EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR OU PEDAGOGIA DA EDUCAÇÃO DE
INFÂNCIA? FUNDAMENTOS E CONCEÇÕES SUBJACENTES
PRE-SCHOOL EDUCATION OR CHILDHOOD EDUCATIONAL?
SOME FOUNDATIONS AND CONCEPTIONS
Maria João Cardona1
RESUMO: Este artigo tem como finalidade refletir fundamentos, conceções e algumas ambiguidades
que por vezes estão associadas às expressões Educação Pré-Escolar e Educação de Infância. Sendo
feita uma análise sobre as bases do desenvolvimento curricular na educação de infância (ou na
educação pré-escolar) são questionadas algumas contradições que por vezes lhes estão associadas em
consequência da sua evolução histórica e da sua especificidade em relação à escola obrigatória. Esta
reflexão tem como referência estudos sobre a realidade portuguesa, a sua evolução histórica e as
implicações desta evolução no presente (CARDONA, 2005; 2010)
PALAVRAS-CHAVE: Educação
Aprendizagem.
pré-escolar;
Educação
de
Infância;
Pedagogia;
Ensino-
ABSTRACT: The purpose of this study was to discuss theoretical basis, conceptions and
misunderstandings that sometimes are related to the expressions Pre-school Education and Early
Childhood Education. The discussion involved an analysis about Pre-school Education and Early
Childhood Education curricular development theory and pretended to show the specifity of both
concepts and why the misunderstandings occur. This discussion was based on research about
Portuguese reality, historical evolution and the implications on present (CARDONA, 2005; 2010).
KEYWORDS: Pre-school Education; Childhood Education; Pedagogy; Teaching and Learning
INTRODUÇÃO
A criação das primeiras instituições destinadas às crianças pequenas, está
diretamente ligada à organização da família moderna. Em consequência das transformações
sócio-económicas foi-se desenvolvendo uma melhoria na vida das famílias, gerando
mudanças profundas na estrutura social (SHORTER, 1995, p. 23).
Ao contrário da escola, as instituições para as crianças mais pequenas foram
criadas para dar resposta a necessidades de ordem social e só muitos anos mais tarde se
começou a valorizar a sua função educativa. Fruto de uma evolução diferenciada, a educação
de infância sempre se caracterizou por uma grande especificidade relativamente aos outros
níveis de ensino. Estas diferenças começam por se observar na forma como as suas principais
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Professora da Escola Superior de Educação ese.ipsantarem.pt
Instituto Politécnico de Santarém-Portugal. E-mail: mjoao.cardona
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funções foram sendo avaliadas, sobretudo na maior ou menor valorização da sua função
social, e/ou da sua função educativa. Atualmente estas duas funções tendem a ser valorizadas,
sendo cada vez mais reconhecido o potencial educativo destas instituições na vida das
crianças, e o papel que desempenham como primeira etapa da educação básica. No entanto,
esta evolução, na maioria dos países do mundo ocidental, não é igual para as crianças com
mais de 3 anos, ou com menos de 3 anos, diferenciação que cada vez mais é motivo de
preocupação e questionamento.
Se por um lado pode compreender-se a separação entre os 0-3 anos e os 3-6
anos face à história cultural das nossas sociedades, convém reconhecer que
esta não se baseia em nenhuma base científica. Parece portanto legítimo
interrogarmo-nos sobre as razões que levaram a organizar o sistema de
acolhimento e educação das crianças pequenas desta maneira diferenciandoas pelo facto de terem mais ou menos de 3 anos. (CRAHAY, 2009, p. 136)i
A diferenciação entre a utilização das expressões - educação de infância ou
educação pré-escolar - começa por refletir a forma como são concebidas as funções das
instituições que recebem as crianças antes da entrada na escola obrigatória, pela forma como é
concebida a sua especificidade relativamente aos outros níveis de ensino.
Para avaliar melhor estas diferenças é importante partir de uma definição
mais detalhada dos conceitos que estão associados a estas expressões. Esta avaliação serve de
ponto de partida para refletir as bases do desenvolvimento curricular da educação de infância
(ou educação pré-escolar?) tendo em conta a sua relação com a escola obrigatória. Devido a
uma excessiva diferenciação em relação à escola ainda hoje se verificam ambiguidades e
contradições que afectam o funcionamento das instituições que recebem as crianças pequenas
e que também afecta o grupo profissional e as práticas educativas desenvolvidasii.
“Des”construir estas ambiguidades é um dos objectivos deste artigo.
De acordo com Élisabeth Bautier (2008) a origem das primeiras instituições
destinadas às crianças pequenas deu origem a “mitos”, que começam por se evidenciar: na
forma como são vistas as finalidades das instituições, a sua especificidade em relação à
escola; o papel que devem (ou não) desempenhar na preparação para a escola; na forma como
é concebido o desenvolvimento das crianças e o papel atribuído ao adulto no processo de
ensino-aprendizagem; na questão do “método” pedagógico ou dos métodos pedagógicos
seguidos; no papel dado ao jogo e a uma visão lúdica da realidade.
