e da Indústria Cultural 4 e a sua contribuição para o saber técnico, sobre o domínio da natureza, ou seja, a ideia de que para colocar a natureza a serviço da humanidade é necessário conhecê-la. “A técnica é a essência desse saber, que não visa a conceitos e imagens, nem prazer do discernimento, mas o método, a utilização do trabalho de outros, o capital”. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985 p.20) Bacon proclama a separação, a cisão, entre o sujeito e objeto. Por isso, Adorno e Horkheimer culpam Bacon pelo descaminho, pelo desvio da cultura e da sociedade europeia: A estéril felicidade de conhecer é lasciva tanto para Bacon como para Lutero. O que importa não é aquela satisfação que, para os homens, se chamam “verdade”, mas a operation, o procedimento eficaz. Pois não é nós (citando Bacon) “discurso plausível, capazes de proporcionar deleite, de inspirar respeito ou de impressionar de uma maneira qualquer, nem em quaisquer argumentos verossímeis, mas em obras e trabalhos e na descoberta de particularidades, antes desconhecidas, para melhor prover e auxiliar a vida”, que reside “o verdadeiro objetivo e função da ciência”. Não deve haver nenhum mistério, mas tampouco o desejo de sua revelação. O iluminismo ignorou a exigência clássica de pensar o pensamento (ADORNO; HORKHEIMER,1985, p.20) 4 O esclarecimento como mistificação de massa. Monopólio cultural, Cultura administrativa, reprodutibilidade mecânica de bens culturais padronizados. Rádios, cinemas, jornais, revistas e outros 49 Trazendo para os dias de hoje esta ideia, percebe-se que, para Adorno, o Aufklärung estabeleceu, criou uma sociedade de massa, que determinou um pensamento único, massificado, normalizado, ou seja, onde os indivíduos acabam pensando a mesma coisa, para se autoconservarem. Mas estes pensamentos são estabelecidos, segundo os modelos, referências padrões de uma inteligência tecnológica, social, econômica e pragmática. Considerando a nomenclatura, vê-se que o termo Teoria Crítica, foi criado por Max Horkheimer, nos anos 30, com o objetivo de criticar a “razão hegeliana, por trazer a teoria da identidade como acabada”, ao contrário da teoria crítica que dá ao sujeito uma condição de refletir a sua história. Os demais membros da Escola de Frankfurt, entre eles Adorno, aderiram a essa teoria, anos mais tarde. Horkheimer e Adorno oferecem-nos uma nova visão de mundo, denominada como Teoria Crítica. Por meio dessa teoria crítica, eles fazem uma análise da realidade que é imposta aos seres, por meio, da indústria cultural, através das suas idéias que os massificam. Para a libertação destas ideologias e dos fetiches, que manipulam os seres, Adorno sugere que a educação seja um instrumento para abrir novos caminhos, levando as pessoas a pensarem criticamente. A partir da teoria crítica de Horkheimer, Adorno elabora um pensamento que visa à solução dos problemas dos tempos modernos. Este abordará uma reflexão sobre a realidade, enfocando uma crítica à indústria cultural. Essa teoria propõe ao homem uma interpretação da realidade de forma crítica, de maneira a não ser enganado pela mídia, particularmente, os meios de comunicação. Adorno, ao propor este método, fornece ao indivíduo a possibilidade de rompimento com a manipulação imposta pela indústria cultural, permitindo ao homem convicção de sua própria forma de pensar. O conhecimento passa a ser qualitativo. Consequentemente, o sujeito deixa de ser passivo para ser produtor da sua própria opinião. Como solução para a questão da emancipação, Adorno propõe o vínculo com os filósofos, que têm, como função, ajudar os educadores a olhar a realidade de maneira a evitar a influência da indústria cultural. Adotando uma visão nem ingênua e nem paranoica, é possível compreender os motivos pelos quais o autor critica esta nova visão da cultura, com forte influência dos 50 Estados Unidos. Apesar das críticas, não se pode negar que, mesmo que feita para ser comercializada, a cultura tem um valor, ajudando a transmitir conhecimentos, a entreter as pessoas. O importante aqui é perceber como, para Adorno, a cultura, quando feita de forma não comercial, que ele chama de Indústria Cultural, atrapalha na emancipação do indivíduo. Adorno também foi dos pioneiros, ao levantar questões como estas que Freitas (2008 p.9-10) apresenta-nos: a inserção crítica da cultura, da sociedade capitalista, da razão científica da cultura de massa e de diversas outras esferas da vida contemporânea. Este pensamento, contudo, deriva da Escola de Frankfurt. Adorno analisa, questiona e reflete, por meio de uma autocrítica, analisando a sua própria história. Chega à conclusão de que a técnica, como ferramenta da indústria cultural, não está a serviço da sociedade, pois não possibilita a emancipação do sujeito, como formador da sua própria história. Esta técnica reproduz, na sociedade, uma semiformação, um esquecimento da história, do tempo e do espaço onde o sujeito está inserido, deixando-o neutro, passivo, na própria sociedade. Nesta sociedade, o homem vai introduzindo uma nova forma de relacionar-se com o outro e com o mundo, pois seu relacionamento se torna normatizado, sistematizado pelo mercado capitalista. Neste mercado, a técnica fica a serviço do capital, dos poderosos que ditam as regras e os valores a serem seguidos. O povo está à mercê deste sistema. De acordo com Adorno, a indústria cultural leva o homem a uma semiformação, que nada mais é do que razão instrumental, que faz com que o homem se torne um indivíduo educado para ficar subordinado à semicultura de massa, anulando a sua capacidade de refletir a sua própria realidade, a sua história. Levando em conta a sociedade atual, vê-se que se está vivendo em uma sociedade administrada que tem, como característica, favorecer situações de barbárie, nas quais os indivíduos reproduzem situações de opressão, principalmente, através dos meios de comunicação: a indústria cultural. O conceito de indústria cultural aparece, em Adorno e Horkheimer (1985, p.287), primeiramente, como cultura de massa, da arte como consumo; mais tarde, a partir daí, é elaborado o conceito de indústria cultural. 51 O conceito de massa cultural vincula-se ao conceito de indústria cultural, em Adorno: Se de um lado, a indústria cultural especula inegavelmente sobre o estado de consciência e de inconsciência de milhões de pessoas a que se dirige, por outro lado, as massas não são o elemento primário, mas um fator secundário, compreendido no calculo: um apêndice do mecanismo. O consumidor não é, como a indústria cultural gostaria de fazer acreditar, o soberano, o sujeito desta indústria cultural, mas antes o seu objeto. A palavra mass-media, que a indústria cultural cunhou para si, desloca o seu acento para o inofensivo. Aqui não se trata em primeiro lugar das massas, nem das técnicas de comunicação enquanto tais, mas do espírito que estas técnicas insuflam, a voz de seus senhores. A indústria cultural abusa na sua consideração para com as massas a fim de duplicar, consolidar e reforçar sua mentalidade pressuposta como imutável. Tudo que poderia servir para transformar esta mentalidade é por ela excluído. (ADORNO, 2002, p.17) De acordo com Adorno (2002), a indústria cultural não se inspira nas massas, mas sim, na sua ideologia, devido ao fato de que a ideologia só existiria, se se prescindisse da adaptação das massas. As mercadorias culturais da indústria se orientam, pelo princípio da sua valorização, e não pela adequação de suas qualidades. A motivação da indústria cultural é o lucro. A introdução no mercado das criações, como mercadorias, propiciam o sustento de seus autores. Apesar de visar ao lucro, elas conservam a sua essência autônoma. Novo na indústria cultural é, pelo contrário, o primado imediato e descoberto do efeito que ela calcula com precisão nos seus produtos mais típicos. Se é certo que a autonomia da obra de arte em estado puro raramente se afirmou e esteve sempre atravessada pela busca do efeito, pela indústria cultural esta é tendencialmente acantonada com ou sem a vontade consciente dos seus promotores. Que podem ser tanto órgãos executivos como detentores de poder. (ADORNO, 2002, p.17) Segundo Adorno (2002), no plano econômico, buscam-se as novas possibilidades de valorização do capital, sobretudo, nos países com maior desenvolvimento econômico. Há um processo de concentração, sem o qual a indústria cultural, como instituição onipresente, não se viabilizaria. As mercadorias culturais, que devem ser consumidas, podem emancipar-se da obrigação de serem vendidas. Nesse caso, a indústria cultural exerce o papel 52 de relações públicas. Faz-se publicidade para o mundo todo. Desde o caso do romance comercial inglês, no final do século XVII e princípios do século XVIII, a indústria cultural manifesta categorias fundamentais, conservadas e reconhecíveis. O que na indústria cultural se apresenta como progresso, o continuamente novo que ela exibe, continua sendo o revestimento de um sempre igual; em todos os lugares a verdade esconde um esqueleto que não mudou mais do que não mudou o próprio móvel do lucro, desde que este passou a dominar a cultura. A expressão "indústria" , contudo, não deve ser tomada ao pé da letra: ela se refere à estandardização da própria coisa, por exemplo, à estandardização dos filmes western, familiares a todo frequentador de sala de cinema, e a racionalização das técnicas de divulgação; não ao processo de produção no sentido estrito. Se de fato no setor central da indústria cultural, o filme, sob muitos aspectos é um procedimento técnico, dada a generalizada divisão do trabalho, o amplo emprego de máquinas e a separação dos trabalhadores dos meios de produção - separação esta que se exprime no eterno conflito entre os artistas ocupados na indústria cultural e os detentores de poder decisório - não impede que se conservem formas individuais de produção. (ADORNO, 2002, p. 18) Adorno (2002) afirma que a indústria cultural tem sempre se apresentado como “serviços” a terceiros. Ela firma sua afinidade com o velho processo de circulação de capital, com o comércio, do qual ela é oriunda. O funcionamento e o conteúdo da indústria cultural são desumanos, em consequência do êxito da publicidade. A técnica da indústria cultural refere-se à sua lógica interna: é uma técnica de distribuição e reprodução. Ela vive por assim dizer como parasita de uma técnica extra artística, da técnica de produção de bens materiais, sem dar-se conta, do que a objetividade desta comporta para a forma intra artística, e além disso, para a lei formal da autonomia estética. Daí resulta o pastiche (Gemisch), essencial a fisionomia da indústria cultural, de streamlining, de solidez, e precisão fotográfica, de um lado, e de resíduos individualistas - atmosfera, romantismo confeccionado e racionalmente dosado - de outro. Se se assume a "aura" de Benjamim - a presença do não presente - como fator determinante da obra de arte tradicional, a indústria cultural é definida pelo fato de que ela não contrapõe ao princípio da aura um princípio diverso, mas conserva a aura, putrificada, como atmosfera nebulosa. (ADORNO, 2002, p.18) Adorno (2002) sugere que há um alerta para que a indústria cultural não seja subestimada. Devido à sua importância para a formação da consciência, 53 ela se tornou um lugar comum entre os políticos da cultura e os sociólogos. É ingenuidade ignorar a sua influência. Há ambiguidade: a sua relevância no âmbito social ou é evidente ou é oculta. A incontestável importância da indústria cultural requer que ela seja levada a sério de forma crítica e, não, prostrar-se diante de seu monopólio. Respeitando o seu poder, pode-se manifestar as reservas sobre sua existência. Intelectuais afirmam que fotonovelas, filmes feitos em série, programas musicais, sessões de consultas psicológicas e horóscopos são inócuos. De fato, são, mas também são democráticos, na medida em que respondem a uma exigência ainda não fomentada. Além disso, há vantagens: divulgam informações, conselhos e modelos libertadores de comportamento. Nesta visão estética, a indústria cultural oferece, aos indivíduos, um prazer momentâneo e supérfluo. Um exemplo concreto está na questão da tecnologia; os aparelhos que adquirimos, em pouco tempo, estão obsoletos, exigindo que compremos outros novos, que suportam as novidades, ficando assim a técnica a serviço do capital. Por isto, para Adorno o pragmatismo tem um sentido negativo, pois procura impedir a emancipação do indivíduo, colocando-se a serviço da semiformação. Freitas esclarece bem este mecanismo de sedução da indústria cultural para deixar os indivíduos sem saída: O que se estabelece é um grande sistema em que as pessoas são constantemente enganadas em relação àquilo de que necessitam. Os produtos fornecidos pelos meios de comunicação de massa passam a idéia de que as necessidades que eles satisfazem são legítimas, próprias dos seres humanos como seres livres que podem exercer seu poder de escolha, quando, na verdade, todas as opções são sempre pensadas a partir de um princípio que torna todas as alternativas idênticas, pois todas acabam sendo meramente mais uma oportunidade de exercer o poder de compra (FREITAS, 2008, p.18). A partir daqui, podemos fazer a seguinte pergunta: como a indústria cultural age na sociedade? Em resposta a esta pergunta, cita-se uma definição retirada do livro Introdução à teoria da comunicação, elaborada pelos membros da Escola Frankfurt: Trata de produção em série, da homogeneização e, conseqüência, da deterioração dos patrões culturais. A exploração comercial de bens considerados culturais reforça a dominação técnica pelo sistema, 54 gerando passividade. A cultura, com a intervenção técnica e os meios de reprodução em massa, perde a sua “aura” e passa a ser mercadoria, descaracterizada enquanto manifestação artística. Moldada para agradar aos padrões da massa consumidora, a cultura de massa rebaixa o nível dos produtos artísticos. Além disso, a relação entre artista e público é intermediada por técnicos. Os produtos são carregados de ideologia dominante e provocam o conformismo. (SANTOS, 1992. p16) Adorno (1985), na obra, Dialética do esclarecimento, retrata dois pontos importantes, nos quais a indústria cultural se impõe aos seres, usando artefatos: ideologias de massa e as alienações como forma de massificar o pensamento do homem e a ideologia no âmbito estético. Antes de tudo, é importante deixar evidente que, para Adorno, o objetivo da indústria cultural nada mais é do que o aniquilamento da autonomia do indivíduo. Sabe-se que o homem é um ser racional, pensante, observador, e por isto, se torna vítima e se deixa corromper pela ideologia industrial, que extermina o que há de mais sagrado e singular nele, que é a liberdade de pensar. E isso acontece de maneira mais comum através dos meios de comunicação, quando tentam usar de artifícios para convencer as pessoas a consumirem determinados produtos, ou mesmo obras de arte. A indústria cultural denunciada como uma vilã surgiu, a partir do positivismo, que valoriza acima de tudo a ciência e a técnica. Adorno critica esta maneira positivista de colocar a ciência como ponto mais importante, na vida da sociedade, a maneira como o sistema capitalista se apoderou de ambas, a ciência e a técnica, para colocá-las a serviço de um sistema opressor. Adorno, ao questionar a produtividade, ou seja, a “sociedade industrial” está procurando fazer uma reflexão a partir do capitalismo, que manipula as “relações de produção” e as “forças produtivas”, que estão vinculadas à progressividade das tecnologias e das ciências. Assim, com o auge do positivismo, o homem deixou os seus valores, para abraçar outros, em troca de uma falsa liberdade, oferecida pela indústria cultural. Ela reflete a irracionalidade objetiva da sociedade capitalista tardia, com a racionalidade da manipulação em massa. Como vimos, a indústria cultural se torna meio de alienação, impedindo um pensamento crítico pelo qual o sujeito possa defrontar lucidamente os seus 55 conflitos. Esses conflitos se inserem no passado histórico, onde o homem tem que rever todos os mecanismos que o levam a se prender nos acontecimentos que marcaram sua geração, surgindo assim uma nova compreensão acerca do passado, reelaborando-o de forma crítica e reflexiva. A preocupação de Adorno era esta, quando ele se referia ao povo alemão de sua época, que ficava amarrado ao acontecimento de Auschwitz, assumindo uma culpa de um tempo, retardando o indivíduo a emancipar-se. Pode-se afirmar que esta releitura da história é uma questão hermenêutica, de interpretação e, por fim, de busca de uma resposta a essa realidade. (ADORNO, 2000, p.6) Portanto, nota-se um dos pontos importantes: falta de autonomia no indivíduo e, consequentemente, a humanidade torna-se desumanizadora, possibilitando a passividade do homem na sociedade. O ser humano, na visão de Adorno, está perdendo a sua identidade, ou seja, o homem passa a ter uma consciência técnica trazida pelo Iluminismo. Assim sendo: [...] bens culturais que alimentam as massas tornam dominante o momento de adaptação, enquadrando-se numa sociedade adaptada, e rompem a memória do que seria autônomo. (ADORNO, 2000, p.21) Com a ausência do exercício de autonomia, o indivíduo passa a ser alienado, deixando de lado os seus valores e aderindo aos interesses econômicos que, consequentemente, acompanham a lei do mercado, sendo que aqueles que não seguem esse ritmo sobrevivem, mas ficam à margem da sociedade. Então, para os filósofos de Frankfurt, nasce o individualismo que é fruto da indústria cultural. Portanto, a indústria cultural comporta-se como dominadora das massas e os indivíduos tornam-se domináveis por meio da sua ideologia. O homem que se dizia livre, passa a ser escravo de um determinado grupo de manipuladores. Entende-se que o pensamento de Adorno procura enxergar o presente, ou seja, ter um posicionamento diante da sociedade e buscar estratégias para romper com as ideologias trazidas pela indústria cultural. Encontra-se dentro da cultura de massa a alienação, que impede o sujeito de enxergar a sua própria realidade, assim os acontecimentos verdadeiros que estão a sua volta passam despercebidos. Por isto, o foco desta cultura é ofuscar, eclipsar a realidade. 56 Baum faz uma reflexão sobre o processo de libertação dessa indústria cultural que impossibilita o sujeito a tornar-se consciente de si e da sua história. O processo se dá por meio da dialética negativa proposta por Adorno. Ele chama de “dialética” sua critica ao Iluminismo, envolvendo a negação e recuperação, e se opôs a toda negação não dialética do Iluminismo, considerando-a perigosa para a comunidade humana (BAUM,1993,p.13). O mundo é forçado a passar pelo filtro da indústria cultural, pois ela impõe seus valores e formas de comportamento, criando uma linguagem “globalizada”, para que todos possam alcançar. Ela traz também camadas de informações verdadeiras e aprendizados, que não negam o seu valor, mas, simplesmente favorecem as classes sociais, que não podem ser vistas como algo negativo e sim algo a ser pensado e refletido. (ADORNO, 2000, p.22) Observa-se que esses mecanismos aparecem em Adorno, no início do século XX, na crítica à educação para a massificação, da barbárie e da semiformação. Em Freire, na década de 60, na critica à Educação Bancária. 2.2 A educação libertadora na contemporaneidade A educação deve voltar-se para a libertação do homem, da sua emancipação e da democratização. Ela estaria, portanto, em uma posição oposta à opressão e à semiformação, estabelecida pela indústria cultural. Freire, um pensador crítico da educação brasileira, apresenta-nos um modelo de ser professor transformador, aquele que tem o papel de levar os alunos a se tornarem pesquisadores, ativos, transformadores, da própria realidade. Freire (1975) apresenta como o “processo histórico” e as suas mudanças que formam o homem nas relações que ele tem consigo mesmo e com o mundo. [...] provocam as primeiras tentativas de uma volta sôbre si mesma. [...] Um mundo nôvo se levanta diante dêles, com matrizes até então despercebidos. Ganham, pouco a pouco, a sua consciência de suas possibilidades, como resultado de uma inserção no seu mundo e da captação das tarefas de seu tempo ou da visão nova dos velhos. Começam a fazer-se críticos, e por isso, renunciam tanto o otimismo 57 ingênuo e aos idealismos utópicos, quanto o pessimismo e à desesperança, e se tornam críticamente otimista. (FREIRE, 1975, p. 53). Freire defendia as seguintes premissas: “o homem deve estabelecer relações com o mundo e, por um jogo de criação e re-criação a partir do mundo da natureza, chegar e efetuar uma contribuição pessoal, uma obra cultural” (1974, p.108). Com essa ideia, o autor conclui que o sujeito estabelece relação com o mundo e com o outro, mesmo sendo relativo o seu conhecimento. Todavia, sabe-se que o sujeito tem suas limitações e, por isso, não consegue perceber com clareza os fenômenos do mundo de forma nítida, objetiva, clara. E esse conhecimento apreendido é expresso por via da linguagem, a partir do significado estabelecido da experiência histórica. A linguagem é um fenômeno da consciência humana, porque a linguagem é a forma pela qual o sujeito expressa suas experiências a outras pessoas, fornecendo significados, transmitindo suas emoções. Adorno considera a educação a partir de dois conceitos fundamentais: barbárie e emancipação. Para Adorno a preocupação com a questão da barbárie é fundamental. Ele define a barbárie da seguinte forma: Suspeito que a barbárie existe em toda a parte em que há uma regressão à violência física primitiva, sem que haja uma vinculação transparente com objetivos racionais na sociedade, onde exista, portanto a identificação com a erupção da violência física. Por outro lado, em circunstâncias em que a violência conduz inclusive a situações bem constrangedoras em contextos transparentes para a geração de condições humanas mais dignas, a violência não pode sem mais nem menos ser condenada como barbárie (ADORNO, 1995, p. 159-160). Em Adorno (2000), a educação tem como papel: Qualquer debate acerca das metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois Auschwitz foi à regressão; a barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta regressão (ADORNO, 2000, p. 119). Adorno (2000, p.119-138) questiona a educação pós-Auschwitz, preocupado com a educação que não é humanizante, uma vez que, ao não 58 humanizar, ela impede o homem de tornar-se sujeito, em relação com o mundo e com o outro. Ela o impossibilita a tornar-se consciente da própria história e experiência, uma educação voltada para banalizar a práxis do professor; neste modelo, é de reproduzir o conhecimento sem nenhuma reflexão crítica para a compreensão da realidade. Freire, quando denuncia a educação bancária está em consonância com o modelo de educação apresentada por Adorno. Freire critica o professor que deposita o conteúdo sem levar em conta a pessoa do aluno, como sujeito que se relaciona com o mundo. A educação bancaria não se refere ao professor que não leva em conta o aluno, mas ao todo da escola, o gestor, os coordenadores, o poder público, pois trata-se de uma rede interligada neste processo. Por isso, Freire mostranos a relevância da educação voltada para a cidadania, para a consciência crítica que conduz à assunção e à valorização das questões culturais, econômicas, políticas e de suas próprias histórias. Freire e Adorno apresentam a dimensão dialética, na relação homem e mundo. Freire, ao apresentar essa educação dialética, denuncia o modelo da educação bancária, cuja função é fazer do professor um objeto do sistema e assim sendo, assume atitudes direcionadas à aniquilação e à banalização do próprio aluno, tornando-o passivo diante dos desafios da sociedade. Esta educação impede o aluno de ter conhecimento do papel social da escola e do seu papel, que é aprender a transformar a realidade. Segundo Adorno, o professor que não consegue fazer uma leitura nova da sua experiência “docente”, reproduz tudo, conforme determina o sistema. A educação voltada para a humanização resgata o valor do ser humano, como sujeito e não, como objeto da realidade. As críticas de Freire e de Adorno resgatam as práticas pedagógicas voltadas para uma educação direcionada à vida, para a transformação homem. A reflexão de Adorno aponta para o ideal de uma educação na qual o olhar e o pensar ocorrem numa ótica da reflexão critica da realidade. A ação pedagógica é voltada para o resgate da dignidade da pessoa. Adorno não propõe uma educação mecanicista e pragmática, mas uma nova educação humanizadora. Para este autor, por meio da estética e da arte, o sujeito se constrói e se humaniza. 