ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO PARA UMA CULTURA DE PAZ OLIVEIRA, Simone Barros de1- PUCRS [email protected] GROSSI, Patrícia Krieger2-PUCRS [email protected] FABIS, Camila da Silva 3– PUCRS [email protected] Área Temática: Formação de Professores Agência Financiadora: PUCRS; FAPERGS. Resumo Este artigo é resultante de uma pesquisa sobre avaliação de experiências voltadas para a construção da paz em oito escolas municipais e estaduais de Porto Alegre, RS. A análise dos dados partiu de entrevistas com professores participantes de uma capacitação em educação em valores através do Projeto VIVE - Vivendo Valores na Educação, que busca a construção de uma gestão de práticas de educação inclusiva e pacifista. Os resultados apontam que a violência nas escolas se expressa de diferentes formas. Iniciativas voltadas para a educação para paz têm contribuído para a melhoria das relações entre alunos e professores e comunidade. O projeto procura promover mudanças de cultura, de paradigma, onde seja possível mudar de uma sociedade que cultua e reproduz a violência, para uma sociedade que cultue e reproduza a paz. Diante da realidade apresentada por entrevistados, o programa Vivendo Valores na Educação contribuiu para trazer um maior envolvimento das famílias na escola. No entanto, para maiores mudanças, é preciso que ocorram transformações fundamentais na consciência da humanidade, provocando mudanças, pequenas ações no cotidiano das escolas que podem mudar uma comunidade, e pequenas ações da comunidade do entorno da escola, que podem mudar uma sociedade. O artigo busca relatar esse processo de implementação do “VIVE”, procurando dar voz aos envolvidos na construção de uma cultura de paz, e os desafios para os profissionais frente à violência estrutural e processos de exclusão no ambiente escolar. Trabalhar a cultura da paz nas escolas não implica que os conflitos deixarão de existir, porque eles fazem parte das relações humanas, mas podemos resolvê-los de forma não-violenta. 1 Assistente Social, Mestre em Serviço Social, Doutoranda em Serviço Social-PUCRS, integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Violência- NEPEVI. 2 Assistente Social, Mestre e Doutora em Serviço Social, PhD pela Universidade de Toronto Canadá , docente no Programa de Pós-Graduação em Serviço- Social-PUCRS, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Violência- NEPEVI e Pesquisadora do CNPQ. 3 Aluna do sexto nível do curso de graduação em Psicopedagogia da Faculdade de Educação-PUCRS, integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Violência- NEPEVI. 3219 Palavras Chaves: Violência; Cultura de paz; Meio escolar; Educação em valores. Introdução A pesquisa de avaliação da implementação do Programa Vivendo Valores na Educação (VIVE) em oito escolas do município de Porto Alegre, é fruto de uma caminhada anterior iniciada em 2003 com a Pesquisa “Violência nas Escolas e suas Estratégias de Enfrentamento” que encerrou sua fase piloto em 2004. A realização de pesquisas sobre a temática da violência nas escolas e estratégias de prevenção revela o compromisso da categoria dos assistentes sociais com a consolidação de uma política de garantia de direitos para crianças e adolescentes, sendo a escola o locus essencial para a sua concretização. Surgiram a partir de uma demanda da 3ª Vara do Juizado Regional da Infância e da Juventude de Porto Alegre e demais representantes ligados às áreas da Justiça, Assistência Social, Educação e Saúde para trazer subsídios teórico-práticos às escolas para a implementação de ações voltadas ao enfrentamento da violência nas suas mais diferentes instâncias. Uma destas ações foi a capacitação de educadores para a implementação do Programa VIVE em suas escolas, um programa de educação em valores, que oferece uma variedade de atividades de valores experienciais e metodologias práticas para capacitar crianças e jovens a explorarem e desenvolverem 12 valores-chave pessoais e sociais: cooperação, liberdade, felicidade, honestidade, humildade, amor, paz, respeito, responsabilidade, simplicidade, tolerância e união. O Serviço Social na interface com a Educação Os desafios de nossa sociedade hoje nos levam ao encontro de diferentes realidades e espaços profissionais como a escola, espaço rico em aprendizado e desafiador na busca de soluções para a prevenção da violência e diminuição da exclusão social. Estes processos atingem atualmente, tanto escolas públicas como escolas privadas, mudando apenas as formas para enfrentar esses desafios, que variam de uma realidade para outra. Novos projetos educacionais em nosso país vêm apontando para a possibilidade de transformações societárias, onde a educação escolarizada se aproxima das