Na sequência destes “mitos fundadores”, ainda hoje há várias ambiguidades
que caracterizam a educação das crianças antes da entrada na escola obrigatória (BAUTIER,
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2008, p. 34-35). Analisar estes mitos é fundamental para um melhor conhecimento das suas
implicações na realidade presente.
Apesar desta reflexão ter como referência estudos anteriores sobre a
realidade portuguesa (CARDONA, 2005; 2010), muitas destas questões são comuns a outros
países, marcando a existência de dificuldades na articulação com a escola obrigatória e/ou
restringindo o potencial educativo que deve caracterizar as instituições que recebem as
crianças antes da entrada na escola obrigatória.
DEFINIÇÃO DE ALGUNS CONCEITOS
Não há definições únicas, estando estas dependentes do ponto de vista de
quem as apresenta e do contexto espaço-temporal em que são feitas. Sem considerar estas
questões corre-se o risco de cair em pressupostos redutores que não evidenciem a verdadeira
amplitude e complexidades dos conceitos analisados.
Este cuidado é particularmente oportuno quando se procura definir um
conceito tão complexo como o de educação, uma expressão que faz parte da linguagem
corrente, sendo alvo de várias interpretações. Há muitas definições que revelam diferentes
conceções do que se entende por educação. De origem latina, educar vem da palavra latina
educare, que significa alimentar, próxima da palavra educere, que significa conduzir, tirar. “A
educação apareceu sem dúvida com o primeiro gesto do pai desenhando ao pé do filho o
bisonte que lhe permitiria alimentar-se (educare): esta palavra aparece assim ligada à
satisfação de uma necessidade vital, ligada a uma dependência natural”. (HOUSSAYE apud
FOULQUIÉ, 1998, p. 347)
O sentido etimológico de educar, associado ao cuidar, é uma ideia que se
perde muitas vezes quando se limitam as finalidades da educação escolar às aprendizagens
académicas. Esta simplificação tem origem nas transformações políticas e culturais, na
própria história da escola e do papel que lhe foi sendo atribuído.
Neste sentido é de sublinhar as diferenças que caracterizam o modelo
escolar, que se começa a desenvolver no século XVI, com a missão fundamental de ensinar as
gerações mais novas, ao contrário das instituições destinadas às crianças mais pequenas, que
surgem para dar resposta a uma necessidade social, sendo precisos muitos anos para ser
valorizada a sua função educativa. As instituições para as crianças mais pequenas, geralmente
designadas como instituições de educação de infância ou instituições de educação préescolar foram constituíram-se como espaços em que o papel pedagógico é profundamente
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diferenciado do modelo escolar tradicional “passando da ação direta sobre as crianças à ação
indirecta que se exerce pela mediação das coisas e dos objetos propostos à atividade da
criança e do quadro geral construído para que ela aí leve a cabo livremente as suas
aprendizagens” (CHAMBOREDON; PRÉVOT, 1982, p. 60).
Apesar de muitas vezes as expressões educação de infância ou educação
pré-escolar serem utilizadas indiferenciadamente, estas não têm o mesmo significado e é
importante analisar as suas diferenças. Em primeiro lugar, podemos entendê-las num sentido
mais lato – englobando todas as modalidades educativas, incluindo a educação familiar das
crianças deste grupo etário – ou num sentido mais restrito (PLAISANCE, 1986, p. 11). Tendo
em conta este sentido mais restrito, quando falamos de educação de infância, ou de educação
pré-escolar, estamos a referir-nos “aos cuidados e educação proporcionados às crianças por
indivíduos exteriores ao ambiente familiar, sendo muito variáveis as condições e locais em
que estes serviços são prestados” (SILVA, 1990, p. 2).
Em Portugal, de acordo com a atual Lei de Bases do Sistema Educativo e
com a Lei Quadroiii, a educação pré-escolar destina-se às crianças de idades compreendidas
entre os 3 anos e a idade de ingresso no ensino básico (6 anos). Segundo a legislação em
vigor, o sistema educativo português só considera a educação pré-escolar a partir dos 3 anos,
não a alargando às crianças mais pequenas, cujo acolhimento institucional é tutelado pela
Segurança Social.
As implicações negativas que derivam desta diferenciação é um dos
principais motivos que nos últimos anos tem levado muitas profissionais e muitos
profissionais a defender a utilização da expressão educação de infância, mais abrangente,
integrando a educação das crianças desde o nascimento até à idade de entrada na escolaridade
obrigatória.