59 Adorno e Horkheimer fizeram uma distinção entre as teorias críticas e cientificas. Na teoria crítica, a emancipação e o esclarecimento são fatores que levam os alunos a se tornarem agentes cientes da realidade; fazendo-os se libertarem das coerções, levando-os a encontrarem seus verdadeiros interesses. Trata-se do “conhecimento transitividade” (Freire, 1975, p.65). Nas teorias cientificas, há um ideal: a manipulação satisfatória do mundo exterior, usando a mão de obra do indivíduo de forma que restringe o conhecimento (o tecnicismo), usando o conhecimento para fins comerciais – uso instrumental, num senso de competição. Trata-se da “inteligência intransitiva” (1975, p. 63). Por conseguinte, as teorias científicas requerem confirmação empírica, por meio da observação e do experimento; as teorias críticas são cognitivamente aceitáveis, apenas se elas sobreviverem a um processo complicado de avaliação, cuja parte central é uma demonstração de que elas são “reflexivamente aceitáveis” (GUESS 1988, p, 92). Há então a teoria social que é possuidora de uma estrutura cognitiva social e reflexiva que visa levar o indivíduo a uma convicção sobre a sua sociedade, sendo o próprio consciente de que ele mesmo é uma dessas convicções. Teoria social é um conjunto de convicções que determinados agentes têm sobre a sociedade - pelo menos o teórico social que a propõe – portanto, isto também pode ser descrito como uma maneira de a sociedade refletir sobre si mesma (GUESS,1988, p 93). A teoria crítica, em Adorno, apresenta, como foco, a análise da formação da sociedade. Pesquisam-se as opiniões dos grupos como família, igreja, grupos de amigos, levando-os a observar como cada grupo forma sua opinião pública, pois a formação se dá na proporção em que cada indivíduo expressa suas idéias, em relação aos fatos. Assim sendo, a teoria social apresenta argumentos que possibilitam o surgimento de um novo sentido para a educação. Outro ponto que Adorno traz para ser questionado é a “reflexão educacional”, focalizando uma política social. É essencialmente necessário pensar a sociedade e a educação em seu devir, na medida em que ela reflete e questiona a história, visando à emancipação. 60 Assim, a educação tem a função de confrontar a realidade do sujeito com a realidade proposta pela indústria cultural, o que quer dizer: o homem assume a sua história, a partir do seu próprio conhecimento, para assim entender a sua própria limitação. A experiência formativa é o movimento pelo qual a figura realizada seria confrontada com a sua própria limitação. Freire contribui para pensarmos uma educação libertadora. A educação deve englobar a relação total do ser humano. A visão do professor deve girar em torno dos sentimentos e das emoções, gerando uma dimensão ética e estética. A conscientização é um tema caro na pedagogia de Paulo Freire. Nessa direção, a tomada de consciência é um ponto chave para a passagem da consciência ingênua para a consciência crítica. Para Freire é fundamental o respeito pelo grau da consciência do sujeito, pois cada um tem o seu tempo. A consciência tem para Freire os seguintes níveis: Primária: as características encontradas neste nível são a ausência da autonomia, a limitação da percepção, a falta de consciência da história, o relacionamento passivo em relação à vida, “apreensão dos problemas que se situam fora da sua esfera biológica escapa ao homem cuja consciência está no estágio primário” (Freire, 1978, p.60). Mágica: aqui o sujeito, ao não saber compreender o fenômeno da realidade, classifica-a como decorrência de forças superiores. O sujeito não tem a capacidade de compreender o fenômeno da realidade e transformá-la, é uma pessoa ingênua, acredita que o destino, a sorte, determina a sua vida. “o homem se volta para a magia, porque não percebe as verdadeiras relações de causa e efeito.” (Freire, 1978ª, p.60) [...] que as pessoas que tem consciências mágicas, mas que primária, do mundo, aumentam o poder de compreensão e de respostas diante das solicitações do seu ambiente. Elas são mais capazes de dialogar, não só com outras pessoas, mas também com o seu próprio mundo: elas despertam para então e sua consciência se torna “transitiva” (TARDIF E GUATHIER, 2010 p. 315). Crítica: aqui a consciência é vista como aquela que se origina em um estágio onde, antes, o sujeito compreendia a sua realidade por meio de explicação mágica, para uma resposta lógica e a partir de verificação das suas 61 próprias conclusões. O sujeito, neste nível, se liberta das ideias preconcebidas, se livrando das interpretações falsas e das crendices. Outro fator importante é que, nesta tomada de consciência, o sujeito não é passivo e sim ativo, o seu estado é de questionamento, buscando um rigor do raciocínio, está sempre em dialogo para compreender a realidade, acolhendo o novo sem rejeitar o antigo. Segundo Freire, a pedagogia da libertação tem como ideal despertar a consciência critica, buscando por meio das habilidades em consonância com a práxis libertadora. Para que a alfabetização dos adultos não seja uma pura mecânica e um simples recurso à memória, é preciso dar-lhe os meios de se conscientizar para alfabetizar-se [...], pois, à medida que um método ativo ajuda o homem a tomar consciência da sua problemática, da sua condição de pessoa, e logo de sujeito, ele adquirirá os instrumentos que lhe permitirão fazer escolhas [...] Então, ele se politizará a si mesmo (1973, p. 125). Para romper com a educação bancaria, Freire aposta na pedagogia que tenha como objetivo central a conscientização, levando o sujeito-aluno de uma consciência primária, mágica para chegar a uma consciência crítica. No entanto, a consciência crítica instiga o sujeito possibilitando-o ser sujeito com o outro por via do diálogo, fazendo-o com que mude e participe da realidade. A emancipação, na perspectiva de Adorno, se refere ao indivíduo como um ser social. A emancipação é a formação para a autonomia, mas ela só pode ser bem sucedida, se for um processo coletivo. A educação deve contribuir, portanto, para o processo de formação e emancipação, contribuindo para criar condições em que os indivíduos, socialmente, conquistem a autonomia. Adorno explicita que, quando a subjetividade do indivíduo se torna ferramenta emancipatória nos processos educativos, leva-os a desenvolverem uma consciência crítica voltada para o desenvolvimento da sociedade nos princípios de liberdade e autonomia. A educação é a ferramenta que leva à formação cultural dos indivíduos que desejam superar a barbárie. A educação tem a função de confrontar a realidade do sujeito com a realidade proposta pela indústria cultural, o que quer dizer: o homem assume a 62 sua história, a partir do seu próprio conhecimento, para assim entender a sua própria limitação. Considerando a formação de professores em nível médio, estabelecemse, neste aspecto, analogias com o pensamento de Adorno: trabalhar o sujeito de maneira tal que a barbárie, representada por Auschwitz, não aconteça na escola nem na sociedade. Por conta disso, Adorno insiste na educação da primeira infância que tem, como função, a questão da formação do caráter, e do processo de esclarecimento da população, na sua obra Educação após Auschwitz (ADORNO, 2000) Por fim, a teoria crítica para Adorno dá ao homem uma compreensão da própria realidade e da própria história da humanidade. Propõe ao homem a ruptura do mito e da razão. Conscientiza o homem da manipulação da natureza como meio de conhecimento, portanto, a teoria crítica tem como fim emancipar o conhecimento do homem tornando-o livre do autoritarismo. 2.3 A presença da arte nos caminhos da educação libertadora. A educação crítica é uma educação dialógica, que pressupõe uma educação estética: os sujeitos são ativos e inseridos em seus contextos sóciohistóricos e culturais, fazendo-os conscientes de sua realidade. A base da reflexão sobre a educação estética é o incentivo ao sujeito a tomar consciência da realidade em que vive e convive, levando-o a vencer as banalizações, a semiformação, a educação bancária e as limitações que são estabelecidas pela indústria cultural. A Arte, conforme Adorno (2001), é o principal meio de criar sujeitos emancipados. A função da arte é a de apreender o conceito da verdade, assumindo uma postura crítica em relação à indústria cultural. Assim sendo, a arte também assume uma função social, por meio dela, pode-se denunciar a barbárie da sociedade administrativa, ou seja, a indústria cultural. Conforme Adorno, “o aparelho econômico, antes mesmo do planejamento total, já prevê espontaneamente as mercadorias dos valores que decidem sobre os comportamentos dos homens” (1985, p. 40) 63 A presença da arte na educação, ou a teoria estética, propicia, na formação de sujeitos, a superação das tendências da educação conteudista e instrumentalista. O processo e o movimento que o sujeito faz para recriar, reinventar, na sua relação com o mundo e com o outro, dá-se por meio da educação. Conforme Aranha, em seu livro Filosofia da educação, “a educação não é simples transmissão de heranças dos antepassados, mas o processo pelo qual também se torna possível a geração do novo e a ruptura com o velho”. (ARANHA,1996, p.50) Boal, na obra, Teatro do oprimido, afirma que o teatro foi a primeira invenção do sujeito, fazendo o sujeito criar e recriar, inventar e reinventar as coisas, transformando a sua realidade. O sujeito, ao ver-se em ação, no teatro, consegue perceber-se e corrigir as suas limitações, buscando trabalhar as suas competências, habilidades e potencialidades. Conforme Boal, o único animal que é capaz de abstrair a realidade e torná-la autoconsciente é o homem. Teatro ou teatricidade é aquela capacidade ou prioridade humana que permite que o sujeito se observe a si mesmo, em ação, atividade. O autoconhecimento assim adquirido permite-lhe ser sujeito (aquele que observa) de um outro sujeito (aquele que age); permite-lhe imaginar variantes ao seu agir, estudar alternativas. O ser humano pode ver-se no ato de ver, de agir, de sentir, de pensar. Ele pode se sentir sentindo, e se pensar pensando (BOAL, 2006, p.27). O Teatro do oprimido iniciou-se 1956-1971, na cidade de São Paulo, onde Boal foi diretor do Teatro de Arena. Ele buscou trabalhar as técnicas de interpretação; criando laboratórios, levando a imitar a realidade a partir do concreto. A questão da interpretação ficou para o povo e não para os atores. Conforme Boal: “A interpretação seria tão melhor na medida em que os atores fossem eles mesmos e não atores” (BOAL, 2010,p.244-245). “O que a Poética do Oprimido propõe é a própria ação” (Boal, 2010, p.182); possibilitando o sujeito a entrar nesse universo que é o teatro e a contracenar. Adentrar este cenário é uma oportunidade de poder ampliar as próprias potencialidades que este espaço estético oferece. O autor acrescenta: 64 O espectador não delega poderes ao personagem para que atue para que pense em seu lugar: ao contrário, ele mesmo assume um papel protagônico, transforma a ação dramática inicialmente proposta, ensaia soluções possíveis, debate projetos modificadores: em resumo, o espectador ensaia, preparando para a ação real. (BOAL, 2010,p.182) A autoconsciência, conforme Boal, é que o ator é o próprio espectador, ele se vê se percebe na ação e na história, permitindo-lhe tomar consciência de que é o próprio sujeito da ação e, por isso, ele próprio pode modificar a ação. Por isso Boal diz: O Teatro do Oprimido, ao contrário, queremos transformá-lo, queremos que mude sempre em direção a uma sociedade sem opressão. É isso que significa humanizar a humanidade: queremos que o “homem deixe de ser o lobo do homem”, como dizia um poeta. (BOAL, 2010, p.25). O Teatro do oprimido é uma obra clássica e reconhecida mundialmente. Nesta reflexão, o brasileiro Boal provoca o olhar do espectador, tornando-o ator e co-autor do próprio texto. A inovação é que Boal cria um espaço estético no cenário, sem querer oferecer um texto pronto e pré-estabelecido, mas se qualifica, por ser uma construção dialética de um espaço estético, por se caracterizado de forma coletiva. Neste espaço – o cenário - espectadores e atores participam de forma ativa em unidade uns com os outros, na construção de um conhecimento – histórico-cultural – dos temas abordados. Este espaço estético é um universo estético-social. De forma que se sensibilizem a criação e a discussão de dimensões sócio-culturais, ético políticas e existenciais, nas quais os próprios grupos sociais, ainda que o lócus teatral (estético) mantenha-se destacado das demais instâncias – como “lugar de representação” –, mas no qual ator e espectador se confundem na mesma persona. O espaço estético existe sempre e quando ocorre a separação entre os dois espaços: o do Ator e o do Espectador. Ou a dissociação de dois tempos: hoje, eu, aqui, e ontem, eu, aqui mesmo; ou, hoje e amanhã; ou, agora e antes; ou, agora e depois. Eu coincido sempre comigo mesmo no momento presente, pois o estou vivendo e o ato de vivê-lo é lembrar o passado ou imaginar o futuro. O Teatro (ou Tablado, na sua expressão mais simples; ou Espaço Estético, na sua expressão mais pura) serve para separar o Ator do Espectador, aquele que atua daquele que vê. Estes dois podem ser pessoas 65 diferentes, ou podem coincidir na mesma pessoa. (BOAL, 1996, p. 33) Conforme Koudela : O teatro, enquanto proposta de educação, trabalha com o potencial que todas as pessoas possuem, transformando esse recurso natural em um processo consciente de expressão e comunicação. A representação ativa integra processos individuais, possibilitando a ampliação do conhecimento da realidade (KOUDELA, 1998, p. 78). Quando a escola é transformada em um cenário no qual se torna possível fazer com que os alunos busquem compreender a sua realidade e refletir sobre ela, há a compreensão de sua situação existencial. Essa práxis pedagógica cria um espaço onde esses alunos se interessem em compreender esse contexto social e cultural, econômico e político. Ela proporcionará a esses sujeitos a possibilidade de se tornarem críticos e emancipados. O sujeito, quando vivencia a experiência e recorda por meio da memória o fato realizado no passado, utiliza os mecanismos necessários para uma autoreflexão crítica de si. Esses mecanismos são: memória, reflexão e experiência. Por isso, o teatro do oprimido resgata essa dimensão da memória ao fazer com que os personagens sendo os próprios espectadores, tornem-se conscientes da experiência formadora, por via desse exercício do teatro. Adorno não desvincula a arte do seu papel social; pelo fato de que a arte tem a função de denunciar a manipulação da indústria cultural. Adorno observa que a arte é auto-reflexão e pode levar o sujeito à emancipação e à autonomia. Zuin (2001) comenta que a crítica que Adorno faz ao filósofo Kierkegaard, que insere a arte no domínio da imediatidade subjetiva e irracional, porque ela se utiliza das emoções dos sentimentos. Para Adorno, o filósofo utiliza as emoções, os sentimentos e os sentidos para racionalizar a arte através da filosofia, por isso, para ele, a arte depende da filosofia para sair desta irracionalidade. E Zuin acrescenta: 66 Para Adorno a experiência estética era na realidade formas mas adequadas de conhecimento, porque nela sujeito e objeto, ideia e natureza, razão e experiência sensual estavam inter-relacionadas sem que nenhum dos pólos predominasse, proporcionando um modelo estrutural para o conhecimento dialética materialista (ZUIN, 2001,p.101). E acrescenta a fala do Adorno, apud Zuin (2001,p.97-98) É minha convicção de que [...] uma racionalidade (que pode julgar a verdade ou falsidade das obras de arte) não é uma questão da “ciência” referida à arte, e sim da própria arte. Isto que dizer que toda a arte que merece consideração séria se aproxima da racionalidade por sua própria estrutura e tende cada vez mais para o conhecimento. (BM, p.237-251) A arte tem também o aspecto de artefato, porque além da utilização da técnica, o artista utiliza-se dos aspectos sociais para denunciar a realidade política, econômica, cultural e social. O artista não somente se baseia nos seus sentidos, mas também no coletivo. Do mesmo modo, ela é considerada aberta para a experiência, por ser produto do trabalho do sujeito. Logo é autônoma. O artista que traz em si a obra de arte não é único a produzi-la: por seu trabalho, sua atividade, ele se torna o lugar-tenente do sujeito social universal; submetendo-se à necessidade da obra de arte, ele dela elimina tudo o que é devido à contingência de sua individualidade. (ADORNO, 1977,p.116) A autonomia é outra característica da arte definida por Adorno. Segundo ele, a arte tem essa característica por denunciar a realidade social. Por ter esta característica de autônoma, ela é crítica, auto-reflexiva, ela reeduca, reconstrói uma nova realidade. Se, por acaso, a arte deixar de ser autônoma, ela perde a sua finalidade de denunciar a realidade, ela se tornaria imóvel e estática. A arte, além destes aspectos filosóficos e de artefatos, também pode ser compreendida como fait social, porque ela traz características próprias da Indústria Cultural, ou seja, ela é objeto, utensílio, “coisa entre coisa”. Neste sentido, é uma “arte não arte”, simplesmente pode servir como ornamento. Portanto, a estética utilizada pela indústria cultural deixa de ser uma relação do sujeito com o objeto, para ser algo frio e sem subjetividade, simplesmente mercadoria. Um dos objetivos da estética é a sensibilização, 67 passando a ser instrumento do capital, ou seja, a indústria cultural ao utilizar a estética, manipula o conhecimento para envolver o consumidor com a mercadoria e seus aparatos: as embalagens, layout, publicidade gráfica, os rádios, televisão, com o propósito de seduzir o indivíduo ao consumo. Neste contexto, Adorno e Horkheimer apresentam uma reflexão sobre as difusões imagéticas e sonoras: [...] nos objetos, apresentados ao público de um modo tal que, na ausência de um mínimo de reflexão, não resta ao “consumidor” outra alternativa senão de “compra”, agora não mais essa ou aquela mercadoria, mais o sistema de exploração econômica como todo. (Duarte,s/ano,p.6) A ideologia estética não só se apresenta nas propagandas, na televisão, revistas, em rádios, mas também nos filmes e nas músicas. Mas, para Adorno, o cinema deixa de ser um elemento de arte para ser um meio de manipulação, pois deixa de ter um enfoque de lazer para ser um negócio comercial e, com isto, se manifesta contra a racionalização, onde o seu enfoque principal está na fantasia além da imaginação. Os filmes de animação eram, outrora, expoentes da fantasia contra o racionalismo. Eles faziam justiça aos animais e coisas, eletrizando por suas técnicas, dando aos mutilados uma segunda vida. Hoje apenas confirmam a vitória da razão tecnológica sobra a verdade. A arte sempre esteve no poder da burguesia. Era comercializada até o século XVIII, mas, ao mesmo tempo, não era feita exclusivamente para o comércio, mas também existia a arte pela arte. Só através da indústria cultural, a arte assume juntamente com o progresso econômico, a sua comercialização, perdendo assim, o caráter principal da natureza da obra de arte, pois, a lei do consumo assume e manipula toda uma estrutura e coloca na arte algo ontogênico, perdendo toda a sua singularidade, que é uma característica da arte, pois a contemplação é a sua própria natureza. Freitas afirma que: Que a cultura de massa como um todo é narcisista, pois ela vende a seus consumidores a satisfação manipulada de se sentirem 68 representados nas telas do cinema e da televisão, nas músicas e nos vários espetáculos. Todos os heróis da industria cultural são sempre pensados para refletir algo do que as pessoas já percebem em si mesmas, só que engrandecido pela elaboração dos meios técnicos cada vez mais refinados da indústria da diversão. (FREITAS, 2008, p.19). A ideologia da arte está na manipulação e na comercialização da própria arte. A arte, por ser algo comum, já perdeu o caráter da sua própria natureza, ela não é algo determinado. Seu papel é trazer algo de novo ao homem, algo que seja ligado ao contexto histórico da relação do sujeito e do objeto. A indústria cultural, ao monopolizar o conhecimento, cria no homem uma percepção distorcida da realidade. A Teoria Crítica surge como uma solução de aniquilar esta falsa realidade, propondo ao homem uma auto-reflexão da sua própria existencialidade. A indústria cultural é tão ampla que está envolvida no campo estético: nas grandes arquiteturas, nos prédios faraônicos, que mostram o esplendor de uma época capitalista onde as formas exuberantes trazem status e, por fim, isto tudo resplandece “o louvor do progresso técnico.” Nota-se que: Até mesmo a manifestação estética de tendências políticas opostas entoam o mesmo louvor do ritmo de aço. Os decorativos prédios administrativos e os centros de exposição industriais mal se distinguem nos países autoritários e nos países. (ADORNO, 2000, p.113) O teatro retrata a realidade e a vivência da sociedade de uma determinada época. É uma forma desinteressada e lúdica de retratar situações sociais, econômica, política e cultural. 