necessidades sociais, políticas e ideológicas. A política educacional constitui-se, assim, como campo de atuação do Estado que influencia a vida social, a partir do momento em que se universaliza o acesso a ela. 3220 Embora o campo educacional ainda não se constitua uma ampliação do mercado de trabalho para nossa categoria profissional, percebe-se que os Assistentes Sociais vêm definindo este espaço como possibilidade viável e estratégica de intervenção, tornando a política de educação como parte de nossa atuação a partir da ampliação do conceito de educação, na perspectiva das mudanças societárias (ALMEIDA, 2000, p. 22). Essas mudanças apontam, neste espaço, a necessidade de discutir violência, prevenção, cultura de paz, cidadania, direitos humanos, família, sociedade, política, entre outros. O campo educacional passa a ter um novo significado para assistentes sociais, na perspectiva da conquista de direitos e enfrentamento das desigualdades. O Assistente Social deve assumir a postura investigativa para desvendar as novas e velhas expressões da questão social, que se apresentam de acordo com a realidade onde o profissional está inserido, proporcionando a superação de uma prática mecânica e imediatista. Buscando ir além do que se apresenta como aparente, pois, a utilidade de uma profissão está relacionada com a capacidade que esta tem de compreender a realidade a partir da categoria totalidade que segundo Freire (2001, p. 179), “é uma categoria ontológica que corresponde à natureza de toda realidade social. Ela se expressa na dinâmica das relações dessa realidade, como processo nunca totalizado”. A violência e o contexto atual A violência no ambiente escolar expressa-se de diferentes formas e vem se tornando fenômeno complexo, que tem preocupado autoridades, professores, diretores, pais e os próprios alunos e a sociedade de modo geral. Expressa-se num conjunto de mecanismos visíveis e invisíveis que vem do alto para baixo da sociedade, unificando verticalmente e espalhando-se no interior das relações sociais, numa existência horizontal que vai da família à escola, dos locais de trabalho às instituições públicas, retornando ao aparelho do Estado. A violência nesta perspectiva está presente nas relações em sociedade, ou seja, no modo como as pessoas produzem e reproduzem suas relações, a partir disso, Chauí (1998, p. 16), vem fundamentar que A violência se opõe à ética, porque trata seres racionais e sensíveis dotados de linguagem de liberdade como se fossem coisas, isto é, irracionais, mudos, inertes ou passivos. Na medida em que a ética é inseparável da figura do sujeito racional, 3221 voluntário, livre e responsável, tratá-lo como se fosse desprovido de razão é tratá-lo não como humano e sim como coisa. A violência de um modo geral prolifera a lógica e a ótica do individualismo e ameaça os princípios dos quatro pilares do conhecimento compreendidos como aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. (DELOURS, 1998). Nesta perspectiva, Boulding (1981), vem fundamentar que a violência estrutural marca a violência do comportamento. A violência é construída e operacionalizada no modelo societário em que vivemos, sob condições existentes, influenciadas pelo modo como a sociedade está organizada. Portanto, faz-se necessário “explicá-la a partir de um complexo circuito que se produz e reproduz em uma dada sociedade, a partir de condições específicas com maior ou menor intensidade”. Segundo a mesma autora, “o aprofundamento ou não da violência, é produto da prática social e coletiva dos homens, comporta pela correlação de forças e das lutas sociais coletivamente estabelecidas em determinado momento histórico” (SILVA, 2004, p. 140). O Serviço Social caracteriza-se como uma profissão interventiva, neste sentido, diante da complexidade da violência, “tem o compromisso ético-político frente à violação dos direitos humanos (GROSSI et alli, 2005. p. 03). A violência no ambiente escolar se expressa de diferentes formas, desde a violência física até formas mais sutis como a violência simbólica, fenômeno que têm preocupado autoridades, professores, diretores, pais e os próprios alunos e a sociedade de modo geral. A violação dos direitos humanos vem acontecendo inclusive no ambiente escolar. Segundo Costa e Gomes (1999, p.159), A violência possui uma fecundidade própria, ela se engendra a si mesma. É preciso então sempre analisá-la em rede, em entrelaçamento. Suas formas e aparências mais atrozes e às vezes mais condenáveis freqüentemente ocultam, entre outras situações de violência menos escandalosas, por encontrarem-se prolongadas no tempo e protegidas, pelas ideologias ou pelas instituições de aparência respeitável. Percebe-se nesse contexto atual da sociedade, a urgência de uma educação inclusiva voltada para uma cultura de paz na escola, pois esta se constitui um dos principais espaços públicos de inserção do adolescente, tornando-se uma referência de conhecimento e valores nela propagados. Aos educadores cabe o enorme desafio de “rastrear as cenas constitutivas da violência e os efeitos que são presenciados para que sejam identificados os dispositivos de poder inerentes a elas e para que sejam construídas estratégias de superação da violência com ações voltadas para uma cultura de paz” (GROSSI et alli, 2005, p. 25). 