No entanto, as diferenças na utilização destas expressões vão mais além. A
expressão educação de infância procura marcar uma maior especificidade em relação à escola,
sendo a educação das crianças mais pequenas concebida de uma forma mais diferenciada.
Como refere Montenegro (2001, p. 40) a educação de infância, contrariamente ao que muitas
vezes acontece na educação escolar, deve articular de forma harmoniosa a função de educar
com a função de cuidar das crianças.
Neste sentido frequentemente surgem algumas críticas à utilização da
expressão educação pré-escolar por esta poder significar uma excessiva centralidade na
preparação para a escola, descurando as finalidades mais amplas que devem caracterizar a
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educação de infância. A designação educação pré-escolar é também muitas vezes conotada
como significando uma desvalorização da função social que as instituições das crianças
pequenas devem assumir, no cuidar das crianças e das suas famílias, nomeadamente no apoio
dos mais carenciados (MONTENEGRO, 2001, p. 41)
Os receios desta autora relativamente à realidade brasileira, são também
colocados por outros autores e autoras e pelos/as próprio/as profissionais que trabalham neste
grupo etário. Em Portugal, no entanto, apesar de se utilizarem as duas expressões, na maioria
dos casos há uma tendência para valorizar sobretudo a conceção subjacente à expressão
educação de infância. As instituições designam-se por jardins de infância, não sendo
utilizada a expressão escolaiv e prevalecendo um conjunto de expressões muito especificas e
diferenciadas das que são utilizadas nos outros níveis de ensino.
[…] não se usa, normalmente, o termo ensino mas sim educação […] não há
professores mas educadores, que não dão aulas mas organizam atividades,
que não têm classe ou turma mas um grupo, grupo que não é constituído por
alunos mas sim por crianças, e que não funciona numa aula ou sala de aula,
mas simplesmente numa sala ou sala de atividades. (SILVA, 1990, p. 50)
Se estas diferenças se compreendem tendo em conta as características do
grupo etário, como já se referiu, esta excessiva especificidade acaba por ter implicações
negativas no reconhecimento social da educação de infância.
Neste sentido, defende-se a tendência em utilizar a expressão educação de
infância, num sentido mais abrangente, que não se esgota na idade pré-escolar, e que tem
subjacente a defesa de uma política educativa integradora para a infância, que não se esgota
nos contextos formais. Esta perspetiva surge principalmente na sequência do desenvolvimento
dos estudos realizados no âmbito da sociologia da infância.
De maneira geral, a educação pré-escolar, muitos anos influenciada pela
psicologia, foi aos poucos acabando por ser influenciada por outras
conceptualizações mais recentes. Estas surgem em consequência de
trabalhos eu têm vindo a ser desenvolvidos noutras disciplinas, que durante
muito tempo não foram consideradas, como por exemplo a sociologia da
infância! [...] (RAYNA, 2010, p. 28)
De acordo com esta área disciplinar, defende-se que as crianças sejam
“construtoras ativas do seu próprio lugar na sociedade” (Manuel Sarmento, 2003: 30),
defendendo a especificidade da cultura da infância e o seu estatuto de atores sociais, cidadãos
e cidadãs de pleno direito.
Mas se por um lado é evidente uma certa tendência para a utilização da
expressão educação de infância, por outro lado, nomeadamente atendendo à realidade
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portuguesa, a opção pela utilização da expressão educação pré-escolar tem também algumas
vantagens, considerando a necessidade de reforçar o seu lugar como primeira etapa da
educação básica. Neste sentido, podemos (e devemos!) falar de educação pré-escolar num
sentido abrangente que ultrapassa o que diz a lei integrando também as crianças com menos
de 3 anos, que também pertencem ao grupo etário pré-escolar e concebendo as suas
finalidades de forma alargada que não se esgota na preparação para a escola. Em sentido
lacto: educação pré-escolar abrange todas as crianças (0 aos 6 anos) antes da idade de entrada
na escola obrigatória.
AS BASES DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO PRÉESCOLAR
Para Spodeck e Brown (1996, p. 15) modelo curricular pode definir-se
como “uma representação ideal de premissas teóricas, políticas administrativas e componentes
pedagógicas de um programa destinado a obter um determinado resultado educativo”,
derivando estes de teorias que explicam como as crianças se desenvolvem e aprendem e de
noções sobre a melhor forma de organizar os recursos e oportunidades de aprendizagem,
assim como juízos de valor sobre o que é mais importante que estas aprendam.
Na sua definição de modelo curricular para a educação pré-escolar, Orden
(1986, p. 89) diferencia: as bases em que este se fundamenta (integrando as metas definidas e
a forma como são concebidas as funções e o desenvolvimento das crianças); os objetivos,
conteúdos e a organização do trabalho. Partindo desta definição, sem deixar de considerar que
o projeto de trabalho tem sempre que ser definido a partir da especificidade de cada contexto
educativo, é proposta uma possível esquematização para o modelo curricular na educação préescolar.