2.4 O papel da escola na busca do sentido da educação estética A Constituição de 1988 inclui a Educação no Capítulo III do Título VIII. De acordo com a Constituição, a educação é “um direito de todos e dever do Estado e da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Surge, então, a LDB 9394/96, que estabelece, no Título II, art. 2º, que “a educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdade e 69 nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” No Título V, Capítulo II, Seção I da LDB 9394/96, é estabelecido que a formação indispensável para o exercício da cidadania e os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores são finalidades da educação básica, que é constituída pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Os temas transversais buscam oferecer, ao sujeito, mecanismos, por meio da educação, para romper com a banalização, com a massificação, com o ódio, com a depredação do meio ambiente, com as injustiças e as desigualdades que impedem a prevalência da dignidade humana. Os temas transversais também têm, como objetivo, a afirmação e a conscientização de que todos os brasileiros têm deveres e compromissos sociais. Por isso, a educação tem em vista a formação do cidadão. No documento dos PCNs – Temas Transversais – há as explicações da necessidade de uma educação voltada para a aquisição da cidadania: O compromisso com a construção da cidadania pede necessariamente uma prática educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal e coletiva e a afirmação do princípio da participação política (1998, p.17). Por isso, Nunes, contribui com esse pensamento ao falar do papel da escola. Não tenho dúvida de que cabe a escola um lugar de destaque no alargamento das condições de exercício da cidadania e o domínio da 'norma culta' (no plano da linguagem) e dos conhecimentos, hábitos e comportamentos mais valorizados socialmente (dos quais, uma boa parcela é veiculada pela escola) (NUNES, 1989, p.36). A escola é o lugar onde, além do estabelecimento de um processo de aquisição de conhecimentos sistemáticos, deveria ser um espaço de reflexão sobre os valores, visando à formação de cidadãos. A escola é o cenário onde os Temas Transversais devem ser discutidos, entretanto, reflete-se muito pouco, por parte de alunos e professores, sobre os 70 valores éticos e estéticos que estão na raiz, da justiça entre os homens, de uma sociedade democrática. Fica claro que os Temas Transversais são questões que a sociedade está vivendo, são temas do cotidiano, buscando solucionar ou, pelo menos, atenuar as mazelas das quais a sociedade é vítima. Os Temas Transversais não anulam os conteúdos, mas agregam-nos Assim sendo, fazem parte do currículo escolar. [...] todas as áreas educam em relação as questões sociais por meio de suas concepções e valores que vinculam nos conteúdos, no que elegem como critérios de avaliação, na metodologia de trabalho que adotam, nas situações didáticas que propõe aos alunos (MEC/SEF,1998, p.26). São questões que buscam refletir sobre a Ética, sobre o Meio Ambiente, sobre a Orientação Sexual, sobre a Pluralidade Cultural, sobre a Saúde e sobre o Trabalho e o Consumo. Neste trabalho, os Temas Transversais não serão abordados especificamente. Busca-se apenas uma reflexão mais minuciosa sobre a estética, como um recurso na busca da formação de sujeitos autônomos. Nóvoa refere-se à formação dos professores, como sendo uma arte a ser construída diariamente: A formação não se constrói por acumulação (de recursos, de conhecimento ou de técnica), mas através de um trabalho de reflexividade sobre as práticas e de (re) construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso, é tão importante intervir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência (NÓVOA, 1992,p.25). Nesse sentido, o professor deve assumir o seu processo formativo com a experiência de vida. Tornando-o assim, uma arte, criando condições para que a relação com a aprendizagem se torne mais fecunda e germine esses saberes em atitudes adequadas para a aquisição das transformações sociais, enfatizando a práxis de um olhar estético. Sobre os desafios para uma compreensão da Estética da Formação (Bildung), diante da indústria cultural e da semiformação, cabe aqui uma reflexão. 71 Segundo Adorno (1995), não se trata da volta ao passado, do saudosismo, do retorno ao conceito original ou da espera de uma solução por meio de reformas pedagógicas. Trata-se da compreensão do fenômeno de forma social e objetiva. Do ponto de vista teórico, a tarefa que se impõe à educação, numa perspectiva adorniana, seria a construção de uma “educação negativa”, uma educação capaz de pensar sobre si própria e buscar a autonomia dos indivíduos envolvidos no processo formativo. Adorno (2000) afirma que, se a educação ficar acomodada, gerará indivíduos sem individualidade, pois o pensamento ficará uniformizado. A mudança social começa pela educação na proposta de formação que incentivar o aluno a pensar a própria realidade, de gerar, nele, o sentimento de “pertença”. Oliveira afirma: Quando existir esse sentimento de pertença, de cuidado na educação haverá uma consciência mais fortificada e emancipada, e a educação deixará de ser subordinada a esquemas que limitam o educando. Por assim dizer, a educação deve formar cidadãos que tenham atitudes e competência que são trabalhadas seriamente no decorrer da formação. (OLIVEIRA, 2007, p.19) Como se desenvolve a dimensão estética em Freire? Na expressão da ética. Nas atitudes das práticas pedagógicas visando a uma construção e a uma reconstrução de novos saberes, no relacionamento com aluno e professor, na relação família e escola, na escola bem arrumada, decisões onde todos participam. Freire afirma que a educação é inerente ao ser humano. O processo de ensinar não se limita somente à escola, ele envolve todos os campos da sociedade. Todos são responsáveis para construir saberes e desenvolver competências e habilidades. Não sendo somente o professor o responsável por este processo. O caminho, a trajetória a ser percorrida para uma estética e uma ética que ilumina o ser humano é o compromisso como cidadão, é a consciência do próprio papel social na sociedade democrática. Segundo Freire, a educação propicia a libertação do ser humano. É uma aquisição para torná-lo consciente da sua realidade e, sendo assim, capaz de 72 transformá-la. A educação contribui para a autonomia de homens e mulheres, possibilitando que eles sejam reconhecidos como sujeitos da própria história, não como um objeto, como seria o caso da educação bancaria. A educação em Freire é dialética por isso: “Assumirmo-nos como sujeitos e objetos da História nos tornam seres da decisão, da ruptura. Seres éticos" (2001: p. 40). A construção ética em Freire se dá em sala de aula, como já referido no parágrafo anterior. No entanto, a relação professor e aluno busca uma educação transformadora, dialógica, conscientizadora. A educação freireana é voltada para o diálogo. O autor rompe com aquela educação bancária onde o aluno era ouvinte, era o recipiente das informações passadas pelo professor. A educação dialógica é a luta para construir uma educação verdadeira, é a troca de experiência, é um novo reinventar, pois permite a horizontalidade da educação. A ética neste processo é fundamental porque envolve as questões da humildade, da esperança, “a esperança faz parte da natureza humana” (Freire, 1996, p.43) pelo fato que: A esperança é uma espécie de ímpeto natural possível e necessário, a desesperança é o aborto deste ímpeto. A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica. Sem ela, não haveria História, mas puro determinismo. Só há História onde há tempo problematizado e não pré- dado. A inexorabilidade do futuro é a negação da história. (FREIRE, 1996, p.43) online acessada dia 28/03 Freire afirma: o pensamento crítico do educador ou educadora se entrega à curiosidade do educando". [...] Mas, para isso o diálogo não pode converter-se num bate-papo desobrigado que marche ao gosto do acaso entre professores ou professoras e educando (FREIRE, 2002, p. 118). Este processo dialógico permite que o professor trabalhe questões importantíssimas que é o respeito pela diferença cultural, econômica, social, visando sempre ao respeito, à solidariedade e ao compromisso social de cada um. O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que 73 minimiza, que manda que "ele se ponha em seu lugar" ao mais tênue sinal de sua rebeldia legitima, tanto quanto o professor que se exige do cumprimento de seu dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência. É neste sentido que o professor autoritário, que por isso mesmo afoga a liberdade do educando, amesquinhando o seu direito de estar sendo curioso e inquieto. (FREIRE,1996 p. 35) Versão online pedagogia da autonomia. Quando a educação tornar-se um ato criador, em cujo domínio os conhecimentos adquiridos se recriam, pode ser considerada uma educação estética. A prática pedagógica que possibilita essa arte de recriar faz com que os alunos tornem-se capazes de se sensibilizarem com o belo. Ressalta Freire: (2000a, pp. 34-35) [...] precisamos demonstrar que respeitamos as crianças, suas professoras, sua escola, seus pais, sua comunidade, que respeitamos a coisa pública, tratando-a com decência. Só assim podemos cobrar de todos o respeito também às carteiras escolares, às paredes da escola, às suas portas. Só assim podemos falar de princípios, de valores. O ético está muito ligado ao estético. Não podemos falar da boniteza do processo de conhecer se sua sala de aula está invadida de água, se o vento frio entra decidido e malvado sala a dentro e corta seus corpos pouco abrigados. Neste sentido é que reparar rapidamente as escolas é já mudar um pouco sua cara, não só do ponto de vista material, mas, sobretudo, de sua 'alma'.[...] Reparar, com rapidez, as escolas é um ato político que precisa de ser vivido com consciência e eficácia. (FREIRE, 2000a, pp. 34-35) Freire salienta: "a prática educativa tem de ser, em si, um testemunho rigoroso de decência e de pureza (FREIRE, 1996, p.36). Neste contexto, Freire (1996), insistiu em que o ato de ensinar exige transformação e convicção do professor para sair da ingenuidade, da passividade, para indicar caminhos, mostrar horizontes a serem seguidos. Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra. Não posso estar no mundo de luvas nas mãos constatando apenas. A acomodação em mim é apenas caminho para a inserção, que implica decisão, escolha, intervenção na realidade (FREIRE, 1996, p. 46 acesso 28/03). Desta maneira, a educação hoje tem que buscar soluções e respostas para romper com a semiformação estabelecida por mecanismos de domínios capitalistas, tecnicistas. Eles invertem, mudam, substituem a formação pela 74 historicidade de cada sujeito que era transmitida e comunicada por narrativas orais. Por isso, é de suma importância resgatar, na memória, a vivência e significá-la pela experiência. Adorno então indaga o que é a memória. O que é o mesmo que dizer que a memória, o tempo e a lembrança são liquidados pela própria sociedade burguesa em seu desenvolvimento, como se fossem uma espécie de resto irracional, do mesmo modo como a racionalização progressiva dos procedimentos da produção industrial elimina junto aos outros restos da atividade artesanal também categorias como a da aprendizagem, ou seja, do tempo de aquisição da experiência no ofício. Quando a humanidade se aliena da memória, esgotando-se sem fôlego na adaptação ao existente, nisto reflete-se uma lei objetiva de desenvolvimento (ADORNO, 2003, p.33). Adorno e Freire denunciaram os crimes e as falhas cometidas pela educação autoritária, que cometia equívocos como o de não assumir o ser humano em seu desenvolvimento de potencialidades crítica, criativa e criadora, tendo como horizonte o educar para responsabilidade, no contexto da sociedade. Convém salientar que o autoritarismo não é sinônimo de escola tradicional. Houssaye (1988) reflete sobre a ausência de diálogo nos modelos pedagógicos existentes, no campo educacional, no interior das escolas. O autor utiliza as metáforas, “Triângulo pedagógico” e “Jogo do bridge”: “quem fica no lugar do morto”, para sustentar a compreensão do processo pedagógico em sua tridimensionalidade: formar, ensinar e aprender. Há uma relação, também triangular, entre o saber, o professor e o aluno. A crítica diz respeito ao fato de que os modelos pedagógicos vêm, historicamente e sistematicamente, fundamentando-se na lógica da ênfase de um eixo pedagógico. Em consequência disso, a exclusão de um dos eixos provoca o surgimento da ocupação do lugar do morto. Isto ocorre devido à falta de ênfase em um dos eixos pedagógicos: o conhecimento, o professor e o aluno. Se, por um lado, na escola tradicional, o eixo pedagógico do triângulo era considerado o ensino e o centro da relação é o professor e o saber, o aluno fica no lugar do morto. Se, por outro lado, a escola nova, com enfoque, por exemplo, no sócio-interacionismo, enfatiza o eixo pedagógico, a aprendizagem, e o centro é a relação entre o aluno e o saber/conteúdo, o professor fica no lugar do morto. Finalmente, a ênfase pode recair no eixo pedagógico, a 75 formação, que está presente na escola progressista e democrática, que prima pela formação política. O centro é a relação entre professores e alunos. Nesse caso, o saber/conteúdo fica no lugar do morto. Uma vez reconhecida a necessidade do equilíbrio do triângulo pedagógico, como condição própria da educação: formar, ensinar e aprender, é preciso enfrentar a ideia de que, se o professor, ou o aluno, ou o saber/conteúdo estiverem no lugar morto, é uma fantasia, ele pode deslocar-se deste lugar. Em consequência do deslocamento, o morto é o louco, aquele que desestrutura a organização e provoca o caos do sistema educacional. Para o autor, a lógica da ênfase traz consigo a exclusão, o perigo de o vazio ser ocupado pelo autoritarismo, uma atitude que marca a existência da cultura brasileira e do mundo. A arte e a narrativa, são elementos que têm ficado no lugar do morto, na formação docente. Aposta-se na arte de narrar, nos processos educativos e formativos, como possibilidade de perceber o diálogo necessário ao equilíbrio triangular dos processos e relações pedagógicas, como condição do desenvolvimento da autonomia e da emancipação. 2.4.1 O papel da arte no processo de formação de professores No ensaio, A obra de arte na época da suas técnicas de reprodução, Benjamin destaca o deslocamento do status da obra de arte tradicional, quando surgem os meios técnicos de reprodução, entre elas as fotografias, o cinema e o teatro, fazendo com que a imaginação do homem aflore. Gomes (2006), fazendo uma leitura de Benjamin, ajuda-nos a compreender quais são as características de produção da obra de arte e da perda da aura da arte: Benjamin define a característica de produção manual da obra de arte tradicional como um processo histórico único, inerente ao objecto original, que se manifesta nesse objecto como a sua “aura”. A proliferação subsequente de reproduções técnicas da obra de arte original só transporta uma similitude imaginária com o original, faltando-lhe a “aura” e consequentemente qualquer relação com a dimensão histórica real. (GOMES, 2006, p. 3) 76 A obra de arte original é única e singular, por causa da aura. A citada perda da aura, conforme Benjamin, dá-se por meio da reprodução técnica da arte, quando ela é replicada de forma indevida. No entanto, o autor, afirma que perda da aura abre novas possibilidades. E com as técnicas poderão surgir novos tipos de artes, entre elas a arte popular. Em sua essência, a obra de arte sempre foi reprodutível. [...] com a reprodutibilidade técnica, a obra de arte se emancipa, pela primeira vez na história, de sua existência parasitária, destacando-se do ritual. A obra de arte reproduzida é cada vez mais a reprodução de uma obra de arte criada para ser reproduzida. A chapa fotográfica, por exemplo, permite uma grande variedade de cópias; a questão da autenticidade das cópias não tem sentido. Mas, no momento em que o critério da autenticidade deixa de aplicar-se à produção artística, toda função social da arte se transforma. Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se em outra práxis: a política. (BENJAMIN, 1994, p.172-172) O autor faz uma reflexão sobre o advento e a evolução das tecnologias e, com elas, da reprodução técnica. Com isso, as obras de arte passam a ser reproduzidas com muito maior facilidade, fazendo com que outras pessoas tenham acesso a elas. Com o aumento da reprodução, elas espalharam-se e multiplicaram-se, o que destruiu a sua singularidade, ou seja, a sua aura, a sua autenticidade, o que há na obra de arte original. A reprodução da obra de arte, como dito, retira essa aura, fazendo com que a obra de arte perca seu valor e se afaste do domínio da tradição. “Liquidação do valor de tradição na herança cultural” (BENJAMIN, p.79). Para o autor, as tecnologias e as reproduções não são capazes de preservar, de resguardar a aura contida nas imagens. Em outra obra-prima, intitulada O narrador, Benjamin faz perceber que as fotografias autobiográficas são uma arte; elas nada mais são de que uma narração, um artesanato; comunicam, exprimem uma experiência de vida. Como dizia Benjamin (1994, p.201) “O narrador retira da experiência o que ele conta, sua própria experiência ou relatada pelos outros”. Adorno volta o seu olhar para a realidade da estética e critica a ideologia e seu encantamento, que impõe a reflexão estética de forma dominante. Para ele a Modernidade é o momento em que a experiência se empobrece, bem como ocorre um isolamento, um fechamento à vivência. 77 Em seu livro Teoria estética, Adorno também afirma que há uma parte da autonomia da arte, que pode ser aproveitada, por via do domínio burguês para fazer dela, “a arte”, um meio de distração banal, massificado, passageiro. Isso vai ao encontro daquilo que o mesmo autor fala sobre a experiência que a obra de arte comunica, que manifesta o enfoque social da arte, porque ela representa a sociedade. Pucci (2001, p.97) salienta que a obra de arte não é algo que seja conceitual, e que ela não formula juízo. Para Adorno, a arte é racional. Ela é algo inseparável do sujeito, é imanente. A arte moderna é paradoxo, não é algo que determina, a arte não é fechada, acabada, ela atua sobre o fenômeno. A arte se deixa conhecer pelo que é e não pela opinião de outro. Adorno, contudo, vai contra esta visão da arte. Para ele, a arte deve romper com a dominação imposta pela racionalidade capitalista. Adorno compreendeu a arte como dominação da própria burguesia. A arte é independente do belo plástico e estético. A questão do belo resume-se em uma concepção burguesa, ou seja, é um produto mercantil que se impõe a um desejo de ilusão, o belo é algo imposto, manipulável. Outra compreensão do belo em Adorno refere-se à questão de lutas políticas, de dominação, que rompe com a arte burguesa, mercantil. Há duas compreensões então de estética, uma da arte da burguesia que visa à arte, como instrumento de dominação política das massas, como a estética que rompe esse mecanismo de dominação de luta, de emancipação. Adorno não concorda com Benjamim, pois se, para ele, é relevante a questão dos padrões harmônicos, na obra de arte, para Benjamin a questão da hermenêutica é mais significativa, pois abre possibilidade para o sujeito olhar, analisar, refletir a realidade concreta, independe da harmonia e da estética. A arte, como um elemento que conduz à emancipação, deve estar interligada com a educação, por ser uma forma de levar à consciência critica, de criar, nos alunos, momentos de enxergar a realidade, pois, a verdadeira arte denuncia a própria realidade, que contradiz a indústria cultural, conforme os escritos de Adorno. A arte é necessária para a experiência formativa Por meio da arte analisam-se as situações atuais na educação. A partir daí e por intermédio da educação, denunciam-se as questões que desumanizam o próprio ser humano. 