3222 Estes tipos de violência, como a violência física, incivilidades, comportamentos antisociais, ações contra o patrimônio público, expressas em falas de alunos (“eles só sabem correr e se bater, aquelas coisas de espada, de luta”, “dar rasteira, dar tapa, tudo é resolvido assim, é brincadeira para eles”,4, naturalizou-se como se fizesse parte da cultura estudantil. A realidade aponta para a necessidade de uma responsabilização coletiva que caminhe em direção a “uma política de garantia de direitos que reverta a lógica da vitimização ou da culpabilização, a partir de uma leitura totalizante do fenômeno da violência” (GROSSI et alli, 2005, p. 15). Pesquisas apontam que não basta apenas introduzir disciplinas de educação para paz nas escolas se as atitudes e os relacionamentos na escola não forem alterados. Este ponto é importante, pois diferencia a educação que informa sobre a paz e a educação para paz que almejamos (MILANI e JESUS, 2003). Neste sentido, entende-se a violência primeiramente contextualizada na estrutura sócio-econômica e cultural da sociedade, caracterizando-se como “violência estrutural”. Como afirma Boulding (1981), a violência estrutural oferece um marco à violência do comportamento, pois se aplica tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de determinadas pessoas a quem se negam vantagens da sociedade, refletidas na fala do professor “eles [alunos] vivem em casa de papelão”. Enredados em um círculo vicioso de falta de oportunidade e apoio, crianças e adolescentes, muitas vezes, acabam trilhando caminhos pelo tráfico de drogas, constituindo-se em uma das mais preocupantes expressões da questão social no meio escolar: a violência atrelada ao tráfico de drogas, “o mais difícil é salvar o menino do tráfico” (sic). Viemos trabalhando numa perspectiva de educação que enfrente e previna a violência. Numa educação voltada para o enfrentamento e prevenção da violência, um aspecto fundamental é a inclusão social. Segundo nosso olhar, no contexto da educação esta, deve considerar as diferenças culturais, políticas, econômicas e sociais, pois vivemos numa realidade múltipla e complexa que ultrapassa os nesta educação, não pode faltar valores como respeito aos direitos individuais e coletivos, tolerância, solidariedade, diálogo, desenvolvimento e justiça social (ABRAMOVAY, 2001, p. 19). Nesse processo, alunos, educadores e a sociedade em geral vão dialogando na perspectiva da superação de 4 Falas retiradas do Relatório da Pesquisa intitulada de Violência nas escolas e suas estratégias de Enfrentamento, realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Violência – NEPEVI – Faculdade de Serviço Social da PUCRS, entre abril a dezembro de 2003. 3223 preconceitos e discriminações sociais, raciais, familiares, econômicas etc. desenvolvendo potencialidades numa relação de reciprocidade, que leve ao encontro de respostas para uma vida melhor. Mas não é essa a realidade que muitas vezes encontramos nas instituições de ensino. As falas extraídas do grupo focal realizado com os alunos adolescentes da escola, demonstram a existência de diferentes expressões de violência, desde a violência verbal até a violência física, sendo mais freqüentes no recreio, mas se estendendo à sala de aula: “...tem aluno que não respeita os professores.” (G.F) “... às vezes a gente tá no recreio e eles jogam pedra, isso machuca.” (G.F.) “... tem brigas na hora do recreio.” (G.F) “... os professores brigam muito com os meninos, eles são muito danados, principalmente os meninos.” (G.F) “... às vezes na sala de aula tem aluno que fica brincando com bolinhas de papel, os pais não tem dinheiro para comprar e eles ficam estragando fazendo bolinhas de papel.” (G.F.) “... os guris fumam maconha atrás do muro da escola.” (G.F.) Os dados revelam ainda que as diferenças culturais, econômicas e sociais não são consideradas no ambiente educacional, havendo conflitos entre pares e entre professores e alunos, indo de encontro aos valores como respeito aos direitos individuais e coletivos, tolerância, solidariedade e diálogo (ABRAMOVAY, 2001). Interagir no enfrentamento e prevenção da violência, exige que