Figura 1 - Modelo Curricular da Educação Pré-Escolar (CARDONA, 2006, p. 84)
Bases do Currículo
Conceções/Funções da educação pré-escolar
Conceções
Finalidades
Conceções/Teorias do Desenvolvimento da criança
Caracterização
Grupo de Crianças
(Comunidade
Familias
Instituição
Recursos disponíveis)
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Objetivos/Conteúdos
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Nesta esquematização, a nível da organização do trabalho, foi considerada a
importância de diferenciar os seguintes elementos: espaço; tempo; atividades e papéis sociais
atribuídos às crianças (individualmente e em grupo) e ao adulto. Esta diferenciação foi
pensada integrando algumas das ideias propostas por Bronfenbrenner (1981) na sua teoria
ecológica sobre o desenvolvimento humano, o quadro educativo é consequência de um
conjunto de forças e de sistemas que não podem ser estudados isoladamente.
Este autor define como micro-sistema o meio imediato que envolve o aluno,
como por exemplo a sala de aula, considerando que os principais elementos que o definem
são o espaço, no qual os seus ocupantes se envolvem em determinadas atividades, segundo as
características físicas e materiais existentes, ou assumindo determinados papéis, como por
exemplo o de professor/ou professora ou de aluno/ou aluna, durante um tempo determinado.
Este modelo curricular integra-se numa dinâmica institucional mais
alargada, que, segundo o pensamento de Nóvoa (1992, p. 34-35) integra três áreas de
intervenção: a área escolar (decisões ligadas à instituição e ao seu projeto educativo, o espaço
que é dado à participação das famílias e de outros agentes educativos); a área pedagógica
(trabalho desenvolvido dentro da sala de aula e todo o trabalho de gestão curricular); a área
profissional (questões relacionadas com o desenvolvimento profissional dos docentes e das
docentes e o papel desempenhado pela instituição como espaço de [auto] formação).
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A multiplicidade de funções que cada vez mais são exigidas às educadoras e
educadores, professores e professoras, restringindo-se cada vez menos o seu papel à ação
pedagógica desenvolvida dentro da sala de aula. As instituições educativas, concebidas como
espaços abertos às comunidades onde estão inseridas, fazem com que o processo educativo se
enquadre num quadro de estratégias integradas de desenvolvimento local, envolvendo
diferentes tipos de parcerias. Esta conceção implica a necessidade de respostas pedagógicas e
sócio-educativas adequadas à especificidade das necessidades das comunidades, numa
perspetiva ampla que articule as iniciativas desenvolvidas pelos diferentes serviços e
instituições no âmbito da saúde, educação e segurança social. Mais do que nunca, surge a
urgência de existir uma articulação entre o educar e o cuidar nas suas práticas de trabalho.
Voltando
ao
caso
da realidade portuguesa,
existem
Orientações
Curriculares para a educação pré-escolar, desde 1997v. “As Orientações Curriculares
constituem um conjunto de princípios para apoiar o educador nas decisões sobre a sua prática,
ou seja, para conduzir o processo educativo a desenvolver com as crianças” (M.E./DEB,
1997).
Para além de serem apresentadas diferentes orientações em relação à
organização do ambiente educativo, são definidas três grandes áreas de conteúdo: área da
formação pessoal e social; área de expressão e comunicação (integrando o domínio das
expressões motora, dramática, plástica e musical, o domínio da linguagem oral e abordagem à
escrita e o domínio da matemática); a área do conhecimento do mundo. Esta opção pela
expressão áreas de conteúdo, representou uma nova perspetiva em relação à tradicional forma
de conceber a educação pré-escolar.
A expressão ‘Áreas de Conteúdo’ utilizada neste documento fundamenta-se
na perspectiva de que o desenvolvimento e a aprendizagem são vertentes
indissociáveis do processo educativo. Pressupondo a interligação entre
desenvolvimento e aprendizagem, os conteúdos, ou seja, o que é contido nas
diferentes áreas, são designados, neste documento, em termos de
aprendizagem. (M.E./DEB, 1997, p. 47)
Numa conceção mais alargada, que não se restringe à dimensão
desenvolvimentista, é salientada a importância de ser também valorizada a componente
cultural e a aquisição de conhecimentos. Este aspeto, no entanto, inicialmente gerou alguma
polémica no seio do grupo profissional, questão que se prende com ambiguidades, já atrás
referidas, mais ou menos conscientes, que condicionam as práticas educativas.
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Tendo em conta a evolução que tem vindo a caracterizar os modelos
curriculares da educação de infância, Spodeck e Brown (1996, p. 15) diferenciam várias fases.