78 3 A FOTOGRAFIA AUTOBIOGRÁFICA: UM PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CURSO DE MAGISTÉRIO Neste capítulo, pretende-se apresentar a análise das imagens fotográficas e dos relatos escritos, obtidos a partir do trabalho com as alunas do curso de magistério modalidade ensino médio. A análise do “Projeto Fotografia na escola”, objeto deste estudo e, mais especificamente, conteúdo deste capítulo, é uma demonstração da possibilidade de superação da Educação Bancária. Há, ainda, a possibilidade de superação da inadequação da sociedade pós-moderna, diante da força avassaladora do consumo de imagens, principalmente, as imagens veiculadas por intermédio dos meios de comunicação, plenas de mensagens, que visam à informação. As alunas foram submetidas ao exercício da reflexão crítica sobre a experiência formadora que as conduziu à escolha do magistério. Tal procedimento foi além do desafio de compreender as imagens fotográficas, implicando a consciência da responsabilidade de capacidade de intervir no mundo, conforme a perspectiva de Freire. Os procedimentos de análise dos documentos produzidos pelas alunas tiveram, como apoio teórico, o enfoque hermenêutico em Gadamer (2007). Apoiou-se, ainda, em Adorno (2000), no que se refere à reelaboração do passado, para compreensão do presente é para a compreensão do conceito de experiência formativa. 3.1 O cenário escolar: a pedagogia estética lassalista A unidade escolar, na qual ocorreu a elaboração e o desenvolvimento do “Projeto: Fotografar a escola”, tem, como fundamento do Projeto Pedagógico, a pedagogia lassalista. São João Batista de La Salle, há 332 anos, foi o fundador do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, na França. No Brasil são 36 Unidades Escolares, entre elas, cinco são de Ensino Superior. O Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs teve origem na França no 79 século XVII, em 1679, na cidade de Reims - França, na paróquia de São Maurício. A primazia deste Instituto de Educação é resgatar e desenvolver a sensibilidade e a dignidade das crianças e jovens pobres, marginalizados. Rangel e Weschenfelder (2008, p.17) salientam que: “La Salle enfatizou e praticou educação inclusiva em toda sua dimensão pedagógica”, pretendendo a instrução dos alunos para o exercício da cidadania, a partir dos valores cristãos. Como está na Regra do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristã, “o fim deste instituto é a educação humana e cristã dos jovens. Os escritos de La Salle configuram o referencial do seu olhar sobre o papel da educação. A escola lassalista assume o compromisso com o desenvolvimento da consciência de crianças e jovens. Pretende educar para a responsabilidade do seu papel na sociedade, considerando que viverão em um mundo de constante evolução. Por isso, o objetivo da escola lassalista é a reflexão constante sobre os valores éticos e estéticos, que fundamentam a vivência com dignidade humana. Esse sistema de valores éticos e estéticos tem, como base, Meditações de La Salle (1988); Guia das Escolas Cristãs, escritos de 1706 até 1720, quando foi impresso pela primeira vez, reeditado 23 vezes; Regras de Civilidade, primeiro exemplar impresso no ano de 1703. São obras, conforme Rangel e Weschenfelder, (2008, p. 28): “de consubstancial a herança pedagógica de La Salle” Portanto, a educação lassalista não se pauta no ideário formativo, como mero transmissor de conhecimento. Os professores, “os mestres” como La Salle se refere aos Irmãos, e colaboradores pautam-se na concepção de que as crianças e os jovens são considerados sujeitos e não objetos. Eles devem zelar pela educação de valores. Por isso, La Salle insiste “no exame de consciência” diário aos professores: “ensinastes [...] a leitura, a escrita e todo o resto com toda a aplicação possível?” (Meditação. 91,3). E a preocupação com uma educação em vista da emancipação “que alcançava aspectos físicos, aspectos intelectuais e culturais conjugados a aspectos sociais [...]” (RANGEL E WESCHENFELDER (2008, p.17). Em suas Meditações, La Salle refere-se aos “mestres” de Anjos das Guardas: “os alunos têm as necessidades de Anjos visíveis que, com suas 80 instruções e bons exemplos os estimulem [...] (Meditação nº 197, nº 198), Embaixadores e Ministros de Deus. A formação continuada para o desenvolvimento intelectual, profissional, é uma preocupação com a qualidade da formação e educação desenvolvida nas unidades escolares lassalistas. Utilizando as palavras do Irmão Teodoro Luís: “Todo professor que deixar de estudar todos os dias, deve deixar de lecionar e educar”. O mestre (professor) deve conhecer e cuidar de todos os alunos que lhe são confiados, (meditação). La Salle insiste, dirigindo-se aos Irmãos: “Vós exerceis um emprego que vos coloca na obrigação de mover os corações [...]” (La Salle, Meditação 43,3). Também o papel da família como principal vínculo e aliado da escola “Os professores precisam falar assiduamente com os pais para que empreguem todos os meios para assegurar aos filhos a necessária instrução, enviando-os à escola” (La Salle: Guia das Escolas, p.8), neste pensamento de La Salle percebe-se a preocupação com a evasão escolar. Sendo assim, ele buscar fazer com que os professores, inspetores, possam encontrar soluções justas, coerentes, sem colocar o aluno em uma situação indesejável. Trata-se da relação família- escola. Aqui está a beleza do olhar de La Salle, de proporcionar uma educação voltada à pessoa. Ele ressalta que os mestres têm a obrigação de zelar pelo seu ministério (profissão), de cuidar dos alunos e instruí-los, levando em conta que a educação lassalista é dinâmica, pelo fato de que ela é voltada para uma educação humana e cristã. Outra beleza encontrada no Guia das Escolas, mais uma orientação: “é preciso acostumar os professores a terem semblantes descarregados, fisionomia serena, exterior que manifeste espírito firmes, porém cheios de bondade” (p.6). La Salle, hoje, pode-se afirmar, foi também pioneiro para que não houvesse evasão escolar. Por isso, ao ler os documentos - O Guia das Escolas e as Meditações – percebe-se que ele circula em áreas do conhecimento, tais como: psicologia, antropologia, teologia e filosofia, visando à compreensão dos métodos escolares de sua época. Na pedagogia lassalista, para que haja a educação estética, sugere-se que o professor esteja atento aos seus alunos, para que eles possam gostar da escola. No Guia das Escolas (p. 198), informa-se que: “Se os alunos falham 81 facilmente à aula é por falha deles mesmos ou dos pais, ou dos mestres e visitantes”. La Salle segue com a instrução: “[...] É preciso estimulá-los a virem à escola pela brandura, convencendo-os por alguma outra razão que não sejam correções e durezas” (apud JUSTO,1961,p.98-99). La Salle organizou um instituto de educadores voltados à educação com um tempo integral. Planejou atividades, nas quais os irmãos deveriam ficar atentos para promover uma educação voltada para os mais excluídos, os marginalizados. E, para que os alunos gostem da escola, é preciso que os professores ofereçam aulas atrativas. Os professores devem conhecer bem os seus alunos e a sua realidade, e a escola tem a obrigação de está sempre em contato com os pais: “tratar de atrair esses meninos, fazê-los vir à escola [...] será suficiente que os filhos queiram vir à escola para que os pais os enviem contentes” (La Salle, aput JUSTO, 1961,p.100). A estética percebida neste ambiente da escola é o bem estar dos alunos e dos pais. A harmonia entre todos é fundamental. A formação não é somente para os alunos, mas também para a família, levando-os a perceberem o próprio papel neste processo formativo de seus filhos. Por isso, “O amor é a base da pedagogia lassalista” (RANGEL E WESCHENFELDER, 2008, p.50) A percepção pedagógica de La Salle é visível, ao instruir os Irmãos para que as questões dos castigos fossem cada vez mais raras na prática escolar. Diz isso, em pleno século XVII, onde a disciplina era bastante severa. Para La Salle, é necessário perceber a pessoa em seu todo, em sua realidade concreta, por isso ele solicita aos professores prudência, calma, reflexão antes da ação, evitando assim a injustiça. [...] terão todo o cuidado e vigilância possíveis sobre si mesmos, para não castigarem os alunos senão raras às vezes, convencidos de que este é dos principais meios para ordenar bem a escola e estabelecer nela perfeita disciplina. (RC. 8,1) Os educadores têm a obrigação de ganhar o coração de seus alunos como um dos principais meios para incentivá-los a viver cristãmente! (Meditação 115,3) Em suma, a proposta educativa em La Salle está vinculada à ética, à estética e à moral; quando é olhada em sua totalidade. A centralidade é nos alunos, no seu crescimento humano, afetivo, intelectual, social, psíquico, guiados por um sistema de valores evangélicos, e esse sistema de valores 82 ensinados a essas crianças e jovens não é somente para o seu bem, mas para toda sociedade. O professor entende que a profissão de ensinar não é uma busca da própria gloria, prestígios, vantagens, mas sim, como ministério; isto é, esta a serviço do bem de outros, de promover a justiça e a dignidade humana. O professor lassalista tem o compromisso da intervenção com seus alunos, na reflexão dos valores éticos e estéticos para manutenção e desenvolvimento da dignidade entre seres humanos e natureza. La Salle, em sua meditação, insiste que: “se tendes para com vossos alunos a firmeza de pai para tirá-los ou afastá-lo do mal, deveis ter-lhes também a ternura de mãe para atraí-los e fazer-lhes todo o bem que depende de vós (101,3). 3.2 Fotografia na escola: um caminho para o autoconhecimento A palavra fotografia vem do grego, (foto=luz, grafia= escrever). Significa escrever com a luz. Sendo assim, é compreendida como um documento, um registro, de um determinado período de tempo e espaço, e do aqui e agora. A fotografia na formação de professoras do magistério exprime várias possibilidades, entre elas, compreender a linguagem fotográfica que resgata e expressa momentos marcantes que foram esquecidos. Com este exercício de olhar a própria experiência, dentro do cenário escolar, busca-se enxergar e direcionar o olhar para a razão de ser social da escola. Para que este registro tenha sentido completo, é necessário que a foto não seja instrumento objetivado, mas sim que haja relações entre o sujeito e o objeto. Convém ressaltar que a prática do projeto “Fotografar a Escola” articulou a pesquisa e o ensino, na formação destas alunas. Essas são dimensões indissociáveis nos processos formativos, que proporcionam uma educação autônoma e de emancipação. Nesse sentido, o pesquisador experimenta uma ligação direta com o cenário, trazendo toda a bagagem cultural, as condições, circunstâncias, os valores, da experiência de vida. Além disso, essas alunas entram neste 83 processo formativo de pesquisadoras, que trará uma valorização da própria história, fazendo emergir, de forma significativa, fatos perdidos na memória. A fotografia tem, como propósito, resgatar a história, por meio de uma ótica do passado; oferecer às alunas a possibilidade de perceberem o presente, a experiência formativa. Assim, neste estudo, reflete-se sobre a compreensão do sentido de ser professor, a partir da análise de dados da própria vivência e do material concreto a ser examinado. Instaurou-se um olhar reflexivo, por meio das histórias, instaladas na memória, em um determinado tempo e espaço, que foram trazidas à tona, por meio da fotografia. Partiu-se do pressuposto de que o cenário escolar das alunas fora esquecido. Nesse sentido, a fotografia é um meio de produção de conhecimento. Supõe-se que, no processo de compreensão do passado, é possível que se projete o próprio futuro. A fotografia é uma ferramenta pouco utilizada na escola. A escolha desta modalidade de registro deve-se às possibilidades de resgate dos fatos significativos, que ela representa. Ela pode também captar, por meios dos diferentes olhares, o cenário escolar, por via das diversas dinâmicas dessa modalidade. A fotografia adentra o tempo e o espaço da memória. A fotografia tem a sua função de resgatar as lembranças constituintes da memória. Tempo e memória que possibilitam conexões com as lembranças e os esquecimentos de si, dos lugares, das pessoas e das dimensões existenciais do sujeito narrador. É evidente que a memória inscrevese como uma construção social e coletiva e vincula-se às aprendizagens e representações advindas da inserção do sujeito em seus diferentes grupos sociais. A relação entre memória e esquecimento revela sentidos sobre o dito e o não-dito nas histórias individuais e coletivas dos sujeitos, marca dimensões formativas entre experiências vividas e lembranças que constituem identidades e subjetividades, potencializando apreensões sobre as itinerâncias e as práticas formativas. O não-dito vincula-se às recordações e não significa, necessariamente, o esquecimento de um conteúdo ou de uma experiência. (SOUZA, 2007, p.4) Portelli afirma que a memória: 84 é um processo individual, que ocorre em um meio social dinâmico, valendo-se de instrumentos socialmente criados e compartilhados. Em vista disso, as recordações podem ser semelhantes, contraditórias ou sobrepostas. Porém, em hipótese alguma, as lembranças de duas pessoas são – assim como as impressões digitais, ou, a bem da verdade, como as vozes – exatamente iguais (PORTELLI, 1997, p. 16). A escola como lugar de memória proporciona a vivência de escolhas que influenciam o aluno no universo profissional. A relação com professores, diretores e outros funcionários faz parte das escolhas dos alunos A escola deixa marcas na formação profissional. “As experiências de leitura e formação ganham sentido, quando o sujeito transforma-se e aprende a partir de suas próprias marcas sócio-históricas” (SOUZA, 2007, p.10). Para Josso, [...] o que faz a experiência formadora é uma aprendizagem que articula, hierarquicamente, saber-fazer e conhecimentos, funcionalidades e significação, técnicas e valores num espaço-tempo que oferece a cada um a oportunidade de uma presença de si e para a situação pela mobilização de numa pluralidade de registros [...] (JOSSO, 2002, p. 28). O conceito de experiência formadora, para Josso, “implica uma articulação conscientemente elaborada entre atividade, sensibilidade, afetividade e ideação, articulação que se objetiva numa representação e numa competência [...]” (JOSSO, 2002, p. 35) Josso (2004) afirma que o método autobiográfico é um “processo de formação” e “processo de conhecimento”, sendo assim, a experiência formadora é um “processo em formação”, inacabável, onde há um investimento de cada sujeito quando narra ou escreve sobre esses acontecimentos. Conforme Souza, o objetivo do método (auto) biográfico é percorrer: Os caminhos trilhados desde o início do século XX e os embates travados em diferentes campos do conhecimento tem permitido melhor compreender e a reafirmar e reafirmar a abordagens biográfica e a utilização da narrativa (auto)biográfica,como opção metodológica para a formação de professores, visto que a mesma possibilita inicialmente um movimento de investigação sobre o processo de formação e, por outro lado, possibilita, a partir das narrativas (auto)biográficas, entender os sentimentos e as representações dos atores sociais no seu processo de formação e autoformação. (SOUZA, 2006, p.17) 85 Nascimento comen tando Finger (1984) que o método autobiográfico “[...] se justifica pelo fato de valorizar uma compreensão que se desenrola no interior da pessoa, sobretudo em relação a vivências e a experiências que tiveram lugar no decurso da sua história de vida” (FINGER,1984, p.84). O uso da abordagem biográfica necessita, conforme Josso (2004) e Dominicé (1988, 1990 e 1996) de um “processo de investigação e formação, que nasce das experiências” e das “aprendizagens significativas e formativas”. Peres ressalta em Josso (2004) que: O uso das narrativas permite-nos distinguir as experiências que tivemos partilhadas coletivamente e as experiências que tivemos individualmente; experiências únicas das experiências em série. Desta forma, as experiências ajudam-nos a avaliar uma situação\ e ou um novo acontecimento. (PERES, 2009,p.120) Josso (2004) destaca “o caminhar para si”, sobre o qual Vaz afirma: [...] a escrita da narrativa remete o sujeito a uma dimensão de autoescuta, como se estivesse contando para si próprio as experiências e aprendizagem que constituiu ao longo da vida, através do conhecimento de si” (PERES, 2009, p.118). Nos procedimentos de abordagem biográfica, o sujeito investiga a sua formação, busca compreender o seu caminhar, a sua trajetória, focando o processo de conhecimento, ou seja, há um exercício contínuo, de tomada de consciência. Por meio desse auto-retrato mais ou menos explícito, evidenciar as posições existências, adotadas ao longo da vida, permite ao autor da narrativa tomar consciência da sua postura de sujeito e das ideias que, consciente ou não conscientemente, estruturam essa postura (JOSSO, 2004, p.59). Os saberes constituídos nessas trajetórias são de suma importância, e autores como Peres (2009), Bachelard (1988) e Tardif (2008; 2002) ajudam a perceber aspectos formativos e significativos nesses processos. 86 Para Tardif e Raymond (2008), os saberes são compostos de vários aspectos que estão relacionados com as competências, habilidades, práticas diárias da profissão, as experiências diárias em sala de aula são focadas como sendo a principal fonte de saberes, como saber-ensinar e saber-ser. Atribuem, também, o carinho que há pelas crianças, à questão cognitiva, como os conhecimentos sociais que são partilhados diariamente por serem conhecimentos próximos aos dos alunos, colegas de profissão, pais de alunos. Os saberes profissionais dos professores parecem ser, portanto, plurais, compósitos, heterogêneos, pois trazem à tona, no próprio exercício do trabalho, conhecimentos e manifestações do saber-fazer e do saber-ser bastante diversificados, provenientes de fontes variadas, as quais podemos supor que sejam também de natureza diferente (TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 214). Os saberes importam nas trajetórias tanto pessoais como profissionais, ambas não podem ser anuladas, pois, fazem parte das experiências formadoras de cada sujeito. Essas experiências a serem investigadas, na própria formação, possibilitam que esses elementos sejam formadores, como diz Pineau (1991, p.17) “é fundamental fazer com que os professores se apropriem dos saberes de que são portadores; uma vez que a maneira como cada um de nós ensina está diretamente ligado àquilo que somos como pessoa” (NASCIMENTO, s/d, p.3). Segundo Tardif e Raymond: Todas as autobiografias mencionam que experiências realizadas antes da preparação formal para o magistério levam não somente a compreender o sentido da escolha da profissão, mas influem na orientação e nas práticas pedagógicas atuais das professoras e professores. (TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 149) E acrescenta: As experiências escolares anteriores e as relações determinantes com professores contribuem também para modelar a identidade pessoal dos professores e seu conhecimento prático. Acrescentam-se a isso, também, experiências marcantes com outros adultos, no 87 âmbito de atividades extra-escolares ou outras (atividades coletivas: esportes, teatro etc.) (TARDIF & RAYMOND, 2000, p.220). Na compreensão de Tardif, os saberes são amplos e a questão do saber do profissional é uma questão de construção social. Mizukami olha a questão dos saberes profissionais como sendo um conjunto de: “compreensões, de conhecimentos, habilidades e disposições necessários para a atuação efetiva em situações específicas de ensino e aprendizagem” (MIZUKAMI,2002, p.72). Libâneo entenderá os conhecimentos dos professores como sendo: o conjunto de conhecimentos teóricos e práticos requeridos para o exercício profissional e Competências como as qualidades, capacidades, habilidades e atitudes relacionadas com esses conhecimentos teóricos e práticos e que permitem a um profissional exercer adequadamente sua profissão (LIBÂNEO, 2004, p. 69). Há vários lugares, no cenário escolar, que ajudam os alunos a formar saberes, por meio de experiências significativas, que possibilitarão uma autonomia, uma aprendizagem. Nesta perspectiva: O crescimento pessoal dos alunos implica como objetivo último serem autônomos para atuar de maneira competente nos diversos contextos em que haverão de se desenvolver. Impulsionar esta autonomia significa tela presente em todas e cada uma das propostas educativas, para serem capazes de utilizar sem ajuda os conhecimentos adquiridos em situações diferentes em que foram aprendidos (ZABALA, 1998, p. 102). De acordo com Nóvoa (1992): A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso, é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência. [grifos do autor] (NÓVOA, 1992, p. 25) Pimenta acrescenta: 88 Quando os alunos chegam ao curso de formação inicial, já tem saberes sobre o que é ser professor. Os saberes de sua experiência de alunos que foram de diferentes professores em toda sua vida escolar. Experiência que lhes possibilita dizer quais foram os bons professores, quais eram bons em conteúdos mas não em didática, isto é, não sabiam ensinar. Quais professores foram significativos em suas vidas, isto é, contribuíram para sua formação humana. Também sabem sobre o ser professor por meio da experiência socialmente acumulada, as mudanças históricas da profissão, o exercício profissional em diferentes escolas, a não valorização social e financeira dos professores, as dificuldades de estar diante de turmas de crianças e jovens turbulentos, em escolas precárias; sabem um pouco sobre as representações e os estereótipos que a sociedade tem dos professores, através dos meios de comunicação. Outros alunos já tem atividade docente. Alguns, porque fizeram magistério no ensino médio; outros, a maioria, porque são professores a título precário (PIMENTA, 2008, p. 20). Esses saberes fazem parte da aprendizagem advindos “ do percurso de vida de cada um e dos momentos-charneiras” (JOSSO, 2004,p.64). Esses saberes podem e devem ser comunicados, anunciados para fortalecer a “formação de si”; é nesse desvelar-se, nesta descoberta do percurso que se proporciona um espaço significativo e subjetivo tornando possível uma socialização de saberes e de experiências. [...] Ser professor requer saberes e conhecimentos científicos, pedagógicos, educacionais, sensibilidade, indagação teórica e criatividade para encarar as situações ambíguas, incertas, conflituosas e, por vezes, violentas, presentes nos contextos escolares e não escolares. É da natureza da atividade docente proceder à mediação reflexiva e crítica entre as transformações sociais concretas e a formação humana dos alunos, questionando os modos de pensar, sentir, agir e de produzir e distribuir conhecimentos. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2005, p. 14). Passeggi afirma que: As histórias de vida, nesse sentido, permitem a observação de como as experiências de transformação vão sendo geradas e compreendidas, e se revelam como um material “perfeito” para apreender os segredos da historicidade do sujeito. (PASSEGGI, 2004, p.74) Nesse sentido, a proposta de trabalhar a fotografia na escola do ensino médio, como uma atividade pedagógica voltada para a formação de 89 professores, encontra fundamento nos aportes teóricos que sustentam o método autobiográfico. O uso da fotografia e relatos autobiográficos, na formação de professores, expressa: “a importância de que os educadores construam sua (auto)biografia e trabalhem com elas numa perspectiva de autoconhecimento e de permanente reinvenção de si mesmo”(SANTOS NETO, 2009, p.105). Estrella (2009, p. 119) instiga os indivíduos, para compreender o processo que a fotografia desencadeia para o autoconhecimento das pessoas envolvidas, neste trajeto de formação de si, a se perceberem como sujeitos histórico, social e cultural. “Sabemos também que mais importante do que formar é formar-se; que todo conhecimento é autoconhecimento e que toda a formação é autoformação” (NÓVOA, 2001, p.1). As fotografias autobiográficas e os relatos favorecem o autoconhecimento. No resgate do passado, a compreensão flui do encontro com as experiências formadoras, extraídas do percurso feito. Essa compreensão pressupõe reconhecer a História de Vida como possibilidade de ressignificar o sentido dos saberes constituídos, no percurso da vida, e revela o processo formativo como produção da existência humana. O uso da fotografia visa resgatar as histórias de vida, as lembranças extraídas da memória, busca-se capturar imagens de momentos que foram formativos no percurso escolar, situados, simbolicamente, na vida do sujeito, representando conteúdos importantes para a formação pessoal e profissional. Duran (1992, p.15) acrescenta que “a fotografia é uma extensão de nossa capacidade de olhar e de constituir uma técnica de representação da realidade que, pelo seu rigor e particularismo, se expressa através de uma linguagem própria e inconfundível.” A fotografia é um objeto que expressa a realidade. Barthes afirma que há três ações da fotografia como objeto: fazer, suportar e olhar. O fazer tem o sentido da ação do fotógrafo, o suportar já é referente ao modo pelo qual ele capta o objeto, denominado por ele como sendo o spectrum, e o olhar é como o sujeito observa a fotografia, o espectador. Godoy (p.36) esclarece que, atrás de cada imagem, há um motivo que justifica o ato de fotografar, que vai muito além de “captar imagem”, o fotógrafo registra opiniões, paisagens, acontecimentos. Assim, ao registrarmos pessoas 90 ou quaisquer outros temas, estamos expressando opiniões, “a nossa forma de ver o mundo” (S\d. p.36). As fotografias trazem significados, signos, linguagens escritas e fotográficas, em relação à escrita. 3.3 O entendimento dos discursos autobiográficos: uma abordagem hermenêutica A Hermenêutica, em Adorno, define-se como “reelaborar o passado”, para poder entender os conflitos existentes da História e se libertar de opressões que são manipuladas, por meio do conhecimento, sob o domínio da indústria cultural. A interpretação, deste estudo, à luz da hermenêutica, na perspectiva de Gadamer, traz o conceito de Círculo Hermenêutico para a compreensão do discurso autobiográfico e das fotografias. A hermenêutica é a expressão do conhecimento por meio do qual surgem a explicação e a interpretação do pensamento. Conforme Dilthey, a utilização da hermenêutica está baseada em prévios conhecimentos: histórico, literário, filosófico e outros, nos quais se busca, a partir da realidade, a compreensão que dá sentido a essa realidade. Dilthey, apud Castro , alega sobre o significado de compreender: Significa, portanto, passar de uma exteriorização do espírito à sua vivência originária, isto é, ao conjunto de atos que produzem ou produziram sob as formas mais diversas- gesto, linguagem, objetos da cultura, etc. – a mencionada exteriorização. (2005.p.1) A prática em sala de aula que envolva estratégias utilizando a fotografia, visando a experiências formativas, pode introduzir a discussão sobre o propósito da imagem (objeto) e o olhar do fotografo (pesquisador). Estrella (2009, p.120-121) descreve o papel do fotografo: É através do seu olhar que entra em conexão o conteúdo que deseja captar, fazer registrar através da máquina, para então ser revelado. A revelação da imagem é que vai tornar visual aquele conteúdo capturado pelo autor da foto. Isso significa que a fotografia não é simplesmente um produto do registro em imagem, mas 91 reconhecimento nela uma escolha, uma decisão, uma motivação, um objetivo e uma sensibilidade. É este, na verdade, o clima do pesquisador que olha seu objeto e contexto através das lentes de uma máquina fotográfica: tem a possibilidade de experimentar e recriar a partir de si próprio e do que encontra. Nesse procedimento, o pesquisador experimenta uma ligação direta com o cenário, trazendo toda a bagagem cultural, as condições, circunstâncias, os valores, da experiência de vida. Estabelecendo vínculos entre a teoria e a prática, vê-se que, na experiência analisada, neste trabalho, as alunas entram neste processo formativo de pesquisadoras que trará uma valorização da própria história; ao fotografar um flash da sua realidade, resgatam as suas próprias luzes e sombras. Para Adorno, a estética está submetida à hermenêutica. A mensagem da obra de arte é mais importante do as questões formais e da estética plástica, que é algo técnico e manipulável. A questão da estética nada mais é do que um instrumento de luta política. Para o autor, é impossível separar a estética da política, pois, é um movimento circular, não se pode separá-los, não existe estética sem política. Já a técnica (modus operatis), uma reprodução mecânica, é para Adorno uma questão que fica em segundo plano, pelo motivo de que na sociedade administrativa, o sujeito é o objeto, o consumidor é objeto do sistema capitalista. Para que se entendam as luzes e sombras que o pesquisador traz como bagagem, recorda-se Andrade (2002, p.114) “Olhar para o mundo é uma condição; compreendê-lo por meio desse olhar é uma busca eterna, instigante e fascinante [...], pode nos levar ao diferente e transforma o que estamos viciados a enxergar”. Nas imagens, o pesquisador traz as suas intenções, ideologias, emoções, denúncias, cultura, fatos sociais. Por esse motivo, a pesquisa com fotografia tem, por princípio, registrar lembranças significativas, importantes dessas alunas. Com o propósito de preencher este espaço, que pode estar adormecido, em um espaço e tempo, há a emersão significativa dos fatos armazenados na memória, levando essas alunas a serem ativas da própria história de formação e não reféns de um ato massificado. Afirma Momberger (2010, p. 104) 92 Olhar para a fotografia, olhar de novo, com intervalo de tempo, deixar-se absorver por ela, deixar acontecer as sensações, as impressões, as imagens, talvez diferentes a cada vez, mas todas reais, que durante um tempo se tornam partes de nós mesmos.(MOMBERGER, 2010, p.104) A fotografia tem, como propósito, resgatar a história por meio de uma ótica, por via de uma interpretação hermenêutica do passado; dá às alunas a possibilidade de perceberem o presente. Com isto, a experiência formativa, decorrente desta dinâmica, permite que os envolvidos no processo possam construir um futuro mais sólido, emancipado e autônomo. Portanto, este projeto apoia-se na compreensão circular: parte-se do momento no qual houve a proposta de interpretar as fotografias (imagem) e os relatos das autobiografias, que são os textos. E, para isto, é preciso olhar a fotografia e saber olhá-la. Delory-Momberg afirma que: Olhar uma fotografia é fazer a experiência de situação, de lugares, de personagens, conhecidas e desconhecidas, que surgem em nosso presente. Olhar uma fotografia é fazer um trabalho de memória no qual a lembranças reais e lembranças construídas se entrelaçam. Olhar uma fotografia é interrogá-la é retomá-la, atualizá-la, e estas operações conduzem a experiência de si que são aprendizagem de si. (DELORY-MOMBERGER, 2010 p.107) O círculo abre espaço para um constante reprojetar, porque a interpretação inicia-se com conceitos prévios e, no decorrer do trabalho e do tempo, eles são, geralmente, substituídos por outros mais adequados, surgindo outras lentes de compreensão. Isto quer dizer que o círculo não é fechado, mas sim, dinâmico, interagindo com o sujeito. [...] O conhecimento histórico não pode ser descrito segundo o modelo de um conhecimento objetivista, já que ele mesmo é um processo que possui todas as características de um acontecimento histórico. A compreensão deve ser entendida como um ato da existência, e é, portanto um "pro-jeto lançado". (GADAMER, p. 69, 1998) Porque os conceitos são construídos historicamente, podem ser mudados, transformados e esclarecidos, fazendo com que se tenha 93 possibilidade de uma nova perspectiva, um novo horizonte, de uma nova visão de mundo, quebrando os pré-conceitos existentes. O termo horizonte, em Gadamer, tem, como foco, a posição que o sujeito tem na história, isto quer dizer que é a situação com a qual ele se depara, limitando-se às suas possibilidades. Horizonte é o âmbito da visão que abarca e encerra tudo o que é visível deste um determinado ponto. Aplicando-o à consciência pensante. Devemos falar dos limites horizontes, da possibilidade de ampliar o horizonte, da abertura de novos horizontes. (GADAMER, 1999, p.55) Bairon diz que: O homem que não promove um encontro com o horizonte diversos é um homem de visão limitadíssima e tente a valorização das repetições metódicas. Já aquele que tem horizontes múltiplos, não se encontra limitado a um único método e reconhece que a sua interpretação esta sempre em estado de suspensão temporal, é dasein. (BAIRON, 2002, p. 146) Quando há o deslocamento em direção a outro ponto, a um novo horizonte histórico, também o horizonte se desloca. Isto faz ampliar o horizonte do pesquisador, permite uma acessão universal, mais elevada, possibilitando alcançar um novo horizonte. Toda e qualquer primeira interpretação para o pesquisador tende a acontecer, a partir dos conceitos preexistentes do indivíduo. É neste arriscar-se que o interprete percebe que só se tem a certeza do correto, por meio do contexto, fazendo da interpretação um possível conhecimento, por via da linguagem e da natureza. Isto é, o interprete tem que estar atento e respeitar a alteridade do texto. Escreve Gadamer: Quem quiser compreender um texto deve estar pronto a deixar que ele lhe diga alguma coisa. Por isto, uma consciência educada hermeneuticamente deve ser preliminarmente sensível á alteridade do texto. Essa sensibilidade não pressupõe “neutralidade” objetiva nem esquecimento de si mesmo, mas implica numa preciosa tomada de consciência das próprias pressuposições e dos próprios préjuízos. (GADAMER, 1998, p.631) 94 Marchina acrescenta ainda: A interpretação hermenêutica refere-se à compreensão dos significados das obras produzidas pelos homens. Ela requer do pesquisador, a consciência de sua historicidade e do contexto histórico, e que ele esteja suficientemente de acordo com o modo de se relacionar com o mundo, a partir da superação do pré-saber. Esse cuidado é necessário, pois os pré-juízos determinam a interpretação das coisas. (MARCHINA, 2010, p.28) Nesta perspectiva, o projeto da fotografia autobiográfica situa-se nesse viés, porque não são negados os elementos históricos referentes à história de vida do pesquisador. Afirmando Gadamer: [...] O conhecimento histórico não pode ser descrito segundo o modelo de um conhecimento objetivista, já que ele mesmo é um processo que possui todas as características de um acontecimento histórico. A compreensão deve ser entendida como um ato da existência, e é, portanto um "pro-jeto lançado". (GADAMER, 2000, 55) Para compreender a imagem fotográfica, o papel da hermenêutica é desvelar o olhar do pesquisador para compreender o significado do dito e do não dito. Por isso, é fundamental que o pesquisador consiga decifrar se há a probabilidade de comunicação, por meios de sentimentos, emoções, saberes e conhecimentos do autor com o pesquisador, através da linguagem apresentada neste discurso, caracterizado pela imagem fotográfica. O pesquisador deve olhar a fotografia, rompendo as fronteiras das questões tecnológicas. Para assim, compreender os fenômenos, signos, que representam a imagem. A hermenêutica possibilita esse processo. Qualquer imagem fotográfica tem atrás de si uma história, uma experiência, que é focada e documentada. Ela pode ser usada como instrumento analítico, possibilitando enxergar por detrás do olho do fotografo. Portanto, a fotografia é uma realidade externa de um tempo e espaço/momento da história. A linguagem fotográfica é não verbal. Por ela, o interprete se relaciona de forma livre, para decifrá-la cabe ao interprete buscar entender as situações 95 culturais, econômicas, políticas, sociais da época que retrata a foto, para entendê-la. A imagem fotográfica traz duas mensagens que precisam ser compreendidas: a cognitiva e a emotiva. Mensagem cognitiva está relacionada à denotação, ou seja, o conteúdo da mensagem, e a emotiva refere-se à conotação, como a mensagem se organiza. A mensagem fotográfica expressa uma experiência do sujeito, em um dado momento histórico; quando registrada, configura-se como uma experiência vivida. Barthes (1985, p.132), afirma que, na foto, “a imagem transforma-se numa escrita, a partir do momento em que é significativa [...] uma fotografia será, por nós, considerada fala exatamente como um artigo de jornal.” Barthes (1984, p.85) afirma que “fechar os olhos é fazer a imagem falar no silêncio, pois no fundo, a Fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa.” Esse fechar os olhos que o autor pede ao interprete é uma atitude de entrar no cenário, compreendê-lo, é buscar na consciência afetiva o caminho e a respostas a essas indagações. Ou seja, é um caminho hermenêutico que o interprete faz. Conforme Pais, Todos os processos semióticos são historicamente determinados e geograficamente delimitados, pois a ‘visão de mundo’ de uma comunidade sociocultural e lingüística, bem como sua ideologia e sistema de valores, acha-se sempre em processo de (re) formulação e um constante processo de ‘vir a ser’ que paradoxalmente transmite a seus membros o sentido de estabilidade e continuidade, ou melhor, os processos culturais são apreendidos no convívio social, uma vez que as semióticas-objeto são particulares em cada sociedade [...] (PAIS, 1997, p.222) A leitura semiótica é importante, porque o pesquisador fará diferente leitura da imagem, é nessa diversidade que está a riqueza do trabalho fotográfico. Remete ao intérprete essa ligação singular com a fotografia. Então a fotografia, por retratar uma situação e uma experiência, leva o pesquisador a buscar, na própria história, caminhos e respostas significativas para compreender o passado, levando-o a construir um presente aberto para uma interação com o outro e com o mundo. 96 A fotografia é tratada como método que evoca fatos, história. Tem a finalidade de buscar, transmitir e compreender determinadas informações, que estão registradas na história pessoal, ou de um grupo, da cultura ou de um determinado período do passado e do presente na vida dos seres. A fotografia tem uma linguagem própria e, sendo assim, constitui-se em um signo, ou seja, um conjunto de significante e de significado. A fotografia se manifesta, se declara e possui um enunciado, por isso ela é considerada uma narrativa que transmite informações. Por conseguinte, o pesquisador pode analisá-la e apresentar o seu conteúdo, considerando-o como uma “verdade”. Loizos (2002, p. 171) apresenta três formas de analisar a fotografia: o seu uso como finalidade, como método e como pesquisa qualitativa de documento. Primeiro, afirma-se que a imagem fotográfica transmite um “registro restrito, mas poderoso das ações temporais e dos acontecimentos reais, concretos, materiais.” No segundo momento, “[...] ela pode ser empregada como dados primários, como informações visuais que não necessitam ser, nem em forma de palavras escritas, nem em formas de números”. E por ultimo, “é influenciado pelos meios de comunicação, cujos resultados, muitas vezes, dependem de elementos visuais”. O autor acrescenta, considerando o que se refere a essa influência da indústria cultural: “consequentemente, “o visual” e “a mídia” desempenham papéis importantes na vida social, política e econômica. Eles se tornam “fatos sociais”, no sentido de Durkheimer” (2002, p. 172) Sabe-se que a imagem fotográfica pode ser manipulada. Assim, a análise das fotografias, neste trabalho, será subsidiada pelas informações escritas das alunas. Há, portanto, um documento de referência, que conduzirá todo o percurso, apoiado pelos estudos hermenêuticos de Gadamer. Além disso, a confiabilidade é ampliada, considerando-se que as alunas foram informadas sobre a metodologia da análise. Para não deixar subentendidos, recorre-se à assertiva de Loizos (2002, p. 173) “a manipulação da imagem visual pode ser sutil e oculta, mas ela é claramente ideológica”. Os jornalistas, quando se referem à manipulação das fotografias, por processos eletrônicos, denominam-na de scitexing. Há a finalidade de alterar o seu conteúdo. E para isso, o autor, Loizos esclarece-nos sobre esse tipo de manipulação: 97 todas essas manipulações são difíceis de serem detectadas por um olhar que não está treinado, e, scitexing é impossível de detectar, a não ser que se possa identificar a fotografia original e ter certeza de que ela é de fato original. (LOIZOS, 2002, p.173) Há um sofisma que se refere à interpretação da fotografia: todas as pessoas as interpretam de formas iguais, independentemente das classes sociais, pois a fotografia é acessível a todos. No entanto, essa premissa é considerada falsa, porque cada pessoa enxerga e compreende o mundo de forma bem diferente. Conforme Loizos: “a informação pode estar na fotografia, mas nem todos estão preparados para percebê-las em sua plenitude” (2002, p.174). Por isso, neste trabalho, a fotografia autobiográfica é tratada como um documento que tem por finalidade resgatar, nas memórias afetivas e históricas das alunas do Curso de Magistério, momentos importantes e significativos no cenário escolar. Considerando a espontaneidade, Loizos afirma: As imagens fazem ressoar memórias submersas e podem ajudar entrevistas focais, libertar suas memórias, criando um trabalho de “construção” partilha, em que o pesquisador e entrevistado podem falar juntos (LOIZOS, 2002, p.174). A análise dessas fotografias autobiográficas apoiam-se no autor Penn, em seu artigo,”análise semiótica de imagens paradas”. O autor compreende que a imagem é sempre polissêmica e ambígua, por isso vem sempre acompanhada por um texto, usado para dar suporte à imagem e quebrar essa ambiguidade. Está-se em consonância com Barthes, que também afirma que toda imagem é polissêmica. Conforme Penn: A imagem é sempre polissêmica ou ambígua. É por isso que a maioria das imagens está acompanhada de algum tipo de texto: o texto tira a ambigüidade da imagem – uma relação que Barthes denomina de ancoragem, em contraste com a relação mas recíproca de revezamento, onde ambos, imagens e texto, contribuem para o sentido completo. As imagens deferem da linguagem de outra maneira importante para a semiólogo: tanto na linguagem escrita como falada, os signos aparecem seqüencialmente. Nas imagens, 98 contudo, os signos estão presentes simultaneamente. Suas relações sintagmáticas são espaciais e não temporais. (PENN, 2002, p.322) Penn (2002), em seu texto, Análise semiótica de imagens paradas, observa que, para analisar a imagem a partir da semiótica, é preciso que o pesquisador realize quatros estágios; isto é importante para poder compreender as mensagens e, com isso, decifrar os signos contidos nas imagens. O primeiro estágio consiste, antes de tudo, na disponibilidade do material para poder “escolher as imagens para serem analisadas”, levando em conta o material e a sua natureza. No segundo estágio, o pesquisador deve provar, reconhecer e identificar os elementos contidos no material, por meio de uma descrição minuciosa, ou seja, um inventario, um relatório, para identificar elementos constitutivos nas imagens e textos, sem ignorar nenhum dos elementos. É importante aqui o pesquisador fazer um inventário denotativo para registrar os dados. Segundo Penn “a abordagem sistemática ajuda assegurar que a análise seja seletivamente auto-afirmativa” (PENN, 2002, p.326). O terceiro estágio só pode acontecer por meio do inventário denotativo; o pesquisador analisa o relatório, fazendo perguntas para poder chegar às relações do material analisado, levando em conta que é preciso examinar os níveis mais altos de significação, a conotação e o mito. Para formular o relatório conotativo, recorre-se a Penn, “o processo de análise nunca se exaure e, por conseguinte, nunca está completo” (PENN, 2002, p.331); com esta afirmativa fica claro que a leitura da imagem não é fechada, é um processo aberto e dinâmico, pois, há sempre uma nova forma de efetuar a leitura. Finalmente, o quarto estágio refere-se aos níveis de significação. Aqui o pesquisador apresenta os dados analisados, pela via da teoria da Semiótica. É importante, neste estágio, o pesquisador fazer referências a cada nível de significação, reconhecendo e identificando na imagem e nos textos, denotação, conotação, bem como, o conhecimento cultural. Penn acrescenta ainda: “algumas leituras, tanto denotativa como conotativa, serão mais ou menos universais, enquanto, outras serão mais idiossincráticas” (PENN, 2002, p.334). A autora continua: “o que será mais 99 importante para analisar não é o idiossincrático, mas as associações e os mitos culturalmente partilhados que os leitores empregam” (PENN, 2002, p.334). A leitura é subjetiva levando em conta limitação do pesquisador na interpretação das imagens. A fotografia é utilizada como método de pesquisa qualitativa, na visão de Loizos (2002, p.137). É o registro de um acontecimento, sem empregar as palavras escritas, é um precioso documento de investigação. “As imagens fazem ressoar memórias submersas e podem ajudar entrevistas focais, libertar suas memórias, criando um trabalho de ‘construção’ partilhada” (LOIZOS, 2002, p.143). Esta partilha é a relação sem nenhuma resistência do pesquisador e do entrevistado. A fotografia não comunica e não proporciona ação, para existir esse movimento ela depende das narrativas e textos para ser contextualizada. Nem sempre é possível interpretar o significado de uma das fotografias, se não vier acompanhada do relato do contexto. Esta pesquisa não se restringiu a apenas o emprego da fotografia como método para produzir dados autobiográficos. Utilizam-se relatos para produzir a narrativa escrita sobre a imagem fotográfica e sua relação com a experiência formativa, pois as inferências causais são óbvias, mas as inferências consistentes exigem uma reflexão mais apurada sobre o material disponível para o estudo. O conceito de investigação narrativa tem sido muito usado por pesquisadores nas Ciências Sociais e em Educação, “tomando configuração cada vez mais implicada em conflitos contemporâneos relacionados com teoria, metodologia e política educativa” (HAAS et al, 2009, p. 10). Suarez (2008) afirma que os professores envolvidos no processo, ao narrar sua própria história, buscam dar sentidos a essas práticas, interpretando as ações, focando as narrativas, tornando-se assim uma nova perspectiva singular de pesquisa pretendendo, “[...] reconstruir, documentar, questionar e tornar críticos os sentidos e compreensões pedagógicas que os docentes constroem, reconstroem e negociam, quando escrevem, leem, refletem. E conversam entre colegas sobre suas próprias práticas educativas” (SUAREZ, 2008, p.110). 