esta seja feita em rede de trabalho, onde não se centre no sujeito, nas atitudes negativas, mas potencialidades. Segundo Schilling (2004), a escola deve identificar parcerias na busca de intervenções diante da multidimensionalidade da violência. A escola precisa cada vez mais fortalecer o corpo docente e discente para formar alianças, pois é com elas que se criam redes, identificando as forças locais, seus atores e seus potenciais. Fernandez (2005), fundamenta que as estratégias de intervenção para o enfrentamento e prevenção da violência, devem ter múltiplas facetas, fugindo dos conceitos que focalizam os problemas e não as causas que os provocam. A escola tem um papel importante na 3224 convivência de seus atores, entre eles os alunos. É importante dar ênfase aos clima favorável, pois “quanto maior o número de processos de convivência intencional, maior é a possibilidade de gerar um clima satisfatório” ( FERNANDEZ, 2005, p. 73). A autora desafia para a atenção quanto às diferentes posturas que se possa ter diante dos problemas encontrados no ambiente escolar, provocados pelas posturas dos alunos, quais sejam entre outras: Tratar os problemas de forma preventiva e recuperativa das ações conjuntas, consenso entre agentes da comunidade educativa; Isolar o problema e tentar sancionar os alunos de má conduta com expulsões, denúncias, entre outros; Dar pouca atenção aos casos de disciplina e fazer com que cada professor resolva os problemas de forma isolada com seus próprios alunos. A convivência é considerada um valor das instituições escolares, portanto, toda escola deve promover ações que venham favorecer a convivência. Provocar e estimular a comunicação, a cooperação, a solidariedade e não-violência, são fatores primordiais e essenciais em direção da prevenção da violência e da construção de uma cultura de paz. 3. Programa Vivendo Valores na Educação O programa VIVE – Vivendo Valores na Educação, é um dos programas da Brahma Kumaris que é uma Organização Não Governamental- (ONG)- fundada em 1936. O Programa VIVE propõe atividades baseadas em princípios éticos e espirituais, para que os valores possam ser vivenciados na instituição educativa, tornando-a um elemento indispensável na reconstrução de uma sociedade melhor (BRAHMA KUMARIS, 2002). Os mentores do programa, no entanto, sabem que implementar valores autênticos numa cultura consumista não é tarefa simples. Deste modo, acreditam que os valores são uma necessidade universal e motivam o comportamento e a atividade humana, considerados também como fonte de energia que mantém a auto-confiança e a objetividade das pessoas (BRAHMA KUMARIS, 2002). Os professores, através do programa VIVE, percebem que os alunos se mostraram mais confiantes e mais respeitosos uns com os outros, demonstrando melhora em suas habilidades de cooperação no âmbito pessoal e social indo ao encontro de algumas metas propostas pelo programa que são ajudar os indivíduos a pensar e refletir sobre os diferentes valores e suas implicações, inspirar indivíduos a escolher seus próprios valores pessoais, sociais, morais e espirituais, encorajar os educadores e responsáveis a ver a educação como 3225 um meio de munir os alunos com uma filosofia de vida (TILLMAN, 2003: IX). Nos encontros de capacitação realizados com os educadores, a metodologia do Programa busca explorar habilidades para criar um ambiente baseado em valores, escuta ativa, solução de conflitos de forma não violenta, criação de regras colaborativas, comportamentos de construção positiva, evitando-se assim o ciclo negativo de inadequação, resistência, incriminação, raiva e retaliação(TILLMAN e HSU, 2002: XIV). A educação em valores vai ao encontro da proposta de construção coletiva de alternativas não-violentas de resolução de conflitos nas escolas . 4. Estratégias de prevenção e enfrentamento da violência Muitas ações foram eficazes através da implementação do Vivendo Valores nas Escolas, trabalhados na organização “mensal” sugerida pelo Programa, por apoio e articulação dos setores da escola., como bem expressa essa fala; “o que vejo é que houve um interesse muito grande dos professores, eles estão se posicionando e fazendo trabalhos, teatrinho, reuniões, eles preparam alguma coisa”. Um aluno comenta: “Criamos brinquedos com material reciclado, para que no recreio as crianças não fiquem só brigando e sim brincando, para elas não se chutarem e, nos explicaram como elas devem brincar com cada brinquedo (G4)”. As experiências salientam a importância da criação de um “ambiente familiar” na escola, uma interação afetiva entre as diferentes idades acerca dos valores. É necessária uma identificação da proposta do educador para com os valores e a incorporação destes na relação