Depois de um período inicial em que é incontornável a influência da psicologia do
desenvolvimento, numa fase posterior (depois da década de 60 do século XX) começam a
surgir diferentes propostas de modelos curriculares alternativos, propondo planificações
diversas, baseadas em diferentes pressupostos acerca da natureza da aprendizagem e do
desenvolvimento e do conhecimento.
Na atualidade, as educadoras e os educadores tendem a misturar várias
influências, como é sublinhado por estes autores predomina uma certa dificuldade na
aceitação de visões alternativas sobre a natureza da aprendizagem e do desenvolvimento.
Parecem predominar visões implícitas sobre o tipo de conhecimento que é mais útil adquirir,
sem uma avaliação clara que as fundamente. De acordo com estes autores tudo se passa como
se existissem normas relativamente à forma e conteúdo da educação das crianças pequenas
(SPODECK; BROWN, 1996, p. 42-43).
Já nos anos 80 do século XX, analisando o trabalho tradicionalmente
desenvolvido na educação de infância, Evans (1982) considera que este é um pot-pourri em
que se misturam várias influências, sem a existência de linhas condutoras bem diferenciadas.
Segundo este autor é possível classificar os diferentes modelos educativos em duas grandes
categorias: aqueles que têm como principal finalidade preparar as crianças para a sua vida
futura, incluindo a preparação para a escola; e os que procuram sobretudo desenvolver as
potencialidades atuais das crianças.
À semelhança de outros países, em Portugal, predomina uma valorização da
segunda tendência, pelo menos no discurso das educadoras e educadores sobre as suas
práticas educativas (CARDONA, 2005). Tendo-se desenvolvido sob a influência dos
princípios propostos pelas teorias da psicologia do desenvolvimento, a educação de infância
organizou-se como um espaço onde a criança pode ser ela própria, podendo brincar: o seu
ofício (CHAMBOREDON; PRÈVOT, 1982).
A propósito do lugar central que é ocupado pelo jogo na pedagogia das
instituições de educação pré-escolar Eric Plaisance, num estudo realizado ainda na década de
80 do século XX, analisa algumas das consequências sociais deste tipo de práticas educativas.
Na sequência deste estudo este autor sublinha o facto de que para algumas famílias,
nomeadamente de meios populares, a educação pré-escolar tende a ser vista como um lugar
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onde se desenvolvem atividades pouco “úteis” que não têm o prestígio das aprendizagens da
escola básica cujas finalidades são mais claramente percetíveis (PLAISANCE, 1986, p. 128).
Esta questão é também colocada por outros autores. Como refere Bautier
(2008, p. 16); já Basil Bernstein distinguia a existência de pedagogias visíveis e invisíveis,
podendo estas últimas ser definidas como sendo menos explicitas relativamente ao
enquadramento e desenvolvimento de todo o processo de ensino aprendizagem, transmitindo
um modelo mais próximo das crianças dos meios culturais mais favorecidos e penalizando as
crianças dos meios populares, sem que o/a docente tenha disso consciência. Para esta autora,
este fenómeno começa na educação pré-escolar.
Considerando a evolução dos modelos educativos da educação pré-escolar,
Eric Plaisance também questiona se as instituições de educação pré-escolar não acabam por
favorecer as crianças provenientes das classes sociais média e superior, acabando por reforçar
as diferenças sociais (Plaisance, 1986: 129-130). Neste sentido, questionando a evolução dos
modelos educativos nos últimos anos, a partir da análise das finalidades e conceções de
criança que lhes estão subjacentes, diferenciando três modelos de práticas educativas:
- Modelo produtivo – valoriza a importância dada à aquisição de novos
conhecimentos facilitadores do futuro sucesso escolar (depois da Segunda
Guerra Mundial).
- Modelo expressivo – valoriza sobretudo a capacidade de expressão das
crianças (década de 70 do século XX).
- Modelo estético – valoriza essencialmente atividades que têm como
finalidade a capacidade de expressão individual e estética (década de 60 do
século XX). (PLAISANCE, 1986, p. 138- 139)
Na sequência desta análise, o autor refere que apesar do importante papel
atribuído à educação pré-escolar na promoção de uma maior igualdade de oportunidades,
muitas vezes esta acaba por reforçar as diferenças sociais, quando valorizam atividades que
não têm “uma utilidade visível”, que sejam compreendidas pelas famílias de níveis sócioculturais mais desfavorecidos. No sentido de ultrapassar esta questão, reforça a necessidade
de promover uma reflexão sociológica mais aprofundada desde a formação inicial das
educadoras e educadores de infância (PLAISANCE, 1990, p. 306- 308).
Em Portugal, apesar de existir uma evolução diferente da realidade francesa,
também podemos considerar a grande influência do modelo expressivo de que fala Plaisance.