100 A fotografia tem a finalidade de buscar transmitir e compreender determinadas informações que estão registradas na história pessoal, ou de um grupo, da cultura ou de um determinado período do passado e presente da nossa vida. A fotografia tem uma linguagem própria e sendo assim, possui também um signo, um significado. Na medida em que a fotografia que se manifesta, se declara e possui um enunciado, uma narrativa, tornando viável produzir conhecimento. Conforme Boccato e Fujita (2006, p.86): “toda imagem é representativa, tem um suporte, é referencial, estética, artística, sintética, emotiva, objetiva, subjetiva. Além disso a fotografia é real pois, documenta”. 3.4 Imagem, Narrativa e Formação docente A fotografia autobiográfica e os relatos como documentos a serem investigados visam à compreensão da experiência formativa das alunas do ensino normal modalidade ensino médio. A escola proporciona saberes, experiências e vivências, em diferentes espaços, que pode ser a sala de aula, o teatro, o campo, a quadra, o corredor, a cantina, o jardim. São espaços de aprender a ser professor e fazer a prática pedagógica. Ao produzir narrativas escritas, as professoras podem tornar públicos seus saberes que, em primeira instância, são de jurisprudência particular (Gauthier et al., 1998) e, ao torná-los públicos, poderão contribuir para o debate com os pares, constituindo-se, assim, os “saberes da ação pedagógica” (Ibidem). Saberes estes provenientes da experiência da professora, mas validados pelas pesquisas e pelos pares. Dessa forma, a narrativa constitui-se numa forma de validação desses saberes, pois passam a ser (com)partilhados, refletidos, rejeitados, apropriados pelos pares. Narrar pressupõe, assim, o outro. O outro, leitor; o outro, ouvinte. O outro, cujas vozes constituem a minha voz (NACARATO, 2008, p. 145). As experiências aqui apresentadas são narrações de forma escrita e por imagem, que trazem as experiências de um passado, que foi construído por emoções, sentimentos, significados. O passado, o presente e o futuro estão sempre em sintonia, por isso os autores Connelly & Clandinin (1995) nos dizem que: “o lugar onde ocorre a ação, onde os personagens se formam, onde vivem 101 suas histórias e onde o contexto social e cultural assume o papel de construir e permitir” (CONNELLY & CLANDININ,1995, p.36). O aspecto principal da abordagem sociocultural através da narrativa está na compreensão de que se está vivendo em um contínuo contexto experiencial, social e cultural, ao mesmo tempo em que contamos nossas histórias, refletimos sobre nossas vivências, explicitando a todos nossos pensamentos, através de nossas vozes (BOLZAN, 2002, p. 75). As narrativas da própria história de experiência, que possibilitam e: permitem adentrar num campo subjetivo das representações de professores sobre as relações ensino-aprendizagem, sobre a identidade profissional, os ciclos de vida, e por fim, buscam entender os sujeitos e os sentidos das situações do/no contexto escolar. (SOUZA, 2006, p. 136) Soligo e Prado (2005) afirmam que a narrativa por meio da escrita tem a função de comunicar ao leitor uma compreensão da realidade narrada. Esse processo é complexo pelo fato de que a experiência é única, singular. Por isso o papel da escrita é: uma arma poderosa, senão por outra razão, porque seu destino é a leitura. A escrita documenta. Comunica. Organiza. Eterniza. Subverte. Faz pensar. A nós mesmos e aos leitores. Mas é um ato difícil. Muito mais difícil que a leitura (SOLIGO & PRADO, 2005, p.35) Suárez comentando (McEwan, 1998), “la escritura de relatos de experiência resulta ser un proceso de formación en si mismo” (s\d, p.183). O processo de formação de si mesmo, a partir da narrativa escrita, deve ter como meta o pesquisar, descobrir, informar, indagar de forma reflexiva acerca de suas próprias experiências. [...] o estímulo à construção de narrativas autobiográficas que favoreçam a explicação das formas pelas quais se vivencia e se concebe a própria história de formação e suas múltiplas relações com as pessoas e os espaços que a conformaram pode constituir um recurso inestimável às reflexões acerca da natureza dos processos formadores e das intervenções que neles se fazem. (CATANI, BUENO e SOUZA, 2000, p. 169) 102 Finger acrescenta: “O método biográfico se justifica pelo fato de valorizar uma compreensão que se desenrola no interior da pessoa, sobretudo, a vivência e a experiência que tiveram lugar no decurso da sua história de vida” (FINGER, 1984, p.84) [...] por meio deste método o indivíduo é visto como uma articulação decididamente singular e complexa da dimensão cultural; por isto, a pesquisa utiliza e desenvolve-se pelo modo dedutivo e não pelo modo indutivo.” (ERBEN, 1996, p. 73 apud BARRENECHE-CORRALES, 2008) Nóvoa afirma sobre este percurso: [...] urge (re-) encontrar espaços de interação entre as dimensões pessoais e profissionais, permitindo aos professores apropriar-se dos seus processos de formação e dar-lhes um sentido ao quadro das suas histórias de vida. [...] A formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite as dinâmicas de autoformação participada. [...] A formação não se constrói por acumulação, mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas de (re-)construção de uma identidade pessoal.(NÓVOA, 1992, p.25) Josso (2004) afirma que as narrativas têm sentido de “pesquisa-ação”, que ajuda a iluminar certas experiências, não importa quais são os instrumentos para construir esse caminho: oral, escrita, poética, imagética. Abrahão (2004, p.202) complementa: história oral, epístola, fotos, vídeo, filmes, documentos [...], “são exercício de rememoração, por excelência. Este é um componente essencial na caracterização do(a) narrador(a) na construção\rememoração de sua subjetividade”. As narrativas autobiográficas das alunas sobre a sua trajetória escolar tornaram-se um exercício de investigação, construção e reconstrução de sentidos, a partir da reflexão de suas próprias ações, permitindo-lhes que troquem de lugar, ou seja, tornaram-se pesquisadoras de suas próprias experiências. Esse processo de formação vai além do que imaginamos. Conforme Passeggi (2009), o termo formação, por meio das narrativas e das imagens, repercute e reverbera diante de suas experiências autobiográficas. 103 Recuperar a trajetória formativa por meio da lente fotográfica, resgata o caminho que foi, muitas vezes, esquecido. Essa formação é constituída como um processo de identidade, que não é singular, mas plural, e se constitui historicamente. [...] práticas intelectuais, de valores éticos e das normas que regem o cotidiano educativo e as relações no interior e no exterior do corpo docente. Nesse processo, vão construindo seu “ser profissional”, na adesão a um projeto histórico de escolarização. (FONTANA, 2003, p.48) A compreensão das imagens - as fotografias – e das palavras - o texto tem, como propósito, analisar, em que medida, as questões da massificação imposta pela indústria cultural interferem na formação das alunas em questão. e qual o referencial da trajetória que essas alunas têm. A compreensão da imagem fotográfica e dos relatos exigiu que as alunas fizessem escolhas para expressar e comunicar as experiências. Segundo Josso, “a consciência nasce quando interpretamos um objeto com o nosso sentido autobiográfico, a nossa identidade e a nossa capacidade de anteciparmos o que há de vir. Isto é, a consciência se faz por meio do movimento contínuo de construção e reconstrução de si.” (JOSSO, 2002, p.8). Desvelar o significado da escolha da profissão pressupõe, sobretudo, a importância da consciência do sentido de estar no mundo, reconhecer a capacidade que o ser humano tem de observar, comparar, avaliar, decidir, romper e ressignificar as escolhas. Isso implica reconhecer a História de Vida como possibilidade de reinvenção de si mesmo. 104 3.4.1 A formação docente: uma decorrência da reflexão sobre as imagens Fotografia 1 Neste projeto “Fotografar a escola”, busca-se perceber a micro-relaçãosocial presente na fotografia (auto) biográfica. Ao narrarem a sua experiência significativa no cenário escolar; essas alunas estão narrando para outra pessoa e, nesse processo de elaboração por via das narrativas, existe a possibilidade de comunicar algo para alguém. Leva-se em conta que não se trata de um relatório de fatos, porém de uma experiência de vida, algo significativo que marcou a trajetória de uma pessoa, que se comunica. Essas alunas têm acima de 35 anos e muitas vivenciaram a experiência da educação bancaria. Neste curso do Magistério elas foram ampliando o olhar para uma mudança de visão de educação. 105 Fotografia 2: “A mesa do professor”, por Adriana Nesse momento, estou no término do curso e no inicio da minha vida de magistério, vou terminá-lo até o final do ano. E no ano que vem estarei em uma Universidade e mesmo assim serei inacabado, pois nós educadores nunca seremos completos porque a educação nunca termina. Porque a informação se esquece, mas conhecimento, jamais. (ADRIANA) Fotografia 3: “A Quadra”, por Leonice Quando foi solicitado que as alunas escolhessem um local da escola para tirar uma foto, pensei logo na quadra, porque onde estudei o primário, uma vez na semana, todos os alunos, os professores e diretor se reuniam na quadra para cantar o hino nacional, para mim era um momento tão especial, um momento de respeito. No ano passado, quando fiz o estágio no horário da entrada, vi os alunos e professores na quadra, cantando o hino nacional e em seguida a oração, senti uma emoção tão grande que parecia que tinha voltado no tempo e revivi o momento do meu primário. Fazia anos que não entrava em um colégio, ver a entrada dos alunos durante o estágio me fez muito bem, foi gratificante.(LEONICE) Fotografia 4: “A sala de aula”, por Magna A minha sala de aula foi o ambiente perfeito, mas de certa forma foi em minha sala de aula que encontrei pessoas excelentes que me ajudaram em todos os meus momentos do curso, foi muito importante para minha estadia e progresso. As pessoas que ali passaram, foram todas, de uma forma ou de outra, contribuintes do meu sucesso, todas vão fazer falta .Os professores que por ali passaram foram formadores de opiniões, marcaram nossas vidas e nos encheram de novidades, cada um foi arquiteto de 106 sua matéria, manejavam como ninguém o assunto.Vinham com suas ferramentas bem afiadas e sem deixar de lado a perfeição (na medida do possível). Bom, vou sentir saudades de tudo que passei nesse local, foi muito produtivo e de muita importância em minha vida...(MAGNA) Fotografia 5: “Professor apaixonado”, por Sheila Confesso que, nem sempre essa imagem foi legal. Às vezes, me faz lembrar coisas ruins. Uma sensação, um tanto quanto, estranha foi o que eu senti, quando se tornou atraente. Acredito que esse processo se deu no momento em que eu me apaixonei. Pois esse e o nome da sensação que eu senti. (SHEILA) Fotografia 6: “A carteira”, por Silmara Ao ver esta carteira, posso verificar a minha evolução desde quando adentrei esta instituição até os dias de hoje. Sem noções da área educacional, sentei-me como uma simples aluna, e com todo o aprendizado e dedicação que o curso de magistério me proporcionou, hoje, posso pensar e caminhar num só passo, a grande caminhada de ser educadora. (SILMARA) Fotografia 7: “O palco”, por Silvia: Quando vejo o palco, fico emocionada, pois lembro-me de quando estudava na Escola Municipal Leonor Mendes de Barros, onde estudei até a antiga 8ª série e me recordo das peças teatrais que encenávamos naquele palco. Em todas as datas comemorativas (cívicas) eram feitas apresentações e eu gostava demais, os ensaios eram feitos com muita seriedade e tudo saía perfeito. Uma das últimas apresentações me lembro bem, foi uma peça em inglês ( toda falada em inglês) e todos os alunos saíram-se muito bem, fomos aplaudidos por toda a escola, realmente foram experiências que me marcaram positivamente e eu tenho muita saudades desta época.(SILVIA) 107 3.4.2 A construção da própria trajetória formativa e as imagens das fotografias Nesse eixo temático, é possível compreender o significado presente nas narrativas das alunas do curso de Magistério. Para Freire, a reflexão é um momento dialético, pois nele o professor, o aluno, movimentam-se entre o pensar e o fazer: ”A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”. (FREIRE, 2001 p. 42-43). Aposta-se que o processo da escrita autobiográfica e da reconstrução da trajetória formativa, por meio das imagens fotográficas, deflagra lembranças singulares, tecidas no contexto histórico, social e cultural. É possível perceber que esse processo resulta na compreensão da singularidade e da subjetividade de cada aluna. Esse processo de investigação sobre a própria formação é um compromisso ético e estético, percebendo-se sujeitos, conforme as palavras de Freire (2000, p.42), sujeitos de História, que fazem história, ao mesmo tempo, a sua historicidade, tornando-se autoras da própria história. Passeggi (2008, p. 161) acrescenta que, quando se narra uma experiência significativa, desperta-se a compreensão e o sentido da vida como sendo um elo de construção de saberes, dando voz ao sujeito, estabelecendo uma relação do conhecimento com o cotidiano, “para ou, como diria François Dosse (1995), trata-se de humanizar as ciências humanas”. (PASSEGGI, 2008, p.161) A narrativa de si e das experiências vividas são tratadas como valores estéticos, pois despertam a sensibilidade do saber escutar e olhar. “A escrita da narrativa abre espaços e oportuniza o falar-ouvir e o ler-escrever sobre experiências formadoras, descortinando, assim, para os professores em processo de formação, novas possibilidades através do vivido” (SOUZA, 2007, p.19) As imagens das fotografias e a narrativa escrita remetem a uma aprendizagem da arte de escrever o trajeto formativo, que contempla a cultura escrita e empírica. Quando as alunas estabelecem pontes entre a sua história e 108 as suas escolhas profissionais, confirmando com Tardif, que: “os saberes brotam da experiência, são por ela avaliados.” (TARDIF, 2002, p.39). Passeggi (2006, p.2) afirma que “a formação através das práticas autobiográficas rompe, portanto, com a concepção de transmissão de saberes e se caracteriza com a busca da compreensão de si mesmo e de suas relações com o saber.” As alunas perceberam que existe um sentido no movimento, de reconstruir o passado do percurso de sua trajetória (auto) biográfica. Perceberam que esse exercício proporciona e exige uma abertura para além da superfície de escrita. Sobre o ato de percorrer esse caminho que possibilita uma descoberta, diz Santos-Neto (2009, p.110), ao comprovar as palavras de Freire que a História é possibilidade e não determinismo, um processo que perpassa a narrativa da História do trajeto escolar de cada sujeito. Esse encontro com si mesmo é um processo de pesquisa e formação, que exige das alunas uma reflexão de si, colocando-as como protagonistas da própria história, trata-se de um momento necessário para a passagem à cultura científica. Nesse processo, os indivíduos se percebem capazes de recriar e ressignificar o seu percurso formativo. Isto requer “atingir uma produção de conhecimento que tenham sentido para eles próprios se inscrevam num trajeto de conhecimento que os institua como sujeito” (JOSSO, 2004, p.25). As imagens fotográficas das alunas, como resgate da própria experiência formadora, são um processo de reflexão da ação. As alunas inserem-se no que diz o artigo 67- parágrafo único que diz: “a experiência docente é um pré-requisito para o exercício profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos termos das normas de cada sistema educativo”. Retomar a trajetória feita pelas alunas é uma maneira de perceber, por elas mesmas, a importância do caminho percorrido na escola, especialmente, é possível, nesse processo de conscientização, a percepção de que se é sujeito da História. Com isso, é possível romper com uma concepção que está impregnada na visão de que o ensino e a aprendizagem ocorrem por um único caminho que é o conteúdo dado e transmitido em sala de aula. Fica evidente aqui, nas imagens fotográficas, que o ensino e o aprendizado acontecem em diferentes espaços dentro da escola, sobretudo, esses lugares são fundamentais para as escolhas pessoais e profissionais. Por 109 isso, remetem-nas a uma construção de suas trajetórias formativas; focando e elaborando a reflexão sobre uma prática educativa. A fotografia “A quadra”, de autoria de Leonice, ilustra os significados dos rituais escolares na formação: pensei logo na quadra, porque onde estudei o primário, uma vez na semana, todos os alunos, os professores e diretores se reuniam na quadra para cantar o Hino Nacional, para mim era um momento especial, um momento de respeito. (LEONICE) O relato expressa o princípio do respeito, como beleza na relação entre os sujeitos que convivem no espaço escolar. Aprende-se a atitude de respeito neste ritual escolar, que se expressa em dever, cidadania, democracia valores constituintes da autonomia e da emancipação do sujeito. É pelo ritual escolar que ocorre o processo de aprendizagem de cidadania, conforme mencionado no Título V, Capítulo II, Seção I da LDB 9394/96. Por meio desse relato podemos depreender que esse aprendizado ocorre no cotidiano, na relação entre professores e alunos. Na escolha desse espaço, é possível perceber que os sujeitos rompem com a massificação, alienação, em vista, de uma educação voltada para a cidadania. O relato de aluna, Silvia, vinculado à fotografia intitulada “o palco”. Quando vejo o palco, fico emocionada, pois, lembro-me de quando estudava na Escola municipal Leonor Mendes de Barros, [...] me recordo das peças teatrais que encenávamos naquele palco. (SILVIA) Nesse relato, a experiência significativa focaliza o palco, como a valorização e o reconhecimento do papel da escola no ensino da arte, a presença das emoções, o ressignificar o olhar diante da realidade. No palco, espaço onde o sujeito interpreta, conforme Boal, o personagem é sujeito e ator ao mesmo tempo, levando-o a romper com a massificação, com a banalização e com o fetiche ao qual a sociedade administrativa direciona a realidade. Para tanto, fazer o caminho, a partir do contexto escolar, e abstrair elementos importantes que remetem ao processo de formação das alunas do Curso de Magistério, implica que: “A formação terá como base uma reflexão dos sujeitos sobre sua prática docente, de modo a permitir que examinem suas 110 teorias implícitas, [...] realizando um processo constante de auto-avaliação que oriente seu trabalho”. (IMBERNÓN, 2001, p.48-49). Schön (1998, 200) e Alarcão (2008) estabelecem, para a reflexão da prática do professor e dos saberes docentes, quatro conceitos importantes, são eles: o conhecimento na ação; a reflexão na ação; a reflexão sobre a ação; e a reflexão para a ação. Alarcão (2008) comenta sobre “a pesquisa-ação, aprendizagem experiencial e abordagem reflexiva” (ALARCÃO, 2008, p.48). Pela via dessa reflexão sobre a ação, essas alunas visavam às suas experiências formativas. Ou seja, “a reflexão sobre a ação pressupõe um distanciamento da ação” (p. 50). No caso da experiência com os relatos e as autobiografias, houve uma reconstrução mental das ações, para poder analisá-las, chegando-se a um valor epistemológico. Considerando a reflexão da aluna Adriana, percebe-se que a fotografia “Mesa do professor”, comunica um significado que retrata um lócus, no qual se dirige um status. A aluna percebeu que o professor tem uma função “dialógica”. Isto está em consonância com Freire, que considerou que o diálogo é um modo de ser, que rompe com o mecanismo autoritário, totalitário, bancário do modo de ser do professor, e que deve ser aprendido no espaço escolar durante a trajetória escolar. A mudança de olhar a realidade escolar é outra. Para Adriana é o ser humano “inacabado”, o saber é o elemento