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19/08/2015 ­ 05:00
Jovens querem transparência e crescimento
acelerado
Por Vívian Soares
Renan Borges: "Quero a história da empresa contada com meu nome nela"
Aos 23 anos e recém­formado em economia, Renan Tibúrcio Borges já tinha planos para o primeiro ano da sua
carreira: ser trainee. Ao contrário de muitos colegas da mesma idade, porém, ele tinha apenas uma empresa em
mente, o banco de investimentos BTG Pactual. "Defini a minha meta e dei um tiro único. Se eu não passasse,
recomeçaria a fazer os planos", afirma o jovem, que fez faculdade em Minas Gerais. A aposta deu certo: Renan foi
aprovado no processo seletivo e começa o treinamento de um ano em setembro.
"É uma chance de ter uma carga de aprendizado muito acima da média do que teria como analista. Além disso,
vou ter a oportunidade de conhecer todas as áreas do negócio por dentro", comemora.
A especificidade da posição de trainee, que permite ao jovem transitar por diversos departamentos das empresas
antes de se concentrar em uma área específica, a possibilidade de acelerar o desenvolvimento de carreira e atingir
postos estratégicos ou de liderança fazem com que os jovens se interessem cada vez mais por programas do
gênero. Um sinal disso é o número crescente de candidatos por vaga: em multinacionais como a Whirlpool, chega
a 20 mil o número de concorrentes no processo seletivo.
Ao contrário do que acontecia há poucos anos, hoje os jovens estão mais seletivos em relação às empresas nas
quais querem trabalhar, uma estratégia que vem dando certo para a sua aceitação nos programas. Uma pesquisa
realizada pela consultoria Seja Trainee com 591 jovens aprovados mostra que eles se inscreveram, em média, em
dez programas, e foram aceitos em três. Os finalistas do ano passado, por sua vez, se inscreveram em 15
programas em média, e foram aprovados em dois. "Nesses casos, ter foco é muito importante para o sucesso",
afirma Luis Abdalla, sócio da Seja Trainee.
André Rezende Natalino, engenheiro mecânico de 25 anos, se candidatou a vários programas de trainee desde
2013, o ano em que se formou. Este ano, mudou a estratégia e se inscreveu para apenas dois processos, ambos em
empresas de auditoria e consultoria.
Nesse meio tempo, investiu em uma pós­graduação e em um coaching especializado para se preparar para os
programas. "Percebi que não sabia me vender. Hoje consigo valorizar minhas experiências e fazer uma boa
apresentação pessoal, mas tive que buscar uma empresa especializada para me apoiar. Nunca tive um retorno das
empresas sobre os pontos em que deveria melhorar", afirma André, que ainda aguarda os próximos passos dos
André Rezende Natalino: "Hoje consigo valorizar minhas experiências"
processos dos quais participa.
A falta de feedback sobre o desempenho nos processos seletivos e de clareza sobre a cultura corporativa estão entre
as principais críticas dos jovens às organizações em seus processos de trainee, segundo Abdalla, da Seja Trainee.
"Cada vez mais, os jovens querem informação: saber mais sobre si mesmos, sobre a empresa para a qual se
candidatam e como é trabalhar lá no dia a dia", afirma. Essa necessidade vem levando muitas organizações a
investir em verdadeiras campanhas de comunicação para mostrar, de forma transparente, a "cara" da empresa.
A consultoria e auditoria pwc, por exemplo, convidou 10 trainees para postar fotos no Instagram sobre o seu dia a
dia, durante 100 dias. "Eles colocavam fotos dos eventos, treinamentos e até dos happy hours", afirma o diretor de
RH Marcelo Sartori.
A iniciativa, segundo ele, surgiu do desejo de deixar claro para os candidatos o que é trabalhar na pwc.
"No geral, as comunicações dos programas de trainee são propagandas muito lindas. Sentimos a necessidade de
mostrar como é a nossa realidade, até para sermos mais eficientes ao atrair os candidatos certos", afirma Marcelo
Sartori.
Para o trainee Renan Lopes, o que o atraiu no BTG foi a transparência. "Em uma das dinâmicas de grupo, o gestor
falou que a carga de trabalho é grande e que provavelmente teremos que nos dedicar mais do que em outras
empresas, mas em algo que vai nos dar prazer", afirma.
"Era exatamente o que eu queria ouvir. Muitas empresas vendem valores politicamente corretos, mas que não são
coerentes na prática", diz.
Um
processo de
Lara Nardy: "Busco uma companhia que valorize novas ideias"
recrutamento bem conduzido também causa boa impressão e influencia na escolha dos jovens pela empresa na
qual vão trabalhar.
Na pesquisa da Seja Trainee, 70% dos candidatos aprovados acreditam que o melhor processo seletivo é da
empresa em que ele está. "Eles valorizam empresas que envolvem seus líderes na seleção e que realmente queiram
conhecer o candidato", afirma Abdalla.
Graduada em publicidade e propaganda, a candidata Lara Nardy, de 23 anos, está tentando seis processos
seletivos, em empresas de varejo e bens de consumo. Ela conta que é atraída por programas criativos, que revelem
uma cultura de inovação. "Busco uma companhia que valorize novas ideias. Estou me especializando em
comportamento do consumidor e inteligência de negócios, e para me desenvolver preciso atuar em uma empresa
que esteja aberta a essas tendências", afirma.
O que realmente atrai os jovens, no entanto, é a possibilidade de ter seu desenvolvimento acelerado. Na pesquisa
da Seja Trainee, essa foi a opção de 68% dos jovens, seguida pela possibilidade de passar por várias áreas da
empresa, com 41% das respostas ­ a remuneração foi o oitavo item, com 17%.
Chegar a um cargo de liderança é o objetivo de médio prazo dos jovens, que se inspiram pelas histórias de
presidentes que foram trainees. É o caso de Renan Lopes, que quer deixar a sua marca no seu futuro empregador.
"Minha meta, no longo prazo, é ser sócio do banco. Mas, principalmente, quero que a história da empresa seja
contada com o meu nome nela."
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