Tradicionalmente predominou uma grande valorização das atividades expressivas, sendo
muito marcada a diferença relativamente ao modelo escolar considerado demasiado diretivo e
distanciado dos interesses das crianças. Esta sobrevalorização dada às atividades de expressão
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e à criatividade, desligada da vida quotidiana, em muitos casos, como refere Lurçat (1976, p.
90), acaba por implicar um certo desfasamento da realidade social.
Apesar das práticas da educação pré-escolar se terem procurado distanciar
do modelo da escola acabaram por perpetuar algumas das características criticadas neste
modelo. Neste sentido observa-se uma certa tendência para o desenvolvimento de práticas
desligadas da realidade sócio-cultural das crianças, predominando, muitas vezes, um modelo
único, demasiado normativo, contrariamente ao que é defendido no discurso dos educadores e
educadoras.
Nas instituições destinadas à infância muitas vezes dizemos que estamos
assumindo a perspetiva da criança e que a nossa prática pedagógica é
centrada na criança. […] há muitas crianças e muitas infâncias, cada uma
construída por nossos entendimentos da infância e do que as crianças são e
devem ser. (DAHLBERG; MOSS; PENCE, 2003, p. 63)
Muitas vezes predomina uma conceção idílica e protetora, que tende a
subestimar as capacidades das crianças. Este aspeto é salientado no relatório elaborado pela
OCDE num estudo realizado em 1999 sobre a educação da infância em Portugal. “[...] Esta
visão idealista das crianças como seres frágeis e vulneráveis, pode, por vezes, resultar num
desequilíbrio entre o que os adultos julgam ser as necessidades das crianças e as necessidades
que elas, de facto, têm”. Neste sentido é sublinhado o risco dos adultos serem demasiado
protetores, restringindo as oportunidades de aprendizagem que as crianças necessitam.
(ME/DEB, 2000, p. 204)
Predomina uma tendência em representar as crianças de forma demasiado
idealizada, sem considerar a evolução sociocultural. Muitas vezes a infância é considerada em
oposição à idade adulta, de forma pouco critica, observando-se uma certa tendência para
subestimar as suas capacidades.
Como já foi referido, é sobretudo na década de 80-90 do século XX que se
desenvolve um novo paradigma sociológico sobre a infância e desenvolve-se uma nova
conceção das crianças
como tendo um papel ativo, ainda que com diferentes
responsabilidades como “cidadãos implicados na construção da (so)ci(e)dade” (SARMENTO,
2003, p. 30). No entanto, apesar destas ideias cada vez mais se integrarem no discurso
pedagógico, continuam a observar-se algumas ambiguidades.
Mesmo quando as crianças são consideradas, pelos adultos, como
participantes, como tendo o direito a ser consultados sobre as decisões que
são tomadas em relação a si, a menoridade e o paternalismo subsistem,
continuando esta dimensão a estar profundamente dependente de mudanças
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significativas nas relações de poder entre crianças e adultos. (SOARES;
TOMAS, 2003, p. 137)
Paralelamente
“a cidadania tem sido um conceito comprimido e
circunscrito a determinado grupo social: os adultos, homens e brancos” o que leva à
necessidade de repensar os conceitos que temos sobre cidadania muitas vezes demasiado
inflexiveis e assentes em ideias desadequadas na atual realidade social em que vivemos. Para
um projeto de cidadania que considere as crianças como cidadãs é necessário considerá-las
como atores sociais competentes, valorizar a sua ação e a sua voz, independentemente das
suas diferenças. (SOARES; TOMAS, 2003, p. 148)
Mas, na sua maioria, as questões já referidas prendem-se com a forma como
são concebidas as finalidades da educação pré-escolar, a relação entre os conceitos de ensino
e aprendizagem. As contradições existentes implicoam diferenças na forma de valorizar as
vivências e características das crianças.
Cada vez mais a criança não pode ser vista considerando apenas a sua idade.
As influências do meio sócio-cultural, cada vez mais diversificadas, contribuem para modelar
o seu desenvolvimento. As fontes de aprendizagem, cada vez mais numerosas e variadas,
implicam que as crianças tragam para o jardim de infância saberes cada vez mais
diversificados, evolução que obrigatoriamente acaba por ter reflexos nas práticas educativas,
tornando cada vez mais necessária a existência de uma maior reflexão sobre quais os
conteúdos mais relevantes, tendo em conta as características dos diferentes contextos sócioculturais.
O papel desempenhado pelo/a educador/a é cada vez menos previsível,
sendo cada vez mais importante que a sua ação seja mais direcionada e planificada. Por outras
palavras, e sublinhando os princípios teóricos já defendidos por Vygotsky nos anos 20 (século
XX), é cada vez mais importante conceber a aprendizagem como fonte de desenvolvimento.