com o qual o professor busca entrelaçar com a sua experiência. Tardif (2002) apresenta-nos sua visão sobre o saber docente: há alguns saberes docentes nos quais a práxis docente se realiza. Alarcão afirma sobre a aptidão de o professor ser reflexivo, como capacidade de pensamento e reflexão, que caracteriza o ser humano como “criativo e não como mero reprodutor de idéias e práticas que lhe são exteriores”. (ALARCÃO, 2003, p. 41). O olhar do professor para a sua práxis deve ser estimulado. Nesse caso, ele pode não somente enxergar a técnica que é usada, mas também a práxis, por meio da qual ele deve perceber e tomar consciência de novos saberes. Essas narrativas conduziram as alunas a um processo de auto-escuta, possibilitando assim, um conhecimento de si, focando um movimento de 111 investigação e formação, por via da tomada de consciência. No exercício deste percurso se rompem as dimensões técnicas e instrumentais da educação A significação desses eventos é a abertura para compreender o processo de formação, que rompe com algo mecânico, pragmático, como nos afirma Ferry, em seu livro, Pedagogía de la formación: não são somente os cursos realizados na licenciatura, no mestrado, na pós-graduação, não são os currículos, “forma parte de los soportes y condiciones de la formación, pero no es la formación”. (s\a p.53) e acrescenta ainda o autor: “la formación es entonces completamente diferente de la enseñaza y del aprendizaje” (p.54). Segundo esse autor o ensinamento e a aprendizagem fazem parte do suporte da formação, no entanto, não é formação. Por isso, essas alunas, ao narrarem as suas experiências formativas, tomam consciência de que há ambientes formativos e significativos que rompem com os processos conteudistas. As fotografias autobiográficas e os relatos como “necessidade de revelar, nos bastidores de leituras, cenas cotidianas e experienciais do cotidiano escolar” (Souza, 2007, p.4), tornaram possível a narrativa da experiência formativa constituinte de seu percurso formativo. Sendo assim: “Capaz de capturar o acaso, eternizar determinado instante, a fotografia representa uma visão simbólica da imagem original, a partir do olhar de quem produziu aquela imagem”. (COUTINHO, I. 2006, p. 339). Esse processo de investigação sobre a própria formação é um compromisso ético e estético percebendo-se, nas palavras de Freire (2000, p.42), sujeitos da história, que fazem a própria história e, ao mesmo tempo, a sua historicidade, tornando-se autoras da própria história. Como Boal, no Teatro do oprimido, destaca a importância e necessidade de cada sujeito interpretar a sua história. A narrativa de si e as experiências vividas são consideradas um valor estético. “A escrita da narrativa abre espaços e oportuniza o falar-ouvir e o lerescrever sobre experiências formadoras, descortinando, assim, para os professores em processo de formação, novas possibilidades através do vivido” (SOUZA, 2007, p.19) As imagens das fotografias remetem a uma aprendizagem em seu trajeto formativo. As alunas estabelecem pontes entre a sua história e as suas 112 escolhas profissionais, confirmando com Tardif, que: “os saberes brotam da experiência, são por ela avaliados” (TARDIF, 2002, p.39). Passeggi afirma que “a formação através das práticas autobiográficas rompe, portanto, com a concepção de transmissão de saberes e se caracteriza com a busca da compreensão de si mesmo e de suas relações com o saber” (PASSEGGI, 2006, p.2) As alunas perceberam que existe um sentido no movimento, de reconstruir o passado do percurso de sua trajetória (auto) biográfica. Perceberam que esse exercício proporciona e exige uma abertura para além da superfície de escrita. 3.4.3 A fotografia: um elemento transformador do olhar do professor Os relatos escritos e as imagens fotográficas tecem experiências que se constituem em olhares subjetivos. Essas experiências exigem do professor romper com a sua limitação de perceber o mundo de forma restrita, levando-o a valorizar essas fotografias como instrumentos de sumo valor, porque nelas se encontram momentos marcantes e valorativos, que permitem uma reflexão e uma tomada de consciência da trajetória de formação dessas alunas. O olhar dos professores, diante dessas imagens, requer que eles consigam privilegiar a caminhada das alunas e de sua formação e de reconstrução dos seus saberes, através da compreensão da sua história de vida. Dominicé afirma que “a vida é o lugar da educação e a história de vida, o terreno no qual se constrói a formação.” (DOMINICÉ, 1990, p.167 aput NASCIMENTO p. 7) Por isso, a própria experiência possibilita abrir janelas de formação, sendo “momentos de charneiras”: “Nesse momento de charneiras, o sujeito confronta-se consigo mesmo. A descontinuidade que vive impõe-lhe transformações mais ou menos profundas e amplas”. (JOSSO, 1988, p.44) O professor só faz essa caminhada de formação e “só se torna sujeito dessa formação, no momento em que a sua intencionalidade é explicitada no ato de aprender e que é capaz de intervir no seu processo de aprendizagem e de formação (JOSSO, 1988, p. 50). 113 A fotografia da aluna Magna destaca essa mudança do olhar: os professores que por ali passaram foram formadores de opinião, marcaram as vidas dos alunos, propuseram inovações. Suárez afirma que o método autobiográfico tem consistência, por ser uma “documentacíon narrativa de experiencias pedagógicas”(s\d, p.181), levando as alunas a trabalharem no coletivo e individual, por meio de investigação das próprias experiências, levando-as a uma formação de si. “As imagens mentais que obtemos de nossa relação com o mundo podem ser armazenadas, constituindo nossa memória, podem ser analisadas por nossa reflexão e podem se transformar numa bagagem de conhecimento, experiência e afetividade” (COSTA, 2005, p. 27). Para o autor Suárez, “a narrativa está centrada en la elaboración de relatos de experiência por parte de docentes que co-indagan sus prácticas e interpretaciones pedagógicas”(181). Isto é, essas alunas, ao mesmo tempo, em que são pesquisadoras desse processo narrativo de história de vida, elas mesmas analisam esses trabalhos. Essas investigação e narração dos fatos acontecem de forma horizontal. Está é uma estratégia de “formacióninvestigación” (SUÁREZ, s\d.,p.181). Na fotografia nº 1, a aluna Adriana, relata-nos: “mesmo assim serei inacabada, pois nós educadores nunca seremos completos porque a educação nunca termina”. Nesta frase, fica o sentido de inacabado, vem de encontro com o que Freire (2009, p.17) critica da educação bancaria, totalitária, pragmática, que enxerga o ser humano como um recipiente onde se colocam conteúdos, sem um olhar reflexivo da realidade e da história. Contudo, Adriana, assume uma postura de uma aluna em vista do regresso profissional, agindo de forma diferente. Para Freire (2008a, p. 50), “onde há vida, há inacabamento. Na verdade, o inacabamento do ser ou inconclusão é próprio da experiência vital”. A “revisitação dos elos que nos habitam são capazes de desatar nosso passado para nos atarmos com ele abrindo possibilidades” (JOSSO, 2006, p. 376). Por isso, o olhar fotográfico proporciona essa teia, na qual é tecida como uma Colcha de Retalhos, proposta por Berkenbrock-Rosito (2010), possibilitando que, neste olhar, se recrie, e ressignifique a visão que essas alunas têm do magistério. Por isso, ao tecer as imagens, conforme elas estão 114 sendo analisadas, é importante levar em conta o que afirma Costa: ”Utilizamos nesse processo não só nosso olhar, mas nossa capacidade de comparação, de fazer analogias e de desenvolver memória visual”. (COSTA, 2005, p. 85) A possibilidade de contar essas experiências propiciam, aos sujeitos, a possibilidade de criar formas para comunicá-las, por isso nas palavras de Costa: ”desenvolvemos técnicas que nos permitem expressar todo esse movimento interno, mental e subjetivo através de outras imagens, estas criadas por nós”. (COSTA, 2005, p. 27) Ao recuperar as lembranças singulares tecidas no coletivo, as alunas rompem e transformam o seu olhar, diante da beleza das experiências significativas e formativas. Uma dessas imagens é citada por Leonice, na fotografia nº 2, “ver a entrada dos alunos durante o estágio me fez muito bem, foi gratificante”; Sheila relata na fotografia nº4 “Ao ver esta carteira posso verificar a minha evolução desde quando adentrei esta instituição até os dias de hoje.”; a Sílvia na fotografia nº6 diz: “realmente foram experiências que me marcaram positivamente e eu tenho muitas saudades desta época.” 3.4.4 A fotografia como reconhecimento da própria identidade A consciência de si, provocada pelo trabalho com a (auto)biografia, permitirá uma atenção cuidadosa e sensível na relação pedagógica, pois nela, educador e educando sabem-se em permanente processo de constituição (reivenção) de si mesmo, onde racionalidade, corporeidade, emocionalidade, espiritualidade e desejos são aspectos importantes a serem considerados na construção da complexa condição humana. (SANTOS NETO, 2009, p.14). É por meio da fotografia que a estética resgata e transmite o reconhecimento deste ato, da ação, que é transmitida pela fotografia e pelos relatos. Essa tomada de consciência e o reconhecimento de si como protagonista do próprio saber, está no olhar de si para com o mundo. Pois, formar-se é reconhecer que a sua experiência formativa e significativa é um ato 115 de formação, pelo motivo de que esta formação é inserida na vida da cada uma. Sabe-se que a formação vem antes mesmo das escolhas profissionais. Essas alunas já estão sendo moldadas nessas experiências, pois, essas experiências estão sendo refletidas através dessas imagens e relatos. Ficam evidentes os valores, a estética, os comportamentos posturais, pessoais e profissionais. E esse conhecimento da identidade, por via das fotografias, se transmite nos percursos, nas trajetórias, nos caminhos feitos por essas alunas. A identidade que essas alunas vão construindo se faz no despertar da curiosidade, no olhar a realidade percorrida e a realidade concreta, para poder analisar criticamente e promover a autocrítica, relacionando a história de vida e do profissional. Ao olhar essas fotografias, percebe-se que a trajetória é feita de forma individual, “compreender como cada pessoa se formou é encontrar as relações entre as pluralidades que atravessam a vida” (MOITA, 1995, p.114). O caminho realizado por essas alunas, por via de uma identificação significativa, na qual as imagens apresentadas e narradas por elas transmitem essas experiências formativas. Ao narrar o fato significativo, essas alunas transformaram o cenário que estava esquecido para um encontro com a concretitude, transformando-o em um movimento de interpretação e reinterpretação. No entanto, esse percurso não é algo isolado e nem singular, deve ser compreendido como algo universal, ou seja, no coletivo, pois ocorre em um cenário comunitário. “A pessoa docente se conhece melhor quando olha a si mesma diante do outro e quando tem consciência da sua trajetória de formação profissional na relação direta com a formação de outros docentes”. (WACHS, 2010, p. 194). Esse mesmo autor acrescenta ainda, “O processo narrativo tem a intenção de ajudar a pessoa do docente a conhecer-se melhor para “prescrever” a dimensão de identidade pessoal e profissional mais consciente e autônoma”. (p.194). As imagens fotográficas e os relatos são ricos em experiências, pois trazem sempre um rico depoimento, uma reflexão sobre as vivências significativas, levando-as a olhar a sua realidade atual e a perceber o quanto foi significativa essa experiência. “As experiências escolares anteriores e as 116 relações determinantes com professores contribuem também para modelar a identidade pessoal dos professores e seu conhecimento prático”. (TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 219) Essa escolha profissional foi sendo tecida no decorrer da vida de cada uma dessas alunas, pois cada uma delas atribui sentidos a essas experiências narradas e fotografadas. E é nesse caminhar que vai sendo construída a identidade. Cada uma delas usa instrumentos que possam ajudá-las a refletir sobre esses aspectos significativos e olhá-los não de forma linear, mas transversal. Souza (2006, p. 42), afirma que “[...] as histórias de vida, as representações e as narrativas de formação marcam aprendizagens tanto da dimensão pessoal, quanto a profissional e entrecruzam movimentos potencializadores da profissionalização docente”. A formação da identidade é um processo que vai se desenvolvendo a partir de um ato social. A identidade também é vista de forma ampla na formação do sujeito, pois, ela abrange elementos biológicos, psicológicos, sociais, afetivos e espirituais. É possível depreender, dada a condição do inacabamento do humano, o processo de identidade do profissional, por meio do qual o sujeito constrói e reconstrói. Neste processo dinâmico, inacabado, é que essas alunas vão se construindo e reconstruindo, ressignificando a sua identidade docente. Nóvoa (1992, p.16) afirma que “[...] a identidade é um espaço de construção de maneiras de ser e de estar na profissão [...]”. A identidade profissional está ligada com os saberes e com as suas escolhas. Ela vai se desvelando como uma construção individual e coletiva. O percurso se faz, implicando entender como essas alunas estabeleceram a ligação da sua escolha profissional e as didáticas que elas usaram, para decidirem as suas escolhas. Conforme Pimenta (1997) “[...] Ainda que um curso de Didática consiga colaborar com o processo identitário do professor, fálo-á sempre como possibilidade, uma vez que a identidade se constrói na dinâmica pessoal e social, na sua prática, portanto não se conclui [...]” (PIMENTA, 1997, p. 55) Acrescenta Bolívar (2001), “[...] narrar a história de nossa vida é uma auto-interpretação do que somos, uma encenação através da narração [...]. (BOLIVAR, 2002, p. 111). 117 Nesta linha Suárez interpretando Bolívar (2002), “a escrita narrativa tem efeito formador por si próprio, porque coloca o ator num campo reflexivo de tomada de consciência sobre sua existência”, como possibilidade de “[...] vislumbrar possibilidades formativas construídas a partir das experiências de vida.”,(2002 p. 9) 3.4.5 Valorização das próprias escolhas As imagens fotográficas focalizadas pelas alunas são frutos de situações e lembranças significativas. Elas denotam que ser capaz de se reconhecer como ser de escolhas, implica reconhecer sua capacidade de intervenção. “A consciência do mundo engendra a consciência de mim e dos outros no mundo e não na adaptação a que ele nos tornamos históricos e éticos, capazes de optar, de decidir, de romper.” (FREIRE, 2000, p.41) As autoras Lima e Sílvia descrevem o processo pelo qual o olhar do fotografo, aqui das alunas, captaram o cenário. Um processo que visa a captação de “uma combinação de luzes, penumbras e sombras que, em frações de segundos, se transforma num elemento visível e interpretável”. (LIMA e SÍLVIA, 2007, p. 8). Uma vez que não foi solicitado o espaço que cada uma deveria fotografar foi um exercício de fazer escolha, tomar decisões, um processo que possibilitou lançar as alunas como: “[...] Protagonista de incontáveis feitos científicos, artísticos, religiosos, psicológicos e afetivos do homem, é utilizada para captar, emocional, documental e plasticamente, na rotina de sociedades de origens e histórias diversas. (LIMA e SÍLVIA, 2007, p. 8), Ao registrar esse momento da vida, essas alunas destacam as escolhas, os locais, objetos, cores, luzes, focos, cenários marcantes. Tanto essas escolhas comunicam um caráter singular, comunitário, profissional, cultural, artístico, esportivo, que fazem parte do cotidiano da prática escolar e da história da humanidade. As imagens escolares materializam a cultura escolar no mobiliário, presente na Fotografia nº 1: mesa do professor, tem como significado o “conhecimento”. A fotografia nº 5: “A carteira” tem como significado a evolução, 118 o crescimento da aluna. O espaço escolar, Fotografia nº 2, “A quadra”, como espaço coletivo. A Fotografia nº 3: “A sala de aula”, como espaço de sentir um bem-estar. A Fotografia nº 4, também a sala de aula, com uma outra perspectiva do significado “nem sempre essa imagem foi legal.” A Fotografia nº 6: “O palco”, aprendizado das emoções. Os espaços e mobiliários escolares concretizam a cultura escolar como espaços pedagógicos que habitam a memória dessas alunas. A escolha tem um significado de emoções, sentimentos, bons e ruins, que se expressam em admiração. Admiração para Aristóteles e Platão tem significado como: Em Aristóteles thaumazein é o verbo grego que se aproxima como de admiração. Já em Platão a admiração é como um pathos que é um estado de arrebatamento, sendo que esse arrebatar tem um sentido muito maior e profundo que é uma paixão que afeta. “0 ser-possuído pelo olhar, o dever-ser-inteiramente-olhar para o que se apresenta, define a essência da admiração". (Stein, 1975, p. 99). A memoria afetiva de cada aluna é um resíduo que comunica signos e símbolos. Na percepção daquilo que significa, para cada uma, a imagem escolar vislumbra-se o rompimento com a profusão de imagens trazidas pela industria cultural, que vem comunicar com novos signos, símbolos, alheias aos desejos dos sujeitos, seduz o olhar-ver sem a reflexão do sentido para o projeto de vida dos sujeitos. Cardoso (1988), afirma que a ação de “ver” é uma ação ingênua, é considerada uma ação rasa, superficial, sem profundidade da realidade. O ver, em geral, conota no vidente uma certa discrição e passividade ou, ao menos, alguma reserva. Nele um olho dócil, quase desatento, parece deslizar sobre as coisas; e as espelha e registra, reflete e grava. Diríamos mesmo que aí o olho se turva e se embaça, concentrando sua vida na película lustrosa da superfície, para fazerse espelho... Como se renunciasse a sua própria espessura e profundidade para reduzir-se a esta membrana sensível em que o mundo imprime seus relevos. Com o olhar é diferente. Ele remete, de imediato, à atividade e às virtudes do sujeito, e atesta a cada passo nesta ação a espessura da sua interioridade. Ele perscruta e investiga, indaga a partir e para além do visto, e parece originar-se sempre da necessidade de “ver de novo” (ou ver o novo), como intento de “olhar bem”. Por isso é sempre direcionado e atento, tenso e alerta no seu impulso inquiridor [...]. (CARDOSO, 1988, p. 348) 119 À medida que essas alunas fotografaram e narraram as suas experiências significativas, elas perceberam o ambiente escolar, envolvendo corpo, alma e sentidos. a visão é espelho ou concentração do universo [...]. A mesma coisa está lá no coração do mundo e cá no coração da visão. [...] As coisas e o meu corpo são feitos do mesmo estofo. A sua visão se faz de alguma maneira nelas, ou ainda, que a manifesta visibilidade delas se reforce nele por meio de uma visibilidade secreta. (MERLEAUPONTY, 2002, p: 75) Pode-se afirmar que as alunas, ao olhar a sua realidade formativa, por meio do sensível, vivenciaram uma experiência estética. A experiência é intersensorial, uma experiência do mundo vivido, do mundo indeterminado, do mundo fenomenal. As alunas, ao relatarem, por via das imagens fotográficas e das narrativas escritas, demonstram a intencionalidade dessas experiências estéticas. Toda experiência estética ocorre quando há o encontro do sujeito e do objeto: os fatos não existem isoladamente; é necessário que haja uma comunicação afetiva, um olhar aberto, ou seja, aestesia. Por via dessas imagens podemos também abstrair que não há um lugar único, acabado no qual se possa experimentar a estética, esse sentimento estético, pode ser vivenciado em qualquer lugar, com qualquer objeto. Por isso, Langer afirma que: A alegria de uma experiência estética indica a que profundidade da mentalidade humana essa experiência chega. Pode-se dizer verdadeiramente que uma obra de arte, ou qualquer coisa que nos afeta como faz a arte, ‘provoca algo em nós’, porém não no sentido usual. O que ela provoca em nós é uma formulação de nossas concepções de sentimento e nossas concepções da realidade visual, factual e audível, em conjunto. Ela nos dá formas de imaginação e formas de sentimento, inseparavelmente; quer dizer, clarifica e organiza a própria intuição. É por isso que ela tem a força de uma revelação e inspira um sentimento de profunda satisfação intelectual, embora não suscite qualquer trabalho intelectual consciente. (LANGER, 1980, p: 154) 120 A experiência estética pôde se percebida na sala de aula, quando cada aluna comunicava sua experiência formativa, gerando uma ligação profunda de comunhão, na qual todas ficaram envolvidas por este sentimento estético. Ao focar o lócus com a câmera fotográfica, essas alunas olharam de forma fenomenológica, pelo fato de que elas apreenderam, de forma singular e plural, este cenário. A harmonia que se encontra neste lócus possibilita o encontro consigo mesma, juntamente com o objeto focado. Esse olhar fotográfico leva as alunas à especulação e à reflexão. Essas imagens fotográficas não podem ser consideradas como uma imagem puramente técnica, o olhar dessas alunas não é passivo. As imagens são imperativas e são carregadas de humanização, diferentemente de quando o mesmo fenômeno ocorre sob a influência da indústria cultural. Há um conhecimento adquirido, que fará com que a nostalgia desperte no sujeito uma emoção estética. O caminho que essas alunas percorreram levou a uma aprendizagem, uma nova descoberta de significados. Remeteram-nas a um olhar mais profundo da suas escolhas. Sendo uma estética fundamentada em: “Sua visão de mundo, resultante dessa realidade, se polariza significativamente e, com frequência, leva-os a classificar as coisas de forma dicotômica, entre o bem e o mal, o certo e o errado, o bonito e o feio”. (ALVARES, 2002, p: 46) Por isso, “a autobiografia, que se centra no passado profissional do professor e no seu mundo pessoal, é fonte de compreensão das respostas e ações no contexto presente.” (BOLÍVAR, 2002, p. 175-176). Assim, as alunas focaram o olhar por meio da lente. Ao ativar a memória, as lembranças vêm à tona. Elas se entrelaçam como uma Colcha de Retalhos, costurada pela imagem da fotografia autobiográfica. 