de ensino-aprendizagem, na interação cotidiana com os alunos “ter carinho pelo teu aluno também (C1)” para poder haver uma troca de experiências positivas relacionais que darão a base de sustentação afetiva na escola para o aluno em formação. Foram visíveis diferentes e criativas formas de se criarem estratégias de prevenção da violência no meio escolar por meio dos materiais disponibilizados pelo Vivendo Valores na Educação em cada escola. Um membro do Conselho da Escola relata a importância da articulação interna-externa, de maneira organizada e criativa como bingos, construção de brinquedos, gincanas, feira cultural, projeto Um Jovem Poeta na Escola, entre outros. Com os alunos mais velhos, surgiu “um trabalho de criação, uma oficina de criação literária (A1)”. Foi realizado também o projeto da Biblioteca Escolar , onde eles, “duas vezes por semana, o lêem e fazem a organização da biblioteca(B1). “Aqui na escola trabalhamos bastante a construção 3226 de valores da cultura da paz, da não violência e tá dando certo, temos o segmento dos alunos, dos pais, professores, funcionários... se nós desenvolvermos projetos e colocamos em prática dá certo (G6). Houve construção coletiva das normas de convivência, com o envolvimento de todos os segmentos da escola (B1). Prioriza-se, assim, a autonomia e o exercício de democracia dentro da escola, tão importante para o reconhecimento e pertencimento dos alunos e demais integrantes como parte da escola. “O Jovem exercendo a Cidadania” é um exemplo de valorização do protagonismo infanto-juvenil no qual foi simulado uma votação com os alunos objetivando desenvolver sentimentos e valores, despertar para a importância do voto e do exercício da cidadania (B1), acolhendo e envolvendo a família do alunado no cotidiano escolar, pois esta, em geral somente é chamada quando o aluno apresenta problemas disciplinares. As repercussões do programa podem ser vistas nas narrativas dos participantes da pesquisa, “O que vimos é que houve uma melhora significativa dos alunos, diminuiu a“violência”, Os resultados da pesquisa evidenciam que a escola não é apenas reprodutora dos valores dominantes de exclusão, individualismo e competitividade, mas também pode ser um locus de conflitos e resistências através da difusão de valores que contribuem para uma cultura de paz. 5. Considerações Finais A partir da realização da pesquisa, verificou-se que o enfrentamento da violência no meio escolar é possível e programas como o VIVE são necessários e reforçam o compromisso da escola em incorporar a cultura da paz dentro do projeto pedagógico, valorizando o aluno, a comunidade escolar e as iniciativas do corpo docente nesta perspectiva de estímulo ao protagonismo infanto-juvenil e inclusão social. Se evidenciam necessárias ações diretas de Educação para a Paz em nível governamental, não apenas estudos ou atividades isoladas em cada escola, havendo uma intersetoriariedade entre as políticas sociais para dar conta desta demanda ampla e em expansão. Neste contexto, os resultados da pesquisa vêm reforçar a necessidade da Cultura de Paz, marco de atuação da UNESCO, indo ao encontro do projeto ético-político da profissão, pois compreende o cultivo de valores essenciais à vida democrática, tais como: participação, igualdade, respeito aos direitos humanos, respeito à diversidade cultural, liberdade, tolerância, diálogo, solidariedade, desenvolvimento e justiça social (ABRAMOVAY et alli, 2001). 3227 A educação para a paz envolve aspectos relacionados à democracia, que na concepção de Tuvilla Rayo (2004) é requisito necessário para o exercício dos direitos humanos, para o pleno desenvolvimento da justiça social, e prevenção contra qualquer tipo de abuso. Tudo isso, através de um processo dinâmico que necessita de participação, de atitude positiva para com todos os seres, tomada de consciência da realidade e denúncia das injustiças. A educação para a paz envolve aspectos relacionados à democracia, que na concepção de Tuvilla Rayo (2004) é requisito necessário para o exercício dos direitos humanos, para o pleno desenvolvimento da justiça social, e prevenção contra qualquer tipo ou expressão de violência . Tudo isso, através de um processo dinâmico que necessita de participação, de atitude positiva para com todos os seres, tomada de consciência da realidade e denúncia das injustiças. Outros aspectos significativos da educação voltada para uma cultura de paz, na perspectiva do enfrentamento da Questão Social e da exclusão, é a busca da inclusão social através do respeito às diferenças culturais, políticas, econômicas e sociais inerentes a uma realidade múltipla e complexa que ultrapassa os muros da escola. 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