Designando como dilema todo o conjunto de situações bipolares ou
multipolares que se apresentam ao educador ou à educadora no desenrolar da sua atividade
profissional, Zabalza, (1994, p. 61) refere o dilema curricular. Descrevendo este dilema como
clareza versus indefinição de currículo, o autor salienta que este é sentido por muito/as
docentes que trabalham na educação pré-escolar, em consequência desta ser “um nível
educativo ainda pouco institucionalizado em termos de currículo” (ZABALZA, 1994, p. 180),
encontrando-se por isso no centro de várias tensões e expectativas contrárias.
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Pretendendo distanciar-se do modelo escolar, considerado demasiado rígido
e tendo em conta a especificidade do grupo etário das crianças, na educação pré-escolar
sempre foram privilegiados os princípios da psicologia, considerando a adequação ao
desenvolvimento da criança como único critério. No entanto, cada vez é maior a preocupação
de existir uma maior clarificação dos conteúdos de aprendizagem, sendo dada uma maior
atenção à planificação do trabalho.
No caso da realidade portuguesa, a definição de Orientações Curriculares
por parte do Ministério da Educação (1997) foi um fator de extrema importância na promoção
desta mudança.
A velha ideia [...] de que na escola infantil o mais importante é as crianças
sentirem-se bem, devendo o educador converter em interesses os estímulos
de cada situação (ser espontâneo e criativo) começa a ser diferente: a do
trabalho planificado, pensado com um sentido de continuidade. E isto não
tem que significar uma ‘previsão rígida’ e ‘aborrecida’. Trata-se de articular
a ‘fundamentação’ curricular (intencionalidades claras, sequência
progressiva de intenções e conteúdos formativos, previsão de recursos, etc.)
que permite dar sentido tanto às diferentes linhas de actuação planificadas
previamente como a outras que vão surgindo no dia a dia. (ZABALZA,
1996, p. 23. grifos do autor)
Estas contradições acabam por ter consequências a nível do grupo
profissional, na sua representação social. A maioria do/as profissionais que trabalham na
educação das crianças mais pequenas valorizam a sua especificidade relativamente aos
docentes e às docentes dos outros níveis de ensino, sobrevalorizando a dimensão pessoal que
deve caracterizar o seu trabalho (CARDONA, 2005). É evidente a importância que as
características pessoais e relacionais assumem no trabalho com crianças pequenas, sendo
cruciais no desenvolvimento de práticas educativas de qualidade. Mas quando falamos da
interferência da dimensão pessoal no desempenho profissional do/as educadores e educadoras
esta tem que ser vista como facilitadora de uma atitude de constante questionamento em
relação à profissão e às experiências vivenciadas e não de forma determinista e normativa,
pouco fundamentada.
Este aspeto que tem condicionado a forma de estar na profissão, é
sublinhado por vários autores e autoras. Verba (1993) na sequência de um estudo realizado
em França sobre educadores que trabalham em creche comenta esta questão sublinhando o
risco do excessivo peso dada à “carga vocacional” pela maioria do/as profissionais que
trabalham com as crianças mais pequenas. De certa forma esta valorização reflete o
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predomínio de uma ideologia naturalista que em que são sobretudo valorizadas as disposições
inatas.
Resumir as motivações dos educadores ao seu ‘amor pelas crianças’, é
equivalente a instituir-se o instinto maternal como fundamento do exercício
da profissão, o que acaba por ser uma forma de impossibilitar a sua
profissionalidade. (VERBA, 1993, p. 70).
Estas ideias, que durante muitos anos foram reforçadas pelas próprias
políticas educativas definidas para a infância, foram evoluindo paralelamente a uma
transformação das práticas formativas que passaram a ser mais fundamentadas e reflexivas
para um bom desempenho profissional. A quase exclusiva valorização do aspeto relacional,
das características pessoais, ainda hoje assumem um peso excessivo na forma de conceber as
práticas educativas, induzindo o receio de planificar, já referido como dilema curricular
(ZABALZA,1996) levando a uma espontaneidade que acaba por afetar o desenvolvimento de
práticas de trabalho fundamentadas, com uma clara intencionalidade educativa.
E, como já foi dito, os factores que interferem na qualidade das práticas
educativas afetam sobretudo as crianças dos meios socialmente mais desfavorecidos.
A história internacional da educação de infância mostra que esta não escapa
à lógica de produção e reprodução da pobreza: as crianças mais pobres,
mesmo nos países mais desenvolvidos, têm tendência a frequentar serviços
de menor qualidade. Nos países existem grandes disparidades sociais, e as
desigualdades que minam a educação das crianças mais pequenas são das
mais profundas. (ROSEMBERG, 2010, p. 127)
ALGUMAS CONCLUSÕES
Educação de infância ou educação pré-escolar? As duas expressões
refletem conceções, que se completam, contrariamente ao que muitas vezes nos é apresentado.