3.4.6 A indústria cultural e a resistência à estética A imagem da fotografia (auto)biográfica busca, em sua essência, romper com o mecanismo da técnica instrumental, pois a indústria cultural, em seu núcleo, impõe o seu interesse manipulativo da realidade. Como a fotografia é 121 algo manipulável, necessita-se torná-la aberta a um olhar reflexivo, que abra possibilidades de lutar contra a massificação e contra a barbárie. A importância do uso das fotografias autobiográficas e dos relatos escritos possibilita uma releitura das experiências formativas, promovendo uma passagem da consciência ingênua para a consciência crítica. A superação da visão ingênua provoca a possibilidade de se perceber como sujeito, capaz de fazer escolhas como uma abertura para a superação da visão fatalista da história de que nada há a fazer para melhorar uma situação. É possível perceber que o rompimento com uma estética fabricada pela indústria cultural requer uma prática educativa que esteja fundamentada no processo de conscientização, como forma de se apropriar do conhecimento. Nesse caso, há a possibilidade de uma leitura crítica diante dos valores veiculados em vários espaços de comunicação. As alunas do magistério tiveram a oportunidade de recuperar o sentido da sua experiência e vivência formativa, que é, por natureza, uma dimensão estética e dinâmica. Nesse sentido, o trabalho com as fotografias autobiográficas é uma esperança de mudança diante do estrago que Adorno (2000) afirma ter sido realizado pela indústria cultural, especialmente, no que se refere à manipulação da arte. As narrativas das alunas constituem-se em um episódio concreto/existencial. Assim, por meio da hermenêutica, estabelece-se um método de interpretação da realidade social, cujo objetivo é o rompimento com a dominação do capitalismo, que tem em vista anular a consciência histórica e as experiências formativas, substituindo-as por algo imediato e instantâneo. Na fotografia nº 3, Magna expressa muito bem a relação da arte com a vida, quando afirma: “vou sentir saudades de tudo que passei nesse local, foi muito produtivo e de muita importância em minha vida”. Já, na fotografia nº 4, Sheila, relata que “acredito que esse processo se deu no momento em que eu me apaixonei”. Esse apaixonar aqui se refere à sala de aula. A arte é relacional, é dialógica, nela não pode haver existência de influências de mecanismos que impeçam que essas alunas possam focar a sua realidade existencial como uma arte, livre da indústria cultural. Essa força dominante que é a indústria cultural nega a possibilidade de olhar a realidade e de tirar dessa realidade elementos importantes para a 122 transformação social, cultural, política. Estabelece-se a impossibilidade de percepção do sentido concreto da experiência formativa. “A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes capazes de julgar e de decidir conscientemente” (ADORNO, 2000,p. 36) Conforme Boal: “Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver tão habituados estamos apenas a olhar”. (BOAL, 2010, p. 33). De acordo com Costa, fica evidente que a: “Arte está relacionada à história e as suas conquistas, à natureza humana e seu símbolo, à herança cultural dos grupos e ao desenvolvimento individual das pessoas [...] relacionado intimamente com o nosso despertar de nossa humanidade”. (COSTA, 2004, p.11). Com essa afirmativa, completa-se a percepção da conveniência da formação por via da humanização que a estética proporciona. Esse crescimento humano contribui para que se rompa o mecanismo da semiformação imposta pela indústria cultural. Sílvia relata na fotografia nº 6 que “todos os alunos saíram muito bem fomos aplaudidos por toda a escola”, após uma apresentação no palco da escola. Neste caminhar, o sentido valorativo representa algo que vai além de uma mera reprodução, mas de retratar uma construção de saberes. O percurso realizado por essas alunas é perceber que as experiências vividas por elas contribuem para um crescimento humano, capaz de olhar e analisar de forma mais aberta, sem resistência, essas experiências formadoras. A experiência formativa, conforme Adorno, deve levar a uma compreensão da realidade real como um processo histórico e dialético. Ao tirar a fotografia, essas alunas captam uma realidade histórica, vivida por elas e é nesse distanciamento que elas resgatam pontos importantes para uma auto-avaliação da sua história, revelando um novo olhar, compreensão, proporcionando uma reflexão dando uma autonomia crítica na narrativa de sua própria trajetória. A Fenomenologia vem nos ajudar a descobrir o sentido dessas experiências por meio desse olhar fotográfico. Meira contribui para a compreensão dessa relação da fenomenologia com o resgate dessas alunas, por via do olhar delas para comunicar as suas experiências estéticas 123 No retorno às coisas realizado pela estética fenomenológica, descobriu-se um novo mundo no cotidiano, percebeu-se que viver é distinguir, escolher, criar, intervir com base numa estética que revela como os indivíduos corporificam seus sentimentos, seus saberes, o sentido ético e a consciência política que orienta sua vida. Através desta estética, há uma educação subjacente entre o viver e o conviver. (MEIRA, 2001, p: 130). A dimensão estética da formação de si se dá no olhar, porque o olhar se encontra no território do sensível onde o sujeito e o objeto se entrelaçam, se comunicam. “Olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o mundo para dentro de si”. (CHAUÍ, 1988, p. 17) A partir do momento em que as mercadorias, com o fim do livres intercâmbios, perderam todas as qualidades econômicas salvo seu caráter de fetiche, este se espalhou como uma paralisia sobre a vida da sociedade em todos os aspectos. As inúmeras agencias de produção em massa e da cultura por ela criada servem para inculcar no indivíduo os comportamentos normalizados como os únicos naturais, decentes, racionais. (ADORNO, 1985, p.40) A compreensão de formação “Bildung” (formação) (bild – imagem) para Adorno (2000), possui um sentido educacional e pedagógico. Então, no caminho da aprendizagem e da formação, utilizam-se meios pedagógicos que propiciem essa interligação entre a arte e a estética como meio educacional. Isso conduz a uma experiência formativa, que é construída por um caminho da aprendizagem desenvolvimento e da formação, intelectual e proporcionando abrangendo outras um processo sensibilidades. de Esta experiência formativa é significativa para o aluno. As questões essenciais devem estar contidas nesta formação, incluindo a ética (valores morais), a inteligência (percepção de conceitos), a consciência social (valores políticos e convivência social). 3.4.7 A fotografia autobiográfica: a experiência formativa e a recriação da autonomia e da emancipação 124 Adorno e Freire referem-se a uma educação que proporciona um percurso para a emancipação e a autonomia do sujeito. A história de vida deflagra a compreensão do desenvolvimento singular tecido no percurso pessoal, acadêmico, profissional, que pode levá-lo a romper com a estrutura de dominação denunciada por Adorno e que aliena o ser humano da sua própria história. A construção da consciência política e da vontade de emancipação e autonomia não se faz apenas a partir da exterioridade cultural e histórica. Ela se faz também a partir da consciência de si mesmo e de relação com a natureza e com a realidade cósmica. O mergulho em direção de si mesmo é também um trabalho político. O processo de integração dos diferentes aspectos do complexo humano, começando pela realidade biográfico-rememorativa na construção das (auto)biografias, é também uma forma política de lutar pela manifestação de uma cultura com capacidade de justiça e solidariedade. (SANTOS NETO, 2009, p.110) As alunas do curso normal do nível médio percorrem um caminho fazendo e construindo a sua carreira profissional. Tardif e Raymond afirmam que “saber como viver numa escola é tão importante quanto saber ensinar na sala de aula” (2000, p. 218). Sendo assim, tomar consciência de si é de uma importância para poder formar-se e constituir-se como agente da própria formação. As fotografias autobiográficas também “nos mostram os momentos em que, conscientes de si, as pessoas constroem, orientam e reorientam as suas trajetórias” (Menezes, 2007 p.36). Essas narrativas possibilitam colocar essas alunas num nível mais alto de reflexão, ao aproximarem das suas experiências significativas e formadoras: “[...] para que uma experiência seja considerada formadora, é necessário falarmos sob o ângulo da aprendizagem [...]” (JOSSO, 2002, p. 34). As fotografias autobiográficas rememoram um significado na trajetória dessas alunas, remetendo o olhar para a formação de si, como um despertar para si. É por meio desse processo que podemos afirmar que os saberes podem se tornar mais significativos. A leitura da trajetória, da experiência significativa, no cenário escolar, abre uma janela como possibilidade de refletir a caminhada, compreender o sentido da escolha profissional. 125 Durante o desenvolvimento da reflexão sobre as fotografias e sobre as narrativas, as alunas se conscientizaram de sua própria caminhada. Rompeuse com o modelo tradicional de ensinar, por isso, elas foram levadas ao amadurecimento e ao crescimento pessoal, fazendo uma ligação do ensino e aprendizagem com a vida. Freire se posiciona contra a educação fragmentada e desvinculada da realidade do indivíduo, chamada por ele de educação bancária. A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em ‘vasilhas’, em recipientes a serem ‘enchidos‘ pelo educador. Quanto mais vá ‘enchendo’ os recipientes com os seus ‘depósitos’, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente ’encher’, tanto melhores educandos serão. [...] Eis aí a concepção ‘bancária’ da educação em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá–los (FREIRE, 1994, p. 58). Conforme Dayrell a educação não deve ser padronizada, mecânica ou pragmática, porque: [...] os alunos já chegam à escola com um acúmulo de experiências vivenciadas em múltiplos espaços, através dos quais podem elaborar uma cultura própria, uns ‘óculos’, pelo qual vêem, sentem e atribuem sentido e significado ao mundo, à realidade onde se inserem. Não há, portanto, um mundo real, uma realidade única preexistente à atividade mental humana (DAYREL, 2001, p.6). Neste olhar, as alunas se lançam para uma nova postura diante da sociedade, elas se percebem como sujeito histórico e integral, por se perceberem dentro desse processo formativo, e valorizando a sua história de vida, promovendo em si, uma capacidade de focar e retratar essa caminhada a partir de uma autocrítica. Com base nesse olhar, as alunas conseguiram sentir e expressar essa caminhada, a partir da qual puderam ressignificar e transformar o seu trajeto formativo. Conforme Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em vigor, no Art. 35, “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”. Para Adorno, o conhecimento deve estar ligado a “seu sentido social, histórico, humano” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 38). 126 CONSIDERAÇÕES FINAIS No presente trabalho, efetuou-se uma reflexão sobre a possibilidade de educação estética, visando à humanização do ensino. Percebeu-se, por meio de uma atividade pedagógica, realizada com alunas do Ensino Médio, a conveniência da formação, por via da humanização, que a estética proporciona. A educação estética proporciona o crescimento humano, que se constitui em uma contribuição para que se rompa o mecanismo da semiformação, imposta pela indústria cultural. O projeto, intitulado “Fotografar a Escola”, apresentou-se como uma possibilidade de reversão dos procedimentos pedagógicos tradicionais. Visando ao aprimoramento da formação de professores, no Ensino Médio, este projeto buscou a emancipação e a autonomia dos sujeitos, no criar e recriar sentidos e significados, sobre as experiências formativas que influenciaram a escolha da profissão do Magistério. No percurso realizado por essas alunas, percebeu-se que as experiências vividas por elas contribuíram para um crescimento humano, tornando-as capazes de olhar e analisar, de forma mais aberta e sem resistência, essas experiências formadoras. As alunas do magistério tiveram a oportunidade de recuperar o sentido da sua experiência e vivência formativa, que é, por natureza, uma dimensão estética e dinâmica. Nesse sentido, o trabalho, voltado para a educação estética, nos moldes do projeto “Fotografar a escola”, com as fotografias autobiográficas, é uma esperança de mudança diante do estrago que Adorno (2000) afirma ter sido realizado pela indústria cultural, especialmente, no que se refere à manipulação da arte. Pode-se afirmar que as alunas, ao olhar a sua realidade formativa, por meio do sensível, vivenciaram uma experiência estética. A experiência é intersensorial, uma experiência do mundo vivido, do mundo indeterminado, do mundo fenomenal. As alunas, ao relatarem, por via das imagens fotográficas e das narrativas escritas, demonstram a intencionalidade dessas experiências estéticas. Toda experiência estética ocorre quando há o encontro do sujeito e 127 do objeto: os fatos não existem isoladamente; é necessário que haja uma comunicação afetiva, um olhar aberto, ou seja, aestesia. Por via das imagens obtidas, no decorrer da execução do projeto, foi possível abstrair a inexistência de um lugar único, acabado, no qual se possa experimentar a estética. Tal vivência pode ser experimentada em qualquer lugar, com qualquer objeto. A experiência estética pôde ser percebida na sala de aula, quando cada aluna comunicava sua experiência formativa, gerando uma ligação profunda de comunhão, na qual todas ficaram envolvidas por este sentimento estético. Ao focar o lócus com a câmera fotográfica, essas alunas olharam de forma fenomenológica, pelo fato de que elas apreenderam, de forma singular e plural, este cenário. A harmonia que se encontra neste lócus possibilita, às alunas, um encontro consigo mesmas, juntamente com o objeto focado. Esse olhar fotográfico leva as alunas à especulação e à reflexão. Uma das pretensões do trabalho, em sala de aula, foi demonstrar que, nos procedimentos da prática de ensino, formam-se professores e indivíduos, recorrendo à educação estética em ambos os aspectos: a teoria e a prática. Recorreu-se, ainda, ao conceito de experiência formativa, compreendida na relação com outros conceitos, como a “formação de si” e “a formação de saberes”, que fazem parte do percurso e da trajetória da vida das alunas. A fotografia retrata um acontecimento único. Nesse paradoxo, entre o passado e o presente emerge o movimento de ressignificar a imagem, restaurando a aura da arte fotográfica. A fotografia escapa da dominação técnica, um ato mecânico de fotografar, incorpora um movimento, a imagem fotográfica tem a força do fluir, faz com que a imagem na fotografia seja algo congelado, vazio, perdido no espaço e tempo. Ela é uma linguagem, tem a sua função de comunicar e anunciar o contexto social e histórico dos personagens. Se a arte vai além de representar algo, então ela é uma linguagem. É por meio desta linguagem fotográfica que a arte se estabelece e rompe com a indústria cultural, pois a arte é um ato político e a educação também é um ato político. É neste sentido que arte e educação não podem ser vistas e analisadas, separadamente, pois ambas buscam a emancipação e a autonomia do sujeito. 128 Essas imagens fotográficas não podem ser consideradas como uma imagem puramente técnica, o olhar dessas alunas não é passivo. As imagens são imperativas e são carregadas de humanização, diferentemente de quando o mesmo fenômeno ocorre sob a influência da indústria cultural. Há um conhecimento adquirido, que fará com que a nostalgia desperte no sujeito uma emoção estética. O caminho que essas alunas percorreram levou a uma aprendizagem, uma nova descoberta de significados. Remeteram-nas a um olhar mais profundo da suas escolhas. O projeto “Fotografar a escola” apontou para a possibilidade de rompimento com a massificação, com a banalização e a semiformação, que, de uma maneira geral, caracterizavam a educação bancária, pois, por meio desses canais de dominação, a indústria cultural impede que haja a autonomia e a emancipação. Assim, o projeto é adequado à sociedade da Pósmodernidade, que, diante dos avanços tecnológicos e dos meios de comunicação, como formadores de opinião, torna-se massificante. As alunas/sujeito tiveram a oportunidade de fazer suas escolhas sobre o espaço a ser fotografado. Fizeram um relato, justificando suas escolhas. A partir dessa prática, o passado foi reelaborado, no presente, e o futuro foi ressignificado. Esta prática demonstrou que o indivíduo é sujeito da história e que se encontra em um processo de constante mudança. Perceber-se como sujeito histórico implica reconhecer a importância da história pessoal tecida no processo histórico, ideológico, educativo e formativo. A fotografia foi utilizada com o método autobiográfico: as alunas justificaram suas escolhas, por meio de relatos que apontavam para suas histórias de vida. O sentido da articulação entre a fotografia e a autobiografia está no próprio objetivo da atividade pedagógica: melhorar a formação das futuras professoras e resgatar as histórias de vida, as lembranças na memória. Buscou-se, por meio deste método, capturar momentos que façam romper experiências que são significativas. A fotografia está situada simbolicamente na vida do sujeito, representando conteúdos importantes de ligação afetivas. Para que as alunas possam romper com um processo 129 massificado, decorrente da indústria cultural, elas necessitam olhar a própria história, ressignificando, elaborando o passado. Neste trabalho, ficou evidente que o método autobiográfico é um meio de despertar nas alunas o desejo de reconhecerem o seu trajeto formativo, no qual há varias facetas, mecanismos de aprendizagens difusos e opacos. Nos procedimentos de análise das imagens fotográficas autobiográficas, foi importante escapar da passividade, evitando a posição de reféns dessas imagens, rompendo com os preconceitos e com os perigos da manipulação técnica. O uso da narrativa escrita das alunas absorveu, com integridade, aquilo que o narrador (a) se propõe a comunicar por via das imagens. Sabe-se que a formação vem antes mesmo das escolhas profissionais. Essas alunas já estão sendo moldadas nessas experiências, pois, essas experiências estão sendo refletidas através dessas imagens e relatos. Ficam evidentes os valores, a estética, os comportamentos posturais, pessoais e profissionais. E esse conhecimento da identidade, por via das fotografias, se transmite nos percursos, nas trajetórias, nos caminhos feitos por essas alunas. A identidade que essas alunas vão construindo se faz no despertar da curiosidade, no olhar a realidade percorrida e a realidade concreta, para poder analisar criticamente e promover a autocrítica, relacionando a história de vida e do profissional. Foram analisados os relatos. Por meio dessa análise, percebe-se uma prática, em sala de aula, próxima ao que Freire chama de “educação bancária”. Trata-se de um procedimento pedagógico que impede o aluno de olhar-se como o protagonista do processo formativo. Por intermédio das práticas escolares, como as fotografias autobiográficas, supõe-se atingir um novo paradigma de ensino e aprendizagem. Trata-se de um novo caminho, por meio do qual é possível que se construam novas vias de formação individual e coletiva. Na realização do trabalho, contou-se com as contribuições de Adorno e Freire para a educação estética, articulando emancipação e autonomia. Para que se atinja o objetivo de formar alunos professores autônomos, conta-se com a revisão das práticas pedagógicas tradicionais e da adoção de novos métodos No projeto “Fotografar a escola”, preocupou-se com o desenvolvimento da Educação Estética, visando à aquisição da sensibilidade, nas ações 130 relacionadas a olhar a própria história e a do outro. Tais procedimentos suscitam a formação de novos saberes, que serão formulados e adquiridos, contrapondo-se à desumanização que caracteriza o processo formativo no cenário escolar . Assim sendo, a educação estética por meio da fotografia auxilia as alunas-sujeito a se tornarem conscientes de sua humanidade e de sua autonomia e emancipação na conjuntura da contemporaneidade. O método é um caminho que se percorre para chegar ao seu fim. Este caminhar não se faz pela emoção, mas pela razão. Esta trajetória tem a finalidade de solucionar um problema, existente na realidade e, aqui, é empregado para buscar meios, estratégias, mecanismos que possam ajudar a resgatar a arte da técnica fotográfica, dando um olhar reflexivo, uma possibilidade de romper com a educação bancária. O projeto “Fotografar a escola” constituiu-se em uma pequena mostra, que confirma o gênero autobiográfico como importante meio para o desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos, instituindo o devido reconhecimento de trabalhos com narrativas de vida nos processos de formação docente. As fotografias autobiográficas geram outras narrativas, nas quais a rememoração de sua experiência formativa pode, no processo de captação o tempo presente, vislumbrar o futuro. Assim, pode-se concluir que refletir sobre o Projeto “Fotografar a Escola” apontou frestas no espaço escolar, que vislumbram um longo caminho a percorrer. 131 REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 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Seu nome será mantido em sigilo, para a divulgação e análise da atividade, no que diz respeito ao relato e divulgação de imagem no uso da fotografia. De acordo, Nome ______________________________________________________________ Assinatura _______________________________________________________________ RG _______________________________________________________________ CPF _______________________________________________________________ Data _______________________________________________________________