Ao logo deste artigo procurou-se refletir vários dilemas que resultam da excessiva
especificidade e da evolução histórica que está subjacente à educação de infância (ou à
educação pré-escolar) que a colocam em oposição à escola. É este receio, esta necessidade de
distanciamento do modelo escolar que tem frequentemente levado à rejeição da expressão
educação pré-escolar. Mas podemos falar de educação pré-escolar, valorizando as
características que naturalmente a separam da escola, tendo em conta o grupo etário das
crianças e consequentemente as suas orientações curriculares, de forma abrangente,
considerando todas as crianças antes da idade de entrada na escola obrigatória.
Paralelamente, a expressão educação de infância, por vezes é rejeitada
devido às ambiguidades que lhe são atribuídas, nomeadamente o facto de muitas vezes ser
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apresentada em oposição ao modelo escolar, baseada num naturalismo, que defende uma
excessiva informalidade, sem uma clara definição das finalidades das práticas educativas
realizadas.
A necessidade de ultrapassar estas ambiguidades nomeadamente na forma
de conceber a infância e as finalidades a que deve obedecer a sua educação, nomeadamente a
necessidade de uma relação mais equilibrada entre o desenvolvimento e a aprendizagem,
concebendo a aprendizagem como fonte de desenvolvimento, são questões cruciais a
considerar desde a formação inicial dos educadores e educadoras de infância. A par desta
necessidade, defende-se a conceção da infância como uma construção social, que carece de
ser contextualizada no espaço e no tempo.
Podemos definir educação pré-escolar numa perspetiva mais ampla e
integradora, em que educar e cuidar são funções que se articulam e complementam visando o
desenvolvimento de respostas educativas de qualidade, previamente planificadas. A grande
distância que ainda hoje existe entre o jardim de infância e a escola, entre educadores e
profissionais de outros níveis de ensino, são alguns dos obstáculos que dificultam que a
educação pré-escolar seja efetivamente concebida como primeira etapa dos sistema educativo.
A utilização da expressão educação pré-escolar, apesar das suas desvantagens, reforça o lugar
deste tipo de educação a par dos restantes níveis de ensino.
Apesar dos constrangimentos legais que em muitos países, incluindo
Portugal, excluem as crianças com idade inferior a 3 anos do sistema educativo, como já foi
referido, ‘pré-escolar’ concebido de uma forma mais ampla, inclui todas as crianças com
idade inferior à da entrada na escola obrigatória. Numa perspetiva educacional mais ampla,
que não se esgota na preparação escolar, as educadoras e os educadores têm que ultrapassar a
excessiva especificidade que os tem diferenciado, para que a educação pré-escolar ocupe
efectivamente o seu lugar no sistema educativo.
A conceção da ética do cuidado, no sentido definido por Gilligan (1982),
distanciando-se de uma lógica normativa de unicidade, traduzindo a sensibilidade às
necessidades dos outros e o respeito pela sua individualidade, como sublinha Vasconcelos
(2004), deve estar presente em qualquer nível de ensino, não sendo uma preocupação
exclusiva da educação das crianças mais pequenas.
Se a pedagogia é relação, uma rede de compromissos e obrigações
determinada pela nossa responsabilidade face ao Outro, então toda a relação
pedagógica é uma relação ética. Não podemos falar de uma postura ética
senão inserida num espaço semeado de relações humanas, nomeadamente
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em interacção com pessoas que, em virtude da sua idade, são especialmente
vulneráveis, exigindo uma ainda mais completa responsabilização e respeito
pela sua autonomia e individualidade. (VASCONCELOS, 2004, p. 109-110)
Muitas das questões que têm afetado o desenvolvimento da educação préescolar, os dilemas que têm caracterizado a sua evolução e que ainda hoje se evidenciam nas
práticas de trabalho, têm a ver com contradições na forma de conceber a infância, e as
finalidades da sua educação. O direito dos mais pequenos a serem respeitados e considerados
como cidadãos (LUC, 2010, p. 20), tem que ser efetivamente inspirador das politicas
educativas desde o nascimento até à idade escolar.
Notas
i
A tradução das citações é da responsabilidade da autora
ii
Ao longo do artigo é feita uma diferenciação entre os docentes e as docentes que trabalham na educação de
infância (educador ou educadora de infância) e os que trabalham na escola que são designados por
professores/ou professoras. Esta diferenciação é feita na realidade portuguesa mas também se verifica em outros
países. Apesar de serem poucos os homens que integram este grupo profissional houve a preocupação de utilizar
uma linguagem inclusiva de forma a não transmitir a ideia errada de que é uma profissão apenas de mulheres.
iii
Lei 46/86 alterada pela Lei 115/97 e pela Lei 49/2005; Lei 5/97.
iv
Somente as instituições da Associação de Jardins-Escolas João de Deus são designadas por Jardins - Escolas.
v
Despacho 5.220/97.
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Aceito em outubro de 2011.
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